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Dean, W. Industrialização de São Paulo , Caps. 2, 6.

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Industrialização de São Paulo 
Warren Dean 
Autor: Bruno Gabriel Witzel de Souza 
 
Capítulo II – A Matriz Econômica: a Importação. 
 Inicialmente, a atividade cafeeira foi o grande pólo atrativo dos fatores econômicos: do capital ao trabalho, 
passando pelo crédito. Assim, em sua fase embrionária a indústria nacional estaria muito mais ligada aos rumos das 
importações que à cafeicultura propriamente dita. 
 Diferentemente do que geralmente se acredita “os negócios de importação não constituíam um obstáculo ao 
desenvolvimento da indústria”. Pelo contrário, o que se dava era a grande harmonia entre os interesses dessas duas 
atividades. 
 Em primeiro lugar, podia ser muito mais vantajoso ao importador obter o produto semi-acabado no exterior e 
processar seu acabamento dentro do país, de forma que os custos dos produtos importados era menor e pelo fato de a 
tecnologia necessária para estas transformações finais não ser muito avançada; depois de desenvolver esse processo de 
acabamento por algum tempo, o importador também adquiria a experiência técnica para lançar-se a outras atividades 
manufatureiras mais complexas. Em segundo lugar, o importador tinha um conhecimento amplo e profundo dos 
mecanismos internos do mercado brasileiro, de forma que o escoamento da produção, fosse estrangeira, fosse 
nacional, não lhe seria um problema. Em suma, “o importador, e mais ninguém, possuía todos os requisitos do 
industrial bem sucedido: acesso ao crédito, conhecimento do mercado e canais para a distribuição do produto 
acabado”. 
 Desse modo, um número significativo de importadores ou transformou-se efetivamente em industrial ou 
passou a apoiar largamente com crédito e mercado os industriais que haviam começado a expandir-se internamente: 
por exemplo, das treze fiações construídas entre 1890 e 1917 em São Paulo, treze delas pertenciam a importadores ou 
ex-importadores. O grande interesse dos comerciantes importadores não era importar como atividade per se, mas 
distribuir com lucros alguma mercadoria, daí o caráter nacional que tal mercadoria podia assumir desde que fosse 
geradora de lucros. 
 É interessante observar esta união de interesses entre manufatureiros e importadores na seguinte questão: 
quando os manufatureiros brasileiros “solicitavam ao governo federal o amparo das tarifas, os importadores não 
levantavam objeções contra o aumento desses direitos per se. Absolutamente seguros de que seriam os intermediários 
do produto, fosse ele estrangeiro ou nacional, abstinham-se de queixar-se a menos que acreditassem o peticionário 
nacional, de fato, incapaz de atender à procura”. 
 Poder-se-ia argumentar, em contrapartida, que os importadores talvez fossem restringidos por seus 
fornecedores internacionais em seu apoio que à indústria nacional. Tal argumento até pode ser verdadeiro em alguns 
casos específicos, mas não o é no geral. Isso porque os importadores geralmente contavam com um mercado 
diversificado de produtos importados e de fornecedores, de forma que se gerava como que um mercado competitivo 
para o fornecimento de produtos importados para os importadores brasileiros. Além disso, os importadores não 
temiam que os industriais pudessem obter autonomia de distribuição em relação a eles, suprimindo-os do mercado de 
distribuição quando crescessem suficientemente porque “em alguns casos, sua participação financeira na manufatura 
lhe assegurava o direito de distribuição exclusiva. Em outros casos, a identidade era completa: o próprio importador 
era o empresário industrial”. 
 Apesar de seu interesse pelas manufaturas, os importadores continuaram no ramo do comércio internacional 
por diversas razoes: muitas das fábricas em que haviam investido necessitavam de matérias-primas, bens de capital e 
tecnologias produzidas apenas no exterior. Da mesma forma que aceitara fabricar no interior do país se isto lhe 
garantisse maiores lucros, o importador aceitava agora facilmente importar o que fosse necessário se o aumento do 
lucro fosse também garantido. Além disso, muitos deles observavam a potencialidade de continuar importando o que 
não concorresse com seus interesses enquanto industriais: é assim, por exemplo, que os Jafets, apesar de seu interesse 
na produção têxtil nacional, continuavam importando tecidos finos que não concorriam no mercado destinado aos seus 
próprios tecidos. 
 
Capítulo VI – Os Efeitos da Guerra Mundial. 
 As duas primeiras décadas do século XX assistiram a um enorme aumento da capacidade industrial brasileira, 
chegando as indústrias de tecidos a competirem mais entre si que com os produtos importados. 
 As causas apontadas para este crescimento significativo podem ser sumarizadas como: (i) expansão do 
mercado paulista e sua integração cada vez maior através das estradas de ferro, as quais ligavam SP a MG, MS, RJ e 
Paraná; (ii) obtenção de algumas isenções tarifárias, como as referentes à importação de bens de capitais; (iii) algumas 
políticas governamentais favoreceram a indústria, embora Dean, como Fishlow e Topik, observe que aquela não era 
uma política sistemática e tendia a beneficiar a indústria apenas indiretamente, não sendo o desenvolvimento do setor 
industrial sua meta. 
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 Mas o mais evidente é que a indústria de SP deveu seu crescimento principalmente à atividade cafeeira. 
 Alguns autores ressalvam, em contrapartida, que o desenvolvimento cafeeiro não é suficiente, por si, para 
explicar o desenvolvimento da indústria paulista, uma vez que o dinamismo econômico criado pelo café poderia ter 
sido completamente atendido pelas importações não fosse a capacidade cada vez menor da cafeicultura em sustentar 
tais importações. Assim, os choques sobre o café seriam os principais estimuladores da indústria nacional: choques 
como guerras e crises comerciais “interrompiam fisicamente os suprimentos estrangeiros ou reduziam a quantidade 
disponível de divisas para a compra de mercadorias estrangeiras”. 
 Dean é crítico quanto à idéia de que a diminuição de divisas nacionais estimulasse a indústria nacional ao 
encarecer os produtos importados frente à dependência da indústria nacional de matérias-primas e bens de capital 
importados e por representarem tais quedas de divisas crises comerciais que afetavam a capacidade do mercado como 
um todo, prejudicando tanto a indústria quanto os demais segmentos da economia. 
 A própria idéia da guerra como estimuladora do desenvolvimento industrial precisa ser revista. Em primeiro 
lugar, as exportações brasileiras efetivamente aumentaram durante o conflito, mas em uma proporção que não é 
realmente significativa. Além disso, os termos de troca do Brasil no mercado internacional deterioram-se à medida 
que o conflito avançou: o preço do café teve uma tendência declinante, ao passo que os principais produtos importados 
pelo Brasil (como aço e trigo) ascenderam grandemente, com o ano de 1917 assinalando um período de verdadeira 
crise frente à decisão da Inglaterra de parar de importar café e frente à entrada dos EUA na guerra (que até então 
funcionara como o mercado alternativo que o Brasil encontrara em substituição aos países europeus). 
 Segundo a perspectiva de Dean, o desenvolvimento industrial brasileiro era dependente do mercado 
internacional, uma vez que era estimulado fundamentalmente pelo complexo cafeeiro. Assim, seria pouco provável 
que uma interrupção nos fluxos daquele comércio internacional provocasse um desenvolvimento industrial mais 
expressivo. 
 Seu ponto principal é o de que o Brasil não podia expandir sua capacidade produtiva porque importava tanto 
os bens de capital de que necessitava, quanto diversas matérias-primas. Assim, apesar de ser fato que as exportações 
brasileiras aumentaram durante a guerra, isto não se deveu a qualquer expansão dacapacidade produtiva, mas da 
utilização maior de fatores até então subutilizados. Nesse sentido, a guerra não proporcionou um motor para a 
industrialização brasileira, já que parte do próprio aumento das exportações nacionais deveu-se à realocação de um 
produto industrial fixo, ou seja, não se estava produzindo muito mais do que anteriormente, mas estava-se apenas 
realocando o produto industrial, voltando-o do mercado interno para o externo. 
 Para Dean, mais importante que a guerra, foi a capacidade industrial instalada no país antes dela. Desse modo, 
o período bélico apenas colocou em evidência e pressionou a capacidade produtiva, mas não foi a causa da expansão, 
de forma que se deve buscar as razões para a industrialização pré-década de 1930 em circunstâncias diferentes que a 
da IGM. 
 Apesar desta crítica, é reconhecido pelo autor que a guerra em si teve dois efeitos sobre a estrutura econômica 
do Estado de São Paulo. 
 O primeiro deles foi o deslocamento do capital alemão, até então de fundamental importância para o 
desenvolvimento econômico daquele estado, seja pelo financiamento à atividade cafeeira, seja na forma de capital 
financeiro, seja como fonte de recursos para a indústria. Em lugar do capital alemão, deslocado tanto pela posicao 
brasileira no conflito quanto pelo colapso germânico ao fim do conflito, começaram a ganhar força crescente os 
recursos ingleses, franceses e ianques, a ponto do cônsul americano no Brasil afirmar que existia no interior do país 
uma guerra velada entre as potências aliadas para assumir a hegemonia nos investimentos realizados no Brasil. 
 A segunda transformação estrutural foi na de propriedades: a guerra gerou a possibilidade de desenvolverem-
se comerciantes e industriais que tivesse acesso às matérias-primas mais escassas em função da guerra, o que pode ter 
gerado uma tendência à concentração de capitais, bem como à fusão e à reorganização de unidades fabris. 
 Assim, sumariamente, Warren Dean defende a tese de que houve um processo de crescimento industrial no 
Brasil ao longo do início republicano, o qual foi movido principalmente pelo complexo cafeeiro, ou seja, esteve ligado 
fundamentalmente ao progresso do setor externo da economia brasileira. Dado o declínio da importância do setor 
externo para a economia brasileira em decorrência da deflagração da guerra, a indústria nascente sofreria, já que não 
era capaz de desenvolver-se per se, dependente que era da importação de matérias-primas e bens de capital. Assim, o 
autor seja a perguntar-se “se a industrialização de São Paulo não se teria processado mais depressa se não tivesse 
havido a guerra”.

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