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BIOGEOGRAFIA CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Biogeografia – Prof. Ms. Eder Paulo Spatti Junior e Profª. Ms. Thaís Minatel Tinós. Olá! Meu nome é Eder Paulo Spatti Junior. Sou graduado em Geografia pela UNESP, campus de Rio Claro, onde também concluí minha Especialização em Sustentabilidade Ambiental e meu Mestrado em Geologia Regional, trabalhando com o tema da qualidade de água e avaliação ambiental. Durante toda minha carreira, sempre trabalhei com a temática relacionada à Geografia Física, abordando as variáveis que compõem o quadro natural, cenário onde se desenvolvem todos os processos da ação humana e que também se encontra em constante desenvolvimento. Será um grande prazer fazer parte desta fase de aprendizagem que, com toda certeza, será mútua. e-mail: ederspatti@hotmail.com Olá! Meu nome é Thaís Minatel Tinós. Sou graduada em Geografia pela UNESP, mestre na área de Geociências e Meio Ambiente pela mesma universidade e Especialista em Gestão Ambiental pela UFSCar. Atuo em projetos na área de Consultoria Ambiental e Mapeamento Geotécnico/ Geológico e possuo experiência em Geociências e Ciências Ambientais. e-mail: thaistinos@gmail.com Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação BIOGEOGRAFIA Eder Paulo Spatti Junior Thaís Minatel Tinós Batatais Claretiano 2014 Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação © Ação Educacional Claretiana, 2014 – Batatais (SP) Versão: ago./2014 574.9 S726b Spatti Junior, Eder Paulo Biogeografia / Eder Paulo Spatti Junior, Thaís Minatel Tinós – Batatais, SP : Claretiano, 2014. 228 p. ISBN: 978-85-8377-142-5 1. Biogeografia. 2. Origem da vida e meios abiótico e biótico. 3. Biomas. 4. Domínios morfoclimáticos e fitogeográficos brasileiros. 5. Biogeografia e sistemas. 6. Cartografia biogeográfica. 7. Preservação e Educação Ambiental. I. Tinós, Thaís Minatel. II. Biogeografia. CDD 574.9 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Patrícia Alves Veronez Montera Raquel Baptista Meneses Frata Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rafael Antonio Morotti Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 10 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 31 4 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 31 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO, HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA BIOGEOGRAFIA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 33 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 33 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 34 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 34 5 BIOGEOGRAFIA: DEFINIÇÕES, OBJETO DE ESTUDO E OBJETIVOS ............... 35 6 SUBDIVISÕES DA BIOGEOGRAFIA ................................................................... 38 7 BIOGEOGRAFIA E ECOLOGIA ........................................................................... 43 8 HISTÓRIA DA BIOGEOGRAFIA ......................................................................... 45 9 EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS BIOGEOGRÁFICOS NO BRASIL ........................... 48 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 50 11 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 51 12 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 51 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 51 UNIDADE 2 – A ORIGEM DA VIDA E OS MEIOS ABIÓTICO E BIÓTICO 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 53 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 53 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 54 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 54 5 A ORIGEM DA VIDA E A EVOLUÇÃO DO PLANETA ......................................... 54 6 O MEIO ABIÓTICO ............................................................................................ 61 7 O MEIO BIÓTICO ............................................................................................... 70 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 74 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 75 10 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 75 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 76 UNIDADE 3 – OS BIOMAS DO MUNDO 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 79 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 79 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 79 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 80 5 O QUE É UM BIOMA? ....................................................................................... 80 6 A ORIGEM DOS BIOMAS NO ESTUDO GEOGRÁFICO ..................................... 81 7 BIOMAS DA ZONA INTERTROPICAL ................................................................ 84 8 BIOMAS DAS REGIÕES EXTRATROPICAIS ....................................................... 93 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 103 10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................104 11 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 104 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 105 UNIDADE 4 – BIOMAS BRASILEIROS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 107 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 107 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 107 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 108 5 ECOSSISTEMAS BRASILEIROS .......................................................................... 108 6 ECOSSISTEMA AMAZÔNICO ............................................................................ 110 7 CAATINGA ......................................................................................................... 115 8 CERRADOS ........................................................................................................ 119 9 MATA ATLÂNTICA ............................................................................................. 123 10 MATA DAS ARAUCÁRIAS ................................................................................. 127 11 PRADARIAS MISTAS DO RIO GRANDE DO SUL .............................................. 130 12 ECOSSISTEMAS COSTEIROS ............................................................................ 131 13 PANTANAL ........................................................................................................ 135 14 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 137 15 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 137 16 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 138 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 139 UNIDADE 5 – OS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS E FITOGEOGRÁFICOS BRASILEIROS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 141 2 CONTEÚDO ....................................................................................................... 141 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 141 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 142 5 DOMÍNIO AMAZÔNICO.................................................................................... 143 6 DOMÍNIO DOS MARES DE MORROS ............................................................... 147 7 DOMÍNIO DAS CAATINGAS .............................................................................. 150 8 DOMÍNIO DOS PLANALTOS DE ARAUCÁRIAS ................................................. 152 9 DOMÍNIO DAS PRADARIAS MISTAS ................................................................ 155 10 DOMÍNIO DOS CERRADOS .............................................................................. 156 11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 158 12 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 159 13 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 159 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 160 UNIDADE 6 – BIOGEOGRAFIA E SISTEMAS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 161 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 161 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 162 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 162 5 GEOSSISTEMAS E GEOBIOCENOSES, OU ECOSSISTEMAS ............................. 163 6 SISTEMAS URBANOS ........................................................................................ 168 7 CLIMA ................................................................................................................ 170 8 SOLOS ................................................................................................................ 171 9 LIXO ................................................................................................................... 172 10 RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................................... 173 11 ÁREAS VERDES ................................................................................................. 174 12 FAUNA .............................................................................................................. 175 13 OS AGROSSISTEMAS ....................................................................................... 176 14 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 178 15 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 178 16 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 179 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 179 UNIDADE 7 – CARTOGRAFIA BIOGEOGRÁFICA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 181 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 181 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 181 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 182 5 CARTOGRAFIA BIOGEOGRÁFICA ..................................................................... 184 6 PERFIS BIOGEOGRÁFICOS ............................................................................... 189 7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 194 8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 194 9 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 195 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 195 UNIDADE 8 – PRESERVAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 197 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 197 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 198 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 198 5 PRINCIPAIS FATOS QUE MARCARAM A QUESTÃO AMBIENTAL .................... 199 6 NOVAS ESTRATÉGIAS ....................................................................................... 216 7 EDUCAÇÃO AMBIENTAL .................................................................................. 222 8 ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ..................................................... 225 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 226 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 227 11 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................227 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 227 EA D CRC Caderno de Referência de Conteúdo Conteúdo ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Introdução, história e evolução da Biogeografia. A origem da vida e os meios abiótico e biótico. Os biomas do mundo. Os domínios morfoclimáticos e fitogeo- gráficos brasileiros. Biogeografia e sistemas. Cartografia biogeográfica. Preser- vação e Educação Ambiental. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. INTRODUÇÃO Para facilitar o estudo de Biogeografia, dividimos o seu conteúdo em oito unidades, que serão resumidamente apresentadas a seguir. Na Unidade 1, estudaremos a história e a evolução da Bio- geografia, na qual abordaremos a formação e a consolidação des- se ramo da Geografia como ciência. Em seguida, na Unidade 2, conheceremos as questões rela- cionadas à origem da vida, bem como sua evolução. Além disso, analisaremos juntos os fatores que compõem os meios abióticos e bióticos, o que será a base para a compreensão da distribuição espacial dos seres vivos. © Biogeografia10 Já na Unidade 3, entenderemos os biomas terrestres, ou seja, as diferentes associações vegetais que se distribuem pelo glo- bo, bem como os fatores que permitem essa distribuição. Na Unidade 4, trataremos dos biomas brasileiros e veremos a espacialização e o grau de devastação de cada associação vegetal em território brasileiro. Na Unidade 5, estudaremos os domínios de natureza no Bra- sil e compreenderemos que eles constituem um apanhado geral dos aspectos relacionados à Geografia Física no Brasil. Dando continuidade aos nossos estudos, na Unidade 6, anali- saremos a questão dos sistemas em Geografia e veremos que essa análise nos permite visualizar os diferentes aspectos da Geografia Física como fatores intimamente integrados e em constante fluxo. Na Unidade 7, você terá contato com a chamada "cartografia biogeográfica", que contextualiza os dados e os diversos fatores biogeográficos a fim de que estes possam servir de ferramentas para uso em diversos setores, como, por exemplo, no planejamen- to municipal. Finalmente, na Unidade 8, conheceremos questões em voga na atualidade, como o processo de obtenção de energia, a evolução da preocupação com a preservação ambiental e o desenvolvimento de novas estratégias rumo a uma sociedade mais sustentável. Bons estudos! 2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO Abordagem Geral Prof. Ms. Eder Paulo Spatti Junior Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu- dado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma Claretiano - Centro Universitário 11© Caderno de Referência de Conteúdo breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referencial teórico com base sólida – cientí- fica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabilidade social. De maneira sintética, podemos definir a Biogeografia como a vertente da Geografia que analisa a organização espacial dos seres vivos, ou, se preferir, a organização espacial da vida. Dada essa definição, pode-se interpretar que a Biogeografia trata da distribuição dos elementos bióticos e das condições abió- ticas que permitem sua distribuição pelo globo. Quando falamos de relações bióticas, podem ser entendi- das, nesse contexto, todas as relações estabelecidas entre os seres vivos, desde a predação de animais e plantas uns pelos outros até mesmo as relações de ajuda mútua, como a dos líquens, que nada mais é que uma associação entre fungos e algas, na qual um ele- mento capta a água do meio e o outro consegue captar a luz solar. Mesmo sem essa associação, o desenvolvimento de uma ou outra espécie seria impossível. É claro que, dentro dessas relações, se encontram, também, as relações do homem com o meio ambiente, e essa relação pos- sui especial destaque, pois não é movida por instinto ou por uma evolução natural. O homem é o único ser que não conseguiu se adaptar ao meio em que vive, necessitando de uma oferta muito maior de recursos, causando, dessa forma, quase sempre, uma re- lação em desequilíbrio com a natureza. Essas relações citadas, no entanto, só são possíveis graças ao arcabouço proporcionado por uma série de fatores que, arran- jados, permitem a distribuição dessas relações. Esses fatores nada mais são do que o clima, nas suas mais variadas escalas; o relevo; o solo; a luminosidade; e a umidade. © Biogeografia12 Os estudos de Biogeografia são observados desde a Antigui- dade, ainda que não possuíssem qualquer caráter científico. O famoso filósofo grego Aristóteles, por exemplo, já prati- cava estudos com diversos animais, observando as características relacionadas à sua distribuição e sua forma. Outro pensador, con- temporâneo de Aristóteles, Teofrasto, já fazia a associação entre o crescimento de certas plantas e a influência do clima. Repare que esses estudos não são mais do que esforços sem o uso de qualquer metodologia, ou seja, sem nenhum caráter científico na busca de uma compreensão do mundo ao redor. Apesar dessa busca por explicações do mundo, ainda não se praticava a ciência; era pre- dominante apenas o conhecimento filosófico. O contraponto de ideias fazia-se sem qualquer formalismo e rigor. Foi somente no final do século 18 que o naturalista alemão Alexander Von Humboldt começou a encarar a distribuição espa- cial das plantas e animais não mais como obra do acaso ou uma distribuição determinada por um ser superior. Com observações feitas em diversas partes do mundo, inclusive na Floresta Amazô- nica e na Cordilheira dos Andes, Humboldt passou a admitir que essa organização espacial é condicionada por outros elementos, tais como o clima, o relevo e a latitude. Humboldt foi muito influenciado pela época que sucedia o período das grandes navegações e pelos nomes de grandes nave- gadores e exploradores das terras do Novo Mundo que eram tidos com certo heroísmo por algumas pessoas na Europa. Esse naturalista promoveu a primeira viagem científica à Amé- rica do Sul, sendo o primeiro europeu a empreender, com recursos próprios, uma empreitada por uma região pouco conhecida, sem motivações financeiras. Durante sua passagem pelas selvas da Amé- rica do Sul, Humboldt fez uma catalogação extensiva das mais va- riadas espécies de plantas e promoveu registros dos mais variados animais encontrados. Ele observou, pela primeira vez, espécimes impossíveis de serem encontrados na Europa em diversos pontos, Claretiano - Centro Universitário 13© Caderno de Referência de Conteúdo especialmente nas áreas de floresta, e, além disso, conforme ruma- va em direção aos Andes, a presença de uma vegetação menos exu- berante e mais homogênea permitiu-lhe as primeiras associações entre a composição do meio ambiente e as características do clima, pois parte da vegetação de altitude pode ser encontrada na Europa, a milhares de quilômetros de distância. Outro brilhante cientista, o qual viveu na mesma época de Humboldt, foi o naturalista britânico Charles Darwin, que dá uma contribuição fundamental para as ciências naturais. Ele lança as bases da Teoria da Evolução das Espécies mediante o processo de seleção natural, ideia essa de um ineditismo fantástico, em que as características favoráveis à sobrevivência de um indivíduo ou de toda uma população vão sendo transmitidas por meio de mate- rial genético, "selecionando", dessa forma, os indivíduos mais bem adaptados ao meio em que vivem e eliminando os que possuem características que não permitam sua sobrevivência, tentando, as- sim, explicar a distribuição dos seres vivos nas diferentes partes do globo. Darwin, a exemplo de Humboldt, também não se prendeuao continente europeu, mas empreendeu uma grande jornada pe- las Américas, com destaque para a Ilha de Galápagos, onde pôde observar que espécies em isolamento desenvolvem características próprias, de acordo com a imposição do meio. Dentro da Biogeografia brasileira, podemos apontar com ênfase a obra do professor Helmut Troppmair, autor de diversos trabalhos na área, com destaque especial ao livro Biogeografia e Meio Ambiente, que trata de todos os aspectos relacionados à organização dos seres vivos e que serviu de base para a composi- ção deste Caderno de Referência de Conteúdo. Merece destaque, também, a obra completa do professor Aziz Nacib Ab'Sáber. Esses são alguns profissionais de destaque em todo o corpo da ciência geográfica e, especialmente, no que tange à organização espacial dos elementos naturais, objeto da Biogeografia. © Biogeografia14 Além de conhecer como se dá a distribuição dos elementos naturais pelo globo, é essencial que nos façamos uma pergunta: Como o planeta atingiu essa configuração, isto é, quais foram os fa- tores que condicionaram essa distribuição espacial dos seres vivos? Devemos ter em mente que o planeta é um corpo em cons- tante mutação. Assim, sua dinâmica interna e seu eixo de rotação fizeram que, ao longo de sua evolução, ele apresentasse diferentes características de relevo e de clima, o que nos leva à conclusão de que estamos sempre herdando uma paisagem. Para os estudos de Biogeografia, é fundamental conhecer- mos um pouco do passado do planeta, especialmente o chamado Período Quaternário. Foi durante esse período que, há alguns mi- lhares de anos, ocorreram os principais fatores que deram a mo- delagem da paisagem que apreciamos hoje. Entre esses fatores, as alternâncias entre climas quentes e úmidos e frios e secos são os que têm maior destaque. As chamadas "glaciações", período em que um brutal resfriamento do clima na Terra proporcionou dife- rentes aspectos vegetacionais, foram responsáveis por um grande aumento na biodiversidade de espécies, devido a seu isolamento durante os períodos mais frios e secos. Durante os períodos glaciais, houve um grande resfriamento da temperatura e, devido a isso, uma diminuição, em nível global, das taxas de precipitação. Com esse ressecamento do clima, tem- -se o ambiente propício para a evolução e expansão de formações florestais abertas, como, por exemplo, as matas de araucárias ou, ainda (e especialmente), as espécies encontradas hoje no sertão nordestino. As formações florestais de maior porte retraíram-se, então, em locais onde havia uma conservação da umidade, como em áreas de brejo. Esse isolamento fez que aquelas espécies encontradas em uma área se desenvolvessem sob condições únicas. Quando da retomada da umidade, houve justamente o processo oposto: a re- Claretiano - Centro Universitário 15© Caderno de Referência de Conteúdo tração das formações abertas e a expansão das formações mais densas. Exatamente nessa expansão, ocorreu a troca de material genético entre as espécies, proporcionando essa fantástica biodi- versidade encontrada nas florestas tropicais. É possível percebermos esse processo por meio de diversas análises laboratoriais, como, por exemplo, a análise de pólen, co- nhecida como palinologia. Essa análise nos dá uma ideia de como se comportou a composição vegetacional em épocas anteriores, e, por intermédio disso, é possível medir se havia predominância de uma espécie de clima seco ou de clima mais úmido. Podemos ver registros da antiga configuração do planeta não só por meio de aná- lises laboratoriais, mas também por meio de observações de cam- po. Mediante uma observação assídua do relevo e de padrões da hidrografia, podemos observar traços da evolução de nosso planeta. Esses fatores físicos, como já mencionamos, são os grandes determinantes da consolidação dos seres vivos, seja de grupos ani- mais e formações vegetais, seja de agrupamentos humanos e suas relações. Clima e relevo são dois dos condicionantes principais dos fatores abióticos, fatores esses que possibilitam a manutenção das relações entre os seres vivos. É também a partir do clima e do re- levo que se desenvolvem os outros fatores, como a incidência de luminosidade, a formação do solo, a temperatura e a umidade. Quando se fala em clima, é preciso ficar atento, pois esse fa- tor abiótico apresenta muitas escalas. Por exemplo, a temperatura do interior de uma mata não é a mesma que a encontrada em sua borda, ao passo que uma vertente que receba maior incidência solar apresenta uma variação de até 3°C em relação a um fundo de vale mais sombreado. São essas pequenas variações que determinam as chamadas "escalas do clima", as quais são definidas por macroesca- la, que corresponde a um clima global ou continental; mesoescala, num caráter regional (a Região Sudeste, por exemplo); ou microes- cala, que corresponde a poucos quilômetros de extensão. © Biogeografia16 É imprescindível que assimilemos a importância de fatores como latitude e relevo na distribuição da vegetação. Ambos in- fluenciam diretamente o componente climático, que é determi- nante na distribuição dos biomas terrestres. O bioma da Floresta Latifoliada Equatorial, por exemplo, distribui-se ao longo da Linha do Equador, constituindo-se um padrão global proporcionado pela latitude. Nessa observação, é impossível dizer se estamos olhando para a Floresta Amazônica ou para uma área da Floresta do Congo ou da Ilha de Bórneu. Esses locais citados compreendem uma al- tíssima taxa de umidade e uma entrada de energia solar imensa, o que permite a manutenção de florestas majestosas, com uma biodiversidade muito grande. Entretanto, na mesma posição lati- tudinal, há a presença da cordilheira andina, o que determina um clima muito mais frio e seco (em função da altitude), com uma vegetação muitíssimo reduzida ou mesmo inexistente. Transportando essa questão para o território brasileiro, con- seguimos identificar distintos padrões de distribuição geográfica dos elementos naturais ao longo do território, ou seja, é possível dividir (sob o aspecto da Geografia Física) o Brasil em grandes do- mínios de Geografia Física, ou, como apresenta o professor Aziz Nacib Ab'Sáber (2003), em grandes "domínios de natureza". Essa divisão leva em conta características não só da distribuição dos seres vivos, mas, especialmente, das áreas em que o arranjo dos fatores de clima, relevo e vegetação se apresentam de maneira semelhante, como, por exemplo, o domínio amazônico, ou, ainda, o domínio das caatingas. Na maior parte das vezes, esses dois exemplos geram quase instantaneamente, em nossas cabeças, a fotografia de uma flores- ta densa e, depois, a de uma vegetação seca e esparsa. Evidente- mente, essa não é uma visão errônea, mas é extremamente limi- tada do ponto de vista da Geografia Física. O aspecto vegetacional é só uma das vertentes que compõem esses quadros naturais. Há toda uma configuração climática e geomorfológica que proporcio- na o estabelecimento dessa vegetação. Claretiano - Centro Universitário 17© Caderno de Referência de Conteúdo A essa visão ampla, com a compreensão mais abrangente, é que determinamos o conceito de geossistema, o qual aborda a combinação de uma série de fatores físicos, como a composição dos solos e a estrutura do relevo, para fazer a análise de um dado espaço. Dessa forma, podemos definir um geossistema como o re- sultado da combinação de fatores geológicos, climáticos, geomor- fológicos, hidrológicos e pedológicos e, obviamente, a dinâmica desses fatores no tempo e no espaço. Por intermédio da compreensão dos geossistemas, é possí- vel entender, também, as conexões da Geografia Física, pois, por meio de uma boa análise do meio físico e das relações – entre elas, as humanas, pode-se ter um planejamento racional e adequado do espaço, uma vez que é a partir da associação dos elementos que o compõem que se dá toda a estrutura da paisagem. Outro termo muito utilizadonas ciências relacionadas à área ambiental é o conceito de "ecossistema", o qual reflete as relações de uma dada população numa dada área e seus fluxos de matéria e energia. Aliás, essa é uma palavra-chave quando se fala de siste- mas. Os fluxos é que fazem um sistema ter um caráter dinâmico, proporcionando, sempre, sua autorregulação. Podemos citar, como exemplo de um sistema em Geografia, as cidades, ou seja, um sistema urbano. Uma cidade tem um territó- rio próprio, possui um arcabouço físico, com características próprias de relevo e clima, acesso aos recursos hídricos, além de possuir re- lações constantes entre os seus habitantes. Há uma entrada cons- tante de energia elétrica e matéria, como, por exemplo, madeira e produtos da construção civil, e, também, a conversão dessa matéria e energia em produtos industrializados, de consumo, caracterizando um intenso dinamismo desse sistema urbano, que, não necessaria- mente, é isolado, mas pode ter conexões intensas com outros siste- mas por meios diversos, como as rodovias, por exemplo. Se os sistemas urbanos são um grande exemplo da análise dos sistemas em Geografia, o agrossistema também é. Da mesma © Biogeografia18 forma que o inchaço das cidades é um assunto do mais alto inte- resse da Geografia, a demanda por alimentos e a transformação de sistemas naturais em sistemas agrícolas é de grande interesse para a Biogeografia, pois essa conversão de um fator natural em ambiente modificado interfere em toda a dinâmica do meio am- biente, alterando os fluxos de energia, a recomposição de elemen- tos e a manutenção da biodiversidade. Na composição dessa análise, é de fundamental importân- cia lançar mão de instrumentos que auxiliem na visualização dos elementos estudados. Para tanto, a Biogeografia faz uma parceria com a Cartografia no que tange à espacialização de dados e sua melhor interpretação. Vivemos hoje numa época em que o aumento da popula- ção e, consequentemente, dos recursos atinge números jamais observados antes. Essas mudanças no padrão de distribuição dos fenômenos geográficos exigem uma documentação cartográfica; por isso, mais do que nunca, a análise espacial dos dados vem tor- nando-se cada vez mais presente e fundamental nas tomadas de decisão dos governos e das instituições. Nesse contexto, as imagens geradas pela cartografia biogeo- gráfica tornam-se uma importante ferramenta aplicada ao plane- jamento e à gestão territorial. Além de ser uma peça fundamental nas questões do planejamento territorial, a Cartografia é um im- portante instrumento na visualização dos próprios fenômenos e na espacialização das variáveis biogeográficas. Ao observarmos a Figura 1 (que também consta na Unidade 7), podemos ver uma série de representações de diferentes fenô- menos relativos à Biogeografia, como a distribuição de uma espé- cie numa escala global, a ocorrência de uma espécie vegetal em uma dada região ou, ainda, o volume de biomassa produzido por diferentes tipos de espécies vegetais. Claretiano - Centro Universitário 19© Caderno de Referência de Conteúdo Fonte: Troppmair (2002, p. 165). Figura 1 Mapeamentos biogeográficos em diferentes escalas e legendas. Essa crescente demanda pelos recursos vem sendo demons- trada pela população mundial já há muito tempo. Desde o início da Revolução Industrial, no século 19, a população desloca-se para os centros urbanos, causando, assim, uma disputa por espaço e por melhores condições. É óbvio que essa demanda por espaço e por melhores condições foi causando, ao longo dos anos, um for- te desequilíbrio nessa relação de uso e na preocupação da dispo- nibilidade desses recursos para as futuras gerações. Assim, fez-se emergente uma atitude, por parte do Estado, para conseguir bus- car novamente uma disponibilidade de energia, ou melhor, uma nova forma de uso e uma diversificação dos recursos, uma postura que permitisse o desenvolvimento das atividades capitalistas. Mas de que forma isso ocorreu? Um primeiro passo foi, justamente, a reunião dos países para constatar essa realidade, o que aconteceu no ano de 1972, na Sué- © Biogeografia20 cia, onde houve, pela primeira vez, uma tentativa de conciliação en- tre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento e, também, um debate com questões relacionadas aos direitos humanos e direi- tos da mulher. Em princípio, essa discussão de fatores sociais pouco se relaciona com a questão ambiental, mas é necessário lembrar- mo-nos de que o mundo estava em uma ascensão que culminava com o questionamento de diversos padrões de comportamento. Eclodiam o movimento hippie nos Estados Unidos e os movimentos de igualdade de direitos em todo o mundo, ao passo que, em países da América do Sul, se vivia sob um regime de exceção. No Brasil, a questão ambiental não abriu muito o leque de discussões na esfera dos direitos humanos. A principal mudança foi em relação ao uso de uma fonte de energia pouco utilizada e pouco conhecida: o álcool. No início dos anos 1970, foi criado, pelo governo militar, o Pró-Álcool (Programa Nacional do Álcool), pre- vendo a substituição do uso de combustíveis derivados do petró- leo por combustíveis derivados da cana-de-açúcar. Essa iniciativa pode ser entendida como uma faca de dois gumes: por um lado, a questão da poluição provocada pelas emis- sões de gases das máquinas e automóveis é ambientalmente mui- to diminuída; por outro, a monocultura da cana-de-açúcar causa impactos que não podem, em nenhum momento, ser considera- dos desprezíveis. Para o plantio de cana, é preciso uma área mui- to grande, e, quase sempre, há a necessidade de se fazer alguma prática de desmatamento para obtenção dessas áreas, o que com- promete ainda mais o ambiente do ponto de vista da perda de vegetação e, consequentemente, de fauna. Outro ponto negativo é quanto à sua queimada. Se, por um lado, a liberação de gás carbônico para a atmosfera é diminuída no produto final, a queima da palha da cana é algo que gera emissões de carbono consideráveis. Há, ainda, a questão social. No manejo dessa cultura, é empregada uma mão de obra cujas relações trabalhistas se assemelham muito às dos engenhos de açúcar do Nordeste colonial. Claretiano - Centro Universitário 21© Caderno de Referência de Conteúdo Repare que é a partir da década de 1970 que se inicia a busca por novas fontes de energia, bem como novas formas de utilização. É justamente nessa busca que, em meados dos anos 1980, ocorre um terrível acidente na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Esse acidente marcou para sempre o uso dessa fonte de energia como alternativa aos usos das fontes derivadas de com- bustíveis fósseis, ou seja, petróleo e carvão. Na evolução dessa ideia, é realizada, na cidade do Rio de Janeiro, a chamada Eco-92, talvez a mais importante conferência relacionada às causas ambientais ocorrida. Essa conferência nos trouxe algo que é extremamente utilizado até hoje: o termo sus- tentabilidade, que deve ser o norte para as nações que realmente querem ser desenvolvidas. Observe que um ambiente intocado permite a sua sustenta- bilidade, mas, para a sobrevivência do homem, é necessário o uso dos recursos. Nesse sentido, é impossível atingir o estágio susten- tável olhando somente a questão ambiental, pois é preciso olhar, também, as relações sociais. Para fecharmos este raciocínio, vamos nos lembrar de um conhecido evento, ocorrido na cidade de Kyoto, em 1997: falamos da assinatura do famoso protocolo que previa a redução das emis- sões de gases poluentes. Mais do que as assinaturas dadas pelos países, a ausência de uma assinatura é ainda mais lembrada. Os Estados Unidos recusaram-se a assinar o protocolo, alegando uma recessão econômica de seu país. Diante dessa postura, o mundo deu um passo pra trás em busca de uma sociedade mais sustentá- vel e de um ambiente ecologicamente mais equilibrado. É importante salientar a presença cada vez maior do chama- do "Terceiro Setor" na discussão das causas ambientais.Nota-se, cada vez mais, na mídia, a presença de ONGs (Organizações Não Governamentais) em manifestações em prol da chamada "causa ambiental". No entanto, há de se ter muito cuidado com as reais intenções de algumas organizações que muitas vezes aparecem © Biogeografia22 com uma conotação muito mais marqueteira do que propriamen- te ambiental. No Brasil, atitudes muito interessantes foram adotadas em favor de um ambiente mais equilibrado. Uma delas foi a adoção de uma legislação ambiental belíssima, uma das mais avançadas e esclarecidas do mundo. Porém, a mais interessante, talvez, seja a adoção da chamada "Educação Ambiental", como algo a ser abor- dado nas escolas. Essa atitude reflete uma preocupação com a nova geração dos usuários dos recursos ambientais, para que ela faça, do ambiente herdado, um local agradável e possível de tirar o sustento da sociedade. Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá- pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Referência de Conteúdo. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos: 1) Abiótico: componente do ecossistema que não inclui se- res vivos, como, por exemplo, as substâncias minerais, os gases e os elementos climáticos isolados. 2) Alóctone: quem ou o que veio de fora, que não é origi- nário da região. Solos desenvolvidos em material de ori- gem transportada, sem relação direta com a rocha sub- jacente. Rio cujo fluxo de cargas provém de outra área climática ou geoecológica (exemplos: Rio Nilo, Rio São Francisco). 3) Área core: denomina-se "área core" aquela que apre- senta as características fundamentais da descrição de um dado fato a ser estudado ou, ainda, a região onde primeiramente foi estudado um determinado assunto. 4) Associação ecológica: complexo de comunidades que se desenvolve conforme variações na Fisiografia: tecidos geoecológicos e história sucessional dentro da subdivi- são de um bioma. Claretiano - Centro Universitário 23© Caderno de Referência de Conteúdo 5) Associação vegetal: comunidade biótica formada por um conjunto definido de espécies vegetais existentes no interior do bioma. 6) Bacia hidrográfica: área total de drenagem que alimen- ta uma determinada rede hidrográfica. Área delimitada por divisores de água, para onde escoa toda a água de chuva e aonde as águas confluem para um único ponto: o exutório. 7) Biocenose: "[...] é o conjunto de diversas espécies que vivem em uma mesma região. O termo ‘biocenose' foi criado pelo zoólogo alemão K. A. Möbius, em 1877, para ressaltar a relação de vida em comum dos seres que ha- bitam determinada região" (TROPPMAIR, 2008, p. 114). 8) Bioma: "[...] é uma unidade biológica ou espaço geográ- fico caracterizado de acordo com o macroclima, a fitofi- sionomia (aspecto da vegetação de um lugar), o solo e a altitude específicos. Alguns, também são caracterizados de acordo com a presença ou não de fogo natural" (IN- FOESCOLA, 2011a). 9) Biomassa: trata-se de um material constituído por subs- tâncias de origem orgânica (vegetal, animal e microrga- nismos). Alguns exemplos de biomassa são as plantas, os animais e os seus derivados. Seu uso como combustível pode ser feito a partir da forma bruta, utilizando madei- ra, produtos e resíduos de origem agrícola, resíduos flo- restais e pecuários, excrementos de animais e, também, lixo (APROER, 2011). 10) Biótopo: área geográfica ocupada por uma biocenose. 11) Ciclo hidrológico: sucessão de fases percorridas pela água na natureza, ao passar da atmosfera para a Terra e vice-versa. Consiste na evaporação da água do solo, mares, rios, lagos e represas; condensação para formar as nuvens; precipitações, reacumulação no solo e dife- rentes massas de água; escoamento direto ou retardado para o mar; e reevaporação. O ciclo hidrológico pode ser atrapalhado pela entrada de gases e produtos químicos originada por ações antrópicas (indústrias), ocasionan- do, com isso, a chuva ácida. © Biogeografia24 12) Ciclos bioquímicos/geoquímicos: "[...] são processos naturais que reciclam elementos do meio ambiente para os organismos e vice-versa" (TROPPMAIR, 2008, p. 23). 13) Clímax: "[...] última comunidade biológica em que ter- mina uma sucessão ecológica, isto é, a comunidade es- tável que não sofre mais mudanças direcionais. Neste estágio há um equilíbrio dinâmico, enquanto as condi- ções ambientais permanecem relativamente estáveis" (TROPPMAIR, 2008, p. 117). 14) Continentalidade: fator geográfico do clima que respon- de por variações de amplitude térmica em função do grau de interiorização continental dos lugares. Esse fator responde pelo aumento da amplitude das temperaturas médias na mesma faixa de latitude. A intensidade da continentalidade varia de continente para continente, dependendo do tamanho de seu território e da intensi- dade de suas massas de ar. 15) Corredor ecológico: é a ligação de áreas de mata. Essa li- gação permite que haja troca de material genético entre as espécies dos diferentes nichos ecológicos, proporcio- nando a manutenção da biodiversidade. 16) Densidade de drenagem: é o número de canais (de rios ou de riachos) presentes em uma determinada área. 17) Desenvolvimento sustentável: "[...] A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvi- mento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessi- dades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro" (WWF, 2011). 18) Desertificação: desenvolvimento de condições desér- ticas (deficiência de água e/ou relativa à ausência de vegetação) como resultado de atividades humanas ou mudanças climáticas. No Brasil, ocorrem nódulos de de- sertificação no nordeste seco e nos lençóis de areia do sudoeste do Rio Grande do Sul. 19) Domínio morfoclimático e fitogeográfico: "[...] grande área do espaço geográfico no interior de áreas continen- tais, onde predominam feições morfológicas e condições Claretiano - Centro Universitário 25© Caderno de Referência de Conteúdo ecológicas integradas" (AB'SÁBER, 2003, p. 9). Os domí- nios morfoclimáticos possuem áreas de milhões a cente- nas de milhares de quilômetros de extensão, incluindo diversas regiões naturais e compartimentos topográfi- cos, mas conservando condições geoecológicas extensi- vas, feições geomorfológicas aparentadas, associações regionais de solos específicos, coberturas vegetais natu- rais características e condições hidrológicas regionais di- ferenciadas em relação aos domínios morfoclimáticos e biogeográficos adjacentes. Entre as áreas dos diferentes domínios, ocorrem faixas de transição geoecológicas e contatos de flora muito heterogêneos. 20) Ecossistema, ou geobiocenose: "Pode ser definido como um sistema de interações em funcionamento, composto de um ou mais organismos vivos e seus ambientes reais, tanto físicos como biológicos" (TROPPMAIR, 2002, p. 100). 21) Ecótono: "[...] zona de transição entre as comunidades ecológicas ou biomas adjacentes podendo ser gradual, abrupta (ruptura) em mosaico ou apresentar estrutura própria" (INFOESCOLA, 2011b). 22) Evapotranspiração: perda combinada de água de uma dada área por evaporação através da superfície do solo e pela transpiração das árvores, expressa em milímetros ou centímetros por dia. 23) Floresta ciliar: formação vegetal localizada nas margens de quaisquer corpos d'água, tais como rios, córregos, lagos, represas ou nascentes, também conhecida como "mata de galeria" (quando a vegetação das duas margens forma um dossel sobre a água). "Considerada pelo Código Florestal Federal como 'área de preservação permanen- te', com diversas funções ambientais, devendo respeitar uma extensão específica de acordo com a largura dos rios, lagos, represas e nascentes" (MATA CILIAR, 2011). 24) Floresta galeria: florestaque orla um ou dois lados de um curso d'água em uma região onde a vegetação do inter- flúvio não é floresta contínua (cerrado, savana ou campo limpo). É interessante fazer uma distinção entre a floresta galeria, que resulta da maior disponibilidade de água no © Biogeografia26 solo durante a estação seca do que naquela existente no interflúvio, e a floresta de encosta, que pode formar um contínuo com a floresta galeria em um vale. 25) Geossistema: "[...] sistema ecológico reconhecível e delimitável no interior de um domínio morfoclimático, província de vegetação ou região natural" (TROPPMAIR, 2008, p. 113). Na prática, os geossistemas definem-se por espaços de certo território, onde ocorrem ecossiste- mas aparentados na forma de associações regionais ou subregionais de sistemas ecológicos. 26) Região biogeográfica: grande espaço caracterizado pela presença de determinadas comunidades vegetais às quais se acoplam comunidades animais com distribuição desigual. As regiões dividem-se em províncias, áreas e distritos, obedecendo ao critério de unidades espaciais de ordem de grandeza decrescente. 27) Teoria dos Refúgios: devido a ciclos alternados (seco/ úmido) durante o Pleistoceno, a biota das regiões flo- restais ficou restrita a regiões isoladas úmidas ou a refú- gios, ali sofrendo diferenciação. A expansão dos hábitats úmidos ao fim de um período seco provocou a expansão dos animais e plantas relacionados aos hábitats mais fe- chados, mais úmidos, deixando centros de maior diver- sidade e endemismos como evidência dos refúgios do Pleistoceno. Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas próprias percepções. É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en- Claretiano - Centro Universitário 27© Caderno de Referência de Conteúdo tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende- -se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co- nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe- dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza- gem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es- colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es- tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape- nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci- so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con- siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei- tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog- nitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor- nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe- cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele- © Biogeografia28 cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon- ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010). Figura 2 Esquema dos Conceitos-chave – Biogeografia. Como você pode observar, esse esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im- portantes deste estudo. Ao segui-lo, será possível transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, é possível vi- sualizar, de maneira rápida e objetiva, os primórdios dos estudos biogeográficos, traçar um rápido paralelo com a evolução e a es- pacialização dos seres vivos e observar os instrumentos atuais de proteção aos recursos naturais. O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien- te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza- Claretiano - Centro Universitário 29© Caderno de Referência de Conteúdo das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co- nhecimento. Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com a prática do ensino de Geografia pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re- solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. As questões de múltipla escolha são as que têm como respos- ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res- posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma. Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio- grafias complementares. Figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte- grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra- © Biogeografia30 tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con- teúdos estudados, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicasque estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui- lo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido perce- bido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri- mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, Claretiano - Centro Universitário 31© Caderno de Referência de Conteúdo pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure- cimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB'SÁBER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 4. ed. São Paulo: Ateliê, 2003. TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. 5. ed. Rio Claro: Graf-Set, 2002. _________. Biogeografia e meio ambiente. 8. ed. Rio Claro: Graf-Set, 2008. 4. E-REFERÊNCIAS APROER. Biomassa: uma dupla solução. Disponível em: <http://www.aproer.org.br/ vernoticia.php?id=2500>. Acesso em: 20 jul. 2011. INFOESCOLA. Bioma. Disponível em: <http://www.infoescola.com/geografia/bioma/>. Acesso em: 10 jul. 2011a. ______. Ecótono. Disponível em: <http://www.infoescola.com/ecologia/ecotono/>. Acesso em: 10 jul. 2011b. MATA CILIAR. Paraná – Governo do Estado. Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Disponível em: <http://www.mataciliar.pr.gov.br>. Acesso em: 16 nov. 2011. WWF – WORLD WILD FOUNDATION. O que é desenvolvimento sustentável?. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/desenvolvimento_ sustentavel/>. Acesso em: 10 jul. 2011. Claretiano - Centro Universitário 1 EA D Introdução, História e Evolução da Biogeografia 1. OBJETIVOS • Compreender o objeto de estudo da Biogeografia e seus objetivos. • Entender as subdivisões e as interfaces da Biogeografia com outras ciências. • Conhecer e entender a origem histórica e o desenvolvi- mento dos estudos biogeográficos no Brasil. 2. CONTEÚDOS • Biogeografia: definições, objeto de estudo e objetivos. • Subdivisão da Biogeografia. • Biogeografia e Ecologia. • História da Biogeografia. • Evolução dos estudos biogeográficos no Brasil. © Biogeografia3434 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Fique atualizado às informações relacionadas ao meio físico, disponíveis em todas as mídias. Lembre-se de que o ambiente está em constante transformação; dessa forma, uma análise crítica e evolutiva sobre o tema será uma consequência de seu aprendizado. 2) Faça um estudo comparativo da fauna de diferentes continentes que estejam numa mesma latitude, a fim de ampliar seus conhecimentos acerca da temática desen- volvida no decorrer desta unidade. 3) Descubra e analise os motivos da existência de espécies de plantas diferentes numa mesma latitude, mas em al- titudes diferentes. 4) Consulte, como material de apoio importante, a Revista Nova Escola, publicada pela Editora Abril, que apresenta textos que podem dar suporte para a aplicação da Bio- geografia em sua prática profissional. 5) Para elucidar questões sobre o tema Biogeografia, reco- mendamos que leia o artigo Os viajantes e a Biogeografia, de Nelson Papavero e Dante Martins Teixeira, disponí- vel em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-59702001000500012>. Acesso em: 22 jun. 2011. 6) Faça uma pesquisa na web sobre a biografia de Charles Darwin, Alexander Von Humboldt e Alfred Wallace, a fim de contextualizar suas obras no período de sua produção. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Se alguém lhe dissesse ter visto um urso-polar na Floresta Amazônica, você acharia estranho, não é mesmo? E se fosse um exemplar de pau-brasil na Sibéria? Com certeza, você também não Claretiano - Centro Universitário 35© U1 - Nome da Unidade Introdução, História e Evolução da Biogeografia acreditaria se alguém declarasse ter encontrado uma arara-azul na Antártida. Enfim, todas essas afirmações são inconsistentes, pois os seres vivos não se distribuem igualmente pela superfície da Terra. Apesar de algumas espécies apresentarem uma vasta distri- buição geográfica, os seres vivos, em geral, são encontrados ape- nas em lugares onde há condições ambientais que permitam não somente a sobrevivência do indivíduo, mas também a propagação da espécie, ou seja, regiões onde haja alimentos e um meio propí- cio para a geração de novos descendentes. Isso não seria possível para um urso-polar na Floresta Amazônica nem para uma árvore como o pau-brasil ou para uma arara-azul nas geladas Sibéria e Antártida. A Biogeografia tem como objetivo entender essa distribui- ção espacial dos seres vivos, explicar como e por que ela ocorre, quais são as barreiras que condicionam a expansão e o isolamento das espécies, quais são os padrões de variação ocorridos na Terra, relacionados à quantidade e aos tipos de seres vivos, entre outros fatores que fazem do nosso planeta um modelo de biodiversidade espacial tão variado. Ao longo desta unidade, estudaremos as origens e o desen- volvimento desta ciência até os dias de hoje. Buscaremos o enten- dimento das subdivisões, seu objeto de estudo, suas relações com outras ciências e sua evolução no Brasil. Prepare-se para uma viagem por obras de grandes nomes da Biogeografia! Bom estudo! 5. BIOGEOGRAFIA: DEFINIÇÕES, OBJETO DE ESTUDO E OBJETIVOS Como já observado, a Geografia é a ciência que estuda as interações, a organização e os processos espaciais (BERRY, 1969). © Biogeografia3636 Partindo desse princípio, Troppmair (2008) afirma que, como in- tegrante da ciência geográfica, a Biogeografia procura os mesmos objetivos. Na literatura recente, há muitas definições de Biogeografia. Algumas são extremamente concisas e pouco informativas, en- quanto outras, mais extensas, demandam uma análise mais pro- funda. Para que você visualize melhor os propósitos da Biogeo- grafia e forme uma opinião a respeito dela, observe as definições elaboradas pelos pesquisadores a seguir. Elhai (1968 apud TROPPMAIR, 2008, p. 5) define a Biogeo- grafia como "[...] o estudo das plantas e animais na superfície da Terra, suas repartições, seus agrupamentos e suas relações com outros elementos do mundo físico e humano". Lacoste e Salanon (1973, p. 15) consideram que "[...] a Bio- geografia tem por objeto de estudo a distribuição dos seres vivos sobre a superfície do globo, e põe em evidência as causas que re- gem esta distribuição". Já Margalef (1974, p. 238) define a Biogeografia como "[...] o estudo dos fenômenos biológicos em suas manifestações espaciais". Mueller (1976 apud TROPPMAIR, 2008, p. 5) afirma que: A Biogeografia pesquisaas razões da distribuição dos organismos, das comunidades vivas e dos ecossistemas nas paisagens do mun- do. A estrutura, função, a história e os fatos indicadores sobre es- paços são os objetivos dos estudos biogeográficos. Martins (1987, p. 9) acredita que: "Biogeografia é a ciência que estuda a distribuição geográfica dos seres vivos de acordo com as condições climáticas e na dependência das possibilidades de adaptação". Zunino e Zullini (2003, p. 1), porém, consideram a Biogeo- grafia "[...] o estudo dos aspectos espaciais e espaço-temporais da biodiversidade ou, em outras palavras, como a ciência que estuda a dimensão espacial da evolução biológica". Claretiano - Centro Universitário 37© U1 - Nome da Unidade Introdução, História e Evolução da Biogeografia Troppmair (2008, p. 5) conclui que a Biogeografia: [...] estuda as interações, a organização e os processos espaciais do presente e do passado, dando ênfase aos seres vivos – biocenoses – que habitam determinado local: o Biótopo. Em todas as definições, é possível perceber que a Biogeogra- fia está sempre associada ao enfoque espacial, uma vez que é um ramo da Geografia, fato que a diferencia de outras ciências, como a Biologia e a Ecologia. Toda ciência tem um objeto de estudo e um campo delimi- tado. No caso da Biogeografia, podemos definir como seu objeto de estudo a distribuição espacial das múltiplas formas de seres vivos (animais e vegetais), integrantes das cadeias alimentares e dependentes das condições ambientais. Já o seu campo de estudo é a biosfera, meio onde há vida, ou seja, a parte biologicamente habitada do nosso planeta. Para aprofundar nossos conhecimentos sobre a biosfera, va- mos à leitura do breve texto a seguir. Biosfera –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Em 1875, o termo "biosfera" foi introduzido pelo geólogo austríaco Eduard Suess. Entre 1926 e 1929, o mineralogista russo Vladimir Vernandsky consagrou defi- nitivamente o termo, utilizando-o em duas conferências de sucesso. A partir daí começou-se a aplicar o termo biosfera para designar a parte do planeta ocupada pelos seres vivos. O conceito foi criado por analogia a outros conceitos emprega- dos para nomear partes do planeta, como, por exemplo, litosfera, camada rocho- sa que constitui a crosta, e atmosfera, camada de ar que circunda a Terra. Bios- fera é o conjunto de todas as partes do planeta Terra onde existe ou pode existir vida. A biosfera é um tanto irregular, devido à escassez, ou mesmo inexistência, de formas de vida em algumas áreas. Os seus limites vão dos fins das mais altas montanhas até às profundezas das fossas abissais marinhas. De acordo com essas considerações, a biosfera teria espessura máxima de aproximadamente 17 ou 18 Km, formando uma pelí- cula finíssima quando comparada aos 13.000 Km de diâmetro da Terra. Se o planeta fosse comparado a uma laranja, a biosfera não passaria de um fino papel de seda sobre sua superfície (IESAMBI, 2010). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O principal objetivo da ciência biogeográfica é analisar as complexas interações entre os seres vivos e o meio ambiente e © Biogeografia3838 compreender o transcurso histórico que resultou na distribuição atual dos seres vivos. Inúmeros fatores interferem nessa distribui- ção, como os diferentes tipos de clima, a vegetação e o solo, a atual configuração dos continentes e a formação das grandes ca- deias montanhosas, além de modificações impostas pela ação hu- mana. Como a Biogeografia leva em consideração os fatores men- cionados, advém daí a sua importância para a ciência geográfica (CAMARGO, 1993). 6. SUBDIVISÕES DA BIOGEOGRAFIA Os estudos biogeográficos podem referir-se de modo exclu- sivo aos vegetais ou aos animais ou, ainda, podem abarcar o con- junto de plantas e animais. Também podem tratar apenas de uma espécie, de um gênero ou de uma categoria taxonômica. Assim, a Biogeografia tem subdivisões e enfoques, de acordo com o tema estudado. Quando se estuda somente a distribuição dos vegetais, cha- mamo-la de Fitogeografia. Quando se examina a distribuição dos animais, temos a Zoogeografia. O estudo do homem como parte integrante da natureza é chamado de Biogeografia Antrópica, ou Biogeografia Social. Com base nas três subdivisões mencionadas anteriormente, alguns autores, como Troppmair (2008) e Viadanna (2004), estabe- leceram os seguintes enfoques, conforme o tema estudado: 1) Biogeografia Florística-Faunística: analisa a distribuição geográfica e as causas da ocorrência de determinada es- pécie vegetal ou animal em um espaço. Por meio dessa perspectiva, é possível determinar os fatores limitantes para a ocorrência ou dispersão de determinada espécie. 2) Biogeografia Sociológica: divide-se em Fitossociologia e Zoossociologia e tem por objetivo estudar as espécies que compõem um ecossistema específico. Viadanna (2004) cita, como exemplo dessa subdivisão, os mangue- Claretiano - Centro Universitário 39© U1 - Nome da Unidade Introdução, História e Evolução da Biogeografia zais e sua respectiva fauna, os quais se distribuem pelos litorais da América do Sul, África e sudeste asiático. No- vos métodos de investigação temporal com técnicas de Palinologia permitem a elaboração de argumentos que apontam para as espécies que primeiro desenvolveram a tolerância à salinidade, evoluindo para as hoje conhe- cidas formas que constituem os manguezais. Tais estu- dos procuram respostas para perguntas como: "De qual forma tal planta ou animal aparece numa dada área?". 3) Biogeografia Histórica: abrange a Fitogeografia e a Zoo- geografia históricas e estuda as causas da atual distri- buição, bem como a diferença e a extinção de espécies da flora e da fauna. Por exemplo, nas pesquisas sobre a presença de fósseis em um dado local, como explicar que determinadas espécies de um mesmo tipo corpóreo ocorrem numa região "x", e não numa região "y"? Ou, ainda, como espécies iguais habitam locais atualmente muito distantes? Esses questionamentos levam a pes- quisas investigativas sobre a evolução das espécies flo- rísticas e faunísticas, a fim de obter respostas às seguin- tes perguntas: "Quais foram as áreas de refúgio durante a retração de uma dada biota em períodos de glaciação (mais secos)?", ou "Qual a razão da extinção de uma dada espécie hoje fossilizada?". 4) Biogeografia Fisionômica: área da Biogeografia que es- tuda os aspectos fisionômicos dos seres vivos, especial- mente da vegetação e sua expressão na formação da paisagem devido a diferentes formas de crescimento. Viadanna (2004, p. 116) define essa subdivisão como: [...] a que trata especificamente das formas de vida, ou seja, da ex- pressão singular no mosaico da paisagem, e isso tanto em relação às formações vegetais como também ao micromodelado do relevo terrestre [...] caso típico dos murundus (conhecidos popularmente como cupinzeiros) que infestam enormes extensões de parcelas do território brasileiro, feito pelas saúvas e térmitas. 5) Biogeografia Econômica: subdividida em Fitogeografia Econômica e Zoogeografia Econômica, estuda o valor e o aproveitamento econômico das espécies da flora e da fauna. É claro que esse valor é atribuído de acordo com © Biogeografia4040 os interesses de uma classe ou de uma sociedade, sem, no entanto, comprometer os recursos paisagísticos. 6) Biogeografia Regional: divide-se em Fitogeografia Re- gional e Zoogeografia Regional e estuda as espécies vegetais e animais que habitam determinada região ou geossistema. Um clássico exemplo dessa vertente é o modelo proposto por Ab'Sáber (2003), dos domínios morfoclimatobotânicos no Brasil, delimitando áreas com propriedades paisagísticas em comum, suas respectivas áreas core e seus corredores de transição. Tal exemplo será abordado na Unidade 4 deste Caderno de Referên- cia de Conteúdo. 7) Biogeografia Médica: estuda a distribuição e as causas da ocorrência de pragas e moléstias, contribuindo, as- sim, para o estudoda proliferação da dengue e da febre amarela, por exemplo, cujos vetores se reproduzem em ambientes aquáticos, isso tanto na zona rural quanto na cidade. Além de analisar a ocorrência pontual des- sas patologias, bem como a migração desses vetores, a Biogeografia Médica contribui muito para os estudos da movimentação das pragas agrícolas. 8) Biogeografia Ecológica: enfoca as inter-relações dos se- res vivos com as condições geoecológicas do meio am- biente em determinado espaço. Tal subdivisão busca respostas a questões como: Qual a relação entre água, solo e vegetação? Qual a relação entre a perda da qua- lidade de água destinada ao abastecimento público e a instalação de um polo industrial petrolífero por um pe- ríodo de dez anos? Há influência entre a possível con- centração de poluentes na formação da vegetação de uma área afetada pela contaminação do lençol freático? Ou, ainda, qual a relação entre a poluição do ar causa- da pela instalação de uma indústria que libera material particulado para a atmosfera com o aumento do número de internações hospitalares decorrentes de doenças li- gadas ao aparelho respiratório por um período de cinco anos? São as respostas dadas por meio do cruzamento de diversas variáveis que dão grande importância a esta subdivisão da Biogeografia. Claretiano - Centro Universitário 41© U1 - Nome da Unidade Introdução, História e Evolução da Biogeografia 9) Biogeografia Evolucionária: trata do estudo dos seres vivos e das condições geoecológicas que incidem para a evolução por meio da seleção natural. Por exemplo, como determinada espécie animal se desenvolveu em relação ao meio e aos predadores, como uma espécie vegetal se desenvolveu para aproveitar melhor a pou- ca luminosidade ou como ocorre o desenvolvimento de frutos que atraiam animais para possibilitar sua dissemi- nação. 10) Biogeografia Antrópica ou Social: estuda o homem, ser vivo que depende ou influi nas condições ambientais, e, principalmente, qual a influência das ações antrópicas nas questões ambientais. Por exemplo, qual o impacto am- biental e suas consequências em determinada atividade? Como a poluição sonora afeta os seres humanos? Segundo Viadanna (2004), os estudos associados à Fitogeo- grafia estão mais desenvolvidos em nosso país do que os ligados à Zoogeografia. De acordo com Camargo (1998 apud VIADANNA, 2004, p. 113): Para o geógrafo, o estudo da vegetação se reveste de valor, em vir- tude da expressão que a cobertura vegetal imprime à paisagem, pois constitui um componente de fácil observação [...] em função das conexões com o clima, relevo, solo e hidrografia, a vegetação pode assumir fisionomias singulares. Para o estudo aprofundado da Zoogeografia, não há vasta bi- bliografia, podendo-se encontrar material mais completo na área da Zoologia, que trata basicamente das relações entre os seres vi- vos, sejam indivíduos, sejam comunidades. A Zoologia não dá o enfoque espacial, sendo esse o objeto de estudo da Geografia. É importante destacar que muitos autores divergem sobre as subdivisões da Biogeografia. Para Dansereau (1957), a ciência biogeográfica está intrinsecamente ligada aos fatores tempo e es- paço. Estes são relevantes, levando o estudo dos seres vivos a ser abordado sob diferentes níveis de integração: 1) Paleontológico: aborda a origem, o apogeu e o desapa- recimento de plantas e animais. © Biogeografia4242 2) Paleoecológico: estuda a evolução das espécies e as mu- danças geográficas do clima e da vegetação. 3) Aerográfico: analisa a distribuição de todas ou de algu- mas espécies de plantas e animais. 4) Bioclimatológico: indaga sobre os fatores meteorológi- cos responsáveis pela atual limitação. 5) Autoecológico: propõe-se a estudar apenas o ser vivo individualizado, isto é, nos vários aspectos do seu ciclo vital e em seu meio. 6) Sinecológico: atenta para o próprio meio, de um modo global, com tudo o que nele vive, descobrindo o motivo do equilíbrio existente. 7) Sociológico: analisa a maneira como se associam as es- pécies e as proporções que guardam entre si. 8) Industrial: pesquisa a adaptação do homem ao meio, objetivando saber como ele utilizou (ou utiliza) seus re- cursos e como transformou a paisagem até estabelecer um novo equilíbrio, este diferente do primitivo. Segundo Furon (1961), o propósito da Biogeografia é de re- construir a história da população atual, pois esta apresenta nu- merosos problemas e muitos enigmas. Para tanto, ele subdivide a Biogeografia em três ramos principais: • Biogeografia Estatística: limita-se ao estudo das espécies, à repartição dessas espécies em animais e vegetais e às condições ecológicas dessa repartição. • Biogeografia Histórica, ou Paleobiogeografia: enfoca a repartição dos seres vivos e a Ecologia no decorrer dos tempos geológicos. • Biogeografia Dinâmica: analisa as causas geográficas e biológicas das origens da população atual. Lemée (1967 apud KUHLMANN, 1977) reconhece, no campo da Biogeografia, diferentes direções interdependentes e comple- mentares: • Corologia: estuda a área geográfica das unidades taxo- nômicas, tais como espécies, gêneros, famílias etc., suas Claretiano - Centro Universitário 43© U1 - Nome da Unidade Introdução, História e Evolução da Biogeografia origens, mudanças dos limites e as características dos ter- ritórios florais e faunísticos. • Biocenologia: enfoca a análise das comunidades de or- ganismos vistas em seus diferentes aspectos, como or- ganização, composição taxonômica dinâmica e extensão geográfica. • Ecologia: trabalha com as relações dos organismos e de suas comunidades com o meio exterior. E então, o que você é capaz de concluir após essa leitura? Partindo da análise das subdivisões propostas pelos autores citados, podemos notar que, apesar das diferentes nomenclaturas propostas, todos enfatizam as características fundamentais da Bio- geografia: a espacialização dos seres vivos e os seus fatores deter- minantes. Assim, não estabeleceremos como corretas as ideias de apenas um autor, pois todas são complementares e auxiliarão na formação de uma base conceitual. Vale ressaltar que, neste Caderno de Referência de Conteú- do, adotamos essa postura por considerá-la adequada ao ambien- te acadêmico de discussões e desenvolvimento do conhecimento científico, além de permitir abranger um volume maior de infor- mações sobre a Biogeografia, fornecendo condições necessárias para que, no final do nosso estudo, você possa formar sua própria opinião a respeito do tema e das suas diversas correntes. 7. BIOGEOGRAFIA E ECOLOGIA Para compreender as relações e as diferenças entre a Bio- geografia e a Ecologia, vamos inicialmente entender a definição dessa última. "Ecologia" é um termo muito usual nos dias de hoje, mas nem todos conhecem seu real significado. O biólogo e zoólogo alemão Ernest Haeckel (1834-1919) criou o termo "Ecologia" em 1869. Para ele, significava o estudo da © Biogeografia4444 inter-relação dos seres vivos com o meio ambiente onde vivem. O objeto de estudo da Ecologia são os seres vivos, flora e fauna, po- rém seu objetivo são especificamente as relações dos seres vivos e os ciclos energéticos e biogeoquímicos, bem como a produção primária das comunidades e a dinâmica das populações (TROPP- MAIR, 2008). De acordo com Troppmair (2008), a Ecologia também pode ser subdividida em Autoecologia, quando espécies são estudadas individualmente, e Sinecologia, quando o estudo abrange um gru- po de seres vivos, ou seja, uma biocenose. É compreensível que um grande número de pessoas ainda hoje confunda os termos "Ecologia" e "Biogeografia", visto que as duas ciências têm em comum o estudo dos seres vivos e suas rela- ções. No entanto, é sempre importante destacar que a Biogeografia tem como premissa básica o componente espacial em seus estudos. Christofoletti (1981), abordando essa temática, expõe que aparentemente são acentuadas as semelhanças entre as duas ciências. O autor diz que, em seu
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