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MARILUCE DE SOUZA ZUCCO DESCARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING) Sorocaba 2016 MARILUCE DE SOUZA ZUCCO DESCARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING) Trabalho de conclusão de curso para obtenção do titulo de graduação, em Direito apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Orientador: Prof. Me. Rodrigo da Costa Ratto Cavalheiro Sorocaba 2016 CIP - Catalogação na Publicação Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Universidade Paulista com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Zucco, Mariluce de Souza Descaracterização do Contrato de Arrendamento Mercantil (Leasing) / Mariluce de Souza Zucco. - 2016. 36 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto de Ciência Jurídicas da Universidade Paulista, Sorocaba, 2016. Área de Concentração: Direito Civil. Orientador: Prof. Me. Rodrigo da Costa Ratto Cavalheiro. 1. Antecipação do Valor Residual Garantido. I. Cavalheiro, Rodrigo da Costa Ratto (orientador). II.Título. MARILUCE DE SOUZA ZUCCO DESCARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING) Trabalho de conclusão de curso para a obtenção do titulo de graduação, em Direito apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Orientador: Prof. Ms. Rodrigo da Costa Ratto Cavalheiro Aprovado em: BANCA EXAMINADORA _______________________/__/___ Prof. Nome do Professor Universidade Paulista – UNIP _______________________/__/___ Prof. Nome do Professor Universidade Paulista – UNIP _______________________/__/___ Prof. Nome do Professor Universidade Paulista – UNIP DEDICATÓRIA Ao meu esposo, Nilson Farias Zucco, que de forma especial е carinhosa me deu força е coragem, me apoiando nos momentos de dificuldades, e aos meus filhos, Débora Priscila Zucco Leme, Richard de Souza Zucco, e Anny Caroline Zucco Teixeira, por terem me acompanhado nesta jornada, sem os quais não teria a motivação necessária para concluir esse curso e que embora não tivessem conhecimento disto, mas iluminaram de maneira especial os meus pensamentos me levando а buscar mais conhecimentos. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a DEUS por ser à base das minhas conquistas. Aos meus pais José Machado de Souza e Maria Benedita de Souza, por acreditarem e terem interesse em minhas escolhas, apoiando-me e esforçando- se junto a mim, para que eu suprisse todas elas. A todos da 4ª Vara do Trabalho da Comarca de Sorocaba, por me orientarem e fazerem do meu estágio momentos de alegria. A todos os professores que me acompanharam ao longo do curso, e aos colegas e companheiros da turma de Direito. Ao professor e orientador Rodrigo da Costa Ratto Cavalheiro, pela dedicação em suas orientações prestadas na elaboração deste trabalho, me incentivando e colaborando no desenvolvimento de minhas ideias. “O menor desvio inicial da verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança”. (Aristóteles) SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 – NOÇÕES GERAIS DOS CONTRATOS EM GERAL...................12 1.1. Evolução histórica........................................................................................12 1.2. Conceito doutrinário.....................................................................................15 CAPÍTULO 2 – NOÇÕES BÁSICAS DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING).......................................................................................16 2.1. Origem histórica e evolução........................................................................16 2.2. Conceito, características e requisitos........................................................17 2.3. Modalidades de leasing................................................................................21 CAPÍTULO 3 – POSSIBILIDADE DA DESCARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING).................................................24 3.1. Vantagens do contrato e Leasing no direito comparado..........................24 3.2. Valor residual e valor residual garantido....................................................28 3.3. Súmulas 263 e 293 do Superior Tribunal de Justiça.................................28 3.4. Descaracterização do contrato de arrendamento mercantil pela antecipação do valor residual garantido...........................................................29 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RESUMO O surgimento do contrato de arrendamento mercantil, comumente conhecido como leasing, se fez necessário para atender o desenvolvimento da sociedade e do consumo, facilitando o acesso ao financiamento de equipamentos, bens móveis e imóveis. Essa modalidade de financiamento tem como partes: a arrendadora que por força de lei será uma instituição financeira que tenha essa operação como objeto principal de suas atividades ou que possua um departamento especializado com escrituração própria; o arrendatário que pode ser pessoa física ou jurídica; e o fornecedor, que é a terceira pessoa inserida no contrato por vontades das partes. Tem suas vantagens tanto para a arrendadora, que tem uma garantia real do investimento, como para o arrendatário que sem a necessidade de um investimento inicial integral tem o uso e o gozo de um bem. A tríplice opção: de compra, troca ou devolução, que somente ao final do contrato o arrendatário poderá fazer a escolha que melhor lhe convir. O valor residual garantido (VRG) é gerado no momento da contratação, podendo ser pago antecipadamente, e diluído com as contraprestações. Atualmente está pacificado que a antecipação do VRG não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil através da Súmula 293 do Superior Tribunal da Justiça, mas doutrinariamente muito se discute se esse entendimento não estaria a afetar o negócio jurídico, desmerecendo assim sua distinta forma contratual. Palavras-chave: arrendamento mercantil; leasing; valor residual garantido; descaracterização. ABSTRACT The emergence of the lease agreement, commonly known as leasing, it was necessary to meet the development of society and consumption, facilitating access to equipment financing, movable and immovable property. This type of financing is parts: the lessor that by law will be a financial institution who have this operation as the main object of its activities or having a specialized department with its own bookkeeping; the tenant who may be individuals or legal entities; and the supplier, which is the third person inserted in the contract intention of the parties. Has advantages for both the lessor, which is a real guarantee of the investment, as for the lessee without the need for a comprehensive initial investment has the use and enjoyment of property. The triple option: purchase, exchange or refund, only the end of the contact the tenant can make the choicethat best suits you. The guaranteed residual value (VRG) is generated at the time of contraction and can be paid in advance, and diluted with consideration. It is currently pacified the anticipation of VRG decharacterizes the contracted lease by Precedent 293 of the Superior Court of Justice, but doctrinally much discussion whether this understanding would not affect the legal business, thus downgrading its distinct contractual form. Key-words: Leasing; leasing; guaranteed residual value; mischaracterization. INTRODUÇÃO Atualmente a sociedade consumista cuja demanda é atendida por um sistema capitalista na qual a concorrência torna-se cada vez mais acirrada, torna- se imprescindível, para sobreviver nesse ambiente competitivo, que as empresas busquem formas de redução de custos. O presente trabalho contempla de forma delimitada o contrato de arrendamento mercantil, conhecido no mundo jurídico como leasing, buscando a entender se é possível a descaracterização desse instrumento contratual através da antecipação do valor residual garantido (VRG), transformando em um simples contrato de compra e venda. Analisar de forma sucinta as origens dos contratos em geral e pesquisar as origens do contrato de arrendamento mercantil, buscando entender suas peculiaridades e benefícios. O objetivo deste trabalho será analisar no âmbito do Direito Civil, pois se trata de negócio jurídico, considerando se as vontades das partes esta equilibrada, trazendo assim a problematização da hipótese de desvantagem contratual. A pesquisa se faz necessária, pois a sociedade busca soluções para financiar equipamentos e bens necessários para um crescimento social. O procedimento metodológico da pesquisa se fez utilizando de doutrinas, jurisprudências, artigos e textos, com a finalidade de proporcionar melhores informações sobre o tema. 12 CAPÍTULO 1 – NOÇÕES GERAIS DOS CONTRATOS EM GERAL Nesse capitulo será dado ênfase a evolução histórica e alguns conceitos doutrinários de contrato em geral. 1.1. Evolução histórica Contrato como negócio jurídico se faz instrumento mais utilizado na sociedade capitalista, presente nas relações cotidianas, desde a compra do pão, do transporte publico e até a relação de trabalho entre o empregador e empregado. Segundo Naves (2006), contrato tem sua origem nos costumes primitivos, os clãs e tribos celebravam com outros grupos contratos de fornecimento de produtos, ou contratos de cessão de direitos. Esses clãs ou grupos eram representados por seus chefes ou comissários, que passariam a serem os credores das obrigações ou direitos mediante a inadimplência do grupo devedor. Na lei escrita, tem inicio na antiga Mesopotâmia, entre os anos de 1825 e 1787 a.C., nas Leis de Eshnunna, dispondo sobre compra e venda, arrendamento e empréstimo a juros. O célebre Código de Hamurabi do Império Babilônico que tem como data provável o ano de 1758 a.C., dispunha sobre contratos específicos, execução contratual, taxas de juros e preço de determinados serviços1. O primeiro a criar um sistema de regulamentos contratuais é o Direito Romano, surge às bases para a teoria contratual, definição de requisitos, classificações e garantias. Pereira (2015) traz o conceito romano de contrato: “[...] a base de um acordo de vontades a respeito de um mesmo ponto”. 1 Há três diferentes formas de datação pelos historiadores especializados: a cronologia longa, a curta e a média. “Assim a cronologia longa data o reinado de Hamurabi entre os anos 1848-1806 a.C.; a cronologia média entre 1792 e 1750 a.C. e a curta entre 1728 e 1686 a.C.” (NAVES cita BOUZON, Emanuel. Uma coleção de direito babilônico pré-hamurabiano: Leis do reino de Eshnunna. Petrópolis: Vozes, 2001. p.12) Naves adota a cronologia média, por ser a que, atualmente, encontra mais adeptos dentre os historiadores. 13 Naves (2006) nos ensina que as mudanças épicas influenciariam a regulamentação contratual, podendo ser dividas em arcaica e pós-clássica. Durante a época arcaica predominava a influência das crenças religiosas, o cumprimento contratual era questão de honra, dando poderes ao credor, que em caso de inadimplência, poderia até mesmo atingir o corpo do devedor2. Por outro lado, época pós-clássica, a vontade das partes se dividia em gênero: convenção; e duas espécies: contrato e pacto. Os contratos normatizados, protegidos através da actio se dividiam em três espécies: a) Litteris: exigência da inscrição no livro Codex, ou seja, no livro do credor; b) Re: equivalia a tradição efetiva da coisa; c) Verbis: celebração como um rito religioso, troca de expressões orais. O pacto era um acordo não normatizado, sem forma especial e assim não poderia ser protegido pelo actio. Durante a República Romana e o Alto Império Romano, os pretores para proteger judicialmente os pactos mais frequentes acabaram por fazer surgir uma espécie que envolveria: vendas, locações, mandatos e sociedade; este contrato receberia o nome de: contratus solo consensu. A influência do Direito Germânico, na Idade Média se faz através do poder dos senhores feudais sobre seus vassalos, o contrato formal e simbólico, se concretizava com a entrega da coisa ou algo que a representasse, e a inadimplência teria como consequência a escravidão ou a prisão. A utilização do juramento em nome de Deus surgiu pela influência do Direito Canônico, onde a vontade das partes através da palavra empenhada, que se fazia lei. O direito religioso se fazia tão importante como o jurídico, à má-fé contratual seria vista como perjúrio e o povo temia a justiça divina. 2 NAVES, 2006, p. 8 et seq. 14 A Itália e os Países Baixos teriam sua contribuição na história contratual com o consensualismo, observado no século XIII e XIV através de costumes municipais, a palavra dada fazia do contrato uma obrigação moral3. A vontade do homem deve prevalecer sobre qualquer norma exterior, o jusnaturalismo traz a razão sobre qualquer influência de norma externa. O contrato é a submissão à vontade das partes. O jusnaturalismo racionalista é o fundamento do Direito, assumido pela burguesia, lutando para manter longe o poder do Estado; e a vontade é o fundamento da sociedade. Surge para o Direito Publico e Privado o dogma da vontade das partes. O Direito Público fundou-se através do contrato social, constituído pela vontade geral; o Direito Privado mantém o principio da boa fé sobre a influência do Direito Canônico, ao pactuar um contrato, as partes têm como obrigação a vontade que concomitantemente manifestaram. O fundamento da teoria da autonomia liberal nasce da ideia de Kant, de que a legitima de um contrato ou lei, está em o homem impor normas a si mesmo. Com a visualização da vontade das partes, e não se importando com as condições econômicas, houve maior circulação de grandes riquezas. O voluntarismo começou a cair com o surgimento do Estado social protegendo a parte mais fraca, modificação de cláusulas e o surgimento da nova hermenêutica que acelera essa crise contratual. O contrato passa assim a ter uma função social, de crescimento, não mais prevalecendo à função econômica, não podemos esquecer-nos dos contratos particulares onde prevalece a vontade das partes, desde que não intervira com prejuízo para a sociedade. O contrato passa a ser conceituado como acordo entre as partes, com a finalidade de adquirir, resguardarou extinguir direito e obrigações. 3 NAVES, 2006, p. 9 et seq. 15 Novaes (2006) sinteticamente conclui: Neste contexto, a importância dos princípios contratuais se sobreleva. A boa-fé, a autonomia privada e a função social do contrato demonstram a modificação sofrida ao longo do século XX. O contrato não é apenas instrumento econômico, mas instrumento que deve contribuir para o pleno desenvolvimento do ser humano. (NOVAES, 2006 p.10). 1.2. Conceitos doutrinários Carlos Roberto Gonçalves (2012) afirma: “Contrato é a mais comum e a mais importante fonte de obrigação, devido às suas múltiplas formas e inúmeras repercussões no mundo jurídico”. (2012, p. 25) Flávio Tartuce (2014) conceitua na forma clássica: “[...] o contrato pode ser conceituado como sendo um negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação ou extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial”. (2014, p.23) Fábio Ulhôa Coelho (2012) ensina: “Contrato define-se, assim, como um negócio jurídico bilateral ou plurilateral gerador de obrigações para uma ou todas as partes, às quais correspondem direitos titulados por elas ou por terceiros”. (2012, pag. 56). 16 CAPÍTULO 2 – NOÇÕES BÁSICAS DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING) Com o crescimento da sociedade e o desenvolvimento da economia do Brasil se faz necessário introduzir novas técnicas contratuais surgindo o contrato de arrendamento mercantil, o capítulo precípua pela origem histórica e adentra na evolução do contrato de arredamento mercantil no Brasil e no Direito Comparado. 2.1. Origem histórica e evolução Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008) ensina que na antiguidade a relação contratual esteve presente na exploração de minério no governo de Atenas, as propriedades do Estado eram arrendadas por determinada quantia em dinheiro e porcentagem nos lucros, a exploração anual, onde o arrendatário poderia subarrendar esse direito a exploração ou vender o minério extraído. Na Grécia a exploração das minas Thaos e Laurium, de ouro e prata também são exemplos de arrendamento. Em meados de 500 a.C., os oradores gregos já mencionavam a lista de propriedades de leasing perpétuo nas terras aráveis de Ática. Gimenes (2006) traz como inicio das operações de leasing no Brasil o ano de 1967 e informa que a primeira instituição financeira a realizar operações de Leasing foi o Banco de Minas Gerais S/A (BMG), e que depois vieram outras. Segundo Pereira (2008), uma pequena empresa de arrendamento de máquinas de escrever foi a pioneira em celebrar essa modalidade contratual, a RENT-A-MAQ de propriedade de Carlos Maria Monteiro. Em 1970 a criação da Associação Brasileira de Empresas de Leasing (ABEL) reuniu empresas do setor e assim fortaleceu os contratos de leasing, tornando uma figura respeitada, dando grande impulso através de divulgações em redes bancárias. Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008) relatam: Em 12 de setembro de 1974, com a promulgação da Lei nº 6.099, que dispõe sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil e dá outras providências, este tipo de operação foi 17 regulamentada, obedecendo as normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, com controle e fiscalização exercidos pelo Banco Central do Brasil. A partir deste momento passou a ser praticado oficialmente no mercado financeiro, tornando-se uma excelente alternativa para financiamentos de longo prazo e de alta flexibilidade, adequando-se ao fluxo de caixa e de investimentos, inclusive com carência. (MIRANDA, M.B.; MIRANDA, F. S., 2008, p.3). São três legislações importantes para o Arrendamento Mercantil, a Lei 6.099/74, dispondo sobre aspectos tributários e outras providências; e a lei 7.132/83 onde o Leasing passa a ser um contrato típico e finalmente a Lei 11.649/08, que tem como objetivo o veiculo automotivo. Pereira (2015) traz a informação: Para ter ideia do desenvolvimento desta atividade, basta lembrar que em 1973 tínhamos 620 milhões em leasing; em 1974, passamos à casa de um bilhão; e já em 1975 marchávamos para três bilhões; 1978 vencíamos a barreira de onze bilhões. Já tendo dados à mão, posso dizer a quanto orça o movimento atual, um bilhão e quinhentos milhões de dólares. (PEREIRA, 2015, p.205). 2.2. Conceito, características e requisitos A definição de contrato de Arrendamento Mercantil como especial está baseada na sua tríplice opção de compra, troca ou devolução no final da avença. Os conceitos doutrinários demonstram as mudanças sobre a influência da legislação contemporânea. Venosa (2005) apontava: O arrendamento de contrato mercantil, como percebemos, é formado por um complexo de relações negociais, nas quais podem ser identificados claramente vislumbres de locação, promessa de compra e venda, mútuo, financiamento e mandato. Na maioria de suas modalidades, existe uma promessa unilateral de venda. Não é, no entanto, elemento necessário em toda versão deste instituto. Sob qualquer hipótese, deve ser visto como negócio unitário, sem tentativa de decomposição de vários contratos. Originalmente, é contrato atípico misto, que se vale de conceito de vários outros. Sua ideia centralizadora, todavia, é sem dúvida a locação de coisas. (VENOSA, 2005, p.588). Fábio Uchoa Coelho (2012, p. 425): “arrendamento mercantil (Leasing), é o contrato em que o locatário tem, ao término do prazo de vigência, a opção de adquirir o bem locado”. 18 Maria Helena Diniz (2014) conceitua: Leasing é o contrato pelo qual uma pessoa jurídica, pretendendo utilizar determinado equipamento, comercial ou industrial, ou certo imóvel consegue que uma instituição financeira o adquira, arrendando-o ao interessado, por tempo determinado, possibilitando ao arrendatário, findo tal prazo, optar entre a devolução do bem, a renovação do arrendamento, ou a aquisição do bem arrendado mediante um preço residual fixado no contrato, isto é, o que fica após a dedução das prestações até então pagas (Lei n. 6099/74, arts1º, 2º, §1º, 6º, 7º, 8º, 9º, §2º, 10, 16 e 23, alterada pela Lei n 7.132/83; Res. n. 2.309/96 do BACEN). (DINIZ, 2014, p.774). Melo (2014) ensina se tratar de “[...] um contrato híbrido, sendo a um só tempo um misto de locação, promessa de compra e venda e financiamento”, um conceito contemporâneo com fundamento legal. O Arrendamento Mercantil é um contrato de operação financeira, e com resoluções próprias está regulamentado pelo Banco Central do Brasil pela Resolução nº351/75, incidindo os juros de Imposto Sobre Serviço, sendo isento de Imposto sobre Operações Financeiras. É obrigatória a expressão “Arrendamento Mercantil”, em sua denomição social. Juridicamente encontramos conceituado na Lei nº 6.099, de setembro de 1974, em seu Art.1º, Parágrafo único: Art.1º [...] Parágrafo único: Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica na qualidade de arrendadora, e a pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. (BRASIL, 1974) A Lei 7.312 de outubro de 1983 define Arrendamento Mercantil como: [...] negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. (BRASIL, 1983). Esse instrumentocontratual envolve três agentes: 19 Arrendante ou arrendador: pessoa jurídica que será a compradora da mercadoria, com seus objetivos estatuídos socialmente, que tem como obrigação segundo Maria Helena Diniz (2014): § Adquirir de outrem um bem para ser dado em arrendamento. § Entregar ao arrendatário, para seu uso e gozo, os bens por ele indicados. § Vender os bens arrendados, se o arrendatário optar pela compra e pagar o preço residual. § Receber as coisas de volta, se não houver compra final ou renovação contratual. § Renovar o contrato, se o arrendatário assim o desejar. (DINIZ, 2014, p.775) Arrendatário: pessoa jurídica ou física, o interessado pelo uso, que tem como obrigação: § Pagar os aluguéis conforme se ajustou. § Manter os bens arrendados em bom estado de conservação. § Responder pelos prejuízos que causar a esses bens. § Restituir os bens arrendados, findo o contrato, se não quiser comprá-los. § Suportar os riscos e os encargos dos bens arrendados. § Pagar ao arrendador todas as prestações que completariam o cumprimento integral da obrigação, se rescindir o contrato antes do vencimento. (DINIZ, 2014, p.775). Cabe ressaltar que em algumas outras modalidades o Arrendatário e o Arrendante se confundem, ou seja, o Arrendante é o próprio Arrendatário. O terceiro agente se faz na pessoa do fornecedor ou vendedor do bem: figura essa que muitas vezes desaparece em algumas modalidades de Leasing, é o alienante do bem encomendado pelo arrendatário a Arrendante, Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008) ensina que a participação de terceiros no contrato depende da vontade das partes. 20 Segundo Venosa (2005) o contrato de arrendamento mercantil tem suas características destacadas, sendo: bilateral, sinalagmático, oneroso, comutativo, por tempo determinado, de execução diferida e intuito personae. Venosa (2005) define as características do contrato de arrendamento mercantil como: Bilateral ou Sinalagmático: figura como proprietários do bem Arrendante e Arrendatário, gerando direitos e obrigações para os contratantes; Consensual: se perfaz pela simples anuência das partes; embora, para prova dependerá do contrato escrito, a Lei 6.099/74 exigirá a inclusão de prazo, preço, opção de compra e outras peculiaridades, que na ausência dará causa de nulidade contratual; Oneroso: porque traz vantagens para ambos os contratantes, que sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito desejado; Comutativo: porque cada contratante, além de receber do outro prestação relativamente equivalente à sua, pode verificar, de imediato, essa equivalência; Por tempo determinado: determinado por lei; de adesão: pois exclui a possibilidade de qualquer debate e transigência entre as partes; Típico e Nominado: pois está previsto em lei; Intuitu Personae: pois deve ser executado pelas partes contratantes sem que haja permissão de serem substituídas na relação contratual. Quanto aos requisitos Pereira (2015) cita a Lei n 6099/74, que são: a) prazo; b) valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a um semestre; c) opção de compra ou faculdade de renovação reconhecida ao arrendatário; d) preço para opção de compra ou critério para a sua fixação. 21 2.3. Modalidades de Leasing É possível identificar modalidades principais de leasing, Maria Helena Diniz (2014) trata de sete modalidades que incluem além das três principais: Self – leasing , que consiste em empresas ligadas ou coligadas; Dummy Corporation, que se liga ao trust e a sociedade de palha, inserindo-se numa sociedade entre investidores e arrendatários; Lease purchase, é utilizado na atividade ferroviária ou aeroviária Dry lease, é um contrato celebrado entre duas companhias aéreas. Importante conceituar as três modalidades principais: Leasing Financeiro: Maria Helena Diniz (2014) esclarece que o bem não pertence à arrendatária, mas o adquire de terceiros certos bens de produção. O prazo é condicionado à vida útil do bem arrendado, o prazo mínimo de dois anos tratando-se de bens com vida útil igual ou inferior a cinco anos. A vida útil do bem esta definida na Lei n 6099/74, artigo 12, §1º: “Entende-se por vida útil do bem o prazo durante o qual se possa esperar a sua vida efetiva utilização econômica”. Sendo a modalidade tradicional do arrendamento mercantil. Nessa modalidade segue o que dispõe a Resolução do Banco Central nº 2.309, de 28 de agosto de 1996, em seu artigo 5º, que: Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade que: I – as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos; II – as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária; III – o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado. (BACEN, 1996) Com esse entendimento Melo (2014) ensina: “[...] pagará (arrendatário) as prestações à arrendadora, de sorte que a mesma recupere os valores despendidos na obtenção do equipamento, incluindo seus eventuais lucros”. 22 Pereira (2015) entende a Lei n 6099/74, prevê um caráter privativo ás operações e empresas que fizerem destas operações objeto principal de suas atividades. Leasing Operacional: nesse caso o bem é adquirido pelo locador junto a terceiros, a instituição financeira é dispensável, porem, se faz necessário a autorização pelo Conselho Monetário Nacional, é o que ensina Maria Helena Diniz (2014). Para Melo (2014) trata-se: Leasing Operacional: Aquele praticado pelo próprio fabricante ou distribuidor do equipamento que, pretende colocar seus produtos no mercado, resolve oferecer a terceiros os seus bens com a facilidade de financiamento e fornecer assistência técnica, com opção de que o arrendatário possa adquirir o bem no final do contrato. (MELO, 2014, p.272). Acrescenta Pereira (2015) ser essa uma modalidade de curta duração e ao arrendatário é facultativo devolver o objeto sem a necessidade de adquiri-lo no termo, ainda que na pendência do contrato. “As características econômicas desta modalidade são as mais numerosas, abrangendo toda espécie de bens, técnicos, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, automóveis e quanto mais”. Leasing Back: o bem arrendado era da propriedade do arrendatário, que o vende para a arrendadora para depois arrenda-lo, podendo adquirir o bem ao final do contrato, caso seja essa a opção escolhida e desde que pague o valor residual, isto é, trata-se do contrato que é utilizado para empresa em dificuldades financeiras, é instrumento de obtenção de capital de giro urgente. Essa hipótese é realizada exclusivamente entre pessoas jurídicas, a arrendatária tem que ser pessoa jurídica, e o fornecedor também será pessoa jurídica, ou seja, o negócio ocorre quando uma empresa arrendatária, vende seus bens à outra empresa arrendadora e simultaneamente os adquire na forma de leasing. Em nível de curiosidade, a modalidade self leasing pela lei 6.099/74 em seu artigo 2º veda o contrato realizado entre empresas coligadas ou do mesmo grupo, sendo assim é proibido pela legislação brasileira. 23 Maria Helena Diniz (2014) conceitua: “Lease-back” ou “leasing” de retorno, que ocorrerá se uma empresa, proprietária de certo bem (móvel ou imóvel), o vender ou oder em dação em pagamento a outra que, ao adquiri-lo, imediatamente o arrenda à vendedora. O próprio arrendatário efetua a venda de bens ou equipamentos, mudando seu titulo jurídico relativamente a eles, passando de proprietário a arrendatário (lei n. 6.099/74, art. 9º e 12; resolução n. 2.039/96, art. 13 e parágrafos), que deverá pagar aluguel. (DINIZ, 2014, p. 770). No âmbito internacional ensina Pereira (2015): O “lease – back” estendeu-se ao plano internacional, permitindo que uma empresa brasileira efetue uma exportação meramente escritural, com a transferência do bem a um arrendador estrangeiro, sem perder a sua utilização. Desta sorte, o “lease – back” internacional converte-se em fonte paralela de captação de recurso no exterior, tendo como garantia o equipamento vendido. Por tal motivo recebe incentivos, como seja, a redução da alíquota do Imposto de Renda na Fonte, ou a isenção do imposto sobre as operações de crédito, câmbio ou seguro. (PEREIRA, 2015, p. 211). 24 CAPITULO 3 – POSSIBILIDADE DA DESCARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING) 3.1. Vantagens do contrato e Leasing no direito comparado A possibilidade das empresas ter á sua disposição equipamentos modernos e de grande valor econômico atraem á pessoa jurídica á essa modalidade contratual, pois veem a oportunidade de não imobilizar seu capital e por se tratar de ser um contrato atípico misto traz a garantia de que o equipamento ao se tornar obsoleto poderá ser trocado. Sendo assim um contrato que possibilita uma fruição para o arrendador e frutos, e para o arrendatário de utilização e a possibilidade de aquisição ao final do contrato. As recomendações para a utilização do contrato de arrendamento mercantil estão apontadas por Maria Helena Diniz (2014) que cita Arnold Wald (1975): [...] a) uma nova empresa, com grande desenvolvimento tecnológico que lhe dê boa rentabilidade, não tem capital suficiente para desenvolver sua atividade ou prefere não utilizar para esse fim o seu capital de giro; b) uma empresa deve equipar-se de modo especial para atender a um contrato de grandes dimensões, cujo lucro cobrirá o encargo das prestações locativas; c) a empresa ou determinada filial já utilizou todo orçamento anual de investimento e tem necessidade de completar seu programa de equipamento; d) uma pequena ou média empresa pretende substituir material corrente, tendo dificuldade em atender ás exigências da administração para concessão de financiamento pelos órgãos especializados; e) uma empresa se vê diante da necessidade de expandir, de se mudar ou de se descentralizar abrindo novos campos de atividade em curto prazo, sem ter fundos próprios ou crédito bancário para atender à situação criada. (WALD, 1975, p.131 apud DINIZ, 2014, p.765) Venosa (2005) ensina que: Esse contrato pode ter como objeto bens móveis e imóveis. Os bens imóveis que se prestam ao contrato equivalem a instrumentos profissionais, como terrenos para edificação industriais, galpões, depósitos etc. Nada impede que se destine a imóveis habitacionais, bastando que a lei regulamente. Na falta de regulamentação, o negócio não é nulo, gerando efeito entre as partes, devendo ser tratado como contrato atípico misto. (VENOSA, 2005, p.589). 25 Em se tratando de tributo, o contrato de arrendamento mercantil foi difundido em muito por ser isento de pagamento de imposto sobre operações financeiras, como justifica Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008): Os contratos de leasing sempre foram e continuam sendo uma das formas que os empreendedores encontraram, para adquirir bens, geralmente destinados a produção. Mas, nos últimos anos, os contratos de leasing perderam espaço para os contratos de financiamentos com garantia de alienação fiduciária, muito em função da influência das instituições financeiras que facilitaram o financiamento de bens. Porém, com o fim da cobrança do imposto da CPMF em 31 de dezembro de 2007, o Governo Federal com receio de perder parte da sua arrecadação com impostos, aumentou a alíquota do imposto do IOF (imposto sobre operações financeiras) nos contratos de financiamentos. Ocorre que o IOF não incide sobre os contratos de leasing, motivo que levou as instituições financeiras brasileiras a oferecerem cada vez mais às pessoas, físicas ou jurídicas, os contratos de leasing, como forma de não pagamento do imposto. (MIRANDA, M.B.; MIRANDA, F. S., 2008, p.1). Maria Helena Diniz (2014) destaca: Além disso, o arrendamento mercantil apresenta vantagens na seara tributária. Se uma empresa comprar equipamento a prazo, a quantia paga mensalmente não poderá ser deduzida da renda bruta para a apuração do lucro tributável pelo imposto de renda. Todavia, o quantum pago como aluguel poderá ser lançado como despesa, o que diminuirá o lucro, e, por via de consequência, levará ao pagamento de menor imposto de renda. (DINIZ, 2014, p.766). O arrendatário tem a oportunidade de pagar os equipamentos com o próprio produto do trabalho dele, pois não realiza nenhum investimento próprio para adquirir novos equipamentos, através de financiamento integral. Pereira (2015) discorre sobre as vantagens para empresas que precisam fazer investimentos em equipamentos sem redução de capital de giro: A operação de leasing oferece grandes vantagens á atividade mercantil, permitindo ao arrendatário ter em seu alcance máquinas e equipamentos sem redução de capital de giro. Especialmente quando incide em bens sujeitos a maoir desgaste, que obriga a empresa a promover sua constante substituição em alta rotatividade, poupa-lhe os sacrifícios da imobilização financeira, ou a tomada de empréstimo para a sua aquisição. (PEREIRA, 2015, p. 208) Leasing nos Estados Unidos: Venosa (2005) aponta que o contrato de arrendamento mercantil surgiu nos Estados Unidos desde 1920, a obrigação de prestar assistência e manutenção cabia ao locador, sem opção de compra, 26 modalidade conhecida como renting. Comenta Venosa (2005, p.590): “Em 1941, pelo Lend and Lease Act, aprovado pelo congresso norte americano, permitiu-se que o país emprestasse equipamento bélico aos aliados que poderiam ser devolvidos ou adquiridos ao final do conflito mundial”. Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008), entretanto, relatam que o arrendamento mercantil ou leasing foi introduzido nos Estados Unidos por volta de 1700, pelos colonos ingleses. Nesse sentindo ensina Pereira (2015) que sua real expansão ocorreu através do caso de Boothe Junior empresário da Califórnia, que após o término da II Guerra Mundial, na década de 50, através de contrato para fornecimento de gêneros alimentícios para o exército americano, devido o crescimento da demanda verificou que não tinha capacidade operacional. Como solução firma contrato com um banco para que este comprasse os equipamentos necessários. Nasce assim à primeira empresa americana de leasing V.S. Leasing Company, Boothe em seguida abre outra com seu nome Boothe Leasing Corporation. Sendo bem sucedido na transação bancária, Boothe desistiu do gênero alimentício para se dedicar a essa nova pratica de contratação, nascendo assim a ideia leasing do verbo alugar. § Leasing na Inglaterra: Venosa (2005) observa que em 1960, na Europa inicia a pratica do Leasing, para Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008) a Inglaterra começou a praticar o Leasing, mas a Grã Bretanha já praticava a locação de compra através da forma primitiva do leasing. Após a guerra desenvolveu o contrato “Hire Purchase”, traduzido “locação de compra”, utilizado para máquinas de costura, eletrodomésticos, automóveis, etc. No inicio figuravano contrato duas partes, fornecedor e cliente, pela necessidade de maiores recursos, surgem as financeiras. § Leasing na Alemanha: na Alemanha a pratica do leasing desde 1965, Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008) aponta que a Alemanha utilizava duas principais formas: Leasing Operacional e Leasing Financeiro. No 27 Operacional (Operate Leasing Verträge) a locação segue as regras normais entre as partes, sendo a dissolução com prazo curto e sem as convencionais multas, em contrapartida o Leasing Financeiro tem prazos diferenciados através do objeto de leasing, onde são distintos de forma jurídica, após o prazo de aluguel básico. Dentro destes limites, são cogitáveis as seguintes possibilidades: a) Finanzierungs_Leasing sem opção de compra – trata-se de um contrato normal de locação. A opção de compra como se sabe, é irrelevante na operação; b) O contrato com opção de compra – o tratamento contábil dependerá de seu conteúdo; c) O contrato com opção de prorrogação – neste caso, o aluguel sucessivo é, em regra, um percentual do aluguel básico 5% (cinco por cento). É interessante notar que na Alemanha estabelece-se percentuais variando de 40% (quarenta por cento) à 90% (noventa por cento) do uso sobre a duração normal do objeto leasing com importantíssimas consequências jurídicas e econômicas para o arrendador e para o arrendatário. (MIRANDA, M.B.; MIRANDA, F. S., 2006, p.4). § Leasing na França: segundo Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008) as operações de leasing na França datam de 1961, mas a legalidade surge em 1966, tratando do crédit-bail, não dispondo sobre aspectos tributários, mas fixando e estabelecendo o campo de incidência. Na França o termo leasing é a permissão através de em conjunto de operações, onde certo material é colocado a disposição do arrendatário que pagará um aluguel para alguns, a compra é uma opção ao final do contrato. § Leasing na Bélgica: ensinam Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008) devido a forte imposição fiscal o desenvolvimento do leasing na Bélgica foi implantado em 1963 de forma morosa. A taxa de 7% sobre o custo material de uma compra pela operação do leasing era acrescida 7% de uma alíquota sobre aluguéis imobiliários. § Leasing na Itália: até 2008 para Maria Bernadete e Fernando Silveira Miranda (2008) não existia lei sobre o leasing, contudo relatam que na península italiana e em Roma desde 1963 já existiam uma sociedade de leasing. Cresce uma grande expectativa de expansão desse modo de financiamento no país. As vantagens do contrato de arrendamento mercantil trazem a óbice da sua vasta difusão nas transações financeiras. 28 Para um entendimento da possibilidade da descaracterização do contrato de arrendamento mercantil se faz necessário conceituar o valor residual e valor residual garantido e suas diferenças. 3.2. Valor residual e valor residual garantido O conceito de valor residual e do valor residual garantido (VRG) está declarado de forma clara no recurso especial 249.340/SP (2000, STJ) [...] No contrato de leasing, o "valor residual" é o preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra, enquanto o "valor residual garantido" é obrigação assumida pelo arrendatário, quando da contratação do arrendamento mercantil, no sentido de garantir que o arrendador receba ao final do contrato, a quantia mínima final de liquidação do negócio, em caso de o arrendatário optar por não exercer seu direito de compra e, também, não desejar que o contrato seja prorrogado. (STJ, 2000) 3.3. Súmulas 263 e 293 do Superior Tribunal de Justiça A aprovação da Sumula 263 em 2002, se deu pelo entendimento da seção de que a antecipação do valor residual garantido retirava do arrendatário a opção de compra, descaracterizando dessa forma o contrato de arrendamento mercantil. Em julgamento de Embargos de Divergência, a corte especial do Superior Tribunal de Justiça decidiu em rever a antiga sumula 263, cancelando-a e editando uma nova, em resposta a inúmeros julgados acerca da descaracterização ou não do contrato de arrendamento mercantil. Surgindo assim a sumula 293 que estabelece “a cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”. 3.4. Descaracterização do contrato de arrendamento mercantil pela antecipação do valor residual garantido. 29 Para Melo (2015) sobre a descaracterização do contrato de leasing: “[...] Hoje esta questão se encontra pacificada, pois o Superior Tribunal de Justiça (STJ) editou a Súmula 293 [...]”. Com essa afirmação esta pesquisa poderia estar encerrada, mas os julgados em diversos ramos do direito incentiva uma procura por um entendimento conclusivo. Como o entendimento da Ministra Cármem Lúcia em Recurso Extraordinário (STF, 2013): [...] RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO TRIBUTÁRIO. ISS. ARRENDAMENTO MERCANTIL. OPERAÇÃO DE LEASING FINANCEIRO. ARTIGO 156, III, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. O arrendamento mercantil compreende três modalidades, [i] o leasing operacional, [ii] o leasing financeiro e [iii] o chamado lease-back. No primeiro caso há locação, nos outros dois, serviço. A lei complementar não define o que é serviço, apenas o declara, para os fins do inciso III do artigo 156 da Constituição. Não o inventa, simplesmente descobre o que é serviço para os efeitos do inciso III do artigo 156 da Constituição. No arrendamento mercantil (leasing financeiro), contrato autônomo que não é misto, o núcleo é o financiamento, não uma prestação de dar. E financiamento é serviço, sobre o qual o ISS pode incidir resultando irrelevante a existência de uma compra nas hipóteses do leasing financeiro e do lease-back. Recurso extraordinário a que se nega provimento’ (RE 592.905/SC Rel. Min. Eros Grau, Plenário, DJ 2.12.2009, grifos nossos). [...] (STF, 2013). Comparando o julgado com o conceito de leasing financeiro segundo a Resolução do Banco Central nº 2.309, de 28 de agosto de 1996, em seu artigo 5º anteriormente citado. A resolução traz em seu caput e inciso I: Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade que: I – as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos; (BACEN, 1996). Verifica-se que o contrato a que se refere à resolução é um contrato de financiamento entre a arrendadora e o arrendatário, com cláusulas especificas de Arrendamento Mercantil para ter legalidade, onde as contraprestações são parcelas pactuadas em forma de locação. A referência à opção compra no inciso III da mesma resolução não a deferência do leasing operacional, pois no artigo 6º 30 inciso III também o faz: “[...] o preço para o exercício da opção de compra seja o valor de mercado do bem arrendado; [...]”. Com esse entendimento o Superior Tribunal Federal está a descaracterizar o contrato de arrendamento mercantil. O entendimento jurisprudencial seguindo o Superior Tribunal Federal beneficiaria uma parte e prejudicaria a outra, sendo a parte beneficiada a arrendadora pessoa jurídica financeira e do outro lado o arrendador cliente, o direito do consumidor deveria intervir para garantir a hipossuficiência do consumidor final. Embora a pesquisa tenha adentrado no ramo do Direito Tributário e Direito do Consumidor, não será esse o âmbito objeto de estudo, mas sim o negócio jurídico como vontade das partes. Verifica-se que uma das partes desse negócio jurídico está com sua vontade garantidae protegida pelo entendimento conflitante dos julgadores e doutrinadores e a outra parte, consequentemente, tem sua vontade reprimida e limitada, ao que parece uma disparidade mediante a cláusula especifica de contratos de arrendamento mercantil: opção de compra, ou troca ou devolução. Em pelo menos duas situações há a possibilidade da antecipação do valor residual garantido: nos casos de efetiva reintegração de posse proposta pelo arrendador, ou, quando não houver mais interesse por parte do arrendatário em permanecer com o objeto do leasing no decurso do prazo do contrato de arrendamento mercantil. O artigo 7º da Resolução do Banco Central nº 2.309, muitas vezes citado em julgados como o liberador da possibilidade da antecipação do valor residual garantido sem que haja a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil (leasing): Art. 7º Os contratos de arrendamento mercantil devem ser formalizados por instrumento público ou particular, devendo conter, no mínimo, as especificações abaixo relacionadas: 31 I - a descrição dos bens que constituem o objeto do contrato, com todas as características que permitam sua perfeita identificação; II - o prazo de arrendamento; III - o valor das contraprestações ou a fórmula de cálculo das contraprestações, bem como o critério para seu reajuste; IV - a forma de pagamento das contraprestações por períodos determinados, não superiores a 1 (um) semestre, salvo no caso de operações que beneficiem atividades rurais, quando o pagamento pode ser fixado por períodos não superiores a 1 (um) ano; V - as condições para o exercício por parte da arrendatária do direito de optar pela renovação do contrato, pela devolução dos bens ou pela aquisição dos bens arrendados; VI - a concessão à arrendatária de opção de compra dos bens arrendados, devendo ser estabelecido o preço para seu exercício ou critério utilizável na sua fixação; VII - as despesas e os encargos adicionais, inclusive despesas de assistência técnica, manutenção e serviços inerentes à operacionalidade dos bens arrendados, admitindo-se, ainda, para o arrendamento mercantil financeiro: a) a previsão de a arrendatária pagar valor residual garantido em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do valor residual garantido o exercício da opção de compra; b) o reajuste do preço estabelecido para a opção de compra e o valor residual garantido; [...] (BACEN, 1996) (sem grifo no original). Revisando o item em destaque, ou seja, aliena “a” do inciso VII, nota se o precedente hermenêutico que fornece a arrendatária a possibilidade de exigir antecipadamente o valor residual garantido. Seria cabal se não houvesse a ausência na norma dos dizeres: dever, direito ou exigência; mas o que descreve a norma é previsão de forma facultativa e não imposta. O que pode observar são fundamentações no mínimo obscuras, que deixam duvidas da eficácia da súmula 293 do Superior Tribunal da Justiça, exemplificando através de trechos da fundamentação do voto de Apelação Cível nº 1.348.936-6, de 21 de setembro de 2016: 3 - Da descaracterização do contrato de leasing [...] Porque, dentre as diversas espécies de Leasing, se está a utilizar aquele conhecido como Leasing financeiro, que tem como característica saliente o financiamento do bem propriamente dito, tendo como principal motivo da contratação a venda do bem através da prestação de serviço do arrendamento pela instituição financeira. [...] [...] Ressalta-se que os contratos de serviços financeiros devem ser compreensíveis pelo homem comum. Não existindo a clareza mediana nos dispositivos cogentes do contrato, não ocorre a cogência do contratado, mas também não invalida o contrato como um todo. 32 Portanto, resta evidente ser possível a existência de juros nos contratos de arrendamento mercantil, de forma que não há que se falar em sua descaracterização para compra e venda. 4 - Do VRG: O arrendamento mercantil ou leasing é um contrato misto, formado da união de contrato de locação, financiamento e compra e venda. [...] 1 Arnaldo Rizzardo, de forma esclarecedora, explica que: “Caso se verifique a opção, as importâncias pagas a título de aluguel e estabelecidas durante o prazo de duração do contrato passam a constituir parte do preço estimado. Convertem-se em amortização da dívida, de modo que, ao exercitar a opção, o interessado já terá praticamente satisfeito o preço do bem. Mas, mesmo assim, o valor residual constará expresso no instrumento, não bastando o simples registro da opção. Objetiva-se, com isto, já deixar o arrendatário ciente, de antemão, do quantum em dinheiro que deverá desembolsar”. [...] [...] O que ocorre neste caso é que pelo pagamento antecipado do VRG o arrendatário já promove sua opção de compra do bem. Implica dizer, portanto, que o VRG antecipado nada mais é do que um adiantamento do próprio preço do bem, o qual o arrendatário passa a pagar desde o início do contrato. Disso decorre que se houver resolução do contrato e o arrendador retomar o bem por meio de ação de reintegração de posse, o VRG deve ser devolvido ao arrendatário, sob pena de enriquecimento indevido, até mesmo porque o arrendante já permanecerá com o valor do bem vendido a terceiro e o arrendatário perderá a possibilidade de fruição da coisa arrendada. Logo, a restituição do VRG antecipado é consequência natural da retomada do bem pelo arrendador. [...] (sem grifo no original). O que pode se entender por prestação de serviço do arrendamento pela financeira, uma locação, com isso temos um impasse com a decisão do Superior Tribunal Federal que conceitua o leasing financeiro como serviço. As disparidades continuam, enquanto o Superior Tribunal Federal descreve o contrato de arrendamento mercantil como “No arrendamento mercantil (leasing financeiro), contrato autônomo que não é misto, o núcleo é o financiamento, não uma prestação de dar”. O Tribunal de Justiça do Paraná fundamenta: “[...] O arrendamento mercantil ou leasing é um contrato misto, formado da união de contrato de locação, financiamento e compra e venda”. [...]; e essa definição de 33 contrato misto já conceituado doutrinariamente por Venosa e Melo (fls.16 e 17 da presente pesquisa). Os juros mencionados na fundamentação em nada esclarecem sobre a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil. Na fundamentação do valor residual o julgador entende que, sendo antecipado ou diluído em contraprestações o bem ao final do contrato estará quitado, justificando até sua devolução em caso de resolução em que a arrendatária entre com uma ação de reintegração de posse, e aqui fica caracterizado o objetivo desta pesquisa, pois se a contraprestação é de entendimento pacificado como pagamento de serviço do arrendamento da financeira, como pode ser parte do pagamento do valor residual garantido [?] Não pode, essa é a resposta. Ficando evidente que a arrendatária, através de cálculos que não estão em planilhas de fácil entendimento para o arrendador, pratica financiamento cobrando o valor residual antecipado e juntamente com as contraprestações o valor residual, geralmente em um contrato de adesão sem que a leitura prévia do arrendador esclareça a tríplice opção especifica desse negócio jurídico: da compra, ou troca ou devolução e assim fica descaracterizado o contrato de locação para um contrato de financiamento, sem que o arrendador tenha noção que a sua vontade pode ir além da simples compra e venda. CONCLUSÃO Esta pesquisa teve como objetivo demonstrar a possibilidade da descaracterização do contrato de arrendamento mercantil (leasing) com a antecipação do valorresidual garantido (VRG). Fez-se um breve relato das origens dos contratos em geral, sua evolução histórica e conceitos doutrinários, as noções básicas do contrato de arrendamento mercantil sua evolução histórica e origem; conceituando - o e estudando suas características e requisitos. Demonstrou as vantagens do contrato de leasing e seu desenvolvimento no direito comparado, observou a diferença entre valor residual e valor residual garantido, ponderou sobre as súmulas 263 e 293 do Superior Tribunal de Justiça que ensejaram a possibilidade de descaracterização ou não, do contrato de arrendamento mercantil pela antecipação do valor residual garantido. Ainda que pacificado, o entendimento através da Súmula 293 do Superior Tribunal de Justiça procurou buscar uma análise não tendenciosa, é importante observar que o Direito é interpretativo, as mudanças no decorrer dos séculos, o comportamento da sociedade, a evolução da tecnologia faz necessário buscar adequações para interpretação da vontade das partes em um instrumento contratual, contudo, há um dever de preservar as normas e regulamentações legais. É imprescindível observar que o jurídico ao deixar se levar pelo socioeconômico corre o risco de violar princípios contratuais, desviando assim da verdade contratual. Por se tratar de um assunto extremamente controverso, e passível de contestação, espera-se que haja debates sobre o tema com vista final que atenda a ambas as partes. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 6.099, de 12 de setembro de 1974. Presidência da Republica. Casa Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6099.htm. Acesso em: 01 nov.2016. BRASIL. 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