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Arte: o que é isto?

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Estética e Filosofia
Arte: O que é isto ?
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profo. Esp. André Luís Pereira dos Santos
Revisão Textual:
Profª. Esp. Kelciane da Rocha Campos 
5
Nesta unidade, vamos conversar um pouco sobre as propriedades e 
fronteiras do que pode ser considerado artístico ou não. 
Lembre-se de refletir sobre os exemplos apresentados e de realizar as 
atividades com afinco. 
Esse processo certamente ampliará sua visão do tema, preparando-o(a) 
para compreender criticamente as situações cotidianas que estejam ligadas 
à apreciação e, até mesmo, ao próprio fazer artístico.
Arte: O que é isto ?
Além de se apropriar dos textos da unidade, é importante que, aqueles que desejem se aprofundar 
mais nas questões relativas entre arte e filosofia, criem um repertório de referências. O que isso quer 
dizer? É imprescindível que um bom estudioso de estética conheça pelo menos parte da obra de um 
bom número de pintores, escultores, dramaturgos, cineastas, literatos, entre outros, para que possa 
ampliar sua compreensão do universo das artes. No material complementar, há a indicação de um site 
com mais de 25.000 quadros que podem auxiliar seus estudos. Além desse, há um outro com vários 
livros de arte (em inglês) que podem ser consultados e baixados gratuitamente.
 · Arte: O que é isto?
 · Por uma Definição de Arte
 · Arte como Cultura
 · Arte como Discurso
 · Formas e Expressões da Arte
6
Unidade: Arte: O que é isto ?
Contextualização
Esta imagem é de uma escultura representando uma cabeça 
de Ile Ifé, cidade do povo Iorubá, datada aproximadamente de 
um período entre o século XII e o século XV depois de Cristo. 
Ao olharmos para ela, encontramos traços semelhantes aos da 
arte clássica ocidental. Porém, o que intrigou os arqueólogos 
foi o fato de eles acreditarem que essa escultura não poderia 
ter sido feita por africanos. Excetuando-se o preconceito dessa 
afirmação, a arte africana por muito tempo foi vista como algo 
exótico ligada apenas ao culto. Hoje sabemos que a produção 
artística da África e de outros povos que vivem a ancestralidade 
é extremamente elaborada e diversificada.
Pense
Agora que avançamos um pouco em nossas discussões sobre a arte, partindo das ideias expostas 
acima, reflita sobre os seus limites, levando em consideração as seguintes questões:
• Que critérios você costuma utilizar para decidir se determinada obra pode ser considerada “Arte”?
• Você já olhou para a produção artística de outros povos com curiosidade? Respeita o valor 
artístico dessas manifestações?
• Já pensou naquilo que pode legitimar uma obra de arte como tal?
Glossário
Ancestralidade - processo pelo qual a pessoa se reconhece parte de uma herança ancestral, de 
uma comunidade, uma origem comum. Por meio dela, acredita-se que não há dissensões entre 
tempo e espaço. O passado, o presente e o futuro se confundem, dialogando com toda a história 
de determinado povo.
Britsh Museum - Ife head: Brass head of a 
ruler Wunmonije Compound, Ife, Nigeria, 
probably 1300s – early 1400s
7
Arte: O que é isto?
Até agora, buscamos discutir sobre as relações possíveis entre a estética e a filosofia. No 
entanto, propositalmente, não tentamos buscar definições específicas sobre a arte. Em algum 
momento, você já se perguntou o que realmente seria a arte?
Primeiramente, é importante lembrar que, se nos aprofundarmos nessa discussão, surgirão 
mais perguntas do que respostas. Assim, podemos considerar essa definição também como um 
problema filosófico. Problema no sentido de que há divergências, conflitos e concessões em 
relação ao campo artístico e também muitas maneiras de usufruirmos dele.
Desse modo, veremos que é uma tarefa muito difícil definir o que é arte. Essa palavra assume 
diversas significações ao longo da história e se define de muitas maneiras. Por enquanto, 
recorreremos a uma primeira definição apenas para iniciarmos a conversa.
Por uma Definição de Arte
No dicionário Houaiss, encontramos o seguinte significado para ela: “produção consciente 
de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia 
ou para a expressão da subjetividade humana”. Partindo dessa definição, vemos que a arte 
tenta dialogar com o mundo em que vivemos e dar sentido à nossa existência. No entanto, 
ela não está pautada somente por regras racionais. Certamente, a imaginação e a criatividade 
são partes de nossa racionalidade. Porém, quando dizemos que a arte não se guia por regras 
racionais, queremos dizer que ela, na verdade, tem a liberdade de exprimir sensações, intuições 
e percepções que não necessariamente precisam ser provadas ou conduzidas racionalmente. 
Mesmo a visão política de um artista é subjetiva, ou seja, faz sentido para ele. Podemos 
partilhar de sua visão e refletirmos ou nos emocionarmos com ela. No entanto, aquilo que ele 
produziu faz parte de um processo criativo que é somente dele. Não podemos exigir da arte 
o mesmo rigor argumentativo que exigimos da ciência. Assim, aquilo que, em determinado 
território ou determinada época é considerado belo e artístico, em outra pode não o ser. Além 
disso, ela vai além da religião porque não se permite limitar por dogmas de fé ou por outras 
verdades estabelecidas. 
A arte é um diálogo com seu tempo, com aquilo que está acontecendo no momento em que 
a obra é produzida. Mas algumas obras ultrapassam seu tempo e se tornam universais, refletindo 
sobre questões que sempre serão atuais. Ezra Pound dizia que “os artistas são a antena da raça”, 
isto é, teriam, segundo ele, uma sensibilidade maior em captar as questões essenciais do ser 
humano. Ademais, o fazer artístico é uma maneira de perpetuar-se para além da morte, deixar 
algo de significativo para os que vêm depois de nós, dar sentido ao fato de nos perguntarmos: 
por que estamos aqui?
8
Unidade: Arte: O que é isto ?
 
 Diálogo com o Autor
Artistas partilham da vocação, de acordo com suas disciplinas e artes, de fundir as 
novas imagens da mitologia, ou seja, eles produzem as metáforas contemporâneas que nos 
permitem compreender a natureza transcendente, infinita e abundante do ser como ele é. 
Suas metáforas constituem os elementos essenciais dos símbolos que tornam manifesto o 
esplendor do mundo como este é, isto em lugar de argumentar que este deveria ser de um 
modo ou outro. Elas o revelam como é.
CAMPBELL, Joseph. Isto és tu: redimensionando a metáfora religiosa. SãoPaulo: 
Landy, 2002. p.36.
Certamente, as pessoas não se perguntam se a Mona Lisa de Da Vinci é uma obra de arte 
ou se uma grande ópera como o barbeiro de Sevilha, se tem valor artístico. Mas, ainda temos 
dificuldades de perceber o poder artístico das manifestações culturais populares, como o bumba 
meu boi, a congada e o maracatu. Vemos a arte africana como algo mais exótico do que artístico 
e não sabemos muito bem como classificar a dança e a literatura dentro do campo das artes.
Antes de mais nada, é preciso que nos livremos de preconceitos e olhares estéticos limitadores 
e empobrecidos quando buscamos compreender as fronteiras entre a arte e as outras formas 
de conhecimento. A contadora de histórias Regina Machado costuma dizer que para adentrar 
o maravilhoso mundo dos contos tradicionais é preciso virar o olho (2004. p. 89). Isto é, para 
compreendermos verdadeiramente as narrativas da tradição oral, precisamos aprender a 
olhar para as coisas de outra maneira, partilhar do instante criador, revivê-lo e ressignificá-lo, 
vivenciando novas formas de compreensão da história que escutamos.
A arte exige um processo semelhante. É necessário reeducar o olhar para adentrar o universo 
artístico, despir-se de interpretações pré-concebidas e colocar-se diante da obra como um 
discípulo que até aquele momento não foi iniciado naquela linguagem, aprender com elae 
olhar com atenção para suas possibilidades de significação.
 
 Diálogo com o Autor
Se admitirmos que o poder básico da imaginação é o de configurar imagens, é mais difícil perceber 
que sua função primordial é configurar significações, responsáveis por um genuíno e pessoal 
processo de aprendizagem.
MACHADO, R. Acordais: Fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias. 
São Paulo: DCL, 2004. p. 31.
9
Assim, seria uma irresponsabilidade pensar a noção de arte como algo singular. Deveríamos 
pensar então em discutir “as artes”. Visto que qualquer que seja a definição necessária de 
“artes”, ela deve se conjugar de maneira plural.
Da mesma maneira, os parâmetros que podem estabelecer um estatuto para a obra de 
arte são primordialmente culturais. Temos territórios que são pensados como espaços de 
reconhecimento para as obras de arte: Os museus, as galerias, os teatros, entre outros. Abrigar 
a arte nesses espaços corresponde a reconhecê-las como tal. Mas quem decide aquilo que 
deve ou não ser exibido nesses espaços? Essa resposta também não é muito complexa. Pois 
temos peritos, críticos, negociadores e historiadores da arte. Esses profissionais desenvolveram 
com o tempo um discurso competente, rigoroso e de autoridade sobre os limites da arte. 
Portanto, podemos começar nossa pequena apropriação do escopo da arte, partindo desses 
dois parâmetros iniciais: o da cultura e o do discurso.
Arte como Cultura
Primeiramente, para entendermos o que é cultura, precisamos definir o que é natureza. Esse 
conceito pode adquirir inúmeros significados. Natureza pode ser tanto um princípio vital quanto 
a essência de um ser, ou ainda, como afirma Marilena Chauí, “tudo o que existe no Universo 
sem a intervenção da vontade e da ação humanas. Assim natureza ou natural opõe-se à técnica 
e a tecnologia (por esse motivo, opomos natural e técnico)” (CHAUÍ, 2010. p. 218).
Realmente, o que diferencia o ser humano dos outros animais é a capacidade de produzir 
meios que alteram o seu ambiente, adaptando-o à sua realidade.
O homem, justamente por escapar abstratamente de um presente contínuo, na verdade essa 
é a única realidade temporal que ele vivencia, cria culturalmente uma noção de passado e uma 
noção de futuro. Assim, uma das definições possíveis que podemos dar à cultura é concebendo-a 
como a junção dos recursos materiais e imateriais que nos auxiliam a deixarmos nossa marca 
na história da humanidade.
Pense
Leia o texto abaixo e reflita sobre as possibilidades de criação de cultura presentes no 
processo artístico.
Cada instante criador corresponde à intensidade de um momento de vida. Ele é o esquecimento do 
passado com todo o acúmulo de conhecimentos e o despertar do presente em plenitude e riqueza. O 
ato de criação é um ato de presença. Criar é viver no presente. Neste aqui e agora estão contidas as 
nossas vivências individuais enriquecidas das vivências do mundo a que pertencemos. Este mundo 
está conosco, não podemos nos separar dele. O momento criador, quando vivido intensamente, é 
um retorno à unidade inicial. É, portanto, um momento de intensa alegria. Através da intuição, as 
ideias se harmonizam. A intuição é a claridade que vem dentro de nós mesmos e não é buscada 
fora, através de ensinamentos. Desperta num momento inesperado, quando o pensamento lógico 
foi transcendido (...). 
ANDRÉS, M. H. Os Caminhos da Arte. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 53. 
10
Unidade: Arte: O que é isto ?
Você já deve ter ouvido a história de Mowgli, que foi criado por lobos, ou mesmo a de 
Tarzan, criado por macacos. Além disso, podemos acrescentar a história de Robinson Crusoé, 
náufrago solitário que, pelo seus conhecimentos, altera a realidade da ilha em que se viu 
obrigado a sobreviver. Os dois primeiros casos são baseados nas histórias de crianças que foram 
criadas por animais e, justamente por isso, imitavam e reproduziam comportamentos animais. 
Realmente, é muito improvável que uma criança criada por lobos ou por macacos adquirisse 
características humanas, visto que essas são culturais, geradas pela convivência, mas, sobretudo, 
aprendidas por intuição, por convivência ou por ensino. Porém, no terceiro caso, o de Crusoé, 
há verossimilhança na concepção dessa história. É perfeitamente possível que uma pessoa com 
recursos à mão reproduza o que recebeu como herança de aprendizado; o homem cria a partir 
daquilo que aprendeu.
Desse modo, como arte e cultura se relacionam? Ora, as manifestações artísticas obedecem 
aos padrões e costumes da região, da tradição em que estão inseridas. Logo, as definições do 
que é ou não artístico se estabelecem por padrões culturais e se multiplicam tanto quanto o ser 
humano se difere em seus povos e suas culturas. 
Decorre daí que a arte não pode ser considerada natural. Podemos, por exemplo, encontrar 
uma paisagem magnífica e esteticamente avassaladora. No entanto, não podemos considerar 
essa paisagem como uma obra de arte, visto que não houve a intervenção de um artista em 
sua produção. Obviamente, pode haver proporção, equilíbrio de cores e texturas nessa imagem, 
entretanto ela é fruto de um ordenamento da natureza que está submetido à regularidade 
do meio ambiente, provocado por leis universais a que nós também estamos racionalmente 
submetidos. A paisagem só se torna arte quando é representada artisticamente por meio de uma 
técnica: a pintura ou a fotografia, por exemplo.
Apontamos anteriormente que o termo “arte” tem origem na palavra latina Ars, que é a 
tradução do termo grego Téchné, “técnica” ou um “saber fazer”. Gostaríamos de retornar a essa 
discussão para reforçá-la com alguns dados. 
Na antiguidade, havia uma identificação necessária entre a arte e a técnica. A técnica pode 
ser definida como toda ação ou atividade do homem que, guiada por regras, visa à fabricação 
de alguma coisa. Tanto o artesão quanto o artista utilizam-se de seu ofício no sentido de produzir 
ou criar uma obra. Por isso, nessa perspectiva, podemos conceber a técnica, ou a arte, por meio 
de uma oposição ao que é casual ou espontâneo. Isto é, por extensão, também ao que é natural. 
Na verdade, até o século XVIII, podemos entender a arte como uma maneira que o ser humano 
encontrou de usar a natureza em seu favor, um saber fazer.
É somente a partir do século XVIII que se inicia uma separação de concepções que distingue 
a técnica das belas-artes (a pintura, a escultura, a música, a dança, o teatro e a literatura). 
O ato de transformar a natureza, dominando-a, consolida-se como tecnologia, o que não 
deixa de ser um artifício, ou seja, algo não natural. Esse processo leva a uma separação de 
concepções que leva as artes a se definirem por sua utilidade. Desse processo de reflexão, 
surgem dois grupos distintos, classificados a partir da finalidade de suas ações.
O primeiro reunindo as artes mecânicas, que conjugam aquelas práticas e saberes que são 
úteis na manutenção da vida cotidiana. Fazem parte desse grupo a agricultura, a culinária, a 
arquitetura e a medicina, por exemplo. Mas também os artesanatos, como a marcenaria, a 
tecelagem, a jardinagem, a joalheria e a tapeçaria, entre outros. Essas formas de arte acabaram 
por constituir mais o campo das “técnicas”, perdendo gradativamente o estatuto de “arte”.
11
No segundo grupo, ficaram as artes que possuem por finalidade a produção do belo e as 
sensações análogas à sua contemplação: A música, a poesia, o teatro, a escultura e a dança, 
entre outras. Essa parte das artes mecânicas consiste naquilo que nos acostumamos a chamar 
de belas-artes e, portanto, a tudo que hoje procuramos conceber como artístico.
Desse modo, fica muito claro que há, nesse processo, uma contraposição entre utilidade e 
beleza. O que, em um olhar mais superficial, pode levar a uma falsa interpretação de que as 
belas-artes sejam ocupações supostamente inúteis. 
De formaalguma. Atualmente, há um consenso de que a arte traduz e materializa de forma 
particular sentimentos, sensações, visões de mundo, concepções políticas e críticas sociais de 
maneira que outras formas de conhecimento e outras linguagens não poderiam propiciar. Tanto 
como fenômeno social quanto como experiência estética, em todos os lugares, a arte e os 
artistas são imprescindíveis na construção histórica e social da humanidade.
Assim, podemos pensar que o artista constrói uma visão particular do mundo que ultrapassa 
a forma com que as outras pessoas lidam e percebem cotidianamente esse mesmo mundo, 
partindo de coisas que, de alguma forma, sempre estiveram lá, mas foram ressignificadas pela 
intervenção pessoal do artista, produzindo algo que dialoga com os outros em uma perspectiva 
inovadora e essencial.
Trocando Ideias
Vik Muniz
Ao pensarmos na relação entre o artista e a sociedade, o papel 
desempenhado pelo fotógrafo e artista plástico Vik Muniz é 
fundamental. Um dos mais reconhecidos e respeitados nomes 
brasileiros no circuito internacional de arte, suas obras dialogam 
com a sociedade, não só pelo produto final, mas também 
pelo processo de criação. Muitos de seus trabalhos consistem 
em releituras de grandes obras, feitas a partir de materiais 
cotidianos e inusitados como chocolate, café, material reciclável, 
açúcar, entre outros. Foi a partir da série “Crianças de Açúcar”, 
realizada na ilha de St. Kitts, no Caribe, que o artista começou 
a ficar conhecido mundialmente. Nesta série, ele fotografou sete 
crianças filhas de trabalhadores que ganham sua vida na colheita 
de cana-de-açúcar, trabalho árduo e desgastante. Vik recriou os 
retratos dessas crianças modelando-as com açúcar. A metáfora 
que se coloca aí é muito importante. Pois, o produto da subsistência dessas famílias é também o que 
se insere no processo de criação da obra. Ele conviveu com essas famílias, conhecendo um pouco de 
seus anseios e agruras, tornando assim a sua obra indissociável de sua produção. O doce do açúcar 
se choca com o amargor da exploração do trabalho infantil e da luta pela subsistência daqueles que 
são esquecidos pela sociedade.
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Desse modo, retornando então aos critérios que nos permitem definir e classificar a arte, para 
alguns as obras de Mozart podem ser definitivas e muito mais complexas do que as de Ernesto 
Nazareth. Seguindo a mesma linha de pensamento, Rafael ou Da Vinci sempre serão mais 
reconhecidos do que Almeida Júnior ou Rubens Caribé? Não necessariamente. 
12
Unidade: Arte: O que é isto ?
Da mesma forma que Mozart pode não fazer o menor sentido para um índio bororo ou a 
pintura clássica não tocar de maneira alguma uma senhorinha que pita seu cachimbo de fumo 
de corda no interior de Minas Gerais, a apreciação e a definição do que é artístico também 
é cultural, no sentido de que os especialistas em arte vão estabelecer critérios que permitam 
perceber quão mais universais são os questionamentos a que uma obra nos leva. Talvez a 
coisa não seja tão simples, mas algo que propicie reflexões estéticas diversas em pessoas de 
diferentes origens certamente pode merecer o estatuto de “Arte”, mas há um consenso que se 
dá por meio do discurso para que isso aconteça.
O derrubador Brasileiro
José Ferraz de almeida Júnior foi 
um pintor brasileiro que durante a 
segunda metade do século XIX retratou 
as características do povo brasileiro em 
seus quadros. Ficou famoso por assumir 
o regionalismo como tônica de suas 
obras, retratando a simplicidade da 
cultura caipira, por meio de personagens 
anônimos e intrigantes. J
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Pense
Vamos refletir sobre a frase abaixo e sua interpretação pela filósofa Marilena Chauí. Você já havia 
pensado na obra de arte da maneira que este texto propõe?
O artista é aquele que fixa e torna acessível aos mais “humanos” dos homens o espetáculo de 
que participam sem perceber.
MERLEAU-PONTY, M. A Dúvida de Cézanne. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril 
Cultural, 1984. p. 120.
A obra de arte “fixa e torna acessível” o mundo em que vivemos e que percebemos sem nos 
darmos conta dele e de nós mesmos nele. A obra de arte nos dá a ver o que sempre vimos sem 
ver, a ouvir o que sempre ouvimos sem ouvir, a sentir o que sentimos sem sentir, a pensar o que 
sempre pensamos sem pensar, a dizer o que sempre dissemos sem dizer. Por isso, nela e por ela, 
a realidade se revela como se jamais a tivéssemos visto, ouvido ou até mesmo dito, sentido ou 
pensado. Eis por que o artista é o que passa pela experiência de nascer todo dia para a “eterna 
novidade do mundo”.
CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010. p. 246.
13
Arte como Discurso
Quando defendemos que uma das maneiras primordiais de definirmos a arte se dá pelo 
discurso, na verdade estamos especificando a noção de que o belo também é aquilo que se 
define como tal, por meio do que afirmamos sobre cada obra específica. A fala do especialista, 
portanto, legitima certos objetos como obras de arte dignas de atenção e afasta outros do 
domínio das coisas que podem ser consideradas como dotadas de valor artístico. Tomemos 
as artes plásticas, por exemplo. O Estudioso que se debruça sobre os tratados de história da 
arte, que frequenta museus pelo mundo e tem contato com inúmeros objetos de valor artístico 
incontestável, desenvolve também a condição, o discurso e o vocabulário necessário para nos 
orientar na interpretação da arte, dotando-nos de parâmetros para também percebermos as 
nuances e significações impregnadas nas obras de maneira específica.
Podemos acrescentar o fato de que se um desses estudiosos escolhe expor determinado 
quadro ou escultura em uma galeria ou em um museu, o próprio fato dessa exposição já 
reconhece aquele objeto como algo dotado de valor artístico, sendo, portanto, esteticamente 
interessante e compartilhável. O que estamos querendo dizer é que a anuência do 
especialista, por meio de seu discurso, legitimou a presença daquela obra em um território 
que é primordialmente da arte. O que, nesse momento, seria o mesmo que dizer: “Estamos 
afirmando que este objeto é uma obra de arte e merece ser observado com mais atenção”.
Assim, todo esse processo permite que a crítica tenha não só o poder de decidir o que é 
artístico e o que não é. Além disso, os especialistas podem também inserir as obras e os artistas 
em uma escala de excelência que segue parâmetros específicos, gerando a possibilidade de 
classificarmos alguns objetos artísticos como obras-primas e alguns artistas como gênios. 
Antigamente, o conceito de obra-prima estava ligado às corporações de ofício. Imaginemos 
uma guilda de escultores, por exemplo. Sua oficina, além de ser o local que abriga a sua produção, 
também era um ateliê em que se aprendia o ofício de esculpir, seguindo as orientações de um 
mestre de ofício, alguém que dominava plenamente os meandros ligados a aquele determinado 
tipo de criação técnica ou artística. Nesse lugar, o aprendiz deveria adquirir maestria e dominar 
gradativamente todos os processos envolvidos no ato de produzir uma escultura. Sua primeira 
obra, realizada com perfeição e maestria, era julgada pelos artistas que já dominavam aquela 
técnica e era também considerada como sua obra-prima. Com o passar do tempo esse conceito 
mudou, vindo a designar a obra mais perfeita ou a melhor obra de um artista.
Mas em que isso se relaciona ao papel no discurso na obra de arte? Simples e ao mesmo 
tempo complexo. A ideia de obra-prima hoje não se relaciona diretamente com um saber fazer. 
Atualmente, os critérios que os especialistas usam para determinar isso são menos precisos e 
exigem uma percepção diversa daquela que os mestres de ofíciousavam para julgar o trabalho 
de seus pupilos.
Por outro lado, não podemos apenas alegar que o consenso é uma maneira de determinarmos 
a grandeza de um artista. Como anteriormente apontamos, aquilo que hoje é considerado 
grande e majestoso, amanhã pode tornar-se ultrapassado e simplório. Na música, por exemplo, 
esse fenômeno ocorre com frequência. Determinados estilos e compositores são exaltados em 
uma época, enquanto que logo depois são deixados de lado. Porém, esse aspecto relaciona-se 
mais ao fato de encararmos a música prioritariamente como objeto de consumo. Entenderemos 
isso melhor quando, em outro momento, tratarmos do conceito de indústria cultural.
14
Unidade: Arte: O que é isto ?
Dessa maneira, legitimar a arte parte de uma equação complexa que relaciona, entre outros 
fatores, a qualidade do artista, a maestria da obra, o consenso da crítica, a anuência do público 
e a prova do tempo. Esses fatores se interconectam, influenciando-se mutuamente, permitindo 
que estabeleçamos parâmetros mínimos na apreciação da obra de arte. Entretanto, não podemos 
afirmar que a competência dos especialistas e autoridades tragam segurança na definição do belo 
artístico. Os estetas e críticos de arte, por muitas vezes, demonstram inconstância, contrariedades 
e falta de objetividade em seu trabalho, trazendo mais confusão ao processo de quem quer se 
iniciar no mundo da estética.
Todavia, é a partir desse caldeirão de influências que podemos nos aproximar dos grandes 
mestres e aprender a traçar rumos que nos levam ao caráter múltiplo da arte, que consiste 
em uma linguagem construída por meio da racionalidade, sem se prender aos rígidos 
requisitos da lógica científica. O processo artístico, então, fala muito mais dos fenômenos e 
sensações que a experiência artística nos provoca do que de certezas, regularidades e solidez 
na interpretação das obras.
Na mesma linha desta discussão, talvez valha a pena lermos a feliz definição de Umberto Eco 
para a arte, pautada sobre o seu conceito de Obra Aberta.
Tem-se discutido, de fato, em estética, sobre a “definitude” e a “abertura” de 
uma obra de arte: e esses dois termos referem-se a uma situação fruitiva que 
todos nós experimentamos e que frequentemente somos levados a definir: 
isto é, uma obra de arte é um objeto produzido por um autor que organiza 
uma seção de efeitos comunicativos de modo que cada possível fruidor possa 
compreender (através do jogo de respostas à configuração de efeitos sentida 
como estímulo pela sensibilidade e pela inteligência) a mencionada obra, 
a forma originária imaginada pelo autor. Nesse sentido, o autor produz uma 
forma acabada em si, desejando que a forma em questão seja compreendida 
e fruída tal como a produziu; todavia, no ato de reação à teia dos estímulos e 
de compreensão de suas relações, cada fruidor traz uma situação existencial 
concreta, uma sensibilidade particularmente condicionada, uma determinada 
cultura, gostos, tendências, preconceitos pessoais, de modo que a compreensão 
da forma originária se verifica segundo uma determinada perspectiva individual. 
No fundo, a forma torna-se esteticamente válida na medida em que pode ser 
vista e compreendida segundo multíplices perspectivas, manifestando riqueza 
de aspectos e ressonâncias, sem jamais deixar de ser ela própria (...). (ECO, 
1991, p. 40).
A intenção do artista ainda permanece lá na obra, no entanto não se pode negar que o 
espectador contribui grandemente com o seu olhar, enxergando significados onde o artista, nem 
em sonho, teve o intuito de propiciar. A obra se torna aberta porque literalmente se abre para o 
surgimento de novos significados a cada novo olhar. E, quanto mais formas de se olhá-la, mais 
significados serão gestados.
O discurso competente pode nos aproximar da fruição das obras, entretanto é na regularidade 
de nosso contato com a arte que podemos compreender os detalhes que permitem o seu 
consumo, levando-nos a experiências estéticas de tirar o fôlego. Ao tomarmos, por exemplo, 
um vinho de Bordeaux ou um espumante do novo mundo, somente compreenderemos a 
complexidade de seus sabores e aromas se possuirmos um repertório extenso de sensações 
causadas, além dos vinhos daquela região, por outros vinhos de outras cepas (uvas) e de 
15
outras regiões. Da mesma maneira, a arte também necessita ser experimentada extensivamente 
para que possamos traçar paralelos, percebermos referências e citações e, sobretudo, nos 
aproximarmos daquela obra em sua totalidade. Talvez o termo totalidade não seja o mais 
adequado nessa definição, visto que as grandes obras sempre permitiram que surgissem novas 
interpretações e novos aspectos a se descobrir. 
Formas e expressões da arte
Quando falamos de arte, é muito comum assumirmos a pintura como sua representante 
mais ilustre. Porém, apesar de, historicamente, haverem se construído escalas e hierarquias 
para artistas e manifestações artísticas, a arte se expressa de muitas maneiras e não podemos 
dizer que uma expressão da arte é melhor ou mais apurada do que as outras. Pensemos na 
dança, por exemplo. Há tanta dificuldade para se atingir o domínio técnico nas artes do corpo 
como o há na arte pictórica. Além disso, a execução de uma peça de Alexander Scriabin ao 
piano ainda exige anos e anos de muito estudo e dedicação. Desse modo, todas as expressões 
da arte possuem campos de ação e de investigação próprios, denotando tanto esforço quanto 
o necessário na obtenção do domínio técnico pertencente a aquela forma de vivenciar a arte.
Fazendo um grande esforço, podemos, de maneira geral, classificar as manifestações 
artísticas nestes cinco grandes campos: as artes plásticas, as artes cênicas, as artes literárias, a 
dança e a música.
No entanto, quando falamos de arte, geralmente nos esquecemos, por exemplo, de que 
os escritores também são artistas e produzem obras de arte literárias. Só recentemente os 
grafiteiros começaram a ser reconhecidos como artistas. Uma bailarina ainda hoje sofre para ser 
verdadeiramente reconhecida em sua profissão. Além disso, alguns críticos ainda insistem em 
considerar o cinema mais como um entretenimento do que como uma forma de arte. 
Essas questões estão longe de ser solucionadas. Mas, refletirmos sobre elas é uma maneira de 
fazermos essa discussão avançar, visto que podemos pensar na arte também como uma forma 
de aprendizado e uma forma de nos relacionarmos com o mundo. Como vimos, a definição da 
arte pode ser algo complexo e nebuloso sob alguns pontos de vista. 
Em filosofia, a compreensão estética do belo e dos limites da arte passa por todas essas 
expressões. São todas formas de criar. Porém, o processo criativo estabelece uma fronteira que 
se dá mais pela atitude e pela conceituação do que por um esforço de definição rígido e preciso.
Portanto, não é demasiado afirmarmos que qualquer que seja a maneira de definirmos a arte e 
suas expressões, chegaremos à conclusão que essas definições serão sempre sócio-históricas, visto 
que se inserem em um campo de significação que se constrói culturalmente. As concepções de arte 
de cada povo, de cada território, são estabelecidas segundo seus costumes, suas crenças e o seu 
pensamento. Desse modo, é extremamente ilusório pensarmos que seja possível a uma definição 
particular de arte abarcar todo o universo artístico, em todos os tempos e todos os espaços. 
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Unidade: Arte: O que é isto ?
Como vimos, cada cultura possui conceitos próprios para o que é arte. Dentro desse 
grupo específico esses conceitos são absolutos e verossímeis. Todavia, se compararmos essas 
concepções com as de outro grupo, elas se tornarão relativas. Toda definição de arte está 
relacionada ao tempo e ao espaço vivenciado por grupos específicos, criadores e herdeiros 
de cultura. Assim, há muitos modos de se especificar o que é arte. São definições mutantes e 
abrangentes que, nodiálogo entre si, nos aproximam daquilo que o homem contemporâneo 
concebe como arte, deixando o campo aberto para que novas definições sejam inseridas nesse 
grande arcabouço poético-teórico. 
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Material Complementar
Textos
ECO, U. A Definição da Arte. Lisboa: Edições 70, 2008.
HAUSER, A. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes,1998.
Filmes
• Lixo Extraordinário, Direção de Lucy Walker. Reino Unido/Brasil, 2010 (Duração 90 min.).
• O Sorriso de Monalisa, Direção de Mike Newell, Estados unidos, 2003 (Duração 125 min.).
Sites
• Publicações gratuitas do Metropolitan Museum of Art (Museu Metropolitano de Arte), de 
Nova York (Em inglês).
ht tp: / /www.metmuseum.org/research/metpubl icat ions/ t i t les-wi th- fu l l - text-
online?searchtype=F
• Site da National Gallery of Art (Galeria de Arte Nacional), que disponibilizou para 
download gratuito 35 mil imagens de obras de arte em alta resolução. 
https://images.nga.gov/en/page/show_home_page.html
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Unidade: Arte: O que é isto ?
Referências
ANDRÉS, M. H. Os Caminhos da Arte. Petrópolis: Vozes, 1977.
CAMPBELL, J. Isto és tu: redimensionando a metáfora religiosa. São Paulo: Landy, 2002.
CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010.
ECO, U. Obra Aberta. São Paulo: Perspectiva, 1991.
MACHADO, R. Acordais: fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias. 
São Paulo: DCL, 2004.
MERLEAU-PONTY, M. A Dúvida de Cézanne. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril 
Cultural, 1984.
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Anotações

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