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Epúlide fibromatosa em cão: revisão de literatura e relato de caso. Angélica Ramalho de Araújo Leite¹*; Thaiza Helena Tavares Fernandes²; Paulo Vinícius Tertuliano Marinho¹; Daniel Pedrosa¹; Fabrícia Geovânia Fernandes Filgueira²; Geyanna Dolores Lopes Nunes²; Rosileide Carneiro Santos³; Adílio Santos de Azevedo4; Ana Lucélia de Araújo4; Pedro Isidro da Nóbrega Neto5. Introdução A cavidade oral é um local comum de ocorrência para variados tumores, quer sejam benignos ou malignos [1]. As neoplasias são classificadas de acordo com a origem dos tecidos embrionários, e os exemplos mais comuns de neoplasias benignas são o papiloma oral e o epúlide [2]. Os epúlides, grupo de neoplasias benignas envolvendo tecidos dos ligamentos periodontais, são as mais comumente encontradas nos cães, representando aproximadamente 60% dos casos, enquanto nos gatos são raras [3]. As raças caninas mais atingidas são o Boxer [4,5] e o Bulldog [6], e observa-se que os cães machos são mais afetados do que as fêmeas [7,8,9]. Atualmente os epúlides são classificados em Fibromatosa, Ossificante e Acantomatosa [10]. O epúlide fibromatoso, também denominado tumor odontogênico epitelial, é a forma mais freqüentemente encontrado e em geral, pouco invasivo [6,7]. Apresenta-se como uma massa firme, de superfície lisa, que se estende pelo sulco gengival, podendo envolver os dentes, principalmente os posteriores [11], serem únicas ou múltiplas, às vezes generalizadas, semelhante ao próprio tecido gengival, porém, com seu volume aumentado e de apresentação pendulado ou séssil. Quando demasiadamente grandes podem interferir na mastigação e causar sangramento por traumatismo [3,12,13]. Alguns sinais clínicos associados a tumores orais incluem relutância na alimentação, indícios de dor ao redor da boca, halitose, perda de dentes, salivação excessiva, hemorragia oral persistente ou periódica, assimetria facial, perda de peso, desenvolvimento rápido ou gradual de má oclusão e presença aparente de tumoração [2]. O diagnóstico de distúrbio neoplásico oral baseia-se no exame cito ou histopatológico. A classificação da afecção, em estágios, é importante para estabelecer o diagnóstico, o prognóstico e as possíveis formas de tratamento [14]. A citologia aspirativa por agulha fina pode não fornecer diagnóstico definitivo, mas permite a diferenciação entre processo benigno e maligno e freqüentemente dependem da confirmação histopatológica [15]. O estudo histopatológico das neoplasias orais justifica-se pelo fato de que nem sempre os sintomas clínicos indicam a verdadeira natureza e o comportamento da neoplasia [4]. Histologicamente, os epúlides são densos com estroma bem vascularizado, não encapsulado, possuindo células estreladas com grande quantidade de colágeno fibrilar, semelhante ao ligamento periodontal. As células neoplásicas têm bordas indistintas e uma pequena quantidade de eosinófilos, geralmente com vacúolos pequenos. Os núcleos são irregulares, com fina porção de cromatina e figuras mitóticas raras [16]. A avaliação radiográfica também pode ser utilizada, pois auxilia na determinação clínica do estadiamento e na extensão da ressecção quando a cirurgia for indicada [17]. Há diversas modalidades terapêuticas para as neoplasias orais em cães e gatos, como a excisão cirúrgica, quimioterapia sistêmica e/ou intralesional, radioterapia, criocirurgia, imunoterapia, entre outras [9,18], sendo a mais utilizada, e com melhores resultados, a cirúrgica [4]. Portanto, a cirurgia é parte integrante do plano terapêutico, especialmente para as neoplasias volumosas e agressivas [18]. A meta da cirurgia é promover a ressecção curativa, restaurar ou manter a função local e atingir resultado estético aceitável [14]. Diante do exposto, objetivou-se relatar um caso de epúlide fibromatoso em um cão onde realizou- se o tratamento cirúrgico e diferenciação histológica do material coletado. _____________ 1. Aluno (a)(s) de graduação do curso de medicina veterinária da UFCG do campus de CSTR. Endereço: Avenida Universitária s/n, Bairro Santa Cecília, Patos, PB, Cep:58708-110 *E-mail: angelica_ral@yahoo.com.br; 2. Médicas veterinárias residentes do programa de aperfeiçoamento da UFCG no Campus de CSTR. Endereço: Avenida Universitária s/n, Bairro Santa Cecília, Patos, PB, Cep: 58708-110; 3. Médica Veterinária do Hospital Veterinário da UFCG no campus de CSTR. Endereço: Avenida Universitária s/n, Bairro Santa Cecília, Patos, PB, Cep: 58708-110; 4. Mestrando (a) do PPMV da UFCG no campus de CSTR. Endereço: Avenida Universitária s/n, Bairro Santa Cecília, Patos, PB, Cep: 58708-110; 5. Professor Adjunto do curso de medicina veterinária da UFCG no campus de CSTR. Endereço: Avenida Universitária s/n, Bairro Santa Cecília, Patos, PB, Cep: 58708-110. Material e métodos Um cão da raça Poodle, macho, com dez anos de idade, pesando 10,6 kg, foi atendido no Hospital Veterinário no Campus de Saúde e Tecnologia Rural (CSTR) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) em Patos/Paraíba, apresentando aumento de volume localizado na região gengival próximo ao dente canino inferior direito, onde segundo o proprietário foi observado há cerca de um ano, com crescimento progressivo, ainda sem interferir na mastigação. Exames complementares foram solicitados e incluíram hemograma, bioquímica sérica, eletrocardiograma, radiografia torácica e oral. Posteriormente, o paciente foi encaminhado para o setor de cirurgia para retirada da massa, sendo submetido à medicação pré-anestésica com acepromazina (0,05 mg/kg) e diazepam (0,3 mg/kg) via endovenosa, indução com propofol (4 mg/kg) pela mesma via, intubação endotraqueal, e manutenção da anestesia com o halotano. O procedimento cirúrgico envolveu ressecção com eletrobisturi em torno da nodulação localizada na gengiva, próximo ao dente canino inferior direito, e extração do dente incisivo lateral direito que estava afetado. Também foi efetuada a coleta de fragmentos do material para análise histológica. No pós-operatório, foi utilizado ciprofloxacina (15 mg/kg, 12/12hs, 10dias) como antibióticoterapia, limpeza da cavidade oral com solução antiséptica de clorexidine 0,12% (8/8hs, 10dias), e o fornecimento de alimentação pastosa por uma semana. Resultados e discussão Ferro et al. [7] e Howard [8] afirmaram que neoplasias orais afetam mais freqüentemente cães machos do que fêmeas, ao passo que Viswanath et al. [19] e Damasceno & Araújo [20] não observaram nenhuma predisposição sexual nos casos de epúlides em geral. Concordando com os primeiros dois autores acima citados, o cão deste trabalho é macho. Ao exame clínico, foi observado estado geral bom, mucosas rosadas, linfonodos sem alteração, e à inspeção da cavidade oral verificou-se presença de tecido anormal, entre o quarto dente incisivo e canino inferior direito. Alguns sinais clínicos são detectados em animais com neoplasias orais [2], embora alguns se apresentem assintomáticos até que as lesões se exacerbem [21], e o crescimento das epúlides, em geral é lento, como pode ser visto no animal em estudo. Macroscopicamente, a massa tinha aspecto nodular, firme, com superfície lisa, avermelhada, semelhante ao próprio tecido gengival, porém, com seu volume bastante aumentado (Fig. 1), sendo condizente com a descrição de Carvalho [13]. O exame hematológico e a bioquímica sérica revelaram valores dentro dos padrões normais para a espécie, e o eletrocardiograma não mostrou alterações significativas. A avaliação radiográfica oral pode fornecer informações importantes quanto à extensão do comprometimento ósseo e dentário [1], no animal do estudo não se observaram achados referentes à infiltração neoplásica óssea. Mesmo não ocorrendo metástase local ou à distância em casosde epúlides [9,20], neste caso, a radiografia torácica do paciente foi realizada para descartar qualquer comprometimento pulmonar secundário à neoplasia oral. Através da análise histopatológica pode-se constatar o diagnóstico de epúlide fibronomatosa de origem periodontal, descrito como massa tumoral composta por tecido conjuntivo apresentando células alongadas com núcleo hipercromático alongado e citoplasma eosinofílico filamentar, presença de estroma de ligamento periodontal com ninhos de matriz colágena e ausência de figuras mitóticas, como o proposto por Colgin et al. [16] e Kruiningen [22]. Apesar das inúmeras formas de tratamento disponíveis para as neoplasias orais [9, 18], a terapia cirúrgica foi a de eleição no caso relatado por não haver invasão de tecidos adjacentes, uma vez que Schwarz et al. [9] citam que esta opção demonstra excelentes resultados em casos neoplásicos não infiltrativos. Além disso, o prognóstico de epúlides se apresenta excelente após extirpação cirúrgica completa [14]. O animal do caso relatado encontra-se em bom estado geral há quatro meses, sem apresentar recidiva. Dessa forma, pode-se concluir que o tratamento cirúrgico da epúlide fibromatosa pode ser curativo, principalmente nos casos em que não há infiltração óssea ou metástases. Referências [1] LIPTAK, J. M. & WITHROW, S. J. Cancer of the gastrointestinal tract: oral tumors. In: WITHROW, S. J. & VAIL, D. M. Small animal clinical oncology. 4. Ed. St. Louis: W. B. Saunders. Elsevier, 2007. Cap.21, p. 455-475. [2] BOJRAB, M.J. & THOLEN, M. Small animal oral medicine and surgery. Philadelphia: Lea & Febiger, 1990, p. 33-98. [3] BRUIJN, N. D.; KIRPENSTEIJN, J.; NEYENS, I. J. S.; VAN DEN BRAND, J. M. A. & VAN DEN INGH, T. S. G. A. M. A clinicopathological study of 52 feline epulides. Veterinary Pathology, Washington, v. 44, n. 2, p. 161-169, 2007. [4] GIOSO, M. A. Odontologia para o clínico de pequenos animais. In: _____. 2. ed. São Paulo: Manole, 2007. Cap. 10. p. 91-100. [5] RODRIGUEZ, Q. J.; TROBO, M. J. I.; COLLADOS, J. & SAN ROMÁN, F. Neoplasias orais em pequenos animais. 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