Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Profª Ludmila. Mannarino Página 38 DEGENERAÇÕES Apesar de a terminologia degeneração ter sido usada para caracterizar alterações regressivas das células e os depósitos intersticiais de substâncias, e até mesmo como sinônimo de infiltrações, atualmente considera-se como infiltração a presença de células na intimidade de outro tecido, e como degeneração como o processo lesivo que ocorre na célula, resultante do acúmulo anormal de substâncias no citoplasma, decorrente de um metabolismo alterado, sendo ainda um processo reversível, situado entre o estágio de um a célula normal e de sua morte. É importante ressaltar que mesmo sendo um processo reversível, pode ocorrer um dano severo à célula, comprometendo sua função. A classificação de degeneração é feita de acordo com o tipo de substância acumulada, as mais importantes são: Degeneração hidrópica (ou tumefação) → acúmulo de água, Degeneração gordurosa (ou esteatose) e lipidose → acúmulo lipídios, Degeneração hialina (ou hialinose) e mucoide → acúmulo de proteína, Degeneração glicogênica (ou glicogenose) e mucopolissacaridoses → acúmulo de carboidratos. Vejamos agora os tipos de degeneração e suas patogenias. Degeneração hidrópica É resultante de transtorno no equilíbrio hidroeletrolítico da célula resultando no acúmulo de água e eletrólitos no citoplasma. É o tipo de degeneração mais comum, sendo considerada como o primeiro indício de lesão celular, e se não for um processo muito intenso, não causam danos severos à célula. É sabido que o controle de entrada e saída de eletrólitos nas células e organelas intracelulares é regulado pela membrana, e que dentre os mecanismos de transporte temos o transporte ativo (realizado com gasto de energia - ATP), que ocorre contra o gradiente de concentração. Daí pode-se concluir que alterações na permeabilidade seletiva da membrana, decorrente da perda da integridade ou dos mecanismos de transporte, irão resultar no desequilíbrio hidroeletroquímico celular. A concentração de solutos (osmolaridade) nos compartimentos corporais determina a pressão osmótica e esta interfere na movimentação de água entre eles, evento denominado de osmose. O desequilíbrio isosmótico, favorece a movimentação da água do compartimento Profª Ludmila. Mannarino Página 39 intercelular para o intracelular, e ocorre em consequência da variação da pressão osmótica. Vejamos quais são os mecanismos básicos e as causas associadas à degeneração hidrópica: Diminuição da produção ou utilização do ATP. Estão relacionadas a quadros de hipóxia (diminuição da oferta de oxigênio), desnutrição (falta de substrato para o ciclo de Krebs), substancias tóxica (inibem a ATPase). Uma vez não havendo energia suficiente para o funcionamento da bomba de sódio e potássio, o sódio fica retido na célula, e por ser um íon muito hidratado, aumenta a pressão osmótica intracelular, favorecendo a entrada de água na célula. Infusões com soluções hipertônicas. Resultam no aumento da osmolaridade das células tubulares renais. Vômitos e diarreias acentuadas. Resultam na perda de eletrólitos, consequentemente diminui a osmolaridade do meio extracelular, o que trona o meio intracelular com maior pressão osmótica. Lesões na membrana, que comprometem sua integridade. São causadas por vírus, toxinas bacterianas, substâncias químicas e cálcio. Degeneração gordurosa (esteatose) É o acúmulo anormal, reversível, de lipídios (triglicerídeos) em células parenquimatosas que normalmente não tem essa função. O acúmulo ocorre devido ao desequilíbrio envolvendo síntese, utilização ou mobilização da gordura. Como o fígado é o órgão de metabolização lipídica, normalmente é o mais afetado, também ocorrendo com frequência nas células tubulares renais, no pâncreas e nos músculos esqueléticos e músculo cardíaco, que também metabolizam muita gordura. No metabolismo normal, o hepatócito utiliza ácidos graxos obtidos da circulação sanguínea (que são provenientes da digestão de gorduras e dos adipócitos) para serem: Oxidados, formando corpos cetônicos, para síntese de ATP, ou Para melhor entendimento, é recomendável rever os mecanismos de transporte pela membrana e os conceitos associados à osmose. Profª Ludmila. Mannarino Página 40 Esterificado a triglicerídeos, que serão conjugados às proteínas para formação de lipoproteínas, que é a forma em que são transportados pelo sangue, para outros tecidos outros. Resumidamente, o acúmulo de triglicerídeos nos hepatócitos pode ser resultante de: Excesso de ácidos graxos, oriundos da lipólise ou da dieta, favorecendo maior síntese de triglicerídeos. Diminuição da oxidação dos ácidos graxos, o que aumenta a esterificação favorecendo maior síntese de triglicerídeos. Diminuição da excreção dos triglicerídeos, devido à diminuição da síntese de apoproteínas, que são as proteínas relacionadas à formação das lipoproteínas ou devido a desarranjos no citoesqueleto dos hepatócitos, o que afetaria a exocitose das vesículas contendo as lipoproteínas. Dentre os fatores que são responsáveis pelos mecanismos envolvidos na esteatose, podemos destacar: Os induzidos pelo álcool, devido à formação de hepatotoxina durante sua metabolização, que induz a síntese de lipídeos e diminui sua degradação. É a principal causa. Substâncias tóxicas (como o tetracloreto de carbono - CCl4) e a desnutrição proteica, que reduzem a síntese de apoproteinas. Déficit de O2, no caso de hipóxia, que diminui a oxidação dos ácidos graxos. A inanição, que aumenta a lipólise, aumentando a oferta de ácidos graxos. A obesidade, que aumenta a oferta de triglicerídeos. Apesar de ser reversível, nas lesões hepáticas mais acentuadas pode haver ruptura das células hepáticas e processos inflamatórios, que comprometem o funcionamento do órgão. A esteatose cardíaca está associada à hipóxia prolongada (como nas anemias e leucemias) e miocardites, como a causada pela toxina diftérica. E a renal, a diabetes, onde a lipidúria, com consequente aumento de reabsorção tubular de lipídeos, favorece o acúmulo nas células tubulares renais. Profª Ludmila. Mannarino Página 41 Lipidose As lipidoses estão associadas ao acúmulo de lipídeos, não como triglicerídeos, no citoplasma das células. O depósito de colesterol e seus ésteres ocorre em artérias (aterosclerose), na pele (xantomas) e nos locais em que estão ocorrendo inflamações crônicas. Os depósitos de esfingolipideos (esfingolipidose), que são lipídeos mais complexos, são mais raros e ocorrem em doenças metabólicas, de origem genética, onde ocorrem deficiências de enzimas, como na doença de Fabry, de Niemann- Pick, de Tay-Sachs, e na de Gaucher. Na aterosclerose ocorre acúmulo de colesterol e seus ésteres em células musculares lisas e macrófagos da parede de vasos arteriais de grande e médio calibre, inclusive nas coronárias, em função de hipercolesterolemia (aumento de colesterol plasmático). As células afetadas apresentam um aspecto esponjoso (células esponjosas ou xantomizadas) e formam agregados que podem progredir desde estrias lipídicas até a formação de placas ateromatosas e finalmente os ateromas (agregados grandes e salientes). Como as células esponjosas liberam o colesterol para o interstício, pode ocorrer a formação de cristais que ativam o tecido conjuntivo, favorecendo processos de fibrose e complicações decorrentes, como calcificação, ulceração, hemorragias, tromboses e aneurismas.A consequência pode ser o comprometimento da irrigação tecidual, favorecendo o infarto do órgão. Nos xantomas ocorrem acúmulo de colesterol e seus ésteres no interior de macrófagos do tecido conjuntivo da pele e tendões, formando nódulos ou placas de cor amarelada. Geralmente associados à hipercolesterolemia. Obs.: A Lipomatose é a infiltração de tecido adiposo no interstício dos órgãos sendo frequente em indivíduos obesos e nos órgãos atrofiados. A hipertensão arterial favorece a deposição de lipídeos, de uma forma geral na parede de pequenas artérias e arteríolas, sendo que neste caso ocorre associação com proteínas formando o complexo lipo-hialinose, que em associação com outras alterações da parede vascular progridem para arteriosclerose. Hipercolesterolemia é o aumento do colesterol plasmático que pode ser de origem genética (primária) ou adquirida (secundária) como na diabetes mellitus, no hipotireoidismo, na obesidade e pela dieta. Profª Ludmila. Mannarino Página 42 Degeneração hialina (hialinose) Substância hialina é uma estrutura proteinácea, homogênea e de aspecto vítreo (do grego hyálinos = vidro) que acumula no interior das células, com patogêneses variadas, caracterizando diversas etiologias. São processos reversíveis. A formação dos aglomerados (patogênese) está associada aos eventos descritos abaixo: Endocitose excessiva de proteínas Como ocorre nas nefropatias associadas à proteinúria, em que ocorre pinocitose excessiva de proteínas que acumulam em vesículas no epitélio tubular renal. Acúmulo de proteínas normais produzidas em quantidade excessiva Associadas às inflamações agudas (salmonelose) e crônicas (leishmaniose tegumentar), em que ocorre acúmulo de imunoglobulinas nos plasmócitos, denominados de Corpúsculos de Russell. Transporte intracelular e secreção defeituosa de proteínas fundamentais Mutações nas α-1-antitripsina, proteína plasmática produzida no fígado, resultam em lentidão em seu dobramento, fazendo com que fiquem acumuladas no retículo endoplasmático dos hepatócitos, não sendo excretada. Como a função desta proteína é inibir a elastase, a consequência da deficiência será o desenvolvimento de enfisema. Acúmulo de proteínas do citoesqueleto As proteínas de citoesqueleto incluem os microtúbulos, os filamentos de actina e miosina e os filamentos intermediários (responsáveis pela organização intracelular). Os filamentos intermediários são os de queratina (células epiteliais), neurofilamentos (neurônios), filamentos de desmina (células musculares), filamentos de vimentina (tecido conjuntivo) e filamentos gliais (astrócitos). Acúmulos de proteínas de citoesqueleto estão associados a patologias nos tecidos correspondentes. Os corpúsculos hialinos de Councilman e Rocha Lima ocorrem nos hepatócitos em consequência de hepatites virais, como na febre amarela e correspondem a hepatócitos em apoptose. No fígado de alcoólatras crônicos, na esteato-hepatite não alcoólica, e no carcinoma hepatocelular, em consequência dos radicais livres, formam-se aglomerados de filamentos intermediários denominados de Corpúsculo hialino de Mallory. Profª Ludmila. Mannarino Página 43 Acúmulos neurofibrilares estão associados à doença de Alzheimer. Nas miosites e miocardites, decorrentes de toxemia bacteriana ou doença chagásica, ocorrem acúmulos nas células musculares esqueléticas e cardíacas. Nãos processos com reestruturação ou reabsorção de sarcômeros ocorrem acúmulos hialinos decorrentes das miofibrilas. Obs: A amiloidose é o depósito extracelular e na parede dos vasos de amiloide (substância hialina, amorfa, proteinácea, patológica) que ocorre em consequência de diversas doenças, e pode induzir a atrofia celular por compressão e/ou isquemia. Nas patologias, de curso crônico como diabetes, hanseníase, tuberculose e artrites, em neoplasias como mieloma e linfomas e na insuficiência renal crônica (associada à hemodiálise), tende a acumular-se em tecido mole (principalmente fígado, linfonodo, baço, pâncreas, suprarrenais e rins), sendo sua patogenia geralmente relacionada ao sistema imune. O envelhecimento favorece a amiloidose no coração e no cérebro (Alzheimer). Degeneração mucoide São lesões que ocorrem em células produtoras de muco, como as do trato digestório e respiratório, em que a hiperprodução resultam no acúmulo de glicoproteínas (mucina). Outra condição está associada à inflamação de mucosas e tumores de células que produzem muco (adenomas e adenocarcinoma), com hipersecreção. Mucopolissacaridose Mucopolissacaridose é um distúrbio genético com deficiência enzimática que resulta no acúmulo de poliglicanos e/ou proteoglicanos, com consequente alteração no órgão afetado, mas independente da enzima deficiente, sempre vem acompanhada de comprometimento nas artérias, valvas cardíacas, esqueleto, córnea (opacidade) e de retardo mental. A mucoviscidose é uma doença hereditária, acometendo crianças, onde o muco produzido nas células mucóide do pâncreas, glândulas salivares, bronquíolos, e fígado é muito viscoso, obstruindo os ductos excretores. Profª Ludmila. Mannarino Página 44 Degeneração glicogênica (glicogenose) São acúmulos que ocorrem por distúrbio no metabolismo dos carboidratos, que são armazenados na forma de glicogênio, acometendo principalmente células hepáticas, renais, musculares estriadas e cardíacas. Duas condições estão associadas ao acúmulo, a deficiência enzimática que participa da degradação de glicogênio para obtenção de glicose, e o acúmulo resultante de reabsorção tubular renal em consequência de excesso de glicose no filtrado glomerular. As síndromes com deficiência enzimática favorecem a glicogenose no músculo, rins e coração. Já nos quadros renais (nefrose glicogênica), está associada à hiperglicemia, como as decorrentes de diabete melito, que também favorece o depósito nos hepatócitos, células pancreáticas e miocárdio. Obs: A diminuição intracelular de glicogênio ocorre em quadros de desnutrição e caquequixia. A obesidade é o aumento anormal do peso corporal por aumento do tecido adiposo, em situações em que ingestão calórica é maior que o gasto energético, sendo uma condição que sofre influencia hormonal, genética e psicológica. A importância clínica da obesidade está associada a maior mortalidade e morbidade em doenças associadas, como hipertensão, diabetes, aterosclerose, infarto do miocárdio e do sistema nervoso central, além da Síndrome de Pickwick (síndrome obesidade- hipoventilação) É importante considerar as complicações decorrentes do efeito físico (peso), nas dobras cutâneas e efeitos sistêmicos como: Osteoartrite, principalmente no joelho, coluna e quadril Dermatites nas dobras de pele, principalmente micoses Varizes e tromboflebites Oligomenorreia e amenorreia, que são alterações no fluxo menstrual antes da menopausa. Acúmulo de tecido adiposo pode ocorrer de forma localizada, como na Síndrome de Cushing (localizada na metade superior do corpo), na esteatopígea (gordura localizada nas nádegas, sendo mais frequente em mulheres) e nos lipomas (tumores). Profª Ludmila. Mannarino Página 45 IMAGENS DE DEGENERAÇÃO Figura 1: Degeneração hidrópica e esteatose hepática Disponível em:http://image.slidesharecdn.com/lesescelulares-130321153931-phpapp01/95/leses-celulares-26- 638.jpg?cb=1363880440 e http://image.slidesharecdn.com/lesescelulares-130321153931-phpapp01/95/leses-celulares-32-638.jpg?cb=1363880440 Figura 2: Evolução da aterosclerose Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/_ArbTOQCPNeo/SrqJXRa0D9I/AAAAAAAAAJI/YzAXhVNCtKE/s320/idoso-aterosclerose- 0001.jpg Figura 3: Xantoma Disponível em: http://www.grupoescolar.com/a/b/24D87.jpg Figura 4: Degeneração hialina Disponível em: http://image.slidesharecdn.com/degenerao-141101222649-conversion-gate02/95/degenerao- patologia-geral-20-638.jpg?cb=1414915929 Profª Ludmila. Mannarino Página 46 Figura 5: Amiloidose Disponível em: https://maldeallzheimer.files.wordpress.com/2013/07/alzheimer51.jpg Figura 6: Mucopolissacaridose Disponível em: http://image.slidesharecdn.com/aula1patologia-150429190308-conversion-gate02/95/aula1- patologia-40-638.jpg?cb=1430334404 Figura 7: Glicogenose hepática Disponível em: http://image.slidesharecdn.com/aula1patologia-150429190308-conversion-gate02/95/aula1- patologia-38-638.jpg?cb=1430334404
Compartilhar