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DIREITO PENAL IV - Daniel Nicory - Caderno para a 1a Prova

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DIREITO PENAL IV
Aluno: João Felipe Cabral Fagundes Pereira
TEORIA GERAL DA PARTE ESPECIAL: A Teoria Geral da Parte Especial se resume a tentar atribuir à toda parte especial uma conjuntura sistemática, ou seja, há uma necessidade de conceituar os tipos de crimes, havendo a divisão dos crimes pelo (i)elemento subjetivo (doloso, culposo, preterdoloso), (ii) natureza da conduta (comissivo, omissivo ou comissivo por omissão/omissivo impróprio), (iii) resultado (material, formal ou mera conduta) e (iv) afetação do bem (dano ou perigo, podendo ser concreto ou abstrato). 
 Tal como na parte geral, o Código Penal em sua parte especial é dividido em títulos, que se subdividem em capítulos, onde os mesmos capítulos se agrupam pelos bens jurídicos (vida, patrimônio, etc).
CRIMES CONTRA A PESSOA – Tal parte não trata efetivamente de um bem jurídico, mas sim de um sujeito que possui diversos bens jurídicos a serem resguardados pelo Código Penal.
HOMICÍDIO SIMPLES (Artigo 121, Caput, CP ) - É o tipo penal mais simples do Código Penal, que exprime apenas o verbo e objeto (matar alguém), possuindo pena de reclusão de 6-20 anos. O caput do Artigo 121, que é o homicídio simples, trata-se de um crime que, de acordo com as categorias, é doloso, possui natureza comissiva, resultado material e é uma conduta danosa. O homicídio simples é um crime unissubjetivo, só exigindo uma pessoa para que o mesmo seja configurado (a plurissubjetividade pode ocorrer, não sendo necessária).
 Homicídio simples - Art. 121. Matar alguém:
 Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
OBS: Diversos crimes como o aborto, o latrocínio e condutas preterdolosas (lesão seguida de morte, entre outras), do ponto de vista externo, terão como resultado a morte de alguém, porém não são homicídio. Esta diferença se dá pelo dolo do homicídio que nem sempre ocorre nos crimes preterdolosos que resultam na morte.
-Homicídio Privilegiado (Artigo 121, §1º): O homicídio privilegiado é um homicídio doloso, onde o agente comete o crime por um (i) motivo de relevante valor social ou moral (quando um pai mata o estuprador da filha, por exemplo) ou (ii) sob forte emoção, seguida de injusta provocação da vítima. O homicídio privilegiado pode ser reduzido pelo juiz de 1/6 a 2/3.
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
-Homicídio Qualificado (Artigo 121, §2º): As qualidades do homicídio qualificado podem ser subjetivas ou objetivas, bastando apenas a incidência de uma qualificadora. As mesmas resultam no aumento da pena cominasda em relação ao homicídio simples. Existem momentos em que pode haver a concorrência de qualificadoras do homicídio (utiliza-se a maior, enquanto as outras são utilizadas na 2ª fase da dosimetria das penas como agravantes legais). O homicídio qualificado é um crime hediondo, diferentemente do homicídio simples e do privilegiado.
 § 2° Se o homicídio é cometido:
        I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
        II - por motivo futil;
        III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
        IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;
        V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
        Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
 As (i) Qualificadoras Subjetivas são vinculadas ao motivo da ação, tendo como exemplo os incisos I e II do §2º. (a) Motivo Torpe é o motivo abjeto, desprezível e cruel. É o motivo repugnante, moral e socialmente repudiado. Em muitos casos de violência doméstica, há motivos torpes (ex-namorado agredir a face de uma modelo para que a mesma nunca mais possa ser modelo). Nem toda vingança é torpe. (b) Motivo Fútil é um motivo banal, de menor relevância (Motivo de Somenos Nonada, quando um indivíduo mata o outro pelo fato da vítima dever 10 reais). A ausência de motivo não pode ser comparada com o motivo fútil, se seguirmos a linha do garantismo penal.
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II - por motivo futil;
OBS: Há uma ideia jurisprudencial de que o motivo torpe é vinculado à questões patrimoniais.
 As (ii) Qualificadoras Objetivas são exemplificadas pelos incisos III, IV,V, VII do §2º, que são vinculadas ao que foi praticado para que houvesse o crime. Os incisos III e IV servem como exemplos clássicos da interpretação analógica. O inciso V, ao falar sobre assegurar vantagem de outro crime (matar o indivíduo que assaltou o Banco Central 15 dias depois do mesmo ter roubado o banco), não tipifica o latrocínio. De acordo com o Inciso VII, adicionado ao CP em 2015 (Lei 13.142/15), matar uma autoridade ou agente de segurança pública passa a ser um homicídio qualificado.
        III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
        IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;
        V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: 
 VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:     (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
OBS: Na Interpretação Analógica (também chamada de interpretação extensiva) é quando há uma norma parcialmente fechada e parcialmente aberta, onde para a parte fechada temos o que chamamos de forma exemplificativa e para a parte aberta temos a cláusula geral (autoriza o intérprete a equiparar situações não regradas pelo direito similares a fórmula exemplificada), onde há a transposição da fórmula exemplificativa para a cláusula geral que compõe a parte aberta da norma. A interpretação extensiva ou analógica pode ser aplicada tanto para prejudicar quanto para beneficiar o réu.
-Feminicídio (Artigo 121, §2º, VI e §2º-A): Foi inserido no Inciso VI a qualificadora do feminicídio. Devido ao texto ruim, foi criado um apêndice do §2º (§2º-A) para melhor conceituar o feminicídio. É o crime contra a mulher por razoes da condição de sexo feminino, cujas razoes são a (i) violência doméstica e familiar e o (ii) menosprezo ou discriminação à mulher. Nem todo homicídio contra a mulher se classifica como feminicídio.
Feminicídio       (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar;      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
OBS: Apesar da baixa ocorrência do feminicídio em relação a outros crimes, o mesmo foi inserido devido à sua importância e simbolismo social.
-Homicídio Culposo (Artigo 121, §3º, CP): É quando não há dolo na prática do homicídio, ou seja, ocorre quando uma pessoa mata outra, mas sem que tivesse esta intenção, nem aceitando os riscos que levem à morte da outra, podendo ser por negligência, imperícia ou imprudência.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
(ii) Perdão Judicial de Homicídio Culposo é quando o juiz tem a possibilidade de deixar de aplicar a pena, se as consequências prejudiquem o agente tão gravemente que não será necessária a sanção
penal. Só existe perdão judicial para o homicídio culposo.
 § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
OBS: O Artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro tem como tipo o homicídio culposo na direção de veículo automotor, que possui pena cominada maior do que o homicídio culposo no Código Penal. O STF, no RE 428864 SP, justifica a constitucionalidade da maior pena cominada no CTB alegando a existência de maior risco objetivo em decorrência da condução de veículos nas vias públicas, impondo-se aos motoristas maior cuidado na atividade. 
  Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
        Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
-Causas de Aumento de Pena (Artigo 121, §4º-§7º, CP): Os homicídios culposos, dolosos e feminicídios possuem causas de aumento da pena.
 As (i) Causas de Aumento de Pena no Homicídio Culposo podem ser aumentadas em 1/3 se o crime: (a) resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se (b) o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.
 As (ii) Causas de Aumento de Pena no Homicídio Doloso podem ser aumentadas em 1/3 se o crime é contra menores de 14 anos ou maiores de 60 anos.
        § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
         § 6o  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.       (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
As (iii) Causas de Aumento do Feminicídio são quando o crime é praticado durante a gestação ou nos 3 meses após o parto da vítima, contra uma pessoa maior de 60, menor de 14 ou com deficiência, e na presença de descendente ou ascendente da vítima. O aumento da pena pode ser de 1/3 até metade da pena.
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO (Artigo 122, CP) – É um crime contra a pessoa onde o agente induz ou instiga alguém a se suicidar ou quando o agente presta auxilio para que a vítima realize o suicídio. É um crime doloso, comissivo (pode ser omissivo impróprio nos casos de agente garantidor), de resultado material e de dano.
  Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
        Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
-Causas de Aumento de Pena (Artigo 122, Parágrafo Único, CP): Previsto no parágrafo único do Artigo 122, a pena será duplicada caso o crime for (i) praticado por motivo egoísta ou (ii) se a vítima é menor ou tem diminuída a capacidade de resistir ao agente e à ideia de se suicidar.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
        I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
        II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
OBS: Caso o agente induza uma criança de 5 anos a se suicidar, o crime não será um induzimento ao suicídio, mas sim homicídio, pois a vítima não possuía nenhuma resistência.
OBS: Suicídio Assistido é quando a vítima sempre poderá desistir de última hora, pois ela é quem está sob controle da situação. Já Homicídio Piedoso, também conhecido como eutanásia, é quando a vítima, incapaz de praticar o ato do suicídio, transfere ao agente a conduta e controle da situação.
INFANTICÍDIO (Artigo 123) – É quando sob influência do estado puerperal (depressão pós-parto, alteração psicológica da mãe, podendo gerar uma perda relativa do discernimento), a mãe mata o próprio filho durante ou logo após o parto. Apesar de ter quase todas as características do homicídio, a pena para o infanticídio é de detenção (regime inicial semiaberto ou aberto) de 2-6 anos. Por ser um crime contra vida, é um crime que será levado ao Tribunal de Júri. É um crime próprio, doloso, comissivo e omissivo impróprio (mãe como garantidor), de dano e de resultado material 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
        Pena - detenção, de dois a seis anos.
-Questão Doutrinária: A questão doutrinária é sobre a possibilidade de participação no infanticídio onde, o partícipe do infanticídio não responderá por homicídio, mas sim por infanticídio, seguindo o que está expresso no Artigo 30 do CP/40. 
  Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
ABORTO (Artigos 124-128) – Aborto ou interrupção da gravidez é a interrupção de uma gravidez pela remoção de um feto ou embrião antes de este ter a capacidade de sobreviver fora do útero. Existem vários tipos de aborto, como o aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento e o aborto provocado por terceiro, com ou sem o consentimento da gestante. O aborto segue a Teoria Monista do Concurso de Agentes (duas pessoas que participam de um crime respondem igualmente pela conduta). Em qualquer das hipóteses, a vítima no crime de aborto será o feto. É um crime doloso, comissivo ou omissivo improprio, material e de dano, sendo também um crime próprio quanto ao sujeito passivo (feto e gestante).
-Aborto Provocado Pela Gestante Ou Com Seu Consentimento (Artigo 124): É o chamado tipo misto alternativo, havendo mais de um verbo/núcleo pois, no Artigo 124, quando a gestante provoca ou consente o aborto, a pena será a mesma (detenção, de 1-3 anos). O verbo utilizado não é matar, mas sim provocar.
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:  (Vide ADPF 54)
        Pena - detenção, de um a três anos.
-Aborto Provocado Por Terceiro (Artigo 125): No caso do aborto provocado por terceiro, não há diferenciação diante do sujeito ativo, podendo ser feito por qualquer indivíduo, sendo contabilizado apenas se houve ou não o consentimento da vítima. Logo, (i) caso não haja o consentimento da gestante, o autor sofrerá uma pena de reclusão de 3-10 anos, onde a vítima não será apenas o feto, mas também a gestante. 
        Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
        Pena - reclusão, de três a dez anos.
 Para que seja tipificado o (ii) aborto com consentimento da gestante, o consentimento deverá ser válido, onde o parágrafo único do Artigo 126 define a validade do consentimento da gestante. Caso o consentimento seja feito por (a) menor de 14 anos, (b) alienada, (c) débil mental ou seja (d) obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência, será considerado um aborto sem o consentimento da gestante, aplicando-se a pena do Artigo 125.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:  (Vide ADPF 54)
        Pena - reclusão,
de um a quatro anos.
        Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
-Conflitos com Outros Tipos: Há o conflito com o homicídio ou infanticídio caso o feto nasça com vida após o aborto, onde a morte do feto poderá ser tanto homicídio (caso a gestante ou o terceiro decidam matar o recém-nascido) quanto infanticídio (agente sob estado puerperal), dependendo do caso específico. Há que distinguir entre a hipótese do inciso V do § 2º do art. 129 (lesão culposa seguida de aborto, um crime preterdoloso) e a da 1ª parte do Artigo 127 (Aborto Qualificado), pois há uma inversão de situações: na primeira, a lesão é desejada e o aborto não; na segunda, o aborto é que é o resultado visado, enquanto a lesão não é querida, nem mesmo eventualmente
-Causas de Aumento da Pena/Aborto Qualificado (Artigo 127): Caso a vítima (i) sofra lesão em razão do aborto ou dos meios empregados para provoca-lo, independentemente do consentimento ou não da vítima, a pena do terceiro será aumentada em 1/3 e, caso haja a (ii)morte da vítima, a pena será duplicada.
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
-Aborto Permitido: São as situações em que o aborto é permitido, ou de acordo com a lei ou de acordo com a jurisprudência, presentes nos Artigos 128 do CP e na ADPF 54. Para que o aborto seja permitido, o agente deve ser médico. O aborto permitido ocorre nos casos de aborto necessário, aborto no caso de gravidez resultante de estupro e o aborto nos casos de feto anencéfalo.
(i) Aborto Necessário é quando o médico deve realizar o aborto para salvar a vida da gestante. O (ii) Aborto nos casos de gravidez resultante de estupro, também chamado de Aborto Humanitário, deve ser precedido de consentimento da gestante ou do seu representante legal, caso a mesma seja incapaz. 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:  (Vide ADPF 54)
        I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
        II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
-ADPF 54 e o Aborto Permitido nos casos de Feto Anencéfalo: A ADPF 54, julgada pelo STF em 2012, permitiu o Aborto nos casos de feto anencéfalo, pois o feto anencéfalo é aquele que, por possuir ausência parcial do encéfalo, não terá condições de sobreviver após o parto, tendo altas chances de morrer durante a própria gestação. O que justificou a permissão desse aborto foi o Artigo 3º da Lei de Transplante de Órgãos de 1997, que definia como critério de morte a morte encefálica, levando à conclusão de que o início da vida ocorreria após o desenvolvimento do encéfalo.
EMENTA ADPF 54 - ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto às religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO, INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ, MULHER, LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA, SAÚDE, DIGNIDADE, AUTODETERMINAÇÃO, DIREITOS FUNDAMENTAIS, CRIME, INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal.
OBS: A pílula do dia seguinte pode ser considerada aborto dependendo da teoria sobre quando se inicia a vida. Para a parte da doutrina que considera que a vida se inicia no momento da concepção (fecundação), será aborto. Para os doutrinadores que acreditam que o início da vida se dá no momento da nidação (entendimento majoritário) ou no momento do nascimento com funcionamento do sistema respiratório, a pílula do dia seguinte é permitida e legalizada.
OBS: O Caso Roe vs Wade, decidido pela Suprema Corte Americana, definiu que a mulher, por questões de saúde e liberdade individual, teria até o primeiro trimestre (período onde o aborto é mais seguro para a saúde da grávida do que o parto) para realizar sem causa o aborto.
LESÕES CORPORAIS (Artigo 129) – É a ofensa à integridade corporal ou saúde de outro indivíduo. A lesão corporal, em sua forma leve, é um tipo aberto, onde o núcleo “ofender” pode incluir vários tipos de conduta, sem contar que o termo “saúde” pode ser tanto física quanto psíquica. A lesão corporal simples/leve é cominada por uma pena de detenção de 3 meses a um ano. É um crime comum, comissivo, de resultado material, de dano, unissubjetivo, e doloso (possui formas culposas).
        Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
        Pena - detenção, de três meses a um ano.
-Conflito com Outros Tipos: Existe uma contravenção penal chamada vias de fato. (i) Vias de fato nada mais é do que uma altercação física/briga, que não se enquadra como uma lesão corporal, prevista no Artigo 21 da LCP. A (ii) rixa é um crime previsto no Artigo 137 do CP, que é um delito plurissubjetivo, necessitando de dois ou mais agentes.
(LCP) Art. 21. Praticar vias de fato contra alguem:
        Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não constitue crime.
        Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.        (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
   Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
        Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
        Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
 (iii) Injúria Real (140, §2º, CP) é um ato simbolicamente ofensivo contra a honra com o intuito de humilhar a vítima, com emprego da vias de fato ou violência (um cuspe ou tapa na cara, mesmo sendo físico, se for feito com intenção de humilhar a vítima, não será lesão corporal mas sim injúria real). Na lesão corporal, a ofensa à saúde é o fim, enquanto na injúria real é apenas um meio. 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
        § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
-Ação Penal Pública na Lesão Corporal: (i) Ação Penal Pública Incondicionada são ações movidas pela Polícia ou MP para certos crimes independentemente da vontade da vitima. Já a (ii) Ação Penal Pública Condicionada é quando é necessária a vontade da vítima para que o MP ou Polícia atuem e movam a ação. No caso da lesão corporal leve ou culposa, há a Ação Penal Pública Condicionada, de acordo com o Artigo 88 da Lei 9099/95. Apenas a (iii)Ação Penal Privada que é movida pela vítima individualmente, que pode atuar como parte no processo, e não como mero assistente, como nos casos de Ação Penal Pública Condicionada e Incondicionada.
(LEI 9099/95) Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
-Lesão Corporal De Natureza Grave ou Gravíssima (Artigo 129, §1º e §2º): As (i) lesões corporais graves são aquelas que resultam na incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias, perigo de vida, debilidade mediante membro, sentido ou função e aceleração de parto, devendo ser comprovadas por perito. Possui uma pena de reclusão de 1-5 anos.
        § 1º Se resulta:
        I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
        II - perigo de vida;
        III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
        IV - aceleração de parto:
        Pena - reclusão, de um a cinco anos.
 A (ii) Lesão Corporal
Gravíssima possui pena cominada de reclusão de 2-8 anos, sendo aplicada quando a lesão resulta na incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda ou inutilização do membro, sentido ou função, deformidade permanente ou aborto.  
      § 2° Se resulta:
        I - Incapacidade permanente para o trabalho;
        II - enfermidade incuravel;
        III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
        IV - deformidade permanente;
        V - aborto:
        Pena - reclusão, de dois a oito anos.
-Lesão Corporal Seguida De Morte (Artigo 129,§3º): Também chamada de Homicídio Preterdoloso, é quando a lesão corporal resulta na morte da vítima, quando o agente não teve a intenção ou não assumiu o risco de matar o indivíduo.
        § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
-Causas de Diminuição de Pena (Artigo 129, §4º): Caso o agente cometa lesão corporal por relevante valor social ou moral ou sob o domínio de forte emoção, seguida a injusta provocação da vítima, a pena de lesão corporal poderá ser reduzida de 1/6-1/3.
        § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
-Substituição da Pena: Caso a lesão corporal não seja grave, o juiz poderá substituir a pena de detenção por uma pena de multa, de acordo com os itens do §4º ou se as lesões são recíprocas.
        § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
        I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
        II - se as lesões são recíprocas.
-Lesão Corporal Culposa (Artigo 129, §6º e §8º): Se a lesão for culposa, haverá uma redução na pena, que será de dois meses a um ano, sendo uma pena de detenção.
§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
        Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)
-Causas de Aumento da Lesão Corporal (Artigo 129, §7º): A Lesão Corporal possui as mesmas causas de aumento do homicídio, aumentando sua pena em 1/3 nas hipóteses do Artigo 121, §4º e §6º.
        § 7o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código.        (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
-Violência Doméstica (Artigo 129, §9º, §10, §11 e §12): É uma lesão praticada por qualquer agente contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro ou com quem conviva ou tenha convivido (sujeito determinável). Pode ser configurada a violência doméstica também quando o agente se prevalece das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. Possui uma pena cominada de 3 meses a 3 anos.
        § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
OBS: Antes da Lei dos Juizados Especiais, qualquer indivíduo que cometesse um crime seria preso em flagrante. Em 95, com a Lei dos Juizados Cíveis e Especiais, os agentes de crime de menor potencial ofensivo não seriam presos em flagrante. Em 2004, com o intuito de que a pena de violência doméstica não se encaixasse nos Juizados Especiais, a violência doméstica sofreu um aumento de pena para 3 anos (máximo de 2 anos para Juizados Especiais), podendo o agente ser preso em flagrante. A partir do momento da prisão provisória, o delegado pode ou não arbitrar fiança onde, até o início da audiência de custódia, caso a fiança não seja paga, o juiz poderá aumentar, diminuir ou retirar a fiança.
 De acordo com o §10º, nos casos de (i) lesões corporais graves, gravíssimas ou seguidas de morte no âmbito doméstico, a pena será aumentada em 1/3. Já no §11º, caso haja (ii)violência doméstica contra uma pessoa portadora de deficiência, a pena será aumentada em 1/3.
        § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
        § 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.  (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
-Lei Maria da Penha e Violência Doméstica: A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) é uma lei processual penal e civil que estabelece mecanismo de proteção à mulher, definindo as formas de violência contra a mulher, não instituindo nenhum crime. Diferentemente da violência doméstica no CP, na Lei Maria da Penha, o sujeito passivo sempre será apenas a mulher. Em seu Artigo 7º, a Lei 11.340 conceitua os tipos de violência doméstica contra a mulher.
 Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
 O Artigo 41 da Lei Maria da Penha estabelece que qualquer crime praticado contra a mulher, independentemente da pena prevista, não será aplicada a Lei dos Juizados Especiais (Lei 9099/95), podendo o agente ser preso em flagrante, não sendo possível a substituição da pena restritiva de liberdade (Artigo 17). Entretanto, será possível o Sursis no caso de violência doméstica.
Art. 41.  Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Art. 17.  É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.
CRIMES CONTRA A HONRA – Comparando as penas cominadas para os crimes contra a honra em relação aos outros tipos do CP, podemos concluir que os crimes contra a honra possuem um menor potencial ofensivo, passando a ganhar maior gravidade e relevância nos tempos atuais. Os crimes contra a honra são um instrumento que o Direito Penal tem para o campo sensível da liberdade de expressão em um ambiente democrático. Todos os crimes contra a honra são dolosos, não existindo calúnia culposa porém, é possível a existência de calúnia com dolo eventual.
(i) Crimes Contra A Honra Objetivos são os que afetam a reputação da pessoa, atribuindo a ela um fato que ela não praticou ou que praticou mas não deveria ser revelado, ferindo a imagem e honra objetiva (Calúnia e Difamação). 
(ii) Crimes Contra A Honra Subjetiva é quando se fere o próprio sentimento do sujeito, atribuindo não a prática de um fato, mas sim de uma qualidade (Injúria).
OBS: Qualquer indivíduo poder ser um sujeito ativo, assim como o sujeito passivo pode ser tanto PFs quanto PJs, caso imputem falsamente à PJ a prática de crimes ambientais.
CALÚNIA (Artigo 138) – Calúnia seria quando o agente alega e imputa falsamente uma prática criminosa exercida pela vítima, possuindo pena cominada de detenção de 6 meses a dois anos e multa. Por ser um crime de honra objetiva, é necessário que um terceiro tenha conhecimento da conduta do agente. A Calúnia é um crime comum, doloso, comissivo e formal (se consumando mesmo quando o indivíduo não está ciente, mas um terceiro tomou conhecimento).
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
-Calúnia x Denunciação Caluniosa (Artigo 339, CP): A Calúnia não se confunde com (i)Denunciação Caluniosa, que é quando o agente dá causa à instauração de investigação policial, processo judicial, inquérito civil, ação de improbidade administrativa e investigação administrativa quando imputando um crime à vítima, sabendo que a mesma é inocente. 
   Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000)
        Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
        § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.
        § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.
-Propalar e Divulgar a Calúnia (Artigo 138,§1º): De acordo com o §1º, mesmo não sendo o autor da calúnia, o indivíduo que acaba divulgando a imputação sabendo que a mesma é falsa sofrerá a mesma pena do autor.
        § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
OBS: A Calúnia contra os também se torna possível, de acordo com o Artigo 138, §2º.
        § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
-Exceção de Verdade (Artigo 138, §3º): Consiste na possibilidade jurídica dada ao querelado (agente) de provar que o fato que imputara a outrem é verdadeiro.
        § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
        I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
        II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
        III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
DIFAMAÇÃO (Artigo 139, CP) - Assim como a calúnia, é um crime contra a honra objetiva, se consumando quando um terceiro toma conhecimento do fato (não é necessário que o terceiro acredite na história, pois é um crime formal). Difamação é quando o agente imputa à vitima a prática de um fato ofensivo à sua reputação (contravenções, etc). A difamação é um crime comum, formal, doloso e comissivo.
 Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
-Exceção de Verdade (Artigo 139, Parágrafo Único, CP): Se admite a exceção de verdade caso o ofendido é funcionário público e a ofensa se relaciona com o exercício das suas funções.
        Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
INJÚRIA (Artigo 140, CP) – É o crime que afeta a honra subjetiva, ofendendo a dignidade da pessoa (injuriar alguém). A injúria também pode ser feita por gestos, não apenas pela linguagem verbal. O sujeito ativo pode ser qualquer um, porém o sujeito passivo somente pode ser uma pessoa física, pois apenas Pessoas Físicas possuem o Direito à Honra Subjetiva. Na injúria, diferentemente da calúnia e da difamação, o crime se concretiza quando a vítima toma conhecimento da ofensa. Por fim, o crime de injúria possui pena de detenção de 1-6 meses ou multa. A injúria é um crime comum, doloso, formal e comissivo.
OBS: Em nenhuma hipótese uma Pessoa Jurídica pode ser sujeito ativo de um crime contra a honra. Por determinação expressa da CF, apenas crimes ambientais podem ser cometidos por uma Pessoa Jurídica.
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
-Racismo (Artigo 20, Lei 7716/89) x Injúria Racial (Artigo 140, §3º): Racismo não se confunde com injúria racial. A Lei de Racismo (Lei 7716/89) define o conceito de crime de racismo em seu Artigo 20, sendo a prática, indução ou incitação a descriminação de certa raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Logo, enquanto o racismo é direcionado a um grupo inteiro, a injúria racial é um tipo qualificado de injúria (pena de reclusão de 1-3 anos e multa), que é basicamente o crime de racismo direcionado á uma pessoa. 
        § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:        (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
        Pena - reclusão de um a três anos e multa.        (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) 
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio;      (Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012)        (Vigência)
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores. (Incluído pela
Lei nº 12.288, de 2010)      (Vigência)
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
-Perdão Judicial (Artigo 140, §1º): A pena de injúria poderá de ser aplicada pelo juiz, através do perdão judicial, caso o (i) ofendido tenha provocado a injúria de forma reprovável ou no caso de (ii) retorsão imediata, que é uma injúria após outra injúria.
        § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
        I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
        II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
-Injúria Real (Artigo 140, §2º): Caso a injúria não tenha intenção de agredir fisicamente o indivíduo, mas que consista em um ato de violência ou vias de fato (tapa na cara, cuspe), será tipificada a injúria real, que possui uma pena de detenção de 3 meses a um ano cumulada com multa, além de pena correspondente à violência.
        § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
DISPOSIÇÕES COMUNS AOS CRIMES CONTRA A HONRA (Artigo 141-145) – São disposições que serão aplicadas tantos aos crimes de injúria, quanto aos de difamação e calúnia.
-Causas de Aumento da Pena (Artigo 141, CP): As penas serão aumentadas em 1/3 caso o crime tenha sido cometido: (i) contra o Presidente da República ou chefe de um governo estrangeiro; (ii) contra o funcionário público, em razão das suas funções; (iii) na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, difamação ou injúria; e (iv) contra a pessoa maior de 60 anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. Finalmente, se o crime for (v) cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
 Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
        I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
        II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
        III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
        IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.       (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
        Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
-Direito de Resposta: O Direito de Resposta tem como objetivo reduzir e tentar reconstruir a honra objetiva ou subjetiva do ofendido. A Lei 13.188/15 estabelece e assegura o direito de resposta aos ofendidos, garantindo uma resposta gratuita e proporcional à ofensa em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social. 
Art. 2o  Ao ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social é assegurado o direito de resposta ou retificação, gratuito e proporcional ao agravo.
-Causas de Exclusão do Crime (Artigo 142): O Artigo 142 não alcança a calúnia, se referindo apenas à difamação e injúria. Há um debate na doutrina se as mesmas são causas de exclusão da tipicidade ou de ilicitude, onde a doutrina majoritária entende como causa de exclusão de ilicitude. 
 Os crimes de difamação ou injúria não serão punidos caso: a (i) ofensa seja proferida em juízo/irrogada em juízo pelas partes na discussão da causa. Contudo, se não tiver relação com a causa debatida poderá ser imputado crime. Há exceção no caso de ofensas dirigidas ao juiz que constituem crime de desacato; (ii) em crítica artística, literária ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; e (iii) quando o funcionário público emite opinião desfavorável no exercício da sua função.
 Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
        I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
        II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
        III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
        Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
-Retratação (Artigo 143-145): De acordo com o Artigo 143, caso o agente, antes da sentença, se retrata da calúnia ou da difamação, o mesmo ficará isento da pena. Se o agente/querelado se utilizou de meios de comunicação, o ofendido poderá determinar que a retratação se dará pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.
 Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
        Parágrafo único.  Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.      (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)
 Segundo o Artigo 144, o ofendido por difamação, injúria ou calúnia através de alusões ou frases (via oblíqua) poderá pedir explicações em juízos que, caso sejam satisfatórias, resultarão na retratação. Porém, caso as mesmas sejam insatisfatórias ou o ofensor se recuse a explicar em juízo, o mesmo responderá pela ofensa.
        Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
-Ação Penal: De acordo com o Artigo 145, podemos determinar as seguintes ações penais para cada um dos crimes contra a honra.
	CRIMES CONTRA A HONRA
	TIPOS DE AÇÃO PENAL
	CALÚNIA SIMPLES
	Ação Penal Privada
	Calúnia contra Funcionário Público
	Ação Penal Pública Condicionada
	Calúnia contra Presidente
	Ação Penal Pública Condicionada mediante Ministério da Justiça
	DIFAMAÇÃO SIMPLES
	Ação Penal Privada
	Difamação contra Funcionário Público
	Ação Penal Pública Condicionada
	Difamação contra Presidente
	Ação Penal Pública Condicionada mediante Ministério da Justiça
	INJÚRIA SIMPLES
	Ação Penal Privada
	
Injúria Real 
	Ação Penal Pública Condicionada caso haja lesão corporal leve e Ação Penal Pública Incondicionada caso haja lesão corporal gravíssima ou grave
	Injúria Discriminatória
	Ação Penal Pública Condicionada
	Injúria contra Funcionário Público
	Ação Penal Pública Condicionada
	Injúria contra Presidente
	Ação Penal Pública Condicionada mediante Ministério da Justiça
        Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
        Parágrafo único.  Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.       (Redação dada pela Lei nº 12.033.  de 2009)
CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL – Engloba aqueles crimes que ferem a liberdade legalmente garantida das pessoas em território brasileiro. O atentado à liberdade individual é caracterizado pela perda, ocasionada pela ação de terceiro, do direito de autodeterminação, consubstanciado na máxima de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude de Lei.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL – Constrangimento ilegal se caracteriza quando o agente constrange o indivíduo, mediante violência ou grave ameaça ou depois de ter reduzido a capacidade de resistência da vítima, fazendo o que a lei não permite ou o que a lei não mandou. Possui pena cominada
de detenção de 3 meses a 1 ano ou multa. É chamada de “soldado reserva”, tendo uma espécie de aplicação complementar e substitutiva em relação ao crime de estupro (beijo lascivo/forçado, por exemplo), sendo o constrangimento ilegal um crime tacitamente subsidiário. É considerado um crime comum, doloso, material e comissivo (pode ser praticado omissivamente caso agente seja garantidor).
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
OBS: A multa substitui a pena privativa, caso seja alternativa a mesma, na 1ª Fase da Dosimetria.
OBS: De acordo com o Critério da Subsidiariedade, utilizado para resolucionar antinomias aparentes, pune-se pelo crime mais grave, desprezando o crime menos grave, onde este último será considerado um tipo subsidiário. Via de regra, a subsidiariedade está expressa no tipo. (Artigo 132,Artigo 163 Inciso II, 238, etc). Todavia, a subsidiariedade também pode ser tácita/implícita, que é subsidiariedade onde o tipo penal não possui essa redação mas ainda assim é considerado, tendo como exemplo o constrangimento ilegal (caso haja constrangimento ilegal para que tenha sexo forçado, havendo a punição de estupro).
-Causas de Aumento: Quando a execução do crime de constrangimento ilegal (i) abarcar mais de três pessoas (quadrilha) ou há uso de armas, as penas serão aplicadas cumulativamente e em dobro, sem contar com a aplicação das penas correspondentes à violência. 
 § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
        § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
 Não se configura como constrangimento ilegal a (i) intervenção médica ou cirúrgica justificada por perigo de vida iminente, sem o consentimento do paciente ou do seu representante legal, assim como nos casos em que (ii) há coação para que a vítima seja impedia de cometer suicídio. 
        § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
        I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
        II - a coação exercida para impedir suicídio.
AMEAÇA (Artigo 147) – O crime de ameaça se configura quando o agente ameaça a vítima por uma palavra, escrito ou gesto simbólico, buscando causar à vítima algo injusto e grave. É necessário que a pessoa compreenda que isto é uma ameaça grave, independentemente da compreensão das outras. Possui uma pena de detenção de 1-6 meses ou multa.
 Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
        Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.
-Conflitos com Outros Crimes: Normalmente, a ameaça pode ser um crime meio para o constrangimento ilegal ou até mesmo para certos crimes patrimoniais, como a extorsão, havendo um antinomia aparente, devendo ser aplicado o (i) Critério da Consunção/Absorção onde, na existência de crime meio e crime fim, o crime fim absorverá os demais (Pune-se o crime fim, absorvendo o crime meio).
-Lei Maria da Penha: A Lei Maria da Penha é a razão para o crime de ameaça deixar de ser de menor potencial ofensivo (pena de até 2 anos) e de ser julgado pelo juizado especial nos casos de violência doméstica contra as mulheres.
-Ação Penal: A ameaça só será procedida através de ação penal pública condicionada com representação da vítima. Apesar da Lei Maria da Penha afastar a Lei dos Juizados Especiais, o crime de ameaça poderá ainda ser retratado pela vítima até o oferecimento de denúncia pelo MP, pois isto está previsto no CP (Artigo 147, Parágrafo Único) e não na Lei dos Juizados Especiais.
SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO – Ocorre quando há privação da liberdade de outrem através de sequestro ou cárcere privado, possuindo uma pena cominada de reclusão de 1-3 anos. O sequestro e cárcere privado é um crime permanente (crimes únicos cuja consumação se prolonga no tempo , durando o tempo que durar a permanência) onde, enquanto durar o sequestro, o crime continuará sendo praticado. Enquanto durar a permanência, o agente poderá ser preso em flagrante, só correndo o início da contagem da prescrição após o crime cessar, além de ser comum, doloso, comissivo ou omissivo improprio e material.
OBS: Ocorrendo sucessão de leis no curso da permanência ou da continuidade delitiva, aplica-se a lei vigente no momento em que cessa a permanência ou continuidade, ainda que seja ela a mais gravosa.
 Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:         (Vide Lei nº 10.446, de 2002)
        Pena - reclusão, de um a três anos.
-Causas de Aumento: De acordo com o §1º do Artigo 148, a pena será de reclusão de 2-5 anos caso: a (i) vítima seja ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 anos; se (ii) o crime é praticado através da internação da vítima em casa de saúde ou hospital; (iii) se a privação de liberdade dura mais de 15 dias; se (iv) o crime é praticado contra menor de 18 anos; e se (v) o crime é praticado com fins libidinosos.
        § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
        I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;         (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
        II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
        III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
        IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;          (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)
        V – se o crime é praticado com fins libidinosos.          (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)
 Além disso, caso a (vi) vítima sofra maus-tratos ou grave sofrimento físico ou moral, será aplicada uma pena de reclusão de 2-8 anos, de acordo com o Artigo 148, §2º.
        § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
        Pena - reclusão, de dois a oito anos.
OBS: Caso haja sequestro mesmo com o consentimento da vítima, não se caracterizará em excludente de ilicitude por consentimento do ofendido, pois a liberdade é um bem indisponível, e apenas bens disponíveis podem ser passíveis do consentimento do ofendido.
TRABALHO ESCRAVO (Artigo 149, CP) – O trabalho escravo ocorre quando o agente submete um ou mais indivíduos a condição análoga à de escravo, sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, restringido de qualquer forma a liberdade do indivíduo em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. É outro caso de crime permanente, podendo haver prisão em flagrante pela polícia. Além disso, há uma relação entre patrão/empregado. Possui uma pena de reclusão de 2-8 anos e multa, além de pena correspondente á violência. O trabalho escravo é um crime próprio, doloso, comissivo, permanente e material.
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:        (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
        Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.        (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
        § 1o Nas mesmas penas incorre quem:          (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)	
        I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;         (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.        (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
-Causas de Aumento: A pena é aumentada pela metade se o crime é (i) cometido contra criança ou adolescente ou por (ii) motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
 § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:        (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
        I – contra criança ou adolescente;          (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
        II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.          (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)      
-Conflitos com Outros Crimes: Até 2016, havia uma restrição sexual ao tráfico de pessoas, havendo uma possibilidade de incidência mais amplo no Artigo 149-A, com a Lei 13.344 de 2016, podendo haver certa confusão entre o (i) Tráfico de Pessoas e o Trabalho Escravo. O tráfico de pessoas é um crime comum, doloso, formal, comissivo e instantâneo, se caracterizando quando o agente agenciar, aliciar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso.
 Art. 149-A.  Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:              (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
IV - adoção ilegal; ou               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
V - exploração sexual.               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa.              (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
-Portaria MTB 1129/17: A Portaria nº 1.129/2017 dispõe sobre os conceitos de trabalho forçado, jornada exaustiva e condições análogas a de escravo. Tal portaria parece ter esvaziado tal conceituação através do artigo 1º, incisos II e III, tendo em vista que exige, para a caracterização das jornadas exaustivas e das condições degradantes, a efetiva restrição de ir e vir do trabalhador. Ou seja, tal portaria dificulta a tarefa da caracterização do trabalho análogo ao de escravo, trazendo novos obstáculos para a configuração do crime de trabalho escravo além das condições precárias de trabalho, como segurança armada, isolamento geográfico e violência comissiva.
-ADPF-MC 489: A ADPF-MC 489, proposta pelo Partido Rede. foi responsável por suspender a Portaria 1129/2017 do MTB, através de decisão liminar da Ministra Rosa Weber, considerando cabível a ADPF, observando que a definição conceitual proposta na portaria ministerial afeta as ações e políticas públicas do Estado brasileiro, no tocante ao combate ao trabalho escravo, em três dimensões: repressiva (ao repercutir nas fiscalizações procedidas pelo Ministério do Trabalho), pedagógico-preventiva (ao disciplinar a inclusão de nomes no Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores à condição análoga à de escravo) e reparativa (concessão de seguro-desemprego ao trabalhador resgatado). 
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO - São os tipos penais cuja conduta ilícita resulta em uma lesão ao bem jurídico que é o patrimônio. 
FURTO (Artigo 155-156, CP) – O furto de natureza simples consiste na pura e simples subtração de bem alheio móvel para o agente ou para outrem, sendo a figura mais básica dos crimes contra o patrimônio. Possui pena de reclusão de 1-4 anos e multa. É um crime comum, material, de dano, comissivo e instantâneo.
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
-Furto de Uso: Furto de Uso não é furto, sendo algo típico. É quando o agente furta para fazer uso da coisa e depois devolve para a vítima. Apropriar-se de coisa achada não é furto, mas é crime.
-Furto Consumado: Para o STJ, o furto se configura e se consuma a partir do momento em que o agente toma posse do objeto ainda que com possibilidade de ser recuperado pela vítima, independentemente da posse mansa e pacífica (não está mais no alcance da vítima recuperar o objeto).
-Furto Tentado: A tentativa ocorre quando crime não se consome por circunstâncias alheias à vontade do agente. São seus elementos: início da execução; não consumação; circunstâncias alheias à vontade do agente. A tentativa de furto estará enquadrada no momento em que o bem está no ciclo de vigilância da vítima. Enquanto o agente está praticando a conduta mas não consumou o crime, ainda se enquadra como tentativa. Somente haverá tentativa caso o agente tenha iniciado a execução do verbo núcleo do tipo que no caso do furto é o verbo subtrair.
-Conflito com Outros Tipos: O Furto (i) não se confunde com roubo ou extorsão, pois há violência nesses dois tipos. (ii) Se houver induzimento de uma pessoa a erro mediante fraude é estelionato e não furto. O (iii) Peculato também não se confunde com furto, pois peculato é quando o agente é um funcionário público. Na (iv) receptação você não é o autor do furto, mas toma posse de coisa alheia 
-Furto Noturno (Artigo 155, §1º, CP): Caso o furto ocorra durante o período noturno, a pena será aumentada em um terço (1/3).
        § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
-Furto Privilegiado (Artigo 155, §2º, CP): Caso o agente seja (i) primário e o valor da coisa furtada seja de pequeno valor (é o valor econômico inferior a um ou dois salários mínimos, previsto literalmente no Código Penal), a pena poderá ser reduzida de 1/3-2/3 substituindo o regime de reclusão pelo de detenção ou poderá aplicar somente a pena de multa.
        § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
 Furto de Pequeno Valor não se confunde com Furto Insignificante. Enquanto o (i) Furto de Pequeno Valor é causa de diminuição da pena, (ii) Furto Insignificante, que é um valor inexpressivo para a vítima, tendo um caráter bastante subjetivo, que vale da interpretação jurídica, é causa de exclusão de tipicidade material. 
 O STF estabelece requisitos jurisprudenciais para que seja aplicado o (iii) Princípio da Insignificância, que são requisitos considerados cumulativos para que seja possível a sua aplicação, de acordo com maioria da doutrina, sendo eles: a
(a) mínima ofensividade, ou seja, a conduta não gerou nenhuma violência ou grave ameaça, analisa se a conduta do sujeito ofendeu efetivamente ou gerou risco para a o bem jurídico; (b) Ausência de Periculosidade Social, que é quando analisa-se se a conduta gerou risco para a sociedade, ou se o indivíduo gerou risco à sociedade; (c) Reduzido Grau De Reprovabilidade, onde a conduta do autor deve ser observada, de acordo com o juízo moral/análise fática e a consciência da sociedade, observando o merecimento do sujeito; e (d) Inexpressividade da Lesão, onde é analisado o resultado da conduta, levando em consideração as características da vítima.
OBS: A reincidência e maus antecedentes não impedem por si sós a aplicação do referido princípio, todavia, deverão ser ponderados.
-Furto de Energia (Artigo 155,§3º, CP): O furto também pode ser de energia que tenha valor econômico pois, de acordo com o ordenamento jurídico, toda energia que possua valor econômico equipara-se à coisa móvel. 
        § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
-Furto Qualificado (Artigo 155, §4º-6º, CP): Todas as modalidades do furto qualificado afastam a possibilidade de aplicação do Princípio da Insignificância. De acordo com o Artigo 155, §4º, (i) a pena será de reclusão de 2-8 anos e multa se o crime é cometido: (a) com destruição ou rompimento de obstáculo; (b) com abuso de confiança ou mediante fraude, escalada ou destreza; (c) com emprego de chave falsa; (d) mediante concurso de duas ou mais pessoas.
        § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
STF e STJ concordam que, no furto com destruição ou rompimento de obstáculo, se os valores do bem furtado e do prejuízo da vítima somados não ultrapassem o limite do furto de pequeno valor, além de furto qualificado, o mesmo se encaixa como furto privilegiado.
        I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
 Abuso de confiança é a qualificadora mais subjetiva do furto, onde o indivíduo se relaciona com a vítima ou alguém que garante o patrimônio da vítima e acaba subtraindo o bem (furto entre colegas de trabalho, etc). No furto mediante fraude, o agente vence a resistência da vítima com o engano mas subtrai por conta própria o bem, não se confundindo com o estelionato. A qualificadora de escalada (subir um obstáculo como muro e parede) ou destreza (fazer uso de habilidade especial para subtrair o bem) necessita apenas de prova testemunhal e não de perícia.
        II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
 Há o entendimento que, nos furtos com emprego de chave falsa, basta a apenas a prova testemunhal, não sendo necessária a prova pericial. Porém, de acordo com o STJ, caso o instrumento (chave, lockpick, clip) utilizado para praticar o crime esteja à disposição para ser periciado mas não é, será afastada a qualificadora do furto.
        III - com emprego de chave falsa;
        IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
 De acordo com o Artigo 155, §5º, (ii) a pena para o furto será de reclusão de 3-8 anos se houver o furto de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. 
        § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.           (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
 Por fim, segundo o Artigo 155, §6º, (iii) a pena será de reclusão de 2-5 anos caso o bem subtraído seja semovente domesticável de produção (bovinos, ovinos, suínos, caprinos, equinos, etc), ainda que abatido ou dividido em partes no local de subtração.
        § 6o  A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.         (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
-Inadmissibilidade da Aplicação da Majorante do Roubo: De acordo com a Súmula 442 do STJ, é inadmissível aplicar, no furto qualificado mediante concurso de agentes, a majorante do roubo.
Súmula 442 STJ - É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.
-Furto de Coisa Comum (Artigo 156, CP): Nos casos em que o agente subtrair bem para si ou outrem o condômino, vizinho, co-herdeiro ou sócio, haverá pena de 6 meses a 2 dois anos ou multa.
        Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
        Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
        § 1º - Somente se procede mediante representação.
        § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.

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