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Propriedade de escravos e relação de compadrio: Castro e 
Guarapuava na segunda metade do século XIX
Fernando Franco Netto∗
Osir Gonçalves Guimarães+
 1. Introdução
A imposição do batizado ao recém-nascido tornou-se prática corrente no mundo católico a partir do 
século XVI, como resposta ao avanço das religiões protestantes na Europa. Em Portugal e suas colônias, esse 
registro assumiu grande importância, pois o regime do padroado ao transformar a hierarquia eclesiástica em 
burocracia do Estado facultava aos livros paroquiais o duplo status de registro religioso e civil (LIMA & 
VENÂNCIO, 1991). Remetendo-nos à escravidão, tal qual uma escritura pública, o batismo assegurava a 
propriedade do cativo ao proprietário.
Podemos lembrar que o batismo e os elementos rituais incorporava as crianças à comunidade 
escrava, funcionando como meio de sociabilidade percebido nas relações de apadrinhamento, que poderia 
ultrapassar as barreiras da condição social e espacial.
Stuart Schwartz, estudando o compadrio na Bahia colonial concluiu que os padrinhos sempre eram 
de condição igual ou superior a dos pais do afilhado. Segundo Schwartz, através dessas escolhas os escravos, 
muitas vezes, buscavam instrumentalizar a política de compadrio, com vistas à alforria de seus filhos, mas, 
na maioria dos casos, sem muito sucesso.
Freqüentemente, escravos procuravam ‘pessoas de consideração’ para apadrinharem seus filhos, na esperança de que 
o orgulho das mesmas seria grande demais para permitir que seus afilhados permanecessem no cativeiro; tal 
esperança, porém, em geral não se concretizava. Em um estudo sobre alforrias na Bahia entre 1684 e 1745, menos de 
1% das manumissões e menos de 2% de todos os casos de alforria obtida por compra resultaram e padrinhos que 
libertaram seus afilhados. Fossem quais fossem as esperanças e intenções dos cativos, tais casos eram raros. 
( SCHWARTZ, 1988, p.331-332) 
*
∗Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná e professor do curso de Economia da Universidade 
Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO – Paraná. . Parte do trabalho só foi possível com recursos do CNPq e da 
Fundação Araucária. 
+ +Acadêmico do Curso de Economia da Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO. 
1
Nosso texto pretende analisar as relações de compadrio entre os cativos, bem como o perfil das propriedades 
de escravos a fim de verificar o comportamento no tempo das estratégias individuais e coletivas dos cativos e 
dos proprietários em duas localidades voltadas para a produção de subsistência durante a década de 1860: 
Guarapuava e Castro, pertencentes à província do Paraná, especificamente a região dos Campos Gerais. 
O período focado refere-se a um momento de transição do sistema escravista. A cessação do tráfico 
internacional de escravos e a Lei de Terras (ambos de 1850), foram acontecimentos de um processo de 
transição que ocorria de forma gradativa, cujo corolário seria a abolição da escravatura. No período, os 
senhores tinham no tráfico interno e na reprodução natural a esperança de perpetuação do regime, o que 
posteriormente seria limitado em função de outras leis que dificultariam a presença de escravos nas 
propriedades. 
2. Castro e Guarapuava: perfis econômicos na segunda metade do século XIX
2.1 Castro 
Variadas fontes conduzem-nos para a constatação das atividades produtivas em Castro. Inventários 
post-mortem, relatórios dos presidentes de província, mapas econômicos e documentos da Câmara 
descrevem o mosaico econômico de Castro composto de atividades agrícolas e na criação de animais,
Durante quase todo o período do século XIX, Castro desenvolveu-se ligado à rota do comércio de 
gado para Sorocaba. A passagem dos animais foi proporcionando o surgimento de vilas e cidades ao mesmo 
tempo em que os moradores procuravam se organizar. Esses moradores davam assistência aos tropeiros 
vindos do sul que traziam o gado para serem comercializados em Sorocaba.
 A condição de fronteira agrária provavelmente contribuiu para o acesso a terra e as atividades 
produtivas. A fronteira deve ter sido receptiva não somente à elite agrária como também às pessoas pobres. 
Por ser uma região onde os meios de acumulação eram mais intensos, provavelmente dificultava o acesso às 
pessoas pobres, mas não impedia o acesso à terra.
 A atividade predominante foi durante boa parte do período a criação, apesar da importância que a 
agricultura desempenhou no processo de sobrevivência das famílias. Isso, com certeza, proporcionava uma 
alternativa de renda para algumas pessoas no tocante a venda de produtos no mercado local ou, ainda, para o 
consumo interno. Em função da atividade da criação, a população de Castro expandiu-se, o que ocorreu não 
apenas na localidade, mas também em todo o Paraná. 
Altiva Balhana em seus estudos afirma que a população do Paraná cresceu muito durante grande 
parte do XIX em função do processo de imigração. Além disso, suas pesquisas informam que a distribuição 
espacial alterou-se profundamente no período entre o período do XVIII para o XIX, pois no início a 
concentração foi no litoral, enquanto que a partir do XIX a configuração se altera para o Planalto. 
2
Interessante no estudo também são as informações quanto a composição étnica de sua população. 
Uma sociedade heterogênea que se formou ligada as atividades econômicas durante os séculos XVIII e o 
XIX. 
3
(...) na composição da população do Paraná tradicional, isto é, do Paraná da mineração, da pecuária, das 
indústrias extrativas do mate e de madeiras, e da lavoura de subsistência, estão presentes o branco, o índio, o 
negro, bem como a variada gama de mestiços que caracteriza o quadro demográfico da maioria dos estados 
brasileiros. (BALHANA, 1972, p.14) 
A força de trabalho empregava a mão-de-obra cativa e sua utilização era comum nos domicílios 
ligados as atividades da agricultura e da pecuária. O volume de escravos sofreu elevação importante durante 
os anos em Castro, o que infere sobre o aumento de riqueza na localidade durante o período do XIX. A 
predominância em Castro era da pequena propriedade, isto é, em torno de 60% possuíam quatro ou menos 
cativos.
Com relação às atividades econômicas que empregavam a mão-de-obra escrava, predominavam os 
agricultores e os criadores de animais. Trabalho realizado por Kátia Andréia Vieira de Mello enfatiza que a 
maior parte da escravaria (39%) plantava e criava gado ao mesmo tempo, reunindo quase 50% do total de 
escravos (48,4%). (MELO, 2004, p.20) 
2.2 Guarapuava
A economia de Guarapuava, além de ser um prolongamento da atividade de subsistência e da 
pecuária do Paraná, onde ““a população emprega-se quasi geralmente na criação do gado vaccum e em 
menor escala na do lanígero e muar, constituindo com o preparo da herva mate os unicos objectos de 
comercio do lugar”” (RELATÓRIO DO PRESIDENTE DA PROVÍNCIA DO PARANÁ, 1870), é 
importante para compreendermos a evolução da economia interna face as suas especificidades de região 
voltada para o abastecimento do Império. A preocupação estava relacionada com a exploração intensiva de 
suas terras com o intuito de invernarem as tropas provenientes do extremo sul do país.
No livro de registros de ofício da câmara Municipal de Guarapuava, no ano de 1862, verificam-se as 
condições internas da vila quanto as suas atividades econômicas, em que fica clara sua dependência do 
comércio de animais, concomitantemente a uma economia de subsistência.
Importam-se do littoral para este município perto de 12.500 alqueires de sal, tanto para o trato dos animaes 
crioulos como para os e dos que aqui invernão comprados e importados da província do Rio Grande a fim de 
serem exportados no tempo presiso a Sorocaba. Outros pontos do littoralimporta-se fazendas seccas e 
molhadas. A cal vem de Ponta Grossa na razão de seiscentos a oitocentos alqueires. O fumo, café, assucar 
são importados da província de São Paulo donde vem tambem obras manufacturadas como chapéus, sellings, 
redes, lombilhos, freios, foices e machados. Esta villa, os generos de exportação consistem em bois, 
cavallos, poltros, eguas e mullas. Exporta-se deste Município para a província do Rio Grande, herva matte, 
fumo, assucar, aguardente e algumas fazendas. Para o littoral este Município exporta clina, couro, queijos, 
carne seca e herva matte, porem todos estes generos em pouca quantidade, em razão do mao estado das 
estradas, preferindo os tropeiros que daqui vão buscar cargas no littoral ou na capital, levarem seus animaes 
descarregados.” (LIVRO DE REGISTRO DE OFÍCIOS, 1862, p.83-87) 
4
Assim sendo, verifica-se que a atividade da criação de animais era predominante na localidade e que 
outros gêneros faziam parte das atividades econômicas, porém em pequena quantidade em função das 
condições das estradas. Entretanto, pode-se perceber que Guarapuava desenvolvia outras atividades 
complementares à pecuária. 
No quadro abaixo, verificamos as áreas declaradas no Município de Guarapuava 
considerando as terras agrícolas e as terras para a atividade da pecuária.
 Quadro 1 - Áreas declaradas no município de Guarapuava 1855/1857
Distritos Terras Agrícolas Terras Pecuária Total
Proprietário Área(há) Proprietário Área(há) Proprietário Área(há)
Vila 
Guarapu
ava
284 31.986,31 169 406.499,87 453 438.486,18
Freguesi
a 
Palmas
51 26.204,49 59 365.546,65 110 391.751,32
TOTAL 335 58.190,08 228 772.046,52 563 830.237,50
 Fonte: Alcioly Therezinha Gruber de Abreu. A posse e o uso da terra: modernização Agrope-
 cuária de Guarapuava; Declaração de posse do Registro do Vigário – Arquivo da Paróquia
 de Nossa Senhora de Belém – Guarapuava. 
 A quantidade relativa de proprietários com posse de terras agricultáveis em Guarapuava no período 
atinge o percentual de 62,7%, enquanto as terras para a prática da pecuária extensiva pertenciam a 37,3% dos 
proprietários. Em princípio, poderíamos afirmar que existia uma concentração das atividades dos 
proprietários na agricultura de subsistência. Porém, se verificarmos a relação entre propriedade e a área 
envolvida, podemos afirmar que havia uma grande concentração de terra nas mãos de poucos proprietários; 
dos 830 mil hectares declarados na Vila de Guarapuava e na freguesia de Palmas, 772 mil hectares 
pertenciam às áreas destinadas à atividade da pecuária, representando 92,9% da área total declarada. Se 
considerarmos somente a Vila de Guarapuava, o percentual das terras utilizadas para a pecuária correspondia 
a 92,7%. De acordo com esses números, podemos afirmar que havia uma grande concentração de terras 
destinadas à atividade principal da região que era a pecuária extensiva, baseada na grande propriedade e na 
utilização da mão-de-obra escrava e livre. 
Guarapuava e Palmas detinham 72 fazendas de criar de um total de 156 propriedades na Província, o 
que correspondia a 46,1% das fazendas. Quanto à criação, a região possuía 112.880 animais, perfazendo 
49,7% da produção do Paraná. 
5
Daniel Pedro Muller em seu “Ensaio estatístico sobre a Província de São Paulo” demonstra que a 
região de Castro no ano de 1835 (Guarapuava pertencia a Castro nesse período), comparativamente às outras 
localidades que faziam parte da Província de São Paulo, em termos de valor anual da produção, foi inferior 
apenas em relação às localidades de Jacarehy, São Carlos e Mogi-Mirim. 1
1 MULLER, Daniel Pedro. Ensaio d’um quadro estatístico da Província de São Paulo. Ordenado pelas leis provinciais de 11 de 
abril de 1836 e 10 de março de 1837. São Paulo, Typographia de Costa Silveira, 1838. p. 125, 126, 128. Ressaltamos os dados 
apresentados pelo autor; para Castro o valor da produção foi de 247:550$812; Jacarehy de 301:185$600; São Carlos de 308:325$620 
e para Mogi-Mirim de 308:089$580. 
6
Em 1859, apesar de o Presidente da Província reclamar da situação da indústria e do 
comércio da Província do Paraná, bem como da agricultura, muito influenciada pela falta de braços 
e pelas más condições das vias de transporte, o presidente informa que na Província existiam 
aproximadamente 227.922 cabeças de gado, sendo que 112.880 delas estavam em Guarapuava e 
Palmas, o que representava 49,5% de todo o gado do Paraná. Além disso, o número de fazendas 
dedicadas à criação era de 156, das quais 72 (46,1%) se encontravam nessas duas áreas. A criação 
de animais era tão fundamental na Província que o orçamento realizado no ano de 1858 demonstra 
que a atividade relacionada com a comercialização de animais foi muito importante para seu 
desenvolvimento, pois apenas o “imposto sobre animais” e a “renda das barreiras” participavam 
com 69,3% do total arrecadado.2
Da mesma forma, o Relatório apresentado à Câmara Municipal de Guarapuava em outubro 
de 1859 mostra que a indústria e o comércio do município consistem, à época, na criação e 
exportação de animais para outros pontos. Além disso, “é bastante importante o comércio de 
animais que da província do Rio Grande importa-se pela estrada que passa por esta vila”.3
Em 1862, a Câmara Municipal de Guarapuava apresentou, em relatório, o quadro geral do 
município, que, ao avaliar a situação do comércio e da indústria, apresenta os principais ramos de 
negócios da localidade, que consistem “nas vendas de gado vaccum, cavallar e muar, e bem assim 
as fazendas seccas e molhadas”.4 Ao mesmo tempo, apresenta um quadro descrevendo os produtos 
de exportação, que eram os “bois, cavallos mansos, poltros, éguas e mullas, (...) e exporta-se desse 
município para a província do Rio Grande, herva matte, fumo, assucar, aguardente e algumas 
fazendas”.5 
Percebe-se, pois, que a atividade econômica predominante em Guarapuava era a criação de 
gado. Entretanto, ao analisarmos mais detidamente o que o Presidente da Província escreve, 
verifica-se que a agricultura de alimentos tem importante participação no processo de 
desenvolvimento local, dadas as condições apresentadas pelas terras e pela produção da colônia 
Thereza, que abastecia tanto Guarapuava como Castro. Desta forma, as atividades econômicas se 
desenvolviam em Guarapuava, apesar dos problemas relacionados com o transporte e a mão-de-
obra. 
3. Batismos de escravos
2 Relatório do Presidente da Província do Paraná. Francisco Liberato de Mattos, 07 de janeiro de 1859. Curityba, 
Typographia Paranaense de Candido Martins Lopes. 
3 Relatório da Câmara Municipal de Guarapuava em 31 de outubro de 1859. Livro de Registro de Expediente da 
Câmara Municipal de Guarapuava, p. 59-62. 
4 Relatório da Câmara Municipal de Guarapuava em 08 de janeiro de 1862. Livro de Registro de Expediente da Câmara 
Municipal de Guarapuava, p. 83-87. 
5 Relatório da Câmara Municipal de Guarapuava em 08 de janeiro de 1862. Livro de Registro de Expediente da Câmara 
Municipal de Guarapuava, p. 83-87.
7
Durante a década de 1860, o crescimento no número de escravos nas duas localidades sofreu 
intensificação em função do maior dinamismo econômico, face o aquecimento na atividade da 
comercialização de animais para São Paulo, bem como, na intensa migração de pessoas alargando, dessa 
forma, as fronteiras da região. O gráfico abaixo demonstra o comportamento durante os anos de 1860 quanto 
à distribuição dos registros de batismos de escravos para as duas localidades. 
Gráfico 1. Número de Batismos - Década de 1860
0
5
10
15
20
25
30
35
1 2 3 45 6 7 8 9 10
Intervalo
N
úm
er
o 
de
 B
at
is
m
os
Castro
Guarapuava
Verifica-se, pelo gráfico, a tendência muito parecida entre as duas localidades de manterem os 
registros durante os anos no período. Isto demonstra, em primeira instância, o comportamento da região 
quanto à expansão do comércio de animais. Também, observa-se, que a localidade de Castro possuía um 
maior número de escravos proporcionalmente comparado com Guarapuava, corroborado pelo maior número 
de registros de batismos encontrado. 
 
4. Ilegitimidade dos escravos
O índice de ilegitimidade foi bastante elevado para Guarapuava e Castro no período. Entretanto, 
comparativamente observa-se comportamento diferente entre as localidades. Antes de analisarmos esses 
comportamentos, é interessante alguns comentários de cunho geral quanto as especificidades dos registros. A 
grande maioria dos registros de batismos demonstra que as famílias eram constituídas por relações 
matrifocais. Poucos são os registros onde não aparece referência aos pais, ou seja, não há o registro do nome 
nem do pai nem da mãe. Isso quer dizer que, da maioria das crianças batizadas podem ser classificadas como 
8
ilegítimas ou naturais. Como o casamento de escravos nas duas localidades foi bastante reduzido, esse 
indicador de ilegitimidade corrobora de uma certa forma com a tendência a poucas uniões em Guarapuava e 
Castro. 
O estudo de Denize Aparecida sobre o compadrio em São Francisco do Sul e Joinvile, no 
período que compreende o final da primeira metade do XIX até o final da escravidão, em 1888, 
mostra a mesma tendência de crescimento das taxas de ilegitimidade durante a segunda metade do 
XIX. Para a autora, isso pode estar relacionado com o tempo de criação das freguesias, que ““pode 
ter interferido nas estratégias e oportunidades dos cativos de organizar seus arranjos familiares 
legítimos”” (SILVA, 2004). No caso de Guarapuava e Castro a ilegitimidade era muito menor do 
que a de Joinvile, o que se entende pelo fato de que as escravarias nessas duas localidades serem um 
pouco maiores do que as de Joinvile. Mas a ilegitimidade de Guarapuava era menor que a de São 
Francisco do Sul e de Castro, onde as escravarias eram maiores que em Guarapuava. Góes, por sua 
vez, estudando os escravos na Freguesia de Inhaúma, no Rio de Janeiro, na primeira metade do 
século XIX ,chegou a um índice de ilegitimidade de 79,3%, assegurando que ““a variação do índice 
de legitimidade das crianças batizadas, indica que o batismo de crianças naturais sempre foi a regra. 
Entre 1821 e 1824, e no ano de 1828 os filhos de pais casados superou a barreira dos 30%” (GÓES, 
1993).
Um outro estudo que aborda taxas de ilegitimidade foi produzido por Slenes ao pesquisar a 
família escrava em Campinas no século XIX. Analisando o censo geral do ano de 1872, o autor 
sugere que os índices de ilegitimidade estariam relacionados com o tamanho da posse, pois os 
plantéis com 1 a 9 escravos tiveram indicador maior do que os plantéis com 10 ou mais escravos. 
Motta, ao pesquisar a vida dos escravos de Bananal nas primeiras décadas do século XIX, observou 
que os índices de ilegitimidade foram menores do que o indicador de legitimidade para as crianças 
cativas. A partir disso, ele sugere que a evolução da família escrava, bem como a vida familiar dos 
cativos, melhorou no período. Quanto à relação entre o tamanho das posses e o índice de 
ilegitimidade, ele chega à mesma conclusão que Slenes, afirmando que ““à medida que se eleva o 
tamanho dos plantéis, os filhos legítimos vão se fazendo cada vez mais presentes vis-à-vis os filhos 
naturais”” (MOTTA, 1999).
Em ambas as localidades, percebe-se o predomínio dos registros de filhos naturais. Esses resultados 
não são nenhuma novidade em termos de população cativa, ilustrado por alguns estudos relatados acima. 
Comparando esses resultados com aqueles por nós estudados nas duas localidades, observa-se 
comportamentos importantes quanto aos indicadores de ilegitimidade, pois, se avaliarmos em função do 
tamanho das escravarias, percebe-se que na região dos Campos Gerais do Paraná o ambiente era mais 
favorável para a legitimidade. 
Ao compararmos as duas localidades, pode-se inferir que Guarapuava teve tendência para a 
legitimidade mais favorável do que Castro, visto não somente as condições das propriedades de escravos, em 
função de serem menores do que as encontradas em Castro, bem como, pelo maior dinamismo econômico 
encontrado em Guarapuava no período, visto que o caminho das tropas estava fortemente encontrando 
paragens em Guarapuava, corroborado pelo alargamento da fronteira em função da expansão das terras e das 
fazendas para a região de Guarapuava e Palmas. Os números apontam para um índice de ilegitimidade de 
78,0% em Castro e de 83% em Guarapuava, o que considerando as especificidades das localidades quanto às 
propriedades de 
9
escravos, sugere que a localidade de Guarapuava tinha maiores possibilidades de filhos legítimos do que 
Castro. 
5. Padrinhos e Madrinhas
Com relação aos padrinhos e madrinhas dos escravos, é surpreendente o índice de livres em 
comparação aos escravos formando o que chamamos de parentesco fictício. Pelos registros, identifica-se a 
tendência de priorizar mais os homens no parentesco fictício, tanto no caso de Guarapuava como em Castro, 
porém, a localidade de Castro apresenta um número menor de não padrinhos e madrinhas em relação à 
Guarapuava. Do total de registros para os padrinhos em Guarapuava, 77% eram livres; 14% escravos; 3% 
libertos e os restantes 6% na categoria que definimos como sem padrinho. Para Castro, os resultados são um 
pouco diferentes, apresentando um percentual de padrinhos livres de 80%; padrinhos escravos com 18%; 
padrinhos libertos o percentual de 1,6% e os restantes 0,4% como sem padrinho. Considerando esse 
comportamento nas duas localidades, verifica-se que as estratégias dos cativos, em Guarapuava, era de 
manter laços maiores com o ambiente escravo do que em Castro.
No caso das madrinhas, em Guarapuava o percentual de livres é de 74%; para as escravas o 
percentual foi de 14%; no caso das libertas o resultado foi de 4,5%, enquanto os restantes 7,5% 
considerado sem madrinha. Para Castro, o comportamento foi de 76% para as madrinhas na 
condição de livres; 19% na condição de escravas; 3% na condição de libertas, enquanto 2% na 
condição de sem madrinha. Apesar das diferenças, as estratégias apresentadas pelos cativos em 
Guarapuava segue a tendência de laços mais próximos da escravidão. 
Uma outra questão importante para compreendermos o comportamento dos escravos no 
momento do batismo, considerando o alto índice de padrinhos e madrinhas livres, é supor que as 
condições do plantel no momento do batismo poderiam estar influenciando na escolha dos 
padrinhos – a maioria dos plantéis possuía pequeno número de escravos. Outra hipótese é que os 
escravos procuravam arranjos fictícios no sentido de se sentirem mais próximos de sua liberdade, 
assim, escolhiam para padrinhos indivíduos livres ou mesmo de posição elevada na sociedade local.
No caso de Inhaúma, no Rio de Janeiro, Góes percebeu que os batismos das crianças cativas 
eram preferencialmente seguidos de padrinhos e madrinhas escravos, porém isso só acontecia com 
maior intensidade nos plantéis grandes. Ele registra que nos menores plantéis era comum haver 
padrinho e/ou madrinha liberto ou livre, enquanto que nos plantéis em que se ““batizaram 8 ou mais 
cativos elas eram 86.2% das madrinhas (contra 72.5% dos escravos padrinhos nestes mesmos 
plantéis)””.(GÓES, 1993)
Schwartz e Gudeman, ao pesquisarem sobre compadrio e batismo de escravos na Bahiano 
século XVIII, chegam à conclusão de que 70% dos batismos de escravos tinham a presença de 
padrinho e madrinha livres. Os escravos participavam com 20% e os libertos com 10%. Para os 
10
autores, esse predomínio estava relacionado com algumas vantagens que o escravo poderia ter, pois 
““a existência de um padrinho livre residindo 
11
na vizinhança representava vantagens para os escravos, vantagens de maior peso que aquelas 
propiciadas por amizades íntimas ou por laços de família, que levariam à escolha de outros 
escravos””. (SCHWARTZ & GUDEMAN, 1988)
Na Freguesia de São Francisco Xavier de Joinvile, Silva chegou a números bastante 
expressivos de padrinhos e madrinhas livres. O percentual ficou acima de 90%. Segundo ela, isso 
está relacionado com as características das comunidades escravas em regiões onde os pequenos 
plantéis são predominantes, além de uma população formada majoritariamente por crioulos. Já para 
a Freguesia de Nossa Senhora da Graça, os índices de padrinhos e madrinhas livres também 
superaram os dos escravos, porém não tão intensamente quanto na Freguesia de São Francisco 
Xavier, sugerindo, portanto, que o tamanho das posses não era o único fator que influenciava o 
apadrinhamento dos escravos. Na conclusão da autora, ““quanto mais próximo de 1888, mais 
aumentava o número de livres, de libertos e/ou forros””.(SILVA, 2004)
Em trabalho recente Monique Alessandra Seidel ao estudar as relações de compadrio na localidade 
de Palmeira, no Paraná, observou que “entre os escravos, a preferência por padrinhos de mesma condição ou 
livres é mais dividida. Apesar de quase um terço dessa população ter padrinhos escravos (28,5%), que 
demonstra a procura de laços de compadrio com aqueles que compartilham sua condição de cativo, a maioria 
(70,5%), tem padrinhos livres.” (SEIDEL, 2010) 
Outro dado importante na pesquisa é com relação à escolha de forros como padrinhos, 
principalmente entre as madrinhas, o que para a autora pode representar “a conquista pelos forros de uma 
posição mais elevada, que mudasse seu status.”(SEIDEL, 2010). 
Mesmo considerando o tamanho dos plantéis, a partir dos registros de batismos verifica-se 
que em Guarapuava e em Castro os escravos eram batizados preferencialmente por indivíduos 
livres. Entretanto, isso não ocorreu na mesma proporção ao considerarmos o tamanho do plantel 
com relação ao número de batismos. Percebe-se que conforme vai aumentando o número de 
batismos na propriedade, aumenta também a participação dos indivíduos livres como padrinhos. Os 
escravos como padrinhos reduzem gradativamente sua participação nos plantéis, enquanto que os 
indivíduos forros não chegam a ter 5% do compadrio. Quanto às madrinhas, o movimento nos 
plantéis chega a ser praticamente o mesmo que ocorre com os padrinhos. 
Em Guarapuava e Castro, os padrões de compadrio parecem tecer caminhos diferentes com 
relação aos estudos acima mencionados. Apesar de acompanhar as características quanto aos 
padrões referentes ao número de batismos realizados pelos senhores de seus próprios escravos – 
quase não houve registro de senhores batizando seus escravos –, o número de padrinhos e 
madrinhas parentes dos senhores ou mesmo senhores de outros escravos foi significativo. Isso 
demonstra que as relações entre os senhores e os escravos estavam mais próximas do que parecem e 
eram fortemente marcadas por um certo “paternalismo indireto”, como caracteriza Schwartz. A 
historiografia desconhece números tão significativos de padrinhos e madrinhas tão próximos dos 
senhores e de seus parentes batizando escravos. Além disso, alguns desses indivíduos batizaram 
mais de um cativo. 
Com isso, talvez possamos concluir que os escravos em Guarapuava e em Castro não 
estavam criando relações de reciprocidade que pudessem aproximá-los mais de outros 
companheiros de cativeiro. Entretanto, concordamos com a idéia de que, quando tinham 
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possibilidade de escolha, provavelmente a tendência era escolherem os cativos como compadres. 
Não podemos esquecer, porém, que o tamanho da posse era pequeno e isso provavelmente 
influenciava nas escolhas dos padrinhos, embora os escravos pareçam vencer algumas dificuldades 
quando possível, haja vista que os dados referentes à pertinência do padrinho e da madrinha 
mostram que a maioria dos escravos padrinhos (55,0%) e madrinhas (56,1%) era de plantel 
diferente daquele a que pertenciam os pais do batizando. Uma outra possibilidade para analisarmos 
esses números é considerar que os escravos e/ou os senhores poderiam ter que escolher esse tipo de 
estratégia a fim de possibilitar o compadrio escravo a partir de outros plantéis, em função do 
reduzido número de escravos em suas propriedades.
Um outro tipo de avaliação e que poderia trazer alguns questionamentos com relação ao 
compadrio escravo é a relação a que nos propusemos a fazer considerando o proprietário e o 
número de batismos em sua propriedade. As propriedades que batizaram de 1 a 4 escravos tendem a 
apresentar um número de padrinhos/madrinhas livres menor do que as propriedades que possuíam o 
registro de mais do que 5 escravos. Além disso, a quantidade de compadres escravos foi superior 
nas propriedades com 1 a 4 escravos. A dificuldade de se encontrar padrinhos/madrinhas de mesma 
condição jurídica era menor nas propriedades com poucos registros de batismos do que nas com um 
maior número de batismos. Isso comprova que os escravos procuravam vencer suas dificuldades de 
buscar padrinhos cativos. Pelos dados, quanto maior o número de batismos na propriedade, maior a 
tendência dos padrinhos em serem de condição jurídica livres. No caso das madrinhas, isso é até 
mais significante.
6. Considerações
Os registros de batismos de escravos permitiram analisar algumas características importantes no 
comportamento dos batizados em duas localidades bastante similares com relação aos aspectos econômicos e 
sociais nos Campos Gerais do Paraná, Castro e Guarapuava. Percebe-se que os impactos resultantes da 
atividade de criação, nessas localidades, evoluiu para estratégias muitas vezes similares quanto a estrutura de 
posse dos cativos, isto é, uma estrutura de poucos escravos, além das especificidades dos batizados, bem 
como os níveis de ilegitimidade e da condição social dos padrinhos dos cativos possuírem as mesmas 
características, isto é, as estratégias dos cativos estava voltada para a sua sobrevivência a partir de arranjos 
possíveis, considerando as especificidades dos plantéis, o equilíbrio entre os sexos, a maior ou menor 
participação dos homens cativos na propriedade e, finalmente, as possibilidades de mobilidade social, haja 
vista, o número de padrinhos livres nas relações de compadrio.
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6. Referências Bibliográficas
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