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Fishlow, A. Origens e Conseqüências da Substituição de Importações no Brasil.

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Origens e Consequências da Substituição de Importações no Brasil. 
Albert Fishlow 
Autor: Bruno Gabriel Witzel de Souza 
 
 Observando o processo de desenvolvimento industrial em quatro etapas, o autor traça de início a conclusão de 
que no caso brasileiro, o primeiro grande surto de industrialização não ocorreu como resposta aos incentivos de caráter 
tarifário ou a qualquer outra meta de política econômica estabelecida para a Indústria pelo Estado. Pelo contrário, tal 
primeiro surto foi “grandemente fortuito e reforçado ocasionalmente por forças exógenas”, como a queda relativa das 
importações durante a I GM. 
 A presente análise de Fishlow concentra-se do início do período Republicano até o início da década de 1920. 
O processo de industrialização do Brasil neste período marcou-se fundamentalmente pela substituição das 
importações. No entanto, isto não ocorreu de maneira equilibrada entre os diversos mercados, mas concentrou-se 
sobretudo na indústria têxtil nacional, à qual se faz referência no presente resumo; a indústria alimentícia, por 
exemplo, apesar do alento que teve durante a IGM, nunca sofreu um processo efetivo de substituição de importações. 
 O primeiro “surto” industrial no país ocorreu a partir da política do encilhamento. Na argumentação sobre a 
importância do encilhamento para o desenvolvimento industrial, Fishlow se opõe à perspectiva tradicional que observa 
este período de euforia econômica como meramente passageiro e sem real significação para o desenvolvimento 
ulterior da economia nacional. 
 Em primeiro lugar, a política do encilhamento, ao aumentar a oferta de moeda, melhorou o acesso ao crédito, 
facilitando a capitalização da indústria nascente. Em segundo lugar, tal aumento na oferta monetária possuiu um efeito 
defasado sobre a desvalorização cambial: de início, não houve uma desvalorização efetiva, o que permitiu aos 
industriais adquirirem o maquinário necessário no exterior, mas com o posterior desenrolar dos mecanismos 
econômicos, a piora da situação cambial encareceu os produtos importados, de forma que a indústria teve um segundo 
impulso a partir do mesmo fenômeno da política econômica. Em terceiro lugar, frente à diminuição das importações 
em decorrência de seu encarecimento, muitos negociantes de produtos importados passaram a buscar fins alternativos 
mais lucrativos para o capital que haviam acumulado naquela atividade, e encontraram na indústria os retornos 
desejados: “das treze fábricas de tecidos de algodão construídas antes do fim do século Mem São Paulo, onze, em 
1917, eram controladas por firmas importadoras ou por empresários que haviam começado sua atividade como 
importadores”. Em quarto lugar, os preços do café caíam em cerca de 100% no mercado internacional à época, o que 
pressionava a balança de pagamentos, evidenciando a necessidade de um coeficiente de importações menor. 
 Finalmente, tem-se argumentado que a inflação decorrente do encilhamento mascara o verdadeiro crescimento 
do período. No entanto, o que se observa de fato são os aspectos positivos que a inflação teve para o desenvolvimento 
industrial: na medida em que os contratos salariais são mais rígidos às alterações nos preços, os custos cresciam menos 
que as receitas em decorrência da inflação, o que criava uma margem de lucro atraente no ramo industrial. 
 Muito se tem comentado que o grande desenvolvimento industrial brasileiro decorreu das tarifas alfandegárias 
protecionistas instauradas pelo governo brasileiro como estímulo à industrialização. Tais afirmativas, se contêm uma 
base de apoio em tarifas alfandegárias nominais que chegam a 314% sobre algumas manufaturas importadas, não 
demonstram toda a realidade: o processo de valorização cambial que se operou contemporaneamente ao 
estabelecimento de tais tarifas diminuiu-lhes muito a efetividade – de fato, entre 1911 e 1913, com a diminuição dos 
preços dos artigos estrangeiros no mercado nacional, a importação sofreu uma nova e acentuada alta. 
 Assim, mais que tarifas alfandegárias protecionistas, foram os mecanismos cambiais os principais 
estimuladores da industrialização no período. 
 A partir de 1905, haverá uma renovada tendência em aumentar-se as importações. No entanto, isto não 
significou uma retração da indústria nacional, mas, pelo contrário, os dados indicam uma alta taxa de crescimento 
industrial. Este fenômeno se deu porque o mercado interno do Brasil encontrava-se em expansão, de modo que pôde 
sustentar o crescimento industrial e ainda elevar seu nível de importação e tal aumento da capacidade de absorção pelo 
mercado nacional deveu-se principalmente pela valorização do café, que aumentou a renda nacional. É interessante 
notar, portanto, como o papel do café havia se alterado para a indústria: primeiramente, ele demonstrara a necessidade 
de iniciar uma alteração na relação entre exportações/importações que influiria no processo de substituição das 
importações, agora, ele atuava como um catalisador do processo ao aumentar a renda interna. 
 O novo grande surto de industrialização ocorreria em decorrência da IGM. Fishlow afirma que apesar de o 
país desenvolver algumas outras indústrias em que o processo de substituição das importações ainda dera seus 
primeiros passos, foi nas indústrias já melhor estabelecidas que os efeitos da guerra se fizeram sentir mais 
profundamente. 
 Além de fornecer um estímulo muito mais forte e premente para a necessidade de substituir as importações, a 
guerra proveu alguns novos mercados potenciais aos produtos nacionais, além de criar uma conjuntura que permitiu 
aos industriais obterem lucros altíssimos. 
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 A crítica mais comum sobre a industrialização durante a I GM é a de que o conflito não foi suficiente para 
gerar inversões de capital na indústria durante os anos de 1914-1918 e que, portanto, a industrialização não teria tido o 
fôlego necessário para sobreviver a uma conjuntura extraordinária. Fishlow contrapõe o argumento de que o Brasil 
ainda não desenvolvera a indústria de bens intermediários e de capital, de sorte que teria sido impossível inverter os 
capitais na indústria enquanto as importações de maquinário e outros bens duráveis estavam impedidos pelo conflito 
mundial. No entanto, os enormes lucros acumulados entre 1914 e 1918 seriam utilizados, tão logo o cessar-fogo 
tivesse sido assinado entre as nações centrais do conflito, na compra de novos equipamentos – tanto é assim que “as 
grandes importações de maquinaria mais moderna no início dos anos vinte e o início da produção local, no Brasil, de 
cimento e aço datam também do período posterior à guerra”. 
 Porém, apesar deste desenvolvimento relativamente amplo entre 1889-1920, a indústria brasileira era ainda 
muito limitada: concentrava-se principalmente em bens de consumo não-duráveis e uma parcela ínfima da população 
economicamente ativa era empregada no setor industrial (dos 10% calculados pelas estatísticas oficiais, Fishlow 
observa que, de fato, apenas 3,9% eram empregados industriais: o restante dessa porcentagem eram alfaiates e 
costureiras erroneamente classificados como industriais e não como prestadores de serviços). 
 Além disso, o processo de substituição de importações ainda estava muito longe de concluir-se, continuando a 
importação a corresponder por 37% sobre a oferta total de bens industriais e tendeu a crescer ao longo da década de 
1920.

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