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A IMPORTÂNCIA DO PRINCIPIO DA BOA FÉ À LUZ DA CONSTITUIÇÃO NAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS - Artigo Completo CORRETO (4)

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1 
 
 
 
 
A IMPORTÂNCIA DO PRINCÍPIO DA BOA FÉ À LUZ DA CONSTITUIÇÃO NAS 
RELAÇÕES OBRIGACIONAIS 
 
 
COELHO, Edielis1 
BORDINHÃO, Renata2 
 
RESUMO 
 
Nas relações obrigacionais atuais, percebe-se cada vez mais a importância e abrangência do 
principio da boa-fé, que atua especialmente protegendo a dignidade da pessoa humana, o individuo e 
suas expectativas como um todo, tornando-se relevante conhecermos de que forma age este 
principio que possibilita a existência de democracia, solidariedade e justiça entre as partes, valores 
estes tão importantes na sociedade atual. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Com as mudanças do Direito Civil, após a influência sofrida pelos preceitos 
constitucionais, fez-se essa pesquisa com objetivo de analisar principalmente das 
mudanças no direito obrigacional e a sua influência sob a sociedade atual e 
destacando dessa maneira a importância do principio da boa-fé para a preservação 
da dignidade da pessoa humana. 
Com o propósito de expor a presença dos princípios constitucionais no direito 
civil, sobretudo nas relações obrigacionais, dada a importância de tema tão 
abrangente e significativo, nos desperta o interesse de aprofundar o estudo sobre o 
instituto da boa-fé. Tão vastamente exposto em diversos ramos do direito, o qual 
merece devida atenção, para compreendermos sua atuação, de maneira a garantir a 
dignidade da pessoa humana bem como a cordialidade entre as partes. 
A Constituição Federal de 1988 não contempla a boa-fé expressamente, mas 
nem por isso deixa de ser um princípio constitucional essencial em conformidade 
com os princípios da dignidade da pessoa humana, solidariedade, democracia, entre 
outros. Para as relações privadas é importantíssimo que não haja discriminação 
 
1
 Acadêmica do quarto período do curso de Direito da faculdade UNISEP – União Superior do Ensino no 
sudoeste do Paraná. 
ediieliis@hotmail.com 
2
 Acadêmica do quarto período do curso de Direito da faculdade UNISEP – União Superior do Ensino no 
sudoeste do Paraná. 
renata.bordinhao@hotmail.com 
2 
 
 
 
 
entre as partes, ambas agindo com fraternidade, como garantia aos direitos 
fundamentais. Estabelecendo assim que adotando a boa-fé, estará se obedecendo 
não só ao direito civil, do consumidor, dentre outros, mas antes de tudo a Carta 
Magna, fonte maior do ordenamento jurídico brasileiro. 
 
2. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ 
 
Para compreendermos um princípio e sua delimitação, é imprescindível 
buscar suas raízes e as suas fontes. O termo boa-fé emana da expressão “bona 
fides” que significa: fidelidade, confiança, lisura. Encontramos suas raízes no direito 
romano, pois se pode verificar que já na antiguidade os romanos estabeleciam 
princípios na aplicação do direito. 
Consolidava-se a fides romana na relação estabelecida entre a clientela e os 
patrícios, onde os primeiros em troca de proteção e benefícios (fides promessa) 
ficavam sujeitos a determinados encargos de lealdade (fides poder). Assim com o 
passar do tempo à ideia de submissão vai desaparecendo e evolui para o 
entendimento de garantia, através da palavra dada. 
E conforme Reis (2010)3 “ainda em Roma o instituto da boa-fé diluiu-se 
passando a identificar situações jurídicas distintas sem contornos claros quando 
visto de forma isolada”.Mas funcionava como um “poder”, um instituto que permitia o 
juiz no caso concreto pudesse considerar circunstancias não formalmente 
declaradas pelas partes. Assim diz Francisco Amaral apud Teresa Negreiros (1998, 
pag. 40)4: 
 
“Os bonae fidei iudicia eram, precisamente, actiones civiles 
inpersonam (não in rem) cujo iudicium atribuía ao juiz uma grande 
margem de apreciação discricionária, isto é, o poder de estabelecer, 
a seu critério, tudo quanto o demandado devesse dar ou fazer com 
base no principio da boa-fé”. 
 
3REIS, João Emilio de Assis. Boa-fé objetiva: Historicidade e contornos atuais no direito 
contratual. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 80, set 2010. Disponível em: 
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8281>. 
Acesso em 22 de setembro de 2013. 
4
 NEGREIROS, Teresa Paiva de Abreu Trigo. Fundamentos para uma interpretação 
constitucional do principio da boa-fé. 1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. 
3 
 
 
 
 
 
 
 Podemos perceber uma primeira ideia, embora não sendo tão clara e 
delimitada, de uma valoração atribuída ao compromisso firmado nas relações. 
Nesse sentido diz Negreiros (1998, pag.40) “[...] já no direito romano se encontra 
uma noção de boa-fé que admite paralelos significativos com a noção objetiva 
contemplada nos ordenamentos civis contemporâneos”. 
Em 1804foi promulgado o Código Civil Francês, também conhecido por 
Código de Napoleão e previa o que chamamos hoje de boa-fé objetiva em seu art. 
1.134, trazendo um conceito contemporâneo em que “as convenções devem ser 
executadas de boa fé”. 
Sobre o código, aponta Negreiros (1998, págs. 44-45)5: 
 
“Com efeito, ao tempo da promulgação do Code, o principio da boa-
fé estava inteiramente diluído pela presença hegemônica do então 
dogma da autonomia da vontade, servindo como reforço ao 
pactuado, numa concepção diametralmente oposta à configurada 
pelos bona fidei iudicia romanos”. 
 
 
Após a revolução francesa, procurava-se estabelecer normas claras e 
precisas, deste modo a boa-fé, embora prevista expressamente, foi negligenciada 
pelo temor do poder de arbitrariedade do juiz. Assim, demorou para que o principio 
fosse utilizado como um mecanismo de concretização da autonomia da vontade. 
Sobre a boa fé no direito alemão Negreiros (1998 págs. 48-49)6 diz: 
 
“Não é exagero afirmar que os contornos atuais da boa-fé objetiva no 
pensamento jurídico ocidental são resultado direto da doutrina e, 
principalmente, da jurisprudência alemãs. É comumente reconhecido 
que o desenvolvimento da cláusula geral da boa-fé constante do 
BGB pelo Poder Judiciário daquele país foi o principal responsável 
pela difusão do principio em outros sistemas de direito codificado.” 
 
 
 
5NEGREIROS, Teresa Paiva de Abreu Trigo. Fundamentos para uma interpretação constitucional 
do principio da boa-fé. 1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. 
6NEGREIROS, Teresa Paiva de Abreu Trigo. Fundamentos para uma interpretação constitucional 
do principio da boa-fé. 1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. 
 
4 
 
 
 
 
 As interpretações alemãs transformaram a boa-fé como um novo princípio 
fundamental na relação obrigacional, dando uma dimensão constitucional à área 
contratual, contribuindo significativamente para sua evolução. 
Com o desenvolvimento da sociedade, do aumento do consumo, das relações 
internacionais, o principio da boa-fé foi tomando formas para aquilo conhecemos 
hoje, tendo um sentido ético que busca repreender comportamentos inapropriados 
das partes, levando solidariedade e respeito às relações humanas. 
 
2.1 CONCEITUAÇÃO 
 
Embora seja difícil realizar uma definição específica, podemos pensar que a 
boa-fé consiste num princípio em que regula as relações obrigacionais, exigindo que 
as partes a se comportem de maneira correta, franca, com cordialidade, da não 
ocultação de dados importantes, sendo que se estes tivessem sido revelados o 
negocio não teria sido celebrado da mesma maneira. 
É muito mais que apenas um simples indicativo de como as partes devem 
proceder, é a importância considerada em nosso ordenamento jurídico da ética nas 
relações humanas, do comportamento e da intenção das partes na fase pré-
contratual, no momento da realização do contrato e nos deveres decorrentes dele, 
conformeos usos e costumes do lugar. 
O principio da boa-fé pode ser dividido em boa-fé subjetiva e objetiva. 
Subjetiva traz um entendimento mais psicológico, enquanto que a objetiva diz mais a 
respeito da ética. 
A boa-fé subjetiva foi abordada no Código Civil de 1916 como uma norma 
para a interpretação do negocio jurídico. Relaciona-se com uma crença, do amparo 
ao comportamento de uma pessoa que crê estar agindo conforme a lei, de sua 
ignorância ou conhecimento de determinado fato, no entanto sendo outra a 
realidade. 
Segundo Gonçalves (2012, págs. 55-56)7: 
 
“a expressão “boa fé subjetiva” denota estado de consciência, ou 
convencimento individual da parte ao agir em conformidade ao 
direito, sendo aplicável, em regra, ao campo dos direitos reais, 
 
7GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 3: contratos e atos unilaterais. 9ª 
ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
5 
 
 
 
 
especialmente em matéria possessória. Diz se “subjetiva” justamente 
porque, para a sua aplicação, deve o interprete considerar a intenção 
do sujeito da relação jurídica, o seu estado psicológico ou íntima 
convicção”. 
 
 
A boa-fé objetiva, introduzida pelo Código Civil de 2002, traz uma inovação, 
uma norma que dispõe um dever de todos a se comportarem segundo a boa-fé em 
seus relacionamentos obrigacionais. 
Sobre a boa-fé objetiva Gonçalves expõe (2012, pag.57)8 “está fundada na 
honestidade, na retidão, na lealdade e na consideração para com os interesses do 
outro contraente, especialmente no sentido de não lhe sonegar informações 
relevantes a respeito do objeto e conteúdo do negócio”. 
Podemos encontrá-la nos arts. 422 “Os contratantes, são obrigados a guardar 
assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade 
e boa-fé”, 113 “Os negócios devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos 
do lugar de sua celebração” e 187 “Também comete ato ilícito o titular de um direito 
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim 
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. 
Também a encontramos presente no Código de defesa de Consumidor como 
princípio a ser seguido pelas partes para manter a consenso nas relações de 
consumo e para a identificação da abusividade das cláusulas. 
Conforme os pensamentos de Gagliano e Pamplona (2012, pag. 382)9: 
 
“Esta boa-fé, com raiz histórica no direito romano, seria uma 
verdadeira regra implícita em todo negocio jurídico bilateral (o 
contrato por excelência), em razão da qual as partes devem não 
apenas cumprir a sua obrigação principal (dar, fazer ou não fazer) 
mas também observar deveres mínimos de lealdade e confiança 
recíproca”. 
 
 
Contudo, a boa-fé mostra-se um princípio que além de reger os 
comportamentos, tem dever fundamental de conservação da ética e da dignidade da 
pessoa humana dentre as relações obrigacionais. 
 
8GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 3: contratos e atos 
unilaterais. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
9GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 1: 
parte geral. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
 
6 
 
 
 
 
 
2.2 PRÉ- REQUISITOS 
 
Para existir a boa-fé precisa-se de atitudes comportamentais que sejam 
adequadas para que ambas as partes não tenham suas expectativas frustradas, que 
nenhuma delas tenha sua dignidade atingida e para que a intenção das partes na 
firmação do contrato se efetive realmente. 
Nos dizeres de Gagliano e Pamplona (2012, pag. 382)10 para existir a boa fé: 
 
“É preciso que, além de um estado de ânimo positivo, as partes se 
comportem segundo um padrão ético objetivo de confiança 
recíproca, atuando segundo o que se espera de cada um, em 
respeito a deveres implícitos a todo negocio jurídico bilateral: 
confidencialidade, respeito, lealdade recíproca, assistência, etc.”. 
 
 
Consiste no agir das partes de maneira íntegra, e principalmente honesta 
sobre o objeto da relação negocial, sem o dolo de prejudicar a outra, sem ocultação 
de erro. E principalmente que o seja em todas as fases da relação obrigacional. Ou 
seja, do começo ao fim o comportamento das partes devem estar baseadas na 
confiabilidade mútua, no respeito, indo além das barreiras do disposto no contrato, é 
umaobrigação ética a que todos estamos sujeitos a seguir para termos efetivado o 
direito devido. 
 
2.3 EFEITOS 
 
Por conseguinte, a ausência da boa-fé caracteriza a má-fé que é o ato mal 
intencionado, visando atingir a outra parte, causando-lhe prejuízos, agindo de 
maneira abusiva e contraria ao que se esperava, não a respeitando. 
Deixando de atentar,não somente para os deveres contraídos mediante o 
contrato, mas ferindo a boa-fé. 
No entendimento de Gagliano e Pamplona (2012, pag. 382)11 “a violação da 
boa-fé objetiva autoriza não apenas a condenação do infrator em perdas e danos, 
mas, em algumas hipóteses, até mesmo a anulação do negócio”. 
 
10GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 1: 
parte geral. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
7 
 
 
 
 
Para Portanova (2003, pag. 157)12: 
 
“Para reprimir a má-fé, o código elaborou um sistema minuncioso de 
sanções que abrange todas as violações de caráter moral, atingindo 
todos que atuem no processo e durante todas as fases do 
procedimento, por ação ou omissão, no processo contencioso ou de 
jurisdição voluntária”. 
 
Evidencia-se desse modo a importância da boa-fé para a consumação do 
negócio, uma vez que sua ausência pode invalidá-lo. Se uma parte sente que seu 
direito foi atingido, que caiu em erro ou dolo, que não recebeu da outra parte o 
comportamento que esperava, pode justificar a sua invalidez pela violação do 
princípio da boa-fé. 
 
2.4 AUSÊNCIA DA BOA FÉ COMO INFRAÇÃO AO PRINCIPIO DA DIGNIDADE 
DA PESSOA HUMANA 
 
 O princípio da dignidade da pessoa humana está expresso na 
Constituição Federal Brasileira em seu artigo 1º, III. 
Art. 1º - A República Federativa do Brasil tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana. 
 IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
 O princípio da dignidade da pessoa humana tem uma influencia sobre 
diversos outros direitos, sendo alguns deles o direito a vida, a igualdade, e 
principalmente o direito a liberdade. 
 Se considerado desde o princípio da existência, o homem nem sempre teve 
sua dignidade preservada, a mesma foi terrivelmente afrontada, por exemplo, na 
questão da liberdade, sendo a essência da dignidade, na época escravista tanto na 
antiga sendo escravo de guerra, como a escravidão dos africanos, bem como a 
 
11GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 1: 
parte geral. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
12PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 5ª ed. Porto alegre: Livraria do advogado, 2003. 
8 
 
 
 
 
privação da liberdade do povo judeu na época do nazismo sofrendo tratamentos 
totalmente desumanos. 
 Atualmente o direito brasileiro tem dado uma relevante importância ao 
comportamento social dos indivíduos, dando grande ênfase a defesa do princípio da 
dignidade da pessoa humana, tanto na área do direito público quanto no direito 
privado. Seu marco deu-se quando o Brasil deixou de ser um Estado Liberal e 
passou a ser um Estado Social, sendo que o EstadoSocial busca a liberdade 
também social e não mais apenas da econômica como o Estado Liberal. 
 O Estado dessa maneira visa interferir nas relações de cunho particular 
quando assim necessário, defendendo a pessoa e sua dignidade como ser 
primordial para o direito e deixando para segundo plano a defesa do patrimônio. 
 Nas relações obrigacionais, o princípio da função social do contrato é o meio 
pelo qual o Estado demonstrará seu interesse na defesa dos princípios da dignidade 
humana. Segundo Ligia Neves da Silva (2011)13 a função social do contrato é “meio 
do qual as partes devem exercer a sua liberdade de contratar de modo a respeitar 
os interesses da coletividade e da justiça social.” Sendo assim a liberdade contratual 
existe até o ponto que não venha a prejudicar o interesse da coletividade. 
 Ao se firmar um contrato, um pacto é gerado, criando expectativas de ambas 
as partes, baseado no principio do contrato social deve-se respeitar o mesmo em 
seu total mantendo a ligação obrigacional e preservando a dignidade da pessoa 
humana. 
 A boa-fé objetiva tem o dever nos contratos de impor direitos e deveres 
mesmo que não expressos nos mesmos, para defesa de ambos participantes da 
relação obrigacional. 
 Em uma relação contratual a ausência da boa-fé poderá afetar a dignidade da 
pessoa humana. Por exemplo, uma determinada pessoa compra um veículo de 
outra, com o pagamento à vista, firma-se um contrato, porém o vendedor não 
informa que no veículo há um problema com o motor, sendo que o comprador só 
descobre após o pagamento, com uma semana de utilização do veículo será 
 
13SILVA, Ligia Neves. O princípio da função social do contrato. Conteúdo e alcance. Análise 
econômica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 87, abr 2011. Disponível 
em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9128>. 
Acesso em 22 de setembro 2013. 
 
9 
 
 
 
 
necessário refazer o motor. O comprador certamente criou uma expectativa em 
relação ao negócio, a qual foi frustrada, sendo afetado o principio da boa-fé, pois o 
comprador certamente confiava na palavra do vendedor, a partir dai feriu-se o 
princípio da dignidade da pessoa humana, pois, o vendedor não utilizou de ética 
nem da moral para praticar o negócio. 
 Em uma relação obrigacional, sendo de direito público ou privado, trabalhista 
ou civil, qualquer palavra falada ou escrita, que se comprometa a algo, criando uma 
expectativa alheia, baseado na boa-fé deve ser cumprida, desde que não sejam 
impossibilitadas por motivos justificáveis alheios a vontade. A boa-fé nesse sentido 
de fazer cumprir a promessa realizada em uma relação obrigacional preserva a 
dignidade da pessoa humana. A confiança é defendida por nosso ordenamento 
jurídico atual, afim de proteger a relação contratual de ambos os contratadores. 
 Segundo MACHADO, Gabriela Rios; LIBERATO, Gustavo Tavares 
Cavalcanti14: 
 
“A preocupação do sistema jurídico moderno com a dignidade do homem, 
no Direito brasileiro, para além do art. 1º, III da CF/88, é bem exemplificado 
em seu art. 5º, o qual registra o caractere de autodeterminação, em diversos 
incisos, tais como os que dizem respeito às liberdades de expressão, de 
culto e de locomoção. Contudo, como as necessidades dos homens estão 
em constante transformação, não seria possível exaurir todos os direitos 
atrelados à dignidade da pessoa humana no texto constitucional”. 
 n 
 
A ausência da boa-fé em uma relação ao trabalho poderá afetar a dignidade 
da pessoa humana, por exemplo, da seguinte maneira: certa empresa contrata o 
indivíduo para exercer determinado cargo, ao efetivarem o contrato e o individuo 
começar a trabalhar, colocam o mesmo exercer outro cargo dentro da empresa ao 
qual não estava no combinado. A confiança do contratado em relação a contratante 
foi quebrada, a relação obrigacional foi ferida pelo descumprimento do combinado. A 
ausência da boa-fé do contratante em relação ao contratado acabou por afetar a sua 
dignidade, pois o mesmo já havia criado uma expectativa a respeito do cargo ao 
qual exerceria sendo ele abalado moralmente. 
No sentido das relações obrigacionais observa-se a necessidade de 
transparência de ambas as partes, tendo a boa-fé como relação de confiança, e a 
 
14MACHADO, Gabriela Rios; LIBERATO, Gustavo Tavares Cavalcanti. O Princípio Da Boa-Fé 
Objetiva Como Um Direito Fundamental Implícito Na Constituição Federal De 1988. Disponível 
em: <http://www.mpce.mp.br/esmp/publicacoes/edi001_2012/artigos/17_Gabriela.Rios.Machado.pdf>. 
Acessado em: 22 de setembro de 2013 
10 
 
 
 
 
preservação da dignidade da pessoa humana como meio de proteção aos direitos 
não apenas dos envolvidos na relação, mas de toda a sociedade, pois nesse sentido 
o direito de uma pessoa irá até aonde o do próximo começar. 
 
3. CONCLUSÃO 
 
A sociedade está em constante modificação, cada vez mais surgem novas 
necessidades ao ser humano, gerando novas relações obrigacionais, como nem 
todas podem ser protegidas pela Constituição Federal pela sua constante 
modificação, utiliza-se assim o principio da boa-fé, como forma de proteção a 
dignidade da pessoa humana, e como meio de fazer valer a relação obrigacional. A 
dignidade da pessoa humana nesse sentido nada mais é do que faze valer os 
direitos das minorias sem deixar de preservar o direito da maioria. 
Diante do conteúdo exposto, nossa inicial pretensão se afirma, a de 
demonstrar que a boa-fé se mostra como principio constitucional, embora não 
expressamente, deve ser observado como tal. Ao longo dos tempos, sua adoção 
pelos códigos de diferentes países teve a intenção de transformar em norma o que 
antes era um principio vago e impreciso. 
Vai além, se mostra atualmente como parâmetro fundamental para que dentre 
as relações humanas esteja presente valores de indescritível importância como a 
solidariedade, a confiança, a probidade, a fidelidade, lealdade, a dignidade da 
pessoa humana, entre outros. Alimentando uma nova visão das relações 
obrigacionais, a sua constitucionalização.

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