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DOI: Int J Cardiovasc Sci. 2015 Jul 15. Epub ahead of print Correspondência: Gláucia Maria Moraes de Oliveira Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ Rua Prof. Rodolpho P. Rocco, 255 8º andar sala 6 – Cidade Universitária – 21941-913 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil E-mail: glauciam@cardiol.br Avaliação da Qualidade da Dieta Hipoenergética em Mulheres com Excesso de Peso Assessment of the Quality of Hypoenergetic Diet in Overweight Women Elizabeth de Paula Franco1, Glorimar Rosa2, Ronir Raggio Luiz3, Gláucia Maria Moraes de Oliveira4 1Universidade Federal do Rio de Janeiro – Programa de Pós-graduação (Mestrado) em Cardiologia – Rio de Janeiro, RJ – Brasil 2Universidade Federal do Rio de Janeiro – Instituto Josué de Castro - Rio de Janeiro, RJ – Brasil 3Universidade Federal do Rio de Janeiro – Instituto de Estudos em Saúde Coletiva – Rio de Janeiro, RJ – Brasil 4Universidade Federal do Rio de Janeiro – Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – Serviço de Cardiologia – Rio de Janeiro, RJ – Brasil Fundamentos: O número de mortes atribuíveis à dieta não saudável aumentou nas últimas décadas e os instrumentos para sua avaliação apresentam inúmeras limitações. Objetivo: Avaliar o efeito da dieta hipoenergética nos dados antropométricos e bioquímicos e verificar sua qualidade pelo índice de qualidade da dieta revisado para população brasileira (IQD-R) e consumo de alimentos ultraprocessados (AU), em mulheres com excesso de peso. Métodos: Estudadas 44 mulheres, com excesso de peso, submetidas à dieta hipoenergética por 180 dias. Foram coletados, mensalmente: pressão arterial (PA), dados antropométricos, bioquímicos e dietéticos. Para avaliação da qualidade da dieta empregou-se o IQD-R e o consumo de AU e ingredientes de adição. Utilizaram-se os testes de Wilcoxon e Mann-Whitney com significância estatística de p<0,05. Resultados: A média de idade encontrada foi 47,0±11,0 anos e do índice de massa corporal (IMC) foi 36,0±7,3 kg/m2. Observou-se redução da massa corporal, IMC, perímetro do pescoço e da cintura, razão cintura/estatura, índice de adiposidade visceral, PA sistólica, concentrações de glicose, de triglicerídeos e lipopoproteínas de muito baixa densidade (VLDL-c). Houve melhora da qualidade da dieta em ambos os grupos com redução significativa do consumo de proteínas, lipídeos totais, ácidos graxos e sódio na dieta classificada como adequada; e redução da energia, glicose, VLDL-c e da PA na inadequada. Houve redução significativa do consumo de AU como refrigerantes, macarrão instantâneo, sucos industrializados e açúcar de adição. Conclusão: A dieta hipoenergética reduziu parâmetros antropométricos e bioquímicos e essas modificações não foram explicadas pelo IQD-R, mas pela avaliação dos AU e ingredientes de adição. Palavras-chave: Obesidade; Dieta hipoenergética; Qualidade da dieta Resumo Background: The number of deaths attributable to unhealthy diet has increased in recent decades, and the instruments for their assessment have several limitations. Objective: Evaluate the effect of the hypoenergetic diet in anthropometric and biochemical data, and check its quality based on the diet quality index revised for the Brazilian population (DQI-R), and on the consumption of ultra-processed food products (UPP) in women with overweight. Methods: This study covered 44 women with overweight undergoing a hypoenergetic diet for 180 days. Monthly appraisals: blood pressure (BP), anthropometric, biochemical and dietary data. The DQI-R and the consumption of UPP and additives were used as criteria to assess the diet quality. The Wilcoxon and Mann-Whitney tests were employed, with statistical significance of p<0.05. Results: The mean age found was 47.0±11.0 years, and the body mass index (BMI) was 36.0±7.3 kg/m2. It was observed a decrease in body mass, BMI, neck and waist circumferences, waist-to-height ratio, visceral adiposity index, systolic blood pressure, and in the concentrations of glucose, triglycerides and very low-density lipoproteins (VLDL-C). The quality of diet improved in both groups with significant reduction in the consumption of protein, total lipids, fatty acids and sodium in the adequate diet; and there was a reduction in energy, glucose, VLDL-C and BP in the inadequate diet. There was a significant decrease in the consumption of UPP, such as soft drinks, instant noodles, processed juices, and added sugar foods. Conclusion: The hypoenergetic diet reduced anthropometric and biochemical parameters and these changes were not explained by DQI-R, but by the evaluation of UPP and additives. Keywords: Obesity; Hypo energetic diet; Diet quality Abstract (Full texts in English - www.onlineijcs.org) Artigo recebido em 02/06/2015, aceito em 21/06/2015, revisado em 26/06/2015. ARTIGO ORIGINAL Franco et al. Qualidade da Dieta em Mulheres Int J Cardiovasc Sci. 2015 Jul 15. Epub ahead of print Artigo Original ABREVIATURAS E ACRÔNIMOS • AU – alimentos ultraprocessados • IAV – índice de adiposidade visceral • IMC – índice de massa corporal • IQD-R – índice da qualidade da dieta revisado • MC – massa corporal • PA – pressão arterial • PAD – pressão arterial diastólica • PAS – pressão arterial sistólica • PC – perímetro da cintura • PP – perímetro do pescoço • R24h – inquérito dietético recordatório de 24 horas • RCEst – razão cintura/ estatura • VET – valor energético total • VLDL-c – lipoproteína de muita baixa densidade Introdução O número de mortes no mundo atribuíveis a uma dieta não saudável aumentou de 8,5 milhões (IC95%: 7,9-9,2) em 1990 para 12,5 milhões (IC95%: 11,7-13,3) em 2010, principalmente devido ao consumo de dietas pobres em frutas, castanhas/sementes e hortaliças1. Isso resultou em aumento do índice de massa corporal (IMC) de 0,4 kg/m2/década (IC95%: 0,2-0,6) para homens, e 0,54 kg/m2/década (IC95%: 0,3-0,7) para mulheres, de 1980 a 2010, e ocorreu provavelmente por maior acesso a dietas calóricas ricas em alimentos ultraprocessados e inatividade física2. Os instrumentos para avaliação dos padrões dietéticos apresentam inúmeras limitações inerentes à complexidade de se comparar diferentes hábitos de vida em diversos ambientes socioeconômicos e culturais. O índice de qualidade da dieta revisado para a população brasileira (IQD-R) se propõe a avaliar a combinação de diferentes tipos de alimentos e nutrientes, mensurando fatores de riscos dietéticos para doenças crônicas não transmissíveis3. A avaliação dos alimentos ultraprocessados, que apresentam concentrações de gordura, açúcar e sal excessivos, alta densidade energética e escassez de fibras, auxiliam na caracterização de dietas não saudáveis4. A obtenção de padrões alimentares saudáveis constitui um desafio e uma oportunidade para a diminuição da carga global das doenças não transmissíveis, especialmente nas camadas socioeconômicas com grupos mais vulneráveis como os de baixa escolaridade e renda5. No entanto, não se conhece nenhum instrumento desenvolvido com a população brasileira que avalie as modificações qualitativas de dietas recomendadas para a redução das doenças crônicas não transmissíveis6. O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da dieta hipoenergética, utilizando o índice de qualidade da dieta revisado para a população brasileira (IQD-R) e pelo consumo de alimentos ultraprocessados (AU), em mulheres com excesso de peso. Métodos Trata-se de um ensaio clínico com duração de seis meses, realizado com uma amostra de conveniência no município de São Gonçalo, RJ. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (HUCFF/UFRJ), sob o nº 115 224. Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a Resolução CNS 466/12. O recrutamento das voluntárias foi realizado no Posto de Assistência Médica em Alcântara no município de São Gonçalo, RJ. Foram selecionadas 44 voluntárias por meio de cartazes afixados em postos de saúde do município, no período de fevereiro a setembro de 2013. Os critérios de inclusão adotados foram: mulheres adultas, idade ≥20 anos, qualquer etnia, que apresentassem sobrepeso ou qualquer grau de obesidade. Foram excluídas: gestantes, nutrizes, mulheres que estivessem realizando dietas e/ou fazendo uso de fármacos para redução de massa corporal, e suplementos de qualquer natureza. Realizaram-se as seguintes etapas: coleta de informações gerais das voluntárias, aplicação do inquérito dietético recordatório de 24 horas (R24h), avaliação antropométrica, bioquímica e aferição da pressão arterial. As voluntárias receberam uma dieta hipoenergética individualizada e lista de substituição de alimentos. As consultas foram mensais, sendo contemplada avaliação dietética, antropométrica e bioquímica. Na avaliação antropométrica, mensurada a massa corporal (MC) em quilogramas (kg) e a estatura em metros (m), utilizando-se balança plataforma digital com estadiômetro acoplado Welmy (Welmy®, Santa Bárbara d’Oeste, SP, Brasil). O índice de massa corporal (IMC) foi calculado dividindo- se a medida da massa corporal (kg) pela medida da estatura (m) elevada ao quadrado6. O perímetro da cintura (PC) foi medido no ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela, utilizando-se fita métrica inelástica7. O perímetro do pescoço (PP) foi medido com a cabeça posicionada no plano horizontal de Frankfurt, a borda superior da fita colocada sob a cartilagem cricoide e aplicada perpendicular ao redor do pescoço8. A razão cintura/ estatura (RCEst) foi determinada pela razão da circunferência da cintura (cm) pela medida da estatura (cm)9. O índice de adiposidade visceral (IAV) foi calculado de acordo com a fórmula: %G(IAC)=circunferência do quadril/(estatura)10. Franco et al. Qualidade da Dieta em Mulheres Int J Cardiovasc Sci. 2015 Jul 15. Epub ahead of print Artigo Original A pressão arterial (PA) foi aferida por esfigmomanômetro aneroide Missouri Mikatos (Mikatos, Embu das Artes, SP, Brasil) com braçadeira própria para obeso e estetoscópio, por método auscultatório, após o indivíduo ter permanecido sentado por no mínimo 5 minutos11. O cálculo para a determinação do valor energético total (VET) foi baseado nas recomendações da Dietary References Intake12, específica para o sexo feminino. Foi considerado para todas as participantes um fator atividade física igual a 1.0, representando sedentarismo. Posteriormente, foi descontado do VET a quantidade de 513 kcal, segundo o método valor energético do tecido adiposo (VENTA), que corresponde à perda de aproximadamente 2 kg por mês: proteína de 15-20% do VET, carboidratos 55-60% do VET, lipídios 20-30% do VET e com a distribuição específica dos ácidos graxos. As amostras de sangue foram coletadas após jejum noturno de 12 horas. As concentrações séricas de colesterol total, HDL-c (lipopoproteínas de alta densidade), triglicerídeos, glicose e ácido úrico foram determinadas pelo método colorimétrico enzimático em analisador bioquímico automatizado Labmax 240 (Labtest Diagnóstica S.A, Brasil). As concentrações de LDL-c (lipopoproteínas de baixa densidade) e VLDL-c (lipopoproteínas de muito baixa densidade) foram calculadas pela fórmula de Friedewald13. Para obtenção dos dados sobre o consumo alimentar, foi analisado o R24h no tempo basal e após seis meses, utilizando o programa computacional Food Processor versão 7.2 (Esha Research, Salem, EUA). Com o objetivo de avaliar a qualidade da dieta foi utilizado o índice de qualidade da dieta revisado para a população brasileira (IQD-R)3 e o consumo de alimentos ultraprocessados e ingredientes e adição (açúcar e sódio)4. O IQD-R foi avaliado considerando a pontuação total e dos componentes (grupos alimentares e nutrientes). A pontuação total do IQD-R foi dicotomizada acima e abaixo do percentil 75 (P75). O valor de IQD-R ≥P75 foi considerado adequado por representar o quartil com maior pontuação, indicando melhor qualidade da dieta, uma dieta adequada; abaixo desse quartil uma dieta inadequada. A avaliação dos alimentos ultraprocessados e dos ingredientes de adição foi realizada por meio do R24h, sendo quantificado o consumo dos alimentos como achocolatados, margarina, biscoitos, leite integral, embutidos, refrigerantes, bombons, açúcar de adição, macarrão instantâneo, óleo vegetal, sódio e sucos industrializados antes e após a intervenção nutricional. Todas as análises estatísticas foram conduzidas usando o SPSS versão 21 (SPSS Inc, Chicago, IL) (Statistical Package for the Social Science). Os resultados foram expressos em percentuais, média e desvio-padrão e mediana. O teste do qui-quadrado foi empregado para as variáveis categóricas. De acordo com o teste de normalidade de Kolmogorov-Sminorv, grande parte das variáveis não apresentou distribuição normal, sendo assim foram utilizados os testes não paramétricos para obtenção dos resultados. Para a comparação entre os tempos, final e inicial do mesmo grupo, utilizou-se o teste de Wilcoxon, e o teste de Mann-Whitney foi empregado para análise entre grupos. Considerou-se estatisticamente significativo o valor de p<0,05. Resultados A média de idade das participantes foi 47,0±11,0 anos; do índice de massa corporal (IMC) 36,0±7,3 kg/m2, e da renda per capita 1540±926 reais. As voluntárias se descreveram como não brancas (52,0%) e tinham companheiro em 72,0% dos casos. A maioria (55,0%) estudou menos de 12 anos e 41,0% já estavam na menopausa. Apresentavam as seguintes comorbidades: hipertensão 41,0%, hipotireoidismo 11,0%, diabetes 5,0%. Em relação aos fatores de risco, 72,0% eram sedentárias, 7,0% fumantes e 14,0% etilistas. Observou-se que a dieta hipoenergética promoveu redução significativa da MC, IMC, PP, PC, RCEst, IAV, PA sistólica, nas concentrações da glicose, triglicerídeos e VLDL-c demonstrando o efeito do tratamento dietético nos parâmetros antropométricos, nos biomarcadores bioquímicos e na pressão arterial (Tabela 1). Houve melhora da qualidade da dieta em ambos os grupos, com redução significativa do consumo de proteínas, lipídios totais, ácidos graxos e sódio na classificação pelo IQD-R como dieta adequada e redução da energia, glicose, VLDL-c, pressão arterial diastólica (PAD) no grupo classificado pelo IQD-R como dieta inadequada (Tabela 2). Encontrou-se ainda redução significativa do consumo de alimentos ultraprocessados como refrigerantes, macarrão instantâneo e sucos industrializados e do açúcar considerado um ingrediente de adição (Tabela 3). Franco et al. Qualidade da Dieta em Mulheres Int J Cardiovasc Sci. 2015 Jul 15. Epub ahead of print Artigo Original Tabela 1 Dados antropométricos, bioquímicos e de pressão arterial das voluntárias ao longo do estudo Variáveis T0 (basal) T6 (180 dias) ∆ T6-T0 Média±DP Mediana Média±DP Mediana Média±DP Mediana p1 MC (kg) 90,1±16,6 87,9 87,0±16,3 83,0 -3,0±4,0 -2,5 <0,01 IMC (kg/m2) 36,0±7,3 35,2 34,7±7,0 34,5 -1,25±1,6 -1,0 0,00 PP (cm) 37,4±2,4 37,0 36,8±2,1 36,7 -0,5±1,0 -0,5 <0,01 PC (cm) 106,0±10,5 105,2 103,8±11,0 104,0 -2,1±5,1 -1,0 <0,01 RCEst 0,67±0,0 0,70 0,65±0,0 0,66 -0,01±0,0 -0,0 <0,01 IAC (%) 40,6±7,9 39,9 33,2±10,2 36,1 -7,3±11,8 -1,1 <0,01 PAS (mmHg) 122,5±14,6 120,0 117,6±14,7 110,0 -4,4±14,5 0,0 0,03 PAD (mmHg) 79,5±9,8 80,0 76,2±8,4 80,0 -3,0±10,10,0 0,06 Glicose (mg/dL) 119,4±67,3 100,0 101,2±36,5 89,0 -18,2±39,9 -9,5 <0,01 Ácido úrico (mg/dL) 4,0±1,1 3,9 3,9±0,9 4,0 -0,9±0,8 -0,0 0,39 CT (mg/dL) 194,7±36,5 185,5 194,2±37,8 184,5 -0,5±21,6 2,5 0,94 TG (mg/dL) 119,8±60,7 108,0 41,9±6,6 92,0 -11,9±28,6 -11,0 <0,01 HDL-c (mg/dL) 41,9±6,6 41,0 44,4±9,0 42,0 2,9±9,4 2,0 0,07 LDL-c (mg/dL) 128,5±32,7 124,0 124,4±34,6 116,0 -4,1±29,2 0,5 0,57 VLDL-c (mg/dL) 24,3±13,1 21,5 21,2±11,8 18,0 -3,1±7,8 -2,5 <0,01 MC – massa corporal; IMC – índice de massa corporal; PP – perímetro do pescoço; PC – perímetro da cintura; RCEst – razão cintura/estatura; IAC – índice de adiposidade corporal; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica; CT – colesterol; TG – triglicerídeos: HDL-c – lipopoproteína de alta densidade; LDL-c – lipopoproteína de baixa densidade; VLDL-c – lipoproteína de muito baixa densidade 1Teste de Wilcoxon. Estatisticamente significativo p<0,05 Tabela 2 Dados bioquímicos, de pressão arterial e dietéticos das voluntárias, segundo a classificação do IQD-R, ao longo de estudo Variáveis IQD-R ≥P75 (dieta adequada) IQD-R<P75 (dieta inadequada) Comparação entre os tempos (T6-T0) T0 (Basal) n=11 T6 (180 dias) n=22 p1 T0 (basal) n=33 T6 (180 dias) n=22 p1 IQD-R≥P75 n=11 IQD-R<P75 n=33 p2 Média±DP Mediana Média±DP Mediana Média±DP Mediana Média±DP Mediana Média±DP Mediana Média±DP Mediana Glicose (mg/dL) 115,5±44,7 103,0 109,0±44,0 92,0 0,26 120,7±73,8 99,0 93,3±25,7 85,5 <0,01 -14,3±14,2 -7,5 -19,8±45,4 -12,0 0,70 Ácido úrico (mg/dL) 3,7±0,8 3,6 4,0±0,8 4,1 0,79 4,1±1,1 4,0 3,9±1,1 3,6 0,21 0,25±1,0 -1,0 -0,2±0,7 0,0 0,29 CT (mg/dL) 200,4±38,0 212,0 197,8±38,9 193,0 0,59 192,8±36,5 184,0 190,6±37,2 180,0 0,84 5,6±19,5 11,0 -2,5±22,2 -2,0 0,18 TG (mg/dL) 131,4±67,3 129,0 127,7±72,8 116,0 0,92 116,0±59,0 102,0 92,0±36,4 86,0 0,08 -3,9±37,1 -2,0 -15,0±24,8 -13,0 0,51 HDL-c (mg/dL) 41,3±4,5 41,0 42,0±7,1 40,5 0,19 42,1±7,2 41,0 47,1±10,0 45,0 0,01 0,6±8,4 -1,0 3,2±9,8 3,0 0,27 LDL-c (mg/dL) 130,8±38,7 119,0 130,5±34,7 127,0 0,59 127,8±31,1 125,0 118,3±34,2 114,5 0,44 8,0±17,9 13,0 -8,2±31,2 -9,0 0,05 VLDL-c (mg/dL) 28,8±16,1 27,0 25,2±14,5 23,0 0,79 22,8±11,8 20,0 17,1±6,5 15,0 0,03 -3,6±13,5 -1,0 -2,9±4,9 -3,0 0,68 PAS (mmHg) 129,0±19,7 130,0 121,3±14,2 120,0 0,13 120,3±12,1 120,0 113,8±14,6 110,0 0,22 -10,9±11,3 -10,0 -2,1±14,9 0,0 0,98 PAD (mmHg) 76,3±14,3 70,0 77,2±8,2 80,0 0,38 80,6±7,8 80,0 75,2±8,7 80,0 0,01 0,90±13,0 0,0 -4,3±8,7 0,0 0,98 Energia (kcal) 2455,1±1492,5 2225,4 1712,2±240,9 1705,6 0,13 2598,5±650,0 2588,5 1692,8±294,3 1657,0 <0,01 -796,2±1531,2 -361,6 -881,3±634,5 -856,9 0,12 PTN (g/kg/peso) 1,3±0,4 1,4 0,7±0,2 0,75 <0,01 0,7±0,3 0,7 0,6±0,3 0,6 0,27 -0,5±0,5 -0,69 -0,0±0,4 0,05 0,01 CHO (%) 40,9±15,1 44,9 37,5±16,3 36,1 0,28 36,1±17,8 32,4 38,3±15,1 38,3 0,88 -2,3±17,7 -5,2 1,5±23,8 5,3 0,65 LIP (%) 23,7±16,3 21,4 15,0±12,3 11,7 <0,01 20,0±13,5 17,7 17,1±11,1 14,5 0,88 -7,2±17,7 -2,7 -4,0±16,0 -4,9 0,81 AGS (%) 10,2±9,7 7,4 5,9±6,3 3,7 <0,01 6,0±5,1 4,2 6,0±4,2 5,4 0,50 -3,5±10,9 -0,4 -0,3±6,4 -1,7 0,85 AGMI (%) 8,0±5,8 8,0 4,7±3,6 4,0 0,01 6,3±4,0 5,1 6,3±4,1 5,4 0,66 -1,6±6,4 -0,4 -1,0±4,9 -0,8 0,93 AGPI (%) 2,6±1,7 2,2 1,6±1,4 1,0 0,07 4,5±5,3 2,6 2,6±2,6 1,7 0,30 -0,6±1,9 -0,4 -2,2±5,8 -0,6 0,59 Col (mg) 361,9±345,2 234,6 136,5±66,5 132,9 0,05 156,3±119,3 151,0 188,3±224,0 114,2 0,98 -184,0±394,0 -161,8 0,79±220,5 -3,43 0,08 Fibras totais (g) 25,0±8,6 23,5 17,5±8,4 15,9 0,15 16,3±11,0 15,6 1030,0±559,3 10,8 0,35 -9,9±13,7 -8,9 -1,1±12,3 -1,3 0,09 Sódio (mg) 1602,0±1957,6 1081,5 1273,1±1782,9 942,2 0,01 1466,3±1289,4 1082,8 8,1±0,8 1082,8 0,52 -499,5±2117,8 101,0 -298,3±1937,6 -329,3 0,48 CT – colesterol total; TG – triglicerídeos; HDL-c – lipoproteína de alta densidade; LDL-c – lipoproteína de baixa densidade; VLDL-c – lipoproteína de muito baixa densidade; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica; PTN – proteínas; CHO – carboidratos; LIP – lipídeos; AGS – ácido graxo saturado; AGMI – ácido graxo monoinsaturado; AGPI – ácido graxo poli-insaturado; Col – colesterol total 1Teste de Wilcoxon;2Teste de Mann-Whitney. Estatisticamente significativo p<0,05 Franco et al. Qualidade da Dieta em Mulheres Int J Cardiovasc Sci. 2015 Jul 15. Epub ahead of print Artigo Original Discussão Verificou-se que, ao final do estudo, a adesão à dieta hipoenergética promoveu redução significativa da MC, IMC, PP, PC, RCEst, IAC, PAS, nas concentrações de glicose, triglicerídeos e VLDL-c. Valle et al.14 em estudo com 20 mulheres com sobrepeso e média de idade de 23,8 anos, randomizadas em grupo dieta hipoenergética e controle, por 12 semanas, também observaram redução significativa da MC, IMC, triglicerídeos e VLDL-c no grupo que recebeu dieta hipoenergética. Este estudo mostrou que mesmo com perda pequena, porém significativa, de 3,0% da massa corporal, houve redução de grande parte dos parâmetros analisados, diferente do observado em outro estudo que refere ser necessária uma perda de pelo menos 5,0% da MC para modificação desses parâmetos15. Ao analisar os dados agrupados pela classificação do IQD-R e pela análise dos alimentos ultraprocessados, pode-se observar que a dieta hipoenergética melhorou o padrão alimentar mesmo nos indivíduos com baixo nível de escolaridade e socioeconômico que apresentavam dieta inadequada. Esse achado foi diferente do observado em 660 mulheres no climatério, em atendimento ambulatorial no Sul do Brasil, onde os autores relataram que o padrão alimentar sofreu influência significativa da idade, escolaridade e renda16. A dificuldade de avaliação dos padrões alimentares saudáveis tem originado a criação de instrumentos simples e de fácil utilização para aplicação em população, ou em nível individual, com o intuito de rastrear ou acompanhar a implementação de mudanças na dieta para prevenção primária. No entanto, o emprego dos mesmos deve ser particularizado para cada população estudada17. O presente estudo demonstrou que a avaliação da qualidade da dieta não pode ser verificada pela IQD-R dicotomizado em dieta adequada ou inadequada. Por outro lado, a avaliação do consumo de alimentos ultraprocessados pareceu explicar melhor as alterações observadas nos parâmetros antropométricos e biomarcadores de mulheres com excesso de peso, que sofreram intervenção com dieta hipoenergética (Tabela 2). Costa et al.18 analisaram o IQD-R de 169 mulheres adultas sergipanas: 24,5% delas obesas, com média de idade de 49,2 anos, inseridas em programa para a prática de atividade física e verificaram escore médio de 66,6 pontos e 90,0% da amostra com dieta precisando de modificações. Morimoto et al.19, em estudo transversal com uma amostra de 1840 indivíduos adultos com 40,0% com excesso de peso, verificaram o IQD-R de uma amostra de quatro municípios no Estado de São Paulo. A média foi 60,4 pontos e os autores observaram que somente 4,0% tinham uma dieta adequada e 21,0% uma dieta inadequada. Os autores ressaltaram a tendência já Tabela 3 Alimentos ultraprocessados e ingredientes de adição consumidos pelas voluntárias durante o estudo Variáveis T0 (basal) T6 (180 dias) ∆ (T6-T0) p1 Média±DP Mediana Média±DP Mediana Média±DP Mediana Achocolatado (g) 1,8±8,6 0,0 1,7±6,9 0,0 -0,0±9,9 0,0 0,70 Biscoitos (g) 10,4±20,1 0,0 19,1±27,5 0,0 8,7±28,1 0,0 0,06 Embutidos (g) 5,7±25,7 0,0 7,0±18,3 0,0 1,2±32,9 0,0 0,37 Refrigerante (mL) 107,5±235,3 0,0 13,6±50,9 0,0 -93,8±239,3 0,0 0,00 Bombons (g) 0,68±4,5 0,0 3,4±22,6 0,0 2,7±23,1 0,0 0,65 Açúcar (g) 94,8±310,9 39,5 29,1±26,6 19,6 -65,6±311,4 -10,3 0,01 Macarrão instantâneo (g) 27,2±81,0 0,0 0,0±0,0 0,0 -27,2±81,0 0,0 0,03 Óleo vegetal (mL) 16,2±53,3 5,3 8,7±15,5 5,0 -7,5±57,0 0,0 0,25Sódio (g) 1237,8±887,4 1043,3 921,1±459,5 900,0 -297,8±1162,7 -171,6 0,25 Sucos industrializados (mL) 12,5±49,5 0,0 53,1±112,3 0,0 40,6±128,2 0,0 0,05 1Teste de Wilcoxon. Estatisticamente significativo p<0,05 Franco et al. Qualidade da Dieta em Mulheres Int J Cardiovasc Sci. 2015 Jul 15. Epub ahead of print Artigo Original observada entre os brasileiros de baixo consumo de frutas e hortaliças, e aumento no consumo de produtos processados e industrializados. Além disso, apontaram para a dificuldade de demonstrar os benefícios da adesão à dieta mediante esse instrumento de avaliação da modificação da qualidade da mesma19. Há uma crescente evidência de que o consumo de grandes quantidades de refrigerantes calóricos pode inibir os mecanismos biológicos responsáveis pelas respostas de saciedade, levando a excesso de consumo de energia e, portanto no incremento do excesso da massa corporal6. Segundo dados da Pesquisa de Orçamento Familiar, o consumo de refrigerante na região sudeste do Brasil foi o oitavo item mais prevalente dentre os itens analisados20. Também relataram que a participação relativa das gorduras na alimentação das famílias brasileiras apresentou tendência crescente, já que 82,0% dos participantes do estudo apresentaram consumo excessivo de gorduras saturadas20. A avaliação da qualidade da dieta pelo IQD-R mostrou redução significativa do consumo de proteínas e lipídios. No entanto, não foi capaz de demonstrar as diferenças quanto à classificação proposta no estudo de Previdelli et al.3 Segundo Malik et al.21 o consumo de bebidas adoçadas com açúcar pode ser um dos principais contribuintes para o aumento de sobrepeso e obesidade, em virtude do alto teor açúcar de adição dessas bebidas, com baixa saciedade e compensação incompleta para a energia total. Essa pode ser uma das razões pelas quais a avaliação dos AU demonstrou melhora da qualidade da dieta hipoenergética em mulheres com excesso de peso. O pequeno número de participantes e o fato de as mulheres pertencerem a apenas um estrato socioeconômico cultural são limitações deste estudo. Os dois instrumentos para avaliação da qualidade da dieta apresentaram limitações quando aplicados para verificar as alterações da dieta hipoenergética nos parâmetros antropométricos e bioquímicos em mulheres com excesso de peso. A combinação dos mesmos poderia ser uma alternativa para a população brasileira. São necessários novos estudos, em diferentes populações, para validar essa hipótese. Conclusão A dieta hipoenergética reduziu parâmetros antropométricos e bioquímicos e essas modificações não foram explicadas pelo IQD-R, dicotomizado em dieta adequada e inadequada, mas pela avaliação dos AU e ingredientes de adição, demonstrando as limitações dos instrumentos de avaliação da qualidade da dieta. Potencial Conflito de Interesses Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes. Fontes de Financiamento O presente estudo foi parcialmente financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Vinculação Acadêmica Este artigo representa parte da dissertação de Mestrado de Elizabeth de Paula Franco pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Referências 1. Lim SS, Vos T, Flaxman AD, Danaei G, Shibuya K, Adair-Rohani H, et al. A comparative risk assessment of burden of disease and injury attributable to 67 risk factors and risk factor clusters in 21 regions, 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet. 2012;380(9859):2224-60. Erratum in: Lancet. 2013;381(9867):628. Lancet. 2013;381(9874):1276. 2. Finucane MM, Stevens GA, Cowan MJ, Danaei G, Lin JK, Paciorek CJ, et al; Global Burden of Metabolic Risk Factors of Chronic Diseases Collaborating Group (Body Mass Index). 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