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Livro Texto Unidade II teoria 2

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Unidade II
TEXTO ORAL E TEXTO ESCRITO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E PEDAGÓGICAS
5 A RELAÇÃO ORALIDADE/ESCRITA E SEUS DIFERENTES NÍVEIS DE 
FORMALIDADE E VARIAÇÃO: UMA QUESTÃO LINGUÍSTICA, SOCIAL E 
PEDAGÓGICA
Caro aluno, não é novidade o fato de que o ensino tradicional de língua em nossas escolas (seja 
língua materna ou estrangeira) é, ainda, bastante questionável em muitos dos seus aspectos. Essa 
constatação já é um consenso entre os educadores brasileiros, e tem-se identificado na formação do 
professor uma das principais causas dessa situação. É claro que são vários os fatores que causam essa 
crise, sendo a formação deficiente do professor de língua apenas uma das marcas visíveis do problema. 
Um dos aspectos dessa deficiência é a falta de uma base teórica que lhe dê segurança para trabalhar 
com o texto em sala de aula, fornecendo os procedimentos de leitura, interpretação e produção de 
textos pertinentes e necessários.
Como você deve supor, o ensino tradicional não considera a noção de variação linguística, não leva 
em conta a linguagem falada e trabalha com uma linguagem “estática”. Ele se torna ainda mais precário 
no que se refere ao trabalho: com a linguagem oral e com os níveis de formalidade do discurso; com 
a conceituação do que vem a ser o texto e seus critérios de textualidade; e com o processo de leitura e 
produção escrita. Infelizmente, a realidade escolar mostra sérios problemas relacionados à aquisição da 
linguagem escrita, envolvendo os processos de leitura e produção:
•	 O	discurso	oral	é	tomado	apenas	como	“antimodelo”,	ou	seja,	o	que	deve	ser	evitado	na	escrita,	
deixando de ser explorado enquanto processo ativo na linguagem.
•	 Os	níveis	de	formalidade	textual	são	encarados	apenas	como	dois	parâmetros,	que	classificam	a	
linguagem como formal (escrita) ou informal (oral), deixando de conferir ao texto (oral ou escrito) 
uma posição em uma “escala” de formalidade, atribuindo-lhe a propriedade de ser mais ou menos 
formal de acordo com sua natureza.
•	 O	texto,	na	maioria	das	vezes,	é	tido	como	um	conjunto	de	palavras	a	serem	decodificadas	sem	se	
levar em conta elementos como autoria e sentido.
•	 O	processo	de	escrita	é	considerado	como	cópia	do	padrão	da	escrita	literária	e	acadêmica,	sem	
que se ensine como se dá esse processo nem quais as implicações da relação entre a passagem da 
oralidade para a escrita e o exercício da produção textual escrita.
É urgente buscar soluções no sentido de se adotar uma postura mais séria e comprometida que 
supere e redimensione as concepções tradicionais de ensino de língua, veiculadas convencionalmente 
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nas	 escolas.	 Assim,	 justifica-se	 a	 ênfase	na	 importância	 acerca	 da	 reflexão	 sobre	um	 continuum na 
relação fala/escrita e suas implicações na aquisição da linguagem escrita e nos processos de leitura e 
produção, para uma aprendizagem mais proveitosa e adequada.
Outro	ponto	merecedor	de	destaque	é	que	refletir	sobre	a	relação	oralidade/escrita	inevitavelmente	
traz	à	tona	questões	relacionadas	à	variação	linguística,	e,	nesse	sentido,	é	importante	refletir	sobre	os	
aspectos teóricos que dizem respeito às modalidades oral e escrita em relação aos diferentes níveis de 
formalidade da linguagem e variação que compõem um continuum fala-escrita.
A elaboração textual está baseada em uma diversidade de gêneros textuais, que, se bem explorada, 
a partir das diversas situações do dia a dia, nos diferentes níveis de formalidade, tanto no que se refere 
a textos falados como textos escritos,	propicia	uma	reflexão	acerca	da	 influência	mútua	entre	as	
modalidades oral e escrita, uma vez que tudo o que se fala pode se tornar escrito e vice-versa.
Vejam-se alguns exemplos desses diferentes gêneros textuais do dia a dia (falados e escritos):
Quadro 11
Diferentes gêneros textuais do dia a dia
Escritos Falados
Cartas: pessoais, de recomendação, de demissão etc. Novelas* (realização oral, elaboração escrita) 
Memorandos, ofícios, circulares Comerciais* (realização oral, elaboração escrita)
Anúncios:	publicitários,	de	emprego,	de	venda	etc. Cinema* (realização oral, elaboração escrita) 
Formulários (diversos) Peças teatrais* (realização oral, elaboração escrita)
E-mails, chats Telefonemas
Multas Aulas 
Posts, coments de blogs Entrevistas de emprego
Notas fiscais Conferências, palestras, comunicações, 
Listas de compra Discursos 
Bulas de remédio, receitas médicas, exames médicos Conversas de bar, de elevador, de ponto de ônibus, de 
namorados, de marido/mulher, de ex-marido e ex-mulher 
etc.
Recibos Teleconferências 
Contas domésticas Bate-papo em viva-voz via Skype, MSN etc.
Jornal impresso e eletrônico Programas de rádio e TV
Cheques Pregão na feira, na rua, na bolsa de valores
Placas, outdoors Fofocas
Recados	de	geladeira,	de	Orkut,	de	post-it etc. “Bronca” (reprimenda) dos pais, da professora, do guarda de 
trânsito	etc.
Etc.! Etc.!
A investigação linguística (sobretudo a textual), bem como a prática pedagógica, devem explorar 
as variedades de linguagem, não só incorporando o estudo da oralidade a suas questões de análise e 
investigação, mas concedendo-lhe uma consideração especial no que se refere à relação fala/escrita.
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Como bem coloca Marcuschi (1997), a variação linguística pode ser investigada tanto na oralidade 
como na escrita. No entanto, é interessante enfocarmos a fala, já que esta é uma atividade muito 
mais	fundamental	que	a	escrita	na	vida	das	pessoas.	O	homem	é	essencialmente	um	ser	que	fala.	
Entretanto, como temos visto, a escola não considera esse lugar da fala e confere, no ambiente 
acadêmico, uma posição inferior, desvalorizada, centralizando a atenção dos alunos nas atividades 
de escrita.
 Lembrete
Esse imaginário já está tão arraigado que é comum ouvir que a escola 
está aí para ensinar a escrita e não a fala. A escola não pode ignorar a 
fala porque a escrita está essencialmente ligada a ela e, como já foi dito, o 
homem é essencialmente um ser que fala e não um ser que escreve.
Se se parar para pensar um pouco sobre a questão, o que é possível observar é que a atenção dada 
à fala no ambiente escolar e nos manuais didáticos é também resquício dos pressupostos teóricos 
linguísticos	dos	últimos	séculos,	que	não	mantinham	uma	preocupação	com	a	fala	“real”,	ou	autêntica,	
e, portanto, desprezava a produção oral efetiva. Conforme Marcuschi, ”fenômenos como a prosódia e 
até mesmo aspectos e efeitos expressivos de usos variados da língua e a própria variação socioletal não 
estavam nos horizontes da linguística (op. cit., p. 40).
Saiba	que	só	nos	últimos	anos	é	que	a	oralidade	começou	a	ser	investigada	mais	seriamente	e	passou-se	
a	 refletir	 acerca	 da	 importância	 do	 estudo	 da	 fala	 e	 de	 suas	 variedades	 no	 ensino	 de	 língua.	
Hoje, a preocupação com a oralidade vem se tornando cada vez mais aceita no contexto escolar. 
Contudo, nem sempre essa preocupação volta-se para as questões principais que devem ser 
abordadas.
O	ensino	de	 língua	deve	garantir	 que	 a	 oralidade	 assuma	o	 seu	papel	 e	 o	 seu	 lugar	na	 sala	
de aula, e, portanto, deve ter em vista que variedade textual é adequada para ser trabalhada, 
considerando	também	a	diversidade	contextual.	O	principal	objetivo	em	veicular	um	ensino	baseado	
nessas questões é o de evitar a criação de uma concepção “monolítica” restrita ao modelo de 
escrita padrão.
Como já se disse, a variedade linguística tanto se faz observar na fala como na escrita, e o estudodessas variedades deve ser conduzido de maneira continuada em ambas as modalidades. De acordo com 
Marcuschi, enxergar a língua por uma ótica “monolítica” leva a conceber um “dialeto de fala padrão” 
fundamentado	na	escrita,	sem	ligações	com	as	relações	de	“influências	mútuas”	entre	fala	e	escrita.	A	
fala deve ter seu lugar bem-definido no ensino de língua.
Entenda que não se trata de ensinar a falar, mas de identificar a grandiosa riqueza e variabilidade 
dos usos da língua, pois um aspecto central no estudo da oralidade é a variação. É de fundamental 
importância	ter	em	mente	que	a	língua	falada	é	variável:
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•	 de	cultura	para	cultura;
•	 de	sociedade	para	sociedade;
•	 de	grupo	para	grupo;
•	 de	situação	para	situação;
•	 de	indivíduo	para	indivíduo;	e
•	 a	 visão	 do	 dialeto	 padrão	 uniforme	 é	 uma	 visão	 teórica,	 que	 não	 tem	 constatação	 no	
mundo real, não há um equivalente empírico para essa sistematização da língua(gem) 
(idem, p. 41).
Assim, não podemos perder de vista, no ensino de língua materna, noções como:
•	 padrão;
•	 norma;
•	 jargão;
•	 dialeto;
•	 gênero;
•	 gíria;
•	 variante;
•	 sotaque;
•	 registro;
•	 estilo	etc.
Outro	 aspecto	 que	 não	 devemos	 perder	 de	 vista	 é	 a	 análise	 dos	 níveis	 de	 formalidade	 (+/-	
formal;	+/-	 informal)	 e	dos	níveis	de	uso	da	 língua	e	 suas	 funções	e	valores	 sociais	do	mais	ao	
menos formal, tanto na escrita como na fala, sem que tal abordagem se prenda restritamente à 
observação lexical.
Conforme Marcuschi (op. cit.),	 a	 análise	 dos	 textos	 orais	 pode	 revelar	 as	 relações	 mútuas	 e	
diferenciadas	que	a	fala	mantém	com	a	escrita,	influenciando	uma	à	outra	nos	diferentes	processos	de	
aquisição da escrita.
O	estudo	da	oralidade	pode	revelar	a	contribuição	da	fala	na	formação	sócio-cultural	e	na	preservação	
de tradições orais que persistem mesmo em culturas decisivamente letradas. Além disso, viabiliza, 
também, a investigação das diferenças e semelhanças nas atividades que relacionam fala e escrita, 
facilitando a abordagem da diversidade de processos de contextualização inserida nas produções orais 
e escritas.
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 Saiba mais
Você pode ampliar sua visão acerca deste assunto, variação linguística, 
observando e analisando alguns filmes como:
Domésticas – o filme,	de	Nando	Olival	/	Fernando	Meirelles,	2001.
Sinopse: “No meio da nossa sociedade existe um Brasil notado por 
poucos. Um Brasil formado por pessoas que, apesar de morar dentro de 
sua casa e fazer parte de seu dia a dia, é como se não estivesse lá. Cinco 
das integrantes deste Brasil são mostradas em Domésticas – o filme: Cida, 
Roxane, Quitéria, Raimunda e Créo. Uma quer se casar, a outra é casada, 
mas sonha com um marido melhor. Uma sonha em ser artista de novela e 
outra acredita que tem por missão na Terra servir a Deus e à sua patroa. 
Todas têm sonhos distintos, mas vivem a mesma realidade: trabalhar como 
empregada doméstica” (disponível em: <http://www.adorocinema.com/
filmes/domesticas/>).
Desmundo,	de	Alain	Fresnot,	2003.
Sinopse: “Brasil, por volta de 1570. Chegam ao país algumas órfãs, 
enviadas pela rainha de Portugal, com o objetivo de desposarem os 
primeiros	 colonizadores.	 Uma	 delas,	 Oribela	 (Simone	 Spoladore),	 é	 uma	
jovem sensível e religiosa que, após ofender de forma bem grosseira Afonso 
Soares D’Aragão (Cacá Rosset), vê-se obrigada a casar com Francisco de 
Albuquerque	(Osmar	Prado),	que	a	leva	para	seu	engenho	de	açúcar.	Oribela	
pede a Francisco que lhe dê algum tempo, para ela se acostumar com ele e 
cumprir com suas “obrigações”, mas paciência é algo que seu marido não 
tem e ele praticamente a violenta. Sentindo-se infeliz, ela tenta fugir, pois 
quer pegar um navio e voltar a Portugal, mas acaba sendo recapturada 
por	 Francisco.	 Como	 castigo,	 Oribela	 fica	 acorrentada	 em	 um	 pequeno	
galpão. Deprimida por estar sozinha e ferida, pois seus pés ficaram muito 
machucados, ela passa os dias chorando e só tem contato com uma índia, 
que lhe leva comida e a ajuda na recuperação, envolvendo seus pés com 
plantas medicinais. Quando ela sai do seu cativeiro continua determinada 
a fugir, até que numa noite ela se disfarça de homem e segue para a vila, 
pedindo ajuda a Ximeno Dias (Caco Ciocler), um português que também 
morava na região” (disponível em: <http://www.interfilmes.com/filme_
13080_desmundo.html>.
Considerar o estudo da fala e a ele se dedicar é, principalmente, criar uma oportunidade ímpar para 
explicitar, conforme Marcuschi,
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aspectos relativos ao preconceito e à discriminação linguística, bem como, suas 
formas de disseminação. Além disso, é uma atividade relevante para analisar 
em que sentido a língua é um mecanismo de controle social e reprodução 
de esquemas de dominação e poder implícitos em usos linguísticos na vida 
diária, tendo em vista suas íntimas, complexas e comprovadas relações com 
as estruturas sociais (MARCUSCHI, op. cit.,	p.	43).
Marcuschi (op. cit.) discute o papel e o lugar da oralidade no ensino de língua e ilustra sua 
argumentação	com	uma	criteriosa	análise	dos	Parâmetros	Curriculares	Nacionais	(PCN)	e	de	uma	
gama considerável de livros didáticos de 1º	e	2º	graus.	O	autor	afirma	que,	no	século	XXI,	um	dos	
desafios para as obras didáticas será aprender a lidar com a variação linguística em seus mais 
variados aspectos:
1. variação sociolinguística;
2.	variação	dialetal;
3.	variação	de	registros	e	níveis	de	fala;
4. variação de gêneros textuais realizados na fala;
5. variação de estratégias organizacionais da interação verbal;
6. variação de estratégias comunicativas;
7. variação de estratégias e processos de compreensão na interação;
8.	variação	de	situações	sociocomunicativas;
9. variação de construções sintáticas;
10. variação de seleção lexical (idem, p. 76).
Aceitar esse desafio e respeitar o lugar da oralidade na aula de língua é comprometer-se com um 
ensino sem discriminações linguísticas.
5.1 Diferenças e características da fala e da escrita: interferência mútua 
entre elas
A fala e a escrita são duas modalidades de uso da língua que utilizam o mesmo sistema linguístico, 
mas têm suas próprias peculiaridades. Isso não significa que devam ser encaradas de maneira dicotômica 
(oposta, sendo uma superior e outra inferior).
Conforme	sintetiza	Koch	(2007;	1997),	vários	estudiosos	dessa	área,	como	Marcuschi	(1995/2007a),	
Koch &	Oesterreicher	(1990),	Halliday	(1985)	e	Koch	(1992),	afirmam	que	“os	diversos	tipos	de	práticas	
sociais de produção textual situam-se ao longo de um continuum tipológico, em cujas extremidades 
estariam,	de	um	lado,	a	escrita	formal	e,	do	outro,	a	conversação	espontânea,	coloquial”	(KOCH,	2007,	
p.	31).
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Quadro 12
Escrita
formal
Oralidade
informal
Marcuschi deixa bem clara a natureza desse continuum tipológico, mostrando que as diferenças 
entre oralidade e escrita dão-se dentro de um continuum tipológico das práticas sociais de produção 
de texto e não na relação dicotômica de dois polos opostos. Assim, o continuum tipológico distingue e 
correlaciona os textos de cada modalidade quanto às estratégias de formulação textual que determinam 
o continuum das características que diferenciam as variações das estruturas, seleções lexicais etc. Tanto 
a fala como a escrita dão-se em um continuum devariações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao 
longo	de	dois	contínuos	sobrepostos	(MARCUSCHI,	2007a).
Para proceder à localização dos diversos tipos de texto no continuum,	Koch	(2007)	relata	a	contribuição	
de alguns importantes autores da linguística textual:
•	 Koch	&	Oesterreicher	indicam	o	uso	do	critério	medium	e	do	critério	proximidade/distância.
•	 Chafe	considera	o	nível	maior	ou	menor	de	envolvimento	dos	interlocutores.
•	 Halliday	sugere	que	o	texto	escrito	tem	maior	densidade	lexical,	e	o	falado,	maior	complexidade	sintática.
•	 Koch	sustenta	que	os	textos	escritos	podem	estar	mais	próximos	do	polo	conversacional	e	
vice-versa. Há ainda os tipos mistos e intermediários.
 Saiba mais
Você pode ampliar sua visão acerca deste assunto assitindo ao filme 
Narradores de Javé,	de	Eliane	Caffé,	2003	e	analisando-o.	Esse	filme	deixa	
bastante explícitas as diferenças entre fala e escrita, evidenciando ainda a 
importância	e	poder	legitimador	que	tem	a	escrita	(científica)	para	certos	
funcionamentos sociais.
Sinopse: Somente uma ameaça à própria existência pode mudar a rotina 
dos habitantes do pequeno vilarejo de Javé. É aí que eles deparam com o 
anúncio	de	que	a	cidade	pode	desaparecer	sob	as	águas	de	uma	enorme	
usina hidrelétrica. Em resposta à notícia devastadora, a comunidade adota 
uma ousada estratégia: decide preparar um documento contando todos 
os grandes acontecimentos heróicos de sua história, para que Javé possa 
escapar da destruição. Como a maioria dos moradores são analfabetos, a 
primeira tarefa é encontrar alguém que possa escrever as histórias. Dispoível 
em: <http://www.adorocinema.com/filmes/narradores-de-jave>.
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Observe	que,	conforme	Koch	(2007;	1997),	alguns	autores	 (Chafe,	Tannen,	Halliday,	Oesterreicher	
etc.) a partir da década de 1960 consideraram a dicotomia entre as modalidades fala e escrita, 
atribuindo	a	cada	uma	características	particulares.	Koch	afirma	que	tais	características	refletiam	uma	
visão preconceituosa e centrada no modelo da escrita formal padrão. Com base em tal dicotomia fala x 
escrita,	categorizava-se	(KOCH,	2007,	p.	32):
Quadro 13
Fala Escrita
Contextualizada Descontextualizada
Implícita Explícita
Redundante Condensada
Não planejada Planejada
Predominância	do	modus pragmático Predominância	do	modus sintático
Fragmentada Não fragmentada
Incompleta Completa
Pouco elaborada Elaborada
Pouca densidade informacional Densidade informacional
Predominância	de	frases	curtas,	simples	e	
coordenadas
Predominância	de	frases	complexas	e	
subordinadas
Pequena frequência de passivas Emprego frequente de passivas
Poucas nominalizações Abundância	em	nominalizações
Menor densidade lexical Maior densidade lexical
Você deve compreender que, em linhas gerais, é possível considerar que essas características não são 
exclusivas	nem	de	uma	nem	de	outra	modalidade	e	que	elas	foram	estabelecidas	a	partir	dos	parâmetros	
da escrita por visão preconceituosa, que discriminava a fala.
Nesse sentido, é mister entender que a fala possui características próprias, particulares à sua 
situação enunciativa, sua forma de organização e realização. Veja a seguir algumas das características 
mais	essenciais	da	natureza	da	fala	(mencionadas	por	KOCH,	op. cit., e por MARCURSCHI, op. cit.), que 
merecem destaque e revelam-se originalmente particulares a ela.
•	 Devido	à	sua	interacionalidade	intrínseca,	a	fala	é,	a priori, “não planejável”. Ela precisa ser apenas 
“localmente planejável”.
•	 Possui	 sua	 verbalização	 e	 seu	planejamento	 concomitantes,	 pois	 esses	 processos	 emergem	no	
momento da interação – a fala é o seu próprio rascunho.
•	 Apresenta	descontinuidades	frequentes	no	fluxo	discursivo:	abandono	de	tópicos	discursivos;	retomadas	
de tópicos discursivos, inserções abruptas de novos tópicos discursivos, truncamentos etc.
•	 Sintaxe	característica/típica	 ligada,	de	certa	 forma,	à	sintaxe	geral	da	 língua.	Um	exemplo	é	a	
topicalização: “Esse menino, eu não sei se tomou banho hoje”; “A violência, falta de segurança, 
eu não me acostumo com esse ritmo de grandes metrópoles no Brasil”.
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•	 Fala	é	processo,	portanto,	é	dinâmica:	não	é	um	produto	pronto	e	acabado,	pois	está	continuamente	
se refazendo, indo e voltando nos tópicos de interesse dos interlocutores, definindo-se em razão 
das necessidades, escolhas e pressões comunicativas da interação.
Veja que na atividade de “coprodução” discursiva, os interlocutores empenham-se juntos na produção 
textual. Em função da interação imediata, há pressões de natureza pragmática que passam por cima das 
exigências sintáticas: truncamentos, correções, inserções, repetições e parágrafos. Esses elementos têm 
uma	função	importante,	a	função	cognitivo-interacional	(MARCUSCHI,	1986,	apud	KOCH,	op. cit.).
O	 texto	 falado	 não	 é	 caótico,	 ele	 tem	 sim	 uma	 estrutura	 própria,	 que	 se	 pauta	 a	 partir	 de	 sua	
produção. É nesse sentido que deve ser descrito, estudado e analisado. No processo de produção do 
texto falado, os interlocutores estão in praesentia – num mesmo tempo e espaço físico (salvo exceções 
como	telefone,	rádio	e	outras	possibilidades	de	conversação	oral	à	distância	que	a	tecnologia	oferece).
Agora que você já conhece as diferenças e características que perfilam as duas modalidades (falada 
e escrita), vejam-se a seguir as principais interferências da oralidade na escrita, conforme aponta Koch 
(1997).
I. Questão de referência: na oralidade, muitas vezes os referentes são recuperados no próprio 
contexto (basta apontar, por exemplo), dispensando assim que os falantes precisem explicitá-los sempre. 
Mas, na escrita, não é bem assim, pois por ser não presencial há a necessidade de explicitar sempre os 
referentes,	por	meio	das	marcas	linguísticas.	O	trecho	a	seguir	revela	a	produção	escrita	de	um	sujeito	
que ainda não consegue diferenciar bem os usos da situação oral dos usos da escrita.
Exemplo: “[...] certo dia um homem muito rico mudou-se, para perto da fazenda do pobrehomem. 
Ese homen era mau e iguinorante. Assim que soube se sua existência, dia e noite não parava de atormentá-lo, 
então	ele	disse	[...]”	(KOCH,	op. cit.,	p.	35).
II. Repetições: no texto falado, a repetição é muito frequente, aliás ela é um dos seus mecanismos 
de	organização,	desempenhando	funções	didáticas,	sintáticas,	argumentativas,	enfáticas	etc.	O	trecho	a	
seguir revela a interferência clara de um recurso da fala na escrita.
Exemplo: “[...] já estavam chegando no final da gruta andaram andaram-andaram chegaram no final 
da gruta virão o bau-cheio de jóias moedas voutaram para casa e ficaram muito felizes” (idem,	p.	36).
III. Uso de organizadores textuais: são tópicos continuadores da fala, por exemplo: e, aí, daí, 
então,	daí	então	etc.	Os	textos	das	crianças	são	ricos	em	organizadores	textuais	típicos	da	oralidade.
Exemplo:	“era	uma	vês	un	castelo	abandonado	e	um	dia	2	mininos	pobres	que	tinham	passado	por	
lá. comesaram a reformar o castelo e o tempo foi pasando e a notícia se espahol e os mininos creseram 
e	finalmente	o	castelo	ficol	pronto	os	mininos	foram	entrando	e	lá	dentro	tinha	8	cuartos”	(ibidem).
IV. Justaposição de enunciados sem marca de conexão explícita: é comum, nos textos, 
enunciados	justapostos,	sem	elementos	explícitos	de	conexão,	ligação	ou	transição.	O	sujeito	que	está	
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adquirindo a modalidade escrita ainda não aprendeu os mecanismos sequenciadores próprios dessa 
modalidade e mistura à escrita o padrão oral.Exemplo: “Entraram na gruta com lanterna [/] primeiro foi o leão muitos tigres e onças depois foi 
milhares de cobras e serpente e la no teto é cheio de morcegos [/] já estavam chegando no final da gruta 
[/] andaram andaram-andaram [/] chegaram no final da gruta [/] virão o bau-cheio de jóias moedas [/] 
voutaram para casa e ficaram muito felizes” (ibidem).1
V. Discurso citado: o discurso citado é manifestado prioritariamente no estilo direto, é mais frequente 
na oralidade; em geral, sem a presença de um verbo que introduza a fala do outro (fulano disse:, fulano 
resmungou:,	 fulano	gritou:).	O	sujeito	ainda	não	aprendeu	os	mecanismos	sequenciadores	próprios	da	
modalidade escrita e mistura a ela a estrutura mais típica da oral, que é a que ele conhece melhor.
Exemplo: “Dez oras depois o Lucas vil um navio pirata elegrito gente vamos nos conder um navio 
pirata sea prosima vamologo ja sei vamos nos esconder na quela caverna certo elá atras sera 
que é perigos ela fora rárá vamos ficaricos maos pirtas não acharão droga vam em bora viva 
camos ricos e turma vou ta para casa. Fim” (idem,	p.	37).
VI. Segmentação gráfica: também é comum que a segmentação gráfica, em textos de sujeitos 
iniciantes na modalidade escrita, seja feita em função do que ele ouve. É curioso notar que a criança, por 
vezes, tentando acertar a segmentação gráfica adequada, acaba dividindo no meio algumas palavras ou 
juntando outras em uma só!
Exemplo: “sabiacomoaranjar, arainha, poriso, aguera, masantesdiso, convoce, masnã, elegrito, 
vamologo” (ibidem).
VII. Grafia correspondente à palavra: ou sequência de palavras tal como pronunciadas oralmente, 
isto é, reproduzindo o que a criança ouve.
Exemplo: “virão (= viram), vamos nos conder (= nos esconder), perigos (= perigoso), maos piratas 
(= mas os) espahol (= espalhou), ficol, partil, vil (= ficou, partiu, viu)” (ibidem).
VIII. Correções feitas da forma como se fazem no texto oral: assim como na fala, o sujeito não 
apaga ou risca a forma que considera inadequada, mas justapõe a esta a forma corrigida.
Exemplo: “Chegando lá a turma rezol rezolvrão to(mar) banho de cachoeira mas algen esquso o 
maio [...]” (idem,	p.	36).
Para finalizar este tópico, é importante ainda trazer algumas considerações sobre a organização da 
coesão e da coerência na conversação. Já que na Unidade I a abordagem desses critérios de textualidade 
foi longamente trabalhada, valendo conceitualmente tanto para a fala como para a escrita, mas sempre 
1A inserção de barras é nossa e serve para separar os enunciados a fim de evidenciar a justaposição sem conectividade 
entre eles.
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tomando	 como	 exemplos	 textos	 escritos	 para	 ilustrar	 seus	 múltiplos	 fatores,	 subtipos	 (enfim,	 seus	
funcionamentos), aqui tomaremos como referência o texto falado, a conversação propriamente para 
analisar o funcionamento destes critérios de textualidade.
Para	essa	discussão,	apontamos	a	autora	Leonor	Fávero	(2009)	que	traz	um	capítulo	de	seu	 livro	
“Coesão e coerência textuais” sobre estas questões. Essa autora, na mesma linha de pensamento 
de Koch, Marcuschi e outros autores citados nesta Unidade II, entende que a conversação deve ser 
analisada com justiça aos seus aspectos que são particulares e essenciais.
Antes de entramos nas especificações dadas à construção da coesão e da coerência no texto falado, 
é importante frisar alguns aspectos cruciais da natureza da fala, conforme essa autora. Fávero reitera 
que a conversação “é uma atividade linguística, que pertence às práticas diárias de qualquer cidadão, 
independente de seu nível sociocultural. Ela representa o intercurso verbal em que duas ou mais pessoas 
se	alternam,	discorrendo	livremente	sobre	questões	propiciadas	pela	vida	diária”	(CASTILHO,	1986	apud 
FÁVERO,	2009,	p.	84).
Conforme retoma Fávero de Castilho, há dois tipos de conversação:
•	 a	natural – com suas variedades informal, coloquial e formal; 
•	 a	artificial – desenvolvida em peças de teatro, filmes, novelas, romances etc.; estas seguem um 
tipo de roteiro prévio.
Lembre-se de que tanto no texto oral como no escrito o sistema linguístico é o mesmo para a 
construção sintática. Entretanto, as regras para a realização oral, bem como os meios utilizados são 
distintos, o que acaba por revelar materialidades linguísticas totalmente diferentes.
Você também deve considerar que, assim como a escrita, a fala também deriva da mesma base 
semântica,	fazendo	uso	do	mesmo	repertório	lexical,	variando,	inclusive,	na	escolha	e	organização	do	
vocabulário, e, nesse sentido, reafirmamos um fundamento linguístico já enfatizado: o de que fala e 
escrita são variações funcionais do mesmo sistema linguístico.
 Observação
É comum muitos autores repetirem o equívoco de que o texto falado 
não é planejado. Mas devemos considerar que o planejamento do texto oral 
é diferente do planejamento do texto escrito.
Fávero aponta quatro graus de planejamento da conversação (indo do texto falado não planejado ao 
escrito	planejado),	defendidos	por	Ochs	(1979	apud	FÁVERO	2009):
•	 falado	não	planejado	–	prescinde	de	reflexões	e	preparação	prévia:	uma	briga	ou	discussão,	uma	
conversa no elevador, dar uma informação na rua etc.;
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•	 falado	planejado	–	é	pensado	e	projetado	antes	de	sua	realização,	mas	está	sujeito	às	pressões	
da situação comunicativa em coprodução com o(s) interlocutor(es): uma aula, um discurso, uma 
reunião de condomínio, uma conversa para romper um relacionamento etc.;
•	 escrito	 não	 planejado	 –	 elaborado	 em	 situações	 informais	 do	 dia	 a	 dia,	 caracterizadas	 pela	
necessidade do uso da escrita, mas levando em conta situações sem preparação ou expectativa 
prévia: um recado de geladeira, bilhetinhos trocados em sala de aula, a escrita/“conversa” dos 
chats na internet etc.
•	 escrito	planejado	–	é	pensado	e	projetado	antes	de	sua	publicação:	um	livro,	um	artigo	de	jornal,	
uma	carta	de	demissão,	uma	solicitação	formal	a	uma	instituição	pública	etc.
 Observação
Uma das marcas essenciais da organização da conversação é que ela é 
fruto de uma criação coletiva e dialógica, pois os interlocutores produzem 
o texto em cooperação. Aqui vale a máxima: “quando um não quer, dois 
não ‘conversam’2”!
O	fato	de	o	planejamento	da	fala	se	dar	localmente	confere-lhe	uma	característica	denominada	
“fragmentação”,	consequente	de	sua	natureza	espontânea,	que	se	opõe	a	uma	maior	“integração”	
da modalidade escrita, em função do maior tempo de que ela dispõe para ser produzida (Fávero, 
op. cit.,	p.	86).
A rapidez com que o locutor constrói a fala tem consequências no controle 
do	 fluxo	 da	 informação,	 conduzindo-o	 a	 descontinuidades	 nesse	mesmo	
fluxo,	 reveladas	 por	 fenômenos	 como	 repetições,	 paráfrases,	 inserções,	
anacolutos, falsos começos e outros; desse modo ela vai revelando seus 
processos de construção, ao contrário da escrita que busca escondê-los, 
mostrando somente os resultados (ibidem).
Outra	característica	forte	da	fala	apontada	por	Chafe	(apud	FÁVERO,	op. cit.,	p.	86)	é	o	“envolvimento”	
interpessoal, que se opõe ao “afastamento”, típico da escrita.
Considere ainda que as “descontinuidades” da fala são, em sua maioria, técnicas linguísticas usadas 
como estratégias controladoras do diálogo, que estão baseadas em regras conversacionais3 do tipo:
•	 não	diga	o	óbvio,	e	sim	concentre-se	no	que	é	importante;
•	 seja	claro	para	não	dispersar	nem	perder	o	interesse	de	seu	interlocutor,	bem	como	os	objetivos	
do diálogo;
2O	provérbio	original	é	“quando	um	não	quer,	dois	não	brigam”.
3 Sobre a conceituação destas regras conversacionais, sugere-se a leiturade Logic and conversation, de H. Grice, 1975.
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•	 não	fale	de	forma	irresponsável	ou	inconsequente,	para	não	fugir	ao	que	refere	a	sua	opinião	e	
confundir o interlocutor.
Feitas as colocações anteriores, focalizemos, então, o funcionamento da coerência e da coesão na 
conversação. Analisar esses critérios de textualidade no texto oral é trazer à tona uma discussão polêmica, 
por se tratar de um fenômeno linguístico com poucas evidências empíricas estudadas até então.
Na conversação, a coesão não pode ser definida em termos estritamente 
formais, pois o texto se produz dialogicamente, na concorrência de 
dois ou mais agentes. A coerência não é uma unidade de sentido, e 
sim uma dada possibilidade interpretativa resultante localmente. Dois 
interlocutores se entendem não só porque são coerentes no que dizem, 
mas principalmente porque sabem do que se trata em cada caso. E, 
quando não sabem, manifestam seu desentendimento de modo a 
integrá-lo	como	parte	efetiva	no	próprio	texto	(MARCUSCHI,	1988	apud 
FÁVERO,	op. cit., p. 90).
Nessa perspectiva, a coerência se dá em função de os enunciados construídos na conversação se 
mostrarem mutuamente relacionados, de modo ordenado e significativo, melhor caracterizada em 
termos de “tópico discursivo”, considerando a sua centração, organicidade e delimitação. Ao lado 
(ou dentro!) da organização do tópico discursivo, há frequentemente as “digressões”, ou partes que 
não estão topicamente relacionadas com o que veio imediatamente antes, ou com o que vem logo 
depois, mas que no todo da conversação é possível recuperar tentacularmente, e por isso fazem 
sentido.
•	 Por	outro	lado,	a	coesão	é	uma	relação	linear4 entre as sentenças, não sendo necessariamente 
condicional ou suficiente para a coerência. Ela não é um fator interdependente, mas um subproduto 
da coerência. Seguem alguns exemplos da coesão na conversação5:
1. Coesão referencial – reiteração, repetição do mesmo item lexical por:
•	 autorrepetição:	 “...	ele	 já	 ia	à	escola	da	manhã	que	eu	comecei	quando	eu	comecei	 trabalhar...	
comecei a trabalhar há dois anos... e quer dizer então... ele já ia à escola de manhã”.
•	 heterorrepetição:
“L1 - nós somos: seis filhos.
L2	-	e	a	do	marido?
L1 - e a do marido... eram doze agora são onze...”.
4 Conforme foi enfaticamente destacado na Unidade I.
5	Os	exemplos	citados	são	retirados	de	Fávero	(op. cit.,	p.	91ss),	que	usou	como	fonte	o	inquérito	de	número	360	do	
arquivo do Projeto NURC-SP (sobre a linguagem falada culta na cidade de São Paulo).
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2. Coesão recorrencial – paráfrase: “contexto: o tópico que se desenvolve é mercado de trabalho, 
especificamente, a “procura de engenheiro”.
“L2	...	a	grande	maioria	é	engenheiro	administradores	economistas
L1...	é	que	a	gente	está	na::	na	espera	da	tecnologia,	né?...
L2	...	mas	engenheiro	o	peso	é	muito	grande...”
3. Coesão sequencial – por conexão: “contexto: o tópico que vem se desenvolvendo é o do 
planejamento familiar”.
“L1 e::	nós	havíamos	programado	Nove	ou	dez	filhos...	não	é?	...
L2	a	sua	família	é	grande?
L1 nós somos:: seis filhos
L2	e	a	do	marido?
L1 e a do marido... eram doze agora são onze...”.
5.2 Mais algumas considerações teóricas sobre o binômio oralidade e 
escrita
Nesta sessão, você acompanhará algumas considerações a respeito de categorias teóricas e 
perspectivas científicas em torno da relação oralidade e escrita. Mais especificamente, aspectos 
relacionados à visão dicotômica sobre oralidade x escrita; às especificidades das categorias oralidade/
fala e letramento/escrita; ao binômio oralidade/escrita e prática sociais; à visão culturalista; à visão 
variacionista; à interacional; à visão funcionalista da relação fala e escrita. Tais considerações são 
apresentadas	por	Marcuschi	(2007a).
I. Fala x escrita – a perspectiva das dicotomias: essa visão é da perspectiva dicotômica entre fala 
x escrita, é considerada restrita, pois polariza essas duas modalidades da língua. Por outro lado, há quem 
considere nessa perspectiva as relações fala x escrita dentro de um continuum. Aqui as análises são 
voltadas para o código com permanência no fato linguístico. Essa teoria deu origem ao prescritivismo 
gramatical e à norma linguística. De modo geral, as características próprias à fala e à escrita são descritas/
prescritas por essa visão da seguinte maneira:
•	 Fala	=	contextual, implícita, redundante, não planejada, imprecisa, não normatizada.
•	 Escrita	=	descontextualizada, explícita, condensada, planejada, precisa, normatizada.
Tal visão, baseada no perfil das condições empíricas de uso da língua, é uma visão formalista 
distorcida do fenômeno textual. É uma visão “imanentista” que originou as Gramáticas Pedagógicas. 
Ela	remonta	a	separação	“forma	x	conteúdo”,	classifica	a	fala	como	pouco	“complexa”	e	postula	que	a	
escrita é fundada num conjunto de regras que regem a língua.
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II. Oralidade x letramento ou fala x escrita? – há que se observar algumas especificidades dessas 
categorias	 teóricas,	 pois	 tais	 especificidades	 relacionam-se	 ao	 seu	 emprego	 em	 teoria	 e	 análise.	 O	
binômio oralidade x letramento está voltado para analisar as diferenças entre duas “práticas sociais”; 
enquanto que o binômio fala x escrita volta-se às diferenças entre duas modalidades de uso da língua.
Quadro 14
Oralidade:	prática	social	apresentada	sob	várias	
formas ou gêneros textuais em sua diversidade de 
uso formal e contextual.
Fala: forma de produção discursivo-textual oral 
que dispensa um aparato técnico, necessitando, 
apenas, dos recursos próprios ao ser humano.
Letramento: uso social da escrita que vai de uma 
apropriação mínima da escrita até uma utilização 
científica dela.
Escrita: tecnologia de representação abstrata 
da fala e produção discursivo-textual com 
especificidades próprias.
III. Oralidade e escrita no contexto das práticas sociais:	Marcuschi	(2007a)	situa	o	papel	das	
práticas	sociais	da	escrita	e	da	oralidade	na	civilização	contemporânea.	Ele	considera	a	relação	entre	
“vida	cotidiana”	e	os	fenômenos	da	fala	e	escrita.	O	texto	seria,	então,	uma	prática	social,	e	não	um	
artefato linguístico.
Compreenda que a escrita, enquanto prática social, tornar-se-ia indispensável. Em relação ao uso 
da	língua	(fala	e	escrita),	as	práticas	sociais	têm	o	seu	lugar,	papel	e	grau	de	relevância	de	ambas	as	
modalidades na sociedade – eixo de um continuum sócio-histórico-tipológico e até morfológico.
 Lembrete
Homem = naturalmente um “ser que fala”, e não um “ser que escreve” 
– a escrita é derivada, e a fala é primária.
Fala = prática social do dia a dia.
Escrita = prática de um ambiente formal – escola (o que lhe confere 
prestígio).
A escrita permeia hoje praticamente todas as práticas sociais das comunidades em que se insere sob 
a	forma	de	“letramento”.	Os	objetivos	e	a	ênfase	do	uso	da	escrita	variam	de	acordo	com	os	contextos	
em que se inserem: a “apropriação/distribuição” da escrita e da leitura (padrões de alfabetização); e os 
“usos/papéis” da escrita e da leitura (processos de letramento). Mesmo as pessoas analfabetas também 
estão	sob	a	influência	das	estratégias	da	escrita	em	seu	desempenho	oral.
A escrita passou a ter um status bastante singular no contexto das atividades cognitivas em geral. 
Devem-se distinguir, então:
•	 Letramento: processo de aprendizagem sócio-histórica da leitura e da escrita em contextos 
informais e para usos utilitários.
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•	 Alfabetização: domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever.
•	 Escolarização: prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação do indivíduo, 
sendo	que	a	alfabetização	é	apenas	uma	das	atribuições/atividades	(MARCUSCHI,	2007a).
Você deve observar que são muitos os usos de oralidade e escrita em nossa sociedade, como você já 
viu anteriormente. Também vimos que há diferentes meios de acesso e usos da linguagem na sociedade, 
tanto em relação à fala quanto em relação à escrita. E esses diferentes usos possibilitados por meio de 
diferentes mídias e tecnologias, além da própria voz e do código escrito, põem em contato/interação/
dialogismo diferentes subjetividades, em diferentes espaços sociais:
•	 homem/mulher;
•	 pai/filho;
•	 sogra/nora;
•	 patrão/empregado;
•	 professor/aluno;
•	 padre/fiel;
•	 fornecedor/consumidor;
•	 civil/militar;
•	 governante/povo;
•	 dentro/fora	da	escola;
•	 dentro/fora	de	casa;
•	 dentro/fora	do	trabalho;
•	 dentro/fora	da	igreja;
•	 dentro/fora	do	tribunal	etc.
A escrita é uma fonte de preconceito, na medida em que se atribui o desenvolvimento à alfabetização. 
A escrita é um fato histórico e deve ser tratado como tal, e não como um bem cultural (ibidem).
A história do uso da escrita e da alfabetização ocidental é descontínua e contraditória (relação 
alfabetização/processo de industrialização). A alfabetização instituída dá-se de preferência sob o 
controle do Estado, orientando-se por seus objetivos. Assim, a aquisição da escrita é um fenômeno 
“ideológizavel”. A fala é contínua no dia a dia e a oralidade tem lugar em seus diferentes contextos e 
usos sociais.
IV. Oralidade x escrita: a tendência fenomenológica de caráter culturalista: essa visão 
é aculturalista e de perspectiva epistemológica. Ela observa as práticas sociais da oralidade x 
escrita, faz análise cognitiva dos efeitos de organização e produção do conhecimento no aspecto 
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psicossocioeconômico-cultural. Essa tendência é inadequada para o trato com os fatos da língua. Ela 
confere ao domínio da escrita o avanço na capacidade cognitiva individual:
Quadro 15
X
Cultura oral Cultura escrita
Pensamento concreto Pensamento abstrato
Raciocínio indutivo Raciocínio dedutivo
Atividade artesanal Atividade tecnológica
Cultivo da tradição Inovação constante
Ritualismo Analitismo
Há três grandes problemas nessa tendência:
•	 etnocentrismo;
•	 supervalorização	da	escrita;	e
•	 tratamento	globalizante.
V. Fala x escrita – perspectiva variacionista: tal visão trata do papel da escrita a partir dos 
processos educacionais e da variação na relação língua padrão e não padrão em contextos de ensino 
formal. Modelos teóricos baseiam-se no “currículo bidialetal”. Não há dicotomias, verificam-se as 
regularidades e variações:
Quadro 16
Língua padrão   Variedade não padrão
Língua culta   Língua coloquial
Norma padrão   Norma não padrão
Marcuschi (ibidem) afirma simpatizar com essa tendência, mas acredita serem necessárias maiores 
reflexões.	Para	ele,	fala	e	escrita	não	são	dialetos,	mas	“modalidades”	de	uso	de	língua.	Nesse	sentido,	o	
aluno se tornaria “bimodal”.
VI. Oralidade x escrita – a perspectiva interacional: essa perspectiva trata das relações entre fala 
e escrita, considerando o continuum textual. É a visão interacionista, cujos fundamentos baseiam-se 
em:
•	 relação	dialógica	no	uso;
•	 estratégias	de	linguagem;
•	 funções	interacionistas;
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•	 envolvimento	e	situacionalidade;
•	 formulaicidade.
Esse	 modelo	 percebe	 mais	 sistematicamente	 a	 língua	 enquanto	 fenômeno	 dinâmico	 e	
estereotipado, centrando-se em atividades dialógicas que frisam os aspectos mais salientes da 
fala. Porém tem um baixo potencial explicativo e descritivo dos fenômenos sintáticos e fonológicos 
da língua (ibidem).
Considere que, nessa visão, as análises se prestam a observar a diversidade de formas textuais 
produzidas monológica e dialogicamente. Além disso, nela trata-se de fenômenos de compreensão 
na interação verbal e com o texto escrito, detectando especificidades na atividade de construção do 
sentido. Essa perspectiva postula que não se deve polarizar ou dicotomizar a relação entre fala e escrita 
e orienta-se por uma linha discursiva e interpretativa.
VII. Concepção e funcionamento da língua – consequente relação fala/escrita: o sucesso da 
análise vai depender da concepção de língua que subjaz à teoria, bem como da noção de funcionamento 
da língua, esta é fruto das condições de produção. A noção de sistema atém-se à concepção básica de 
uma “estrutura virtual”. Fica desde já eliminada uma série de distinções geralmente feitas entre fala e 
escrita, tais como a contextualização (na fala) x descontextualização (na escrita), implicitude (na fala) x 
explicitude (na escrita) e assim por diante.
A	língua	(seja	oral	ou	escrita)	reflete	a	organização	da	sociedade, uma vez que se relaciona com as 
“representações e as formações sociais”. Entretanto, a fala e a escrita representam formas de organização 
da mente por meio das próprias representações mentais. Vale salientar, sobretudo, que, assim como 
a fala não apresenta propriedades intrínsecas negativas, também a escrita não tem propriedades 
intrinsecamente privilegiadas. São modos de representação cognitiva e social que se revelam em 
práticas socioculturais específicas. A oralidade e a escrita são ambas práticas sociais e não propriedades 
de sociedades distintas.
5.3 Retomando alguns conceitos na análise do texto
Vamos recuperar alguns conceitos importantes! Conforme vem sendo exposto, ao longo dessa 
discussão sobre as modalidades de texto oral e escrito, a oralidade tem sido fonte de muitos preconceitos 
no	universo	pedagógico	 (e	social),	que	tende	a	privilegiar	a	escrita	ou	optar	por	uma	única	variável	
privilegiada socialmente, que se aproxima das normas da escrita: o padrão letrado. Isso acontece apesar 
do trabalho de educadores e linguistas acerca da variação dialetal e da relação fala/escrita, que tem sido 
veiculado	ao	longo	das	últimas	décadas.
Convencionalmente, a orientação social e pedagógica (tradicionalista) para o ensino-aprendizagem 
de	língua	(materna	ou	estrangeira)	dá	prioridade	à	reflexão	metalinguística	e	ao	ensino	da	nomenclatura	
gramatical, resultando, assim, em um ensino-aprendizagem limitado quanto aos recursos que possibilitam 
ao falante/autor e ao ouvinte/leitor desenvolver sua competência e desempenho linguístico-textual no 
funcionamento escolar e social.
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Vários autores, como você acompanhou, acreditam que, para mudar essa concepção 
didático-metodológica	do	ensino	da	língua,	faz-se	necessário	refletir	e	buscar	fundamentos	em	uma	
concepção que privilegie o exercício da escrita enquanto uma contínua relação entre fala/escrita, que 
viabiliza os processos de leitura, interpretação e produção textual.
Conforme você viu, durante muito tempo, a ciência da linguagem conviveu com perspectivas teóricas 
limitadas e preconceituosas, que ou descartavam totalmente o estudo da fala ou tratavam a oralidade 
e a escrita como dois polos opostos (sendo um superior – a escrita – e outro inferior – a fala), o que de 
certa forma corroborou com a visão míope e equívoca veiculada social e pedagogicamente e que ainda 
hoje lutamos para derrubar.
 Observação
Atualmente,os teóricos da linguagem (e do texto) pensam a relação 
fala/escrita como parte de um contínuo em que não se podem estabelecer 
limites estanques. A linguagem tem níveis de formalidade que podem variar 
de	posição	dentro	de	uma	escala	de	formalidade	entre	os	pontos	(+)	formal	
e (-) formal.
Entenda que quanto mais formal a oralidade, mais próxima das normas da escrita ela vai estar; e, da 
mesma forma, quanto mais informal for a escrita, mais ela vai se aproximar da oralidade. Assim, o que 
se defende hoje é que as diferenças entre fala e escrita não estão em polos extremos, mas que estas são 
modalidades de uma mesma língua, as quais se tornarão mais ou menos distintas ou próximas de acordo 
com o grau de interação entre produtores/interlocutores e o propósito com que são produzidas.
É preciso compreender bem que a oralidade, que já faz parte de nossa vida, e a escrita, que devemos 
aprender na escola, são sistemas diferentes, com características “físicas” (voz, imagem), “situacionais” e 
“funcionais” que particularizam cada uma dessas modalidades e que possuem especificidades relativas 
à sua estrutura gramatical, à sua organização discursiva e à sua tipologia textual. Mas ambas estão 
sujeitas às normas sociais de uso de uma mesma língua, e, nesse sentido, é imprescindível considerar o 
continuum da relação fala/escrita, contextualizando as práticas sociais e institucionais da linguagem.
Para	visualizar	melhor	essas	questões	teóricas	refletidas,	observem-se,	 logo	mais,	alguns	aspectos	
analisados	em	um	texto	escrito	(a	música	Saudosa maloca, de Adoniran Barbosa) com várias marcas de 
oralidade. Antes, porém, de proceder à breve análise, é importante relembrar algumas questões sobre a 
textualidade. Tomando o texto como unidade comunicativa básica, sendo este uma ocorrência linguística 
(oral ou escrita, formal ou informal) de qualquer extensão, constituída de unidade sociocomunicativa, 
semântica	e	formal.
O	texto	será	bem-compreendido	quando	avaliado	sob	três	aspectos:
1.	 O	 pragmático,	 que	 tem	 a	 ver	 com	 seu	 funcionamento	 enquanto	 atuação	 informacional	 e	
comunicativa [intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, intertextualidade, informatividade.
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2.	O	semântico-conceitual,	de	que	depende	sua	coerência.
3.	O	formal,	que	diz	respeito	à	sua	coesão.
Você verá agora, a título de ilustração, mencionados superficialmente, alguns elementos do tipo 
textual	narrativo,	que	é	o	tipo	que	abrange	o	texto	proposto	para	análise	(a	música	Saudosa maloca), 
procurando	estabelecer	a	influência	da	estrutura	narrativa	no	contínuo	fala/escrita.
Conforme Gancho (1991), um texto narrativo é constituído basicamente por uma sequência de 
fatos no tempo, considerando, portanto, a existência de uma relação de anterioridade e posterioridade 
entre esses fatos. Esse gênero requer a apresentação de uma estrutura específica cujos componentes 
basicamente são: enredo, personagens, tempo, espaço e foco narrativo.
Saudosa maloca
Se o sinhô não tá lembrado
Dá licença de contar
Ali onde agora está
Este adifício arto
Era uma casa veia
Um palacete assobradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joça
Construimo nossa maloca
Mais um dia, nóis nem pode se alembrá
Veio os home com as ferramenta
E o dono mandô derrubá
Peguemos todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Apreciá a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Doía no coração
Mato Grosso quis gritar
Mas por cima eu falei
Os	home	tá	co’a	razão
Nóis arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou
Deus dá o frio conforme o cobertor
E hoje nóis pega as paia nas grama do jardim
E pra esquecer nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida
Dim dim donde nóis passemo
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Os	dias	feliz	da	nossa	vida
Saudosa maloca, maloca querida
Dim dim donde nóis passemo
Os	dias	feliz	da	nossa	vida.
(BARBOSA,	1990).
Veja que a escolha do gênero musical e do tipo narrativo justifica-se em função da abordagem da 
relação fala/escrita, já que, se por um lado o tipo narrativo é tão típico da oralidade quanto da escrita, 
por outro, o gênero musical, apesar de sua realização oral, é originalmente um texto escrito.
O	texto	anterior	(a	música	Saudosa maloca, de Adoniran Barbosa), embora seja escrito, traz importantes 
marcas de oralidade. Tal texto foi planejado (poeticamente) para assemelhar-se, o mais próximo possível, 
de uma determinada forma de oralidade que identifica uma certa classe social (economicamente 
desfavorecida), com a intenção de sensibilizar o leitor/ouvinte a ponto de este imaginar e visualizar o 
próprio personagem da narrativa.
Para isso, o autor utiliza recursos caracterizadores da modalidade falada que ele intenta imitar – a 
própria estrutura narrativa que caracteriza o texto, a linguagem simples com as variantes próprias dessa 
oralidade (“sinhô”, “alembrá”, “táuba”, “nóis pega as paia” etc.). É claro que por ser um texto escrito 
(previamente elaborado), não dispõe de outros recursos caracterizadores da modalidade falada, como 
os de cunho prosódico, paralinguístico, entonacional (hesitações, truncamentos, tomada de turno, entre 
outros), mas o que interessa é que se trata de um texto escrito que (em uma escala de formalidade) se 
posiciona em um ponto muito perto do texto oral/informal.
Fique atento para o seguinte: o texto pode ser considerado como literário e deve ser observado por 
seu perfil artisticamente mimético, no que se refere à reprodução de um tipo de oralidade própria a uma 
determinada classe social. É relevante ainda salientar que o autor escolhe uma estrutura que é própria 
da modalidade de fala informal: a narrativa originada do diálogo. No caso do texto em estudo, não há 
diálogo na estrutura geral da conversa. Há um ouvinte (“se o sinhô...”) e um falante (eu/nós – “eu, Mato 
Grosso e o Joca”, “nóis nem pode”), há citações diretas e indiretas de personagens envolvidos no enredo 
da narrativa.
Quanto à estrutura narrativa, temos um enredo (a demolição e a perda da casa), que se localiza em 
um tempo (“foi aqui”, “mais um dia...”) e em um espaço (“ali”, “nesse adifício arto”, “uma casa veia”), 
que tem personagens (“eu, Mato Grosso e o Joca”), e tem foco narrativo (“Se o sinhô num tá lembrado”/ 
“Dá	licença	de	contá”).	Ou	seja,	o	texto	preenche	todos	os	elementos	da	estrutura	narrativa	informal,	
trazendo também as etapas concernentes a esse tipo de texto: apresentação do problema, declaração 
dos	fatos	desenvolvimento,	tensão,	clímax	e	resolução	(GANCHO,	1991).
Considere ainda que o texto trata de um depoimento informal, que se subsidia da linguagem 
estritamente oral e informal para expressar, da maneira mais verossímil possível, o drama das pessoas que 
não têm um teto, um emprego, uma perspectiva digna de vida, não exercem sua cidadania e dependem 
de um canto em uma praça ou em um jardim para se recolherem.
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Com a intenção de sensibilizar e chamar a atenção do leitor para esses aspectos, o autor reproduz 
o discurso deste personagem típico representante de um sério problema social, valendo-se do que há 
de	mais	típico	da	variação	socioletal	em	relevância.	O	texto	oferece	a	oportunidade	de	refletir	sobre	os	
processos de leitura, a interpretação e a produção como parte de um continuum entre fala e escrita; a 
compreensão da relação continuada entre fala e escrita e dos níveis de formalidade.
6 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
Agora discorreremos mais aprofundadamente sobre a teoria linguística que se dedica exclusivamentea	tratar	da	linguagem	oral,	ou	seja,	da	conversação.	Vamos	conversar,	então?
Esta área tem um caráter interdisciplinar, na medida em que divide alguns pressupostos 
teóricos com outras áreas (inclusive com a LT). Ela busca estabelecer relações com a exterioridade 
da linguagem, problematizando a separação entre a materialidade da língua e seus contextos 
de produção. Assim como a sociolinguística, a pragmática, a análise do discurso, a semiótica 
discursiva e a própria linguística textual, esta área também mobiliza saberes de outras ciências 
como a filosófica da linguagem, a antropologia, a história, a sociologia, a psicanálise e as ciências 
cognitivas.
Foi	na	década	de	1980	que	foi	lançado,	no	Brasil,	o	primeiro	livro	nessa	área	com	o	título	Análise 
da conversação,	de	Luiz	Antônio	Marcuschi	(1986/2007b).	Para	esse	autor,	a	conversação	é	o	exercício	
prático das potencialidades cognitivas do ser humano em suas relações interpessoais, tornando-se assim 
um dos melhores testes para a organização e o funcionamento da cognição na complexa atividade da 
comunicação humana.
A conversação é a primeira das formas de interação a que estamos expostos 
e	 provavelmente	 a	 única	 da	 qual	 nunca	 abdicamos	 pela	 vida	 afora	 [...].	
Conversação, aqui, trata das formas de interação verbal de nossa sociedade, 
apesar de alguns estudiosos da área considerarem apenas as interações 
verbais face a face em que há “simetria de direitos e espontaneidade na 
realização do evento” (MARCUSCHI, op. cit., p. 14).
Como	 enfatiza	 Marcuschi	 (2007b),	 a	 análise	 da	 conversação	 (doravante	 AC)	 teve	 origem	 na	
década de 1960 no campo dos estudos sociológicos ligados à etnometodologia a partir de trabalhos 
referenciais como os de Harold Garfinkel, Harvey Sacs, Emanuel Schegloff e Gail Jeferson. A partir 
dessa perspectiva, os estudiosos da AC têm procurado investigar os aspectos da organização do texto 
conversacional.
 Observação
Para a etnometodologia, os analistas têm de ser perceptivos aos 
fenômenos interacionais, centrando-se nos detalhes estruturais do processo 
interativo.
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Vejamos	 três	 níveis	 essenciais	 desse	 enfoque	 apontados	 por	 Hilgert	 (1989	 apud MARCUSCHI, 
2007b):
a. Macronível: nas fases conversacionais – abertura, fechamento e parte central e o tema central e 
subtemas da conversação.
b. Nível médio: turno conversacional, tomada de turnos, sequência conversacional, atos de fala e 
marcadores conversacionais.
c. Micronível: elementos internos do ato de fala, que constituem sua estrutura sintática, lexical, 
fonológica e prosódica.
Não se esqueça de que a análise da conversação estabelece o texto como seu objeto de estudos, mas 
essa	área	vai	dedicar-se	única	e	exclusivamente	ao	estudo	do	texto	oral,	natural	e	presencial	(face to 
face),	ou	seja,	aquele	texto	produzido	em	situações	espontâneas.	Portanto,	textos	“artificiais”,	como	os	
de novela, cinema ou ainda conversas telefônicas, não são objeto de interesse específico nesse campo 
científico.
Em uma conversa, geralmente aborda-se um ou mais tópicos discursivos, algo sobre o que duas 
pessoas (pelo menos) conversam. Esse tópico discursivo define-se como uma atividade que correlaciona 
objetivos	entre	os	interlocutores	em	que	há	um	movimento	dinâmico	da	estrutura	conversacional,	que	
faz dele a base do texto oral. A organização tópica, como já foi anteriormente retomada de Fávero, 
pauta-se em três propriedades: a centração, organicidade e delimitação.
Na análise da conversação, o tópico discursivo (aquilo sobre o que se fala) é o fio condutor da 
conversação, e a unidade funcional da conversação é o turno (período de tempo que cada falante 
ocupa).
 Observação
A	 conversa	 espontânea	 é	 uma	 atividade	 coprodutiva	 sem	 “controle”	
exato de como o interlocutor orienta sua intervenção, mas nem por 
isso	torna-se	caótica.	Os	falantes	negociam	uma	relação	com	o	curso	da	
conversa, produzindo sentidos estrutural e funcionalmente.
Para sinalizar que compartilhamos cognitivamente da interação, recorremos, naturalmente, a 
expressões do tipo: “isso me lembra”, “por falar em” etc., que podem marcar a passagem de um tópico 
a outro. A estrutura tópica serve, assim, de fio condutor da organização linear do discurso. Conforme 
Dionísio:
O	conjunto	de	relevâncias	em	foco	em	dado	momento	vai,	paulatinamente,	
cedendo	lugar	a	outros	conjuntos	de	relevâncias,	ligadas	a	aspectos	antes	
marginais do tópico em desenvolvimento ou a novos conjuntos que vão 
sendo	introduzidos	a	partir	dos	já	existentes	(2005,	p.	72).
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Lembre-se de que o planejamento na fala ocorre no momento da interação, pois a conversação 
é localmente planejada. Considere ainda que em se estabelecendo uma gradação do informal 
para o formal, observa-se uma variedade entre esses dois polos que se estabelecem dentro de um 
continuum e que podem ser exemplificadas relacionando diferentes variedades entre fala e escrita, 
escrita e escrita, e fala e fala, conforme já foi refletido a partir das contribuições de Marcuschi 
nesse assunto.
Após esta apresentação da AC, acompanhe a seguir alguns dos pontos mais importantes dessa teoria 
linguística.
I. Sobre o tratamento dos dados orais – primeiramente, deve-se considerar o sistema de 
transcrição de texto oral: as conversações naturais que servem de corpus para a AC devem ser gravadas 
ou filmadas para que o analista possa observar, transcrever e comprovar seus dados da maneira mais 
fiel	possível.	O	analista	pode	privilegiar	os	aspectos	fundamentais	para	sua	análise,	mas	a	transcrição	
deve ser legível. Em função do trabalho com textos orais, esta área possui normas de transcrição de 
texto bastante específicas para atender a todas as situações. A AC analisa materiais empíricos, orais, 
contextuais, incluindo realizações entonacionais e gestuais que possam colaborar com a construção do 
sentido.	Outro	aspecto	importante	para	caracterizar	o	perfil	da	análise	da	conversação	é	a	importância	
conferida também aos recursos não verbais utilizados na fala.
Os	recursos	não	verbais	são	de	grande	relevância	na	transcrição	e	análise	das	conversações.	Steinberg	
(1988	apud	DIONÍSIO,	2005,	p.	77)	sistematiza	os	recursos	não	verbais	normalmente	empregados	nas	
conversações:
1. Paralinguagem – pequenos sons emitidos pelo aparelho fonador que não constituem signos 
linguísticos, mas interferem na significação: hm hm, shiiii, tsc tsc.
2.	Cinésica – movimento do corpo, mãos, gestos na conversação.
3.	Proxêmica	–	proximidade/distância	entre	os	interlocutores.
4. Tacêsica – uso de toque durante a conversação.
5. Silêncio – ausência de conversação, mas que às vezes diz mais que mil palavras: falamos, portanto, 
com a voz e com o corpo.
Vejamos	um	exemplo	retirado	de	Dionísio	(2005,	p.	78):
203	M03	certas	coisas...	eu	digo	peraí...	tinha	uma	bacia	conforme	essa	aqui	((pega
204	numa	bacia	plástica	que	está	próxima	e	mostra))	uma	bacia...	de	loiça...	eu
205	maiei	aqui	assim	((demarca	na	bacia	o	nível	da	água	colocada	na	época))	eu
206	butei	água...
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No segundo capítulo do livro Análise da conversação,	Marcuschi	(2007b)	apresenta	um	sistema	de	
transcrição para textos falados, que sintetiza bem como deve ser o tratamento formal de transcrição da 
fala e que inclusive serve de base às transcrições do Projeto NURC6. Segue o referido quadro adaptado:
Quadro 17
Ocorrências Sinais Exemplificação
1. Indicação dos falantes Os	falantes	devem	ser	indicados	
em linha, com letras ou algumasigla convencional
H28
M33
Doc.
Inf.
2.	Pausas ... não... isso é besteira
3.	Ênfase MAIÚSCULA ela	comprou	um	OSSO
4. Alongamento de vogal : (pequeno)
:: (médio)
::: (grande)
eu não tô querendo é dizer
que ... é: o eu fico até:: o: tempo
todo
5. Silabação - do-minadora
6. Interrogação ? ela é contra a mulher
machista...	sabia?
7. Segmentos incompreensíveis
ou ininteligíveis 
( )
(ininteligível)
bora gente... tenho aula... ( ) daqui
8.	Truncamento	de	palavras	ou	desvio	sintático / eu pre/ pretendo comprar
9. Comentário do transcritor (( )) M.H. ... é ((rindo))
10. Citações “” “mai Jandira eu vô dize a
Anja agora que ela vai
apanhá a profissão de
madrinha agora mermo”
11. Superposição de vozes [ H28.	é...	existe...	[você	(	)do	homem...
M33.	[pera	aí...	você
Acha... pera aí... pera aí 
12.	Simultaneidade	de	vozes [[ M33.	[[mas	eu	garanto	que	muita	coisa
H28.	[[eu	acho	eu	acho	é	a	autoridade
13.	Ortografia tô, ta, vô, ahã, mhm
II. A organização da conversa – em uma conversa, os interlocutores devem falar um por vez. 
Eles devem esperar um lugar relevante para a transição (LRT), ou seja, esperar por marcas na fala 
do	interlocutor	como	pausas,	hesitações,	entonações	descendentes,	marcadores	etc.	Os	interlocutores	
emitem sinais para marcar o fim de seu turno ou um convite à fala do outro e trocam o tempo todo os 
papéis de falante e ouvinte, mas isso não impede que, em algumas situações, muitas pessoas falem ao 
mesmo	tempo	e	se	entendem.	Todos	os	falantes	têm	direito	à	fala.	Conforme	explica	Marcuschi	(2007b),	
a noção de turno engloba dois sentidos:
1. distribuição de turno;
2. unidade construcional.
6Projeto de Estudo Coordenado da Norma Urbana Linguística Culta.
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Saiba que os turnos podem ser nucleares (centrais no desenvolvimento do tópico discursivo) e 
inseridos (produções marginais ao tópico). A mudança de turno pode ocorrer por meio da passagem, 
do assalto e da sustentação da fala. A passagem do turno pode ser requerida ou consentida pelo falante; 
os assaltos são uma espécie de violação da regra “falar um de cada vez”, e o falante invade o turno do 
outro sem solicitação ou consentimento (o interlocutor assaltado pode perder e em seguida retomar, 
abandonar ou recuperar o comando da interação sobrepondo-se à fala do outro); e a sustentação 
é uma tentativa do falante de garantir a posse do turno, recorrendo a marcadores conversacionais, 
alongamentos, repetições e elevação da voz.
No caso das entrevistas formais, que apresentam uma estrutura básica de pergunta e resposta, em 
geral, a elaboração do turno conversacional apresenta uma distinção nítida: os turnos de resposta tendem 
a ser longos e, apesar de pausas, truncamentos, hesitações, alongamentos etc., não há tomada de turno. 
A estrutura em pergunta e resposta compõe a unidade fundamental da organização conversacional e 
pode variar na sua realização.
III. Dos marcadores conversacionais – como o texto oral é planejado e verbalizado ao mesmo 
tempo, dos recursos mais característicos da fala natural são os marcadores conversacionais que podem 
ser verbais, não verbais ou prosódicos:	alguns	marcam	finalização	de	turno	(“não	é?”,	“entendeu?”);	
outros	marcam	participação	(“uhrum”);	e	outros	marcam	convergência	(“exato”,	“sim”).	Os	marcadores	
conversacionais são produzidos pelos falantes para dar tempo à organização do pensamento, sustentar o 
turno, monitorar o ouvinte, corrigir-se, reorganizar e reorientar o discurso e pelos ouvintes para orientar 
e monitorar o falante quanto à recepção com sinais de convergência, indagação e divergência.
Os	marcadores	(MCs)	se	apresentam	divididos	em	quatro	grupos:
1. MCs simples: um só item lexical – “mas”, “éh”, “aí”;
2.	MCs	compostos:	sintagmas	geralmente	estereotipados	–	“sim,	mas”,	“bom	mas	aí”;
3.	MCs	oracionais:	pequenas	orações	–	“eu	acho	que”,	“sim,	mas	me	diga”;
4. MCs prosódicos: recursos prosódicos – entonação, pausa, hesitação, tom de voz.
IV. A construção da compreensão no texto falado – quando dois ou mais indivíduos conversam, 
eles	coordenam	conteúdos	e	ações,	contruindo	um	texto	coerente.	O	sucesso	da	interação	atrela-se	
ao processo interacional estabelecido entre os participantes em um esforço coletivo pela construção 
de sentidos. Conforme Marcuschi (op. cit.), a compreensão na interação verbal face a face, resulta 
de um projeto conjunto de interlocutores em atividades cooperativas e coordenadas de coprodução 
de	 sentido	 e	 não	 de	 uma	 simples	 interpretação	 semântica	 de	 enunciados	 postos.	O	 analista	 deve	
dar conta de como os participantes de uma interação resolvem suas estratégias e seus processos 
de compreensão. Marcuschi apresenta algumas atividades de compreensão na interação verbal que 
merecem destaque:
•	 Estratégia	1	–	negociação: central para a produção de sentidos na interação verbal dada a sua 
natureza conjunta.
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•	 Estratégia	 2	 – construção de um foco comum: na interação, a base da troca é a sintonia 
referencial, o interesse comum e referentes partilhados.
•	 Estratégia	3	– demonstração de (des)interesse e (não)partilhamento: se não há esse partilhamento, 
a interação não progride.
•	 Estratégia	 4	 –	 existência e diversidade de expectativas: os interlocutores criam expectativas 
diversas em relação um ao outro, relacionadas ao contexto, às condições em que são produzidas, 
conhecimento partilhado etc.
•	 Estratégia	5	–	marcas de atenção: sinais enviados pelos interlocutores que demonstram se há 
boa ou má sincronia na interação.
A análise da conversação no Brasil constitui-se em uma linha de pesquisa praticada sistematicamente 
com uma produção editorial que abrange transcrições de materiais do corpus do Projeto de Estudo da 
Norma Linguística Urbana Culta (NURC), análises de textos orais sobre diversos temas da AC, gramáticas 
do português falado (com o corpus dos NURCs), além de teses e dissertações defendidas nos programas 
de pós-graduação das universidades brasileiras.
 Resumo
Nesta	Unidade	II,	você	refletiu	sobre	os	gêneros	textuais	do	dia	a	dia,	
tanto falados como escritos:
•	 Fala (telefonemas, aulas, entrevistas de emprego, conferências, 
palestras, comunicações, discursos, conversas de bar, de elevador, de 
ponto de ônibus, de namorados, de marido/mulher, de ex-marido e 
ex-mulher, teleconferências, bate-papo em viva-voz via Skype, MSN 
etc., programas de rádio e TV, pregão na feira, na rua, na bolsa de 
valores, fofocas, “bronca” (reprimenda) dos pais, da professora, do 
guarda	de	trânsito	etc.).
•	 Escrita (cartas: pessoais, de recomendação, de demissão etc., 
memorandos,	ofícios,	circulares,	anúncios:	publicitários,	de	emprego,	
de venda etc., formulários, e-mails, chats, multas, posts, coments 
de blogs, notas fiscais, listas de compra, bulas de remédio, receitas 
médicas, exames médicos, recibos, contas domésticas, jornal impresso 
e eletrônico, cheques, placas, outdoors,	recados	de	geladeira,	de	Orkut,	
de post-it etc.).
Você também observou que na linguagem existem vários níveis de 
variação linguística e que a linguagem é variável em seus mais diversos 
aspectos:
a. variação sociolinguística;
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b. variação dialetal;
c. variação de registros e níveis de fala;
d. variação de gêneros textuais realizados na fala;
e. variação de estratégias organizacionais da interação verbal;
f. variação de estratégias comunicativas;
g. variação de estratégias e processos de compreensão na interação;
h. variação de situaçõessociocomunicativas;
i. variação de construções sintáticas;
j. variação de seleção lexical.
E viu também que a teoria da linguística textual elabora a definição de 
um continuum tipológico entre os gêneros de fala e escrita pautados pelos 
seus níveis maior ou menor de formalidade.
Sobre as características próprias da fala, é importante considerar:
•	 Devido	 à	 sua	 interacionalidade	 intrínseca,	 a	 fala	 é,	 a priori, “não 
planejável”. Ela precisa ser apenas “localmente planejável”.
•	 Possui	 sua	 verbalização	 e	 seu	 planejamento	 concomitantes,	 pois	
esses processos emergem no momento da interação – a fala é o seu 
próprio rascunho.
•	 Apresenta	descontinuidades	frequentes	no	fluxo	discursivo:	abandono	
de tópicos discursivos; retomadas de tópicos discursivos, inserções 
abruptas de novos tópicos discursivos, truncamentos etc.
•	 Sintaxe	 característica/típica	 ligada,	 de	 certa	 forma,	 à	 sintaxe	
geral da língua. Um exemplo é a topicalização: “Esse menino, eu 
não sei se tomou banho hoje”; “A violência, falta de segurança, 
eu não me acostumo com esse ritmo de grandes metrópoles no 
Brasil”.
•	 Fala	é	processo,	portanto,	é	dinâmica:	não	é	um	produto	pronto	e	
acabado, pois está continuamente se refazendo, indo e voltando 
nos tópicos de interesse dos interlocutores, definindo-se em 
razão das necessidades, escolhas e pressões comunicativas da 
interação.
Refletiu	 ainda	 mais	 formalizadamente	 sobre	 as	 particularidades	 e	
característica que distinguem a fala da escrita e os funcionamentos de 
uma que interferem na outra.
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Dando continuidade à discussão acerca do binômio oralidade x 
escrita, você acompanhou a discussão sobre as perspectivas científicas 
em torno da relação oralidade e escrita apresentadas por Marcuschi (op. 
cit.).
1. Fala x escrita – a perspectiva das dicotomias.
2.	Oralidade	x	letramento	ou	fala	x	escrita?
3.	Oralidade	e	escrita	no	contexto	das	práticas	sociais.
4.	Oralidade	 x	 escrita:	 a	 tendência	 fenomenológica	 de	 caráter	
culturalista.
5. Fala x escrita – perspectiva variacionista.
6.	Oralidade	x	escrita	–	a	perspectiva	interacional.
7. Concepção e funcionamento da língua – consequente relação fala/
escrita.
Para fixar melhor os conceitos, você acompanhou uma análise das 
principais	 categorias	 a	 partir	 da	 música	 Saudosa maloca, de Adoniran 
Barbosa.
E, por fim, você acompanhou a apresentação das principais 
características e categorias da análise da conversação: tratamento 
dos dados orais; recursos não verbais da conversação; a organização 
da conversa; os marcadores conversacionais; as estratégias de 
negociação, construção, demonstração e diversidade de expectativas 
na conversação.
 Exercícios
QUESTÃO 1.	Leia	a	letra	da	música	a	seguir	e	analise	as	afirmações	subsequentes.
As mariposa
As mariposa quando chega o frio
Fica	dando	vorta	em	vorta	da	lâmpida	pra	si	isquentá
Elas roda, roda, roda e dispois se senta
Em	cima	do	prato	da	lâmpida	pra	descansá
Eu	sou	a	lâmpida
E as muié é as mariposa
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Unidade II
Re
vi
sã
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ia
ne
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ia
gr
am
aç
ão
: L
éo
 -
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Que fica dando vorta em vorta de mim
Todas noite só pra me beijá
Tá muitu bom...
Mas num vai si acostumá, viu
dona	mariposinha?
(BARBOSA,	1974).
I.	Adoniran	usa	o	nível	de	linguagem	popular,	que,	além	de	caracterizar	o	personagem	da	música,	
cria efeito de humor.
II.	Se	a	letra	da	música	fosse	alterada	de	acordo	com	as	regras	da	norma	culta,	o	efeito	de	sentido	
permaneceria o mesmo.
III.	O	compositor	comete	erros	gramaticais	com	o	intuito	de	desvalorizar	a	cultura	popular,	deixando	
evidente que a população brasileira não tem bom nível de escolaridade.
Está correto o que se afirma somente em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das alternativas:
I. Afirmativa correta.
Justificativa:	 o	 nível	 de	 linguagem	 popular	 explorado	 por	 Adoniran	 Barbosa	 em	 suas	músicas	 é	
essencial para a produção de efeito de humor e também para caracterizar os personagens.
II. Afirmativa incorreta.
Justificativa: se alterássemos a letra para o nível formal, toda a graça da obra se perderia.
III. Afirmativa incorreta.
Justificativa: as letras de Adoniran não têm como objetivo a desvalorização da linguagem popular. 
Ele apenas reproduz em suas composições o modo de falar de um determinado grupo.
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Teorias do TexTo
Re
vi
sã
o:
 T
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ne
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 D
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gr
am
aç
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éo
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QUESTÃO 2. (Provão 1999) Considere o texto abaixo.
A praia de frente pra casa da vó
Eu queria surfar. Então vamo nessa: a praia ideal que eu idealizo no caso particularizado de minha 
pessoa, em primeiramente, seria de frente para a casa da vó, com vista para o meu quarto. Ia ter uma 
plantaçãozinha de água de coco e, invés de chão ser de areia, eu botava uns gramadão presidente. Assim 
eu, o Zé e os cara não fica grudando quando vai dar os rolê de Corcel ! Na minha praia dos meus sonhos, 
ia rolar vááárias vós e uma pá de tia Anastácia fazendo umas merenda nervosa! Uns sorvetão sarado! Uns 
mingauzão federal! Umas vitaminas servida! X-tudo! XCalabresa Cebola Frita! Xister Mc Tony’s e gemada 
à vontade pros brother e pras neneca! Tudo de grátis! As mina, exclusive, ia idrolatar surfistas chamados 
Peterson Ronaldo Foca (conhecidentemente como no caso da figura particularizada da minha pessoa, 
por	exemplo).	Pra	ganhar	as	deusa,	o	xaveco	campeão	seria...	o	meu:	“E	aís,	Nina	(feminina)?	Qual	teu	
C.E.P.?	Tua	tia	já	teve	catapora?	E	teu	tio?	E	tua	avó?	Uhu!!	Já	ganhei!!”	E	se	ela	falasse:	“Vai	procurar	a	
tua turma!” , minha turma estaria bem do meu lado, pra eu não ficar procurando muito!
Exclusive, eu queria surfar, mas na praia ideal dos meus sonho (aquela que eu desacreditei, rachei 
o bico e falei “nooossa!” ) Não haveriam tubarães. (Haveriam porque é vários tubarães!). A “Eu, o Zé e 
os Cara, Paneleiros and Friends Association” ia encarregar o colocamento de placas aleatórias com os 
dizeres:	“Sai	fora,	tubarão!	Cê	num	sabe	quem	cê	é!”	.	E	os	bicho	ia	dar	área	rapidinho!	Cê	acha,	jovem?!	
Nóis	num	quer	ficar	que	nem	um	colega	meu,	O	Cachorrão,	da	Associação	dos	Surfistas	de	Pernambuco,	
umas entidade sem pé nem cabeça! Então vamo nessa: na praia dos sonhos que eu falei “É o sooonho!”, 
teria menos água salgada! (Menas porque água é feminina!) Eu ia conseguir ficar em pé na minha 
triquilha tigrada, sair do back side, subir no lip, trabalhar a espuma, iiihaa!! Meus pés ia grudar na 
parafina e eu ia ficar só lá: dropando os tubo e fazendo pose pras tiete, dando umas piscada de rabo de 
olho	e	rasgando	umas	onda	de	30	metros	(tudo	bem,	vai!	Um	metro	e	meio...).	Mesmo	sem	abrir	a	boca,	
eu ia ser o centro das atençães e os repórter ia me focalizar com neon, luz estetoscópica robotizada e 
uns	show	de	raio	lazer!!	De	18	concorrentes,	eu	ia	sagrar	décimo	sétimo,	porque	um	esqueceu	a	prancha.	
(Tamém,	o	cara	marcou!)	E	as	mina	só	lá:	“Uhu!!	Foca	é	animal!!	Focaliza	o	Foca!!	O	cara	é	o	própio	galã	
de Óliud!”
Exclusivamente, eu queria surfar, daí os carinha da República me pediram pra falar na revista, a vó 
tirou	um	pelo	de	mim:	“Cê	nunca	vai	falar	na	revista,	Peterson	Ronaldo!”	Daí	eu	falei:	“Artigo??	Eu?	É	
comigo?	Tá	limpo!”	.	Eu	já	apareço	no	rádio!	Por	que	eu	não	posso	falar	na	revista?!	Então	vamo	nessa	
de novo: eu queria pensar, mas eu nem tô ligado nesses lance de utopia...Dormir na pia... Supermetropia! 
Esses	lance	aí	quem	pensa	é	o	Zé!	Eu	queria	escrever!	Em	súmula:	eu	parei	de	pensar,	agora	eu	só	surfo!	
Consequentemente, Peterson Foca.
Peterson Foca, personagem cult de “Sobrinhos do

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