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Jurisprudência CASO IRMÃOS LANDAETA MEJÍAS E OUTROS VS. VENEZUELA

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GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CÁCERES “JANE VANINI”
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS
CASO IRMÃOS LANDAETA MEJÍAS E OUTROS VS. VENEZUELA (Corte Interamericana de Direitos Humanos) – Sentença de 27 de agosto de 2014
Nathália Beltrão de Araújo
Renan Castrillon Bassan
Trabalho apresentado como pré-requisito parcial à disciplina de Estatuto da Criança e do Adolescente, do Curso de Bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, ministrada pelo Professor Gabriel Saad Travassos do Carmo.
Cáceres, 16 de janeiro de 2018. 
1. RESUMO 
	Na data de 27 de agosto de 2014 a Corte Interamericana de Direitos Humanos – CIDH proferiu sentença no caso dos irmãos Landaeta Mejías e outros Vs. Venezuela, declarando que o Estado era internacionalmente responsável pela violação da obrigação de respeito e garantía do direito a vida de Igmar Alexander Landaeta Mejías, no que concerne ao dever de adotar disposições de direito interno. Também, estabeleceu a Corte, que o Estado é responsável pela violação do direito a libertade pessoal e da obrigação de respeito e garantia do direito a vida e integridade pessoal, no que diz respeito ao menor Eduardo José Landaeta Mejías, de 17 anos de idade no momento em que praticado o fato.
2. DO CASO
	Em análise do caso, a Corte constatou, no momento da ocorrência dos fatos, havia um sério problema de abusos de policiais em vários estados da Venezuela, incluindo o estado de Aragua e que os Irmãos Igmar Alexander e Eduardo José, ambos os sobrenomes Mejías, 18 e 17 anos de idade, respectivamente, após ameaças e assédio, perderam a vida, em um confronto com oficiais do Corpo de Segurança e Ordem Pública do estado de Aragua (CSOP). 
	Neste sentido, na data de 17 de novembro de 1996, Igmar Alexander Landaeta Mejías morreu por causa de dois impactos de bala, no contexto de um alegado confronto com policiais de inteligência, os quais após estes eventos moveram seu corpo para o Centro ambulatório Tipo III de Turmero, sem se identificarem ou mesmo assinarem qualquer documento. 	
	Em relação à Eduardo José Landaeta Mejías, de 17 anos de idade, a Corte corroborou que, em 29 de dezembro de 1996, ou seja, um mês e meio depois da morte de seu irmão foi preso por agentes da CSOP do estado de Aragua e levado a Delegacia do Bairro de “San Carlos”, sendo transferido posteriormente para a Sede Central. 
	Conforme observado, Eduardo José, morreu sob custódia policial do CSOP, durante a transferência do Comando Central da Polícia para a “Seção Mariño”, após ser mantido detido por um período superior a 38 horas. A autopsia realizada em Eduardo, confirmou que um dos ferimentos fora ocasionado por impactos de projéteis. 
	Em conseqüência de ambos os óbitos, foram iniciadas investigações e processos penais para identificar os supostos autores, além de impor as sanções correspondentes. Em relação a Igmar Landaeta, um processo criminal foi instaurado contra dois agentes policiais que participaram dos fatos. Em 13 de outubro de 2000, o Segundo Tribunal do Regime Processual Transitório emitiu julgamento de primeira instância, absolvendo um dos agentes e condenando o outro a 12 anos de prisão. 
	A defesa do condenado interpôs recurso de apelação, onde a Corte de Apelações emitiu sentença de segunda instância indeferindo o recurso interposto, e em consequência confirmando a sentença imposta ao réu. 
	Contra esta sentença, a defesa apresentou recurso de cassação, resolvido pela Câmara de Cassação do Supremo Tribunal de Justiça, o qual anulou a sentença proferida pela Corte de Apelações e restituiu a causa ao Tribunal a quo a fim de que esta decida sobre o recurso de apelação com estrita obediência ao decidido na sentença de cassação. 
	Ao final, a Corte de Apelações emitiu uma nova sentença em 10 de novembro de 2003 onde declarou procedente o recurso de apelação interposto e o arquivamento do processo contra o agente policial. A causa foi mais tarde encaminhada para Arquivo Judicial Central. 
	Por outro lado, em relação à Eduardo Landaeta, a Corte Interamericana constatou que as investigações começaram logo após morte. Neste caso, estabeleceu-se um processo criminal contra três policiais, sendo estes absolvidos em dezembro de 2011 com base na ausência de prova suficiente para responsabilização dos agentes. Contra tal decisão foi interposto, recurso de apelação. 
	Em 30 de outubro de 2012, o Tribunal de Apelações anulou a decisão de primeira instância, ordenando um novo julgamento oral, que na época da análise pela CIDH, estava em andamento. 
3. ANÁLISE E PROCEDIMENTO DO CASO PELA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 
	
	O Estado apresentou a exceção de ausência de esgotamento dos recursos internos referentes aos casos tanto de Igmar Landaeta, como de seu irmão, Eduardo Landaeta. 
	Em relação ao direito a vida de Igmar Landaeta, o Tribunal reconheceu no artigo 4 da Convenção Americana, que este perdeu a vida por ocasião de um confronto com agentes da polícia de inteligência. Ademais, a Corte relatou, na análise do uso da força pela autoridade que, deve ser levado em conta em conta três momentos fundamentais: a) ações preventivas; b) as ações concomitantes aos fatos; e, c) o ações após os fatos. 
	No que concerne às ações preventivas, o Tribunal observou que o Estado não cumpriu, no momento dos fatos, com a obrigação de garantir o direito à vida através do uso adequado da força. O que demonstrou não haver nenhum treinamento específico dos agentes encarregados de fazer cumprir a lei, em violação do dever de garantia do direito à vida e as obrigações derivadas do artigo 2 da Convenção Americana. 
	Em relação às ações concomitantes, o Tribunal concluiu que forçar o emprego de arma naquelas circunstâncias não era necessário, pelo que, o primeiro tiro disparado contra Igmar Landaeta, ultrapassou a proporcionalidade do uso da força, sendo que no caso seria suficiente a detenção e/ou apreensão da vítima acima descrita. Além disso, considerando o aludido problema de abuso policial no momento dos eventos e as ameaças feitas à família por parte dos mesmos agentes, o Tribunal considerou que havia indicações suficientes apontando para o que o segundo tiro, quando Igmar Landaeta, teria sido de comum acordo entre os agentes policiais. 
	Como conseqüência, sua morte, durante sua perseguição, foi o resultado do uso de força desproporcional pelas ações dos funcionários encarregados de fazer implementar a lei, que constituiu uma privação arbitrária da vida atribuível ao Estado, em violação do artigo 4º da Convenção Americana.
	No que diz respeito às ações pós-evento, o Estado não cumpriu com o dever de fornecer uma atenção de acordo com os princípios da diligencia e humanidade para pessoas atingidas pelo uso de força exacerbada de agentes policiais, uma vez que, no caso em apreço o segundo tiro por ter sido imediatamente mortal, o corpo não deveria ter sido movido ou manipulado da cena do crime. O certo seria, eles manterem o corpo até a perícia especializada chegar ao local, ou, caso ocorresse a movimentação, deveria ter sido apresentado o corpo às autoridades médicas competentes, bem como deveria ter sido perpetrada a devida identificação dos agentes, a notificação do que de fato ocorreu, além de se realizar um relatório da situação, supervisionado por uma autoridade administrativo e/ou judicial, e notificar os familiares da vítima. 
	Conforme já dito, tais eventos não foram devidamente obedecidos, já que Igmar Landaeta foi deixado no hospital, sem que os agentes se identificassem e sem o relato do que de fato aconteceu. Estas atitudes, não foram investigadas ou sancionadas mediante processos administrativos/disciplinares e/ou judicial. 
	Com base no exposto, o Tribunal concluiu que o Estado violou o dever de respeito e garantia do direito à vida, estabelecido no artigo 4º da Convenção Americana, em relação a com os
artigos 1.1 e 2 do mesmo.
	Com respeito a Eduardo Landaeta, a Corte vislumbrou violações de seu direito à liberdade, a vida e integridade pessoal do menor, que tinha 17 anos no momento dos fatos. 
	Os direitos da criança (artigo 19 da Convenção) foram demasiadamente considerados de forma transversal ao longo do julgamento.
	A Corte em análise do direito à liberdade pessoal, reconhecido no artigo 7º da Convenção, concluiu que, no momento da prisão de Eduardo Landaeta não teria existido qualquer ordem judicial ou uma ação flagrante que justificasse tal medida, sendo tal atitude absolutamente ilegal. Além do mais, não havia na ocasião, qualquer motivo que levasse a detenção. É pacificado perante a Corte, que no caso de menores de idade, a detenção deve somente ser utilizada como último recurso. 
	Além disso, em nenhum momento, segundo consta do material probatório, foi fornecido a Eduardo Landaeta, informações orais ou escritas sobre as razões de sua detenção ou qualquer notificação por escrito sobre as acusações. Também não parece que houve a devida assistência jurídica, prestada por advogado ou que seu status tenha sido levado em consideração, por ser este, conforme dito acima, menor de idade a época do ocorrido. Da mesma forma, em relação ao controle judicial da privação de liberdade de um menor, não há qualquer informação de que, ocorreu teste médico ou outro de natureza semelhante, para a determinação da idade ou sua saúde durante o período em que permaneceu detento, a fim de apresenta-lo a autoridade competente (Juiz de Menor).
	Finalmente, o Tribunal comprovou que a partir do momento da sua detenção até a segunda transferência onde ele perdeu a vida, ficou ele enclausurado por aproximadamente por 38 horas sem ter sido apresentado perante um juiz ou autoridade competente de menores de idade, o que, na opinião do Tribunal, excedeu o padrão de disponibilidade de autoridade competente "sem demora" aplicável a menores de idade. Devido ao acima exposto, o Estado, segundo a Corte violou as disposições dos parágrafos 1 a 5 do Artigo 7 da Convenção Americana, e o Artigo 19 da mesma convenção.
	Na análise do direito à vida de Eduardo Landaeta, o Tribunal reiterou sua jurisprudência no sentido os Estados são responsáveis, na sua qualidade de garantes, aos direitos consagrados na Convenção, assim como de observância destes em frente a cada indivíduo que tem ele a custódia, pelo que, entendeu a Corte, quando qualquer pessoa, e, especialmente uma criança, morre violentamente sob a sua custódia, o Estado tem o fardo de arcar com as penalidades, sendo o resultado morte, em tais circunstâncias, atribuidas a ele. No caso, o risco veio dos próprios agentes do Estado, entidade responsável pela custódia.
	Da mesma forma, o Tribunal considerou que havia uma série de elementos concatenados que constituem uma violação as garantias que eram devidas a Eduardo, a saber: a referida problemática de abusos policiais naquele momento; às ameaças feitas contra os irmãos Landaeta Mejías por policiais; a proximidade da morte de seu irmão Igmar Landaeta, também atribuída a agentes da mesma força policial; sua detenção ilegal e arbitrária nos termos acima descritos; a falta de proteção especial por causa de seu status de menor; quanto ao risco que ele estava, ao ser objeto de duas transferências sem ser posto sob controle autoridade judicial ou competente de menores, por longo tempo; a falta de proteção na frente dos agentes envolvidos, a violação do dever de custódia, bem como todos os indicações que permitem inferir a responsabilidade direta dos agentes que o movimentaram. Por isso, o Tribunal considerou que o Estado é integralmente responsável pelo privação arbitrária de Eduardo Landaeta, em violação do dever de respeito e garantia do direito à vida de pessoas sob sua custódia, previsto no artigo 4 da Convenção Americana, em relação aos artigos 1.1 e 19 do mesmo instrumento. 
	Especificamente quanto ao direito à integridade pessoal de Eduardo Landaeta, o Tribunal determinou que tais irregularidades juntamente com a situação de risco levada à atenção das autoridades, e tendo em conta a condição de menor, geraram sofrimento e angústia inimagináveis. Nesse sentido, o Tribunal concluiu que o Estado violou o direito de integridade psíquica e moral, reconhecido nos artigos 5.1 e 19 da Convenção Americana. 
	Sobre o direito à garantia judicial e à proteção judicial, reconhecido nos Artigos 8 e 25 da Convenção, o Tribunal considerou que o Estado é responsável pela violação destes, devido à falta de diligência durante a pesquisa e processos penais, à violação de tempo razoável e que o as investigações foram realizadas de maneira injusta, sem haver linhas juntas de investigação, apesar dos sinais de inter-relação entre os dois óbitos. 
	Em particular, para a morte de Igmar Landaeta, o Tribunal concluiu que o Estado não realizou uma investigação exaustiva e diligente, que permitiria obter elementos técnicos suficientes, consistentes, congruentes e confiaveis, tendo em razão disso, um impacto relevante, obstruindo o esclarecimento dos fatos na jurisdição interna e na determinação das responsabilidades correspondentes. 
	Da mesma forma, o Tribunal entendeu que o Estado não forneceu um recurso judicial efetivo aos familiares de Igmar Landaeta, devido à existência de certos atrasos da acusação do caso. A respeito das investigações dos processos criminais iniciados para esclarecer a morte de Eduardo Landaeta, a Tribunal visualizou que o Estado não realizou uma investigação diligente devido as deficiências na colheita de provas, que envolveu o desempenho de importantes processos com mais de oito anos após os acontecimentos. Além disso, o Tribunal concluiu que no processo penal apresentado havia sérios atrasos processuais e irregularidades destacadas por suas próprias autoridades internas.
	O Tribunal estabeleceu ainda, que o Estado não procedeu com nenhum tipo de investigação em relação a detenção ilegal e arbitrária de Eduardo Landaeta, bem como das provas de tortura durante sua apreensão. 
	Já no que se refere ao direito à integridade pessoal dos parentes dos irmãos Landaeta Mejías, a Corte considerou que as violações dos direitos reconhecidos no julgamento, geraram sequelas em nível psicológico, pessoal e emocional. De igual maneira, a falta de eficácia do medidas tomadas para esclarecer os fatos, causaram sofrimento e angústia pelos familiares, além de um sentimento de insegurança, frustração e impotência, afetando assim sua integridade psíquico e moral. Em conjunto, o Tribunal estabeleceu que o Estado é responsável pela violação do Artigo 5.1 da Convenção Americana, em relação ao seu Artigo 1.1, em detrimento dos parentes dos irmãos Landaeta Mejías. 
	Pelo todo o exposto, o tribunal inicialmente, esclareceu que tal julgamento constitui per si uma forma de reparo. Desta forma, para efetivar as reparações, determinou ao Estado da Venezuaela: i) investigar os fatos que levaram ao óbito de Igmar Landaeta, reabrindo, por óbvio, as investigação, com o claro objeto de serem os fatos devidamente esclarecidos e, se for o caso, estabelecer a determinação de responsabilidades aos agentes, pela privação arbitrária da vida, dentro de um prazo razoável. De igual maneira, com respeito a Eduardo Landaeta, a continuação da Persecução Criminal, levando a sua conclusão, dentro de um razoável, para que os agentes responsáveis sejam integralmente punidos, pela indevida privação arbitrária da vida; ii) como medida de reabilitação, fornecer gratuitamente, através de suas instituições de saúde especializadas, o tratamento psicológico que as vítimas (parentes dos irmãos) exigem; iii) como medidas de satisfação, realizar um reconhecimento de responsabilidade internacional e desculpas públicas; iv) como Garantias de não repetição, que o Estado reforce suas capacidades na implementação de monitoramento e na rendição de policiais envolvidos em episódios de uso da força, de acordo com o padrões internacionais refletidos no presente julgamento; e v) como
medida compensatória, pagar os montantes fixados pelo dano pecuniário e moral, o reembolso de custas e despesas, bem como o reembolso a Fundo de Assistência Jurídica das Vítimas, pelas despesas incorridas. 
	Ao final, afirmou o Tribunal que acompanhará o pleno cumprimento deste Julgamento, em de seus poderes e em cumprimento de seus deveres de acordo com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, e concluiu o presente caso, uma vez que o Estado cumpriu plenamente as disposições contidas na mesma.
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