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Gestão de Processos e Sistemas de Informação UNIDADE I – A ORGANIZAÇÃO O QUE É UMA ORGANIZAÇÃO As organizações são difíceis de ser vistas. Veem-se alguns detalhes, como um elevado prédio ou uma estação de trabalho ou um empregado amistoso; mas a organização como um todo é vaga e abstrata e pode estar distribuída por diversas localizações. Sabe-se que as organizações estão lá porque elas afetam todos, todos os dias. Na verdade, elas são tão comuns que as pessoas já as têm como certas. Mal as pessoas percebem que elas: nascem em maternidades; têm seus nascimentos registrados em cartórios; são educados em escolas e universidades; crescem com alimentos produzidos em fazendas; são tratadas por médicos pertencentes a um grupo; compram casas erguidas por uma empresa de construção e vendidas por imobiliárias; fazem empréstimos em bancos; socorrem-se com a polícia e com os bombeiros quando têm problemas; usam empresas de mudanças quando trocam de residência; recebem diversos benefícios de órgãos governamentais; trabalham 40 horas por semana em uma organização; e até são sepultadas por uma empresa funerária. DEFINIÇÃO Organizações tão diversas como uma igreja, um hospital e uma empresa de energia como a Petrobrás têm características em comum. A definição usada neste resumo para descrever organizações é a seguinte: organizações são (1) entidades sociais que (2) são dirigidas por metas, (3) são desenhadas como sistemas de atividades deliberadamente estruturados e coordenados e (4) são ligadas ao ambiente externo. O principal elemento de uma organização não é um edifício ou um conjunto de políticas e procedimentos; as organizações são compostas por pessoas e seus relacionamentos. Uma organização existe quando as pessoas interagem para realizar funções essenciais que auxiliam a alcançar metas. Recentes tendências em gerenciamento reconhecem a importância dos recursos humanos. E a maioria das novas abordagens é desenhada para dar aos funcionários maiores oportunidades de aprender e contribuir à medida que trabalham juntos, visando a metas comuns. Os administradores deliberadamente estruturam e coordenam os recursos organizacionais para alcançar o propósito da organização. Entretanto, embora o trabalho possa ser estruturado em departamentos separados ou em conjuntos de atividades, a maioria das organizações atuais está se esforçando pra obter maior coordenação horizontal das atividades relacionadas com o trabalho, muitas vezes utilizando equipes de funcionários de diferentes áreas funcionais para trabalhar juntos em projetos e processos. As fronteiras entre os departamentos e entre as organizações tornam-se mais flexíveis e difusas à medida que a organização não pode existir sem interagir com clientes, fornecedores, concorrentes e outros elementos do ambiente externo. Atualmente, algumas empresas estão até mesmo cooperando com seus concorrentes, compartilhando informações e tecnologia, com vantagens pra todos. IMPORTÂNCIA DAS ORGANIZAÇÕES Hoje isto pode parecer difícil de acreditar, mas as “organizações” como as pessoas as conhecem são relativamente recentes na história da humanidade. Até o final do século XIX, existiam poucas organizações de algum porte ou importância – nenhum sindicado ou associações comerciais, poucas grandes empresas, organizações sem fins lucrativos ou ministérios governamentais. Quantas mudanças ocorreram desde então! A Revolução Gestão de Processos e Sistemas de Informação * 2006-2017, M.e Ricardo Bezerra de Menezes Industrial e o desenvolvimento de grandes organizações transformaram toda a sociedade. Pouco a pouco, as organizações se tornaram centrais à vida das pessoas e hoje exercem uma enorme influência em nossa sociedade. As organizações estão por toda parte à volta dos indivíduos e moldam suas vidas de diversas maneiras. O quadro abaixo lista sete razões pelas quais as organizações são importantes para o indivíduo e para a sociedade. A importância das Organizações 1 Reúnem recursos para alcançar metas e resultados desejados 2 Produzem bens e serviços com eficiência 3 Facilitam a inovação 4 Utilizam tecnologia moderna de fabricação e tecnologia baseada no computador 5 Adaptam-se a um ambiente em transformação e o influenciam 6 Criam valor para proprietários, clientes e funcionários. 7 Acomodam constantes desafios da diversidade, da ética e da motivação e coordenação dos funcionários. Em primeiro lugar, as organizações reúnem recursos para realizar metas específicas. Tome- se o exemplo de fundações ou de organizações não governamentais que conseguem, por meio da mobilização de vários atores, recursos de toda a ordem para o cumprimento de seu objetivo organizacional. As organizações também produzem, a preços competitivos, mercadorias e serviços que os clientes desejam. As empresas procuram técnicas inovadoras de produzir e distribuir mercadorias e serviços com mais eficiência. Um modo é por meio do comércio eletrônico (e-commerce) e da utilização de tecnologia de produção baseada no computador. A reformulação das estruturas organizacionais e das práticas administrativas também pode contribuir para o aumento da eficiência. As organizações criam uma tendência para a inovação mais do que confiam em produtos padronizados e maneiras ultrapassadas de fazer as coisas. O projeto e fabricação1 assistidos por computador e a nova tecnologia da informação também ajudam a promover a inovação. As organizações se adaptam e influenciam um ambiente em rápida mutação. Algumas grandes empresas têm departamentos inteiros dedicados a monitorar o ambiente externo e encontrar modos de se adaptar ou de influenciar aquele ambiente. Uma das mais significativas modificações atuais no ambiente externo é a globalização. Com todas essas atividades, as organizações criam valor para seus proprietários, clientes e funcionários. Os administradores precisam conhecer que partes do empreendimento criam valor e que partes não o fazem; uma empresa só pode ser lucrativa quando o valor que criar for maior que o custo dos recursos. Por fim, as organizações têm de lutar com os atuais desafios da diversidade da força de trabalho e acomodá-los, lidar com as crescentes preocupações sobre ética e responsabilidade social e com os mutáveis padrões de carreira, bem como encontrar maneiras eficazes de motivar os funcionários a trabalhar juntos para atingir as metas organizacionais. As organizações modelam nossas vidas, e os administradores bem-informados podem modelar as organizações. O conhecimento da teoria da organização capacita os administradores a projetar organizações que funcionem mais eficazmente. Do ponto de vista dessa visão social, pode-se afirmar que assim como as pessoas, uma organização tem caráter próprio que a distingue das demais, isto é, ela desenvolve uma identidade própria. Suas características principais são: 1 Computer Aided Design (CAD) e Computer Aided Manufacturing (CAM) Gestão de Processos e Sistemas de Informação * 2006-2017, M.e Ricardo Bezerra de Menezes • divisão do trabalho, do poder e das responsabilidades de comunicação – deliberadamente planejada para favorecer a realização de fins específicos. • presença de um ou mais centros de poder que controlam os esforços concentrados da organização e os dirigem até seus fins – revisam continuamente a atuação da organização e remodelam sua estrutura. • substituição de pessoal: pessoas que não satisfazem à organização podem ser dispensadas e suas tarefas atribuídas a outras. A organização pode também mudar seu pessoal por meio de transferência e promoção. ORGANIZAÇÃO COMO SISTEMA As organizações funcionam como sistemas abertos. Isso significa que elas estão em um processo contínuo e incessante de trocas com o ambiente.Em outras palavras, a organização como um sistema aberto é parte de uma sociedade maior e é constituída de partes menores. Essa integração das partes menores produz um todo que não pode ser compreendido pela simples visualização das várias partes tomadas isoladamente. As organizações são vistas como sistemas dentro de sistemas. Os sistemas são complexos de elementos em interação para alcançar objetivos. Toda organização atua em determinado ambiente, e sua existência e sobrevivência dependem da maneira como ela se relaciona com esse meio. O sistema aberto apresenta fronteiras altamente permeáveis que permitem um constante intercâmbio de recursos, energia e informação com seu meio ambiente, do qual recebe os insumos (entradas ou inputs) necessários à sua sobrevivência e às suas operações e no qual coloca os resultados de suas operações (saídas ou outputs) na forma de produtos ou serviços. Os sistemas abertos – como todos os seres vivos, organizações, a economia e a própria sociedade – interagem dinamicamente com o ambiente por meio de uma multiplicidade de entradas e saídas que não são exatamente conhecidas nem obedecem às relações diretas de causa e efeito. Daí o comportamento complexo dos sistemas abertos. Eles não são coisas, mas organismos complexos que se comportam de maneira complexa. Um sistema é composto de vários subsistemas, conforme ilustrado na figura 1 adiante. Retroação Figura 1 – Organização como sistema aberto e seus subsistemas. Gestão de Processos e Sistemas de Informação * 2006-2017, M.e Ricardo Bezerra de Menezes Esses subsistemas desempenham as funções específicas necessárias à sobrevivência organizacional, tais como produção, cobertura das fronteiras, manutenção, adaptação e administração. O subsistema de produção gera as saídas de produtos e serviços da organização. Os subsistemas de limite de fronteiras são responsáveis pelas trocas com o ambiente externo. Eles incluem atividades como a compra de suprimentos ou a comercialização de produtos. O subsistema de manutenção mantém a operação uniforme e a conservação dos elementos físicos e humanos da organização. Os subsistemas adaptativos são responsáveis pela mudança e adaptação da organização. As organizações – como sistemas abertos – apresentam as seguintes características: • Importação e exportação: a organização importa continuamente do ambiente os recursos, materiais e energia necessários para abastecer suas operações e exporta continuamente para o ambiente os produtos ou serviços que produz. De um lado, a organização tem suas entradas provindas do ambiente e, de outro, tem suas saídas para o ambiente. Esse fluxo de importação-exportação é a característica principal da organização como sistema aberto. • Homeostasia: é a tendência do sistema aberto de permanecer em um equilíbrio dinâmico mantendo o seu status quo interno. O sistema aberto precisa manter uma constância no intercâmbio de energia importada e exportada do ambiente para assegurar sua estabilidade e sobrevivência. A homeostasia garante a estabilidade e o estado firme do sistema apesar de todas as variações que ocorrem no ambiente. Ela enfatiza o processo ou atividades internas da organização, isto é, a busca da eficiência interna. A homeostasia leva à rotina e à conservação do sistema e garante o equilíbrio dinâmico da organização em um contexto variável. • Adaptabilidade: é a mudança na organização do sistema, na sua interação ou nos padrões requeridos para conseguir um novo e diferente estado de equilíbrio com o ambiente externo, mas por meio da alteração do seu status quo interno. A adaptabilidade ocorre graças ao processo de retroação (feedback) para manter a organização viável. A retroação permite que a saída de um sistema influencie positiva ou negativamente a sua entrada no sentido de ajustar o sistema a determinados padrões de funcionamento ou corrigir possíveis desvios. Essa focalização adaptativa e ecológica das organizações traz como consequência uma focalização nos resultados (saídas ou outputs) em vez da ênfase sobre o processo ou atividades da organização, a ênfase sobre a eficácia e não exclusivamente a ênfase sobre a eficiência do sistema. Ao contrário da homeostasia, a adaptabilidade leva à ruptura, à mudança e à inovação no sistema para que ele possa ajustar-se às demandas mutáveis do ambiente externo. • Morfogênese: é uma decorrência da adaptabilidade do sistema aberto ao seu ambiente. O sistema aberto tem a capacidade de modificar a si próprio de maneiras estruturais. Esta é a principal característica identificadora das organizações como sistemas abertos. A organização pode modificar continuamente a sua constituição e estrutura para melhorar o alcance de seus objetivos. • Negentropia (ou entropia negativa): a entropia é um processo pelo qual todas as formas organizadas tendem à exaustão, à desorganização, à desintegração e, por fim, à morte. É a degradação típica dos sistemas fechados que sofrem desgaste, decomposição e depreciação. Para sobreviver, os sistemas abertos se reabastecem de insumos e energia além de suas necessidades básicas para manter indefinidamente sua estrutura organizacional por meio da entropia negativa. Com isso, os sistemas abertos evitam a entropia mediante a importação de quantidades maiores de energia do que elas devolvem ao ambiente como produto ou serviço. Parte da entrada de energia em uma organização é investida diretamente para proporcionar a saída organizacional na forma de produto ou serviço. Outra parte da entrada da energia é absorvida e Gestão de Processos e Sistemas de Informação * 2006-2017, M.e Ricardo Bezerra de Menezes consumida pela própria organização para compensar a perda de energia entre entrada e saída. • Sinergia: é o oposto da entropia. Representa um esforço simultâneo de várias partes ou subsistemas da organização em benefício da mesma função. Assim, a sinergia é um efeito multiplicador das partes fazendo com que o resultado de uma organização seja diferente da soma de suas partes ou de seus insumos. A aritmética organizacional é diferente da aritmética tradicional. Assim, 2 + 2 pode ser igual ou maior do que 4. Isso mostra o emergente sistêmico, ou seja, o resultado do todo pode ser maior do que o de suas partes. Quando menor do que 4, temos entropia devida às perdas do sistema. Além disso, as características do sistema podem ser completamente diferentes das características de suas partes constituintes. A água, por exemplo, é completamente diferente das características de seus componentes: o oxigênio e o hidrogênio. A floresta é completamente diferente de suas árvores. • Limites ou Fronteiras: como um sistema aberto, a organização apresenta limites ou fronteiras, isto é, barreiras entre o sistema e o ambiente. Os limites ou fronteiras definem a esfera de ação do sistema, bem como o seu grau de abertura (receptividade de insumos) em relação ao ambiente. A organização deve proporcionar a permeabilidade de suas fronteiras, ampliando a sua integração com o ambiente, sempre que possa ser revertido em benefício para a própria organização. Esta é a razão pela qual a perspectiva sistêmica ou holística traz uma nova maneira de ver as coisas, não somente em termos de abrangência, mas, sobretudo, quanto ao enfoque. O enfoque do todo e das partes, do que está dentro e do que está fora, do total e da especialização das partes, da integração interna e da adaptação externa, da eficiência e da eficácia. A visão global ou “gestáltica” das coisas privilegia a totalidade e as suas partes componentes sem desprezar o que chamamos de emergente sistêmico: as propriedades do todo que não aparecem em nenhuma das partes. Trata-se de ter a visão do bosque,e não de cada árvore. A visão da cidade, e não de cada prédio ou edifício. O importante é a visão da organização toda, e não apenas de cada uma de suas partes. CONFIGURAÇÃO ORGANIZACIONAL Vários componentes da organização são projetados para desempenhar as funções-chave dos subsistemas ilustrados na figura 1 anterior. Uma estrutura proposta por Henry Mintzberg sugere que toda organização possui cinco componentes. Esses componentes, representados na figura 2, incluem: o núcleo técnico (ou essência operacional); o suporte técnico (ou tecnoestrutura); o suporte administrativo (ou staff de suporte); a alta administração (ou ápice estratégico); e a administração média (ou linha intermediária). Os cinco componentes da organização podem variar em tamanho e importância dependendo do ambiente, tecnologia e outros fatores. O núcleo técnico (ou essência operacional) inclui o pessoal que realiza o trabalho básico da organização. Ele desempenha a função do subsistema de produção e é responsável por gerar as saídas de produtos e serviços da organização. É aí que ocorre a principal transformação dos insumos em produtos. O núcleo técnico é o departamento de produção em uma empresa fabril, os professores de uma universidade e as atividades médicas de um hospital. A função de suporte técnico (ou tecnoestrutura) ajuda a organização a adaptar-se ao ambiente. Funcionários do suporte técnico como engenheiros e pesquisadores sondam o ambiente em busca de problemas, oportunidades e avanços tecnológicos. O suporte técnico é responsável pela criação de inovações no núcleo técnico, ajudando a organização Gestão de Processos e Sistemas de Informação * 2006-2017, M.e Ricardo Bezerra de Menezes a mudar e adaptar-se. O suporte técnico é fornecido por departamentos como os de tecnologia, pesquisa e desenvolvimento e pesquisa de marketing. A função de suporte administrativo (ou staff de suporte) é responsável pela operação uniforme e conservação da organização, o que inclui seus elementos físicos e humanos. Esta função inclui atividades de recursos humanos como as de recrutamento e contratação, definição de remunerações e benefícios, e treinamento e desenvolvimento de funcionários, além de atividades de manutenção como limpeza de instalações e conservação/reparo de máquinas. As funções de suporte administrativo de uma empresa como a Petrobrás poderiam incluir o departamento de recursos humanos, desenvolvimento organizacional, o refeitório dos funcionários e o pessoal de manutenção. Administração é um subsistema distinto, responsável pela direção e coordenação de outras partes da organização. A alta administração (ou ápice estratégico) fornece direção, estratégia, metas e políticas para toda a organização ou suas principais divisões. A administração média (ou linha intermediária) é responsável pela implementação e coordenação no nível departamental. Nas organizações tradicionais, os gerentes de nível médio são responsáveis pela mediação entre a alta administração e o núcleo técnico, tais como as atividades de implementação de regras e transmissão de informações para cima e para baixo da hierarquia. Figura 2 – Cinco componentes básicos de uma organização - Fonte: Baseada em MINTZBERG, H. The structuring of organizations (Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1979, p. 215-297; e MINTZBERG, H. Organization design: fashion or fit?, Harvard Business Review, v. 59, p. 103-116, Jan.-Feb 1981 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Comportamento organizacional. A dinâmica do sucesso das organizações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004, p. 34-36. DAFT, R. L. Organizações: teoria e projeto. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. MINTZBERG, H. Criando organizações eficazes: estruturas em cinco configurações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
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