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* 1.11- Análise textual: níveis gráfico, fônico, sintático- semântico, inter e extratextual OBJETIVOS: 1. Reconhecer aspectos fônicos, sintático-semânticos e gráficos dos textos. 2. Reconhecer aspectos intertextuais. 3. Reconhecer aspectos extratextuais. * * * * * * TREM DE FERRO Manuel Bandeira Café com pão Café com pão Café com pão Virgem Maria que foi isto maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Café com pão * Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força * ..................................... Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente… * * * * * Para que serve a análise textual? A análise textual é um trabalho de leitura do contexto, o qual leva em conta dados que podem não estar presentes concretamente no texto, mas que são necessários para sua leitura e interpretação. Só se pode chamar de leitor de um texto aquele que faz globalmente as operações de análise, interpretação, percepção do implícito, percepção do jogo de sentidos, crítica, posicionamento. * Mas o que se analisa de um texto? Temas, certamente, mas também suas articulações lógicas, seu gênero, seu tom, suas peculiaridades vocabulares e sintáticas. Analisam-se, também,as circunstâncias de sua enunciação (quem o proferiu, onde, para quem) . Por que analisar é importante? Porque escapa de uma visão estéril, de um lado, e da interpretação não fundamentada, de outro. A análise inicia-se na leitura da estrutura, mas não para aí. Ela fundamenta a interpretação, mas não se realiza nela, não a tem como necessária. * Análise do nível fonológico de um texto Aírton Senna era um ás no volante. Esse texto pode ser lido de duas formas: Aírton Senna era um ás no volante, ou Aírton Senna era um asno volante. Para se compreender a ambiguidade que gera o humor nesse texto, além, é claro, dos conhecimentos de mundo sobre o piloto, sobre sinonímia (ás equivale a exímio, perito e asno equivale a burro), é necessário observar a emissão da sílaba tônica na sequência de sílabas que formam ás + no (= asno). * Com isso, busca-se mostrar que a relação entre uma forma e um sentido não é tão óbvia. O que permite dizer que numa leitura temos uma única palavra (asno) e, em outra, temos duas (ás no) é a diferença de acento. Observe, ainda, o mesmo tipo de fenômeno em brincadeiras informais cotidianas: 1 – Quer café, fresco? (Quer café fresco?) 2 – Vamos comer gente? (Vamos comer, gente?) 3 – Esse doce é pa vê ou pa comê? (pavê) * Análise do nível semântico Uma senhora, superantiquada, recomenda à neta: — Benzinho, há duas palavras que eu quero que você prometa nunca mais dizer. Uma é bacana e a outra é nojenta. Você promete? — Claro, vovó. E quais são as palavras? ............................................................................................. Um português contrata um detetive para seguir a esposa, pois desconfia de adultério. O detetive chega com o relatório: — Sinto informar-lhe, mas sua mulher o trai com seu melhor amigo. O português não teve dúvidas: foi até o quintal e matou o cachorro com dois tiros na cabeça. * Análise do Nível Sintático Duas pessoas caminham lendo lápides em um cemitério, quando se deparam com os seguintes dizeres: AQUI JAZ UM POLÍTICO E UM HOMEM HONESTO. — Nossa, que povo pão-duro! — disse uma delas - Enterrou duas pessoas em um mesmo caixão. O cerne da questão nessa piada decorre do fato de se ler a inscrição como um período simples ou composto. Quem fez a homenagem ao morto afirmou que ele, além de político, era honesto. A ideia de adição ocorreu com as especificações a um mesmo ser. O que está escrito na lápide constitui um período simples. * A leitura feita leva em conta a ideia de adição entre duas orações. Assim, temos coordenadas aditivas com a elipse do verbo na segunda: Jaz um político e (jaz) um homem honesto. Não se pode deixar de assinalar que, ao mesmo tempo existe essa questão sintática e, também, a concepção corrente de que todo político é corrupto. Rir dessa piada significa que a compreendemos, porque compartilhamos desse conhecimento, mesmo que não concordemos com ele. * Poema do nadador A água é falsa, a água é boa. Nada, nadador! A água é mansa, a água é doida, aqui é fria, ali é morna, a água é fêmea. Nada, nadador! A água sobe, a água desce, a água é mansa, a água é doida. Nada, nadador! A água te lambe, a água te abraça a água te leva, a água te mata. Nada, nadador! Senão, que restara de ti, nadador? Nada, nadador. Jorge de Lima * Quando o Bento Porfírio veio a conhecer a prima de Lourdes, ela já estava casada com o Alexandre. Foi só ver e ficar gostando. E ela também. (Guimarães Rosa) .................................................................................................... Não deixe sua cadela entrar na minha casa de novo. Ela está cheia de pulgas. — Laica, não entre nessa casa de novo. Ela está cheia de pulgas. * Análise do nível morfológico Perguntaram ao português: — O que significa a palavra pressupor? Ele respondeu: — Pôr o preço em alguma coisa. Essa piada funciona de forma semelhante àquela sobre Airton Senna. É muito difícil analisar piadas em nível morfológico sem incluir um problema fonológico. A piada sobre Senna poderia ser considerada morfológica, pois apresenta um problema de divisão de palavras. Se há separação, é para destacar os dois domínios, privilegiando um de cada vez. Nessa piada, em nível morfológico, de acordo com a separação feita na cadeia, temos mais ou menos palavras em questão, e isso é um problema de morfologia. Basta pôr em primeiro plano a formação de uma das sequências (preço+ pôr) ao lado de outra (pre+su+pôr) para que se evidencie o que foi exposto. * Expressões e Seu Significado Vocês sabem o real significado destas expressões? Vocês com certeza as usam de forma imprópria. Na realidade, elas significam o seguinte: ABREVIATURA = Ato de abrir um carro de polícia. AÇUCAREIRO = Revendedor de açúcar que vende acima da tabela. ALOPATIA = Dar um telefonema para a tia. AMADOR = O mesmo que masoquista. CAATINGA= Cheiro ruim. DESTILADO = Aquilo que não está do lado de lá. DETERMINA = Prender uma moça. KARMA = Expressão mineira de evitar o pânico. * Aspectos Intertextuais Intertextualidade – um diálogo entre textos; essa interação pode aparecer explicitamente diante do leitor ou estar subentendida, nos mais diferentes gêneros textuais. Para compreender a presença desse mecanismo em um texto, é necessário que a pessoa detenha uma experiência de mundo e um nível cultural significativos. O intertexto só funciona quando o leitor é capaz de perceber a referência do autor a outras obras ou a fragmentos identificáveis de variados textos. Este recurso assume papéis distintos conforme a contextura na qual é inserido. A pressuposta cultura geral relacionada ao uso desse mecanismo literário deve, portanto, ser dividida entre autores e leitores. * Tipos de Intertextualidade: 1. Citação - transcrição de texto alheio, marcada por aspas. Observe, no Hino Nacional Brasileiro, a citação de versos do Poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. DO QUE A TERRA MAIS GARRIDA, TEUS RISONHOS, LINDOS CAMPOS TÊM MAIS FLORES; "NOSSOS BOSQUES TÊM MAIS VIDA,“ "NOSSA VIDA" NO TEU SEIO "MAIS AMORES". * 2. Epígrafe - uma escrita introdutória de outra. A Canção de Exílio, de Gonçalves Dias, apresenta versos introdutórios de Goethe, com a seguinte tradução: “Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na escura fronde os frutos de ouro... Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!” A epígrafe e o poema mantêm um diálogo,pois os dois têm características românticas, pertencem ao gênero lírico e possuem caráter nacionalista. * 3. Paráfrase - a reprodução do texto de outrem com as palavras do autor. Criatura Errante Marcelo Hung Posso até ser essa criatura errante E prefiro ser Posso até ser essa criatura errante E prefiro ser Do que aceitar qualquer opinião Estabelecida sobre tudo Do que aceitar qualquer opinião Estabelecida sobre tudo * Metamorfose Ambulante Raul Seixas Prefiro ser Essa metamorfose ambulante Eu prefiro ser Essa metamorfose ambulante Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo * 4. Paródia - uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Partida De Futebol Skank Bola na trave não altera o placar Bola na área sem ninguém pra cabecear Bola na rede pra fazer um gol Quem não sonhou ser um jogador de futebol? ................................................................................... * Paródia de Partida de Futebol Bola na trave não conectou Bola na área não se navega Bola na rede pra fazer um gol Agora sim conectou .......................................................... * 5. Tradução: transposição, adaptação de um texto de um idioma para outro. 6. Alusão: Machado de Assis é mestre nesse tipo de intertextualidade. Ele foi um escritor que visualizou o valor desse artifício no romance bem antes do Modernismo. No romance Dom Casmurro, ele cita Otelo, personagem de Shakespeare, para que o leitor analise o drama de Bentinho. * Aspectos Intratextuais Intratexto é análise do processo de combinação dos elementos constituintes do texto. Quando se utiliza a técnica da varredura, exploram-se os aspectos intratextuais. Qual o tema? Quais as pressuposições? Ordem do texto – direta ou inversa? Tipos de oração. Modalidade padrão ou coloquialismo? A quem se destina? Tipo de texto - verbal, não verbal? Quando ele foi escrito?
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