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1 A Presença do Estado na Economia Política do Brasil – de 1889 a 1930 Steven Topik Autor: Bruno Gabriel Witzel de Souza Findo o elemento unificador do Império, a escravidão, não havia motivos políticos ou econômicos para manter-se o regime centralista adotado até então. Pelo contrário, a pressão era para garantir-se maior autonomia provincial, de forma que “a República tinha sido formada principalmente pela e para a oligarquia do Centro-Sul”. Neste processo de descentralização, os estados da federação obtiveram direitos extremamente vastos, como o controle exclusivo sobre a taxa de exportação, o de tomar empréstimos sem necessidade de autorização federal e o controle sobre todas as terras não consideradas essenciais para a defesa da União. Esta busca por descentralização foi o resultado do crescimento de importância econômica pelos estados do Centro-Sul: como representassem em 1930 mais de 2/3 da atividade econômica do país, era natural que São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro requeressem aquela maior autonomia política. Nesse contexto, aquele “triunvirato [SP, MG, RS] desmontou o Estado imperial patrimonial e inverteu a direção da autoridade”. Apesar de contarem com uma representatividade relativamente baixa sobre a Câmara e o Senado, estes estados controlavam fundamentalmente as eleições para o Executivo, o cargo de nível federal efetivamente mais relevante, sobretudo após a política de cooperação instaurada entre os níveis federal e local pela “política dos governadores” de Campos Sales. Vale ressaltar, no entanto, que apesar da grande importância econômico-política, aquele “triunvirato” não controlava de modo absoluto a máquina estatal. A própria idéia de uma República do café-com-leite não parece ajustar-se adequadamente aos fatos: os períodos sucessórios eram extremamente conturbados, sendo um dos motivos da queda daquele sistema da Primeira República a insistência de Washington Luís em uma sucessão paulista. Além disso, apesar de fomentar um federalismo muito mais profundo, o papel central que o governo exercia na República não pode ser desprezado. O simples fato de o governo federal ser o representante internacional do Brasil evidencia a importância que as instituições políticas de nível federal tinham, afinal a economia brasileira assentava-se essencialmente nas relações econômicas internacionais que o país assumia. Além disso, os gastos do governo cresceram substancialmente entre 1890 e 1930: a taxa real per capita de tais gastos do governo foi de 60% no período. Outro fator que evidencia a importância do nível federal é a dívida externa assumida pelos governos republicanos a nível, que cresceu em 400% durante a Primeira República e era duas vezes maior que todas as dívidas externas dos municípios e estados do país. Por fim, um terceiro elemento elencado para demonstrar a importante participação do Estado federal na condução da política e economia da Primeira República é o funcionalismo público: apesar de muito criticada contemporaneamente pelas acusações de nepotismo, ineficiência e corrupção, a burocracia brasileira “não foi tão incapaz e egoísta quanto dizem muitos de seus críticos”. Além disso, apesar de chegarem aos cargos a partir de contatos políticos e até graus de parentesco com alguma autoridade, geralmente os burocratas passavam a defender interesses para além de seus próprios objetivos imediatos ou de seus “padrinhos” políticos, ou seja, tinham algum grau inegável de consciência sobre os interesses nacionais a serem defendidos em seus cargos. Topik discute ainda a participação dos militares na condução da política da Primeira República. Apesar de alguma base militar inicial que tenha assumido o regime, sobretudo pela ditadura militar de Floriano Peixoto, é salientado que, com raras exceções, as Forças Armadas Brasileiras mantiveram-se distantes das alavancas do poder político. A conclusão do autor é a de que a “Primeira República era dominada por uma forte oligarquia exportadora que não tinha problemas maiores de desafios políticos de outras classes, e que geralmente compartilhava ampla comunidade de interesses com investidores estrangeiros [e aqui temos uma possível contraposição ao texto de Fritsch, afinal aquele autor observa que o Estado federal muitas vezes era fortemente influenciado pelos interesses dicotômicos dos financiadores ianques – contrários às políticas de valorização do café – em relação aos cafeicultores]”, o que, apesar de reforçar o federalismo em alguns casos, nem por isso, muito pelo contrário, eliminou uma participação fundamental do governo federal na economia.
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