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Netto, D. O Mercado Cafeeiro com a Intervenção Estatal, caps. II e III.

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1 
 
O Mercado Cafeeiro com a Intervenção Estatal - Capítulo II: Defesa Episódica 
Delfim Netto 
Autor: Bruno Gabriel Witzel de Souza 
 
1. Primeira Operação Valorizadora: 1906/1918. 
 Apesar da recorrência sobre a questão dos preços do café, que já suscitara em 1902 uma proibição da 
expansão da lavoura cafeeira, foi apenas em 1906, com o Convênio de Taubaté, que se estabeleceu uma política 
organizada e clara de valorização do preço do produto no mercado internacional. 
 Segundo os termos do próprio documento, aquele era “um convênio entre os Estados do Rio de Janeiro, Minas 
Gerais e São Paulo para o fim de valorizar o café, regular seu comércio, promover o augmento de seu consumo e a 
creação da „Caixa de Conversão‟, fixando o valor da moeda”. 
 O plano do Convênio consistia, portanto, de duas bases: valorização do preço do café e estabelecimento de 
uma taxa de câmbio fixa que não fizesse os cafeicultores perderem pelo câmbio flutuante o que pudessem ganhar com 
preços mais altos do café. Posteriormente, o projeto do convênio seria emendado, fixando os valores das sacas de café 
em mil-réis, de forma que a questão cambial não era abordada, embora garantisse-se o preço mínimo no Brasil: 
“essencialmente, portanto, o projeto de valorização consistia no seguinte: seria fixado um preço mínimo de 32$000 
por saca de café do tipo 7 (com aumento proporcional para os tipos superiores), financiados por uma dívida externa, 
que deveria ser paga por um imposto de 3 francos sobre saca de café exportada”. 
 Apesar de aprovado no Congresso, o plano de valorização não seguiria adiante a nível federal em função das 
eleições e da impossibilidade de obter o empréstimo junto aos financiadores internacionais tradicionais do governo. 
Diante disto, o Estado de São Paulo decidiu-se por realizar o plano por si, tendo sido abandonado pelos outros dois 
signatários do Convênio. 
 Para alcançar os objetivos do plano, o governo paulista recorreu a fontes de crédito até então inéditas: obteve 
um empréstimo no Brasilianische Bank für Deutschland e formulou um plano de financiamento com Sielcken, o mais 
importante comerciante do café à época, a partir do que 80% dos fundos necessários ao programa de valorização 
seriam fornecidos por comerciantes de NY. Por fim, foram negociados ainda dois outros empréstimos com a casa 
Schroeder de Londres e com o National City Bank de NY. 
 No entanto, tendo São Paulo assumido sozinho os custos do financiamento, teve de passar a cobrar a sobretaxa 
de 3 francos sobre seu café para honrar sua dívida. Nesse contexto, não demourou que a demanda passasse a procurar 
o café mais barato do RJ e de MG, cujos estados passaram a instituir a mesma sobretaxa apenas quando SP forneceu-
lhes algumas outras concessões. 
 A política de valorização gerava também um segundo tipo de pressão sobre a cafeicultura: apenas o café do 
tipo 7 ou superior sofriam a valorização. Os demais, não bastasse serem depreciados pelos mecanismos de mercado, 
agora tinham de concorrer com esses tipos superiores. Nesse contexto, o governo federal decide intervir em favor de 
São Paulo, autorizando o BB a fornecer crédito e dando garantias aos empréstimos assumidos pelo governo do estado. 
 As compras do café por SP estenderam-se até junho de 1907, quando foram retiradas do mercado mais de 8 
milhões de sacas de café, de forma que a produção total no mercado daquele ano e a do anterior mantiveram-se 
praticamente inalteradas. 
 Em 1907, portanto, conseguir-se-ia manter relativa estabilidade dos preços, os quais voltariam a subir em 
1908/09 para seguir uma tendência de forte ascendência em 1910 (mais que dobrando o preço). 
 Nesse novo contexto, tornava-se viável ao governo de São Paulo saldar suas dívidas, principalmente pela 
venda dos estoques que acumulara. Mas até essa melhora, o governo estadual passou por sérias dificuldades, já que 
além dos custos da tomada de empréstimos e pagamentos das amortizações e dos juros, o estado ainda incorria em 
custos de armazenagem, operação dos estoques, pagamento de comissões etc. Frente a essas dificuldades, o Governo 
Federal concedeu garantia a um empréstimo de 15 milhões de libras esterlinas para a consolidação das diversas 
dívidas de financiamento assumidas pelo estado; no novo contexto de preços e com o controle de mais de 8 milhões de 
sacas, o governo de São Paulo pôde saldar sua dívida de consolidação já em 1914, muito antes do prazo de 1918 
fornecido pelos credores. 
 
2. Apreciação Crítica da Valorização. 
 O processo de valorização do café baseou-se, por parte de seus formuladores, em três premissas fundamentais: 
o consumidor individual não reagiria negativamente ao aumento de preços do produto e à sobretaxa dos três francos 
porque o valor repassado individualmente seria muito pequeno; a política de valorização não estimularia os 
concorrentes do país porque o investimento em cafezais tem uma defasagem de pelo menos quatro anos antes que a 
produção possa ser vendida, ou seja, o prazo de tal investimento era longo demais para que outros viessem a se 
beneficiar da prática da valorização brasileira; e finalmente, a própria produção nacional não aumentaria porque já 
existiam leis proibitivas à expansão da fronteira cafeeira datando de 1902. 
2 
 
 Tal mecanismo ia completamente contra as doutrinas de livre jogo de forças de mercado; Delfim Netto, por 
exemplo, afirma que caso se tivesse permitido ao mercado funcionar livremente, é muito provável que a queda dos 
preços do café no mercado internacional desvalorizassem o câmbio do país, de sorte que os preços internos sofreriam, 
desde o começo, algum reequilíbrio. No entanto, enraizava-se a argumentação de que o problema do café era, antes de 
tudo, um problema nacional e como tal deveria ser tratado; logo, a intervenção justificava-se politicamente, mesmo 
que economicamente tivesse o efeito de (pelo câmbio), conforme ressalta o professor Delfim, em acordo com a 
perspectiva clássica de Celso Furtado, uma transferência de rendimentos das classes importadoras para as 
exportadoras. Vale ressaltar que, apesar do caráter público que o problema assumiu, as participações privadas foram 
de fundamental importância no processo de valorização: não fossem os interesses da companhia de Sielcken ou os 
empréstimos internacionais, o programa certamente não teria podido obter o nível de sucesso que efetivamente 
alcançou. 
 Do ponto de vista de seus objetivos, no entanto, esta primeira política de valorização não poderia ter tido um 
sucesso maior: “em 1914, todas as dívidas estavam pagas e o Estado de São Paulo possuía ainda 3,1 milhões de sacas 
de café. Do ponto de vista dos comerciantes que participaram da operação, esta também foi bem sucedida, pois eles, 
além de receberem juros e comissões, puderam aproveitar-se das elevações dos preços. Não foi menor o lucro dos 
banqueiros, que receberam mais ou menos 9% sobre o capital emprestado”. Além do mais, o objetivo primevo fora 
mais que alcançado: os cafeicultores não apenas conseguiram manter os preços acima de um nível mínimo, como 
elevaram-no a mais do que o esperado. 
 No entanto, outra conseqüência importantíssima adveio desta primeira valorização: a descrença contínua no 
ajuste de preços via mercado e a crença de que a intervenção governamental podia-se fazer recorrente sempre que o 
requeresse a conjuntura. 
 
3. Segunda Operação de Valorização: 1917-1920. 
 A oferta de moeda no Brasil começou a crescer significativamente a partir de 1906, gerando uma forte pressão 
inflacionária. As perspectivas cada vez mais claras de um conflito na Europa agravam a situação de crise, que 
realmente estourou em 1913, através de um balanço de pagamentos negativo e de um grande déficit público. 
 O governo foi então forçadoa emitir papel-moeda, uma vez que encontrava-se em dificuldades, em função da 
guerra, de obter crédito no exterior. Parte dessas emissões foi feita, inclusive, para atender ao sistema bancário, cuja 
situação era crítica ao período. 
 Em 1917, a situação do café viria a piorar os panoramas desta crise em que entrara o país. Até este ano, as 
exportações de café haviam diminuído pouco, mas o bloqueio europeu que agora se iniciara derrubara a demanda pelo 
produto, isso somado à safra de 15 milhões de sacas (frente a uma demanda que em 1918 chegou a apenas 7,4 
milhões). 
 Nesse contexto, parecia tornar-se necessária uma nova política de intervenção. Assim, o governo do Estado de 
São Paulo conseguiu junto às emissões do governo federal um empréstimo de 110 mil contos de réis. 
 Já em 1918 os preços do café se equilibraram, mas dificilmente o fizeram em função desta intervenção do 
governo, dada a existência de uma defasagem temporal maior entre a intervenção e a reação dos preços. Tal elevação 
ocorreu em função do fim das incertezas provocadas pelo fim da I GM e pela pequeníssima safra de café de 1918, 
decorrente de fortes geadas no país. Assim, de modo a garantirem seus estoques, os comerciantes internacionais de 
café demandaram fortemente o produto nacional naquele ano, sendo os responsáveis pelo aumento dos preços. Além 
disso, as principais economias mundiais ingressavam na grande inflação do pós-guerra, o que efetivamente contribuiu 
para o aumento do nível geral de preços, em relação ao qual o café não foi indiferente. 
 “Com essa situação, São Paulo dispôs de todo o seu estoque de café com lucros fabulosos – 129 mil contos de 
réis – que foram repartidos em partes iguais com a União”. 
 
4. Terceira Operação de Valorização: 1921-1924. 
 Em 1920/21, o uma safra recorde se apresentaria no Brasil: 16,2 milhões de sacas, seguidas de um aumento 
significativo da concorrência internacional, possivelmente fortemente influenciada pelas altas de preços que a política 
nacional implementara nos momentos de crise. 
 Além disso, havia outras conjunturas de crise que agravavam o problema. As economias centrais, como os 
EUA, ingressavam na breve, mas profunda, recessão do pós-guerra: os países centrais passaram a adotar medidas 
restritivas quanto às importações, sobretudo de produtos não necessários, e a restringir a saída de capitais. Dada a crise 
nas economias centrais, o Brasil experimentara um significativo aumento das exportações e relativa queda das 
importações, gerando um grande superávit comercial que se traduziu em um câmbio valorizado, que não permitia aos 
cafeicultores aquele mecanismo de obter algum benefício quando da conversão da moeda internacional em mil-réis. 
 Nesse contexto, o preço do café despencou de 24,4 cents/libra-peso em 1920 para 9,51c/l-p em 1921. O 
rendimento no agregado do café despencara de 73 milhões de libras em 1919 para apenas 53 milhões em 1920. 
3 
 
 Ao contrário do que fizera antes, o governo federal não demorou a intervir, porque as duas experiências 
passadas lhe haviam gerado bons lucros e porque enraizara-se profundamente a idéia do café enquanto questão de 
ordem nacional. 
 Com um empréstimo de 9 milhões de libras, o governo nomeou uma comissão de banqueiros internacionais e 
um representante do governo brasileiro para realizar as operações de valorização necessárias. No entanto, o professor 
Delfim ressalta que provavelmente faltou ao governo federal um pouco da experiência que São Paulo já adquirira no 
trato da questão, afinal parece que o governo federal precipitou-se e comprou mais café que o efetivamente necessário 
para uma eficiente elevação dos preços. 
 E mais uma vez, as condições das safras seguintes auxiliaram o sucesso da operação: em 1923, obteve-se a 
menor safra do século, ao mesmo tempo em que a procura mundial pelo café voltava a crescer. Novo sucesso: o 
empréstimo dos 9 milhões de libras é saldado em 1924 (muito antes, portanto, do prazo de 30 anos concedido) e o 
governo obtém bom lucro. 
 As floradas de 1924, porém, indicam nova safra recorde: 20 milhões de sacas. 
 Com a experiência passada, o governo já decidira implementar um projeto de defesa permanente do café. No 
entanto, aquele mecanismo de manutenção e elevação dos preços começava a desagradar os parceiros internacionais 
do negócio do café: nos EUA começam a surgir os protestos e as leis antitruste em relação ao café, bem como 
investimentos para sua produção em outros países, como, por exemplo na Colômbia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Comentário: 
 
 Pelos dados apontados pelo texto de Delfim Netto, pode-se traçar uma perspectiva crítica ao texto de Fritsch, 
uma vez que o sucesso da primeira valorização levou o governo federal a imiscuir-se profundamente da questão do 
café, defendendo os interesses da classe dos cafeicultores paulistas. Por outro lado, quando o professor Delfim 
argumenta que o café transformara-se em questão nacional, encontramos um apoio às palavras de Fritsch, afinal os 
cafeicultores haviam sido beneficiados, mas o objetivo governamental era de fato defender uma questão nacional. O 
que deve ser colocado em pauta é, portanto, se o discurso de “defesa dos interesses nacionais” representava uma 
preocupação legítima dos formuladores de política pública com a economia ou se foi meramente um discurso 
ideológico para a promoção dos interesses exclusivos dos cafeicultores. Apesar de não discutir este tema, Delfim 
Netto parece apoiar a última perspectiva, embora não negue que as políticas de valorização foram um ótimo negócio 
para o governo em si, para além de todos os benéficos que gerou aos cafeicultores. 
4 
 
 Além disso, o texto poderia ser citado como endossando claramente a idéia de Topik, segundo o qual o 
governo federal teve um papel fundamental na condução da política econômica na Primeira República, apesar do 
papel proeminente que foi garantido aos Estados, em particular a São Paulo, na condução de seus interesses. 
 
O Mercado Cafeeiro com a Intervenção Estatal - Capítulo III: A Defesa Permanente 
Delfim Netto 
 
1. Introdução. 
 O fato de o governo federal ter tomado a iniciativa da valorização demonstra e mais ainda a decisão de 
financiá-la através da emissão de meio circulante demonstram que o Estado participava “da cupidez dos agricultores” 
e que estava pronto a tomar medidas mais drásticas. 
 Até então, a política de valorização havia sido extremamente bem sucedida, garantindo bons lucros aos 
cafeicultores e ao próprio Estado a nível federal e estadual. No entanto, haviam competido para tal sucesso algumas 
circunstâncias peculiares que faltariam em valorizações posteriores: a cada uma das grandes safras que tornava a 
intervenção necessária, seguia-se uma safra de menores proporções, de forma que o equilíbrio de oferta e demanda 
podia restabelecer-se e os estoques acumulados pelo governo podiam ser liquidados. Assim, “o esquema desenvolvido 
pelo Brasil funcionava com eficiência quando o desequilíbrio era aleatório. Se ele chegasse a se transformar num 
desequilíbrio estrutural, isto é, num desequilíbrio em que o próprio quadro cafeeiro plantado pudesse, normalmente, 
produzir mais do que o consumo absorve (no nível de preços defendido), o esquema brasileiro fracassaria”. 
 Além disso, a recorrência dos processos de valorização criara, internacionalmente, a segurança nos níveis do 
preço do café, de sorte que a concorrência foi estimulada, sobretudo a do café colombiano. 
 
2. Defesa pelo Governo Federal. 
 Em 1921, o presidente Epitácio Pessoa envia ao Congresso o plano para a instituição de uma defesa 
permanente do café, de forma que o produto nacionalpudesse desfrutar de relativa estabilidade de preços 
permanentemente, a bem dos interesses dos cafeicultores e da nação. 
 Em resposta, o Congresso aprovou uma lei muito mais ampla criando o Instituto da Defesa da Produção 
Nacional, que deveria ser responsável pela defesa dos preços de todos os bens exportados que se apresentassem em 
baixa. Dada a abrangência do plano, não tardaria para que se mostrasse inviável, tendo sido sua única medida efetiva a 
construção de armazéns em pontos estratégicos das ferrovias para armazenagem do café no interior do país. 
 Estas medidas foram adotadas durante o terceiro processo de valorização a que se fez referência. Apesar de ser 
uma medida de iniciativa federal, a maneira como tal processo de valorização foi conduzida não chegou a agradar os 
cafeicultores, uma vez que a construção dos armazéns para a estocagem do produto até sua venda quando o preço 
estivesse estabilizado enfraquecia a posição de crédito do cafeicultor, isto porque o café podia ficar retido por muitos 
meses, sem que as necessidades de capital de giro por parte dos cafeicultores fosse atendida. 
 
3. A Defesa Permanente pelo Estado de São Paulo. 
 Dados os problemas iniciais da defesa permanente pelo governo federal, passou-se a responsabilidade do 
processo de valorização aos estados. Em 1924, era criado em São Paulo o Instituo Paulista da Defesa Permanente do 
Café, posteriormente substituído pelo Instituto da Defesa do Café. Pelas novas regulamentações estabelecidas por tais 
instituições, a defesa do café far-se-ia por três meios: (I) Determinação de cotas para a entrada do café advindo do 
interior no porto de Santos, de forma que os importadores não pudessem ter acesso a um estoque de café suficiente 
para provocar, eles próprios, uma pressão baixista sobre os preços; (II) Oferecimento de crédito aos cafeicultores, a 
juros módicos, cujo café estivesse estocado, de modo que pudessem sanar suas necessidades de capital de giro 
enquanto sua produção não fosse vendida; (III) Compra, pelo próprio Instituto do café que estivesse em Santos ou no 
interior sempre que isto fosse necessário para garantir o equilíbrio dos preços. 
 É importante ressaltar o aspecto qualitativo dessas novas medidas de valorização: até então, o processo de 
estabilização de preços fora tomado como última medida, quando a situação do mercado cafeeiro já se apresentava 
suficientemente grave para que o processo pudesse ser controlado pelos próprios cafeicultores. A situação agora era 
outra: estavam sendo dadas garantias amplas aos cafeicultores, que não hesitariam em expandir a produção mesmo em 
períodos de crise, já que estavam seguros do processo de valorização; e isto se aplicava aos concorrentes 
internacionais: tendo a certeza de que o preço seria estabelecido em algum nível de equilíbrio pelo governo brasileiro, 
eram estimulados a iniciar forte concorrência, afinal não incorreriam naquele tipo de custo e beneficiar-se-iam dos 
preços valorizados. 
 
a. A Ação do Instituto. 
 A primeira ação do Instituto do Café ocorreu em 1926 com a contratação de um empréstimo de 10 milhões de 
libras para reequilibrar os preços pela formação de estoques. No entanto, como nível dos estoques variou pouco no 
5 
 
período e os preços reequilibraram-se, o mais razoável é supor que esta primeira intervenção tenha sido mais 
psicológica que efetiva: acreditando na intervenção do governo paulista, os importadores do café brasileiro 
aumentaram a demanda enquanto os preços ainda estavam baixos, forçando sua elevação. 
 Além disso, é nesse período que o país retornará à política de câmbio fixo via padrão-ouro, afinal a 
estabilidade do câmbio era requisito necessário para que a cafeicultora se beneficiasse do processo de valorização, já 
que o que interessava aos cafeicultores era o valor obtido em moeda nacional. 
 E o mecanismo de defesa continuou ao longo desta segunda metade da década de 1920. O mecanismo básico 
era observar o preço do café ao nível de exportações daquele período, de modo que se pudesse calcular a demanda 
pelo produto. Conhecendo o nível de oferta de seus concorrentes internacionais, o Brasil podia, então, determinar o 
nível de sua própria oferta de modo a obter os preços desejados. 
 Em 1927, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais assinam o chamado “Segundo Convênio do Café”, pelo 
qual estabelecem uma política de defesa conjunta. 
 Naquele mesmo ano, a atuação do Instituto do Café se mostraria ainda mais necessária em função da safra 
elevadíssima de 26,1 milhões de sacas (quase o dobro da média das últimas três safras). Houve, então, uma pressão de 
baixa dos preços; mas os agentes do mercado logo perceberam que o Instituto do Café tinha disposição e recursos 
(obtidos via empréstimo internacional) para comprar o excedente, de forma que o preço oscilou pouco naquele ano. 
 Apesar do sucesso das várias políticas de valorização, o ambiente começava a alterar-se significativamente em 
1929. 
 Neste ano, uma nova super-safra, acrescida dos novos cafezais plantados entre 1927-1929, fazia sentir-se, sem 
que os excedentes da de 1927 já tivessem sido liquidados. Observa-se, aqui, um dos efeitos já mencionados da política 
de valorização: mesmo frente à pressão baixista dos preços no mercado internacional, os cafeicultores eram 
estimulados a expandir a produção, confiantes que estavam nos seguidos sucessos da valorização. 
 Ainda no início de 1929, o Instituto do Café conseguiu segurar os preços, mas em outubro, com o crack da 
Bolsa de NY marcando o início da Grande Depressão, a situação seria outra. Frente ao colapso da Bolsa, os preços do 
café não puderam ser sustentados. Esta queda de preços não teria sido fatal para o Instituto e para o mecanismo de 
defesa arquitetado por São Paulo se tivesse sido apenas temporária, mas não o foi: a Grande Depressão contraiu 
fortemente a demanda, principalmente pela diminuição dos rendimentos, de sorte que o café, que antes representava 
cerca de 0,7% da renda de um trabalhador representativo dos EUA, passou a representar 1,5%, o que tenderia, ainda 
mais em meio às proporções da crise, a diminuir pela metade o consumo do produto. 
 Além disso, internamente, o governo de Washington Luís buscava manter o esquema cambial do padrão-ouro, 
de sorte que não foi autorizada a emissão de papel moeda para o socorro pedido pelo Instituto. 
 O fim do sistema de defesa ocorreu, portanto, como conseqüência da carência de recursos financeiros. A 
situação social na cafeicultora, por sua vez, não seria marcada por uma grande onda de desemprego apenas porque os 
trabalhadores aceitaram manter-se no trabalho a salários de 30 a 40% menos, tendo-lhes sido permitido aumentar a 
agricultura de subsistência nas ruas dos cafezais. 
 No entanto, “o fim da defesa dos preços nos portos não foi o fim de todo o sistema de valorização, pois, se 
isso tivesse acontecido naquele momento, em que o Brasil possuía cerca de 20 milhões de sacas de café e o mercado 
mundial sofria de uma forte crise, é quase certo que todo o sistema de comercialização e produção sofreria um colapso 
de que não se recuperaria tão cedo, pois ele implicaria na falência da quase totalidade das empresas nacionais 
envolvidas no comércio do café e dos bancos particulares que operavam com o produto”. 
 Assim, frente à negativa de Washington Luís de financiar as novas medidas de defesa, o Estado de São Paulo 
recorreu a empréstimos internacionais. Apesar de essas tentativas desesperadas de obter crédito tenham sido fatais 
para a manutenção efetiva do Instituto do Café, não deixa de ser impressionante o fato de ter o Estado conseguido, em 
meio àquele caos financeiro, um empréstimo de 2 milhões de libras e outro de 20 milhões para consolidar as dívidas 
que assumira anteriormente.4. A Defesa Volta ao Governo Federal. 
 Os já elevadíssimos estoques do pós-1929 foram agravados ainda mais pela safra de 28 milhões de sacas de 
1931. Ficava mais que evidenciado o problema da superprodução no país e a existência de um excesso de capacidade, 
estimulado justamente pelas políticas de valorização anteriores. 
 Frente à gravidade da situação, o governo federal resolveu adquirir os estoques que ainda não haviam sido 
comprados pelo Estado de São Paulo. Se esta medida não resolvia o problema da superprodução e da colocação de 
tamanhos estoques no mercado, ao menos desafogava, ainda que temporariamente, o já extremamente crítico mercado 
do café. 
 Assim, em 1931, o governo da força instaurado financia a compra de mais de um milhão de sacas e troca 
pouco mais de outro milhão pela quase mesma proporção de trigo. Como medida adicional, o governo estabelecia um 
imposto de 1$000 sobre cada novo pé de café plantado nos próximos cinco anos, valor praticamente proibitivo de 
qualquer expansão à época. Finalmente, como última medida, foi criado o Conselho Nacional do Café. 
6 
 
 Os efeitos reais de tais medidas, no entanto, foram irrisórios. Assim, optou-se no mesmo ano pela destruição 
de 9,3 milhões de sacas, mas mesmo isso não foi suficiente para melhorar os preços internacionais. 
 A situação ficaria ainda mais desesperadora em 1934, com o anúncio de uma safra de mais de 29 milhões de 
sacas, de tal forma que o estoque de café entre 1927 e 1934 chegava aos 50 milhões de sacas. 
 Como medida, foram estabelecidas cotas de utilização para o café: 30% seria o total exportado, 30% seria 
retido e 40% seria a cota de sacrifício. Das 50 milhões de sacas mencionadas acima, 24 milhões seriam queimadas 
sem um resultado significativo nos preços. 
 Apesar de a queima de café ter sido muito criticada, ela “significava, em parte, a forma pela qual o desperdício 
generalizado de fatores, produzido pela crise mundial em todos os países, se apresentava no Brasil. A alternativa mais 
imediata para a queima do produto era o desemprego e a desorganização social”. 
 Em 1936, como se apresentasse uma nova super-safra de 26,6 milhões de sacas, o governo passou a pagar 
apenas 5$000 para as sacas que seriam queimadas, valor certamente insuficiente até para cobrir os custos de 
ensacamento e transporte, o que evidenciava uma tentativa desesperada de diminuir aquele excesso produtivo. 
 A política de destruição das sacas prosseguiria forte: em 1837, foram destruídas 17,2 milhões de sacas, mais 
do que o total nacional exportado em qualquer ano de sua história. 
 A política de destruição de estoques prosseguiria durante toda a década de 1940, com a manutenção da cota de 
sacrifício em 30% do total produzido. Durante a II GM, frente ao fechamento quase completo do mercado Europeu, 
foi firmado o “Inter American Coffee Agreement”, pelo qual os EUA assumiam cotas fixas de importação de cada 
uma dos 14 produtores latino-americanos. 
 Este processo de queima do café seria interrompido apenas em julho de 1944. Tal mecanismo de defesa, ou 
melhor, de tentativa de defesa, dos preços estendeu-se de 1931 a 1944, eliminando “nada menos do que 78,2 milhões 
de sacas de café, ou seja, uma quantidade equivalente a três vezes o consumo mundial num ano”. 
 
5. A Nova Forma de Defesa. 
 O abandono das cotas de sacrifício não significou o abandono das políticas de valorização. Pelo contrário, 
estas seriam mantidas ao longo de toda a década de 1950, sendo fator preponderante para a expansão dos cafezais que 
se observou sobretudo no estado do Paraná. 
 O novo sistema da década de 1950 baseava-se em mecanismo de há muito conhecidos: controle das entradas 
do café nos portos e um preço mínimo garantido aos produtores, obtido mesmo pela compra governamental se a 
situação o exigisse. 
 Delfim Netto, portanto, é crítico frente àquela política que é contemporânea ao texto: os formuladores da 
política do café pouco parecem ter aprendido com as experiências passadas, não observando que a segurança de um 
preço mínimo é um estímulo fortíssimo para a expansão da capacidade produtiva até um nível em que o mecanismo de 
defesa de preços se mostre insustentável.

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