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Economia Politica Resumo

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FACULDADE DE CASTANHAL - FCAT 
CURSO DE DIREITO 
DISCIPLINA: ECONOMIA POLÍTICA 
PROFESSOR: NAIRO RILDO DOS SANTOS 
 
ECONOMIA POLÍTICA 
 
INTRODUÇÃO 
 
A Economia Política estuda as relações sociais de produção, circulação e 
distribuição de bens materiais, definindo as leis que regem tais relações. Procura 
também analisar o caráter das leis econômicas, sua especificidade, sua natureza e suas 
relações mútuas. Nesse sentido, é uma ciência fundamentalmente teórica, valendo-se 
dos dados fornecidos pela economia descritiva e pela história econômica. 
 
Para atingir seu objetivo, a economia política recorre a um conjunto de 
categorias que formam seu instrumental teórico e a uma metodologia capaz de conduzir 
o investigador científico a um conhecimento objetivo do processo produtivo e de suas 
leis. Impossibilitada de recorrer à experimentação, como ocorre nas ciências exatas, à 
economia política vale-se da atração, que se baseia na observação comparativa dos 
processos estudados. A partir daí, procura estabelecer as relações mais gerais, 
eliminando os aspectos secundários e ocasionais da problemática economia. A síntese 
desse procedimento metodológico é a formulação de teorias econômicas que definem a 
posição de indivíduos e até mesmo de grupos sociais em face dos fenômenos e dos fatos 
econômicos. 
 
Embora a questão dos problemas econômicos tenha sido objeto de preocupação 
de pensadores da Antiguidade clássica (Aristóteles) e da idade Média (Santo Tomás de 
Aquino), foi somente na era moderna que surgiu o estudo empírico e sistemático dos 
fenômenos econômicos de um ponto de vista econômico. Esse estudo assumiu a 
denominação de economia política, sendo o termo “política” sinônimo de “social”, 
segundo a tradição aristotélica de que o homem é um animal político, isto é, um animal 
social. 
2 
 
Os estudos de economia política começaram com a escola mercantilista cujos 
principais representantes foram Thomas Mun, Josiah Child e Antoine Montchrestien. 
Este último foi quem restabeleceu a nomenclatura grega: economia política. Avanço 
considerável dos estudos ocorreu com os fisiocratas no século XVIII (Quesnay, Turgot), 
conhecidos como les economistes, que, ao contrário dos mercantilistas, deslocaram o 
foco de sua análise da circulação para a produção, fundamentalmente para a produção 
agrícola. Com a escola clássica (William Petty, Adam Smith e Davis Ricardo) a 
economia política definiu claramente contorno científico integral, passando a centralizar 
a abordagem teórica na questão do valor, cuja única fonte original foi identificada no 
trabalho, tato agrícola quanto industrial. 
 
A escola clássica firmou os princípios da livre-concorrência, que exerceram 
influencia decisiva no pensamento econômico capitalista. A escola marxista, A escola 
marxista, fundada por Karl Marx e Friedrich Engels, seguindo a teoria do valor-
trabalho, chegou ao conceito de mais-valia, fonte do lucro, do juro e da renda da terra. 
Centrando seu estudo na anatomia do modo de produção capitalista, o marxismo 
desvendou a lei principal desse sistema e forneceu a base doutrinária para o pensamento 
revolucionário socialista. 
 
Com Marx e Engels, a economia política passou a ver o capitalismo como um 
modo de produção historicamente determinado, sujeito a um processo de superação. A 
partir de 1870, a concepção ampla de economia política foi sendo paulatinamente 
abandonada, dando lugar a uma visão mais restrita do processo produtivo, que ficou 
conhecido como economia. 
 
Essa postura teórica foi iniciada pela escola neoclássica (Willian Stanley Jevons, 
Carl Menger, Léon Walras e Vilfredo Pareto. A abordagem abstrata de conteúdo 
histórico e social foi substituída pelo enfoque quantitativo dos fatores econômicos. A 
inovação mais importante na tradição neoclássica ocorreu com a obra de J.M. Keynes, 
que refutou a teoria do equilíbrio automático da economia capitalista, apresentando uma 
nova visão do problema do desemprego, dos juros e da crise econômica. 
3 
 
Após a Segunda Guerra Mundial, o pensamento econômico capitalista vem 
seguindo duas linhas fundamentais: a dos pós-Keynesianos, com ênfase nos 
instrumentos de intervenção do Estado e voltado para o planejamento e o controle do 
ciclo econômico, e a corrente liberal neoclássica, também chamada de monetária, que 
volta sua atenção fundamentalmente para as forças espontâneas do mercado. No que diz 
respeito à economia política marxista, trava-se em seu interior um amplo debate 
(sobretudo no Ocidente), visando a aprofundar certos aspectos teóricos não 
desenvolvidos por Marx e também a levar adiante a análise crítica do capitalismo 
moderno. Ao mesmo tempo, empreende-se um esforço semelhante visando à 
abordagem, também crítica, dos problemas econômicos do chamado socialismo real e à 
tentativa de elaborar a economia política a partir das formações sociais pré-capitalistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
MÓDULO 1: ESPECIFICIDADE DA ECONOMIA: ORIGEM, CONCEITOS 
FUNDAMENTAIS, PROBLEMAS E TEMAS RELEVANTES 
 
1.1 ORIGEM DA ECONÔMICA POLÍTICA 
Economia política foi um termo originalmente introduzido por Antonie de 
Montchrétien em 1615, e utilizado para o estudo das relações de produção, 
especialmente entre as três classes principais da sociedade capitalista ou burguesa: 
capitalistas, proletários e latifundiários. Em contraposição com as teorias do 
mercantilismo, e, posteriormente, da fisiocracia, nas quais o comércio e a terra, 
respectivamente, eram vistos como a origem de toda a riqueza, a economia política 
propôs (primeiro com Adam Smith) a teoria do valor-trabalho, segundo a qual o 
trabalho é a fonte real do valor. 
No final do século XIX, o termo economia política foi paulatinamente trocado 
pelo economia, usado por aqueles que buscavam abandonar a visão classista da 
sociedade, repensando-a pelo enfoque matemático, axiomático e valorizador dos 
estudos econômicos atuais e que concebiam o valor originado na utilidade que o bem 
gerava no indivíduo. 
Atualmente o termo economia política é utilizado comumente para referir-se a 
estudos interdisciplinares que se apóiam na economia, sociologia, direito e ciências 
políticas para entender como as instituições e os contornos políticos influenciam a 
conduta dos mercados. Dentro da ciência política, o termo se refere principalmente às 
teorias liberais, marxistas, que estudam as relações entre a economia e o poder político 
dentro dos Estados. Economia política internacional é um ramo da economia que estuda 
como o comércio, as finanças internacionais e as políticas estatais afetam o intercâmbio 
internacional e a política monetária e fiscal. 
� Significado do termo “economia política” 
O que se pode e o que se deve entender exatamente por “economia política”, nos 
dias de hoje? No seculo XIX, não haveria dúvida em relação ao seu significado: a 
expressão era usada para designar uma determinada área do conhecimento, ou campo da 
ciência, voltada para o estudo dos problemas da sociedade humana relacionados com a 
produção, a acumulção, a circulção e a distribuição de riquezas, bem como para as 
5 
 
proposições de natureza práticas a eles associadas. A partir do final daquele século, no 
entanto, a expressão foi sendo progressivamente abandonada, surgindo um novo termo 
– economics – que passou a gozar da preferência dos economistas para designar sua 
ciência. 
Com essa troca de nomes, o sentido original do termo começou a se perder e foi 
sendo progressivamente esquecido, de tal modo que, hoje em dia, pelo menos duas 
acepções estão a ele ligadas. A primeira é quase um sinônimo de economics, cabendo 
em seu âmbito os mesmos problemas, as mesmas categorias e, talvez, as mesmas 
soluções que esse termo abrange. a outra acepção é a queutiliza a expressão “economia 
política” para designar os pensadores da escola clássica, seu objeto e seu escopo, 
portanto, carecem de atualidade, ficando limitado ao estudo da obra dos economistas do 
passado, com que passam a configurar quase que uma “pré-história” do pensamento 
econômico. 
1.2 EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA ECONÔMICA 
O pensamento econômico passou por diversas fases, que se diferenciam 
amplamente, com muitas discrepâncias e oposições. No entanto, a evolução deste 
pensamento pode ser dividida em dois grandes períodos: Fase Pré-Científica e Fase 
Científica Econômica. 
A fase pré-científica é composta por três subperíodos. A Antiguidade Grega, que 
se caracteriza por um forte desenvolvimento nos estudos político-filosóficos. A Idade 
Média ou Pensamento Escolástico, repleta de doutrinas teológico-filosóficas e tentativas 
de moralização das atividades econômicas. E, o Mercantilismo, onde houve uma 
expansão dos mercados consumidores e, conseqüentemente, do comércio. 
A fase científica pode ser dividida em Fisiocracia, Escola Clássica e Pensamento 
Marxista. Esta primeira pregava a existência de uma “ordem natural”, onde defendia a 
não intervenção do Estado em questões econômicas ("laissez-faire"), pois qualquer 
intervenção traria certamente ineficiências. Já o marxismo citava a “ordem natural” e a 
“harmonia de interesses” (defendida pelos clássicos), afirmando que tanto um como 
outro resultava na concentração de renda e na exploração do trabalho. 
6 
 
Apesar de fazer parte da fase científica, convém ressaltar que a Escola 
Neoclássica e o Keynesianismo, diferenciam-se dos outros períodos por elaborar 
princípios teóricos fundamentais e revolucionar o pensamento econômico, merecendo, 
portanto, destaque. É na Escola Neoclássica que o pensamento liberal se consolida e 
surge a teoria subjetiva do valor. Na Teoria Keynesiana, procura-se explicar as 
flutuações de mercado e o desemprego (suas causas, sua cura e seu funcionamento). 
1.2.1 Importância da Ciência Econômica 
O estudo da economia destaca-se entre os de maior importância, responsável 
pela preparação do caminho para a eclosão de formas de civilização mais sublimes, e 
pelo desenvolvimento de instrumentos de análise que facilitem a identificação dos 
problemas básicos da sociedade e possibilitem o uso mais racional dos escassos 
recursos disponíveis, com vistas a acelerar o processo de desenvolvimento. 
1.2.2 Fatos importantes a considerar na análise da evolução da Ciência Econômica 
 
� O ambiente econômico do autor e/ou escola na época em que surgiu - as 
idéias econômicas estão vinculadas ao contexto em que surgiram. Isto não 
impede de extrapolarmo-las para outros contextos. Mas devemos interpretar os 
autores, seus exemplos e suas propostas considerando a época em que viveram 
e/ou analisaram. 
� Cada autor e/ou escola tem por base as idéias de outros autores - cada autor 
desenvolve suas idéias e teorias a partir de um conhecimento prévio. Assim, a 
contribuição de um autor pode ser um melhor esclarecimento, uma melhor 
elaboração e até mesmo a refutação de formulações anteriores. 
 
1.2.3 Fases da evolução da Ciência Econômica 
 
1.2.3.1 Fase pré-científica da Economia 
I - Antigüidade Grega (idéias econômicas com caráter mais filosófico) 
II - Antigüidade Romana (idéias econômicas vinculadas à política) 
III - Período Medieval (idéias econômicas influenciadas pela moral cristã) 
IV - Mercantilismo (1450 - 1750): preocupação metalista 
7 
 
1.2.3.2 A criação Científica da Economia 
I - Fisiocracia (1760 a 1770) - Liberalismo Econômico 
A Fisiocracia supunha que o universo é regido por leis naturais, absolutas e 
imutáveis e universais, desejadas pela providência divina para a felicidade dos homens. 
Estes, por meio da razão, poderão descobrir as leis dessa ordem natural. Isto é, 
pregavam o liberalismo econômico: laissez-faire - deixar fazer ; e laissez passer - deixar 
passar. 
II - Clássicos (1780 a 1860) - Escola Clássica 
O objetivo da Escola Clássica é estudar as causas do desenvolvimento das 
nações e como essa riqueza se distribui entre os agentes econômicos. Eles analisaram a 
economia mais pela ótica microscópica. 
� Principais autores da Escola Clássica: 
� Adam Smith (1723-1790) 
� Thomas Robert Malthus (1766-1834) - teoria populacional pessimista (1798) 
� David Ricardo (1772-1823) - Princípios de Política Econômica e Tributária 
(1817) 
� John Stuart Mill (1806-1873) – Revisionista 
� Jean Baptiste Say (1768-1832) - Curso de Economia Política (1820) 
� Karl Marx (1818-1883) - Autor do livro “O Capital” (1867) 
1.2.3.3 Fase de Elaboração de Princípios Teóricos Fundamentais 
� A Teoria Neoclássica (Fins do séc. XIX ao início do séc. XX) 
A partir de 1870, o pensamento econômico passava por um período de incertezas 
diante de teorias contrastantes (marxista, clássica e fisiocrata). Esse período conturbado 
só teve fim com o advento da Teoria Neoclássica, em que se modificaram os métodos 
de estudo econômicos. Através destes buscou-se a racionalização e optimização dos 
recursos escassos. 
Conforme a Teoria Neoclássica, o homem saberia racionalizar e, portanto, 
equilibraria seus ganhos e seus gastos. É nela que se dá a consolidação do pensamento 
8 
 
liberal. Doutrinava um sistema econômico competitivo tendendo automaticamente para 
o equilíbrio, a um nível pleno de emprego dos fatores de produção. 
1.2.3.4 Fase Atual da Ciência Econômica 
� O Keynesianismo (Década de 1930) 
Quando a doutrina clássica não se mostrava suficiente diante de novos fatos 
econômicos, surgiu o economista inglês John Maynard Keynes que, com suas obras, 
promoveu uma revolução na doutrina econômica, opondo-se, principalmente, ao 
marxismo e ao classicismo. Substituindo os estudos clássicos por uma nova maneira de 
raciocinar na economia, além de fazer uma análise econômica reestabelecedora do 
contato com a realidade. 
Seus objetivos eram de, principalmente, explicar as flutuações econômicas ou 
flutuações de mercado e o desemprego generalizado, ou seja, o estudo do desemprego 
em uma economia de mercado, sua causa e sua cura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
1.2.4 Uma Síntese Geral: Da Antiguidade ao Século XX 
Para possibilitar uma visão de conjunto das principais escolas do pensamento 
econômico, apresenta-se na Tabela 1 uma síntese geral, onde são consideradas as 
escolas, suas épocas e seus pensadores principais. 
Tabela 1: Síntese Geral da Evolução da Economia – Da Antiguidade ao Século XX. 
 
Principais Escolas 
 
Épocas 
 
Pensadores Principais 
Primeiras manifestações 
(Grécia e Roma) 
 
Antiguidade 
Grécia: Platão, Aristóteles e Xenofonte 
Roma: Catão, Varrão, Paládio e Columela 
Escolástica medieval Idade Média Tomás de Aquino, Nicolau Oresmo e A. de Florença 
 
Mercantilismo 
 
 
Renascimento até primeira 
metade do século XVIII 
Espanha e Portugal: Ollvares, S. Ortiz e A. Serra 
França: Bodin, Montchrétien, Cantillon e Colbert 
Inglaterra: Malynes, Davenat, Culpepper e Mun 
Liberalismo 
Escola Fisiocrata 
Escola Clásica 
Segunda metade do século 
XVIII 
Fisiocratas: Quesnay, Gournay, Turgot e Mirabeau 
Clássicos: Adam Smith, Malthus, Ricardo, Mill e 
Say 
 
Escola Histórica Alemã 
Segunda metade do século 
XIX 
 
Rocher, Hildebrand, Knies e Schmoller 
 
Escola Socialista 
Segunda metade do século 
XIX 
 
Karl Marx e F. Engels 
 
Escola Marginalista 
Segunda metade do século 
XIX 
Áustria: Menger, Wieser e Bohm-Bawerk 
Suíça: Walras e Pareto 
 
Síntese Neoclássica 
Final do século XIX e 
primeiras décadas do atual 
 
Alfred Marshall 
Keynesianismo Década de 1930 John Maynard Keynes10 
 
1.3 Conceitos Fundamentais, Problemas e Temas Relevantes da Economia 
 
1.3.1 Os Problemas Econômicos Fundamentais 
No nosso dia-a-dia nos deparamos, a todo o momento, com diversos problemas 
econômicos com os quais temos de lidar, seja através dos jornais, rádio, televisão, ou 
até mesmo nas questões mais rotineiras de nosso cotidiano, como por exemplo: 
� Por que o nordestino possui uma renda muito inferior à do paulista? 
� Até que ponto os juros altos reduzem o consumo e estimulam os preços? 
� Por que está tão difícil conseguir um emprego nos dias atuais? 
� Por que o aumento no salário mínimo provoca uma deterioração nas contas do 
governo? 
� Por que a carga tributária brasileira está tão elevada? 
� Como são definidos os preços dos produtos? 
� Como são definidos os aumentos de salários? 
� Como são definidas as taxas de juros do Banco Central? 
Todas estas questões trazem implícitos diversos conceitos importantes, que são a 
base e o objeto do estudo da Ciência Econômica: escolha, escassez, necessidades, 
recursos, produção, distribuição. Mas para respondê-las é preciso entender os problemas 
econômicos fundamentais. 
Em primeiro lugar é preciso decidir o que produzir e em que quantidades 
produzir, dado que os recursos de produção são escassos e as necessidades humanas 
ilimitadas. Essas escolhas dependem de vários fatores, como a perspectiva de lucro (do 
ponto de vista dos empresários) ou opções de política econômica e as necessidades da 
sociedade (do ponto de vista da sociedade). 
Depois é preciso definir como produzir, onde a sociedade terá de escolher, dado 
o conhecimento tecnológico existente, quais recursos produtivos serão utilizados para a 
produção de bens e serviços. Em outras palavras, a decisão de como produzir implica a 
escolha das técnicas, e dentre os métodos mais eficientes, em geral se escolhe aquele 
mais barato, ou seja, com o menor custo possível. 
11 
 
Posteriormente é preciso decidir para quem produzir. Ou seja, é preciso definir 
para quem se destinará a produção e também definir como os indivíduos participarão da 
distribuição dos resultados de sua produção. Esta distribuição depende 
fundamentalmente de como foi instituída e dividida a propriedade privada numa 
determinada sociedade, e de como esta propriedade se transmite por herança. A 
distribuição da renda dependerá também do mecanismo de preços que atua por meio do 
equilíbrio entre oferta e demanda para a determinação dos salários, das rendas da terra, 
dos juros e dos benefícios de capital. 
Poderíamos nos perguntar quais as questões econômicas fundamentais de um 
indivíduo que recebe uma renda, mas não é empresário. Neste caso, os indivíduos 
devem decidir como vão gastar sua renda entre os diferentes bens e serviços ofertados 
para satisfazer suas necessidades, ou se escolherão poupar parte de sua renda ao invés 
de consumir todo o montante recebido. Na hora de suas decisões de consumo, o 
indivíduo levará em conta não apenas as suas necessidades, mas os preços dos bens e 
suas preferências, inclusive entre consumo presente ou consumo futuro (representado 
pela poupança). 
É preciso ter em mente que estas questões: o que, quanto, como e para quem 
produzir, e até mesmo o que consumir não seriam problemas se os recursos produtivos 
disponíveis fossem ilimitados. Sendo assim, a economia e seus problemas fundamentais 
originam-se da carência de recursos produtivos escassos. 
1.3.2 A lei da escassez de recursos 
Na economia tudo está pautado na busca de produzir o máximo de bens e 
serviços com os recursos limitados disponíveis, pois como já destacamos anteriormente, 
não é possível a produção de uma quantidade infinita de cada bem capaz de satisfazer 
completamente os desejos humanos. Isto porque os nossos desejos materiais são 
virtualmente ilimitados e insaciáveis, e os recursos produtivos são escassos. Desta feita, 
não podemos ter tudo o que desejamos e, portanto, é imperativo que o homem faça 
escolhas. 
Portanto, o objeto da ciência econômica é o estudo da escassez, porque esta 
consiste no problema econômico por excelência. Conseqüentemente, a escassez de 
recursos de produção resulta na escassez dos bens. Dizer que os bens são econômicos 
12 
 
quer dizer que eles são relativamente raros ou limitados. Ora, mas o fato de existir um 
bem em pouca quantidade não o define como escasso. É preciso para isto que este bem 
seja desejado, portanto, procurado. A escassez só existe se houver procura (ou 
demanda) para a obtenção do bem. 
Ora, mas poderíamos nos perguntar por que um determinado bem é procurado 
(ou demandado). Um bem é demandado porque tem a capacidade de satisfazer uma 
necessidade humana, ou seja, tem utilidade. Um bem é procurado porque é útil. Sendo 
assim, os bens econômicos são aqueles escassos em quantidade, dada sua procura, e 
apropriáveis. Os bens econômicos têm como característica a utilidade, a escassez e a 
possibilidade de transferência. Os bens livres, por outro lado, são aqueles disponíveis 
em quantidade suficiente para satisfazer a todo o mundo; são, portanto, ilimitados em 
quantidade ou muito abundantes e não são apropriáveis. 
Mas o que seriam então as necessidades humanas? Este poderia ser um conceito 
relativo vago e filosófico, já que os desejos dos indivíduos não são fixos. Mas para a 
economia as necessidades humanas relevantes são aqueles desejos que envolvam a 
escolha de um bem econômico capaz de contribuir para a sobrevivência ou para a 
realização social do indivíduo. 
� As necessidades podem ser classificadas em: 
a) Básicas ou primárias: são aquelas indispensáveis para nossa sobrevivência ou 
que sem as quais nossa vida seria insuportável. Exemplo: alimentação, saúde, habitação, 
vestuário, entre outras. 
b) Necessidades secundárias: são aquelas desejadas pelo convívio social. 
Exemplo: educação, transporte, lazer, turismo. 
1.3.2.1 Tipos de Bens Econômicos 
Como já vimos, os bens econômicos são aqueles que possuem uma raridade 
relativa, ou seja, possuem um preço. Estes bens econômicos, quando se destinam à 
satisfação direta de necessidades humanas são chamados bens de consumo ou bens 
finais. São todos aqueles bens que já estão aptos a serem consumidos sem que haja 
necessidade de qualquer outra transformação. Os bens de consumo podem ser divididos 
13 
 
em bens de consumo durável, que podem ser utilizados por um período mais 
prolongado – automóvel geladeira -; e os bens de consumo não durável, que devem ser 
consumidos imediatamente ou são utilizados apenas uma vez ou poucas vezes, como 
alimentos e roupas. 
Os bens que são destinados à fabricação de outros bens e que são absorvidos 
pelo processo de produção são chamados de bens intermediários. Estes bens sofrem 
novas transformações antes de se converterem em bens de consumo ou de capital, e 
possuem um ciclo curto no processo produtivo, sendo totalmente consumidos no 
processo produtivo. São exemplos de bens intermediários as matérias-primas, material 
de escritório, insumos, barras de ferro, peças de reposição, etc. 
Os bens de capital também são utilizados na geração de outros bens, mas não se 
desgastam totalmente no processo produtivo, ou seja, não são absorvidos no processo de 
produção. Uma característica importante destes bens é que contribuem para a melhoria 
da produtividade da mão-de-obra. São exemplos de bens de capital as máquinas, 
equipamentos e instalações. Os bens de capital, como não são consumidos no processo 
de produção, também são bens finais. 
1.3.3 Os Recursos ou Fatores de Produção 
Para que se obtenha a satisfação das necessidades humanas é necessário produzir 
bens e serviços. E a produção exigiria o emprego de recursos produtivos e bens 
elaborados. Os recursos de produção ou fatores de produção da economia são aqueles 
utilizados no processo produtivo para obter outrosbens e serviços, com o objetivo de 
satisfazer as necessidades dos consumidores. 
Os fatores de produção são: a terra, ou recursos naturais, incluindo água, 
minerais, madeiras, solo para fábricas; recursos humanos, englobando o trabalho 
enquanto faculdades físicas e intelectuais dos seres humanos que intervêm no processo 
produtivo, e a capacidade empresarial, que se constitui daqueles indivíduos que reúnem 
os capitais para adquirir recursos produtivos e produzir bens e serviços para o mercado; 
capital, que engloba os bens e serviços necessários para a produção de outros bens e 
serviços, como máquinas, equipamentos, instalações, dinheiro, ferramentas, capital 
financeiro; e tecnologia. 
14 
 
É importante ressaltar que para cada fator de produção corresponde uma 
remuneração. Ao trabalho corresponde o pagamento de salários. O juro paga o uso do 
capital. O aluguel constitui a remuneração da terra. A tecnologia é paga com royalties. 
À capacidade empresarial corresponde o lucro. 
FATOR DE PRODUÇÃO TIPO DE REMUNERAÇÃO 
 TRABALHO SALÁRIO 
CAPITAL JURO 
TERRA ALUGUEL 
TECNOLOGIA ROYALTIES 
CAPACIDADE EMPRESARIAL LUCRO 
A produção, portanto, seria o processo de transformar matérias-primas em 
produtos acabados utilizando para tanto os bens de capital, os bens intermediários e a 
mão-de-obra. 
1.3.4 Temas Relevantes 
1.3.4.1 Custo de Oportunidade 
Conforme vínhamos analisando, os recursos produtivos são escassos e as 
necessidades humanas ilimitadas, e porque existe a escassez os agentes econômicos têm 
que decidir onde e como aplicar os recursos disponíveis. Fazemos isso todo o tempo no 
nosso dia-a-dia, no supermercado, em nossas decisões de compras. Isto porque como os 
fatores de produção são limitados, só é possível satisfazer uma necessidade abrindo mão 
da satisfação de outra. Não há capital, nem trabalho, nem terra, nem tecnologia 
suficiente para produzir tudo àquilo que se deseja. A remuneração destes fatores 
também é restrita, restringindo as possibilidades de consumo. 
A escassez força os indivíduos, as famílias, as empresas e até os governos a 
fazer escolhas. Os indivíduos, por exemplo, têm de decidir como gastar sua renda e que 
necessidades devem priorizar. As empresas têm de decidir se ampliam o capital 
produtivo ou investem no mercado financeiro. Os governos precisam decidir se pagam 
uma parcela de suas dívidas ou fazem investimentos em educação e saúde. 
15 
 
Mas uma vez que um destes agentes econômicos tome uma decisão, estarão 
necessariamente abrindo mão de outras possibilidades. Assim, em um mundo de 
recursos limitados, a oportunidade de produzir um bem significa deixar de produzir 
outro. Como toda escolha, a escolha de satisfação de certas necessidades em detrimento 
de outras envolve ganhos e perdas. Por isso, quando decidem gastar ou produzir, 
empresas, governos ou famílias estarão renunciando a outras possibilidades. A opção 
que se deve abandonar para poder produzir ou obter outra coisa se associa ao conceito 
de custo de oportunidade. 
O custo de oportunidade de um bem ou serviço é a quantidade de outros bens ou 
serviços a que se deve renunciar para obtê-lo. Em outras palavras, o custo de 
oportunidade é o sacrifício do que se deixou de produzir, o custo ou a perda do que não 
foi escolhido e não o ganho do que foi escolhido. O custo de oportunidade também é 
chamado custo alternativo, por representar o custo da produção alternativa sacrificada. 
1.3.4.2 Curva de Possibilidades de Produção 
Dada a escassez de recursos da economia, os agentes econômicos são obrigados 
a fazer escolhas. Quando um bem é escasso, os indivíduos são forçados a escolher como 
usá-lo. Em conseqüência passa a haver uma troca – satisfazer uma necessidade significa 
a não satisfação de outra. A curva de possibilidades de produção mostra as trocas que 
os indivíduos, as empresas, ou os governos são obrigados a fazer por causa da escassez 
de recursos. 
Suponhamos uma determinada sociedade, onde exista certo número de 
indivíduos, uma tecnologia dada, uma quantidade definida de empresas, instrumentos de 
produção e de recursos naturais. Como os fatores produtivos são limitados, a produção 
total desta sociedade tem um limite máximo a que chamaremos de produto de pleno 
emprego. Neste nível de produção, todos os recursos disponíveis estão empregados, 
todos os trabalhadores que querem estão trabalhando, todos os instrumentos de 
produção estão sendo utilizados, todas as fábricas estão a pleno funcionamento e os 
recursos naturais estão sendo plenamente aproveitados. 
Vamos supor ainda que esta economia produza apenas alimentos e roupas. 
Haverá sempre uma quantidade máxima de alimentos produzidos mensalmente quando 
16 
 
todos os recursos forem destinados à sua produção, sem que nenhum se destine à 
produção de roupas. Haverá também uma quantidade máxima de roupas produzidas 
mensalmente quando todos os recursos forem destinados à sua produção, sem que 
nenhum se destine à produção de alimentos. Entre as quantidades máximas de roupas e 
alimentos que podem ser produzidas, existe uma série infinita de possibilidades de 
combinações de quantidades de roupas e alimentos que podem ser produzidos naquela 
sociedade, com aquele nível de tecnologia e aqueles recursos disponíveis, com todos os 
recursos sendo plenamente utilizados. Suponhamos que as alternativas de produção de 
roupas e alimentos sejam as colocadas na tabela abaixo. 
Alternativas de 
produção 
Alimentos(toneladas) Roupas (milhares) 
1 10 160 
2 20 150 
3 30 130 
4 40 100 
5 50 60 
6 60 0 
 
FIGURA 1 – CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO 
 
 
 
17 
 
A essa curva que ilustra essas possibilidades de combinações intermediárias 
entre roupas e alimentos eu vou chamar de curva de possibilidades de produção ou 
curva de transformação. Ela indica todas as possibilidades de produção de alimentos e 
roupas nessa construção econômica hipotética. A curva de possibilidades de produção é 
um conceito teórico para ilustrar a capacidade produtiva de uma sociedade. 
Através desta curva podemos perceber claramente que numa economia em pleno 
emprego, ao produzir um bem estaremos sempre desistindo da produzir uma certa 
quantidade de um outro bem. Em outras palavras, Para conseguirmos uma quantidade 
constante adicional de um bem (alimentos), precisaremos renunciar a quantidades 
crescentes do outro bem. Tendo em vista que cada uma das combinações sobre a curva 
de possibilidades de produção é tecnicamente eficiente, a sociedade escolherá uma delas 
em função dos preços dos produtos e das quantidades desejadas de cada um deles. 
Para as firmas também é possível construir uma curva de possibilidades de 
produção semelhante ao exemplo que elaboramos acima. Mas no lugar dos bens 
produzidos pela sociedade, construiremos a curva de possibilidades de produção 
contrapondo os produtos a serem produzidos por essa firma. Uma empresa precisa 
sempre decidir quais produtos produzir e em que quantidade produzir. Será a interação 
entre preços e quantidades de mercado que darão essa resposta, supondo-se que os 
empresários são agentes racionais e procuram sempre economizar os fatores escassos 
com o objetivo de maximizar lucros. Observemos a figura abaixo: 
 
 
18 
 
De acordo com o gráfico acima, se houver uma expansão dos fatores de 
produção, ou se houver um melhor aproveitamento dos recursos produtivos já 
utilizados, ou ainda se a tecnologia utilizada sofrer algum avanço haverá crescimento 
econômico naquela sociedade e a curva de possibilidades de produção se deslocará para 
cima e para a direita. Isto significa que a economia poderá dispor de maiores 
quantidades tanto de alimentos quanto de roupas. 
A expansão dos fatores produtivos ou a melhora no seu aproveitamento, bem 
como os avanços tecnológicos dependem significativamentede um aumento nos 
investimentos. Isto significa que os agentes econômicos – famílias, empresas e governo 
– precisam reduzir o seu consumo atual e direcionar parte de seus recursos para a 
poupança, a fim de que ela esteja disponível para investimento. Outro elemento 
importante para o crescimento econômico, tanto quanto o investimento, é a divisão do 
trabalho. Um aumento da divisão do trabalho permite que os trabalhadores se tornem 
mais produtivo, com um aumento da especialização do trabalho, elevando também os 
volumes negociados no comércio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
MÓDULO 2: RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA E DIREITO 
 
O estudo das relações entre Direito e Economia insere-se no debate sobre 
estratégias de desenvolvimento econômico e melhoria do ambiente de negócios, 
levando em consideração as características de uma dada sociedade. Para ser proveitoso, 
tal estudo deve, a um só tempo, lançar mão do ferramental econômico para discutir 
desenhos jurídico-institucionais, bem como ser sensível à lógica interna ao sistema 
jurídico e sua estrutura normativa. Dessa forma, se, num passado recente, Direito e 
Economia andaram em paralelo, atualmente encontram-se fatores importantes para que 
o fosso entre eles seja transposto. 
 
Diferentemente do que ocorre em outros países, no Brasil a produção acadêmica 
sobre o assunto é bastante restrita. Muito embora a relação entre estes ramos do 
conhecimento seja bastante evidente, infelizmente sua abordagem analítica tem sido 
estanque, com prejuízo para o entendimento de fenômenos multifacetados. 
 
Neste sentido, Economia e direito, ou a análise econômica do direito, é uma 
abordagem da teoria do direito que aplica métodos da economia ao direito. Inclui o uso 
de conceito econômicos para explicar os efeitos de normas legais a fim de determinar 
quais normas são economicamente eficientes. 
 
2.1 CONCEITOS 
 
� Direito - É o ramo das ciências sociais aplicadas que tem como objeto de estudo 
o conjunto de todas as normas coercitivas que regulamentam as relações sociais, 
ou seja, são normas que disciplinam as relações entre os indivíduos, desses para 
com o Estado e do Estado para com seus cidadãos, por meio de normas que 
permitam solucionar os conflitos. Dividido em dois grandes ramos - público e 
privado - e em diversas especialidades, o Direito constitui-se numa das Ciências 
Sociais cujo objeto não está no indivíduo, diretamente, mas no estudo das regras 
e princípios que disciplinam as relações humanas. 
� Economia - Existem muitas maneiras de conceber a economia como um ramo 
do conhecimento. Para os economistas clássicos, como Adam Smith, David 
20 
 
Ricardo ou John Stuart Mill, a economia é o estudo do processo de produção, 
distribuição, circulação e consumo dos bens e serviços (riqueza). Por outro lado, 
para os autores ligados ao pensamento econômico neoclássico, a economia pode 
ser definida como a ciência das trocas ou das escolhas. Deste modo, o foco da 
ciência econômica consistiria em estudar os fluxos e meios da alocação de 
recursos para atingir determinado fim, qualquer que seja a natureza deste último. 
 
2.2 A Relação entre Direito e Economia 
 
Todo o desenvolvimento normativo de uma dada comunidade, seja ela estatal ou 
interestatal, está intimamente ligado às relações de ordem econômica que ocorrem no 
seu seio. A evolução do comércio, fruto do aperfeiçoamento das técnicas de produção, 
distribuição e persuasão, formam o arcabouço sobre o qual repousam as relações civis, 
mercantis e jurídicas entre os contemporâneos. 
 
Qualquer atividade estatal, tendente a aproximar realidades sócio-econômicas 
distintas, visa apenas constatar a existência desta proximidade, posto que ela é anterior à 
atitude estatal, e mais, existiria ainda que sem (ou apesar da) interferência estatal. 
Antônio Gramsci1, ao abordar a questão do homo oeconomicus, registrou que este, na 
verdade, significa a "abstração da atividade econômica de uma determinada forma de 
sociedade". Daí conclui que "toda forma social tem uma atividade econômica própria," 
acrescentando que "entre a estrutura econômica e o Estado (com a sua legislação e 
coerção) está à sociedade civil, e esta deve ser radical e concretamente transformada, 
não apenas nos códigos de lei e nos livros dos cientistas; o Estado é o instrumento para 
adequar a sociedade civil à estrutura econômica". Henri Guiton2 acrescenta que "as 
formas jurídicas da sociedade são sucessiva e necessariamente dirigidas pela evolução 
das técnicas". 
 
Cabe lembrar a íntima relação que existe entre o Direito e a Economia. Segundo 
informa o Prof. Fábio Nusdeo3, a própria etimologia da palavra "economia" (oikos + 
nomos, onde oikos pode ser entendido como casa e nomos como norma ou 
normatização) põe em destaque esta relação. Informa o professor Nusdeo que "mais do 
 
1
 Antônio Gramsci. Concepção Dialética da História. 
2
 Henri Guitton. Economia Política. 
3
 Fábio Nusdeo. Curso de Economia. 
21 
 
que íntima relação, trata-se na verdade, de uma profunda imbricação, pois os fatos 
econômicos são o que são e se apresentam de uma determinada maneira em função 
direta de como se dá a organização ou normatização - nomos - a presidir a atividade 
desenvolvida na oikos ou num dado espaço físico ao qual ela possa se assimilar". 
 
O Direito, por si só, pode disciplinar condutas e estabelecer punições, mas não 
pode modificar padrões éticos ou culturais. É necessária uma observação sistêmica da 
sociedade para verificar que as relações entre indivíduos - ou mesmo entre Estados - não 
se estabelecem, modificam-se ou se extinguem, simplesmente, ao mover da pena do 
legislador. 
 
A motivação econômica, muitas vezes dissimulada, leva os Estados a tomarem 
decisões que contrariam até mesmo os padrões clássicos da chamada cortesia 
internacional, relegando a um segundo plano aspectos relativos à soberania e à livre 
determinação dos povos. 
 
É verdade que, em determinados momentos historicamente definidos, os Estados 
se viram na contingência de adotarem posturas violentas para preservar interesses 
políticos, econômicos e jurídicos. Mas é igualmente verdadeiro que esse quadro não 
justificou a perpetuação dessa mesma violência. 
 
Da intrincada rede de comportamentos sociais, movidos ora pela necessidade, 
ora pelo prazer, surgem conflitos que o Direito procurará dirimir. Karl Marx, antes 
mesmo de Cramsci, já enfatizava que é a realidade econômica que faz surgir à realidade 
política e jurídica de uma determinada sociedade. 
 
A tese marxista de relação de causa e efeito entre a Economia e o Direito 
encontrou adversários ao longo do tempo. A discussão maior se trava em relação à 
superioridade de um ramo sobre o outro, isto é, se há, realmente, uma relação de causa e 
efeito entre a infra-estrutura (econômica) e as demais superestruturas, entre as quais se 
acha o Direito. 
 
 
 
22 
 
2.3 O Direito como forma de regulação e ordenamento da realidade econômica 
 
Referimo-nos ao Direito em seu sentido estritamente positivo, como o conjunto 
de regras fixadas pela autoridade estatal com o intuito de orientar a conduta da 
sociedade e cujo cumprimento pode ser imposto pelo Poder Público inclusive com o uso 
da força. 
 
Vistas, em uma primeira e recorrente aproximação, como expressões da idéia de 
Justiça em uma determinada comunidade, essas regras de conduta humana – as normas 
jurídicas – são elaboradas e aplicadas à sociedade, que deve agir conforme os preceitos 
normativos sob pena de sofrer a conseqüência cominada (sanção) para o caso de 
descumprimento da conduta exigida ou realização da ação proibida. 
 
As normas jurídicas são, então, vistas como instrumentosde que dispõe o Estado 
para conformar a conduta da sociedade à idéia de Justiça que prevalece naquele 
determinado contexto de espaço e tempo. “A idéia do direito não pode ser outra senão a 
justiça”. É válido afirmar que, ao elaborar tais regras – a que chamamos normas 
jurídicas – destinadas a regular a conduta de um grupo social, o legislador tem, como 
fim de sua atividade, a efetivação de um conjunto de valores que, naquele dado 
momento histórico, lhe são especialmente caros como expressão da idéia de Justiça. 
 
Analisar o Direito conforme critérios e métodos econômicos nada mais é do que 
procurar elaborá-lo, interpretá-lo e aplicá-lo de modo a alcançar a eficiência econômica, 
entendida esta como a maximização na geração e distribuição dos recursos materiais 
disponíveis em uma dada comunidade. Como se não bastassem tais observações, a 
abordagem ganha contornos de Direito Positivo, se analisada sob o prisma 
constitucional. 
 
O art. 3o da Constituição Federal de 1988 elenca o desenvolvimento nacional, a 
erradicação da pobreza e da marginalidade e a redução das desigualdades sociais e 
regionais como objetivos da República Federativa do Brasil. 
 
Não há como se alcançar tais metas sem que se preocupe com a eficiência na 
geração e distribuição da riqueza. Se a erradicação da pobreza é um objetivo da 
23 
 
Republica Federativa do Brasil, obviamente então a maximização dos escassos recursos 
materiais (ou seja, a maximização da riqueza disponível) é também e necessariamente 
um valor a ser alcançado. 
 
Assim, a análise e aplicação do Direito de forma economicamente eficiente (ou 
seja, com o objetivo de maximização da riqueza) é não apenas possível, mas é também 
uma exigência da Constituição Federal de 1988, que a elevou, com se vê, ao nível de 
um dos objetivos fundamentais da República. 
 
A relação entre Economia e Direito é bilateral. Assim como os critérios e 
métodos econômicos são capazes de influenciar a elaboração, a interpretação e a 
aplicação do Direito aos casos concretos, o contrário também se verifica. 
 
A Economia, calcada sobre seus métodos peculiares de análise da realidade 
social relacionada à produção, distribuição e consumo da riqueza, não se limita a 
descrever, por meio de modelos econômicos, como funcionam e interagem os diferentes 
elementos que, de uma forma ou de outra, interferem sobre tal sistema. 
 
A partir do momento em que se entende e consegue explicar como interagem os 
diferentes fatores influenciadores da realidade econômica, pode-se também fazer 
assertivas no sentido de como tais fatores poderiam ser direcionados de forma a 
consagrar determinados valores ou objetivos socialmente desejados. 
 
O Direito, tomado aqui em seu sentido positivo, é o principal instrumento pelo 
qual se pode pensar em conduzir a Economia, em um ponto espacial e temporal 
determinado, de sua situação positiva para a normativa. 
 
O Direito influencia a Economia no que tem de mais característico: a busca por 
estabelecer o que “deve ser”. Procura modificar a realidade econômica como ela é – a 
economia descritiva salientada por Keynes – para contribuir para sua transformação na 
realidade econômica como “deve ser” (a economia normativa). 
 
Assim, é possível compreender porque um ramo do conhecimento cuja 
elaboração e aplicação tradicionalmente se baseiam na análise do justo/injusto, 
24 
 
ético/aético, moral/ imoral pode ser analisado à luz de outro centrado sobre a distinção 
eficiente/ineficiente e submetido a um método empírico de análises quantitativas e 
modelos simplificativos da realidade estudada. 
 
2.4 Princípios fundamentais da análise econômica do Direito 
 
Apercebendo-se da insuficiência dos tradicionais instrumentos de análise da 
legislação, os juristas passaram a recorrer à Economia como método de estudo e 
aferição da eficiência da legislação. 
 
Tal movimento, intitulado Direito e Economia (do original inglês Law & 
Economics), ou análise econômica do Direito, tem sua origem atribuída aos estudos de 
Ronald Coase4 que, não à toa, foi agraciado com o prêmio Nobel pelas fundamentais 
diretrizes que lançou. 
 
Fato é que a aplicação do instrumental da Economia à análise do Direito é 
considerada, entre os juristas norte-americanos, o maior avanço da ciência jurídica no 
século XX, tendo se tornado a mais robusta e moderna corrente de estudo do Direito nos 
Estados Unidos da América, além de mostrar- se em franca expansão em outros 
relevantes ordenamentos. 
 
A legislação é desse modo, vista como um instrumento de maximização e 
distribuição da riqueza. Assim, sua adequação a tais objetivos deve ser analisada 
segundo métodos característicos do ramo das ciências sociais destinado a tal finalidade. 
 
Entenda-se por análise econômica do Direito a tentativa de contribuir para o 
avanço na elaboração, interpretação e aplicação das normas jurídicas mediante sua 
avaliação por meio de critérios e métodos particulares à ciência econômica. 
 
Tanto o aplicador quanto aquele que está sujeito a um determinado conjunto de 
normas jurídicas orienta seu raciocínio a partir do binômio legalidade/ilegalidade. Se a 
 
4
 As principais contribuições de Ronald Coase para a análise econômica do Direito encontram-se em dois 
de seus trabalhos: COASE, Ronald. The nature of firm, In: The firm, the market and the law. Chicago: 
Chicago University Press. 1988. COASE, Ronald. The problem of social cost. Journal of Law and 
Economics, The University of I, N. 3, 1960. Chicago Press. 
25 
 
conduta analisada ou praticada se adequar ao que é exigido pela norma ou se omitir a 
ação proibida por ela, o indivíduo encontra-se sob a égide da legalidade. Caso contrário, 
em face da inadequação de sua conduta ou omissão ao estabelecido pela norma 
(ilegalidade), este sujeito deve se submeter à conseqüência prevista para o caso dessa 
inobservância (sanção). 
 
O que pressupõe a análise econômica do Direito é que a conduta legal ou ilegal 
de uma pessoa é decidida a partir de seus interesses e dos incentivos que encontra para 
efetuá-la ou não. Parte-se da premissa que os agentes – sujeitos de direito – irão 
conduzir- se diante da legislação de forma a fazer a escolha que incorra em uma melhor 
relação quantitativa entre os custos e riscos envolvidos e os possíveis benefícios 
(escolha baseada no critério eficiência). 
 
Como já salientamos, a Economia estuda as escolhas, os custos, riscos e 
benefícios que os agentes econômicos (sujeitos de direito) encontram na busca pela 
maximização de seus próprios interesses. Se tais escolhas têm por referência a 
legislação (entre obedecê-la ou não, entre agir segundo essa ou aquela opção legal, entre 
essa ou aquela interpretação das normas jurídicas), estamos diante da aplicação de uma 
noção econômica (a escolha entre diferentes condutas possíveis como forma de 
maximização da riqueza) ao Direito. Assim, a legislação deve ser elaborada, 
interpretada e aplicada de forma a que os ganhos dos ganhadores sejam maiores que as 
perdas dos perdedores (eficiência de Kardor-Hicks). 
 
2.5 A Economia aplicada à elaboração, interpretação e aplicação de normas 
jurídicas 
 
2.5.1 Elaboração ou reforma de institutos para torná-los economicamente mais 
eficientes 
 
Ao disciplinar juridicamente uma determinada realidade social ou alterar as 
normas que a regem, o legislador não pode se descuidar da preocupação com os efeitos 
que as alterações legislativas podem provocar sobre a geração ou distribuição da 
riqueza. Deve considerar ainda que o Direito tem o poder de provocar drásticas e 
rápidas alterações na realidade econômica em que se aplica. 
 
26 
 
Partindo, por exemplo, do estudo das normas jurídicas sobre responsabilidade 
civil por atropelamento,os autores procuram, entre as diferentes opções da legislação, 
encontrar aquela que permita fazer com que os agentes envolvidos (pedestre e 
motorista) tenham, em face do incentivo econômico que lhes seja normativamente 
oferecido, a conduta social mais condizente com os valores predominantes. 
 
O instituto da recuperação judicial da empresa é outro exemplo do que estamos 
procurando apresentar. Trata-se de uma reestruturação do direito positivo com um 
objetivo eminentemente econômico: a manutenção das unidades empresariais que 
passem por dificuldades econômicas temporárias. Tomemos ainda a Lei das Sociedades 
Anônimas, expressamente calcada sobre a premissa da defesa aos interesses dos 
acionistas minoritários. 
 
A elaboração desse texto normativo levou em conta fortemente esse quesito, 
dada a sua repercussão para a atividade empresarial, já que propicia a aglutinação de 
investidores de pequeno porte em torno das companhias e canaliza recursos de outros 
investimentos para as empresas. 
 
Nos três casos aqui aventados, temos, então, hipóteses em que o ordenamento 
jurídico foi elaborado ou modificado com vistas ao alcance de valores socialmente 
desejados sem descuidar da eficiência na geração ou distribuição da riqueza, fosse esta 
seu principal intento (como no caso da legislação falimentar) ou não (como na hipótese 
sobre a responsabilidade por atropelamentos). 
 
2.5.2 Interpretação e aplicação dos institutos positivados sob a ótica da eficiência 
 
Interpretar uma norma jurídica é, em essência, extrair o significado de seus 
termos para aplicá-los à situação concreta apresentada. É sabido, porém, que as palavras 
de um texto legal – ao contrário dos números – não comportam apenas um único 
sentido. 
 
Sendo assim, a interpretação de uma lei não deve necessariamente conduzir a 
uma única solução como sendo a única correta, mas possivelmente a várias soluções que 
– na medida em que apenas sejam aferidas pela lei a aplicar – têm igual valor, se bem 
27 
 
que apenas uma dessas se torne Direito positivo no ato do órgão aplicador do Direito – 
no ato do tribunal, especialmente. Dizer que uma sentença judicial é fundada na lei não 
significa, na verdade, senão que ela está contida na moldura ou quadro que a lei 
representa – não significa que ela é A norma individual, mas apenas que é UMA das 
normas individuais que podem ser produzidas dentro da moldura da norma geral. 
 
Entre as duas ou mais interpretações possíveis sobre uma mesma norma jurídica, 
devemos, se pretendemos uma análise econômica do Direito, optar por aquela que 
melhor se adéqüe ao padrão de eficiência econômica. 
 
Cabe ao intérprete, diante da moldura que a norma jurídica lhe oferece, escolher 
aquela interpretação que permita alocar os direitos em discussão na titularidade 
daqueles que não estariam dispostos a trocá-los pelo seu equivalente financeiro ou, visto 
de outro modo: a norma jurídica deve ser interpretada de maneira que sua aplicação ao 
caso concreto torne os ganhos dos beneficiados por ela maiores que as perdas de quem 
tenha sido vencido em suas pretensões. 
 
Um bom exemplo de como a interpretação do direito positivo pode influir na sua 
repercussão econômica pode ser dado pelo antigo art. 335, V, do Código Comercial 
brasileiro. Ali estava disposto que o sócio poderia requerer a dissolução da sociedade a 
que estivesse vinculado por prazo indeterminado sempre que assim o desejasse. Em 
uma primeira aproximação, interpretou-se o termo dissolução em seu sentido mais reto: 
rompimento total do contrato social e extinção da pessoa jurídica dele decorrente. 
 
Entretanto, atenta às danosas repercussões econômicas dessa interpretação, a 
jurisprudência caminhou – valendo-se de institutos como o contrato plurilateral – para 
atribuir ao termo dissolução citado no dispositivo legal uma feição apenas parcial. 
Rompe-se apenas parcialmente o contrato de sociedade, permitindo-se a saída do sócio 
descontente, mas mantendo-se a unidade produtiva em funcionamento, com notórios 
ganhos para a atividade produtiva. 
 
Parece-nos este um exemplo acabado em que não a legislação, mas sua 
interpretação foram modificadas de uma modalidade economicamente ineficiente para 
28 
 
outra mais adequada à maximização da riqueza disponível e menos danosa aos 
sucumbentes. 
 
2.5.3 Seleção, entre duas ou mais opções juridicamente admissíveis, daquela 
economicamente mais eficiente 
 
Não se trata aqui de duas diferentes interpretações sobre uma mesma norma, 
uma delas economicamente mais eficiente que a outra. Trata-se de analisar as duas ou 
mais normas jurídicas aplicáveis a uma determinada situação concreta optando-se, entre 
as opções licitamente admissíveis, por aquela economicamente mais eficiente. 
 
Analisemos também as sociedades limitadas e as sociedades por ações: tanto 
uma quanto a outra são tipos societários previstos e disciplinados pela legislação 
brasileira. Salvo algumas exceções expressas (como o caso de instituições financeiras), 
duas ou mais pessoas que pretendam unir seus esforços pessoais e patrimônio para a 
realização de uma mesma atividade podem livremente optar por uma ou outra 
modalidade. 
 
São desse modo, dois institutos distintos destinados a disciplinar uma realidade 
que, a princípio, é a mesma: a união de esforços e patrimônio para a realização de uma 
mesma atividade econômica com a conseqüente repartição dos resultados (contrato de 
sociedade). É aí que entra a análise da questão sob o ponto de vista de sua eficiência. 
Consideremos as seguintes situações: 
 
1. Os sócios são pessoas de uma mesma família, em grupo pouco numeroso e 
pretendem ter direta ingerência sobre a gestão do empreendimento. 
2. Os sócios são pessoas de uma mesma família, mas em grupo bastante numeroso 
e com direta ingerência sobre a empresa, não havendo, por outro lado, grande 
harmonia de pensamento entre eles. 
3. Os sócios são integrantes de uma mesma família, mas têm o objetivo de abrigar 
no quadro de membros da sociedade outras pessoas estranhas ao núcleo familiar 
e, além disso, já estudam a possibilidade de negociar ações no mercado de 
valores mobiliários. 
 
29 
 
A modalidade de sociedade a ser adequadamente escolhida pelos interessados, 
em cada uma dessas hipóteses, varia não segundo critérios de licitude/ilicitude, tendo 
em vista que qualquer uma das opções dadas (sociedade limitada ou anônima) é 
plenamente aplicável, sob esse critério, à situação posta. 
 
Em cada uma das três hipóteses cumpre optar, entre as diferentes modalidades 
de sociedades legalmente admitidas, por aquela que permita aos sócios, em face das 
peculiaridades de relações e interesses de cada um, a solução economicamente mais 
eficiente. 
O processo de desenvolvimento sócio-cultural da humanidade ocorreu 
primordialmente em torno da Economia e do Direito, havendo na dialética desse 
progresso, tormentosas críticas, desafios ácidos, principalmente no âmbito de embate 
entre o capital e o trabalho. 
No processo de evolução tecnológica, estes paradigmas mudaram radicalmente, 
alterando o desenvolvimento social, uma vez que as mediações entre a Economia e o 
Direito assumiram outro papel, seja pela relevância do fenômeno econômico na 
formação e evolução dos Direitos Fundamentais ou pela busca do Direito 
empiricamente efetivo. 
Esse novo momento, aliado à conclusão de que o modernismo não trouxe todas 
as conquistas sociais que prometeu, traz a tentativa de avançar no progresso social, pela 
adoção de novas dimensões para o conceito de cidadania, principalmente em relação à 
participação do indivíduo nos processo econômicos, pautado pela ética constitucional. 
Filosoficamente, tem-se a construção de pensamentos voltados para inclusão de 
atores outrora relegados ao segundo plano na prioridade de acesso ao capital,erigindo-
se formas democráticas de participação, havendo inclusive pensamentos independentes 
da linha eurocêntrica tradicional. 
Economia e Direito estão irremediavelmente ligados, cada vez mais, pela 
necessidade da economia conquistar novos mercados, de obter segurança em sua 
atividade, onde o Direito por sua vez, tem o papel de garantir a possibilidade do 
exercício das potencialidades da personalidade de cada um, sem que haja obstaculização 
em razão de um processo econômico deletério. 
 
 
 
30 
 
MÓDULO 3: Contribuições Fundamentais da Economia Política 
Clássica: Smith, Ricardo e Malthus 
 
O pensamento econômico clássico opõe-se aos fisiocratas franceses, na medida 
em que preconizavam que não apenas a agricultura era produtora de excedentes e de 
valor, mas também a indústria criaria valor. A economia clássica é pautada pelo 
individualismo, liberdade pessoal, tanto econômica quanto política, e crença no 
comportamento racional dos agentes econômicos. Defendiam a propriedade privada, a 
iniciativa individual e o controle individual da empresa. Estes seriam princípios básicos 
capazes de harmonizar interesses individuais e coletivos e gerar o progresso social. 
O Estado, tal qual na teoria fisiocrata, deveria atuar somente na defesa, na justiça 
e na manutenção de algumas obras públicas, sem intervir significativamente na 
atividade econômica nem no funcionamento do mercado. Mantém-se aqui a visão de um 
mundo regido por leis naturais e harmônicas, que se refletia na economia, a qual deveria 
ser deixada livre de intervenções, a fim de chegar a um equilíbrio que proporcionaria o 
bem-estar de todos. 
O pensamento clássico surge em meio à revolução industrial, onde a economia 
apresenta um avanço significativo de produtividade, refletindo-se numa mudança na 
estrutura política e social do mundo. Há um crescimento estrondoso da urbanização, um 
amplo êxodo rural, a consolidação dos Estados nacionais e da democracia representativa 
como sistema político. A partir da contribuição dos economistas clássicos, a economia 
passa a formar um corpo teórico próprio e a desenvolver um instrumental de análise 
específico para as questões econômicas. Busca-se, sobretudo encontrar leis gerais e 
regularidades no comportamento econômico, e o interesse primordial passa a ser a 
análise abstrata das relações econômicas. Não mais são priorizados os pressupostos 
morais e as conseqüências sociais das atividades econômicas, como antes. 
Os clássicos acreditam que o valor dos bens é determinado pela quantidade de 
trabalho neles incorporada, e assim, o elemento crucial para a determinação dos preços 
seria o custo de produção. A análise é centrada, portanto, na oferta. A grande 
preocupação destes primeiros economistas é a determinação das causas do 
desenvolvimento da riqueza. 
31 
 
É preciso ter em mente que o liberalismo econômico característico da escola 
clássica se manteve muito mais no plano da retórica, pois na prática houve muito 
dirigismo estatal na sociedade capitalista desde o seu surgimento. 
3.1 Adam Smith (1723-1790) 
 
Economista escocês, um dos mais eminentes teóricos da economia clássica. Foi 
professor de Lógica e Filosofia Moral e ocupou-se em princípio com questões e éticas. 
Entre 1764 e 1766 morou na França, convivendo com Quesnay, Turgot e outros. Ao 
retorna a seu país, a preocupação com os fatores que produziram o aumento da riqueza 
da comunidade o levaria a escrever, em 1776, sua obra mais célebre, A Riqueza das 
Noções: Investigação sobre sua Natureza e suas Causas. A publicação do livro coincidiu 
com a Revolução Industrial e satisfazia aos interesses econômicos da burguesia inglesa. 
Nele, Smith exalta o individualismo, considerando que os interesses individuais 
livremente desenvolvidos seriam harmonizados por uma “mão invisível” e resultariam 
no bem-estar coletivo, essa “mão invisível” entraria também em jogo no mercado dos 
fatores de produção, enquanto imperasse a livre-concorrência. A apologia do interesse 
individual e a rejeição da intervenção estatal na economia se transformariam em teses 
básicas do liberalismo. 
As idéias de Smith contrariavam o pensamento econômico predominante na 
Europa, que se baseava no mercantilismo e partia do pressuposto de que a riqueza de 
uma nação era constituída essencialmente pela moeda e que o volume de moeda de um 
país não produtor de metal precioso dependia de sua balança comercial: na medida em 
que suas importações de um país fossem menores do que suas exportações, ocorreria 
uma entrada líquida de moeda, aumentando a riqueza. 
32 
 
As idéias mercantilistas já haviam sido criticadas por William Petty, que 
localizara no trabalho e não no comércio a verdadeira origem da riqueza. Mas a 
primeira alternativa sistemática ao mercantilismo fora apresentada pelos fisiocratas, 
para os quais a riqueza era constituída pelos bens materiais e não pela moeda. Para eles, 
o cultivo do solo era a única atividade em que a quantidade de bens materiais 
produzidos superava a dos bens consumidos em sua produção. A agricultura seria assim 
a única atividade produtiva e apenas dela proviria o excedente repartido entre as demais 
classes da sociedade. 
Smith refutou o ponto de vista dos fisiocratas, demonstrando que todas as 
atividades que produzem mercadorias dão valor, reconhecendo o importante papel da 
indústria e estudando especificamente os fatores que conduzem ao aumento da riqueza 
da comunidade. E retomou o problema nos termos em que Petty o colocara, 
reconhecendo no trabalho a verdadeira origem da riqueza e distinguindo o valor de uso 
(as mercadorias consideradas do ponto de vista da capacidade que elas têm de satisfazer 
as necessidades humanas) e o valor de troca (a proporção em que elas são trocadas umas 
pelas outras). 
Adam Smith é o grande precursor desta corrente de pensamento econômico, 
sendo considerado por muitos o “pai da economia”, já que na sua obra A riqueza das 
nações de 1776 ele desenvolve a teoria econômica com um corpo teórico próprio, como 
um conjunto científico sistematizado. 
Para Smith, os indivíduos, na busca da satisfação de seus próprios interesses e de 
maximização de seu bem-estar, acabariam contribuindo para a obtenção do máximo 
bem-estar da sociedade. Isto porque o indivíduo se esforça para empregar o seu capital 
da maneira mais vantajosa, e isto o conduziria, naturalmente, a preferir o emprego de 
capital mais vantajoso para a sociedade. 
Para promover o bem-estar o melhor caminho seria o estímulo a busca 
individual do próprio interesse e à concorrência. Se todos os indivíduos são assim 
deixados livres, haveria como que uma “mão invisível” orientando todas as decisões da 
economia, sem necessidade de atuação do Estado. Através da livre concorrência, a 
sociedade chegaria à harmonia e à maximização do bem-estar de todos. 
33 
 
O mercado seria então o regulador das ações econômicas e traria benefícios para 
a coletividade independente da ação do Estado. Smith postulava que os governos são 
ineficazes e têm a tendência de favorecer alguns em detrimento da maioria da 
sociedade, portanto sua interferência no mercado tende a provocar distorções e ampliar 
desigualdades. Se o governo não interferir nos assuntos econômicos, a ordem natural 
poderia ser alcançada através do uso da razão. Seus argumentos baseavam-se na livre 
iniciativa e no laissez-faire. 
Smith acreditava que a origem da riqueza não estava na agricultura ou no 
acúmulo de metais preciosos, mas sim no trabalho humano produtivo. Este sim seria o 
elemento essencial da riqueza e gerador de valor. Sempre que uma mercadoria é 
vendida a um preço superior a seu custo de produção, temos geração de valor, mesmo 
fora da agricultura. 
Para Smith a divisão do trabalho e a especialização de tarefas é um elemento 
essencial para aumentar a habilidade pessoal,para promover o aumento de 
produtividade, para ampliar o desenvolvimento tecnológico e, conseqüentemente, elevar 
a produção. O aprofundamento da divisão do trabalho decorre da expansão das trocas e 
dos mercados. Assim, para promover o aumento da produtividade e da riqueza é preciso 
ampliar os mercados e a iniciativa privada. 
Smith acreditava que os lucros dos empresários, ao se converterem em 
maquinaria e expansão produtiva, permitiria a ampliação da divisão do trabalho e da 
produção, o que impulsionaria o crescimento da riqueza. Portanto, para ele a 
acumulação de lucros pelos empresários era algo essencial para promover o 
desenvolvimento da sociedade. 
Para ele, o valor de troca não se fundamenta na utilidade de uma mercadoria, e 
sim no trabalho (ou seja, o tempo necessário para sua produção). Smith apontou ainda 
sua origem do excedente no trabalho e também o modo como ele é apropriado pelos 
detentores dos meios de produção, lançando as bases de uma teoria sobre a exploração 
do trabalho. Smith analisou ainda os efeitos da divisão do trabalho sobre a 
produtividade, demonstrando (contrariamente ao ponto de vista mercantilista) que na 
medida em que o comércio aumenta a divisão do trabalho, todos se beneficiam do 
conseqüente aumento de produtividade. Ele derrubou algumas idéias básicas do 
34 
 
mercantilismo, defendendo a idéia de que a livre-concorrência é o ingrediente essencial 
de uma economia eficiente. 
� Suas principais idéias foram: 
� Falava de uma ordem natural onde os agentes econômicos procurando 
maximizar seus interesses eram conduzidos por uma “mão invisível” ao 
máximo benefício social. Propunha a não interferência do Estado na 
economia, criticando as idéias intervencionistas dos mercantilistas; 
� Iniciou a criação da teoria do valor-trabalho (o que dá valor aos bens é o 
trabalho necessário à sua produção, sendo o trabalho a essência final do 
valor). Distinguiu o “valor de uso” do “valor de troca”, atribuindo 
interesse econômico apenas ao último. Considerou o valor distinto do 
preço, afirmando ser o trabalho a medida do valor. 
� Analisou a distribuição de renda ao discutir os três componentes do 
preço natural (salários-W, lucro-L e renda da terra-R). Esse preço natural 
(equivalente ao preço justo) é aquele em torno do qual flutua os preços 
de mercado: PN = W + L + R; e 
� Considerou a divisão do trabalho como a principal explicação para o 
desenvolvimento de uma nação. 
3.2 David Ricardo (1772-1823) 
 
Economista inglês, considerado o mais legítimo sucessor de Adam Smith; suas 
idéias dominaram a economia clássica por mais de meio século. Após uma brilhante 
carreira na Bolsa, dedicou-se ao estudo da economia e escreveu artigos para jornais. Seu 
primeiro livro, o Preço Elevado dos Lingotes de Ouro, uma Prova da Depreciação das 
35 
 
Notas de Banco (1810), explica a depreciação das notas bancárias, o movimento dos 
preços e dos fluxos de comércio e o volume de moeda. Em Ensaio sobre a Influência do 
Baixo Preço do Trigo sobre os Lucros (1815), analisa problemas específicos da cultura 
de cereais na Grã-Bretanha. Propostas para uma Circulação Monetária Econômica 
Segura (1816) é à base de seu trabalho mais importante, Princípios de Economia 
Política e Tributação (1817). Em 1824, um ano após sua morte, foi publicado Plano 
para um Banco Nacional. 
Nos Princípios de Economia Política e Tributação, Ricardo deu uma enorme 
contribuição à teoria do valor e da distribuição. Em sua análise dos problemas 
econômicos, construiu um modelo teórico fundamentado numa economia 
predominantemente agrícola, procurando determinar as leis que regulam a distribuição 
do produto entre as diferentes classes da sociedade e localizando no trabalho o valor de 
trocas das mercadorias. Apesar disso, acreditava que os custos do capital podem 
influenciar os preços e que o aumento dos salários sobre os preços relativos depende da 
proporção desses dois fatores de produção. 
Para Ricardo, a renda relaciona-se com o aumento da população. Acreditava que 
a maior demanda acarretada por esse aumento da população exige o cultivo de terras 
menos férteis, nas quais o custo de produção é mais elevado do que em terras mais 
férteis. Mas custos e lucros deveriam ser mantidos no mesmo nível nos dois casos, pois, 
de outro modo, as terras de pior qualidade deixariam de ser cultivadas. Mesmos com 
essas medidas, no entanto, os arrendatários das melhores terras acabariam tendo uma 
maior receita, independentes do trabalho e do capital aplicado na produção. Essa 
diferença em seu favor (ou o excedente sobre o custo da produção) constituiria a renda 
da terra apropriada pelo proprietário. 
Assim, a renda de determinada terra seria a diferença entre o valor da colheita 
dessa área fértil e da colheita de outras menos férteis. Com inevitável crescimento da 
renda diferencial da terra, os proprietários rurais iriam se apossando de maior percentual 
do excedente econômico, em detrimento dos capitalistas. Ricardo previa a ocorrência de 
um “estado estacionário”, resultante do crescimento populacional e responsável pelo 
cultivo de terras cada vez menos férteis. 
36 
 
Ao chegar a determinado limite, o lucro seria tão baixo que a acumulação de 
capital simplesmente cessaria, prejudicando o desenvolvimento econômico. Para adiar 
esse “estado estacionário”, seria necessária a aplicação de um programa econômico 
liberal. 
Este pensador clássico acreditava que o crescimento demográfico exerce um 
efeito negativo sobre a economia. Sua obra principal é Princípios de economia política e 
tributação. Segundo Ricardo, o aumento da população acompanharia a expansão 
econômica, e isto faria com que as necessidades de alimentos aumentassem. Estas 
necessidades só poderiam ser satisfeitas a custos mais altos. 
Assim, o aumento da população geraria um crescimento da demanda de 
alimentos, que provocaria um aumento de preços. Isto ocasionaria uma elevação dos 
salários industriais e uma redução da taxa média de lucro da economia. Assim, haveria 
uma conseqüente redução dos investimentos, com redução do emprego e da produção. 
Com esta análise, Ricardo mostra que o processo de desenvolvimento econômico 
poderia minar suas próprias bases. 
O problema central residia na incapacidade da agricultura de produzir alimentos 
baratos para o consumo dos trabalhadores, pois possuía rendimentos decrescentes. À 
medida que aumentava a população, a produção ampliava-se em terras cada vez piores o 
que provocaria aumento de custos, aumento de salários e redução de lucros. Isto inibiria 
os investimentos e a produção na agricultura, o que se refletiria posteriormente em toda 
a economia. 
Defendia como possíveis soluções para tais problemas o controle da natalidade e 
a livre importação de alimentos para o consumo dos trabalhadores. 
Ricardo formulou também a Lei dos Custos Comparativos (ou Lei das 
Vantagens Comparativas), com que procurou demonstrar a vantagem de um país 
importar determinados produtos, mesmo que pudesse produzi-los por preço inferior, 
desde que sua vantagem, em comparação com outros produtos, fosse ainda maior. Essa 
lei constitui ainda hoje uma parte importante da teoria do comércio internacional. 
Ele defendia que cada país deveria se especializar naqueles produtos que 
tivessem os custos comparativos mais baixos, e importar aqueles cujo custo 
37 
 
comparativo fosse maior. Cada país deveria, assim, dedicar-se à produção que se mostra 
comparativamente mais lucrativo. A conseqüência disto seria que o trabalho seria 
distribuído com maior eficiência, à produção geral se elevaria, e promover-se-ia o bem-
estar geral e a harmonia de interesses dos diferentes países a nível internacional. 
Para Ricardo o objeto da Economia deveria centralizar-se no estudo da 
repartição da riqueza. Suas principaiscontribuições para melhorar a análise de Smith 
foram: 
� Teoria do valor-trabalho - demonstrou que o próprio valor do trabalho 
variava com os preços dos artigos necessários à subsistência dos operários, o 
que refletia nos salários e nas mercadorias por eles produzidas; 
� Teoria da renda da terra - as terras marginais ao serem ocupadas não 
pagam renda, mas levam a melhores terras ou as terras melhor localizadas a 
pagarem renda. Isso porque quanto maior o uso das terras marginais maior a 
renda das não marginais, porque mais trabalho é empregado nas piores terras; 
� Teoria do comércio internacional - foi defensor do livre cambismo 
justificando as trocas internacionais pelas vantagens comparativas. Cada país 
deve exportar produtos que elabora a baixo custo e importar os outros 
produtos que elabora a um custo maior. 
3.3 Thomas Malthus (1766-1834) 
 
Economista e clérigo inglês, um dos principais nomes da escola clássica. Filho 
de um culto proprietário de terras, amigo de Hume e Rousseau, formou-se em 
Cambridge e tornou-se pastor anglicano em 1779. No ano seguinte era publicada sua 
mais célebre obra, An Essay on the Príncipe of Population (Ensaio sobre o Principio da 
População), na qual conclui que a produção de alimentos cresce em progressão 
38 
 
aritmética, enquanto a população tenderia a aumentar em progressão geométrica, o que 
acarretaria pobreza e fome generalizadas. 
Para ele, quando a desproporção chega a extremos, as pestes, epidemias e 
mesmo as guerras encarregam-se de reequilibrar (temporariamente) a situação. A única 
forma de evitar essas catástrofes seria negar toda e qualquer assistência às populações 
pobres e aconselhar-lhes a abstinência sexual, com o fim de diminuir a natalidade. Os 
assalariados deveriam ter consciência de que, “com o número de trabalhadores 
crescendo acima da proporção do aumento da oferta de trabalho o mercado, o preço do 
trabalho tende a cair, ao mesmo tempo que o preço dos alimentos tenderá a elevar-se”. 
A tese de Malthus foi contestada, entre outros, por Fourier e Max, por ignorar a 
estrutura social da economia e as possibilidades criadas pela tecnologia agrícola. 
Entretanto, “reciclada” para o terreno da evolução e das populações de insetos e outras 
espécies animais, ela forneceu a chave decisiva para a teoria da seleção natural de 
Darwin e Wallace. 
David Ricardo e outros economistas clássicos incorporaram o “principio da 
população” às suas teorias, supondo que a oferta da força de trabalho era inexaurível, 
sendo limitada apenas pelo “fundo de salários”. Paralelamente, Malthus aplicava suas 
próprias teorias ao estudo da renda no livro An Inquiry into the Nature and Progresso f 
Rent (Investigação sobre a Natureza e o Progresso da Renda), 1815. Sua concepção da 
renda diferencial da terra é semelhante à de Ricardo, mediante a aplicação da Lei dos 
Rendimentos Decrescentes, que admitia que o proprietário rural ocupava áreas menos 
férteis à medida que a população aumentava. 
Nos escritos subseqüentes, as concepções do Ensaio sobre o Principio da 
População foram o ponto de partida para análises mais abrangentes de questões 
econômicas e sociais, tratadas em livros, panfletos e artigos. Surgiram assim The Poor 
Law (A Lei dos Pobres), 1817; Principles of Political Economy Considered with a View 
to their Pratical Application (Princípios de Economia Política Considerados com Vista 
a sua Aplicação Prática), 1820; e Definitions oj Political Economy (Definições de 
Economia Política), 1827. 
39 
 
Uma das polêmicas mais célebres do período foi travada entre Ricardo e 
Malthus a respeito da chamada Lei de Say, segundo a qual a produção cria seu próprio 
consumo. Malthus argumentou que um aumento da poupança (vista como investimento) 
diminuiria o consumo e aumentaria a oferta de bens por meio do aumento do 
investimento. E tentou demonstrar que o nível de atividade numa economia de mercado 
depende da demanda efetiva, uma idéia que mais tarde seria retomada por J. M. Keynes. 
Malthus coloca-se contra a visão otimista dos outros pensadores clássicos. As 
instituições sociais não seriam as responsáveis pelas misérias e vícios dos indivíduos, 
mas o próprio instinto de reprodução humana os teriam gerado. Em sua obra An essay 
on the principle of population, Malthus propugna que a população, quando não 
controlada, cresce em proporções geométricas (1,2,4,8,...) enquanto que a produção de 
alimentos (subsistência) quando muito cresce a taxas aritméticas (1,2,3,4,...). A 
conseqüência disto é que mais inevitavelmente o número de habitantes ultrapassaria a 
quantidade de alimentos necessária para mantê-los. 
Assim, o crescimento da população depende da oferta de alimentos: sempre que 
os salários nominais estiverem acima do salário de subsistência, haverá incentivo para o 
casamento e para o aumento no tamanho das famílias, provocando o aumento 
populacional. 
Malthus sugeria uma série de políticas para conter o avanço populacional como 
o adiamento dos casamentos, a limitação voluntária de nascimentos nas famílias. Tudo 
isto a fim de evitar uma crise na produção de alimentos. Malthus também reconhecia 
que as guerras, os vícios, a miséria e as doenças seriam obstáculos importantes para 
limitar o crescimento da população, e, portanto deveriam ser aceitos como soluções para 
interromper o crescimento populacional. 
No entanto, é preciso destacar que Malthus não levou em conta o ritmo e o 
impacto do progresso tecnológico para a elevação da produtividade e do produto total 
da agricultura, que representam uma resposta importante para o descompasso natural 
entre a produção de alimentos e o crescimento populacional. Malthus também não 
poderia prever a revolução nas técnicas de limitação da fertilidade, que representam um 
passo importante para deter o avanço populacional. 
40 
 
A Lei da População de Malthus - a população cresce a uma taxa geométrica e a 
produção de alimentos a uma taxa aritmética. A conclusão de Malthus e que faltaria 
alimentos no futuro. Mas nesse quadro sombrio, ele deixou de considerar as inovações 
tecnológicas na agricultura e as técnicas de limitação da fertilidade humana.

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