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DIMENSÃO HUMANA NA GOVERNANÇA CORPORATIVA Práticas da Governança Corporativa Recebe o nome de Governança Corporativa (GC) o “sistema de relacionamento entre os acionistas, os auditores independentes, os executivos da empresa e os conselheiros de Administração, liderado por estes últimos” (LODI,2000, p.13). Segundo o mesmo autor, GC pode ser o sistema, assim como o papel que exercem os conselhos de administração. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), na sua quarta versão do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, define CG como “o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle” (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, 2009, p.19). ANDRADE e ROSSETTI (2007) fizeram uma seleção das variadas definições de GC e as agruparam conforme quatro critérios: 1) a governança como guardiã de direitos; 2) a governança como sistema de relações; 3) a governança como estrutura de poder; e 4) a governança como sistema normativo. A partir desses critérios destacaram as expressões-chave que mais comumente apareceram: valores, direitos, relações, governo, poder e normas. Expressões-chave nas definições de governança corporativa Expressões-chave e conceitos Valores Sistemas de valores que regem as corporações, em suas relações internas e externas. Direitos Sistema de gestão que visa preservar e maximizar o máximo retorno total de longo prazo dos proprietários,assegurando justo tratamento aos minoritários e a outros grupos de interesse. Relações Práticas de relacionamentos entre acionistas, conselho e direção executiva, objetivando maximizar o desempenho da organização. Governo Sistema de governo, gestão e controle das empresas que disciplina suas relações com todas as partes interessadas em se desempenho. Poder Sistema a estrutura de poder que envolve a definição da estratégia, as operações, a geração de valor e a destinação dos resultados. Normas Conjunto de instrumentos, derivados de estruturas legais e de regulamentos que objetiva a excelência da gestão e a observância dos direitos de stakeholders que são afetados pelas decisões dos gestores. Apesar da discussão recente o tema Governança Corporativa, sua prática é antiga. LODI (2000) descreve um breve histórico sobre GC no Brasil, que é apresentado a seguir. Nas décadas de 1950 e 1960, o acionista controlador familiar costumava acumular o papel de majoritário na administração da empresa. Na década de 1970, surgiram os primeiros conselhos de Administração, dando sinais de autonomia e divisão de poder entre os acionistas e os administradores, como era o caso do MAPPIN, Docas de Santos, monteiro Aranha e Villares. Criaram-se, na década de 1980, os fundos de pensão, fundos de investimentos, atuação da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa do Rio e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Na década de 1990, ocorreu a ampliação do poder dos conselhos. Em 1996, surgiu a primeira Lei das Sociedades Anônimas. Em maio d e1999, o IBGC lançou o primeiro código brasileiro, em conjunto com a Bovespa. Em 2009, lançou a quarta edição do código das Melhores práticas de Governança Corporativa. 2. Pilares da Governança Corporativa e Novo Mercado Os princípios básicos de GC, de acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa(2009), são: 1) Transparência;2) Equidade; 3) Prestação de Contas; 4) Responsabilidade corporativa. A transparência é resultado do clima de confiança nos relacionamentos. É gerada pelo desejo de disponibilizar informações para as partes interessadas, não somente as relacionadas ao desempenho econômico-financeiro, mas também outras que conduzem à geração de valor para a organização. Esse princípio é chamado de responsabilidade corporativa. Esses princípios fortalecem os pilares da governança corporativa que são:1) propriedade; 2) conselhos de administração; 3) gestão; 4) auditoria independente; e 5) conselho fiscal. A propriedade compreende o proprietário da organização e os sócios (titulares de parte representativa do capital social da organização). O conselho de administração é o principal componente da governança e atua como o elo entre a propriedade e a gestão, com finalidade de orientar e supervisionar a relação da gestão com as demais partes interessadas. É ele que decide os rumos organizacionais. O diretor-presidente é o responsável pela gestão da organização e coordenação da diretoria, atuando como elo entre a diretoria e o conselho de administração. É também responsável pela execução das diretrizes aprovadas pelo conselho de administração e pela prestação de contas. A auditoria independente verifica se as demonstrações financeiras refletem a realidade da organização e elabora também a revisão e avaliação dos controles internos. O conselho fiscalfiscaliza os atos dos administradores, opina sobre relatórios e propostas dos órgãos da administração; analisa balancetes e demonstrações financeiras; e tem o papel de denunciar erros, fraudes ou crimes. A criação do NOVO MERCADO (NM) e dos níveis diferenciados de GC, em 2000, contribui para a melhoria dos padrões de GC das organizações brasileiras. As empresas participantes da listagem oferecem aos investidores melhorias nas ações de GC, ampliando os direitos societários dos acionistas minoritários, aumentando a transparência das organizações, divulgando maior volume de informações e melhor qualidade. O NM é mais voltado para empresas que venham a abrir capital. A evolução qualitativa da GC no Brasil está associada à evolução das empresas listadas nos níveis mais altos de GC da Bovespa. 3. Composição dos Conselhos Administrativos e Comitês Consultivos Os conselhos de administração são apoiados por comitês consultivos, cujos papéis, responsabilidades e âmbito de atuação devem ser bem definidos. 3.1 Conselho de Administração ANDRADE e ROSSETTI (2007, p.232) destacam que “a importância dos conselhos de administração como força interna de controle é de tal ordem que não é possível dissociar as expressões governança corporativa e conselho de administração”. Essa afirmação leva à compreensão de que não parece ser possível um código de boas práticas de governanças corporativas desconsiderar a existência do conselho de administração e dos comitês consultivos. A composição do conselho de administração depende dos objetivos, estágio/grau de maturidade da organização e expectativas relacionadas à atuação do conselho. Essas competências estão relacionadas às experiências como executivo sênior, em participação em outros conselhos de administração, em gestão de pessoas e conhecimentos de financias, contabilidade, jurídico, negócios da organização, mercados nacional e internacional e contatos de interesse da organização. O conselheiro deve ter qualificações atais como: alinhamento com os valores organizacionais e seu código de conduta, capacidade de percepção e de defender seus pontos de vista, disponibilidade de tempo e motivação. Também são recomendáveis ao conselheiro: visão estratégia; conhecimentos das melhores práticas de governanças corporativa; capacidade de trabalhar em equipe, de ler e entender relatórios gerenciais, contábeis e financeiros; noções de legislação societária e percepção do perfil de risco da organização. Há três tipos de conselheiros: independentes, externos e internos. Os conselheiros independentes são contratados através de processo formais, tendo escopo de atuação e qualificação bem definidos. Os conselheiros externos não têm vínculo com a organização, mas não são independentes; podem ser ex-diretores, ex-funcionários, advogadose consultores prestadores de serviço à organização, sócios ou funcionários do grupo controlador e seus parentes próximos. Os conselheiros internos são diretores e funcionários da organização. O presidente do conselho deve estabelecer os objetivos e os programas do conselho, presidir as reuniões, coordenar e supervisionar as atividades dos conselheiros, atribuir responsabilidades e prazos, além de monitorar o processo de avaliação do Conselho (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNAÇA CORPORATIVA, 2009). 3.2 COMITÊS São órgãos acessórios ao conselho de administração. Podem ser formados comitês específicos como os de auditoria, recursos humanos/remuneração, governança, finanças, sustentabilidade e outros. Os comitês do conselho devem ser formados apenas por conselheiro. Em caso de não haver conselheiro especialista no tema a ser estudado, convidados especialistas externos podem ser contratadas. Os comitês de auditoria e de recursos humanos devem ser formados por participantes independente do conselho, sem participação de conselheiros interno devido à possibilidade de conflitos de interesse. 3.3 Comitê de Auditoria O objetivo desse comitê é analisar as demonstrações financeiras, supervisionar a área financeira e monitorar as avaliações e recomendações dos auditores independente e internos. Pelo menos um dos integrantes deve ter experiência comprovada na área contábil ou de auditoria. O comitê de auditoria deve reunir-se com o conselho de administração, conselho fiscal, diretor-presidente e demais diretores. 3.4Comitê de Recursos Humanos A finalidade da constituição desse comitê é discutir assuntos relacionados à sucessão, remuneração e desenvolvimento de pessoas, além de examinar os critérios para contratação de executivos e avaliar as políticas existentes. Embora seja considerada uma boa prática de GC, muitas organizações não percebem a necessidade de ter comitê de remuneração. 4. Lei Sarbanes-Oxley As principais normas estabelecidas nessa lei relacionam-se a quatro valores: 1) compliance (conformidade legal); 2) accountability (prestação responsável de contas); 3) disclosure( transparência; e 4) fairness (senso de justiça). Os impactos dessa lei e das mudanças que inspiram na legislação de outros países definiram e ainda são definido um novo cenário para a governança corporativa, que pode ser percebido através da tendência dos conselhos em assumirem o controle efetivo as corporações, a incorporação de valores da boa governança aos códigos de ética, a redução de conflitos diante da transparência e controle de remunerações e benefícios; e o rigor nas leis e punições. As principais regras relacionam-se àgovernanças corporativa; ao comitê de auditoria; aos serviços prestados por empresas de auditoria independente; às restrições, responsabilidades e representações de diretores; aos relatórios e certificados sobre procedimentos de controles internos; e aos critérios para divulgação de informações financeiras (ALVARES; GIACOMETTI; GUSSO, 2008). ÉTICA E ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO TRABALHO Refletir sore ética é refletis sobre o ser humano: seu modo de ser, pensar e agir. Desde a primeira Revolução Industrial, marcada pelo crescimento da produção de bens de consumo e da exploração dos recursos da Natureza, até os dias de hoje, a sociedade vem sofrendo os impactos das transformações realizadas pelas ações humanas. A começar pela exploração desenfreada dos recursos naturais, aprece haver uma crise ética em relação aos seres vivos, incluindo o próprio ser humano. As transformações sociais, culturais, tecnológicas e ambientais parecem ter provocado uma crise ética. Hoje, já não é amis novidade que as experiências humanas de natureza física, psicológica, social e ambiental afetam as pessoas no trabalho. Portanto, se ética envolve o modo de ser, pensar e agir envolve aspectos psicossociais do trabalho. Compreender esses aspectos contribui para que o gestor de Recursos Humanos e todo gestor de pessoas mantenha controle das situações prejudiciais decorrentes do trabalho e do ambiente organizacional, contribuindo para a boa gestão da governança corporativa. 2. O Debate Sobre o Moral, o Legal e o Ético. A palavra moraltem sua origem no latim mors, que significa costume, conduta, modo de agir. Ética é oriunda do grego ethos e também significa costume, modo de agir. Há diferença entre moral e ética. Moral como norma de conduta refere-se às situações particulares e do cotidiano e direciona a prática humana. A ética é examinadora da moral. “Ética é a ciência da moral” (PASSOS, 2004, p.23). Quando se fala em moral, está implícito o comportamento correto do ponto de vista de uma sociedade. O que é moral para uma sociedade pode não ser para outra. (HANASHIRO; TEIXEIRA; ZACCARELLI, 2008). Se a ética está relacionada à tomada de decisão e incumbe cada pessoa e cada sociedade de “julgar, escolher e instituir” os princípios e valores que direcionarão suas relações com o mundo, às coisas e as pessoas (VALLE, 2005). Os valores morais regulam o comportamento das pessoas e são aprendidos desde a infância, por meio dos valores da família, da escola, das organizações em que as pessoas trabalham e dos meios de comunicação. A palavra valor tem origem no latim valore (PASSOS, 2004), que quer dizer a qualidade pela qual uma pessoa escolhe algo em detrimento do outro; é aquilo que tem mais ou menos valor, e é possível colocar os valores em escala hierárquica. Também são os valores que orientam o comportamento das pessoas nas organizações. Valores são referenciais éticos e morais que são identificados nas crenças pessoais e coletivas e são considerados essenciais para a vida e o mundo. As crenças são concebidas como verdades e são pressupostos reais ou imaginários, e nem sempre são conscientes. A moral pode variar conforme o país, o grupo social, a organização e o indivíduo. Os valores morais é que definem o que é ser ético. Moral está associada à ética. E ética, relaciona-se com aquilo que é lega? MARTINS (2006) explica que, em todos os lugares, culturas e contextos, as convenções morais e éticas transformam-se em leis, em obrigações legais, que implicam punições quando não são cumpridas. VILHENA (2003) faz referência à matriz proposta por Lewicki, indicando quatro possibilidades básicas de comportamento. 1. Comportamento não ético nem legal (propina, por exemplo). 2. Ético e ilegal (um exemplo é a empresa supervalorizar o produto que fabrica). 3. Legal e não ético (o soldado matar o inimigo na guerra é comportamento legal; porém, matar alguém não é ético). 4. Legal e ético (elaborar e disseminar normas de conduta numa organização). Possibilidade da correlação ética com legalidade ÉTICO NÃO ÉTICO Legal Ético/legal Não ético/legal Ilegal Ético/ilegal Não ético/ilegal O trabalho humano é uma atividade social. E, por ser uma atividade social, as pessoas interagem. Onde há uma interação, há envolvimento das pessoas em relação àquilo que é moral, ético e legal. 3. Ética no Trabalho Como visto em LODI (2000), há 16 problemas éticos mais frequentes na administração: 1. Pagamento de propina 2. Caixa dois; sonegação fiscal. 3. Adulteração de registros contábeis. 4. Falta de transparência. 5. Práticas concorrenciais, como formação de cartel, destruição da concorrência, desmoralização de competidores. 6. Extensão da auditoria sobre as ações e registros da empresa. 7. Crimes de colarinho branco. 8. Nível de preço e cobrança indevidos. 9. Venda de produto adulterado. 10. Propaganda enganosa. 11. Más condições de trabalho. 12. Assédio moral no ambiente de trabalho. 13. Programas de reengenharia (demissões) sem real necessidade.14. Poluição ambiental 15. Serviço de atendimento ao consumidor, como falta de garantia, produtos com defeitos. 16. Relações com a comunidade. A ética mostra como se deve proceder diante de uma situação de tomada de decisão. A tomada de decisão pode ser seguida de conflitos psicológicos diante dos valores envolvidos. A pessoa ética não é possível ignorar as exigências, as normas e as convenções do meio externo. Para solucionar os conflitos, surgem os códigos de conduta (WOSIAK; AVILA, 2005). Para elaboração de um código de ética, é preciso, inicialmente, traçar sua base filosófica. Essa base deve se pautar-se nas virtudes necessárias para o exercício profissional, que são comuns a todos os códigos, como zelo e o sigilo. Cada profissão tem suas próprias características e, por isso, tem seu próprio código de ética que seve para direcionar a conduta profissional. Um exemplo disso é o Código de Ética do Administrador. As organizações também produzem o seu próprio código de ética para direcionar as relações e as ações humanas. Algumas delas elaboram normas de conduta para que as pessoas ajam conforme valores e normas estabelecidos, para garantia dos princípios morais nas relações e direção dos negócios. Segundo Alvares, Giacometti e Gusso (2008) são exemplos de tópicos frequentes nos códigos de conduta: 1. Cumprimento de leis, regras e determinação de organismos reguladores. 2. Pagamentos ou recebimentos questionáveis. 3. Atitude de proteção patrimonial em relação ao uso dos ativos e recursos da empresa. 4. Utilização inadequada de bens da empresa (incluindo tecnologia) para fins pessoais. 5. Situações de conflito que possam ser embaraçosas para os envolvidos. 6. Discriminação, abuso de autoridade, assedio moral ou sexual no ambiente de trabalho. 7. Confidencialidade de informações e dados da empresa. 8. Representação da empresa perante os públicos internos e externos. Segundo os mesmos autores, alguns códigos didáticos, simulado as possíveis situações, exemplificando perguntas, esclarecendo comportamentos adequados e sugerindo pessoas que possam prestar esclarecimento. Os códigos de éticae as normas são formas de controle das ações organizacionais. TEIXEIRA e ZACCARELLI (2008) citam CARROL (2009) que classifica a gerência em três tipos: imorais, morais e amorais. A gerência imoral refere-se às ações contrárias ao que pode ser moral. Os executivos que exercem a gerência imoral podem ser imoral podem ser egoístas, preocupados apenas com seus próprios interesses ou interesses da organização. A gerência moralé íntegra e defende a ética. Os executivos morais almejam o sucesso dentro de padrões éticos, buscando lucratividade sob os preceitos legais. A gerência amoralsubdivide-se em gerência amoral não intencional. A gerência amoral apresenta a crença de que não se misturam ética e negócios. Os executivos amorais não intencionais nunca pararam para pensar se suas ações são éticas ou não éticas. Esse tipo de executivo é o que mais oferece riscos a pratica da ética nos negócios. O ideal é que, diante de toda tomada de decisão, os profissionais parem para refletir sobre qual seria o comportamento mais adequado, privilegiado, principalmente, a ética e a legalidade. Para contribuir com as discussões sobre as questões que envolvem essas duas dimensões, uma organização pode manter um código de conduta para direcionar, adequadamente, os comportamentos humanos. Percebe-se que a ética é importante na formação da identidade individual e, também, da identidade social. 4.Relações de Poder e Gestão de Conflitos O poder relaciona-se à capacidade de uma pessoa influenciar outra para que ela aja conforme a sua vontade. Pressupõe uma relação de dependência. Nesse sentido, KISSLER (2004) afirma que gerir uma organização constitui uma articulação política de relações de poder seja pela dominação ou pela sujeição, do mesmo modo que as formas de produção constituem uma articulação econômica de relações de produção, entre propriedade de trabalho. ROBBINS (2005) classifica o poder em dois grupos: formal e pessoal. O poder formal pode ser subdividido em diferentes tipos: coercitivo, de recompensa, legítimo e de informação. O poder pessoa pode ser subdividido em: poder de talento, de referência de carismático. A fonte do poder coercitivo é o medo. As pessoas reagem a esse tipo de poder por medo das consequências negativas. O poder de recompensa representa o oposto do poder coercitivo: uma pessoa se submete à outra em razão dos benefícios que essa relação lhe traz. O poder legítimo refere-se à posição do cargo, isto é, a posição de uma pessoa na estrutura organizacional. O poder de informação surge do acesso e do controle das informações. É o poder de uma pessoa que detém informações e conhecimentos e, por isso, outras pessoas se tornam dependentes dela. O poder de talento é resultado da perícia, de determinada habilidade ou conhecimento. O poder de referência tem como base a identificação de uma pessoa com determinados recursos ou traços pessoais desejáveis. Trata-se da admiração que uma pessoa tem pela outra e, por isso, esta última torna-se referência ou modelo para a primeira. As bases do poder de talento e do poder de referência emanam das qualidades pessoais. No poder carismático, a fonte é o carisma, que é a capacidade de influenciar devido à força de características heroicas percebidas pelos outros. Segundo ROBBINS (2005), a chave para o poder é a relação de dependência. Essa dependência aumenta quando um recurso é importante, escasso e não substituível. Por exemplo, quando ninguém quer o recurso que você possui, não ocorrerá a dependência. Quanto menos substitutos tiver um recurso, maior será o poder de gerar dependência. Bases da influência e poder interpessoais e como podem ser usadas Base Utilização Experiência Fornecer informação Referência Fazer com que os trabalhadores gostem de você. Legitimidade Obter um alto cargo ou escalão. Recompensa Dar recompensas pela conformidade. Coerção Punir a não conformidade. O efeito negativo do uso do poder de recompensa é que os trabalhadores podem ser acostumar a isso e só cumprir atividades mediante recompensas. As consequências negativas do poder coercitivo podem ser percebidas pelas atitudes de irritação daqueles que foram punidos (SPECTOR, 2005). Quando aplicadas adequadamente, as diferentes formas de poder podem servir como ferramentas para melhorar a produtividade, a satisfação e o funcionamento das organizações. Porém, existe o lado disfuncional do poder, isto é, o lado destrutivo (SPECTOR, 2005). Exemplos disso podem ser: abuso de poder dos executivos, por meio da perseguição dos trabalhadores; executivos com estilo de liderança dura e inflexível, que priorizam apenas os negócios sem considerar as pessoas. Outro aspecto negativo é o abuso de poder por meio do assédio moral e do assédio sexual. O assédio moral, ou violência moral no trabalho, é a exposição dos trabalhadores “a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivase prolongadas durante a jornada de trabalho e nos exercícios de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias”, desumanas e aéticas, que podem desestabilizar a vítima. (BARRETO, 2000) Os comportamentos que caracterizam o assédio sexual são: “a) propostas e pedidos sexuais mal recebidos; b) contato físico indesejado; c)uso de linguagem ofensiva; d) constantes convites para encontros amorosos; e) ameaças de punição pela recusa aos pedidos.” (SPECTOR, 2005) . Táticas de poder e sua utilização Táticas de Poder Utilização Legitimidade Uso da autoridade da posição. Persuasão racional Uso de argumentos lógicos e evidencias baseadasem fatos. Apelo inspirado Criação de comprometimento emocional, apelando a valores, necessidades, esperanças e aspirações. Consulta Envolvimento da pessoa na tomada de decisão. Troca Uso de recompensas. Apelos pessoais Pedido de apoio em nome da amizade ou da lealdade. Insinuação Uso de elogios e mostrar-se amigável antes de fazer um pedido. Pressão Exercer pressão mediante avisos, repetidão de pedidos ou ameaças. Coalizão Obtenção de apoio de outras pessoas, formando agrupamentos com o propósito de buscar um só objetivo. As consequências do uso do poder podem ser percebidas por meio da manifestação de conflitos. Conflito é “o processo que tem inicio quando uma das partes percebe que a outra afeta – ou pode afetar – negativamente alguma coisa que a primeira considera importante” (ROBBINS, 2005). Na visão tradicional, entre as décadas de 1930 e 1940, o conflito era percebido como uma disfunção que resultava de falhas de comunicação falta de abertura e confiança nos relacionamentos e do fracasso dos executivos. Do final da década de 1940 até a metade dos anos 1970, a visão predominante era a de relações humanas: o conflito acontecia naturalmente nos grupos e nas organizações e não podia ser eliminado, pois em alguns momentos trazia benefícios ao desempenho dos trabalhadores. Segundo a, que é a atual, os conflitos podem ser funcionais ou disfuncionais. Os conflitos funcionais são formas construtivas de conflito e os disfuncionais são formas destrutivas. Os conflitos podem ser classificados em conflitos de tarefa, de relacionamento e de processo. O conflito de tarefa relaciona-se ao conteúdo e aos objetivos do trabalho. O conflito de relacionamento refere-se às relações interpessoais. O conflito de processo relaciona-se à forma como realiza o trabalho. Os conflitos de relacionamento, na maioria das vezes disfuncionais porque o atrito e as hostilidades aumentam os choques de personalidade e podem impedir os resultados positivos do trabalho. Níveis reduzidos de conflito de processo e níveis baixos e moderados de conflito de tarefa são funcionais (ROBBINS, 2005). Técnicas de gestão de conflitos Principais técnicas de gestão de conflitos Resolução de problemas Encontros entre as partes conflitantes com o propósito de identificar o problema e resolvê-lo por meio de uma discussão aberta. Metas superordenas Criação de uma meta compartilhada que não possa ser atingida sem a cooperação entre as partes conflitantes. Expansão de recursos Quando o conflito é causado pela escassez de um recurso – dinheiro, oportunidades de promoção ou espaço físico de trabalho -, a expansão desse recurso pode criar uma solução ganha-ganha. Não enfretamento Suprir o conflito ou evadir-se dele. Suavização Minimizar as diferenças entre as partes conflitantes ao enfatizar seus interesses comuns. Concessão Cada uma das partes abre mão de algo valioso. Comando autoritário A administração usa sua autoridade formal para resolver o conflito e depois comunica seu desejo às partes envolvidas. Alteração de variáveis humanas Utilização de técnicas de mudança comportamental, como treinamento em relações humanas, para alterar atitudes e comportamentos que causam conflitos. Alteração de variáveis Mudança na estrutura formal da organização e nos padrões de interação entre as partes conflitantes, por meio de redesenho de atribuições, transferências, criação de posições coordenadas e outros. Os conflitos são construtivos quando representam um desafio para os trabalhadores, repercutindo em melhor qualidade da tomada de decisões, estímulos à criatividade inovação. Os conflitos podem ser gerenciadospara torna-los construtivos. Técnicas de estimulação de conflitos Comunicação Utilização de mensagens ambíguas ou ameaçadoras para aumentar níveis de conflitos. Inclusão de estranhos Incluir novos grupos de trabalho, funcionários com históricos, valores, atitudes ou estilos gerenciais diferentes daqueles dos seus membros. Reestruturação da organização Realinhamento dos grupos de trabalho, alteração de regras e regulamentos, aumento da interdependência e outras mudanças estruturais similares que rompam o status quo. Nomeação de um advogado do diabo Designação de um crítico de discuta, propositalmente, as posições defendidas pela maioria do grupo. 5. Conclusão Assim como explica STEINBERG (2003), não se pode supor que praticar boa governança corporativa implique somente seguir regulamentos e normas. A governança corporativa deve estar pautada na qualidade das atitudes e nos valores éticos e morais, que devem estar alinhados entre todas as pessoas envolvidas, proprietários, acionistas, controladores e stakeholders. As relações conflituosas entre as organizações e todas as pessoas envolvidas precisam ser resolvidas para se criar condições melhores de trabalho e de relacionamento social, melhorando os aspectos psicossociais do trabalho, pois contribuição para os resultados e o sucesso da organização. QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. A OMS considera, na avaliação da qualidade de vida de uma pessoa, o domínio físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, do meio ambiente e aspectos espirituais. (FLECK, 1999). Portanto, entende-se que a qualidade de vida é um conceito subjetivo, varia de pessoa para pessoa e abrange a pessoa como totalidade. Qualidade de vida e QVT são dois conceitos interligados. QVT : Definição Para Davis, QVT refere-se “a preocupação com o bem-estar geral e a saúde dos trabalhadores no desempenho de suas tarefas”. Compreende que QVT é “o conjunto das escolhas de bem- estar único e individualizando de proporciona autoestima, positiva, percepção de equilíbrio, hábitos saudáveis e prontidão para desempenho no trabalho saudável” (LIMONGI-FRANÇA, 2009). A proposta básica da QVT é “desenvolver ambientes de trabalho que sejam tão bons para as pessoas como para a saúde econômica da organização” (DAVIS; NEWSTROM, 1996) Nesse sentido, a tentativa QVT é conhecer os pontos favoráveis e desfavoráveis do ambiente de trabalho, para torna-lo mais humanizado, equilibrando as necessidades tanto da organização como dos trabalhadores. Alguns aspectos da QVT são ressaltados por CHIAVENATO (2004): a) A assimilação de dois aspectos antagônicos: de um lado a reivindicação dos trabalhadores quanto ao bem-estar e a satisfação no trabalho e, por outro lado, o interesse das organizações sobre os impactos positivos, que resultem em produtividade e qualidade. b) Esse conceito implica profundo respeito da organização pelas pessoas que nela trabalham. c) AQVT está relacionada à motivação e à satisfação dos trabalhadores. d) Para obter a satisfação do cliente externo, é necessário que o cliente interno (trabalhadores), esteja satisfeito, o que dá a entender que investir no cliente interno é investir no cliente externo. Teoricamente, há diversos modelos de QVT que sevem de parâmetros para as organizações. 1.2 QVT: Modelos Os três modelos mais conceituados de QVT são os de WALTON (1973), HACKMAN e OLDHAM (1975), e NADLER e LAWLER (1983). 1.2.1 Modelo de Walton Para Walton, citado por Chiavenato (2004), existem oito fatores que afetam a QVT: 1. Compensação justa e adequada é o equilíbrio entre a equidade da remuneração da organização com a equidade domercado de trabalho. 2. Condições de seguranças e saúde no trabalho adequado à saúde e ao bem-estar do trabalhador. 3. Use e desenvolvimento de capacidades do trabalhador, para satisfazer necessidades de desenvolvimento da autonomia, autocontrole e obtenção de informações, além de feedback sobre o seu desempenho. 4. Oportunidade de crescimento contínuo e segurança para possibilidades de carreira, crescimento e desenvolvimento pessoal e de segurança. 5. Integração social, eliminando barreiras hierárquicas, oferecendo apoio mútuo e relacionamento interpessoal baseado na fraqueza e na ausência de preconceito. 6. Trabalho e espaço total de vida para que o trabalhador possa equilibrar trabalho, lazer e atividades comunitárias. 7. Constitucionalismo, isto é, estabelecimento de normas e regras, direitos e deveres, recursos contra decisões arbitrárias e desenvolvimento de clima democrático na organização. 8. Relevância social da vida no trabalho, ou seja, a organização deve criar e manter uma boa imagem perante a sociedade, responsabilidade social e boas práticas para promover orgulho aos seus trabalhadores. Modelo de QVT de Walton: os oitos fatores e suas dimensões Fatores de QVT Dimensões 1. Compensação justa e adequada 1. Renda (salário) adequada ao trabalho 2. Equidade interna (compatibilidade interna) 3. Equidade externa (compatibilidade externa) 2. Condições de segurança e saúde no trabalho 4. Jornada de trabalho 5. Ambiente físico (seguro e saudável) 3. Utilização e desenvolvimento de capacidades 6. Autonomia 7. Significado da tarefa 8. Identidade da tarefa 9. Variedade de habilidades 10. Retroação e retroinformação 4. Oportunidade de crescimento e segurança 11. Possibilidade de carreira 12. Crescimento profissional 13. Segurança do trabalho 5. Integração social na organização 14. Igualdade de oportunidades 15. Relacionamentos interpessoais e grupais 16. Senso comunitário 6. Garantias constitucionais 17. Respeito às leis e aos direitos trabalhistas 18. Privacidade pessoal 19. Liberdade de expressão 7. Trabalho e espaço total de vida 21. Papel balanceado do trabalho na vida pessoal 8. Relevância social no trabalho 22. Imagem da empresa 23. Responsabilidade social pelos produtos/serviços 24. Responsabilidade social pelos empregados 1.2.2Modelo de Hackman e Oldhan Conforme CHIAVENATO (2004), as dimensões de cargo produzem estados psicológicos que conduzem a resultados pessoais e profissionais que afetam a QVT. Essas dimensões do cargo são: 1. Variedade de habilidades – o cargo deve exigir diversas habilidades, conhecimentos e competência do trabalhador. 2. Identidade da tarefa – todo o processo de trabalho (do início ao fim) deve ser realizado por um trabalhador, para que ele possa perceber que produz um resultado palpável. 3. Significado da tarefa – o trabalhador deve perceber como o seu trabalho produz consequências e impactos sobre o trabalho das pessoas. 4. Autonomia – o trabalhador deve ter responsabilidade pessoal para planejar e executar, autonomia própria e independência para realizar uma tarefa. 5. Retroação do próprio trabalho – deve haver feedback sobre a tarefa, para que o trabalhador possa autoavaliar o seu desempenho. 6. Retroação extrínseca – o trabalhador deve receber feedback proporcionado pelos superiores hierárquicas e/ou clientes sobre o desempenho. 7. Inter-relacionamento - a tarefa deve possibilitar contato entre seus colegas de trabalho e/ou clientes externos. 1.2.3 Modelo de Nadler e Lawler CHIAVENATO (2004) aponta aspectos fundamentais desse, modelo: 1. Participação dos trabalhadores na tomada de decisão. 2. Enriquecimento de tarefas de grupos autônomos de trabalho. 3. Sistema de recompensas para influenciar o clima organizacional. 4. Melhoria das condições físicas e psicológicas do ambiente de trabalho. Segundo autores, à medida que esses quatro aspectos vão sendo implementados, a melhoria da QVT vai se ampliando. A aplicação desse modelo pode ser percebida na prática do trabalho em equipe, em que as organizações compartilham a tomada de decisões com seus profissionais. Esse fato pode gerar autonomia das equipes, melhorar as condições físicas e psicológicas do ambiente de trabalho e ampliar o sistema de recompensa. 1.3 QVT: Gestão de Riscos e Salubridade LIMONGI-FRANÇA (2008) de que toda pessoa é complexa biopsicossocial, isto é, com potencialidades biológicas (com características físicas herdadas ou adquiridas), psicológicas (com processos afetivos e emocionais de raciocínio, conscientes ou inconscientes, que estruturam a personalidade) e sociais (interação nas relações interpessoais e o ambiente). As práticas organizacionais devem ser direcionadas para mantes as pessoas saudáveis e proporcionar-lhes bem-estar no sentido biopsicossocial, tanto nos aspectos de recuperação como na proteção e na promoção da saúde. As práticas de recuperação são desenvolvidas para recuperação são desenvolvidas para recuperar as pessoas já doentes. As práticas de proteção da saúde objetivam prevenir a exposição das pessoas a agentes nocivos (uso de equipamento de proteção individual – EPI, por exemplo). As práticas de promoção de saúde têm também a preocupação de prevenir doenças. Esse bem-estar deve referir-se à manutenção íntegra como pessoa, cidadão profissional. O desafio para as organizações é “reconstruir, com bem-estar, o ambiente competitivo, altamente tecnológico, de alta produtividade do trabalho, e garantir ritmos e situações ecologicamente corretas” (LIMONGI- FRANÇA, 2008). Portanto, preocupar-se com a QVT, mantendo-a sob controle, é gerir riscos, mantendo a salubridade, isto é, um ambiente que proporcione e privilegie a saúde no sentido biopsicossocial. Vale ressaltar a conceitualização abrangentes de saúde, que inclui componentes físicos, mentais, sociais e psicológicos do bem-estar, que foi proposta por RYFF e SINGER e é composta por quatro elementos centrais: “1)viver uma vida com propósito; 2)ligações de qualidade com outras pessoas; 3)autoestima positiva e autodomínio; 4)percepção de acontecimentos negativos como caminhos para o sentido e o propósito”. Esses elementos são comuns entre as diversas culturas. Além dos riscos q a que estão sujeitas as pessoas, há outros riscos aos quais estão sujeitas as organizações: 1) contaminação de produto; 2) danos a terceiros; 3) morte de colaboradores; 4) danos ao meio ambiente; 5)explosões; e 7)roubos e fraudes. As principais consequências podem envolver: 1) riscos à vida; 2) perda de clientes; 3) perda de credibilidade; 4) queda nas vendas; 5) prejuízos à imagem organizacional; 6) paralisação das atividades; 7) prejuízos financeiros e 8) demissões (RIBEIRO, 2005). 1.4 QVT: Carga Horária de Trabalho A Constituição Federal de 1988 fixou a jornada normal de trabalho em 44 horas semanais, sendo 8 horas diárias. A carga horária ou jornada normal de trabalho é o espaço de tempo em que um trabalhador presta serviço ou permanece disponível para o empregador. Quando o trabalhador faz turnos ininterruptos de revezamento, a jornada deverá ser de 6 horas. A redução dessa carga horária poderá ser feita de comum acordo entre empregador e empregado, através da convenção coletiva ou por lei (Central Jurídica, 2010). Características Aversivas do Trabalho em Turnos Fatores de QVT Dimensões Inconveniências Regularidade Número médio de mudanças nos tempos de início dos períodos de trabalho durante a semana. Agitação, queixas de nervosismos, constipação. Periodicidade Média semanal da soma do número acumulado de turnos noturnos sucessivos, mais a metade do número deturnos da tarde sucessiva acumulados. Problemas de sono, queixas de fadiga, problemas digestivos, intestinais. Carga por turno Duração média do turno em horas. Fadiga, sensações de sobrecarga. Carga por semana Tempo médio de trabalho semanal em horas. Fadiga, sensações de sobrecarga. Oportunidade de descansar à noite Número médio semanal de horas de trabalho entre 23 e 7 horas. Problemas para dormir, insônia, fadiga, queixas de nervosismo. Fatores de QVT Dimensões Inconveniências Previsibilidade Tempo do ciclo em semanas. Problemas de planejamento/coordenação. Oportunidade para tarefas domésticas e familiares Número médio semanal de horas de folga de segunda a sexta-feira entre as 7 e as 19 horas. Frustação no papel de parceiro/genitor, queixas quanto à eliminação das tarefas domésticas. Regularidade de oportunidade para tarefas domésticas e familiares Coeficiente de variação de oportunidade semanal para tarefas domésticas e familiares. Falta de continuidade no papel de parceiro/genitor e em tarefas domésticas. Oportunidade de recreação noturna Número médio semanal de horas de folga de segunda a sexta-feira entre as 7 e 23horas. Falta de continuidade no papel de parceiro, limitação de atividades sociais e recreacionais. Oportunidade de recreação no final de semana Metade do número de dias de folga durante o fim de semana por semana. Limitação das atividades sociais e recreacionais. Regularidade de oportunidade para recreação no fim de semana Coeficiente de variação do número de dias de folga durante o fim de semana por semana. Falta de continuidade nas atividades sociais e recreacionais. GUIMARÃES e TEIXEIRA (2004) citam resultados de pesquisas sobre os efeitos do trabalho em turnos na saúde mental do trabalhador: a)desconforto ou problemas de saúde; b) distúrbios do sono; c) distúrbios gastrintestinais; d) distúrbios cardiovasculares e psíquicos; e) distúrbios neuropsíquicos; f) disfunções reprodutivas; g) vulnerabilidade a depressão; h) risco de acidentes; i) prejuízos na vida social, principalmente na vida familiar e j) consumo de álcool e drogas. 1.5 QVT: Ergonomia Quatro aspectos são comuns à ergonomia: 1) a aplicação dos estudos envolvendo a ergonomia; 2) o uso do conhecimento de várias disciplinas, tornando a ergonomia multidisciplinar; 3)o fundamento nas ciências e 4) a concepção do trabalho como objeto. A ergonomia é uma “atitude profissional” que se agrega à prática profissional. (ANDRADE; GUIMARÃES, 2004). Desde agosto de 2000, a Associação Brasileira de Ergonomia (IEA, online) adotou a definição oficial internacional de ergonomia ( ou fatores humanos): “é uma disciplina cientifica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos, a projetos a fim de otimizar o bem-estar e o desempenho global do sistema.” Os ergonomistas têm papel relevante no “planejamento, projeto e avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidade e limitações das pessoas”. Como afirma GUIMARÃES (2004), a ênfase que se dá à QVT, na atualidade, corresponde a humanizar o ambiente de trabalho, buscando maior equilíbrio entre trabalho e lazer, com a finalidade de proporcionar bem-estar em todos os ambientes em que se insere o trabalhador. Ter profissionais saudáveis e competentes é uma condição para a eficácia do trabalho e é essencial à preservação da saúde mental e à preservação de doenças ocupacionais. 1.6 QVT: Doenças Ocupacionais São doenças adquiridas ou desencadeadas durante o exercício profissional. Segundo o Ministério da saúde (BRASIL, 2006), que elaborou o protocolo de atenção integral às LER/DORT, tem sido alta prevalência de doenças como as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT). A lei nº 8.213, referente aos benefícios da Previdência Social, estabelece, em seu artigo 20, que doença profissional é aquela adquirida ou desencadeada em decorrência doe exercício do trabalho e que consta da relação elaborada pelo Ministério do trabalho e da Previdência Social. Exemplos: problemas da coluna. A doença do trabalho é aquela adquirida ou desencadeada em decorrência de condições especiais em que o trabalho é realizado, e as ele se relacione diretamente, e que conste da mesma relação citada anteriormente. Exemplos: dermatose causada pelo cimento e alergias. Não são consideradas doenças de trabalho: a doença degenerativa, a que acomete grupo etário e aquela que não produza incapacidade laborativa. Tanto a doença profissional como a doença do trabalho são consideradas acidentes do trabalho. 2. Estresse organizacional e Saúde Ocupacional Segundo Guimarães, Coelho e Caetano, “o ritmo cada vez mais acelerado da onda econômica vem se traduzido em maior estresse sobre a legião de assalariados no mundo inteiro”. O estresse pode ser definido como “uma reação do organismo com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça feliz”. (LLIP, 1996 apud VIEIRA; GUIMARÃES; MARTINS; 2003). Os estressores, isto é, “os estímulos que são gerados no trabalho e têm consequências físicas ou psicológicas negativas para um grande número de pessoas expostas a eles” (MUCHINSKY, 2004), classificam-se em dois tipos principais: o conteúdo das tarefas e as características sociais. Relacionamento ao conteúdo das tarefas, podem ser considerados estressores: a) repetitividade das tarefas, monotonia e atenção constante; b) trabalho em turnos; e c) ar condicionado nos ambientes de trabalho. Associados às características sociais do trabalho, os estressores podem ser: a) conflitos de papéis, isto é, as diferenças de percepção relacionadas ao conteúdo do papel de trabalhador ou relacionada à sua importância; b) sobrecarga de papéis; e c) relações interpessoais. As relações ao estresse podem ser fisiológicas, psicológicas e comportamentais. Dentre as reações fisiológicas, estão: os sistemas cardiovasculares e sintomas gastrintestinais. As reações psicológicas envolvem estados afetivos como raiva, frustação, hostilidade e irritação, além de reações mais passivas como tédio, colapso por exaustão, fadiga e depressão. As rações comportamentais incluem cinco categorias: 1) papel do trabalho (desempenho no cargo, acidentes, uso de drogas no trabalho); 2) comportamento antissocial no trabalho (furtos, danos intencional); 3) fuga do trabalho: absenteísmo , rotatividade; 4) degradação de outros papéis da vida do trabalhador: agressões aos familiares e 5) comportamentos prejudiciais, como abuso de álcool e drogas. O estresse costuma afetar a performance profissional e também os outros papéis vividos, além de causar prejuízos à saúde. Por outro lado, também o estresse não relacionado ao trabalho pode afetar atitudes e comportamentos no ambiente de trabalho. A gestão do estresse pode ser obtida por meio da redução dos efeitos do estresse gerado no trabalho. São importantes os programas que reduzem o estresse ocupacional e, consequentemente, aumenta a saúde. Métodos para reduzir o estresse no local de trabalho - Reduzir tanto quanto possível os estressores físicos no trabalho, com barulho, iluminação agressiva, aglomeração, extremos de temperaturas e outros. - Minimizar a imprevisibilidade e a ambiguidade nas tarefas e nos níveis de desempenho esperados. - Envolver tanto quanto possívelos trabalhadores em decisões importantes que possam afetar o estresse no local de trabalho (por exemplo, controle sobre certas características do emprego, como a ordem e o ritmo em que certas tarefas são realizadas). - Tomar as tarefas do emprego tão interessantes e gratificantes quanto possível. - Oferecer dependências sociais e recreacionais aos trabalhadores, para desenvolver e promover apoio social significativo, durante períodos de intervalo, hora do almoço e tempo livre depois do expediente. - Oferecer recompensas tangíveis para os trabalhadores por bom desempenho (por exemplo, recompensas monetárias como bônus, folgas e outras). - Treinar os supervisores para monitorar sinais potenciais de estresse (por exemplo, apatia, raiva, absenteísmo, monotonia, negligência) e então intervir antes que o estresse se torne problemático. A expressão saúde ocupacional está associada ao “conjunto de questões que afetam o bem- estar mental, emocional e físico dos funcionários em seu trabalho”, não incluindo, diferente, a área da medicina, mas as questões médicas e psicológicas podem influenciar a compreensão da interação entre a vida pessoal e profissional (MUCHINSKY, 2004). Numa perspectiva global, a saúde mental engloba cinco principais componentes: 1) bem-estar afetivo; 2) competência nas diferentes esferas de atividades; 3) autonomia, que é a capacidade de uma pessoa enfrentar as influências ambientais; 4) aspiração, mediante estabelecimento de metas e esforços para alcançá-las; e 5) funcionamento integrado da pessoa como um todo. Para compreender como os ambientes afetam a saúde mental, WARLL (1997) identificou nove fatores determinantes da sensação de bem-estar proveniente do trabalho: 1) oportunidade que o ambiente de trabalho oferece para controle das atividades e dos acontecimentos. 2) oportunidade de aplicação e desenvolvimento de habilidade; 3) metas ou desafios a alcançar; 4) variedade de metas e atividades; 5) transparência organizacional, incluindo feedback; 6) disponibilidade de dinheiro (a presença de dinheiro não garante a saúde mental, mas a sua ausência afeta a saúde psicológica); 7) segurança física; 8) oportunidade de contatos interpessoais e 9) valorização da posição na estrutura social. Observa-se que WARR engloba nesses componentes o bem-estar mental, emocional e físico. Quando se aborda a saúde ocupacional, refere-se a um dos processos de gestão de pessoas que é o de manter pessoas trabalhando, incluindo a Higiene do Trabalho. Esse processo está relacionado com as condições do ambiente e trabalho para assegurar a saúde física e mental e o bem-estar dos trabalhadores. (CHIAVENATO, 2004). 3. Indicadores de Qualidade de Vida no Trabalho Indicadores são ferramentas de planejamento e decisão cuja finalidade é permitir “clareza de critérios, objetividade de avaliação, facilidade de levantamento de informações, visibilidade de dados, efeitos determinadas ações” (LIMONGI-FRANÇA, 2009). As ferramentas diagnósticas de promoção da saúde integrada à QVT, a partir dos anos de 1990, são: a) pesquisa de clima organizacional; b) equipes temáticas para melhorias; c) comissões de qualidade de vida; d) relatórios médicos: e) índices de absenteísmo; f) mapeamento do perfil sociofamiliar; g) agrupamento de compensações e benefícios; h) pesquisa de opinião junto à comunidade; i) cumprimento de exigências legais; j) avaliações de satisfação e desempenho de clientes internos e externos sobre determinado produto ou serviço de qualidade de vida; k) campanhas educativas e l) programas de incentivos (LIMONGI-FRANÇA, 2009). 3.1 Avaliação da QVT LIMONGI-FRANÇA argumenta que integrar promoção de saúde e QVT é, na atualidade, um desafio político e organizacional. Trata-se de “desafio político pela ausência de valores, estratégia, metas e agenda” (LIMONGI-FRANÇA, 2009); e de desafio organizacional devido aos enxugamentos, sobrecarga e atividade e, por isso, não priorizado a promoção da saúde integrada à QVT. A autora propõe o modelo integral de análise biopsicossocial e organizacional (BPSO), estruturado com as seguintes: 1) biológica (questões relacionadas ao biótipo, aspectos nutricionais, saúde e segurança; 2) psicológica (interesses, características de personalidade, memoria, afetos e características de satisfação e confiança); 3) social (grupos, hábitos de consumo, características familiares, escolaridade) e 4) organizacional (cultura, valores e práticas de gestão). Essa visão “associa-se à ética e à promoção da condição humana” (LIMONGI-FRANÇA, 2009). Demandas Atendidas pela Visão Integral BPSO - Identificação, eliminação, neutralização, controle dos riscos ocupacionais observáveis no ambiente físico. - Definição de padrões de relações de trabalho. - Conhecimento e avaliação da carga física e mental requerida para cada atividade. - Esclarecimento e orientação sobre as implicações políticas e ideológicas. - Qualificação da dinâmica da liderança empresarial e do poder formal ou informal. - Consciência do significado do trabalho em si. Valorização do relacionamento e satisfação das pessoas no seu dia a dia. Indicadores Empresariais de Gestão da QVT Critérios Foco Organizacional Imagem, treinamento e desenvolvimento, processo e tecnologia, comitês de decisão, ausência de burocracia, rotinas de pessoal. Biológico Semana interna de prevenção de acidentes, controle de riscos ergonômicos – PPRA, ambulatório medico, ginástica laboral, refeições (refeitório), saúde – PCSO, comissão-CIPA. Psicológico Recrutamento e seleção, avaliação do desempenho, camaradagem – clima organizacional, carreira, salário, vida pessoal. Social Convênios comerciais, tempo livre – lazer, filhos, cesta básica, previdência privada, financiamento de cursos. A QVT, “como elemento de gestão organizacional e de desempenho no trabalho, dá consistência para o trabalho sustentável [...] gerando condição econômica e financeira para a sobrevivência própria, de seus dependentes e da comunidade” (LIMONGI-FRANÇA, 2009). Ciclo Virtuoso do Trabalho Sustentável Os 65 indicadores do QELQ-78 foram classificados em quatro domínios: 1) físico/saúde (aspectos relacionados com saúde, doenças provenientes do exercício profissional e hábitos saudáveis); 2) psicológico (aspectos relativos à satisfação pessoal, motivação no trabalho e autoestima); 3) pessoal (aspectos familiares, crenças pessoais e religiosas, aspectos culturais que influenciam o trabalho) e 4) profissional (aspectos organizacionais que influenciam a qualidade de vida). 3.2 QVT: Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ) A QVT é considerada tão importante, que é contemplada como um dos critérios de excelência do PNQ. Para disseminar os conceitos da Excelência em Gestão, visando ao aumento da competividade das organizações. Portanto, a qualidade de vida, também é privilegiada no PNQ, sugerindo que as organizações observem os seguintes aspectos: 1. Como são identificados e tratados os riscos relacionados à saúde ocupacional, segurança e ergonomia. 2. Como são identificados e tratados os fatores que afetam o bem-estar, a satisfação e o comprometimento das pessoas. 3. A apresentação dos principais serviços, benefícios, programas e políticas disponíveis à força de trabalho para manter um clima organizacional favorável. 4. Como a organização colabora para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores fora do ambiente organizacional e como as ações são desenvolvidas. 5. Como a satisfação das pessoas avaliadas. A Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) também sugere oito critérios rumo à excelência: 10 liderança (examina a Governança Corporativa; 2) informações e conhecimentos; 3) processos;4) estratégias e planos; 5) pessoas; 6) clientes; 7) sociedade e 8) resultados. Segundo FNQ, as pessoas devem estar capacitadas e satisfeitas, atuando em ambiente propício à cultura da excelência para executar e gerenciar adequadamente os processos, criando valor aos clientes e aperfeiçoando o relacionamento com os fornecedores. Tem Expectativas Priorizadas Efetiva a Sobrevivência Gera Credibilidade Capacita e realiza Integra Socialmente RESPOSANBILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL (RSE) Parte-se da percepção de que, por si só, o capital não produz resultados, pois sem recursos naturais e sem o poder de realização dos seres humanos, a empresa não é produtiva. Karkotli e Aragão (2008) identificaram os vários parceiros com os quais uma empresa mantém relações de trocas de influências. A empresa, compreendida dessa forma, “não é uma entidade independente e o capital por si só não produz riquezas”. A empresa e seus parceiros Parceiros Contribuições Demandas básicas Acionistas Capital Lucros e dividendo Preservação do patrimônio Empregados Mão de obra Criatividade Ideias Tempo Remuneração justa Condições adequadas de trabalho Segurança, saúde e proteção. Reconhecimento, realização pessoal Fornecedores Mercadorias Respeito aos contratos Negociação leal Parceria Clientes Dinheiro Segurança e boa qualidade dos produtos e serviços Preço acessível Atendimento de necessidades/desejos Concorrentes Competição Referencial de mercado Lealdade na concorrência Propaganda honesta Governo Suporte institucional, jurídico e político. Obediência às leis Propagandas de tributos Grupos e movimentos Aportes socioculturais diversos Proteção ambiental Respeito aos direitos das minorias Respeito aos acordos salariais Comunidade Infraestrutura Respeito ao interesse comunitário Contribuição para a melhoria da qualidade Conservação dos recursos naturais. Portanto, gerir uma organização não significa apenas cumprir normas e regulamentos exigidos em nível nacional e internacional, mas adotar valores e estratégias de negócios que considerem todos os seus parceiros, no sentido de agregar-lhe valor, pois eles agregarão valor aos negócios da empresa. O verdadeiro significado do conceito de responsabilidade social é o de “contribuir para que haja maior equidade social, ética e respeito para com as gerações presentes e futuras, nas dimensões e necessidades do desenvolvimento econômico e social sustentado” (KARTKOTLI; ARAGÃO, 2008). Alguns exemplos de condutas éticas e práticas internas de responsabilidade social são considerados por Karkotli e Aragão: “adoção de elevados padrões de condutadas pessoais para com acionistas, executivos e colaboradores; remuneração justa, valorização de talentos e do esforço individual dos profissionais; participação nos resultados; incentivo ao desenvolvimento pessoal; qualidade de vida, comunicação transparente, honestidade, cooperação, utilização adequada dos recursos necessários à produção. (KARTKOTLI; ARAGÃO, 2008). Exemplos de condutas éticas e praticas externas de responsabilidade social também são citados pelos mesmos autores: “parcerias duradores com fornecedores, utilização sustentada de recursos naturais, adoção de medidas para proteção e preservação do meio ambiente, contabilidade honesta e recolhimento justo de tributos; obediência e equidade contratual, preocupação com a segurança, saúde e satisfação de consumidores; envolvimento com a comunidade próxima. (KARTKOTLI; ARAGÃO, 2008). Onze fundamentos que são a base dos critérios rumo à excelência e compromisso com a excelência (2009-2010): 1) pensamento sistemático; 2) aprendizado organizacional; 3) cultura de inovação; 4) liderança e constância de propósitos; 5) orientação por processos e informações; 6) visão de futuro; 7) geração de valor; 8) valorização das pessoas; 9) conhecimento sobre o cliente e o mercado; 10) desenvolvimento de parcerias; e 11) responsabilidade social. Por responsabilidade social, a FNQ entende que é: “a atuação que se define pela relação ética e transparente da organização com todos os públicos com os quais ela se relaciona, estando voltada para o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais como parte integrante da estratégia da organização” (FNQ, 2009). Quando uma organização coloca em prática o conceito de responsabilidade social, ela demonstra: a) reconhecer a sociedade como parte integrante de seu ecossistema; b) compreender o seu papel no desenvolvimento da sociedade; c) respeitar a individualidade, o sentimento coletivo e a liberdade de associação; d) buscar o desenvolvimento sustentável; e) identificar os impactos na sociedade decorrentes de suas ações; f) executar ações preventivas; g) apoiar ações de interesse social (FNQ, 2009). 1.1. Evolução do Conceito de Responsabilidade Social Carnegie baseava-se em dois princípios paternalistas: o princípio da caridade e o princípio da custodia, entendendo os proprietários das empresas como os pais dos empregados e dos clientes. O princípio da caridade exigia que as pessoas mais ricas ajudassem as menos favorecidas (desempregados, inválidos, doentes e idosos) da sociedade. O princípio da custódia exigia que as empresas e os ricos se vissem no papel de guardiões ou zeladores, mantendo suas propriedades em custódia, para beneficiar a sociedade como um todo. Milton Friedman defende que há uma, e apenas uma, responsabilidade social das empresas: usar seus recursos e sua energia em atividades destinadas a aumentar seus lucros, contando que obedeçam às regras do jogo e participem de uma competição aberta e livre, sem enganos e fraudes. Além disso, “as empresas devem produzir com eficiência bens e serviços, e deixar a solução dos problemas sociais para os indivíduos e os órgãos governamentais competentes” (STONER; FREEMAN). Os defensores das ideias de Friedman eram chamados de fundamentalistas, pois acreditavam que as atividades que não visassem o lucro dos acionistas constituíam “desvirtuamento da finalidade da empresa e grave erro de seus administradores” (DUARTE; DIAS, 1986). O conceito de responsabilidade social evoluiu com as teorias que defendiam que os interesses de pessoas e de todos os grupos que exercem influência sobre a empresa, ou são por eles influenciados. Apesar de a abordagem baseada em stakeholders esteja sendo utilizada nas duas ultimas décadas, não há um consenso quanto ao conceito. Stakeholders são pessoas ou grupos que, no presente e/ou no futuro, poderão exercer alguma influencia para afetar o alcance dos objetivos de uma empresa, ou que sofrem ou poderão sofrer consequências das ações organizacionais. A teoria dos stakeholders busca estabelecer como os gestores devem escolher e agir em relação aos vários parceiros para conseguir resultados para manter vantagem competitiva (TEIXEIRA; DE DOMENICO,2008). Hierarquia da importância atribuída aos stakeholders Stakeholders Ordem Clientes 1 Funcionários 2 Proprietários (acionistas) 3 Fornecedores 4 Comunidade (sociedade) 5 Credores (bancos, instituições financeiras) 6 Concorrentes 7 Instituições governamentais 8 Organizações internacionais (ambientais sociais) 9 Ativistas sociais 10 Políticos 11 1.2 Responsabilidade Social Empresarial X Filantropia Um gestor deve saber diferenciar entre o que é SER e o que é filantropia. Quando uma empresa faz doações financeiras esporádicas para alguma instituição, faz campanhas parareceber alimentos, agasalhos e recursos materiais e financeiros para entrega a instituições, não se pode dizer que ela está exercendo o verdadeiro sentido do conceito de responsabilidade social. Também não pode ser considerada responsabilidade social a imagem positiva projetada nas empresas que praticam essas ações. Embora não se possam invalidar essas ações, elas são consideradas filantropias, assistencialistas e de marketing. Para ser considerada socialmente responsável, é necessário que ela se comprometa com o processo de doação, envolvendo-se com a instituição social, desenvolvendo ferramentas de avaliação que possam mensurar os resultados para assegurar que os investimentos sejam transformados efetivamente em melhor qualidade de vida das pessoas. As doações efetuadas pelas empresas devem fazer parte do planejamento estratégico e devem promover distribuição de renda que conduza o país a uma condição de justiça social e garanta os direitos básicos de cidadania (GRAJEW, 2010). 1.3 Sustentabilidade e Responsabilidade Social O conceito de responsabilidade social é associado ao conceito de desenvolvimento sustentável. Segundo Zacharias, “muitas das atividades associadas com a responsabilidade social refletem as três dimensões da sustentabilidade – econômica ambiental e social – conceitos descrito como sustentabilidade”. Para ser sustentável, uma empresa precisa buscar, em todas as suas decisões e práticas, em todos os processos e produtos, e ecoeficiência. Isso que dizer “produzir mais e melhor com menos: mais produtos de melhor qualidade, com menos uso dos recursos naturais” (ALMEIDA, 2002). E precisa ser socialmente responsável. Uma organização que quer ser sustentável precisa incluir o cuidado com o meio ambiente, o bem-estar dos stakeholders e a melhoria contínua da sua própria reputação. Na empresa sustentável, todas as pessoas, independentemente dos níveis hierárquicos, devem preocupar-se em informar, inovar, combater a miséria e gerenciar a reputação (ALMEIDA, 2002). Responsabilidade social pressupõe desenvolvimento com sustentabilidade, isto é, desenvolvimento nas dimensões econômicas, social e do meio ambiente (KARKOTLI; ARAGÃO, 2008). A SER pode ser identificada pelos seguintes aspectos, segundo os mesmos autores: a) Geração de valor para seus agentes internos – proprietários, investidores e colaboradores. b) Geração de valor para a sociedade – governos, consumidores e mercados, ofertando bens ou serviços adequados, seguros e agregados para melhoria da vida da sociedade. c) Prestação de serviços confiáveis. d) Promoção eficaz e transparente para os colaboradores e agentes externos. e) Recolhimento de tributos. f) Racionalização dos recursos naturais e adoção de medidas de proteção e preservação ambiental g) Incentivo à participação de executivos e colaboradores na solução de problemas comunitários. h) Formação de parcerias com órgãos governamentais e da sociedade civil para identificação das deficiências e promoção do desenvolvimento da comunidade em que a empresa está inserida. i) Transação ética em toda a cadeia de relacionamento e stakeholders. 2. Balanço Social e seus Indicadores O balanço social é um instrumento para divulgação da performance de uma empresa, demonstra todas as ações sociais desenvolvidas em um determinado período e contém informações quantitativas e qualitativas. O balanço social é “um conjunto de informações econômicas e sociais, que tem como objetivo demostrar a um número maior de usuários o desempenho econômico e financeiro da empresa e sua atuação em benefícios da sociedade” (KARKOTLI; ARAGÃO, 2008). As formas de divulgação do balanço social podem ser impressas ou inseridas no sítio das empresas. Com o advento das novas tecnologias informacionais, observa-se que as empresas estão disponibilizando o balanço social na internet. Além do titulo de balanço social, encontram-se outros termos para denominar esse instrumento informativo: relatório de sustentabilidade, relatório de sustentabilidade empresarial; balanço social corporativo, relatório social e relatório socioambiental. Algumas empresas estão apresentando como parte integrante do relatório anual. Há três modelos-padrão para elaboração do balanço social: a) modelo do GRI; 2) modelo do Instituo Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e 3) modelo do Instituto Ethos. 2.1 Modelo do GRI A proposta do GRI é orientada para elaboração de balanços sociais que sejam compreensíveis a todos os (KARKOTLI; ARAGÃO, 2008). Essas diretrizes abrangem indicadores econômicos, ambientais, de relações trabalhistas, de direitos humanos, da sociedade e de produtos. 2.2 Modelo do Ibase Em 1997, o sociólogo Herbert de Souza, representante do IBASE, liderou uma campanha nacional para divulgação do balanço social das empresas. Essa iniciativa originou o Projeto de Lei 3.116/1997, tornando obrigatória a publicação do balanço social por empresas privadas com mais de 100 empregados. Em 1998, o IBASE lançou o selo Balanço Social IBASE/Betinho, que era conferido às empresas que utilizavam o modelo IBASE DE balanço social. Segundo informações no sítio do IBASE (2010), o selo está suspenso desde 2008, pois está em fase de avaliação e reformulação. O balanço social é um demonstrativo contendo informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais referentes aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e comunidade. É publicado anualmente e serve como ferramenta estratégica de avaliação da responsabilidade social corporativa. O IBASE (2010) oferece algumas razões para elaborar o balanço social: a) é ético; b) agrega valor; c) diminui os riscos; d) é um moderno instrumento de gestão e de avaliação; e e) é inovador e transformador. 2.3 Modelo do Instituto Ethos O Guia para elaboração de balanço social e relatório de sustentabilidade, desenvolvida pelo instituto Ethos, tem como objetivo “elevar a qualidade, a consistência e a credibilidade dos relatórios das empresas” (INSTITUTO ETHOS, 2007), possibilitando-lhes a inclusão de itens relevantes na elaboração de balanço social e relatório de sustentabilidade. Segundo o Guia, as etapas para elaboração do balanço social são: 1) planejamento e escolha do modelo a ser adotado; 2) designação do grupo de trabalho interno e as partes interessadas (stakeholders) e alinhamento dos objetivos e compromissos com a alta administração e equipes; 3) coleta,. Tratamento e consolidação dos dados; 4) elaboração e análise do texto; 5) checagem e auditoria das informações; 6) publicação e divulgação do relatório; e 7) consulta às partes interessadas sobre a qualidade das informações divulgadas, para melhoria no processo de elaboração doa no seguinte. O processo de elaboração do balanço social precisa estar alinhado aos objetivos estratégicos da organização e deve apresentar dados de desempenho que auxiliem os stakeholders no processo decisório. O guia mostra que grande parte dos indicadores propostos pelo IBASE é contemplada pelo Instituto Ethos. Os indicadores sociais internos são: 1) alimentação; 2) previdência privada; 3) saúde; 4) segurança e saúde no trabalho; 5) educação; 6) cultura; 7) capacitação e desenvolvimento profissional; 8) creches ou auxílio-creche; e 9) participação nos lucros ou resultados. Os indicadores sociais externos incluem: 1) educação; 2) cultura; 3) saúde e saneamento; 4) esporte; 5) combate à fome e segurança alimentar. Dentre os indicadores ambientais estão: 1) investimentos com produção/operação da empresa; 2) investimentos em programas e/ou projetos externos; 3) metas anuais para minimizar resíduos, reduzir o consumo em geral na produção/operaçãoe aumentar a eficácia na utilização de recurso naturais. São recomendados indicadores do corpo funcional: 1) número de empregados ao final o período; 2) números de admissões durante o período; 3) número de empregados terceirizados; 4) número de estagiários; 5) número de empregados acima de 45 anos; 6) número de mulheres que trabalham na empresa; 7) porcentagem de cargos de chefia ocupados por mulheres; 8) número de empregados negros; 9) porcentagem de cargos de chefia ocupados por negros; e 10) número de portadores de deficiência ou necessidades especiais. Quanto ao exercício da cidadania empresarial : 1) relação entre a maior e a menor remuneração na empresa; 2) número total de acidentes de trabalho; 3) se os projetos sociais e ambientais desenvolvidos pela empresa foram definidos por direção, direção e gerencia ou todos os empregados; 4) se os padrões de segurança e salubridade no ambiente de trabalho foram definidos por direção e gerencias, todos os empregados, todos mais CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes); 5) quanto à liberdade sindical, ao direito de negociação coletiva e à representação interna dos trabalhadores, a empresa não se envolve, segue as normas da OIT (Organização Internacional do Trabalho) ou incentiva e segue a OIT; 6) a previdência privada contempla direção, direção ou todos os empregados; 7) a participação dos lucros ou resultados contempla direção, direção e gerencia ou todos os empregados; 8) na seleção dos fornecedores, ou mesmos padrões éticos e de responsabilidade social e ambiental adotados pela empresa não são considerados. São sugeridos; 9) quanto à participação de empregados em programas de trabalho voluntário, a empresa não s envolve, apoia, organiza ou incentiva; 10) número total de reclamações e criticas de consumidores na empresa, no Procon e na Justiça; 11) porcentagem de reclamações e críticas atendidas ou solucionadas; e 12) demonstração do valor adicionado. “A geração de valor é obtida pela receita total, deduzindo os custos de todos os insumos adquiridos de terceiros, bem como do valor das receitas geradas por outros e transferidas para a empresa” (CUSTÓDIO, 2007). O INSTITUTO ETHOS (2010) não recomenda o uso do balanço social em campanhas publicitárias, pois as informações desse documento não são compatíveis com os dados que uma empresa gostaria de expor numa peça de marketing e também aos públicos distintos a que se destinam um balanço social e uma campanha de marketing. 3. Elaboração, Acompanhamento e mensuração de Resultados de projetos de Responsabilidade Social O INSTITUTO ETHOS (2010) ressalta que cumprir a legislação em todos os sentidos já é uma forma de responsabilidade social. Porém, o Manuel de Primeiros Passos em RSE é uma fonte de ideias para qualquer organização que queria ser considerada como socialmente responsável. Os passos iniciais recomendados às empresas, nesse manual, para elaboração, acompanhamento e mensuração dos resultados de projetos de responsabilidade social, são: 1. Missão e visão a) Criar uma declaração da missão e da visão que busque agregar valor a todos os stakeholders, incluindo o meio ambiente. b) Compartilhar essa declaração com alguns funcionários e stakeholders e reescrever, se houver necessidade. c) Reexaminar e revisar periodicamente e declaração. 2. Ética d) Identificar e articular valores éticos claros. e) Usar valores éticos para solucionar dilemas. f) Educar os funcionários sobre ética. g) criar um ambiente de trabalho onde questões possam ser discutidas. h) Incorporar ética nas avaliações de desempenho. 3. Auditoria e prestação de contas; Avaliar regularmente o desempenho da empresa. Obter feedback sobre as primeiras avaliações. Compartilhar sua avaliação. Algumas ideias sugeridas nesse manual para ações da empresa junto à comunidade são: a) oferecer suporte (funcionários voluntários, palestras, eventos) para melhoria da educação nas escolas publicas; b) fazer doações de equipamentos usados ou excedentes na empresa; c) fazer parceria serviços diversos (gestão, materiais didáticos, aconselhamento de carreira; d) abrir a empresa para visitação de estudantes; e) criar intercâmbio para estagio de estudantes; e) oferecer mentores aos estudantes. Em relação à comunidade global: a) envolver-se com a comunidade e fazer desse envolvimento uma prioridade; b) investir na comunidade; c) considerar recrutamento de profissionais nas comunidades carentes; d) identificar e instalar a empresa em comunidades carentes. Em relação a trabalho voluntário: a) disponibilizar informações; b) disponibilizar tempo dos funcionários; c) oferecer apoio financeiro; d) recompensar os funcionários voluntários; e) adotar um projeto voluntário; f) permitir o envolvimento de executivos e gestores; g) mobilizar fornecedores e clientes; h0 fazer parceria com outras empresas. Para filantropia: a) fazer doações de produtos e serviços; b) comprometer-se e fazer doações; c) encorajar a contribuição de funcionários; d) apoiar eventos locais; e) encorajar outros tipos de doações. Em relação a outros projetos comunitários: a) apoiar o comércio local; b) apoiar o consumo no comércio local; c) emprestar instalações da empresa. 3.1 Indicadores de responsabilidade Social Indicadores são ferramentas de planejamento e decisão, cuja finalidade é permitir “clareza de critérios, objetividade de avaliação, facilidade de levantamento de informações, visibilidade de dados, efeitos de determinadas ações” (LIMONGI-FRANÇA, 2009). Indicadores de responsabilidade social são instrumentos que podem ser utilizados por uma organização para direcionar suas estratégias e avaliar a eficácia das metas e ações planejadas, e também identificar as necessidades e melhoria das deficiências das práticas de responsabilidade social. Principais indicadores de responsabilidade social Indicadores Enfoque SA8000 Norma composta por nove requisitos, tendo como referencia os padrões de gerenciamento da qualidade ISO9000 e o padrão de gerenciamento ISO14000. A norma SA8000 segue a estrutura que enfatiza a importância da melhoria continua através de auditagem por órgão independente. Focaliza principalmente a busca de fornecedores éticos, aumentando a cadeia produtiva socialmente responsável. AA1000 Processo direcionado a dar suporte Às organizações no gerenciamento e na comunicação da responsabilidade social. Focaliza as opiniões e necessidades dos stakeholders que devem integrar o processo, orienta o estabelecimento de metas organizacionais que respeitam os interesses de cada parte e sugere indicadores de performance para avaliação dessas metas. Pacto Global Preconiza o comprometimento da empresa através de uma carta de adesão ao grupo de cooperação internacional, visando à promoção dos direitos humanos, trabalho e meio ambiente, através da troca de experiência socialmente responsável. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Ferramenta de diagnóstico organizacional que avalia o estágio m que se encontram as práticas de responsabilidade social nas empresas, facilitando a visualização das ações mais urgentes que devem ser trabalhadas, bem como o posicionamento da organização perante um grupo de benchmark. Balanço Social Demonstra publicamente um conjunto de informações sobre projetos, benefícios e ações sociais dirigidos aos empregados, investidores, acionistas e à comunidade, dando transparência às atividades que buscam melhorar a qualidade de vida para todos. Esse instrumento evidencia a responsabilidade social em valores monetários direcionados às ações sociais, ou seja, apresenta os montantes investidos.
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