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MClllAi'S, D.A dj,ll(,tica da, lJ1ídi,j~globais, ln: MÜR.'\ES. n. de (Org.) G/obali;:aciio, 111M, c cultura COI/U'/IIpOrl!/lell. Campo Grande: Letra Livre, 1~97. -' Planeta tnldia; tendências da comunicação na era global. Campo Grande: HeI! tora Livre, 1998. MUSSI\l.rM, F. AllfIlise do discurso. 111: MUS~AI.IM. FernanJa; 13ENHS, Allna Christll1A, l/lfroal/(t10 à li/lgriÍ5tica-- dilll1í1/ios vfromeims. São Paulo: Correz, 2000. OUVURA, c.J. de. Terra rjomalismo. o MST nas páginas da imprensa. 2002. Tese (MI'~ rrado) - Escola de Comunicação c Arres da Univenidade de São Paulo, São Paulo .. OHLANDI, E.I~ O semido dominante: a Jircralidade como produto da história. IIl:_ A 1i1l}.!lIagelll c Sellf/l/lcio/la/l/(,//Ia: as formas do discurso. Campinas: Pontes, r~96. -' A1/álise de discursa; princípios 8: procedimentos. 5. ed. Campinas: Pontes, 20tH _.Análi~~ do Discurso. ln: OnLANDI, E. (Org.) Disrllrso c lexfHalidl1de. Carnpin.u Pontes, 2006. Jl~(;JIE1JX. M. 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Tese (Doutorado) - Univer;idade Federal Flunlinl'Ilse, Niterói, R.IO de Janeiro, iência do discurso e o discurso a infermeçêe' Texto 5 Neste texto, f.1ÇO uma reflexão sobre alguns mitos que sustentam a produção d~' ruformação na nossa sociedade, sobretudo aquele tipo de informação que !' produzido nos meios de comunicação de massa. Parto da constatação de que a midia tem se configurado como urna prática discursiva quc não produz \Ol11ente informação, mas também bens culturais c negociações de identidade. A,~im sendo, a explicitação dos mecanismos dos quais se vale para exercer essa tunção requer uma ciência do discurso, que ofereça ao analista um dispositivo de interpretação capaz de lhe fornecer condições para compreender os efeitos de sentido vinculados aos textos midiáticos. Na tentativa de conferir um tom dulático a essa discussão, traço um fio condutor que percorre as seguintes Il'll1,lticas: 1. Discurso, mídia e teoria da comunicação e 2. Mídia e produção de efeitos de sentido. Discurso, mídia e teoria da comunicação ( '01l1t.:CCl\10S por uma interrogação: em que medida uma ciência cio discurso 1.11 cUIlJO se constituiu a Análise do Discurso na França e, posteriormente, no Ih,l\il, podc' coutr ibuir p,lra .l coruprecnsâo cio discurso da informação? I I '\tr u-xt» (o '1111.1 •.•inl(·\(,o d~1p.lil·\II'., III 111lúnll 11.1 j1lldt'llll ••nu IXdl' JUllho de }n('~. plll oLI,i.tlJ d.1 Jm u.ul.t 1'111AIl.lli'1l' do I )1" tlt\ll'!P"d(' () dl'l'Unll 1:11.1111,1<. 'Il-II~ t.1d.1 11J1\lt 1Il.1\.IO?" .1'f(~nHWIlLl 1'1'10 I Jrl',1I1 HItl'Ufo ~k ( 1(~fll 1.1d.1 Jl!fUf1ll,I~:Hld,! Ufll\f'Plld ••de J ('-1('1.\1 d(' \.10 ('.lrll)\ t Itl p.1I1 ('fi ,i 'OIH (l ('II'''P de' f'i~\l1rj"•.dj 1I111I1I'h!\.)" el 11>, 11111\'11 LI\ 4" dJ 11,( IIU'/lISi' I 1'1"'"'''' Ad'lllllll Ilm,,"r d" ( lIl'" .1(' 1"11,1\ .11 1111.vr""I ••dr hl,l<hl~1 ,I!' M"I !lIf:.i (UI·M) ,. .I" 111"1".1111,(,I!, I',,, 1;',l1hl,(~"\1l"'1' I "Il~\ .I, t.ll M I ."",1 1,ln,lv"""('III"I,,,", I" - I rllJldllflt'IlLIII.I H,I II il!ljJ,I,1 MHl(/S'JU~~íj1,:/1h'lal, ,~('FI!'I,I dn dl'(lll"''' ,·I,ltU)"l.!j I'lll Mu liel 1'(\ lh'II\, 11", .\1\(1, 19(,0, (OIH d1{' li IHI/t'jlr~ll ,1IlillJ n Itlg,1I1111.11'W"lltll·I.I~,llll.) HUgllU.,l flist6ria l' O illijdlu. A tll1,dld.uk IIt',.•\ ,.lIlIpO tl.:(',1 jl 011.1(, t' dcvcobnrum sentido qm' !.'sLIJ ia o( llho ,l\f,l\ d,l'I p,lL"·!.!'·,, IIIUS:1I1;di~.l1os e/(:Ilm da IIlscri,·no do j:í-diro -, ,I IIll'll1Ún.1 dI) dl'lt'1 110 di" ('UJ'\O do SlIjl,jlO.Seu propósito nâo é analisar () sistema liJlgiií~lic,)em /'t'1.1I,111 ,\ de mesmo: o que interessa :l Análise do Discurso é a considr-ração ,\(o qlh' .I~ cst rururas (~)I1ológicas, morfológicas e sintáticas servem de base co mum p.11.1 ,\ realização de processos d iscursivos diferenciados, Para eSSJciência dos disrur«: ••, <I relação entre base lingüística ç processos discursivos possibilita compreender () modo como, no discurso, manifestam-se alianças ou confrontos históru r« entre classes distintas. Nesse sentido, a concepção de história p:lf:l a Análise do Discurso curon era suporte episternológico no materialismo histórico, mais precisamente lU', noções de luta de classes, ideologia, aparelhos ideológicos, formações itkolc') gicas (ALTHUSSER, 19R5). Vale lembrar que a noção de história, que (' tr;l;dd,1 para o estudo do discurso, não diz respeito i história tradicional. Trata-se dI' considerar que os processos discursivos têm uma histoncidade inscrita. Nc\~,1 perspectiva, os discursos constroem sentidos sobre os diversos temas que afet.uu urna sociedade. Esses sentidos, por serem construidos histórica c socialmcuu-, podem ser retomados, re-atualizados e deslocados nos diferentes textos. 1'01 isso, diz-se de um texto que ele tem uma historicidade, e o sentido a ele vinculado pode sofrer variações conforme a época e as posições assmnid,« pelos sujeitos. Como analisa Pêcheux, "as palavras, expressões, proposições, til. mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as SUSl('!l tarn " (PÊCHEUX, 1995, p. 160). Um exemplo da historicidade inscrita nos discursos é a publicação, pl'i.1 Secretaria Especial dos Direitos Humanos, da cartilha Politicaniente Correto I Direitos HI/II1(/1/(1s, distribuída pela primeira vez em 2004, Entre as palavra- listadas, destaco "africano", rujo uso é desaconselhado, pois sua "utilizaç.ic genérica muitas vezes serve para negar a diversidade de países e povos daquch continente ou Fira discriminá-los". Essa atitude politicamente correta pan'll' apoiar-se numa estratégia lingüistico-discursiva que busca, na alteração dI' nomes, lima solução para não mudar a própria estrutura social. Sobre o sujeito do discurso, tanto o marer ialismo histórico QU:1l1tO ,\ psicanálise promoveram o descentrarnento dele. O sujeito pode sofrer dcm minações vindas de um "outro" (uma formação discursiva) OLl de um "Ollllll" (o inconsciente). Em outras palavras, o sujeito não é visto como fonte dm sentidos de suas palavras, Ao enunciar, faz uma espécie de inscrição em dctrt minada formação discursiva; retoma outras vozes, outros discursos. Essa ciência do discurso, assim concebida, autoriza-nos a problemariz.u li8 Dlscorso e texto: mvltiplicidade de sentidos na ciência da ínrormoçõo , tfU".h 'ítJ!W( .1'1 .ql i;lÍ" .~í:,1'tSt:ttl,1 li pl IId I h, \t \ .1(' lU! IlTl 11,11,.\U tlil áíHH,t I) t "'11\ .•1 lU fj',llhPilf['il\ 1.1 d.1 htlgll.\gi'llI;>') ,I I.11;.'1)'.,1 1l.1 rIJlld,ld~ 1m MIJI'tlo J1W,J~lf(11 de fl\){ld.jN~ J).1 ~'H'J\\oI 11.1 l.('prl:J da Ct)!lltlnlc.lç·;!O. J J 1\ crença no Ironsparência da linguagen:t,. ij~ acordo com teóricos do jornalismo (MEtO, 1994), a atividade jorualística .lHviJ~:w em duas vertentes: "reproduç50 do real" (jornalismo informativo) e I'h'ltllra do real" (jornalismo opinativo). Na categoria de jornalismo informa- tlVo, :tão incluídas ;1 nota, a notícia, a reportagem e a entrevista. Pertencem 30 ,ftllfl.1ÍiSIl10 opinativo o editorial, o comentário, o artigo,:1 resenha, a coluna, a ~l\)uíca, a caricatura e a carta. ESSJ grade classificatória dos gêneros jornalís- Ih;t)~,entretanto, desconsidera que a linguagem não é transparente, que não é })I.''1síveJ,por meio dela, produzir um discurso "espelho do real".Tudo se passa I-umo se a linguagem servisse de reprodução do real, tal como ele se apresenta !lO repórter, A idéia de que o jornalismo informativo reproduz o real é uma l.lbu;1b, pois, para a Análise do Discurso, não existe urna correspondência direta vfl.Lrc: as palavras e as coisas. 12 A crença na unicidade do discurso e do sujeito B~"l distinção entre informação c opinião sugere que a informação na mídia ô f.\crada por uma matriz discursiva, que responderia pela organização dos seus t~It:'ll1cntos internos, definiria e delimitaria um determinado tipo de discurso. HJ\j outros termos, é corno se existissem textos puros: de um lado somente q~ informativos, e de outro somente os opinativos. Sabemos, entretanto, que, li t~{lftjr do conceito foucaultiano de "formação discursiva" (Fouc.<\ULT, 1972), uoção de "máquina discursiva" estrutural fechada l' posta de lado em favor de uma concepção que considera o caráter intrinsecamente heterogêneo dos d\r<cursos. Para Foucault, os discursos não são formados por elementos ligados entre si por um princípio de unidade, mas por um sistema de dispersão de 11t)~lções, Assim, problematizar essa classificação é urna forma de considerar .1 possibilidade de haver uma intersecçâo cada vez maior de opiniões e de inlbrmaçõcs num mesmo gênero jornalísrico. É possível, pois, olhar para a 1I11pjuagemjornalística e considerar que o relato também pode conter opinião, que o comentário também solicita a informação. Essa postura nos leva a con- vrlrer o sujeito do discurso jornalístico como uma fiinçâo que se dispersa nos tr xtos: ou seja, o sujeito produtor de um discurso jornalistico pode ora narrar Dos manuscritos aos impressos: os sentidos de discurso 129 referente RECEPTOR t' til! .lit!t'qntl'" <)~ 11iY,ií~~.,1\J4~1pn'l\t'nt~s nçill \t'IJtJd.l, A~!llm, Ilt\l, pn'í(ei&,\\')'l dJ;'ílllrwiv(j~ incidem as "f~JrIll(tçõe~ rlld<ifuIW~~1 ~ r!e:,ignal"'o hlgar que A e H se atribuem cada um euero, ;l imagem que eles fazem de seu próprio lugar e do lugar do PJ1c'Jlfi,UX, 1990, p, 82), As formações imaginárias projetam sobre o o autor e o leitor um jogo de imagens que determina as condições do que é dito, seja na forma de palavra oral, escrita ou visual. ~ilIL\r que as imagens que os interlocutores fazem de si e do referente sno atravessadas pelo "já-ouvido" e pelo "já-dito". Nesse sentido, lHe uâo pode ser concebido como o objeto através do qual podemos ciedade refletida ou espelhada. Como analisa Pêcheux, o referente é "objeto imaginado" que uma realidade física. que diz respeito à informação na mídia, acontecimentos históricos, , culturais, ou mesmo acontecimentos do cotidiano que se trans- em fato noticioso, não podem ser vistos corno tendo uma relação om a realidade. Eles são frutos de uma prática discursiva que engloba nto da notícia, pesquisa, entrevistas, coleta de depoimentos, imagens s e selecionadas para figurar como manchete de primeira página ou revista, por exemplo. rnidia é um campo institucional onde o sujeito que nela fala é, ao tempo, aquele que pode dizer a verdade dos fatos, pelo saber que sobre eles, e aquele que pode produzir os fatos na sua verdade e -Ios na realidade, pelo poder que exerce na sociedade. No entanto, Foucault (1998), o saber é um acúmulo de verdades parciais, que elece não apenas em épocas diferentes, mas também numa mesma ependendo do vínculo entre instituição e práticas discursivas, É nesse que o discurso da mídia deve ser concebido: um discurso que institui dade parcial, jamais absoluta, abalho da prática jornalística em buscar a "verdade" deixa entrever a ~retratar em seus textos a "realidade", que é também uma construção te ela escolha de alguns fatos e do apagamento de outros. As técnicas rocedimenros de investigação, de apuração e de produção das noticias ~istas, análises, flagrantes do cotidiano, dados estatísticos, fotografi as ete.) or função fazer do jornalista aquele que produz o fato noticioso tal ele teria ocorrido. obre o código e o canal,as contribuições do filósofo russo Mikhail Bakhrin lá do discurso auxiliam a problematizar esses elementos, propondo que tiam pensados como instâncias recobertas por uma noção mais abran- a de "gênero do discurso" (BAKHTrN, 2000). Segundo esse filósofo, cada social elabora e comporta um repertório de gêneros discursivos que vão érenciando e ampliando à medida que a sociedade se desenvolve e fica P ilt'ohtêtiIll1J11tO, (J1';l descrever, \tf,! t~plí'ÍllJ~Urna vl~jn fech;ght de tW~;:'I,if~'tP') ímpeõe que se considere a possibilidade de o sujeite cxe« er outras que acarreta uma concepção homogênea da I1nguagem, 1.3 A crença na teoria da comunicação como postulado teórico paro a compreensão da troca de informações ESQUEMA DA COMUNICAÇÃO CÓDIGO EMISSOR mensagem CANAL De acordo com essa vulgata da teoria da comunicação, elaborada a p,( tir de jakobson, o processo de comunicação abarca as seguintes instâncias; emissor (instância que emite a mensagem), o receptor (instância que recebe mensagem), a mensagem (o objeto da comunicação), o canal (veículo de { municação), o código (conjunto de signos usados para transmitir a mensage: O rejerente (mundo, contexto, realidade etc.), Nesse esquema, é possível {J um autor (emissor) transmita seu pensamento, como se a linguagem existi de forma neutra, fora do jogo social e histórico em que é utilizada. O IcJtí (receptor) é visto C01110 aquele que deve produzir uma resposta à mensagem, partir da descodificação dos signos que a compõem. Assim, a boa codiflcaçl!il garante a eficácia da escrita, e a boa descodificação, a eficácia da leitura. A Análise do Discurso levanta-se contra esse esquema unilateral da tI" municação, propondo (lue se olhe para emissor e receptor como "lu!!:,lIT sociais ocupados por sujeitos, que ora podem assumir a posição de C]lH'1 produz, ora a posição de quem recebe. Esses "lugares" sociais, confortn Pêcheux (1990, p. 82), "estão representados nos processos discursivos eru são colocados em jogo". Por corolár io, a mensagem não é somente simples transmissão de pensamento entre emissor e receptor; para a An:ili~~ do Discurso, trata-se de considerá-Ia discurso, ou seja, "efeito de sentido" [tlh tre enunciador e enunciarário. Entretanto, como não há uma relação dllt'hl ~Q Dlscurso e texto: multiplicidade de sentidos na ciência da informaçõo Dos manuscritos aos impressos: os sentidos de discurso 131 ENUNCIADOR ENUNCIATÁRIO JH:rguntam: por gue tal acontecimento foi assim veiculado? Haveria outros ttolltos de vista sobre o referente? Por que essa imagem fotográfica e não A resposta a essas indagações solicita que se leve em conta aquilo que se tl)tlVcncionou chamar de "linha editorial ou ideológica" praticada pela equipe redatores. A Análise do Discurso pode lançar luz sobre a compreensão das esrratê- :~'Ll~discursivas (lingüísticas e imagéticas) utilizadas pela midia na produção dos %,feitosde sentido vinculados aos seus gêneros discursivos jornalisticos. Dada as l!rnit::tções deste texto, porém, ater-rne-ei ao chamado "efeito derrisório".' Sabemos que os políticos são, há muito tempo, vítimas do discurso J(Hllalístico. A charge, C01110 gênero jornalístico impresso, tem por finalidade rdticar ou desqualificar personalidades e acontecimentos do meio político. desqualificaçâo, que normalmente se espera encontrar nesse gênero dis- cursivo, entretanto, aparece também em outros gêneros da rnidia impressa, nas ;;!WÜS podemos observar a associação do humor e da agressividade, zombarias, jl,racejos, trocadilhos, jogos de palavras irônicas. A presença desses elementos cúracteriza aquilo que Bonnafous (2003) chama de deito derrisório ou efeito dt'rrisão, que aparece em gêneros discursivos jornallsticos que não se prestam 1\ {:ssa função.A título de exemplificação, consideremos o texto a seguir,' que faz refe- rênda a acontecimentos envolvendo as comemorações dos 500 anos do Brasil, ldt',llizadas pelo então presidente da República, Pernando Henrique Cardoso, seu ministro, Rafael Greca. Para os festejos, o governo mandou construir &IfI 1;1 réplica da nau Capitânia usada por Pedra Álvares Cabral. Devido a uma de problemas, a embarcação não realizou o percurso planejado. mais complexa. O blog e o orkut são exemplos dessa necessidade de ampliar tipos de enunciados. Nessa direção, podemos considerar a midia como ur instituição social que se realiza por intermédio de práticas discursivas mate lizadas em diversos gêneros jornalisticos, tais como: manchete, capa de revi reportagem interna, editorial, cadernos especiais dirigidos ao público jove infantil. O exposto permite concluir que em uma manchete há a realização uma prática discursiva diferente da que organiza os sentidos vinculados a u capa de revista, por exemplo. Após essa breve crítica da vulgata da teoria da comunicação, chegam, ao quadro seguinte, olhando para ele não mais como um esquema unilater mas C01110 un~ processo de produção da informação sobre o qual intervêm.' história, as relações sociais e as práticas discursivas (os gêneros jornalisticos mídia) criadas pelos homens. GtNEROS JORNALfsTICOS MfDIA Vimos que o discurso não é simplesmente transmissão de informação, mas p dução de efeitos de sentido entre interlocutores (enunciador e enunciatâric), que nos leva a concluir que a informação produzida pela mídia não é reflex ou espelho do "real". Ela resulta de uma produção discursiva, que se mira ntm·; ângulo específico de visão e é atravessada por posições discursivas determina das. Essa análise nos leva a interrogar a relação entre os enunciados jomalisriccs e os acontecimentos sociais, políticos, culturais que têm lugar na sociedade. resposta reguer que analisemos o estatuto das discursividades que trabalham os acontecimentos e quais os efeitos de sentido que elas produzem, ou seja, gw~ sentidos são vinculados aos textos midiáticos, que estratégias discursivas acionadas pela prática discursiva jornalistica, Essas estratégias e esses efeitos dll' sentido encontram um leitor > uma comunidade de leitores - que irá rcct'b(~r esses sentidos na forma de notícia. Não obstantc, os leitores geralmente l1at~ .:2 Mídia e produçõo de efeitos de sentido '---.. t i\klH d,J de"li I'-!,io, OlitT'\.),> t.'kltul.\ podem ser dcpn:~cndido~, Ern miuh.t tes,t' de tkHlrOl:ildo. elenco: d~_~H-t) ,I, "'l'éI.1I "'" (., "'I'CL"·,,J,11 iza.;}o do .l.Collr,,,im~nto é algo car;\Ctcrí'lko da sociedade colltcmpnrilr":il \~ .1" ,\l1tll!>] 1I,,,li.,'" .1). elc"'" dr real (ch.uuo a attll\·ii() p~m isso ao fin,,1ôa SC,\~" 1.3 dc,te «-xto). ddw ti.· ,,,I,<I••d,, (U"I\''''''', 2OlM). H-Jf('vÍ'it;t l i:lo~l~thç'Ju de \ de;' Ilt~ÚO de 1.000. __ ,;.o,-Ü.Ú,< __ ,,_.• :....,.. h_il;;':~.&'I>.v.t.i~-;~1i~.rjtf"f.:~tilm i.n~ttir!!.u A~'lYi:oo~.;.,,,*,,,,, ~'~""".<#Í~II1~1itII~~~~o- ••••••••••••• _.>'J<:oit~s.~.~~~~.~~~1AIi.rroOH:t.("'~_~~;.t»;.SAt,~U)lI.;IiIi••••~~.#~ _\'1=t.~~\o.~ • _.~~~,i.o ltI4~l>ífIIJto:>;~ _C~.a.:r~~~",··~0:f('doo,,*,.,.:tiW:-~~~.:=: ~~~~ ~"''''''''''''.~~~1f'*>Ij-~' 'P•••&.ti~'~broQ,: ••~,.",~~_~ 1114_.,.)!).:»~~'Iô\!f~ ~".Qwóellil':tV'~o.~~ .4i~~~~ •.~~ ____ o __ :-;.:~.!::.~~U:::!-:::;--=l ....,.~ ••• olt • ....,~ C•. J.,.,t ••••'''*r~h'* •..~I..u..~ •• 1,1f-.-1n» •.• A caravela piícu, Orce •• foí demitido, Indjo apanhou M dia de SUA festa . Nem camavalcscc rerin irunglll:'çAO para esse enredo ~ ~ Fonte: Revista I,i~jll, edição dê 3 de maio de 2000. A imagem fotográfica sugere uma relação de harmonia e de (kscontraç';jll' entre os sujeitos focalizJc!os. Para criar esse efeito, o fotógrafo usa ° plano g~'rIIL () ministro Rafacl Greca ~ Íotogr;1(ado entre quatro índios, em lllll cenário (jlll' tem ao fundo um número inderer minado de outros representantes de t!'ihtJ,~ indígenas. A feno destaca 110S atores da cena a funcionalidade da gargalhada, (1 LjUt reforça () tom de cOllfi'arerniZ:lçào, no plano simbólico, entre sujeitos (t"~ cursos) que historical1lemt? nunca se irmanaram. O flagrante desse momeuu- de desconrra~'ão não deixa de ter Ulll sentido derrisório, unia vez C/lH'. /1,\ interrupção do tempo, a fotografia capta 3 expressão f;lcial cariCJtJ do Illil1l,lhl Rafael Crcca e a do índio à direita da página. A legenda no c.into dín'ilo ri •• Iorografia informa que "Creca, llLlc ri entre 0$ índios dias antes de pel'dvI (I emprego: saiu elogiando". Se levaruios em consideraç-Jo os ~ICOlltlxillll'11111" menciollado), Vl:re1110S que da coníirllla e, :10 mesmo tempo, dcs.uu 1111/,1 ,i relação de harmonia sugerida pela imagem. Consida:lI1do-'c ~()IlICIII(' ,I \1" quência que vai do início até "índios", somos levados ,I concluir qlle' .1kgl'IHI.I não exerce ncn hUIl1:1fUIlÇ;lO. pois estaria descrevendo .iquilo que () It'illll IHIdl ver por si sÓ.A lciturn de rod.i a legenda. entrcranto, rcvcl.: que da II:in dl'\l J 1'\' r:iil Oh. "i~!_. f:! I~!ih! tHlllt!J.ltir JdtH Jt" IjIf h,Ultiti,'i.t. tlt j i,iA.t,,;;:,,,- •. i~~I",jÍ"""'-'A.>:.•.••.J;,. ~~I'!I.!S o que está visível. O jornalista acrescenta informações não-presentes na *111 ,I I)e111 , as quais contribuem para contextualizar o leitor. Abaixo da foto-legenda, o título da matéria em letras garrafais faz uso do H'Jodilho C0l110 efeito derrisório para desqualificar as comemorações oficiais. !loca de "mal" por "nau" é um índice de corno o sujeito trabalha seu discurso, ilhtJcando sua posição em relação ao que noticia. O jogo de palavras mantém fi wmido cristalizado na expressão "de mal a pior", usada para caracterizar tl!O,1 determinada situação que tende a piorar cada vez mais. A palavra "nau" )\'Nrl'u.; também outra função: desencadeia expressões e palavras oriundas de uuuo campo discursivo, o da cultura carnavalesca. Vejamos agora o texto a seguir dessa imagem: A festa dos 500 anos acabou em samba-enredo. Para comemorar a chega- da de Pcdro Álvares Cabra! a Porto Seguro, programou-se a aparição de um navio abre-alas, uma réplica da nau Capitânia, aquela que conduziu frota portuguesa na travessia do Atlântico. Quando zarpou para o local da festa. (1 barco ficou cheio de água e interrompeu a viagem antes que afundasse com toda a tripulação. Os índios esperados na festa de 22 de abril, capitaneada pelo presidente Fernando Heru ique Cardoso e seu colega português Jorge Sampaio, pertenciam a diversas tribos e usavam seus trajes rituais: penachos, cobres, bermudas e sandálias Havaianas. Não satisfeito com o uniforme de praxe, o Ministério do Esporte e Turismo mandou confeccionar sungas e maiôs cor da pele, para que os moradores originais do Brasil escondessem suas verginhas caso resolvessem apare- cer na festa com os balangandãs de fora. Havia uns 3000 sem-terra nos imediações. ameaçando melar a comemoração oficial com um protesto. Quando os indigenas e os sem-terra decidiram aproximar-se da ala das autoridades, entrou em ação ,I ala da Polícia Militar baiana, integrada por 5000 rap.1Zes bem nutridos. O resultado foi o que se viu na TV Os índios. que apanham do- brancos desde os tempos de Cabral, apanluu.uu novamente, desta vez em companhia dos sem-terra. A rccorrência a elementos lexicais dessa memória discursiva sedimcnta 11 ,'k!lo de escárnio construido no texto da reportagem, uma vez que o "lIqlll'gO de expressões oriundas do campo discursivo do carnaval constituí liln nu-c.uiismo discursivo para desqualificar as comemorações. A réplica d;1 11.11 ~ '.II'Il.ÍIlI'1 l- comparada <l li m "navio-abre-alas", primeiro carro alegóri: (] '1'11' .dll(' U~ dnlilc, d;l' cscola-, dt: samba. Os Índios e os presidentes do Ikl~J1 , di 1'11111Ig,II,lcru.uido llcnr ique Cardoso e jorge Samp.iio, rcspcctivanu-nu-, ',1" ,(l!OI.ld\l\ )1.1n.rrr ativa da rcport.rgcu: cru situuçâo desigual, muna aJII~.lU.i ht\I{\) i.1 hl.l,)k'II.1 que Sl' rq'Ct\..' /]:í cinco sl'clIlos: "()~ índi()~ cspcr.ulns 11.\ festa de 22 de abril, capitaneada pelo presidente Fernando Henrique Carde« e seu colega jorge Sarnpaio [... ]". A expressão "capitaneada", usada para qualificar a festa, é uma forma ~k materialização dessa memória. A palavra "ala", repetida mais duas vezes 110 texto, delimita os lugares que cada ator da ação histórica, representado com carnavalesco, ocupa no relato da reportagem: "Quando os indígenas e os $t:U terra decidiram aproximar-se da ala das autoridades, entrou em ação a ala ~j' Polícia Militar baiana r .. T· Além desse jogo metafórico, o sujeito do enunciado lança mão do eLJi,' mismo para estabelecer um confronto discursivo ou para significar algo diferene daquilo que está posto no texto: tlt)terências bibliográficas Não satisfeito com o uniforme de praxe, o Ministério do Esporte' ( Turismo mandou confeccionar sungas e maiôs cor da peJe, para qu4 UlI moradores originais do Brasil escondessem suas vergonh$li caso re~c>lvt'~ 5e11'1 aparecer na festa com os halangandãs de fora.' í\1 111 USSEH, L. Aparelhos ideolá,llicos de Estada: nota sobre os aparelhos ideológicos de hLldn (AlE). Tradução de Walter Evangelista c Maria Laura V de Castro. 2. ed. Rio Ji' J.lIlciro: Graal, 198). 1\lIlUf'rlN, M. Estética da criação IJCTbal. São Paulo: Martíns Fontes, 2000. UMíIlOSA, P.L. N. Na!Jegllr jái preciso: o discurso da rnidia impressa sobre os 500 anos do HH,tl. '/'004. Tese (Douroradol+Prograrna de Pós-Graduação em Letras da Universi- dA,h' Estadual Paulisra.Araraquara, SP. Íl!INNAI'OUS, S. Sobre o bom uso da derrisfio em J. M. Le Peno 111: GREGOI.IN,M. do R. t Ihlllr'iO e midia: a cultura do espetáculo. Claraluz: São Carlos, 2003· p. 35-'48. t 011I AUJ.T, M. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. Petrópolis: \ir","; Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, 11)72 . . ' A ordem do discurso. Tradução de Adalberro de O. Souza. n. 29. Maringá: Uni- Yi'l~ld.ldt' Estadual de Mar ingâ, [995, (Série Apontamentos.) __ ' ivIícnifisica do poder. Tradução ele P...obcrro Machado. J3· ed. Rio de Janeiro: hllç(ll's Craal, 1998, M,IU,J, M. de. A opinião 110 jornalis/IIo brasileiro. 2. ed. revisada. Pctrópolis.Vozes, 1994· Í'í\IIIH'X, M. Análive automática do discurso (/\AD-69). ln: GADH, F.; HAK, T. r)rg\.) Por 11/1111 análise <1I1C01/lIíI/C,' do discurso: UlJl3 introdução à obra de Michel \'í:\hnlx. Tradução de Bethania S. Mariani ct al. Campinas: Editora da UN1CAMI'. tilI)!! p. 61- r62 . •>,"~' Semântica e discurso: urna crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni P. r')!l,1I1di ct 31. 2. ed. Campinas: Editora da UNICAMP. 1995· As expressões grifadas atestam um conflito entre aquilo que o jornaltste enuncia e O que, de fato, deseja enunciar. Sabemos, com Foucault (1995), qUi" é nas regiões da sexualidade e da política que as interdições exercem seu mnior poder. Essa interdição é verificada no uso dos eufemismos para atenuar a ,1~~JII, autoritária do ator genericamente representado pela expressão" Nfillistérr'<I I/il Esporte e Turismo" c para não explicitar o que deveria ser escondido nos índill' Em síntese: entre jogos de palavras, metáforas carnavalescas, eufemisiun imagem caricatural, o sujeito desqualifica os festejos programados em P(lj\(p Seguro. Para encerrar essas breves reflexões, gostaria de pontuar que ::1$ con •.•h 11' rações sobre o modo C01110 a informação circula na mídia ..do ponto de VUiI,1 da Análise do I)iscurso, impõem que se olhe para ela como urna produçâo d'lh, cursiva, sobre a qual pesa :1 força da prática discursiva da instituição midi,ílh,1 prática essa qlle envolve estratégias de produção da realidade. interprcrm .•h~ c escrita dos fatos para torná-los matéria de primeira página, de rcport;IW'llI principal das capas de revistas ou de reportagens internas. Esse trab.rlh« d~ interpretação do real e de construção da notícia permite verificar o func ItlOil mente l18 prática e da escrita jornalísticas na produção do acontccimcnu, (\ dI! efeitos de sentido gerados na complexa relação entre enunciador /cnunc 1;11111 ht t' os aspectos históricos que determinam as posições de sujeito (autor c ~llJt'Hn! assumidas no processo de produção e recepção da informação. 5 (;nlos I1<'SSOS. l.1,~ tJ.tJ. jlltl\' iltn~ rtr lI. h itt'Ud\!.Ot.: ntu.ulth!tt~ dn dl~t.Ujjfl'1':J-t j···.1•."". ,.",,,,- _ l_ •..•i_ ~'..•••1••••. li" .1. I .•...•••••_ i ~__,'It."'_" ,. '•.••. l .••.••""'t.~" :.;H"'",- ,;:,<í~,k":~~""';;;\
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