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CREATIVE COMMONS COMO NOVA 
FORMA DE CONTRATO PARA 
PROTEÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS 
NA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA 
 
MíriamCosta Toyama (UFSCar) 
miriamtoyama@gmail.com 
Miriã Regina Brunello (Unicamp) 
miriabrunello@gmail.com 
 
 
 
A partir do final da década de 90 a indústria fonográfica, que até então 
apresentava crescimento tanto em lucro quanto em vendas, começou a 
enfrentar dificuldades. Como causa da queda das vendas e lucros as 
associações representantes dessa indústria apontaram a pirataria 
cometida pelos consumidores em potencial, através de softwares de troca 
de arquivo. A partir disso, foi apontado que a dificuldade de lidar com a 
nova tecnologia pudesse se dever ao modelo de negócios adotado, que 
baseia a proteção desses ativos na legislação de direitos autorais. 
Começam então, a surgir novos modelos de negócios, a organização 
Creative Commons é um desses novos modelos. Neste artigo pretendemos 
analisar esse novo modelo de negócios à luz da Nova Economia 
Institucional. 
 
Palavras-chaves: Creative Commons, Nova economia institucional, 
indústria fonográfica 
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 
Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. 
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
1. Introdução 
A indústria fonográfica atingiu grande expressão econômica. Em 1998 ela empregou 
mais, na Inglaterra, do que a indústria têxtil, automobilística ou de metalúrgica. Ela também 
enfrentou três décadas de grande prosperidade, apresentando sempre crescimento de vendas e 
lucros. Isso durou até o final da década de 90, quando vendas e lucros começaram a cair. 
Como culpado pelo mau desempenho da indústria fonográfica, alguns autores apontaram 
o surgimento de inovações em indústrias relacionadas à fonográfica, como o surgimento de 
arquivos em formato MP3, conexões de banda larga e gravadores de DVD e CD. 
Apesar das tentativas da indústria fonográfica em reduzir e eliminar a troca ilegal de 
arquivos de música na internet essas trocas continuam a acontecer. E mesmo após a onda de 
processos da indústria fonográfica contra usuários das redes de trocas de arquivos, as trocas 
ilegais voltaram a crescer. 
Diante desta situação muitos proclamaram que esta situação marcava a morte do modelo 
de negócios atualmente utilizado pela indústria fonográfica. Recentemente têm surgido novos 
modelos de negócios. Um deles é a proposto pela organização Creative Commons. 
A organização propõe uma série de licenças que o autor da obra pode escolher ao invés de 
proteger sua obra pelos direitos autorais. Tais licenças são mais flexíveis e visam facilitar a 
disseminação do conhecimento. 
Este artigo visa discutir estas licenças creative commons sobe o referencial teórico da 
Nova Economia Institucional. Para isto o artigo é dividido em partes. O Primeiro tópico é o 
referencial teórico, explicando a Nova economia Institucional, o segundo tópico explica o tipo de 
bem que é produzido e vendido pela indústria fonográfica. O terceiro tópico é uma breve 
explicação a respeito dos direitos autorais, forma atualmente utilizada par proteger obras 
artísticas. O quarto tópico cobre a configuração da indústria fonográfica, e por último temos uma 
síntese conclusiva a respeito do trabalho. 
 
 
2. Referências Bibliográficas 
Em meados dos anos 30 do século passado, a economia seguiu um passo diferente. Até 
determinado momento, as teorias existentes, tratavam detalhadamente, apenas dos custos gerados 
pela produção. Foi então, que Ronald Coase, publicou o artigo denominado “ The nature of the 
firm ” ( A natureza da firma ), o qual abre espaço a novas pesquisas e análises econômicas. 
Coase tinha como objetivo definir o que a empresa é no mundo real. Seus estudos o 
fizeram concluir que os custos de produção não são únicos dentro da empresa. Além disso, 
concluiu-se também que as negociações oriundas da cadeia produtiva geram custos, os quais não 
devem ser negligenciados. A estes denomina-se custos de transação. 
Citado por Farina et al (1997), Coase diz que custos de transação poderiam ser divididos 
em duas categorias: custos de coleta de informações e custos de negociação e estabelecimento de 
contrato. Mais tarde esse conceito se reduziu a custos de transação como sendo os custos 
originados da utilização do mercado. 
 
 
 
 
 
 
3 
Iniciaram-se desta forma, estudos que passaram a detalhar os custos de transação como 
elementos importantes ao processo decisório adotado pelas empresas ( Kupfer, 2002) . 
Segundo Fiani(2002) “custos de transação são os custos de negociar, redigir e garantir o 
cumprimento de um contrato”. Fiani(2002) afirma também que “a unidade básica de análise 
quando se trata de custos de transação é o contrato”. Essa definição de que os custos de 
transação existem a partir da celebração de um contrato é condicionada a alguns fatores 
determinantes, tais como: racionalidade limitada, complexidade e incerteza, oportunismo e 
especificidade de ativos. A existência de um desses fatores incorre em custo de transação. 
Com relação à definição dos custos de transação, eles podem ser classificados em : custos 
ex-ante e ex-post. Os custos ex-ante são aqueles identificados pelos agentes, „antes‟ que a 
transação ocorra. Já os custos ex-post não podem ser antecipados pelos agentes devido à 
racionalidade limitada. 
Atualmente, sabe-se que o homem é um ser racional, porém sua razão é limitada. Ao 
contrário da economia ortodoxa, que pregava a racionalidade ilimitada dos indivíduos, Hebert 
Simon conceituou o comportamento humano como sendo um comportamento intencionalmente 
racional, porém limitado ( Farina, 1997 ). 
Fiani(2002), explica que essas limitações do comportamento humano possuem 
fundamentos neurofisiológicos e de linguagem, limitando assim a capacidade que o homem tem 
em processar, acumular e transmitir informações. 
Williamson ( 1985 ), citado em Farina (1997), apresenta três tipos de racionalidade: 
Racionalidade Forte; 
Racionalidade Limitada, e 
Racionalidade orgânica. 
A racionalidade forte é a mesma tratada pela economia ortodoxa, onde os indivíduos são 
plenamente capazes de processar, armazenar e transmitir informações de maneira que seus 
objetivos serão sempre atingidos sem dificuldades. 
Já a racionalidade limitada é baseada no conceito de Hebert Simon (Farina, 1997). Os 
agentes neste caso, alcançam seus objetivos, porém encontram algumas dificuldades, já que não 
possuem capacidade de prever contingências futuras. Por essa incapacidade de prever 
contingências futuras, os indivíduos ao redigirem um contrato o fazem de forma incompleta 
(Farina, 1997). É este o conceito que a Economia de Custos de Transação utiliza. 
Por fim, tem-se a racionalidade orgânica. Nelson & Winter (1982), citados por ( Farina, 
1997 ), dizem que a racionalidade orgânica “assume que a capacidade racional dos indivíduos 
não é suficiente para direcionar a escolha de um quadro institucional com a finalidade de 
amenizar problemas contratuais ex-post”. 
Outros fatores que influenciam na redação incompleta dos contratos são: a complexidade 
e a incerteza que pairam sobre o ambiente empresarial. De acordo com Fiani(2002), “incerteza 
combinada com racionalidade limitada, dificulta definir e distinguir as probabilidades 
associadas aos diferentes estados da natureza que podem afetar a transação”. Esses fatores 
somados a complexidade dos ambientes, geram assimetrias de informações, que dificultam a 
elaboração de contratos completos e podem interferir nos resultados da transação. 
Outro fator que possibilitam os custos de transaçãoé o oportunismo, que segundo 
Fiani(2002), “por oportunismo entende-se a transmissão de informação seletiva, distorcida, e 
promessas “autodesacreditadas” (self-disvelieved) sobre o comportamento futuro do próprio 
 
 
 
 
 
 
4 
agente, isto é, o agente em questão estabelece compromissos que ele mesmo sabe, a priori, que 
não irá cumprir”. Esse comportamento é possibilitado pela racionalidade limitada, pelo ambiente 
complexo e pela incerteza existente nos ambientes empresariais. 
Williamson (1985), citado por Farina (1997), aponta três níveis de comportamento 
oportunista: 
Oportunismo ou auto-interesse forte, no qual as más ações são esperadas 
pelos indivíduos. Podem se classificados em ex-ante, onde uma das partes age 
antes de se efetivar um contrato, ou ex-post, onde o agente efetua seu auto-
interesse durante a execução da transação; 
Auto-interesse simples ou sem oportunismo, onde o que foi acordado, 
perdurará durante a execução do contrato; e 
Obediência ou ausência de auto-interesse, nesse caso as ações dos agentes 
são comandadas por uma entidade externa, como governo ou ideologia. 
Fiani(2002), também diz que “oportunismo está essencialmente associado à manipulação 
de assimetrias de informação, visando apropriação de fluxos de lucros”. Isso acontece, pois 
como já dito, a elaboração de contratos é feita de maneira incompleta. Afim de evitar custos ex-
post, oriundos da prática oportunista, alguns agentes tem co mo prevenção a elaboração de 
cláusulas contratuais que visam o modo de tratamento a ser dado a futuras divergências que 
possam vir ocorrer. 
Outra condição do oportunismo é a especificidade dos ativos, onde “comprador e 
vendedor passam a se relacionar de uma forma exclusiva ou quase exclusiva” ( Kupfer, 2002 ). 
Desta forma, se um fornecedor é o único capaz de atender as necessidades de um comprador, esse 
será o único a possuir informações concretas sobre seu produto, podendo manipular as condições 
de fornecimento do produto, criando situações oportunistas que vão dar vantagens a ele só. 
Farina (1997) define os ativos específicos como sendo aqueles que não são reempregáveis a não 
ser com perdas de valores, e os quais somados à incompletude dos contratos, geram situações 
oportunistas, ocasionando em custos de transação. 
A maior ou menor possibilidade da ação oportunista depende do ambiente institucional 
onde a transação ocorrerá. Espera-se que se a punição contra determinados tipos de oportunismo 
for muito grande, poucos agentes estejam dispostos a correr o risco, o que reduz o custo total 
associado a esta transação particular. 
 
3. O produto e a legislação de direitos autorais 
 A indústria fonográfica tem grande relevância econômica e no cotidiano das pessoas. De 
acordo com Fredericksen (2002), isso se deve ao aumento da renda após a Segunda Grande 
Guerra e às experiências pessoais desse período, como a maior independência das pessoas jovens. 
 Os produtos vendidos pela indústria fonográfica são considerados bens de informação, 
mais do que isso, são informação, conhecimento. Por isso apresentam características de bens 
públicos, como o consumo não rival, o que significa que o consumo de um indivíduo não afeta o 
consumo dos outros. As músicas também possuem a característica de bem público de não 
exclusão, que implica que uma vez lançado o produto é difícil impedir que pessoas que não 
pagaram por ele sejam excluídos dos benefícios de sua existência (LIEBOWITZS, 2002). 
A indústria fonográfica vende música em formato digital e impressa em uma mídia física. 
Ainda hoje a venda de mídias físicas é mais relevante do que a venda de música em formato 
 
 
 
 
 
 
5 
digital, principalmente em países como o Brasil (ABPD, 2008), em que a venda de mídias físicas 
representou 88% do total de vendas, em 2007. Apesar disso as vendas de música em formato 
digital crescem ano a ano. A venda de música em formato digital revitalizou a venda de singles 
(músicas vendidas separadamente), pois antes, com a venda de músicas impressas em mídias 
físicas predominava, a venda de álbuns (conjuntos de músicas). 
Imprimir as músicas em uma mídia física é uma forma de codificá-las. De acordo com 
Wijk (2002) codificar o conhecimento faz com que ele adquira características de commodity, 
facilitando sua difusão e comercialização. Codificar o conhecimento também faz com que este 
seja enquadrado como propriedade intelectual e possa ser protegido pela legislação de 
propriedade intelectual. 
Outra característica dos bens comercializados pela indústria fonográfica é que estes são 
bens experimentais. O que significa que o consumidor só conhece seu valor quando conhece o 
produto, quando o experimenta (MOLTENI ; ORDANINI, 2003 , SHAPIRO ; VARIAN, 2000). 
Esta característica pode gerar problemas de incerteza e de coordenação, entretanto, parte das 
músicas pode ser experimentada através do rádio, internet ou televisão. 
Como foi dito anteriormente, as músicas são bens de informação. Assim, possuem altos 
custos fixos e baixos custos marginais, o que significa que os custos iniciais de se produzir estes 
produtos pela primeira vez é muito alto se comparado aos custos da unidades subsequentes. Além 
disso, estes possuem característica de não rivalidade e não exclusão (LANDES; POSNER, 1989). 
De acordo com a Teoria neoclássica isso faz com ocorra uma falha de mercado, de forma que as 
forças de oferta e demanda não são capazes de determinar a melhor alocação de recursos neste 
mercado. 
Devido a isso, a entrada nesta indústria seria relativamente fácil e sem muitas barreiras, 
deixando os produtores em desvantagem e desincentivando a produção de música. Por isso, a 
produção de bens culturais, como música, filmes e livros é protegida pela lei de direitos autorais. 
De acordo com Akerlof et al (2002) a legislação visa beneficiar a sociedade ao incentivar 
a produção de bens culturais, que de outra forma enfrentaria a subprodução. De acordo com 
Landes e Posner (1989), o objetivo é maximizar o benefício de criar um trabalho adicional menos 
as perdas decorrentes de se limitar o acesso a esses trabalhos, cujo principal problema consiste 
em alcançar o equilíbrio correto entre o custo derivado do limite ao acesso e o benefício de se 
incentivar a criação. 
Entretanto, de acordo com Ramello (2004) a existência dos direitos autorais não apenas 
sana a falha de mercado como molda o comportamento dos agentes, propiciando o surgimento de 
um comportamento ret seeking por parte dos autores. Pois, uma vez que estes têm o monopólio 
sobre a obra, estes devem tentar maximizar seus ganhos com este monopólio. E isto levaria ao 
desperdício de recursos. 
 
4. Configuração da indústria 
De acordo com Frederiksen (2002), a configuração da indústria fonográfica se deve às 
incertezas do lado da demanda, oriundas das características particulares deste bem (como as 
características de bens públicos). Já Andersen et al (2000) afirmam que grande parte da 
 
 
 
 
 
 
6 
configuração se deve a elevação da renda e a modificação do comportamento das pessoas no pós 
Segunda Guerra. 
 Grande parte das vendas do mercado fonográfico se concentram nos EUA, Europa e 
Japão. Além disso, os mercados, tanto locais como internacionais, são dominados por quatro 
grandes gravadoras, em 2004 a situação era a seguinte: Universal com 25,5%, Sony BMG com 
21,5%, EMI com 13,4% e a Warner com 11,3% (IFPI, 2005). De acordo com Silva e Ramello 
(2000) essas grandes gravadoras possuem diversos selos, para cobrir os diversos estilos musicais. 
Como pode ser observado, a situação na indústria fonográfica é de oligopólio. 
O restante do mercado é ocupado por pequenas gravadoras que atuam no mercado local,no máximo atingem o mercado nacional. Em geral essas pequenas gravadoras se dedicam a 
nichos de mercado, como faz a gravadora Trama no Brasil. Elas também costumam lançar novos 
artistas e novas tendências,o que facilita o lançamento desses mesmos artistas por gravadoras 
maiores, quando estes se provam investimentos rentáveis. 
Além disso, as pequenas gravadoras não são capazes de adquirir ou construir todos os 
ativos necessários para suas operações, como as redes de distribuição e algumas etapas do 
processo de produção das músicas. Assim, elas realizam contratos com as grandes gravadoras 
para terem acesso a esses ativos, fazendo com que as grandes gravadoras possam controlar parte 
do mercado independente. (SILVA ; RAMELLO, 2000). 
De acordo com a RIAA (Record Industry Association of America) apenas 10% dos álbuns 
produzidos anualmente são capazes de cobrir os próprios custos de produção. Para atrair a 
atenção dos consumidores, sem a utilização de uma guerra de preços, que diminuiria as margens 
de lucros, as empresas utilizam a diferenciação de produtos. Considerando que neste caso 
acontece a diferenciação informacional, ou seja, a diferenciação depende das percepções do 
consumidor, independente da possibilidade de ser comprovada. Assim, neste caso, a qualidade 
percebida pelo consumidor é amplificada pelo marketing, e isto associado aos direitos autorais 
garante um monopólio temporário sobre a obra, que se torna única. 
Para produzir e distribuir um álbum é necessária a atuação de diversos agentes, que de 
acordo com Frederiksen (2002) podem ser divididos em três categorias: main activities, que 
engloba compositores e gravadoras e empresas engajadas em produção e distribuição do material; 
related activities, como fotografia e imprensa; e related industries, que engloba empresas de 
software relacionadas a atividade da atividade da indústria da música. 
5. Inovações e configuração da indústria 
A configuração atual da indústria também se deve a recentes inovações que surgiram em 
indústrias relacionadas, como o formato de compressão de arquivos de áudio MP3, as redes de 
trocas de arquivo, gravadores de CD e DVD e conexões de banda larga. De acordo com a 
indústria fonográfica, foram estas inovações, principalmente os arquivos em MP3 e as redes de 
trocas de arquivos, que causaram a queda de suas vendas e lucros a partir do final da década de 
90. 
 A importância dos arquivos MP3, para a indústria fonográfica, é que estes comprimem os 
arquivos de áudio, tornando-os leves e fáceis de serem transmitidos pela internet. Isso combinado 
às redes de troca de arquivos, que se tornaram comuns a partir do surgimento do Napster, 
 
 
 
 
 
 
7 
facilitou a pirataria por parte do consumidor. Outro fator importante é que os arquivos de MP3 
podem ser copiados sem que isto interfira na qualidade, ou seja, as cópias contêm a mesma 
qualidade que o arquivo original. 
Através das redes peer to peer, redes de troca de arquivo, os consumidores em potencial 
da indústria fonográfica podem trocar entre si as cópias ilegais das músicas protegidas por 
direitos autorais. E de acordo com a indústria fonográfica a proliferação das cópias digitais 
ilegais, de arquivos de músicas protegidas pelos direitos autorais é a principal causa da queda do 
desempenho das vendas e lucros a partir do final da década de 90. 
A indústria fonográfica apresenta crescimento constante de vendas e lucros desde a 
década de 70 até o final da década de 90, o que coincide com o surgimento do Napster, o 
primeiro software de troca de arquivos a se tornar mundialmente popular. Entretanto,alguns 
autores como Oberholzer e Strumpf (2004), Zentner (2003) e Hui (2002) afirmam que a pirataria 
virtual é responsável por parte do mau desempenho da indústria fonográfica. 
Como resposta a proliferação das redes de troca de arquivos a indústria fonográfica 
iniciou uma série de processos contra os responsáveis pelas redes. Depois disso, os softwares 
evoluíram, impedindo que seus responsáveis fossem processados. A indústria então começou a 
processar individualmente os usuários das redes, que são em última instância seus consumidores 
em potencial. 
As outras inovações facilitam a pirataria virtual por parte do consumidor. As conexões de 
banda larga facilitam a troca dos arquivos nas redes de troca. De acordo com um estudo da 
OCDE (2005), 50% dos usuários deste tipo de conexão mudaram para ela para poderem realizar 
maior número de downloads ilegais. Entretanto, a maior disponibilidade de conexões de banda 
larga também permite a instalação de lojas virtuais, para a venda de músicas no formato digital. 
Os gravadores de CD e DVD, assim como os tocadores de MP3 facilitam a utilização das cópias 
obtidas nas redes de trocas de arquivo. 
Diante dessas mudanças, hoje, a estratégia da indústria envolve o controle sobre o que os 
usuários podem fazer com as músicas que adquirem de forma legal (através do DRM – Digital 
Rights Managment) e o desenvolvimento de novos ativos complementares, como lojas virtuais e 
novos softwares, assim como contratos que incluem porcentagem no lucro dos show para as 
gravadoras. De acordo com a OECD (2004) isso fez surgir um novo modelo de negócios, que 
pode ser observado através da figura a seguir. Como pode ser observado através da figura estes 
novo modelo abrange um novo conjunto de agentes, que ao suporte as lojas de venda de música 
em formato digital. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
Figura 1 – Nova configuração dos canais de 
distribuição 
 
Fonte: OECD (2004), p. 49. 
 
 
 
Artistas Gravadora
s e 
publishers 
Lojas 
virtuais das 
gravadoras 
Jukebox hardwar
e 
Usuári
o 
Lojas 
virtuais de 
terceiros 
Provedores 
de Internet 
e portais 
Fornecedore
s de 
conteúdo 
para celular 
 
Kiosks 
Operadores 
de celulares 
Telefone
s 
celulares 
Lojas varejistas e atacadistas tradicionais 
 
 
 
 
 
 
9 
6. Creative Commons 
Como foi dito anteriormente, para tentar barrar a queda de vendas e lucros a indústria 
fonográfica iniciou uma série de processos contra os usuários e responsáveis pelas redes de troca 
de arquivos. Como estas medidas não fizeram com que as trocas de arquivos diminuíssem, a 
mídia e alguns autores afirmam que o modelo de negócios adotado até então pela indústria 
fonográfica estava fadado ao fracasso. 
Diante desta situação começaram a surgir novos modelos de negócios, venda de música 
on-line, sites vendendo ações de bandas. Uma dessas novas tentativas foi a criação de um novo 
modo de proteger os bens artísticos, que, até então eram protegidos pelos direitos autorais. 
Creative Commons é uma organização sem fins lucrativos presente em diversos países. 
No Brasil ela é hospedada pelo site da FGV. De acordo com Elkin-Koren (2005), a ideologia do 
Creative Commons se baseia nos seguintes pontos: 
1. a criatividade depende da utilização de obras já existentes; 
2. os direitos autorais são uma barreia ao acesso a essas obras já existentes, portanto 
dificultam a reutilização e compartilhamento das obras; 
3. os altos custos associados a esse regime legal afetam os indivíduos diretamente, 
afetando sua capacidade de ter acesso a esses bens e de reutilizá-los; 
4. os direitos autorais poderiam ser modificados de forma a promover o 
compartilhamento de informação. 
A organização oferece seis tipos diferentes de licenças sob as quais o autor pode proteger 
sua obra. Algumas licenças permitem que os usuários faça donwload de graça da obra, mas não 
permitem que ela seja modificada. Outras permitem que a obra seja modificada, mas deve ser 
protegida sob a mesma licença.As licenças garantem que a obra seja utilizada apenas de acordo 
com o que previsto na licença. 
As licenças Creative Commons representam uma nova solução contratual para o que vem 
acontecendo com a indústria fonográfica. As licenças também têm grande suporte de blogs e sites 
que apoiam a liberdade do conhecimento, pois através das licenças novas obras, cujos autores não 
têm interesses comerciais sobre as mesmas, podem ser distribuídas e modificadas de graça. 
Do ponto de vista econômico a adoção das licenças pode representar uma alocação mais 
eficiente dos recursos, uma vez que ela permite maior flexibilidade, se comparada com a lei de 
direitos autorais. Pois permite diferentes níveis de proteção e pode se encaixar melhor às 
necessidades dos agentes. 
 As licenças também representam uma solução contratual. Entretanto, como os agentes 
possuem racionalidade limitada, estes contratos são incompletos. E como são contratos padrão 
eles não abrem possibilidade para salvaguardas ex-ante ou ex-post. Que dentro da Nova 
Economia Institucional são considerados instrumentos para lidar com o oportunismo e com a 
incomplitude dos contratos. 
Outro ponto importante se refere a estrutura de enforcement, que da mesma forma que no 
caso dos direitos autorais, também não é adequada. A organização Creative Commons não realiza 
o trabalho de verificar o cumprimento dos contratos, dependendo essa fiscalização do autor. 
Desta forma, o novo modelo de negócios, o Creative Commons, apresenta a mesma dificuldade 
de lidar com a pirataria que a legislação de direitos autorais. 
As licenças também diminuem o número de intermediários entre os autores e os 
interessados em utilizar as obras. O site da organização oferece um sistema de busca de obras 
protegidas pelas licenças. O que elimina problemas como os enfrentados pela Universal ao tentar 
 
 
 
 
 
 
10 
lançar uma coletânea das músicas de Ronnie Von, mas não conseguia pois não localizava os 
detentores dos direitos autorais. 
Do ponto de vista legal o Creative Commons funciona como um contrato entre a 
organização responsável pelo CC e o autor. Isso porque, em termos econômicos, um contrato é 
eficiente quando estabelece limites entre a relação do contratado e contratante, não considerando 
terceiros. Isso quer dizer, como afirma Elkin-Koren (2005), que o contrato afeta os direitos e 
deveres de pessoas que não fazem parte do acordo inicial para o estabelecimento do contrato, da 
mesma forma que ocorre com o DRM. 
 Outro ponto ressaltado por Elkin-Koren (2005) é que se, através da elaboração de 
contratos, os autores são capazes de definir seus direitos de forma diferente do que é estipulado 
pela lei, de forma a desistir de alguns de seus direitos, pode ocorrer um movimento contrário. 
Autores podem realizar contratos expandindo seus direitos, podem até mesmo tentar entender a 
proteção ao infinito, o que vai contra a definição de direitos autorais. 
7. Conclusão 
 Como vimos, a indústria fonográfica tem enfrentado queda de vendas e lucros, e como 
culpada pelo mau desempenho a indústria indicou o surgimento de uma série de inovações em 
outra indústrias, como os arquivos em MP3 e os softwares de troca de arquivos. 
 Assim,a mídia em geral anunciou a morte da indústria da música e da música em geral. 
Entretanto, alguns autores proclamaram que na verdade a situação aponta para a morte do atual 
modelo de negócios da indústria. Dessa forma, começaram a surgir novos modelos de negócios. 
 Um desses novos modelos foi o surgimento das licenças creative commons. Como pode 
ser observado as licenças facilitam a disseminação de informação e conhecimento, uma vez que 
algumas delas são licenças que não permitem a utilização comercial da obra. Por outro lado as 
licenças também suas desvantagens, uma vez que sua estrutura de enforcement não é eficiente, e 
depende da fiscalização do próprio autor da obra. 
 
 
 
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ELKIN-KOREN, N. What contracts can‟t do: the limits of private ordering in facilitating creative commons. 
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Paulo: Editora Singular, 1997 
 
FIANI, R. Teoria dos custos de transação. In: KUPFER, D. e HASENCLEVER, L. (orgs.) Economia Industrial. Rio 
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FREDERIKSEN, L. Innovation? The fuzzy case of pop music industry. DRUID 
summer conference on “Industrial dynamics of the new and old economy- who is 
embracing whom?”. Copenhagen/Elsinore, Junho 2002. 
 
 
 
 
 
 
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