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PROGRAMA DE MESTRADO E DOUTORADO EM FISIOTERAPIA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO FELIPE RIBEIRO CABRAL FAGUNDES TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E ANÁLISE DAS PROPRIEDADES DE MEDIDA DA VERSÃO PORTUGUÊS-BRASILEIRO DO ÖREBRO MUSCULOSKELETAL PAIN SCREENING QUESTIONNAIRE (ÖMPSQ) SÃO PAULO 2014 PROGRAMA DE MESTRADO E DOUTORADO EM FISIOTERAPIA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO FELIPE RIBEIRO CABRAL FAGUNDES TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E ANÁLISE DAS PROPRIEDADES DE MEDIDA DA VERSÃO PORTUGUÊS-BRASILEIRO DO ÖREBRO MUSCULOSKELETAL PAIN SCREENING QUESTIONNAIRE (ÖMPSQ) Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob orientação da Prof. Dra. Cristina Maria Nunes Cabral e co-orientação do Prof. Dr. Leonardo Oliveira Pena Costa. SÃO PAULO 2014 Banca Examinadora ___________________________ Prof. Dra. Cristina Maria Nunes Cabral Universidade Cidade de São Paulo ___________________________ Prof. Dra. Monica Rodrigues Perracini Universidade Cidade de São Paulo ___________________________ Prof. Dra. Anamaria Siriani de Oliveira Universidade de São Paulo DEDICATÓRIA Dedico esta dissertação à minha família que me apoia e me motiva de maneira incondicional. Aos meus pais Fábio Okamoto Fagundes e Márcia Ribeiro Cabral Fagundes, meus maiores exemplos de caráter, companheirismo, amizade, luta e honestidade. Aos meus irmãos Fábio Okamoto Fagundes Júnior e Douglass Ribeiro Cabral Fagundes, companheiros do dia-dia, vocês são a verdadeira tradução do amor que recebemos de nossos pais, obrigado pelo apoio e pela paciência sempre. Também dedico esta dissertação à minha noiva Francine Mendonça de Luna Teixeira, a qual sou profundamente grato a Deus, por a ter cruzado em meu caminho. Com você eu aprendi realmente o sentido da frase: “O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.” (Antoine de Saint-Exupéry). Incontáveis foram as vezes em que precisei me apoiar em algo sólido para que meus sonhos começassem a criar forma, e sempre encontrei em você um porto seguro. Obrigado por ser minha companheira. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à minha orientadora, Prof. Dra. Cristina Maria Nunes Cabral, a qual eu não posso utilizar outro adjetivo se não “orientadora-mãe”. Obrigado pelo comprometimento, respeito e competência durante todo o período de orientação do mestrado. Pela confiança principalmente, sei o quão difícil é matricular um aluno que mora em outra cidade (e sem conhecê-lo ainda por cima!). Ainda com um período de gravidez e licença maternidade nesse período, conseguimos desenvolver um excelente trabalho, nada disso aconteceria sem a sua calma e sabedoria. Passamos por diversas experiências positivas e negativas, as quais, com certeza me lapidaram como melhor profissional. Você sempre será para mim um grande exemplo de profissional, de docente, de orientadora, de pessoa e de caráter. Agradeço ao meu co-orientador o Professor Dr. Leonardo Oliveira Pena Costa pela paciência e pelos conselhos durante a realização da pesquisa. As opiniões, críticas e sugestões foram fundamentais para a realização desta dissertação. O tenho com grande admiração e um exemplo a ser seguido, obrigado pela confiança! A todos os meus colegas de turma, com os quais dividi horas incansáveis de créditos e elaboração de projetos. Pude compartilhar e conhecer as experiências de pessoas excelentes. Sou muito grato por ter conhecido e feito amigos tão especiais! A vocês eu desejo um enorme sucesso profissonal e pessoal, vocês merecem amigos! Um agradecimento especial a um colega (quase irmão), com o qual divido sala do mestrado e da pós-graduação em Osteopatia. Uma feliz coincidência da vida! Ao Lucas Chagas Nery, meu eterno agradecimento pela amizade, pela honestidade e pelos incansáveis conselhos. Amigo, você vai longe! Parabéns por ser essa pessoa sensata, correta e generosa! Obrigado! Serei sempre grato a uma dupla de amigas/colegas, sem as quais, com certeza, esse trabalho não teria tido o mesmo sucesso e conclusão. O meu eterno agradecimento à Fernanda Ferreira Fuhro e Ana Carolina Tacollini Manzoni, alunas de Iniciação Científica de dois projetos diretamente ligados à essa dissertação. Pessoas muito especiais que aceitaram participar dessa loucura que foi o projeto e abraçaram de corpo e alma! Vocês são peça fundamental nessa conquista, obrigado, obrigado e obrigado! Vocês têm um futuro brilhante à frente, aproveitem as oportunidades de maneira sábia e consciente, e aproveitem! Um agradecimento especial aos responsáveis pelos locais onde foram coletados os dados dessa pesquisa. Ao Prof. Dr. Rodrigo Silva e Santos, responsável pela clínica de fisioterapia da Universidade de Taubaté. À Prof. Dra. Célia Regina Gazoti Debessa, resposável pela clínica de fisioterapia da universidade Cidade de São Paulo. Ao Prof. Dr. Diego Galace de Freitas, por viabilizar a coleta de dados na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, obrigado pela parceria. E ao amigo Vinícius Guiselini Boin por ter autorizado gentilmente as coletas em uma das unidades de sua clínica particular, amigo, muito obrigado pelos conselhos e ajuda sempre! Aos tradutores que nos auxiliaram durante o processo de adaptação transcultural do instrumento de avaliação tema desta dissertação, Fabiana Mendonça de Luna Teixeira, Prof. Dra. Monica Rodrigues Perracini, Prof. Dra. Sandra Maria Sbeghen Ferreira de Freitas e Prof. Dr. Richard Eloin Liebano. Obrigado sinceramente pela dedicação e paciência com o texto. Obrigado às secretárias do Programa de Pós-Graduação da Universidade Cidade de São Paulo, Sheila Alves e Cláudia Pereira, sempre muito prestativas e eficientes, obrigado pela ajuda incondicional. Agradeço também à minha família de São Paulo, meus cunhados Luiz Fernando Ribeiro Bittencourt, Flávia Mendonça Teixeira Bittencourt, Fabiana Mendonça de Luna Teixeira e Guilherme Fontes Simoni. Obrigado por serem essa família acolhedora, hospitaleira e companheira. Com vocês eu sempre me senti no conforto e na segurança de estar em casa. Obrigado pelas estadias e pela paciência sempre! Por fim, agradeço ao Pai Celestial por ter me dado forças e iluminado meu caminho para que pudesse encontrar pessoas especiais no momento certo. De forma que, ao final da jornada podemos comtemplar um trabalho bem feito. Obrigado por ter me concedido saúde, proteção, serenidade e sabedoria em cada passo trilhado. Obrigado por mais essa conquista! SUMÁRIO PREFÁCIO ................................................................................................................................. i RESUMO .................................................................................................................................. iii CAPÍTULO 1 - Contextualização .............................................................................................. 1 1 Introdução ............................................................................................................................. 2 1.1 Epidemiologia da dor lombar ........................................................................ 2 1.2 Diagnóstico da dor lombar ............................................................................3 1.3 Prognóstico da dor lombar ............................................................................. 5 1.4 Subgrupos para pacientes com dor lombar .................................................... 5 1.5 Conceito de “identificação de bandeiras” em dor lombar ............................. 7 1.6 Fatores psicossociais relacionados à dor lombar ........................................... 9 1.7 Traduções do Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire ............................................................................................. 10 1.8 Processo de tradução e adaptação transcultural de questionários ................ 12 1.9 Propriedades de medida de questionários .................................................... 14 1.10 Justificativa e objetivos da dissertação ........................................................ 17 2 Referências Bibliográficas .................................................................................................. 19 CAPÍTULO 2 – Tradução, Adaptação Transcultural e Avaliação das Propriedades de Medida da Versão Português-Brasileiro do Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire....................................................................................................24 1 Introdução.................................................................................................................................29 2 Métodos...................................................................................................................................30 2.1 Participantes.....................................................................................................30 2.2 Procedimentos.................................................................................................30 2.3 Tradução e adaptação transcultural..............................................................31 2.4 Teste das propriedades de medida................................................................33 2.5 Análise estatística............................................................................................36 3 Resultados..............................................................................................................................37 3.1 Tradução e adaptação transcultural............................................................37 3.2 Teste das propriedades de medida..............................................................38 4 Discussão..............................................................................................................................42 5 Conclusão..............................................................................................................................42 6 Referências............................................................................................................................48 7 Apêndice 1 - Versão português-brasileiro do Örebro Musculoeskeletal Pain Screening Questionnaire............................................................................................................................51 8 Apêndice 2 - Orientações para pontuação do ÖMPSQ versão em português- brasileiro....................................................................................................................................55 CAPÍTULO 3 – Considerações finais .....................................................................................56 ANEXO – Normas para publicação no periódico Spine....................................................62 i PREFÁCIO Esta dissertação de mestrado aborda temas relacionados à dor lombar, especificamente sobre o instrumento de triagem Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire, bem como a avaliação de fatores psicossociais relacionados à dor lombar. É constituída por três capítulos, sendo que cada um deles apresenta a sua própria lista de referências bibliográficas. O Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo permite a inclusão de artigos publicados, aceitos, submetidos ou em preparação para publicação a serem incluídos em seu formato de publicação ou submissão no corpo do exemplar da dissertação. O capítulo 1 apresenta uma contextualização de temas relevantes relacionados à dor lombar, como a prevalência, custos, classificação, prognóstico, diagnóstico, principais intervenções de tratamento, fatores relacionados à cronificação dos sintomas e instrumentos utilizados para a triagem destes pacientes. Neste mesmo capítulo será apresentado o instrumento Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire bem como definições e diretrizes relacionadas aos estudos de tradução, adaptação transcultural e avaliação das propriedades de medida de questionários na área da saúde, além dos objetivos da dissertação. O capítulo 2 consiste no estudo de tradução, adaptação transcultural e teste das propriedades de medida da versão em português-brasileiro do instrumento Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire. Este capítulo está formatado de acordo com as normas do períodico Spine, para o qual o artigo foi submetido em 14/11/2013 e está em processo de avaliação pelos revisores. Optamos pela versão em português para apresentação neste capítulo pois ainda não obtivemos a primeira revisão do artigo, assim, as versões em língua portuguesa e inglesa são idênticas. As normas de publicação desse ii periódico podem ser encontradas ao final do texto, anexo à essa dissertação. O capítulo 3 apresenta as considerações finais da dissertação. Além disso, neste capítulo será apresentada uma visão geral do histórico de acontecimentos relacionados à apresentação do trabalho em congressos e consequentes publicações científicas, bem como o desenvolvimento de pesquisas de iniciação científica desenvolvidas em consonância com o presente estudo. iii RESUMO A dor lombar é uma condição clínica comum relacionada a altos custos diretos e indiretos. A identificação de pacientes em risco de desenvolvimento de dor lombar crônica é importante para a determinação de intervenções específicas e eficazes. Dessa forma, há um crescente interesse na literatura em relação à classificação dos pacientes com dor lombar em subgrupos de tratamento. O Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire (ÖMPSQ) é um questionário de triagem e identificação de fatores psicossociais para pacientes com dor lombar aguda ou subaguda. Até o momento, não existem instrumentos de avaliação de fatores psicossociais para pacientes com dor lombar clinimetricamente testados para a população brasileira. Assim, os objetivos deste estudo foram traduzir, adaptar transculturalmente o ÖMPSQ e testar as propriedades de medida da versão português-brasileiro. Para a realização do estudo o ÖMPSQ foi traduzido e adaptado transculturalmente seguindo recomendações das diretrizes existentes. Em seguida, as seguintes propriedades de medida da versão em português- brasileiro do ÖMPSQ foram testadas em 100 pacientes com dor lombar aguda ou subaguda (isto é, com duração inferior a 12 semanas): consistência interna, validade do construto e efeitos de teto e piso foram testados utilizando os valores obtidos dos questionários coletados na linha de base do estudo, e a reprodutibilidade (confiabilidade e concordância) foi avaliada em um delineamento de teste-reteste em um intervalo que variou entre três a sete dias. A validade do construto foi avaliada pela correlação entre o ÖMPSQ com instrumentos que avaliam construtos semelhantes (questionário de incapacidade de Roland-Morris, escala Tampa para cinesiofobia e escala numérica verbal de dor). A consistênciainterna do ÖMPSQ apresentou valores adequados com α = 0,83 (alfa de Cronbach para cada item deletado variando entre 0,81 a 0,84). A confiabilidade foi substancial com valores de Coeficiente de Correlação Intraclasse tipo iv 2,1 = 0,76 (Intervalos de Confiança a 95% = 0,28 a 0,89). A concordância, medida por meio do Erro Padrão da Medida, foi de 10,37 pontos (5% do escore total do instrumento). Foram observadas correlações de boa magnitude para incapacidade (r = 0,73) e cinesiofobia (r = 0,64) e de moderada magnitude para dor (r = 0,36 a 0,46). Não foram detectados efeitos de teto e piso. Os resultados do presente estudo demonstram que o ÖMPSQ apresenta valores aceitáveis de propriedades de medida para uma população de pacientes brasileiros com dor lombar não específica, aguda ou subaguda. Dessa forma, o ÖMPSQ pode ser utilizado clinicamente para a triagem e avaliação de fatores psicossociais relacionados à cronificação em pacientes com dor lombar. Palavras-chave: dor lombar, questionários, prognóstico, psicometria, fisioterapia, triagem, validação, tradução v ABSTRACT Low back pain is a common clinical condition which is associated with high direct and indirect costs. The identification of patients at risk of developing chronic low back pain is important for the determination of specific and effective interventions. Thus, there is increasing interest in the literature regarding treatments based on the classification of subgroups of patients with low back pain. The Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire (ÖMPSQ) is a screening questionnaire for the identification of psychosocial factors in patients with acute or subacute low back pain. To date, there are no instruments to assess psychosocial risk factors for low back pain patients translated and tested for the Brazilian population. The objectives of this study were to translate, cross-culturally adapt and to test the measurement properties of the Brazilian-Portuguese version of the ÖMPSQ. The ÖMPSQ was translated and cross-culturally adapted into Brazilian-Portuguese following the recommendations of existing guidelines. The following measurement properties of the Brazilian-Portuguese version of ÖMPSQ were tested in 100 patients with acute or subacute low back pain (ie, less than 12 weeks): internal consistency, construct validity and ceiling and floors effects were tested using the data obtained at baseline assessment of the study, and reproducibility (reliability and agreement) was evaluated in a test-retest design with an interval that ranged from three to seven days. The construct validity was assessed by correlating the ÖMPSQ with instruments that assess similar constructs (i.e., Roland-Morris Disability Questionnaire, Tampa Scale of Kinesiophobia and the Numerical Pain Rating Scale). The internal consistency of ÖMPSQ was adequate with α = 0.83 (Cronbach's alpha for each item deleted ranged from 0.81 to 0.84). The reliability was substantial with an Intraclass Correlation Coefficient2,1 of 0.76 (95 % Confidence Interval = 0.28 to 0.89). The agreement measured by the standard error of measurement was 10.37 points (5 %). The vi correlation was good for disability (r = 0.73) and kinesiophobia (r = 0.64) and moderate for pain (r = 0.36 to 0.46). We did not detect any ceiling or floor effects. The results of this study demonstrated that the Brazilian-Portuguese version of the ÖMPSQ had acceptable measurement properties for patients with nonspecific acute or subacute low back pain. Therefore the ÖMPSQ can be used clinically for screening and evaluating psychosocial factors related to chronicity in patients with low back pain. Keywords: low back pain, questionnaires, prognosis, psychometrics, physical therapy, screening, validation, translation. CAPÍTULO 1 - CONTEXTUALIZAÇÃO 2 1 INTRODUÇÃO A dor lombar pode ser definida como dor ou desconforto entre as margens costais e pregas glúteas inferiores, com ou sem irradiação para os membros inferiores1. É uma condição comum na prática clínica que representa um importante problema de saúde pública1-3. A dor lombar está relacionada a elevados níveis de absenteísmo do trabalho e altos custos diretos e indiretos4-6. Os pacientes com dor lombar podem apresentar dor, incapacidade e alterações emocionais devido à característica multifatorial da dor lombar1, 3, 7, 8. 1.1 Epidemiologia da dor lombar A dor lombar é uma condição com alta prevalência entre as disfunções musculoesqueléticas9, 10. A prevalência é uma medida útil que permite a avaliação da extensão do problema em uma determinada população. Pode medir quantas pessoas apresentam o problema em um dado momento, o que pode ser em um ponto específico no tempo (prevalência pontual), ou em um período passado como uma semana, um mês, um ano ou em toda a vida, fornecendo uma informação ao longo do tempo. A prevalência pontual da dor lombar é de 11,9% e a prevalência nos últimos 30 dias foi estimada em 23,2%9. Estudos indicam que a dor lombar é mais frequente em mulheres e em indivíduos entre 40 e 80 anos9, 11. A dor lombar continua sendo um problema de saúde pública global, com uma estimativa de 632 milhões de pessoas sintomáticas em todo mundo10. É considerada a maior causa de incapacidade dentre mais de 200 condições de saúde, apresentando um aumento expressivo de 45% entre os anos de 1990 e 2010 na população mundial10, 12. No Brasil, além de ser considerada a segunda condição de saúde mais relatada entre a população segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística13, é a terceira maior causa de incapacidade e perda de anos de 3 trabalho entre diversas condições de saúde12. Dois estudos relacionados à prevalência da dor lombar em cidades brasileiras apresentam valores de prevalência pontual de 14,7%14 e prevalência nos últimos 12 meses de 63,1%15. Em um recente estudo com 5914 pacientes, os autores compararam dados de prevalência de dor lombar nos últimos três meses nos anos de 2002 e 2010, descrevendo um aumento de 4,2% para 9,6%, ressaltando a importância do impacto social dessa condição16. Como um problema de saúde pública, a dor lombar acarreta grandes custos sociais e econômicos à sociedade. De acordo com uma revisão sistemática, estima-se que os custos diretos associados à dor lombar variam entre 12 a 90 bilhões de dólares nos Estados Unidos17, e de 2 a 4 bilhões de euros anuais em países europeus3. No Brasil não há dados referentes a este assunto. Nos Estados Unidos, os custos diretos (consultas médicas, exames diagnósticos, internações, serviços de emergência e medicamentos) e indiretos (absenteísmo, aposentadoria precoce, licença por doença, comprometimento do desempenho funcional e ocupacional e prejuízos de produção) são responsáveis por gastos de cerca de 100 bilhões de dólares anuais18. Os afastamentos do trabalho geram uma perda estimada de 149 milhões de dias de trabalho anualmente nos Estados Unidos19, o que corresponde a uma perda de produtividade de cerca de 28 bilhões de dólares20, 21. Por fim, as evidências atuais demonstram que não há uma relação direta entre o aumento nos custos com o tratamento da dor lombar e o tempo de comprometimento funcional em pacientes crônicos17. Porém, há uma importante diminuição dos custos quando os pacientes são encaminhados e tratados de maneira adequada logo no início dos sintomas4, 5. 1.2 Diagnóstico da dor lombar O diagnóstico adequado da dor lombar é uma decisão complexa na prática 4 profissional, e é importante para excluir doenças graves, direcionar o tratamentoe predizer o prognóstico dos pacientes2. Esse diagnóstico é baseado na avaliação clínica que inclui história clínica e exame físico, devendo ser realizado de maneira clara e ser baseado em um processo lógico22. A dor lombar pode ser classificada em três grupos: 1) dor lombar não específica, relacionada à dor de origem musculoesquelética, apresentando dor entre as margens costais e a prega glútea inferior com ou sem irradiação para membros inferiores, variando com atividade física e com o tempo, representando aproximadamente 95% dos casos; 2) dor lombar por compressão de raiz nervosa, que pode surgir a partir de uma hérnia discal, estenoses da coluna ou cicatrizes cirúrgicas, caracterizada por dor irradiada para o membro inferior até o pé ou a perna unilateralmente com presença de sintomas neurológicos (redução de reflexos tendinosos, hipoestesia e redução de força muscular), responsável por menos de 5% dos casos; e 3) dor lombar por doenças severas da coluna vertebral incluindo doenças inflamatórias (espondilite anquilosante, por exemplo), tumores, fraturas e infecções da coluna vertebral, que representam menos de 1 % dos casos22. Além disso, a dor lombar também pode ser classificada de acordo com a duração dos sintomas, sendo até seis semanas classificada como dor lombar aguda; de seis a 12 semanas como subaguda; e superior a 12 semanas como dor lombar crônica3. Evidências atuais indicam que a utilização de exames de imagem para o diagnóstico patoanatômico em pacientes com dor lombar não é útil23. A rotina de realização desses exames não está relacionada à benefícios clínicos importantes, além de expôr o paciente à riscos e gerar custos desnecessários ao paciente e ao sistema de saúde. As diretrizes1, 3 indicam que a solicitação de exames de imagem deve ser baseada em um exame clínico detalhado, e indicada apenas para pacientes de alto risco, com comprometimentos neurológicos severos ou progressivos, com suspeita de alguma 5 doença grave (câncer, infecção, fratura) ou que tentaram tratamento conservador sem sucesso24. 1.3 Prognóstico da dor lombar As classificações relacionadas a diagnóstico, bem como por tempo de duração auxiliam na determinação do prognóstico do paciente. De acordo com uma recente meta- análise25, o prognóstico da dor lombar tanto aguda quanto persistente (subaguda e crônica) é favorável nas primeiras seis semanas em relação à dor e incapacidade, entretanto após esse período a melhora ocorre de maneira mais lenta. Assim, mesmo após o período de um ano alguns pacientes tornam-se crônicos e permanecem com alguma queixa de dor ou incapacidade. De acordo com um estudo de coorte8 com 973 pacientes com dor lombar crônica, cerca de um terço dos pacientes apresentam melhora dentro do período de um ano. O prognóstico é menos favorável para os pacientes que já tiveram episódios de afastamentos do trabalho anteriores por causa da dor lombar, altos índices de dor e incapacidade no início dos sintomas, baixo nível educacional e a auto- percepção de ser uma pessoa em risco de desenvolvimento de dores persistentes8, 25, 26. 1.4 Subgrupos para pacientes com dor lombar Há um crescente interesse em pesquisas com o objetivo de entender melhor os subgrupos de pacientes27-29. A classificação dos pacientes em subgrupos de tratamento baseados na duração dos sintomas, comportamento da dor e/ou fatores de risco associados pode facilitar a tomada de decisão clínica e a construção de um raciocínio clínico adequado, além de auxiliar a diminuição de gastos com exames diagnósticos, minimizar a preocupação dos pacientes sobre a sua própria condição e predizer o prognóstico de evolução da condição30, 31. Uma recente pesquisa com pacientes com dor lombar tratados por profissionais 6 de atenção primária à saúde no Reino Unido demonstrou que a escolha do melhor tratamento orientada por um instrumento de triagem baseado em fatores psicossociais tem papel fundamental para uma melhor conduta no tratamento da dor lombar, gerando mais benefícios em relação à função e qualidade de vida dos pacientes e menores custos quando comparados à conduta tradicional de tratamento da dor lombar32. Nesse estudo, os participantes foram divididos em dois grupos: um grupo recebeu tratamento baseado na triagem de fatores psicossociais e o outro recebeu tratamento convencional. Os autores encontraram que o grupo de pacientes que foi tratado de acordo com classificação de subgrupos apresentou mudanças significativas em relação ao grupo controle. Em relação à função, no período de quatro meses, a alteração na pontuação do questionário de incapacidade de Roland-Morris foi de 5,9 pontos comparado a 4,7 pontos no grupo de tratamento convencional. Após 12 meses as mudanças foram de 4,3 e 3,3 pontos, respectivamente. Além disso o custo de tratamento foi reduzido de £274,40 para £240,00. Dessa forma, a classificação de acordo com a presença de fatores psicossociais em pacientes com dor lombar já vem sendo utilizada e parece ser útil para orientar um tratamento mais eficaz e reduzir os custos relacionados ao tratamento32. A avaliação de fatores biopsicossociais envolvidos com a dor lombar pode indicar melhor os tratamentos para cada subgrupo de pacientes de acordo com fatores prognósticos ou por meio de um conjunto de sinais clínicos específicos33-35. Não existem evidências de alta qualidade indicando o uso de tal metodologia, já que a maioria das classificações é baseada em teorias que ainda não foram validadas ou replicadas. A maioria das diretrizes para tratamento de dor lombar não recomenda a classificação de pacientes em subgrupos, essencialmente pelo fato de não haver pesquisas sobre o assunto, sendo assim um tema com grande prioridade em pesquisas de alta qualidade27. A mais recente diretriz2 para o tratamento de dor lombar cita a classificação por grupos e 7 indica as classificações por subgrupos realizadas por Fritz et al36, a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF)37, a ferramenta Subgroups for Targeted Treatment (STarT) Back Screening Tool38 e o Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire (ÖMPSQ)39. Dessa forma, a classificação em subgrupos de dor lombar tem sido identificada como prioridade de pesquisa, sendo assim possível determinar qual seria o melhor tratamento para cada paciente27, 40. No entanto, até o momento, apenas a CIF está disponível em português-brasileiro e não possui a função de triagem e sim de classificação funcional do paciente. Sendo assim, a tradução e adaptação dos instrumentos de identificação de fatores psicossociais em pacientes com dor lombar para o português-brasileiro tornam-se necessárias. 1.5 Conceito de “identificação de bandeiras” em dor lombar Como citado acima, a dor lombar continua sendo uma importante causa de dor e incapacidade crônica entre os trabalhadores. Enquanto a maioria dos pacientes agudos melhoram de maneira importante com apenas alguns dias de afastamento, existe uma parcela desta população que desenvolve dor crônica e, consequentemente, necessita de grandes períodos de afastamento do trabalho41. O tratamento para dor lombar não específica baseado em informações anatômicas e fisiológicas não é indicado, demonstrando uma possível falha do sistema biomédico na conduta terapêutica com esses pacientes22. No entanto, estudos epidemiológicos nos indicam que fatores pessoais, psicológicos, trabalhistas, atitudes e crenças sobre a dor lombar são mais importantes quando avaliamos a cronificação de dor e incapacidade42, 43. Para a avaliação recomenda- se a identificação de sinais clínicos (bandeiras) que indiquem o envolvimento de fatores biopsicossociais22.As bandeiras vermelhas são sinais e sintomas clínicos (por exemplo: febre, 8 sintomas neurológicos, trauma, deformidade estrutural, síndrome da causa equina) que podem ser indicativo de doenças graves da coluna vertebral como tumores, infecções ou doenças inflamatórias graves22. Nessas condições, o paciente deve ser encaminhado para uma avaliação médica mais específica. Já as bandeiras amarelas têm por objetivo indicar o envolvimento de fatores relacionados à condições psicossociais e de ambiente de trabalho que podem contribuir com a cronificação dos sintomas do paciente44. Podemos citar as atitudes e crenças do paciente relacionadas à condição, comportamento, humor, depressão e aspectos familiares e trabalhistas como importantes fatores prognósticos entre os pacientes com dor lombar não específica aguda e subaguda22, 43. Devido a sua importância, as condições relacionadas ao trabalho foram divididas em mais duas subclassificações: 1) as bandeiras pretas, que indicam as condições do local de trabalho que podem contribuir para a incapacidade do paciente, e incluem tanto características da relação empregado-empregador (categoria I) quanto das demandas físicas do trabalho em questão (categoria II); e 2) as bandeiras azuis, que indicam fatores relacionados a percepção individual do trabalho pelo paciente. Uma revisão recente indica sete grandes fatores a serem observados: demanda de trabalho, habilidade de modificar o trabalho, estresse, suporte social, satisfação com o trabalho, expectativa de retorno ao trabalho e medo de recidiva de lesão45. A avaliação de fatores psicossociais, auxiliada pela identificação de bandeiras, deve ser incluída na rotina clínica de profissionais que lidam com pacientes com dor lombar. A partir disto pode ser possível, não somente tratar os sintomas apresentados, mas também identificar pacientes em risco e, consequentemente, propor intervenções preventivas no intuito de evitar a cronificação de incapacidade e dor46. 9 1.6 Fatores psicossociais relacionados à dor lombar Pesquisas atuais recomendam um tratamento multidisciplinar baseado em um modelo biopsicossocial22. A transição da dor lombar aguda para crônica está relacionada a diversas variáveis psicossociais, as “bandeiras amarelas”, e as diretrizes de tratamento recomendam a avaliação dessas variáveis3, 47, 48. É importante salientar que quando levadas em consideração de maneira isolada, o valor prognóstico dessas variáveis é baixo, enfatizando a importância de uma avaliação multidimensional22, 43. Assim, instrumentos específicos para avaliação de fatores psicossociais para pacientes com dor lombar são importantes por alguns motivos. Recentes revisões sistemáticas têm mostrado que os fatores psicológicos estão fortemente associados com a cronificação do problema e podem ser considerados como potenciais fatores de risco para essa cronificação dos sintomas42, 47-49. A utilização de instrumentos de medida não é comum na prática clínica de profissionais de primeiro contato de atenção à saúde. Isso pode ser devido ao fato de caracterizar uma busca ativa por pacientes, que o sistema de saúde não suportaria atender, ou ainda pelo escasso tempo que os profissionais passam com os pacientes. Uma possível estratégia para estimular o uso destas ferramentas de avaliação seria a disponibilização de instrumentos de avaliação simples e de rápida aplicação48. A avaliação de fatores psicossociais relacionados ao risco de cronificação em pacientes com dor lombar deve ser feita por meio de instrumentos adequados38, 39, 50, 51. O ÖMPSQ39, também conhecido como Acute Low Back Pain Screening Questionnaire, é um instrumento que tem por objetivo identificar o risco de desenvolvimento de dor lombar crônica e incapacidade relacionada a fatores psicológicos (bandeiras amarelas)48, 49. O ÖMPSQ é composto por domínios selecionados a partir de uma revisão52 que 10 identificou importantes fatores de risco relacionados ao afastamento do trabalho e incapacidade. Dessa forma é possível analisar cinco domínios de fatores de risco relacionados à cronificação em pacientes com dor lombar: intensidade da dor, função percebida, variáveis psicológicas, crenças relacionadas ao medo do movimento e questões demográficas, ambientais e relacionadas ao trabalho. Das 25 questões do ÖMPSQ, quatro questões são demográficas e as demais são pontuadas de acordo com uma escala do tipo Likert de 11 pontos. O escore total varia de 2 a 210 pontos, em que valores maiores indicam um alto risco de cronificação. A validade preditiva foi descrita por diversos estudos53-58 e os seguintes pontos de corte foram estabelecidos com o intuito de classificar os pacientes: baixo risco (pontuação menor que 90), médio risco (entre 91 e 105 pontos) e alto risco (maior que 105 pontos)59. A confiabilidade da classificação do instrumento ÖMPSQ foi testada e apresenta um índice Kappa de 0,8339. A validade preditiva também foi investigada em alguns estudos e recentemente resumida em uma revisão sistemática49, que demonstra moderada evidência para predição de afastamento do trabalho, dor e função. Isso demonstra que, apesar de ser uma ferramenta útil para utilização clínica, não deve ser vista de maneira isolada, e sim em complemento a uma avaliação clínica completa. Ademais, os autores dessa revisão sugerem a continuidade de estudos de alta qualidade utilizando o instrumento, bem como a tradução e adaptação transcultural para outros idiomas39, 48. 1.7 Traduções do instrumento Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire O instrumento ÖMPSQ foi testado e adaptado transculturalmente apenas para o mandarim60 , francês61, holandês62 e norueguês63. A versão em mandarim do instrumento foi validada em um estudo com 45 pacientes com dor lombar aguda e demonstrou consistência interna adequada (alfa de Cronbach = 0,88) e correlações de fracas a boas 11 com instrumentos similares : Faces Pain Scale-Revised (r = 0,74), Chinese (Hong Kong) SF-12 Health Survey (subescala mental: r = -0,47; subescala física: r = -0,62) e o Chinese Hospital Anxiety and Depression Scale (subescala ansiedade: r = 0,42; subescala de depressão: r = 0,43). A validade preditiva na população chinesa foi testada em 241 pacientes com dor lombar aguda e subaguda64, o valor de área sob a curva ROC (receiver operator characteristic) foi de 0,69 para retorno ao trabalho e 0,71 para tempo de afastamento de trabalho, sendo o valor de 0,70 considerado como adequado65, o que demonstra uma boa capacidade preditiva. A versão francesa do ÖMPSQ foi validada em um estudo com 91 pacientes com dor lombar aguda ou subaguda. A validade preditiva da versão francesa apresentou valores adequados de área sob a curva ROC variando entre 0,73 a 0,83, o que também confirma a boa capacidade preditiva desse instrumento. Os valores de ponto de corte para determinar baixo ou alto risco de cronificação foram 71 pontos (baixo risco) e 106 pontos (alto risco). A versão holandesa do ÖMPSQ foi validada em uma população de 69 pacientes com dor lombar aguda e subaguda apresentando consistência interna adequada (alfa de Cronbach = 0,81). A validade convergente foi confirmada com valores de moderadas a boas correlações com construtos de dor, incapacidade e aspectos psicológicos (r = 0,38 a 0,64). A análise fatorial exploratória da versão holandesa considerou a supressão de valores menores que 0,40 e revelou os mesmos domínios que a versão original do instrumento. Por fim, a versão norueguesa do instrumento ÖMPSQ foi validada em uma população de 123 pacientes com dor lombar aguda. O instrumento apresentou confiabilidade substancial (Coeficientede Correlação Intraclasse1,1 = 0,90), a validade de construto variou entre correlações boas com incapacidade (r ≥ 0,60), correlações moderadas com idade, intensidade da dor e questões psicológicas (r = 0,30 a 0,60) e correlações fracas com as questões sociodemográficas (r ≤ 0,30). Os autores sugerem que o ponto de corte seja 12 feito em 90 pontos, classificando os pacientes em baixo ou alto risco. Os estudos citados apresentam valores aceitáveis das propriedades de medida, possibilitando e validando o uso do instrumento na população alvo. No entanto, tais estudos apresentam e analisam os dados de diferentes maneiras, e por vezes utilizando diferentes fatores em relação ao original, não havendo um padrão consistente para a comparação entre os estudos. Esse fato dificulta a análise da validade preditiva, aplicabilidade do instrumento e discussão comparativa do mesmo instrumento aplicado em diferentes populações. Sugere-se que as traduções, adaptações e análise de propriedades de medida sejam sempre feitas de acordo com diretrizes reconhecidas na literatura65, 66. 1.8 Processo de tradução e adaptação transcultural de questionários Os questionários ou instrumentos de avaliação foram, em sua maioria, desenvolvidos em língua inglesa, sendo direcionados especificamente para pessoas nativas em países que utilizam a língua inglesa como oficial66, 67. Para a sua utilização em outros idiomas ou outras populações, é fundamental que o instrumento seja traduzido e adaptado transculturalmente de maneira adequada. Dessa forma, os clínicos e pesquisadores podem ter acesso a conceitos válidos e medidas confiáveis da sua própria cultura e idioma, sendo capazes de avaliar o paciente de uma maneira válida e confiável66, 68. O processo de tradução e adaptação transcultural de instrumentos ou escalas para uso em ambiente clínico ou de pesquisa é complexo, de forma que já existem diretrizes bem estabelecidas para que o processo seja realizado de maneira adequada, atingindo a equivalência original, no que diz respeito à linguagem (equivalência semântica e idiomática), experiências de vida diária e formas de pensar66, 67. Este processo é importante para que sejam esclarecidos problemas de costumes, 13 linguagem e percepção de saúde entre países e culturas diferentes, permitindo comparações entre diferentes populações e troca de informações através de barreiras linguísticas e culturais66. Para uma adaptação transcultural metodologicamente correta, o processo deve constar de cinco estágios: Estágio 1 - Tradução inicial: realizada com dois tradutores bilíngues independentes que traduzem o instrumento do idioma original. Os tradutores devem possuir o idioma-alvo como primeiro idioma; Estágio 2 - Síntese da tradução: é realizada uma reunião com os dois tradutores e um observador. Após discussão, os dois tradutores (T1+T2) devem chegar a um consenso e uma versão única do questionário (T12) deve ser obtida; Estágio 3 - Retro-tradução: A partir da versão T12, de maneira cega, dois novos tradutores bilíngues (RT1 e RT2) devem realizar uma tradução da versão para o idioma original; Estágio 4 - Comitê de experts: é formado um comitê composto por profissionais da saúde, tradutores (T1, T2, RT1 e RT2) e autores para revisar as traduções, discutir possíveis discrepâncias e desenvolver a versão final do instrumento que será testado; Estágio 5 - Pré-teste: Com o objetivo de testar a versão pré-final, recomenda-se a realização de um piloto com uma amostra de, pelo menos, 30 participantes. Ao final dessa etapa todos os relatórios e formulários são enviados à comissão, mantendo o controle da versão da tradução66. 14 1.9 Propriedades de medida de questionários As propriedades de medida são indicadores que permitem eleger o melhor instrumento a ser usado para determinada condição avaliada no meio clínico ou acadêmico65. Tais propriedades abrangem critérios necessários para a determinação da qualidade metodológica de estudos sobre avaliação e desenvolvimento de questionários na área da saúde. Atualmente, as diretrizes definem oito principais atributos para uma melhor avaliação dos instrumentos65, descritos a seguir: 1 - Validade de conteúdo: tem por objetivo avaliar a extensão com a qual os itens do questionário representam os conceitos de interesse estudados. Esta propriedade é pontuada como positiva se o objetivo do instrumento é válido, se a população alvo avaliada é claramente determinada, se os conceitos avaliados pelo instrumento são claros, se foi realizada uma seleção de itens de forma a melhorar a leitura e compreensão do instrumento e se o questionário é de fácil interpretação. Se não for realizada uma descrição clara dos itens acima descritos, a validade de conteúdo é pontuada como indeterminada65; 2 - Consistência interna: é a medida que descreve a correlação dos itens de um questionário (ou suas subescalas), ou a homogeneidade do instrumento. Para a verificação da dimensionalidade das escalas do instrumento deve ser realizada a análise fatorial de cada escala ou subescala, determinando a quantidade de dimensões que compõem o questionário. O número necessário de participantes para a análise fatorial é uma questão de debate, como regra utiliza-se o número de quatro a 10 participantes por variável, com um número mínimo de 100 participantes para assegurar a estabilidade da matriz de variância e covariância65. Após a determinação do número de subescalas (homogêneas), o índice alfa de Cronbach deve ser calculado para cada uma delas, 15 separadamente. Valores muito baixos de alfa de Cronbach indicam fraca correlação entre os itens, e valores elevados indicam fortes correlações entre os itens. No entanto, devido ao fato do índice alfa de Cronbach ser dependente do número de questões do questionário, é importante notar que valores muito altos podem ser encontrados em escalas com muitos itens. Considera-se valores de alfa como adequados quando maiores ou iguais a 0,70 e menores que 0,9565; 3 - Validade de critério: é a medida em que a pontuação de um questionário se relaciona com o padrão ouro. Considera-se a avaliação positiva se forem apresentados argumentos convincentes de que o instrumento realmente reflete o padrão ouro e se a correlação com o padrão ouro for de pelo menos 0,7065; 4 - Validade do construto: tem por objetivo examinar a extensão da pontuação de um questionário específico relacionado com outras medidas similares, de forma que seja consistente com as hipóteses relacionadas aos conceitos que estão sendo medidos. Considera-se a classificação como positiva para validade de construto quando as hipóteses são especificadas antecipadamente e pelo menos 75% dos resultados estão em correspondência com estas hipóteses, em grupos ou subgrupos de pelo menos 50 pacientes65; 5 - Reprodutibilidade: tem o objetivo de verificar a capacidade do instrumento em obter os mesmos resultados com diferentes avaliadores e em diferentes ocasiões (teste-reteste) em pessoas clinicamente estáveis. A reprodutibilidade é um termo geral que engloba duas propriedades: confiabilidade e concordância65, 69. A confiabilidade mede até que ponto pessoas podem ser distinguidas entre si, apesar dos erros de medida. Em outras palavras, a confiabilidade nada mais é do que o erro relativo de um instrumento de medida e é mensurada pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse. Já a 16 concordância pode ser definida como o erro absoluto do instrumento de medida, e é expressa nas mesmas unidades de medida do instrumento através do Erro Padrão da Medida69; 6 - Responsividade: é definida como a capacidadedo questionário em detectar alterações clínicas ao longo do tempo no construto que está sendo medido, mesmo que essas sejam pequenas53, 65. Pode ser dividida em responsividade interna e externa. A responsividade interna é uma medida longitudinal, caracterizada pela capacidade de detectar mudanças ao longo de um período de tempo pré-especificado. A responsividade externa indica a extensão em que as mudanças de uma medida ao longo de um período de tempo especificado estão relacionadas com as alterações observadas em uma medida de referência do estado de saúde65; 7 – Efeitos de teto e piso: Os efeitos de teto e piso são considerados presentes quando mais de 15% dos participantes respondem com níveis máximo (teto) ou mínimo (piso) dos questionários65. Uma das consequências dos efeitos de teto e piso é a impossibilidade de distinção entre os participantes que respondem com níveis muito baixos ou muito altos do questionário e os demais participantes, levando à redução da confiabilidade do instrumento. Os efeitos de teto e piso são calculados por análises de frequência (somando-se o número de participantes que responderam com escores máximo e mínimo e convertendo os valores em percentuais); 8 - Interpretabilidade: definida como o grau pelo qual se pode atribuir significado qualitativo para escores quantitativos. Considera-se uma classificação positiva quando há apresentação de média e desvio-padrão dos escores de informações relacionadas aos pacientes. Ademais, uma mudança minimamente importante deve ser definida, para permitir a interpretação das pontuações de mudança ao longo do tempo e 17 os cálculos do tamanho da amostra, sendo recomendado uma população de, no mínimo, 50 participantes65. O ÖMPSQ é um instrumento de triagem e avaliação inicial de paciente com dor lombar aguda e subaguda para a identificação de fatores psicossociais. Por conta de sua característica e objetivo, não é necessária a avaliação de todas as propriedades de medida. A avaliação da responsividade não é necessária tendo em vista que o objetivo do instrumento não é detectar mudanças clínicas em um período de tempo. A validade de critério também não pode ser analisada pois não há na literatura um consenso sobre o padrão ouro para avaliação de bandeiras amarelas em pacientes com dor lombar. A interpretabilidade não será analisada por não haver dados de coleta relacionados a interpretação do questionário entre os subgrupos e também em um período de follow-up. Já a validade de conteúdo é um conceito que mensura a qualidade com que os resultados são apresentados; ao apresentar os resultados, essas recomendações serão seguidas. Por fim, a análise fatorial não será realizada pelo fato de considerarmos que o ÖMPSQ é um instrumento de mensuração do construto “risco” do desenvolvimento de incapacidade e dores crônicas relacionado a fatores psicossociais. Assim, considera-se que a versão português-brasileiro contenha os domínios da versão original e que componham o mesmo construto. 1.10 Justificativa e objetivos da dissertação Apesar de existirem diversos questionários específicos de dor lombar testados para as propriedades de medida já adaptados para o português-brasileiro70-73, não há consenso sobre a classificação de pacientes com dor lombar em subgrupos. Mesmo com as recomendações de diretrizes e estudos recentes a respeito dos fatores de risco envolvidos com o desenvolvimento de dor lombar crônica, um recente estudo30 notou 18 que os fisioterapeutas brasileiros mostram-se incertos acerca dos fatores que envolvem o desenvolvimento e a manutenção da dor lombar crônica e também sobre a relação entre dor e incapacidade nesses pacientes. Assim, é urgente a necessidade de instrumentos que facilitem a triagem, avaliação e que orientem a necessidade de tratamento específico dos fatores de risco. Dessa forma, permanece a dúvida de que talvez podemos não estar tratando os pacientes que precisam de um pouco mais de atenção de maneira adequada e também estar tratando em excesso aqueles com um prognóstico favorável mediante tratamento com pequenas intervenções38. Instrumentos como o ÖMPSQ, que não possui a sua versão traduzida e adaptada para a população brasileira, são ferramentas importantes para o desenvolvimento de pesquisas que favoreçam a classificação de pacientes portadores de dor lombar não específica baseada na presença de fatores psicossociais, possibilitando a melhor orientação no tratamento destes pacientes. Dessa forma, os objetivos do presente estudo são traduzir e adaptar transculturalmente o ÖMPSQ e testar as propriedades de medida da versão em português-brasileiro do questionário. 19 2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Airaksinen O, Brox JI, Cedraschi C, et al. Chapter 4. European guidelines for the management of chronic nonspecific low back pain. Eur Spine J 2006;15 Suppl 2:S192-300. 2. Delitto A, George SZ, Van Dillen LR, et al. Low back pain. J Orthop Sports Phys Ther 2012;42(4):A1-57. 3. van Tulder M, Becker A, Bekkering T, et al. Chapter 3. 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CAPÍTULO 2 TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES DE MEDIDA DA VERSÃO PORTUGUÊS-BRASILEIRO DO ÖREBRO MUSCULOSKELETAL PAIN SCREENING QUESTIONNAIRE 25 Tradução, Adaptação Transcultural e Avaliação das Propriedades de Medida da Versão Português-Brasileiro do Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire Translation and cross-cultural adaptation of Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire and measurement properties of the Brazilian-Portuguese version Autores: Felipe Ribeiro Cabral Fagundes¹, Leonardo Oliveira Pena Costa1,2, Fernanda Ferreira Fuhro3, Ana Carolina Tacollini Manzoni3, Naiane Teixeira Bastos de Oliveira1, Cristina Maria Nunes Cabral¹* 1Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia - Universidade Cidade de São Paulo – São Paulo, Brasil 2Musculoskeletal Division, The George Institute for Global Health – Sydney, Australia 3Graduação em Fisioterapia – Departamento de Fisioterapia - Universidade Cidade de São Paulo – São Paulo, Brasil Estudo realizado com concessão de bolsa de mestrado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP – 2012/13768-1) * Autor Correspondente: Rua Cesário Galeno 448/475, CEP 03071-000, Tatuapé, São Paulo, SP, (11) 2178 1565, cristina.cabral@unicid.edu.br 26 Tradução, Adaptação Transcultural e Avaliação das Propriedades de Medida da Versão Português-Brasileiro do Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire Resumo Desenho do estudo. Tradução, adaptação transcultural e avaliação das propriedades de medida da versão português-brasileiro do Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire (ÖMPSQ) Objetivo. Traduzir, adaptar transculturalmente o ÖMPSQ e testar as propriedades de medida da versão português-brasileiro. Introdução. O ÖMPSQ é um questionário de triagem e identificação de fatores psicossociais para pacientes com dor lombar aguda ou subaguda. Até o momento, a versão português-brasileiro do ÖMPSQ não teve suas propriedades de medida testadas. Métodos. O ÖMPSQ foi traduzido e adaptado transculturalmente de acordo com recomendações das diretrizes existentes. Em seguida, as seguintes propriedades de medida da versão em português-brasileiro foram testadas em 100 pacientes com dor lombar aguda ou subaguda: consistência interna, reprodutibilidade, validade do construto e efeitos de teto e piso. Essas propriedades foram avaliadas em um delineamento de teste-reteste com intervalo que variou entre três a sete dias. Para a avaliação da validade do construto, foram utilizados o questionário de incapacidade de Roland-Morris, escala Tampa de cinesiofobia e escala numérica de dor. Resultados. A consistência interna do ÖMPSQ apresentou valores adequados com alfa de Cronbach de 0,83 (alfa de Cronbach para cada item deletado variou de 0,80 a 0,84). A confiabilidade foi substancial com valores de Coeficiente de Correlação Intraclasse do tipo 2,1 de 0,76 (Intervalo de Confiança a 95% = 0,28 a 0,89) e a concordância, medida por meio do Erro Padrão da Medida, foi de 10,37 pontos (5% do escore total). A análise da validade do construto mostrou correlação moderada do escore total do ÖMPSQ com a escala numérica de dor atual (r = 0,36), dor nas duas últimas semanas (r = 0,37) e dor na última crise (r = 0,46), e correlação boa com o questionário de incapacidade de Roland-Morris (r = 0,73) e a escala Tampa de cinesiofobia (r = 0,64). Não foram detectados efeitos de teto e piso. Conclusões. Os resultados do presente estudo demonstram que a versão em português-brasileiro do ÖMPSQ apresenta propriedades de medida com valores 27 aceitáveis. Dessa forma, o uso do ÖMPSQ pode auxiliar no desenvolvimento de melhores estratégias de tratamento de pacientes com dor lombar aguda e subaguda que falam a língua portuguesa. Palavras-chave: dor lombar, questionários, prognóstico, triagem, psicometria, tradução, psicossocial, fisioterapia, classificação Pontos-chave As propriedades de medida da versão traduzida para o português- brasileiro do ÖMPSQ foram devidamente testadas em uma população de pacientes brasileiros com dor lombar não específica, aguda ou subaguda. A versão português-brasileiro do ÖMPSQ demonstrou valores adequados de consistência interna (α=0,83), valores substanciais de confiabilidade (CCI2,1 = 0,76;IC 95% = 0,28 a 0,81), valor muito bom de concordância (EPM = 10,37 pontos, 5%) e a validade do construto variou entre correlações moderadas e boas (r = 0,36 a 0,73) com instrumentos que medem construtos semelhantes (dor, função e cinesiofobia). 28 Mini-resumo Apresentamos a versão traduzida e adaptada para português-brasileiro do instrumento de triagem Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire para pacientes com dor lombar. Após a tradução analisamos consistência interna, confiabilidade (reprodutibilidade e concordância), validade do construto e efeitos teto e piso. O instrumento apresentou valores aceitáveis para as propriedades de medida testadas. 29 INTRODUÇÃO A dor lombar é uma condição comum na prática clínica e um importante problema de saúde pública. Está relacionada a altos custos ao paciente e à sociedade, além de elevados níveis de absenteísmo no trabalho1-5. A identificação precoce de pacientes em risco de desenvolver dores e incapacidades crônicas é de fundamental importância. Dessa forma é importante mensurar os fatores de risco associados à cronificação dos sintomas para auxiliar a melhor tomada de decisão clínica4, 6. A transição da dor lombar aguda para crônica está relacionada a fatores preditores de incapacidade persistente7. Os fatores de estratégias para lidar com a dor, sinais não orgânicos, incapacidade, saúde geral e presença de comorbidades psiquiátricas são importantes preditores do risco de cronificação8. Dessa forma, a avaliação de fatores psicossociais (bandeiras amarelas) em pacientes com dor lombar tem um importante papel no tratamento e deve ser feita com instrumentos específicos3, 9, 10. Uma revisão sistemática7 identificou nove instrumentos de avaliação de fatores prognósticos relacionados à cronificação de pacientes com dor lombar aguda, sendo o “afastamento do trabalho”, “incapacidade funcional” e “dor” os fatores que predizem com maior precisão a cronificação. O Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire (ÖMPSQ)11 tem por objetivo identificar o risco de desenvolvimento de cronificação de dor e incapacidade relacionada a fatores psicossociais em pacientes com dor lombar não específica aguda ou subaguda. O ÖMPSQ tem a vantagem de ser composto por itens que medem fatores de risco como dor, incapacidade, variáveis psicológicas, crenças relacionadas ao medo do movimento, além de questões demográficas, ambientais e fatores relacionados ao trabalho. A maioria dos fatores que compõem o ÖMPSQ são citados pelas revisões mais recentes como importantes preditores de afastamento do trabalho, dor e incapacidade crônica7, 8. O escore do ÖMPSQ classifica o 30 paciente em baixo, médio ou alto risco de cronificação. As diretrizes de tratamento para dor lombar da Nova Zelândia12 recomendam o uso do ÖMPSQ para identificação de bandeiras amarelas em pacientes com dor lombar aguda e subaguda. Estudos recentes confirmam uma habilidade preditiva moderada13-16, recomendando seu uso e sugerindo a sua utilização em outros países. O ÖMPSQ já foi traduzido e adaptado para o norueguês17, francês18, holandês19 e mandarim20. Os questionários de avaliação para pacientes com dor lombar são, em sua maioria, desenvolvidos em língua inglesa21, 22. Para a sua utilização em outros idiomas ou outras populações, é fundamental que o instrumento seja traduzido e adaptado transculturalmente de maneira adequada21. Esse processo, até esse momento, não foi realizado com o ÖMPSQ para o português-brasileiro. Dessa forma, os objetivos deste estudo são traduzir e adaptar transculturalmente o ÖMPSQ e testar as propriedades de medida da versão em português- brasileiro em uma amostra de pacientes com dor lombar aguda ou subaguda. MÉTODOS Participantes Participaram deste estudo 130 pacientes que procuraram tratamento em clínicas de fisioterapia das cidades de Taubaté, São José dos Campos e São Paulo, Brasil, no período de janeiro a abril de 2013. Foram incluídos pacientes com dor lombar não específica aguda ou subaguda (duração superior a um dia e inferior a três meses, precedido por um período de pelo menos um mês sem dor23, 24), maiores de 18 anos e com domínio de leitura e escrita da língua portuguesa. Foram excluídos pacientes que tivessem realizado cirurgia na coluna, com doenças graves de coluna, doenças associadas a comprometimento cognitivo ou que estivessem grávidas. Procedimentos Esse estudo teve consenso do autor original do instrumento por meio de correio 31 eletrônico. Os pacientes que estavam em lista de espera ou em início de tratamento para dor lombar foram convidados por meio de ligação telefônica. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Cidade de São Paulo (CAAE 06679512.1.0000.0064) e todos os pacientes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. Tradução e adaptação transcultural O processo de tradução e adaptação transcultural seguiu as recomendações do Guidelines for the Process of Cross-Cultural Adaptation of Self-Report Measures21, composto por cinco etapas: Tradução inicial, Síntese da tradução, Retro-tradução, Comitê de experts e Pré- teste da versão final (Tabela 1). 32 Tabela 1 – Processo de tradução e adaptação transcultural. Etapa 1 - Tradução inicial Dois tradutores independentes traduziram o instrumento do inglês para o português-brasileiro. Os tradutores possuíam o português-brasileiro como primeiro idioma, sendo que um dos tradutores (T1) era fisioterapeuta e não tinha conhecimento dos objetivos do questionário, fornecendo uma perspectiva clínica. O segundo tradutor (T2) não conhecia o instrumento e não possuía conhecimentos médicos ou clínicos, fornecendo uma linguagem simples utilizada pelos pacientes. Etapa 2 - Síntese da tradução Foi realizada uma reunião com os dois tradutores e os autores. Os dois tradutores (T1+T2) chegaram a uma versão única do questionário (T12). Cada etapa de correção foi documentada com as respectivas estratégias de resolução. Etapa 3 - Retro-tradução A partir da versão T12, dois novos tradutores realizaram uma tradução da versão em português-brasileiro do ÖMPSQ de volta para o inglês. Os dois retro-tradutores (RT1 e RT2) deveriam ter o inglês como primeiro idioma21. Assim, um dos tradutores (RT1) tinha conhecimento na área da saúde e o outro tradutor (RT2) não possuía conhecimento sobre o objetivo do instrumento nem sobre conhecimentos médicos. Etapa 4 - Comitê de experts Com o objetivo de checar a equivalência e confirmar se a versão traduzida condiz com o conteúdo da versão original, formou-se um comitê composto pelos autores e tradutores (T1, T2, RT1 e RT2). A reunião visou revisar as traduções, discutir discrepâncias e desenvolver a versão final do ÖMPSQ. Novamente, todas as alterações e decisões foram documentadas. Etapa 5 - Pré-teste Foi realizado um estudo-piloto com 30 participantes para testar a versão pré-final. Logo após, os participantes foram questionados sobre o significado de cada item do questionário. 33 Teste das propriedades de medida Esta etapa contou com a participação de 100 pacientes avaliados presencialmente na linha de base e reavaliados em um período de três a sete dias por meio de contato telefônico. Este intervalo foi suficiente para evitar a memorização das respostas, não sendo necessário um tempo maior devido ao fato de os construtos investigados não serem rapidamente modificáveis nesses pacientes. Na linha de base foram colhidas informações relacionadas à idade, gênero, características da dor lombar (duração da dor, incômodo e presença de dor referida para membro inferior) e informações sobre trabalho e dias de
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