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3.2. Os Princípios Limitadores do Poder Punitivo.

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Princípios Limitadores da Função Punitiva do Estado 
 
Lei Penal em Branco 
• Princípio da Legalidade 
• Princípio da Fragmentariedade 
• Princípio da Intervenção Mínima 
• Princípio da Humanidade 
• Princípio da Insignificância 
• Princípio da Culpabilidade 
• Lei Penal em Branco 
1. Considerações Iniciais 
Nessa nossa segunda aula estudaremos, 
basicamente, os princípios limitadores da 
função punitiva do Estado, e, ao final, 
abordaremos ainda a denominada Lei 
Penal em Branco. 
Pois bem: Comecemos com o tão falado 
“Princípio da Legalidade”. 
2. Princípio da Legalidade 
2.1. Considerações Gerais 
Tal princípio rege o ordenamento jurídico como um todo1, e não apenas o Direito 
Penal. Entretanto, em cada ramo do direito ele adquire um contorno diferenciado. 
Sendo que: se este princípio é importante para o ordenamento jurídico como um todo, 
mais ainda será para o Direito Penal, em virtude da natureza das sanções por ele 
impostas aos indivíduos e da gravidade dos meios que o Estado emprega na repressão 
dos delitos. 
Em outros termos: o Princípio da Legalidade tem importância capital para o Direito 
Penal, pois tal ramo do Direito é, por excelência, o maior limitador da liberdade 
individual em prol do bem comum, no entanto, este poder de limitação da liberdade não 
pode ser “arbitrário”. E para combater qualquer espécie de arbitrariedade, nada melhor 
do que o nosso bom e velho princípio da legalidade. Pode-se, portanto, afirmar que o 
princípio em estudo é a limitação do limitador. 
Saiba que: o princípio da legalidade é um dos principais pilares de sustentação do 
denominado Estado de Direito, e vem, tal princípio, insculpido no artigo 5º, incisos II e 
XXXIX da Constituição Federal e no artigo 1º do Código Penal. Vamos dar uma olhada 
nos referidos dispositivos: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
( ... ) 
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar alguma coisa senão em virtude de lei; 
( ... ) 
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina e nem pena sem prévia cominação 
legal. 
Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação 
legal. 
2.2. Princípio da Legalidade: Breve Histórico 
Antes de adentrarmos nos aspectos técnicos do princípio da legalidade, convém 
falarmos um pouco de seus aspectos históricos, mesmo que de forma sucinta. Em 
termos precisos, o princípio da legalidade foi formulado pela primeira vez na 
Declaração dos Direitos dos Homens, em 1789, durante a Revolução Francesa. 
Preceituava, tal diploma legal, que ninguém será punido senão em virtude de uma lei 
estabelecida e promulgada2 anteriormente ao delito, e legalmente aplicada. 
Sendo que: após esta primeira aparição efetiva, o princípio da legalidade foi inserido 
em todas as constituições dos povos cultos3. Entre nós, ele surgiu na Constituição de 
1824, que preceituava que ninguém será sentenciado senão pela autoridade competente 
e em virtude de lei anterior, e na forma por ela prescrita. 
Saiba que: embora tenha sofrido algumas pequenas alterações, o princípio da 
legalidade foi inserido em todas as constituições brasileiras subseqüentes. 
Além do que: Não se tem dúvidas de que o princípio da legalidade representa uma das 
mais importantes conquistas de índole política inscrita nas constituições de todos os 
regimes democráticos e liberais. 
Isto porque: Como já fora anteriormente exposto, este princípio se constitui em sendo 
uma efetiva limitação ao direito de punir do Estado. 
Perceba que:sempre se soube que o poder punitivo estatal precisava ser controlado, e 
que este “controle” deveria coibir a ocorrência de qualquer tipo de arbitrariedade ou 
excesso, do poder punitivo. E para o exercício deste “controle”, tem-se como principal 
instrumento, o princípio da legalidade. 
A propósito: o princípio em estudo, tal como dissemos anteriormente, vem insculpido 
no artigo primeiro do Código Penal. Vejamos, mais uma vez, o dispositivo: 
Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação 
legal. 
A propósito: não se esqueça que o princípio da legalidade tem como fundamento, 
também, o artigo 5º, incisos II e XXXIX da Constituição Federal, sendo que, tais incisos 
podem assim serem transcritos: 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de 
lei” 
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação 
legal. 
2.3. Princípio da Legalidade: Aspectos Políticos e Jurídicos 
Diz-se que o princípio da legalidade tem um dúplice aspecto: um político e um jurídico. 
Vejamos cada um desses aspectos: 
Aspecto Político: o aspecto político do princípio da legalidade se origina do fato de este 
ser uma garantia individual dos direitos do homem. Como bem leciona Luiz Régis 
Prado, o seu fundamento político radica, principalmente, na função de garantia da 
liberdade do cidadão frente a intervenção estatal arbitrária por meio da realização da 
certeza do direito. 
Aspecto Jurídico: o princípio em tela, por óbvio, também possui um aspecto jurídico, 
técnico. E sob o prisma jurídico, tal princípio impõe que apenas se possa taxar de 
criminosa uma determinada conduta quando existir perfeita correspondência entre a 
conduta praticada e o dispositivo legal. 
A propósito: Não se pode esquecer que o ilícito penal não pode ser estabelecido de 
maneira imprecisa. Deve haver uma descrição pormenorizada da conduta, sob pena de 
se suprimir a segurança jurídica, que é uma das bases da convivência harmoniosa em 
sociedade, por isso que, via de regra, os tipos penais são fechados, tal como dissemos na 
aula passada. 
Saiba que: o princípio da legalidade corresponde, em verdade, a uma das aspirações 
mais básicas e fundamentais do homem, que é a de ter uma proteção contra qualquer 
forma de abuso por parte do Estado quando este for exercer o jus puniendi ( direito de 
punir). É necessário que a liberdade do cidadão não seja suprimida pelo Estado, senão 
nos casos previstos em lei. 
2.4. Princípio da Legalidade e Tipicidade 
Afirma, a maioria da doutrina, que a teoria da tipicidade conferiu mais técnica ao 
princípio da legalidade. 
Saiba que: a tipicidade pode ser definida como sendo a perfeita adequação de uma 
conduta humana à um tipo penal, a uma norma penal incriminadora4. E o um tipo penal, 
por sua vez, pode ser definido como sendo a descrição abstrata de um fato real, que a lei 
proíbe. Tal como ensina-nos o Profº. Luiz Régis Prado, o tipo penal vem a ser o modelo, 
o esquema conceitual da ação ou omissão vedada. 
Sendo que: tal como leciona a maioria da doutrina, tem utilidade inquestionável a 
teoria do tipo, concebida em 1907, por Ernst Beling. E isto se afirma pois é o tipo penal 
que realiza e garante o princípio da legalidade. 
Em outras palavras: o princípio em estudo, como se viu, preceitua que não haverá 
crime sem lei que o defina, e tal definição é feita através do tipo penal. 
Pode-se concluir, portanto, que: o tipo penal confere aplicabilidade ao princípio da 
reserva legal. 
A propósito: sobre “tipo penal” e “tipicidade” mais se estudará, no momento adequado. 
2.5 Princípio da Legalidade e Anterioridade da Lei 
O artigo 1º do Código Penal, que já foi transcrito anteriormente, abarca dois aspectos: o 
da legalidade em si, e o da anterioridade da lei. 
Sendo que: o aspecto da legalidade, propriamente dito reserva ao campo da “lei” a 
tarefa de descrever crimes e cominar penas ( não há crime sem lei que o defina), e o 
aspecto da anterioridade se evidencia através da expressão “lei anterior”.Ou seja: faz-se necessário que a lei definidora de um crime esteja em vigor na data do 
fato5 . Para que se puna alguém pela prática de uma conduta delituosa, sua lei definidora 
têm que estar em vigor no momento da ação ou omissão. 
Preste Atenção à um aspecto de extrema importância: o artigo 1º do Código Penal 
determina que não há crime sem lei que o defina, e isso já foi anteriormente exposto. 
Entretanto, cumpre assinalar que o dispositivo legal em comento usa a expressão “lei” 
em sentido estrito. 
Em outros termos: apenas a lei, na sua acepção formal e estrita, emanada e aprovada 
pelo Poder Legislativo, por meio de procedimento adequado, poderá criar tipos e impor 
penas. Tal como bem assevera o Profº Fernando Capez, nenhuma outra fonte subalterna 
pode gerar a norma penal. 
Sendo assim: apenas o Poder Legislativo, em virtude de sua legitimidade democrática 
pode, através de lei, criar crimes e cominar penas. 
Resumindo: o princípio da legalidade, como maior limitador do poder punitivo estatal, 
determina que não se pode conceber um conduta criminosa, sem prévia e expressa 
tipificação legal. 
3. Outros Princípios Limitadores da Função Punitiva do Estado 
3.1. Considerações gerais 
O princípio da legalidade, por si só , não é suficiente para coibir eventuais abusos 
estatais. 
Pare e pense: se o princípio da legalidade atuasse isoladamente, nada impediria, por 
exemplo, que o legislador incriminasse a conduta de por fim a um relacionamento 
amoroso. Imaginemos o seguinte dispositivo: 
Art. (....) Por fim a um relacionamento amoroso sem que a outra parte contribua ou 
consinta para tanto. 
Pena: 01 (um) à 03 (três) anos de reclusão e multa 
Perceba que: o “suposto” dispositivo não afronta o princípio da legalidade. É 
formalmente legal. Entretanto, não se tem dúvidas de que a incriminação de uma 
conduta como a usada no exemplo supra se configura em sendo um abuso do poder 
punitivo do Estado. 
Ou seja: se é verdade que seria uma arbitrariedade punir alguém por uma conduta não 
descrita da lei penal, igualmente o seria classificar como crime condutas inofensivas à 
sociedade. 
Por isso que: para que se evitem abusos como o dado no exemplo, outros princípios 
existem que ajudam na tarefa de impor limites ao poder punitivo Estatal. Vejamos quais 
são eles: 
Princípio da Fragmentariedade:dita este princípio que o direito penal não protege 
todos os bens jurídicos de eventuais violações, mas apenas os mais importantes. Sendo 
que, acerca deste princípio, interessante observação é feita pelo Profº. Luiz Régis Prado: 
“este princípio impõe que o direito penal continue a ser um arquipélago de pequenas 
ilhas no grande mar do penalmente irrelevante”. 
Em outras palavras: o direito penal, segundo o Princípio da Fragmentariedade, deve se 
ocupar de reprimir apenas as condutas mais danosas a sociedade. Sendo que, cumpre ter 
em mente que este princípio é corolário do princípio da insignificância, que será 
estudado logo adiante.. 
A propósito: o direito penal limita-se a castigar as ações mais graves, praticadas contra 
os bens jurídicos mais importantes. Por isso se afirma que ele é fragmentário. Porque 
ele se ocupa de tutelar apenas uma parte dos bens juridicamente protegidos, quais 
sejam, os mais importantes. 
Princípio da Intervenção Mínima:de acordo com este princípio, o legislador deve 
evitar a definição desnecessária de crimes6. 
Ou seja: o direito penal, segundo o Princípio da Intervenção Mínima, só deve intervir 
quando for realmente necessário para a sobrevivência da comunidade. 
Saiba que: o direito penal, tal como apregoa a maioria dos doutrinadores deve 
funcionar como ultima ratio ( último recurso), uma vez que, tal como ensina-nos o 
Profº. Cezar Roberto Bitencourt, se outras formas de sanção ou outros meios de 
controle social revelarem-se suficientes para a tutela de um determinado bem, sua 
criminalização será inadequada e não-recomendada. 
Em outros termos: Diz-se que o Direito Penal deve ser a ultima ratio ( o último 
recurso) pois só deve atuar quando os demais ramos do direito se mostrarem ineficazes 
para dar a devida proteção aos bens jurídicos mais relevantes da sociedade. O penalista 
supracitado conclui dizendo que antes de se recorrer ao Direito Penal, deve-se esgotar 
todos os meios extrapenais de controle social. 
Saiba que: o principal objetivo da chamada intervenção mínima, segundo a doutrina, é 
o combate à denominada “inflação legislativa”. Isto porque, segundo alguns 
doutrinadores os legisladores têm criminalizado condutas sem um mínimo de critério, 
entrando em confronto, assim, com o princípio em questão. 
Sendo que: esta inflação legislativa prejudica a força intimidativa das sanções penais, e 
pode levar o Direito Penal ao descrédito total. De fato, cremos que o Direito Penal deva 
ser encarado como ultima ratio e não como prima ratio ( primeiro recurso) na solução 
de conflitos sociais. 
3.4. Princípio da Humanidade: uma das principais buscas do Direito Penal, ao longo 
de seu desenvolvimento, é a humanização das penas. Se olharmos atentamente para a 
história do Direito Penal, poderemos constatar que se evoluiu, no tocante às penas, das 
penas de morte às penas privativas de liberdade e destas se está passando, de forma 
gradativa, às penas alternativas. 
Ou seja: em linhas gerais, pode se afirmar que o conceito de retribuição pela prática 
delituosa está se modificando. Sendo que, por força deste princípio, os chamados 
“Estados de Direito” vedam qualquer espécie de pena que possa atentar contra a 
dignidade humana. 
Tenha em mente, ainda, que: segundo alguns doutrinadores, este princípio é um dos 
principais obstáculos à adoção da pena de morte e da prisão perpétua. 
Olhe só que interessante: você sabia que a Constituição Federal não veda de maneira 
absoluta a pena de morte ? É verdade, pois o artigo 5º, inciso XLVIII da Constituição 
preceitua que não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. 
Acerca do princípio da humanidade, tenha em mente que: segundo ele ( Princípio 
da Humanidade), o réu deve ser tratado como pessoa humana. 
Por outro lado: o Direito Penal não deve perder seu caráter retributivo7, e via de regra, 
a retribuição não pode ser conseguida sem que se atribua um mínimo de dor e 
sofrimento ao delinqüente. 
Ou seja:Também não podemos transformar o Direito Penal num direito de premiação 
pelos delitos e assistência aos criminosos. 
Sendo assim: o que se busca com este princípio, é que nenhuma pena privativa de 
liberdade, ou qualquer outra, atente contra a incolumidade da pessoa enquanto ser 
social. Tal como leciona o Profº Cézar Roberto Bitencourt, dentro destas fronteiras, 
impostas pela natureza de sua missão, todas as relações reguladas pelo Direito Penal 
devem ser presididas pelo princípio da humanidade. 
A propósito: vamos ver alguns dispositivos constitucionais que consagram este 
princípio: 
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados 
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e 
tem como fundamentos: 
(...) 
III – a dignidade da pessoa humana. 
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade, nos termos seguintes: 
( ...) 
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
3.5. Princípio da Insignificância: pode-se expor, de início, que de acordo com este 
princípio, devem ser consideradas atípicas8 as ações ou omissões que afetem de 
maneira insignificante um bem penalmente protegido. Está, este princípio, ligado aos 
chamados “delitos de bagatela”. 
Ou seja: este princípio,que foi formulado por Claus Roxin, em 1964, recomenda que a 
Lei Penal não se preocupe com infrações de pequena monta. 
A propósito: convém expor que o que este princípio afasta é a tipicidade de uma 
conduta criminosa, em particular, em virtude de sua insignificância, entretanto, de 
forma genérica, a conduta continua a ser considerada como crime. 
Preste muita atenção: não se pode afirmar que os chamados delitos de menor potencial 
ofensivo9 sempre serão abrangidos pelo princípio em tela. Aos delitos de menor 
potencial ofensivo, o legislador impôe conseqüências jurídico-penais, valorando tais 
condutas como social e penalmente relevantes. Já nos chamados crimes de bagatela, 
não se impõe qualquer sanção penal. 
Preste muita atenção: cumpre atentar para a opinião do Profº Fernando Capez, acerca 
do princípio da insignificância, que pode assim ser transcrita: 
“Entendemos que o princípio da insignificância não tem base legal. Se a infração tem 
pequeno potencial ofensivo, deve incidir a Lei 9009 ( Lei dos Juizados Especiais 
Criminais) e seus institutos despenalizadores, não justificando deixar o juiz de aplicar a 
lei.” 
Entretanto: nós, particularmente, entendemos que os critérios usados para a aplicação 
do princípio da insignificância são totalmente diferentes dos critérios usados pelo 
legislador para definir os crimes de menor potencial ofensivo. Para definir estes, se leva 
em conta a pena máxima, cominada abstratamente, enquanto que os delitos de bagatela 
são assim considerados, em cada caso concreto, em virtude da ínfima lesividade da 
conduta, independente da pena máxima cominada em abstrato. 
3.6. Princípio da Culpabilidade: este princípio consagra a máxima de que não há 
crime sem culpabilidade. E por mais obvio que tal preceito possa parecer, cumpre 
aclarar que em seus primórdios, o Direito Penal vigorava com base na chamada 
responsabilidade objetiva, onde se responsabilizava o agente pela simples causação do 
resultado, ou seja, antigamente havia crime sem culpabilidade. 
Mas: felizmente, esta tal de responsabilidade penal objetiva está praticamente extinta. 
A propósito: sobre esta tal de “culpabilidade” mais se falará no momento oportuno, no 
entanto, desde já convém ter me mente que esta ( culpabilidade), tal como nos ensina o 
Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros pode ser entendida como sendo o juízo de 
censura que recai sobre a formação e a manifestação de vontade do agente, com o 
objetivo de imposição de pena. 
4. Lei Penal em Branco10: 
4.1. Considerações gerais 
Afinal, o que vem a ser esta tal de Lei Penal em Branco( ou cega ou aberta) ?. Em 
verdade o termo “lei em branco” foi usado pela primeira vez por Binding, que usou o 
termo para designar as leis penais cuja pena é determinada, porém, o preceito que se 
liga a esta sanção é incompleto, ou indeterminado. 
Ou seja:. Tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, a Lei Penal 
em branco é aquela cuja definição da conduta criminosa é complementada por outra lei. 
Preste atenção: usamos o termo lei, no parágrafo acima, em sentido amplo, haja vista 
que o complemento das normas penais em branco podem se originar de qualquer 
espécie legislativa. 
A propósito: para melhor ilustrar nossa exposição, temos por indispensável a exposição 
de alguns exemplos: 
• A lei 6368/75, mais conhecida como Lei de Tóxicos, em seu artigo 12 define o 
crime de importar, exportar, remeter, etc...substância entorpecente ou que 
determine dependência física ou psíquica . Pois bem, por substância 
entorpecente, não podemos entender senão aquelas assim classificadas pelo 
Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( 
ANVISA). 
Sendo assim: Como se pode perceber pelo presente exemplo, o dispositivo 
incriminador, por si só, não tem exeqüibilidade, haja vista depender de uma outra lei 
para sua complementação, que, no caso, é a portaria do Ministério da Saúde, que 
relaciona quais substâncias devem ser consideradas “entorpecentes”. 
Perceba que: o conceito de “substância entorpecente” não está contido no tipo penal 
que cuida de incriminar o “tráfico”. A lei diz “substância entorpecente”, mas quem diz 
quais são estas substâncias entorpecentes é o Ministério da Saúde através, como já 
disse, da ANVISA. 
• Peguemos agora como exemplo o artigo 269 do Código Penal, que assim 
preceitua: 
Art. 269. Deixar o médico de denunciar à autoridade pública, doença cuja notificação é 
compulsória. 
Pena – detenção de 6 ( seis) meses a 2 ( dois ) anos, e multa. 
Saiba que: as tais “doenças de notificação compulsória” estão arroladas em portaria do 
Ministério da Saúde, e, portanto, a norma penal supracitada, como se pode perceber, é 
incompleta e necessita que se busque um conceito extrapenal para sua efetiva aplicação. 
Ou seja: é uma lei penal em branco. 
• Vejamos outro exemplo, para que fique bem clara a idéia de “norma penal 
em branco”: 
A lei 1.521/ 51, que define os crimes contra a economia popular, em seu artigo 2º, 
inciso VI, impõe pena de detenção de 6 ( seis ) meses à 2 ( dois) anos e multa à quem 
transgredir tabelas oficiais de gênero e mercadoria. Como se pode notar, a aplicação 
do referido dispositivo depende de expedição de portarias administrativas com as 
tabelas oficiais de preços. Segundo Damásio Evangelista de Jesus, estas “tabelas” de 
preço completam a norma penal incriminadora. 
Preste muita atenção: em verdade, não é a toa que existe a chamada lei penal em 
branco. Sendo que, por vezes, algumas das matérias reguladas pelo Direito Penal são 
extremamente dependentes de fatores histórico-culturais, sendo que tal dependência 
exige uma atividade normativa constante e variável. 
Continue prestando atenção: o dispositivo incriminador “básico”, o preceito 
normativo incompleto, é estável e emanado do Poder Legislativo através de um 
demorado processo de criação. Entretanto, as mutações indispensáveis à coerente 
aplicação da norma ocorrem através de processos legislativos menos complexos, de 
maior maleabilidade11. 
Em outras palavras: se estes “fatores altamente variáveis” fossem introduzidos no 
ordenamento jurídico através do complexo procedimento usado para a elaboração da 
“norma-base”, o estatuto repressivo ficaria ultrapassado de tal maneira que sua 
aplicabilidade ficaria seriamente comprometida. 
4.2. Classificação das Normas Penais em Branco 
4.2.1. Norma Penal em Branco em Sentido Lato ou Norma Penal em Branco 
Homogênea:nesta espécie, segundo Damásio Evangelista de Jesus, o complemento da 
norma é determinado pela mesma fonte material encarregada de elaborar a norma 
incompleta, a norma-base. Diz-se homogêneapois há homogeneidade de fontes. 
A propósito: vejamos alguns exemplos desta espécie de norma penal em branco: 
Art. 178. Emitir conhecimento de depósito ou warrant em desacordo com disposição 
legal. 
Pena – reclusão de 1 ( um ) a 4 ( quatro) anos e multa. 
Perceba que: tal dispositivo deve ser complementado pelo diploma legal que dita 
regras sobre o conhecimento de depósito ou warrant. Precisamos saber se houve uma 
desobediência a “disposição legal” referida no artigo. E esta disposição legal, este 
complemento, vem do Direito Comercial, que é emanado da mesma fonte do Direito 
Penal, qual seja, a União. 
Saiba que: é a própria Constituição Federal que dita que à União cabe legislar sobre 
Direito Penal e Direito Comercial. Vamos ver o dispositivo constitucional que embasa 
esta nossa afirmação: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, 
espacial e do trabalho. 
Como se vê: tanto a norma penal em branco ( art. 178 do CP), como seu complemento 
são originários da mesma fonte, ou seja, há uma homogeneidade de fontes.. 
4.2.2. LeiPenal em Branco em Sentido Estrito ou Lei Penal em Branco 
Heterogênea: nestes casos, o “complemento” da norma penal em branco é originário de 
outra fonte legislativa, de outro órgão legiferante. As fontes formais da norma penal em 
branco e do seu complemento, nestes casos, não se confundem, são heterogêneas. 
• Peguemos como exemplo desta espécie o artigo 268 do Código Penal, que assim 
reza: 
Art. 268. Infringir determinação do poder público, destinada a impedir a introdução ou 
a propagação de doença contagiosa: 
Pena – detenção, de 1 ( um) mês a 1 ( um ) ano, e multa. 
Perceba que: quando o dispositivo em apreço fala em “infringência à determinação do 
poder público”, entenda-se: editais e portarias oficialmente publicados, e tais medidas, 
segundo Damásio Evangelista de Jesus, podem advir do Poder Público Estadual ou 
Municipal. Sendo assim, pode acontecer de o complemento da norma penal em branco, 
neste caso, seja oriunda de outra fonte legislativa, o que nos leva a crer que estamos 
diante de uma chamada lei penal em branco heterogênea ou lei penal em banco em 
sentido estrito 
Veja que interessante: quando se estuda a Lei Penal em Branco, pode surgir a seguinte 
questão: o complemento da norma penal em branco é parte integrante desta ? Esta 
questão se reveste de extrema importância, haja vista que ao afirmar, como faz a 
maioria da doutrina, que o “complemento” é parte integrante da norma penal em branco, 
tem-se que admitir que, excepcionalmente, o conteúdo da lei penal pode ser elaborado 
por órgão diferente da União, que é, segundo a Constituição, o órgão que tem 
legitimidade para tal. 
Sendo assim: para solucionar esta questão, os doutrinadores sempre citam o 
pensamento de Soler, que dizia que “a lei penal em branco, que defere a outro a fixação 
de determinadas condições, não é nunca uma carta branca outorgada a esse poder para 
que assuma funções repressivas, e sim, o reconhecimento de uma faculdade meramente 
regulamentar”. 
A propósito: segundo a doutrina, para que a técnica legislativa da norma penal em 
branco não ofenda o princípio da legalidade, a norma penal incompleta deve fixar com 
precisão os limites de sua integração com outra norma. Isso porque, segundo Luiz Regis 
Prado, o caráter delitivo da ação ou omissão só poder ser delimitado pelo Poder 
competente, qual seja, o Poder Legislativo. 
Questão Problema 
Madalena era secretária de um poderoso executivo, e deixou de repassar a ele um 
recado de extrema importância, fato este que acabou por gerar sérios prejuízos a 
empresa, haja vista que tal recado versava sobre uma importante negociação que teria 
que ser concluída naquele dia, pois a pessoa com quem o chefe de Madalena iria 
negociar estava com passagem comprada para a Antártida, onde iria passar alguns anos, 
fazendo alguns estudos sobre a região. O chefe de Madalena, por ter deixado de lucrar 
vultuosa soma, ficou extremamente enraivecido e comentou o fato com um de seus 
amigos, que era um juiz de direito totalmente maluco, e que acabou por prender a pobre 
Madalena. 
• Na sua opinião, quais dos princípios ora estudados foram feridos com esta 
absurda prisão ? Porque ? Faça alguns comentários sobre os princípios que, 
eventualmente, possam ter sido feridos com a decisão do juiz insano. 
Quadro Sinóptico 
1. Princípio da Legalidade: rege o ordenamento jurídico como um todo e 
não apenas o Direito Penal, e em cada ramo do Direito ele adquire um 
contorno diferenciado. 
2. Para o Direito Penal, que é, por excelência, o maior limitador da 
liberdade individual em prol do bem comum, este princípio é de suma 
importância, pois ajuda a coibir eventuais abusos estatais. 
3. Base legal do Princípio da Legalidade: artigo 5º, incisos II e XXXIX da 
Constituição Federal e artigo 1º do Código Penal. 
4. Princípio da Legalidade – Aspecto Político: seu fundamento político 
reside na função de garantia da liberdade do cidadão frente a 
intervenção estatal arbitrária. 
5. Princípio da Legalidade – Aspecto Jurídico: segundo este principio, 
apenas podem ser consideradas criminosas as condutas devidamente 
tipificadas, devidamente descritas em lei, e nesta limitação reside o 
aspecto jurídico do Princípio da Legalidade. 
6. Princípio da Legalidade e Tipicidade: a teoria da tipicidade conferiu 
mais técnica ao Princípio da Legalidade. É o tipo penal que realiza e 
garante o Princípio da Legalidade. Ou seja: a tipo penal confere 
aplicabilidade ao Princípio da Legalidade. 
7. Princípio da Legalidade e Anterioridade da Lei: o artigo 1º do Código 
Penal abriga dois aspectos, quais sejam: a legalidade e a anterioridade. 
8. Da Anterioridade da Lei Penal: não basta que exista uma lei que defina 
o crime. É necessário ainda que esta lei seja anterior á prática do fato, é 
necessário que a lei definidora de um crime esteja em vigor na data do 
fato. 
9. Outros Princípios limitadores da função punitiva estatal: o Princípio da 
Legalidade, atuando por si só não é suficiente para coibir eventuais 
abusos estatais. Para evitar de maneira eficiente a ocorrência de 
eventuais abusos estatais, é imprescindível que outros princípios atuem 
juntamente com o Princípio da Legalidade. Vamos relembrar quais são 
os princípios que atuam juntamente com o Princípio da Legalidade: 
a. Princípio da Fragmentariedade:dita este princípio que o direito penal 
não protege todos os bens jurídicos de eventuais violações, mas apenas 
os mais importantes 
b. Princípio da Intervenção Mínima: de acordo com este princípio, o 
legislador deve evitar a definição desnecessária de crimes 
c. Princípio da Humanidade:por força deste princípio, os chamados 
“Estados de Direito” vedam qualquer espécie de pena que possa atentar 
contra a dignidade humana. 
d. Princípio da Insignificância: de acordo com este princípio, devem ser 
consideradas atípicas as ações ou omissões que afetem de maneira 
insignificante um bem penalmente protegido 
e. Princípio da Culpabilidade:este princípio consagra a máxima de que 
não há crime sem culpabilidade. 
10. Lei Penal em Branco: é aquela lei cuja definição da conduta criminosa 
é complementada por outra lei. Vamos relembrar as classificações da lei 
penal em branco: 
a. Norma Penal em Branco em Sentido Lato ou Norma Penal em Branco 
Homogênea: nesta espécie, segundo Damásio Evangelista de Jesus, o 
complemento da norma é determinado pela mesma fonte material 
encarregada de elaborar a norma incompleta, a norma-base 
b. Lei Penal em Branco em Sentido Estrito ou Lei Penal em Branco Heterogênea: 
nestes casos, o “complemento” da norma penal em branco é originário de outra fonte 
legislativa, de outro órgão legiferante. 
1 - Tanto que o art. 5º, inciso II da Constituição Federal, assim preceitua: 
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude 
de lei”. 
2 - Cabe aqui diferenciar uma lei promulgada de uma lei “outorgada”. Uma lei 
promulgada é aquela que se valeu de meios democráticos para ingressar no 
ordenamento jurídico, e uma lei outorgada, ao contrário, é imposta à sociedade, se vale 
do autoritarismo dos governantes de uma determinada nação para fazer valer os direitos 
que a estes interessam. 
3 - Damásio Evangelista de Jesus 
4 - Que como se viu na aula passada, são normas penais que definem crimes e 
estabelecem as respectivas sanções 
5 - Ressalvada a “retroatividade benéfica”, que será estudada na próxima aula. 
6 - Pode parecer que os princípios em estudo por vezes se confundem, mas na verdade, 
se completam. 
7 - O caráter retributivo do Direito Penal podem ser resumido na seguinte assertiva: 
todo mal praticado contra a sociedade deve se retribuído, compensado. Lembra daquele 
velho dito popular que diz que “quem fez tem que pagar ”? Em linhas gerais,assim 
pode ser explicado o caráter retributivo do Direito Penal. 
8 - Ou seja, desprovidas de “tipicidade” . Lembra da “tipicidade” ? Já falamos sobre ela 
nesta aula. 
9 
 - De acordo com o artigo 61 da Lei 9099/95, consideram-se crimes de menor potencial 
ofensivo as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não 
superior a 1 ( um ) ano, excetuado os casos em que a lei preveja procedimento especial. 
Entretanto a Lei que criou os Juizados Especiais Federais mudou tal conceito, e agora 
consideram-se crimes de menor potencial ofensivo as infrações a que lei comine pena 
máxima não superior a dois anos, inclusive os casos em que a lei preveja procedimento 
especial. Mas ainda existe muita discussão acerca do tema

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