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CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 1 www.pontodosconcursos.com.br PRINCÍPIOS PARA SOLUÇÃO DE CONFLITOS APARENTE DE NORMAS PENAIS 28. É muito comum na análise de um fato criminoso ou contravencional ficarmos em dúvida sobre qual norma aplicar, ou seja, decidirmos o tipo penal mais adequado ao fato. Veja, por exemplo, a conduta da mãe que mata o próprio filho recém nascido sob a influência do estado puerperal. Bom, aparentemente duas normas parecem ser adequadas para tipificar a conduta da autora, a do art. 121 (“matar alguém”) e a do art. 123 (“matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”). De fato, a mãe não deixa de “matar alguém”, no entanto o art. 123 representa melhor o fato concreto analisado. Talvez você não tenha percebido, mas foi aplicado um princípio para resolver esse aparente conflito entre os dois artigos. 29. Os princípios que solucionam o conflito aparente de normas são os seguintes: a. consunção; b. alternatividade; c. subsidiariedade; d. especialidade. Para memorizar: C.A.S.E. (OU S.E.C.A.) ( FCC - 2009 - MPE-SE - Analista do Ministério Público) Para a solução de questões relacionadas a conflito aparente de normas, cabível a adoção do princípio da a) subsidiariedade. b) fragmentariedade. c) anterioridade. d) tipicidade. e) culpabilidade. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 2 www.pontodosconcursos.com.br Resposta: A 28. Princípio da especialidade (Lex specialis derogat generali”) O princípio da especialidade impõe que normas especiais (específicas) prevalecem sobre normas gerais. Mas, o que seriam as “normas especiais”? Dizemos que uma norma é especial quando ela possui todos os elementos da geral com mais alguns detalhes que a fazem mais específica. Falei agora a pouco do infanticídio, lembra-se? Pois então, perceba que o infanticídio é um “matar alguém” mais específico (especial). Ou seja, não é matar “qualquer pessoa”, mas sim o próprio filho (detalhe 1) e durante o estado puerperal (detalhe 2). Perceba, deste modo, que o infanticídio possui detalhes que o torna especial em relação ao homicídio. O professor Fernando Capez dá o seguinte exemplo que vou repetir aqui por ser muito ilustrativo: a norma geral é uma caixa. A norma especial é a mesma caixa, agora com um laço vermelho (com um detalhe especial). 29. A comparação entre as duas normas independe de um caso concreto. Posso dizer, apenas ao ler as duas normas, que uma é especial em relação à outra. Veja outros exemplos: a) o tráfico de drogas é especial em relação ao contrabando; b) O crime militar é especial em relação ao crime comum; c) o homicídio culposo no trânsito é especial em relação ao crime de homicídio culposo comum; d) o dano ao meio ambiente é especial em relação ao dano comum e) o crime qualificado é especial ao crime básico (ex.: furto qualificado pelo arrombamento e furto simples) etc. A norma especial pode ou não ser mais gravosa do que a norma geral. ( MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça-adaptada) Segundo o princípio da especialidade, a norma específica derroga a norma geral, ainda que aquela contenha conseqüências penais mais gravosas. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 3 www.pontodosconcursos.com.br Resposta: correto 30. Princípio da subsidiariedade (Lex primaria derogat subsidiariae) Norma subsidiária é o mesmo que norma secundária. O tipo subsidiário cabe dentro do tipo primário. No exemplo das caixinhas, o tipo subsidiário está dentro da caixinha maior (a norma primária). Não existe relação de especialidade, mas sim de primariedade. Veja, como exemplo, o crime de roubo. O roubo nada mais é do que uma subtração com violência ou ameaça. Então, dentro do crime de roubo eu vejo, pelo menos, três tipos secundários (o furto, a lesão corporal e a ameaça). Esses três cabem dentro do crime de roubo, que é mais amplo. Veja outros exemplos: a) crime de lesão corporal cabe dentro do crime de homicídio; b) o crime de porte de arma cabe dentro do disparo de arma de fogo; c) o crime de constrangimento ilegal cabe dentro do crime de estupro etc. 28. É muito importante observar que a análise do princípio da subsidiariedade depende do caso concreto, ao contrário do princípio da especialidade. Isso porque vai depender muito da vontade do agente e da circunstância dos fatos. Se José dispara um tiro contra João, devemos analisar aspectos como: o dolo, o manuseio da arma, o motivo pelo qual José estava portando tal arma. 29. Vamos criar algumas hipóteses: 1ª José possui autorização para porte de arma e a estava limpando quando acidentalmente efetuou um disparo contra João, ferindo-o: disparo de arma de fogo x tentativa de homicídio x lesão corporal. No caso, não houve dolo de matar (afasta-se a tentativa de homicídio), mas houve a lesão. Restaram duas normas (disparo x lesão). Veja que o disparo foi uma passagem para a lesão culposa. No caso concreto, o disparo está dentro da lesão por disparo. Regra: norma primária absorve a secundária. Por qual crime José responderá? Pela norma primária (mais ampla), qual seja, a lesão culposa. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 4 www.pontodosconcursos.com.br 2ª José com dolo de matar efetua disparo contra José, matando-o: disparo de arma de fogo X homicídio por disparo. Prevalece o homicídio. 3ª José dispara contra João com dolo de matar, sem acertá-lo: disparo x periclitação à vida x tentativa de homicídio: o disparo e a periclitação estão dentro da tentativa de homicídio. 4º José porta a droga com ânimo de usá-la x José porta a droga com ânimo de vendê-la: o porte para uso está dentro do porte para venda. Poderíamos criar milhares de situações com o referido princípio. Veja que a norma secundária fica ali de reserva, caso a norma primária não seja aplicável. É por esse motivo que a doutrina chama a norma secundária de “soldado de reserva”. 30. Apesar de não ser obrigatório que isso ocorra, algumas vezes a própria lei expressa a subsidiariedade. Ou seja, a própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário. Exemplos: o tipo penal previsto no art. 132 do CP (Perigo para a vida ou à saúde de outrem) estabelece que “se o fato não constitui crime mais grave”; o art. 129, § 3º (lesão corporal seguida de morte), dispõe que “as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo”. Claro, porque se ele quis ou assumiu o risco do resultado, estamos falando de homicídio e não de lesão seguida de morte. 31. Princípio da consunção (Lex consumens derogat consumptae) O princípio da consunção (ou absorção) é utilizado para resolver as situações de: a) crime progressivo; b) progressão criminosa; c) crime complexo. Eu, particularmente, penso que o princípio da consunção é uma consequência dos princípios da especialidade e da subsidiariedade, tanto que os exemplos são muito semelhantes. No entanto, a doutrina ensina que na subsidiariedade comparam-se os fatos concretos para depois comparar as normas. Na especialidade somente se comparam as normas, sem fato concreto. Já na CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 5 www.pontodosconcursos.com.br consunção comparam-se apenas os fatos concretos, sem dar bola para a norma. Eu acho isso muito confuso. De qualquer forma, vamos ver como o princípio é aplicado e, assim, fica mais fácil entendê-lo.Vamos lá! 28. Crime progressivo: para alcançar um crime “X” o agente, necessariamente, terá que passar pelo crime “Y” menos grave que o primeiro. Para matar, primeiramente ele terá que ferir. Veja que o dolo é de matar, mas ele deve progredir com as lesões até chegar ao resultado desejado. Nesse caso, ele responde apenas pelo crime que ele pretendeu, pois a lesão ficará absorvida. ( MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça-adaptada) Segundo o princípio da consunção, na hipótese de crime progressivo, as normas que definem crimes mais graves absorvem as de menor gravidade. Resposta: correto. ( FCC - 2010 - DPE-SP - Defensor Público) A absorção do crime-meio pelo crime-fim configura aplicação do princípio da a) sucessividade. b) alternatividade. c) consunção. d) especialidade. e) subsidiariedade. Resposta: C 29. Crime complexo: é o que resulta da união de mais de um crime. Exemplo: furto + ameaça = roubo. Nesse caso, as partes ficam absorvidas pelo todo. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 6 www.pontodosconcursos.com.br 30. Progressão criminosa: compreende três situações: a. Progressão criminosa propriamente dita: nessa hipótese, o agente pretende praticar um crime “X”. Após, resolve progredir para um crime mais grave. Exemplo: José, após lesionar João, decide matá-lo. Veja que há duas situações bem definidas e dois dolos (de ferir e de matar), o que não ocorre com o crime progressivo (quando a vontade é uma só). Apesar de existirem dois fatos bem distintos, o agente somente responde pelo resultado final. Interessante que, ao tempo que escrevo esta aula, a TV está ligada no programa do Datena (ótimo para pegar exemplos, hehe). O programa está mostrando um clássico exemplo de crime progressivo. Um rapaz é espancado por dois sujeitos que saem do local. Poucos instantes depois, retornam em uma moto e matam a vítima com um disparo de arma de fogo. Irão responder apenas pelo homicídio. b. Fato anterior (“ante factum”) não punível: são os atos preparatórios puníveis que ficam absorvidos pelo crime fim. Exemplo: o porte de arma de fogo em relação ao disparo. O primeiro fica absorvido pelo segundo. Cuidado com esse exemplo, pois se entende que somente ocorrerá a consunção se o porte foi realizado apenas para efetuar os disparos. Desse modo, se João anda armado para cima e para baixo e, eventualmente, resolver efetuar um disparo em via pública, responderá pelos dois crimes. No entanto, se portou a arma especificamente para efetuar o disparo, o porte fica absorvido (ex.: na virada do ano José pega a arma de João para efetuar um disparo de comemoração). Outro exemplo: falsificação de documento fica absorvido pelo estelionato (Súmula 17 do STJ: “quando o falso se exaure no estelionato, fica por ele absorvido”). (FCC - 2009 - DPE-MA - Defensor Público) Na consideração de que o crime de falso se exaure no estelionato, responsabilizando-se o agente apenas por este crime, o princípio aplicado para o aparente conflito de normas é o da a) subsidiariedade CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 7 www.pontodosconcursos.com.br b) consunção. c) especialidade. d) alternatividade. e) instrumentalidade. Resposta: B c. Fato posterior (“post factum”) não punível: trata-se do que a doutrina denomina de “exaurimento do crime”. A tendência do ladrão é vender a coisa subtraída. O sujeito que falsifica um documento, o faz para utilizá-lo para algum fim. Essas condutas posteriores ao fato, realizando nova ofensa contra o mesmo bem jurídico, buscando alguma vantagem com o crime anterior, podem ficar absorvidas. 31. Princípio da alternatividade: alguns tipos penais trazem vários verbos para descrever a ação típica. O verbo do tipo representa o seu núcleo. Desse modo, tipos penais com vários núcleos são denominados de tipos mistos (de ação múltipla ou de conteúdo variado). Geralmente, esses tipos penais trazem a ideia de alternatividade, expressa no termo “ou” ou pela separação por vírgula. No artigo 33 da Lei de Drogas, por exemplo, temos o seguinte: “importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. O tipo traz, ao todo, dezoito verbos. Se o agente, em um mesmo contexto, importar cocaína, transportar esta droga para depois revender, terá praticado apenas um crime de tráfico. Isso ocorre porque nos crimes de tipo misto alternativo a norma descreve várias formas de realização da figura típica, em que a realização de uma ou de todas configura um único crime. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 8 www.pontodosconcursos.com.br INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL 32. O Direito Penal possui uma linguagem própria. A interpretação consiste na atividade de decodificar a norma penal, buscando seu exato alcance e significado. Essa interpretação deve ser orientada, como sempre, pelo princípio da legalidade, impedindo assim deturpações do sentido escrito no texto. 33. Vamos tomar como parâmetro o crime de homicídio (“matar alguém”). Parece simples essa expressão “matar alguém”, não é mesmo? Se José dispara contra João, matando-o, temos a conduta de “matar alguém”. Ok, mas pense em outro exemplo: o médico José, ao perceber que João estava sem atividade cardíaca, aplica-lhe injeção letal, a pedido desde último que não desejava mais viver. Opa, se não havia mais atividade cardíaca, havia vida para ser ceifada? Ou seja, José matou João? Vou complicar um pouco: João estava sem atividade cerebral, mas ainda havia batimentos cardíacos. E agora? Mudou alguma coisa? Para entender o sentido e alcance da expressão “matar alguém” devemos aplicar técnicas de interpretação. a. A primeira delas é a denominada interpretação gramatical, literal ou sintática: inicialmente, devemos entender o sentido literal das palavras. Essa interpretação é o ponto de partida, mas ela não é suficiente para resolver o problema. Ao aplicar a interpretação literal, sei que a lei descreve que alguém mata outra pessoa. Mas a interpretação literal é sempre insuficiente. Assim, o princípio in claris cessat interpretatio (não se interpreta o que está claro) não há como ser aplicado, pois não há lei tão suficientemente clara que não precise ser interpretada. ( CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária) Segundo a máxima in claris cessat interpretatio, pacificamente aceita pela doutrina penalista, quando o texto for suficientemente claro, não cabe ao aplicador da lei interpretá-lo. Resposta: errado. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 9 www.pontodosconcursos.com.br 28. O segundo passo é interpretação lógica ou teleológica: devemos buscar a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição dentro do ordenamento jurídico. No caso, devo considerar que o crime de homicídio é um delito contra a vida, descrito no art. 121 do CP. Sei, também, que a vida é um bem indisponível. Assim, pouco importa que a vítima do homicídio autorize sua morte (como nos exemplos de eutanásia). Ela não tem esse poder. A eutanásia fere a lógica do ordenamento jurídico brasileiro. Na interpretação lógica, o intérprete deve servir-se de todos os recursos disponíveis, como: a evolução histórica da lei; aanálise da lei em compasso com o momento histórico em que ela é aplicada (interpretação progressiva); direito comparado, ou seja, o tratamento do assunto em outros países; o significado de termos jurídicos ou extrajurídicos, como o conceito médico de vida e morte, o conceito de “veneno”, de “cheque”, de “mãe” etc.). No caso utilizado como exemplo, devo saber até quando uma pessoa pode ser morta. Antigamente, dizia-se que a pessoa estava morta após a “tríplice parada” (coração, respiração e cérebro). Atualmente, a Lei de Transplante de Órgãos (Lei nº 9.434/97) determinou que a retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. Para a lei, por conseguinte, a morte encefálica é o parâmetro legal para determinar o falecimento de uma pessoa, pouco importando que haja atividade cardíaca ou pulmonar. Ressalte-se que a interpretação lógica pode ser utilizada, inclusive, em prejuízo do réu. ( FMP-RS - 2008 - MPE-MT - Promotor de Justiça) A interpretação analógica é permitida somente para beneficiar o acusado. Resposta: errado. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 10 www.pontodosconcursos.com.br 29. A interpretação da lei penal pode receber a seguinte classificação, dependendo de quem a realiza: a. Interpretação legislativa, contextual ou autêntica: é aquela realizada pelo próprio parlamento quando explica o termo de uma lei através de outra norma (ex.: o art. 327 do CP explica o conceito de “funcionário público”). Essa interpretação tem força vinculante. b. Doutrinária ou científica: sem força vinculante, realizada pelos doutrinadores e professores de Direito. Observe que a “exposição de motivos” da lei é considerada interpretação doutrinária, já que não faz parte da lei. (MPE-PB - 2010 - MPE-PB - Promotor de Justiça) A Exposição de Motivos do Código Penal é considerada pela Doutrina como uma das formas de interpretação autêntica e contextual da lei penal. Resposta: errado. CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário ) A exposição de motivos do CP é típico exemplo de interpretação autêntica contextual. Resposta: errado. c. Judicial ou jurisprudencial: é aquela realizada pelo Poder Judiciário na atividade judicante. Em regra, não tem força obrigatória, salvo em dois casos: coisa julgada material (que vincula as partes no caso concreto) e Súmula Vinculante (CF, art. 103-A e Lei 11.417/2006). (CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário) O presidente do STF, em palestra proferida em seminário para magistrados de todo o Brasil, interpreta uma lei penal recém-publicada, essa interpretação é considerada interpretação judicial. Resposta: errado. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 11 www.pontodosconcursos.com.br 30. Quanto ao resultado, a intepretação pode ser: a. Declaratória, declarativa ou estrita: a lei não é ampliada nem reduzida em seu sentido. Isso é quase impossível. Veja que , no caso do homicídio, o entendimento antigo (tríplice parada) aumentava o sentido da norma, enquanto que o posicionamento atual é mais restritivo. b. Extensiva: amplia-se o sentido da norma, respeitando sua lógica (ex.: o crime de bigamia pune também a poligamia; a extorsão mediante sequestro abrange a extorsão mediante cárcere privado). c. Restritiva: a vontade da lei é restringir, pois a lei disse mais do que queria dizer. 1. ( CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Execução de Mandados) Por meio do princípio constitucional da irretroatividade da lei penal, veda-se que norma penal posterior incida sobre fatos CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 12 www.pontodosconcursos.com.br anteriores, assegurando-se, assim, eficácia e vigor à estrita legalidade penal. Nesse sentido, na Constituição Federal de 1988 (CF), garante-se a ultratividade da lei penal mais benéfica. COMENTÁRIO: questão muito mal elaborada pelo CESPE. O erro da questão está em afirmar que o princípio da legalidade é irrestrito. Vimos que as normas temporárias e excepcionais não devem respeito à retroatividade ou ultratividade benéfica. Resposta: errado. 2. ( VUNESP - 2011 - TJ-SP - Juiz) Antônio, quando ainda em vigor o inciso VII, do art. 107, do Código Penal, que contemplava como causa extintiva da punibilidade o casamento da ofendida com o agente, posteriormente revogado pela Lei n.º 11.106, publicada no dia 29 de março de 2005, estuprou Maria, com a qual veio a casar em 30 de setembro de 2005. O juiz, ao proferir a sentença, julgou extinta a punibilidade de Antônio, em razão do casamento com Maria, fundamentando tal decisão no dispositivo revogado (art. 107, VII, do Código Penal). Assinale, dentre os princípios adiante mencionados, em qual deles fundamento tal decisão. a) Princípio da isonomia. b) Princípio da proporcionalidade. c) Princípio da retroatividade da lei penal benéfica. d) Princípio da ultratividade da lei penal benéfica. e) Princípio da legalidade. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 13 www.pontodosconcursos.com.br COMENTÁRIO: na época do crime o CP previa uma causa extintiva de punibilidade posteriormente revogada. Como a lei era mais benéfica à época do crime, aplica-se o princípio da ultratividade da lei mais benéfica. Resposta: D 3. ( CESPE - 2011 - TJ-ES - Comissário da Infância e da Juventude) Uma das funções do princípio da legalidade refere-se à proibição de se realizar incriminações vagas e indeterminadas, visto que, no preceito primário do tipo penal incriminador, é obrigatória a existência de definição precisa da conduta proibida ou imposta, sendo vedada, com base em tal princípio, a criação de tipos que contenham conceitos vagos e imprecisos. COMENTÁRIO: o preceito primário é a descrição típica (ex.: “matar alguém”). O preceito secundário é a pena cominada (ex.: reclusão de seis a doze anos). Quando o preceito primário é vago, indiretamente o princípio da legalidade fica ameaça (Lex certa). Assim, tal princípio veda a criação de tipos com conceitos duvidosos. Resposta: correto 4. ( CESPE - 2009 - PGE-PE - Procurador de Estado-adaptada) Fere o princípio da legalidade, também conhecido por princípio da reserva legal, a criação de crimes e penas por meio de medida provisória. COMENTÁRIO: Resposta: correto 5. ( MPE-SP - 2006 - MPE-SP - Promotor de Justiça) Em relação ao princípio da insignificância ou de bagatela, assinale a alternativa incorreta: a) seu reconhecimento exclui a tipicidade, constituindo-se em instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 14 www.pontodosconcursos.com.br b) somente pode ser invocado em relação a fatos que geraram mínima perturbação social. c) sua aplicação não é prevista no Código Penal, mas é amplamente admitida pela doutrina e jurisprudência. d) somente tem aplicabilidade em crimes contra o patrimônio. e) exige, para seu reconhecimento, que as conseqüências da conduta tenham sido de pequena relevância. COMENTÁRIO: vimos na aula várias situações em que se aplica o princípio da insignificância que não só crimes contra o patrimônio. Resposta:letra D 6. ( FEPESE - 2010 - UDESC - Advogado) Assinale a alternativa correta. a) O princípio da humanidade das penas está consagrado na Constituição Federal. b) O princípio da aplicação da lei mais benéfica não é utilizado pelo direito penal. c) O princípio da intervenção mínima não se confunde com o principio da ultima ratio. d) Por força do princípio da insignificância não são punidos os crimes de menor potencial ofensivo. e) A existência de crimes funcionais ofende o princípio da igualdade. COMENTÁRIO: o princípio da humanidade prescreve que a finalidade da pena não é o sofrimento ou a degradação do apenado. O Estado não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica do condenado (Art. 5º, III da CF). CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 15 www.pontodosconcursos.com.br Resposta: letra A 7. (CESPE - 2011 - PC-ES - Delegado de Polícia ) Segundo a jurisprudência do STF, é possível a aplicação do princípio da insignificância para crimes de descaminho, devendo-se considerar, como parâmetro, o valor consolidado igual ou inferior a R$ 7.500,00. COMENTÁRIO: vimos na aula que o entendimento do STF é que é possível a aplicação do princípio da insignificância para crimes tributários (inclusive descaminho), devendo-se considerar o valor de dez mil Reais como parâmetro. Resposta: errado 8. ( CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público) Considere a situação hipotética em que Ricardo, brasileiro, primário, sem antecedentes, 22 anos de idade, e Bernardo, brasileiro, 17 anos de idade, de comum acordo e em unidade de desígnios, tenham colocado em circulação, no comércio local de Taguatinga/DF, seis cédulas falsas de R$ 50,00, com as quais compraram produtos alimentícios, de higiene pessoal e dois pares de tênis, em estabelecimentos comerciais diversos. Considere, ainda, que, ao ser acionada, a polícia, rapidamente, tenha localizado os agentes em um ponto de ônibus e, além dos produtos, tenha encontrado, na posse de Ricardo, duas notas falsas de R$ 50,00 e, na de Bernardo, uma nota falsa de mesmo valor, além de R$ 20,00 em cédulas verdadeiras. Na delegacia, os produtos foram restituídos aos legítimos proprietários, e as cédulas, apreendidas. Nos termos da situação hipotética descrita e com base na jurisprudência dos tribunais superiores, admite-se a prisão em flagrante dos agentes, considera-se a infração praticada em concurso de pessoas e, pelas circunstâncias descritas e ante a ausência de prejuízo, deve-se aplicar o princípio da insignificância. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 16 www.pontodosconcursos.com.br COMENTÁRIO: o princípio não tem sido aplicado a crimes contra a fé-pública, como na falsificação de moeda. O entendimento é que, ao falsificar a cédula, o agente desestabiliza a confiança que a população deposita em sua moeda, não se tratando, assim, da simples análise do valor material por ela representado. Resposta: errado 9. ( CESPE - 2010 - TCE-BA - Procurador / Direito Penal / Princípios ) Considerando a interpretação do STJ e do STF a respeito da legislação penal extravagante, julgue os itens Considere que o prefeito de determinado município tenha emitido ordem de fornecimento de 20 L de combustível, a ser pago por esse município, a indivíduo que não era funcionário público nem estava realizando qualquer serviço público e que conduzia veículo privado nos termos da tipificação estipulada pelo Decreto-Lei n.º 201/1967. Nessa situação, segundo precedente do STJ, não se aplica o princípio da insignificância, pois, quando há crime contra a administração pública, o bem penal tutelado não é somente de ordem patrimonial, mas também relacionado à proteção da moral administrativa. COMENTÁRIO: conforme explicado na aula a banca avaliou a questão como correta, muito possivelmente fundamentada em decisão da época no STJ. (STJ, HC 115.562/SC, DJe 21/06/2010). No entanto, o STF já decidiu de forma diferente. No caso tratado pelo STF tratava-se de crime contra a Administração Pública Militar, o que, em tese, é até mais grave. resposta: correto. 10. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público ) Em relação à aplicação do princípio da insignificância, segundo entendimento do STF, tal princípio qualifica-se como fator de descaracterização material da tipicidade penal. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 17 www.pontodosconcursos.com.br Segundo entendimento do STJ, é possível a aplicação de tal princípio às condutas regidas pelo ECA. COMENTÁRIO: para o STF, os atos infracionais cometidos por menores (ECA) são passíveis de aplicação do princípio da insignificância, desde que preenchidos os requisitos legais (STF, HC 98381, DJe 19/11/2009). Resposta: correto. 11. ( CESPE - 2010 - EMBASA - Analista de Saneamento - Advogado)Em virtude da aplicação do princípio da insignificância, o Estado, vinculado pelo princípio de sua intervenção mínima em direito penal, somente deve ocupar-se das condutas que impliquem grave violação ao bem juridicamente tutelado. COMENTÁRIO: é essa a essência do princípio da insignificância. Isso não quer dizer, contudo, que o fato não possa ter relevância para outros ramos do direito (administrativo, civil etc.). Ocorre que o Direito Penal deve ser o último recurso a ser aplicado (ultima ratio), justamente por ter medidas mais drásticas em relação às liberdades individuais. Resposta: correto. 12. ( FCC - 2009 - TJ-MS - Juiz) O princípio de intervenção mínima do Direito Penal encontra expressão a) nos princípios da fragmentariedade e da subsidiariedade. b) na teoria da imputação objetiva e no princípio da fragmentariedade. c) no princípio da fragmentariedade e na proposta funcionalista. d) na teoria da imputação objetiva e no princípio da subsidiariedade. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 18 www.pontodosconcursos.com.br e) no princípio da subsidiariedade e na proposta funcionalista. COMENTÁRIO: o princípio da intervenção mínima tem como aspectos o fato de que o Direito Penal representará apenas um fragmento das alternativas jurídicas (fragmentariedade) e pelo fato de que o Direito Penal só deve ser invocado se outros ramos do Direito não forem suficiente para a pacificação social (subsidiariedade). Resposta: A 13. ( FCC - 2010 - DPE-SP - Defensor Público) O postulado da fragmentariedade em matéria penal relativiza a) a proporcionalidade entre o fato praticado e a consequência jurídica. b) a dignidade humana como limite material à atividade punitiva do Estado. c) o concurso entre causas de aumento e diminuição de penas. d) a função de proteção dos bens jurídicos atribuída à lei penal. e) o caráter estritamente pessoal COMENTÁRIO: conforme as palavras do prof. ALEXANDRE MAGNO FERNANDES MOREIRA AGUIA “é característica marcante do Direito em um Estado democrático é a sua fragmentariedade, ou seja, o ordenamento jurídico não deve se ocupar de todas as coisas e atos, o que, além de impraticável, resultaria em um regime de viés totalitarista, restringindo de forma brutal a liberdade e, por conseguinte, a dignidade humana.” Assim, a fragmentariedade em matéria penal relativiza a função de proteção dos bens jurídicos atribuída à lei penal. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 19 www.pontodosconcursos.com.br Resposta: D 14. ( CESPE - 2011 - PC-ES - Delegadode Polícia) Por incidência do princípio da continuidade normativo-típica, é correto afirmar que, no âmbito dos delitos contra a dignidade sexual, as condutas anteriormente definidas como crime de ato libidinoso continuam a ser punidas pelo direito penal brasileiro, com a ressalva de que, segundo a atual legislação, a denominação adequada para tal conduta é a de crime de estupro. COMENTÁRIO: o princípio da continuidade normativo-típica impede que um delito sofra abolitio, quando o tipo é apenas realocado dentro do Código Penal ou de outra lei penal. Com efeito, com a entrada em vigor da Lei nº 12.015/2010 o crime de atentado violento ao pudor saiu do art. 214 do CP e passou a figurar no art. 213 do mesmo estatuto. Não houve revogação, portanto. Resposta: correto. 15. ( FCC - 2009 - MPE-SE - Analista do Ministério Público) Para a solução de questões relacionadas a conflito aparente de normas, cabível a adoção do princípio da a) subsidiariedade. b) fragmentariedade. c) anterioridade. d) tipicidade. e) culpabilidade. COMENTÁRIO: só erra se quiser: SECA. Resposta: A CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 20 www.pontodosconcursos.com.br 16. ( MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça-adaptada) Segundo o princípio da especialidade, a norma específica derroga a norma geral, ainda que aquela contenha conseqüências penais mais gravosas. COMENTÁRIO: a norma especial derroga (afasta) a norma geral, mesmo que seja a pena mais gravosa. Isso ocorre porque a norma especial possui algum detalhe que se encaixa melhor no caso concreto. Não importa, portanto, que a lei especial seja mais ou menos grave que a geral. Militar que mata militar em serviço (homicídio militar) não vai responder por homicídio comum. Resposta: correto 17. ( MPE-SP - 2010 - MPE-SP - Promotor de Justiça-adaptada) Segundo o princípio da consunção, na hipótese de crime progressivo, as normas que definem crimes mais graves absorvem as de menor gravidade. COMENTÁRIO: ocorre crime progressivo quando um delito é passagem necessária para outro mais grave (lesão corporal e homicídio). Resposta: correto. 18. ( FCC - 2010 - DPE-SP - Defensor Público) A absorção do crime-meio pelo crime-fim configura aplicação do princípio da a) sucessividade. b) alternatividade. c) consunção. d) especialidade. e) subsidiariedade. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 21 www.pontodosconcursos.com.br COMENTÁRIO: consunção significa “absorção”. O crime meio é o de passagem que comentamos acima. Resposta: C 19. (FCC - 2009 - DPE-MA - Defensor Público) Na consideração de que o crime de falso se exaure no estelionato, responsabilizando-se o agente apenas por este crime, o princípio aplicado para o aparente conflito de normas é o da a) subsidiariedade b) consunção. c) especialidade. d) alternatividade. e) instrumentalidade. COMENTÁRIO: trata-se de um pós fato não punível. O estelionato, no caso, não existe sem o delito de passagem de falso. Perceba, apenas, que se o falso ainda tiver potencialidade lesiva deverá o agente responder por dois crimes em concurso material (somam-se as penas). Exemplo: se José falsificar um RG para se passar por João e, assim, praticar o estelionato, poderá reutilizar aquela indenidade várias vezes e para vários crimes (soma das penas). Ao contrário, se falsifica um cheque o passa para frente, não poderá utilizar esse documento em outro estelionato (responde apenas pelo estelionato). Resposta: B 20. ( FMP-RS - 2008 - MPE-MT - Promotor de Justiça) A interpretação analógica é permitida somente para beneficiar o acusado. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 22 www.pontodosconcursos.com.br COMENTÁRIO: como já tivemos a oportunidade de estudar, a interpretação analógica ocorre quando a lei apresenta um termo e permite que o intérprete, por analogia, amplie sua aplicação para situações semelhantes. O próprio dispositivo permite se aplique analogicamente o preceito mesmo que em prejuízo do réu. De tal modo, por exemplo, no estelionato: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo alguém em erro, mediante artifício, ardil, OU QUALQUER OUTRO MEIO FRAUDULENTO” (art. 171 C. P.); utilizando o agente de “qualquer meio” semelhante a “artifício” ou “ardil”, pode ser tipificada a ação como estelionato, por interpretação analógica, pois o preceito do art. 171 expressamente o permite. Resposta: errado. 21. (MPE-PB - 2010 - MPE-PB - Promotor de Justiça) A Exposição de Motivos do Código Penal é considerada pela Doutrina como uma das formas de interpretação autêntica e contextual da lei penal. 22. CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário ) A exposição de motivos do CP é típico exemplo de interpretação autêntica contextual. COMENTÁRIO: a exposição de motivos nada mais é do que as justificativas do responsável pela elaboração da lei. Trata-se de documento que não faz parte dela, sendo apenas doutrinário. Resposta: errado. 23. (CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário) O presidente do STF, em palestra proferida em seminário para magistrados de todo o Brasil, interpreta uma lei penal recém-publicada, essa interpretação é considerada interpretação judicial COMENTÁRIO: estava ele na posição de professor da matéria e não de Juiz. Resposta: errado. CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL PARA POLÍCIA FEDERAL E POLÍCIA CIVIL DF 23 www.pontodosconcursos.com.br 24. ( CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária) Segundo a máxima in claris cessat interpretatio, pacificamente aceita pela doutrina penalista, quando o texto for suficientemente claro, não cabe ao aplicador da lei interpretá-lo. COMENTÁRIO: como vimos, não existe hipótese em que o texto é tão suficiente claro que não merece adequada interpretação. Resposta: errado.
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