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Delegado Civil Diurno – Paulista 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Práticas Policiais 
 Professor: Francisco Sannini 
 Aula: 06 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
REPRESENTAÇÃO PARA QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO 
 
REPRESENTAÇÃO PARA QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO 
 
Questão n°06: No dia 25 de julho de 2015, às 21:00h, Júlio Barreto foi vítima de um roubo na Cidade do Rio de 
Janeiro, onde o criminoso levou apenas o seu aparelho celular Samsung Galaxy. Foi registrado o boletim de 
ocorrência e instaurado inquérito policial. Não há qualquer informação acerca da autoria, contudo, em suas 
declarações, a vítima afirmou que o número do IMEI do seu aparelho é 306684111. Na qualidade de delegado de 
polícia responsável pela condução desta investigação, elabore a peça de polícia judiciária adequada para o 
esclarecimento do crime. 
*#06# - digitar esse número do celular para descobrir o número IMEI. 
Não confundir com a representação para a interceptação telefônica. 
Um terceiro capta a conversação alheia entre duas ou mais pessoas, sem o conhecimento dos interlocutores. Há o 
acompanhamento do conteúdo conversado em tempo real. 
Quebra de sigilo telefônico - acesso ao conteúdo, ao histórico das ligações de determinado aparelho, de 
determinada linha telefônica. 
O direito à intimidade não é tão “aviltado” quanto na interceptação telefônica. 
Para a obtenção da quebra do sigilo telefônico deverá haver autorização judicial (reserva de jurisdição). 
O delegado de polícia pode analisar o histórico de chamadas recebidas/efetuadas, agenda etc. ou requisitar perícia 
no aparelho celular de uma pessoa suspeita da prática de um crime (exemplo: tráfico de drogas)? 
Segundo o professor sim. Há quem entenda ser necessário representar ao Judiciário . 
HC 91867, STF, Relator: Ministro Gilmar Mendes – o delegado pode acessar o conteúdo de chamadas e de lista 
telefônica independentemente de autorização do Poder Judiciário. 
E os policias militares? Policial, ao abordar pessoas na rua pode acessar o conteúdo do celular? 
Não, sob pena de responder por abuso. 
Se o policial solicitar senha para ter acesso somente ao número do IMEI (sob suspeita de o aparelho ser objeto de 
receptação), o professor não vê ilegalidade nessa conduta. 
E se a suspeita se confirmar: o aparelho celular é fruto de receptação. Cabe prisão em flagrante? 
Segundo o professor, não é cabível flagrante neste caso. O art.180, do CP não possui como verbo “possuir”. 
Deve ser o sujeito indiciado por receptação, mas não preso em flagrante. 
 
Resumo esquematizado 
1) Elaborar um breve relato dos fatos apurados; 
2) Demonstrar a imprescindibilidade da medida e sua adequação para o esclarecimento do crime; 
3) Solicitar que a operadora informe se o aparelho em questão foi utilizado por outras linhas móveis a partir 
da data do roubo. 
Observação: A representação para a quebra de sigilo telefônico pode ser feita por ofício ou nos próprios autos do 
inquérito policial. 
 
 
 
 
 
 
 
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REPRESENTAÇÃO PARA QUEBRA DE SIGILO TELEFÔNICO 
 
Meritíssimo Juiz, 
 
Trata-se, em suma, de inquérito policial instaurado por meio de Portaria visando a apurar a prática, em tese, do 
crime previsto no artigo 157, §2°, inciso I, do CP, haja vista que, no dia 25 de julho de 2015, Júlio Barreto foi 
abordado por um indivíduo desconhecido que, mediante grave ameaça exercida por meio do emprego de arma de 
fogo, subtraiu seu aparelho celular da marca Samsung Galaxy, cujo número de IMEI seria 306684111. Destaque-se, 
Excelência, que o telefone celular constitui uma importante fonte de informação, sendo comum a sua utilização 
pelo próprio autor do crime ou por algum receptador, haja vista a facilidade existente para instalação de um novo 
chip no aparelho. 
Assim, com espeque nas razões acima apontadas e objetivando verificar se alguma pessoa utilizou o aparelho 
roubado após a data do crime, considerando a imprescindibilidade da medida para a perfeita apuração dos fatos, 
a POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por intermédio do Delegado de Polícia subscritor, vem, 
respeitosamente, perante Vossa Excelência, REPRESENTAR para que seja adotada a seguinte medida: 
- Intercessão junto às operadoras de telefonia celular, CLARO, TIM, VIVO e OI, para que informem se o aparelho 
Samsung Galaxy cujo número de IMEI é 306684111, de propriedade da vítima Júlio Barreto, foi utilizado por outras 
linhas de telefone móvel a partir das 21:00h do dia 25 de julho de 2015 até a data da pesquisa, informando-se, 
ainda, os dados cadastrais do titular, caso isso tenha ocorrido. 
Reiteramos, por fim, a imprescindibilidade dessa medida para a correta apuração do crime objeto deste inquérito 
policial, ouvindo-se para tanto, o representante do Ministério Público. 
 
Rio de Janeiro, data. 
 
 DELEGADO DE POLÍCIA 
 
JURISPRUDÊNCIA E ARTIGO DE LEI MENCIONADOS EM AULA: 
 
HC 91867 – EMENTA: 
 
HABEAS CORPUS. NULIDADES: (1) INÉPCIA DA DENÚNCIA; (2) ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA DURANTE O 
INQUÉRITO POLICIAL; VIOLAÇÃO DE REGISTROS TELEFÔNICOS DO CORRÉU, EXECUTOR DO CRIME, SEM 
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL; (3) ILICITUDE DA PROVA DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS DE CONVERSAS DOS 
ACUSADOS COM ADVOGADOS, PORQUANTO ESSAS GRAVAÇÕES OFENDERIAM O DISPOSTO NO ART. 7º, II, DA LEI 
8.906/96, QUE GARANTE O SIGILO DESSAS CONVERSAS. VÍCIOS NÃO CARACTERIZADOS. ORDEM DENEGADA. 1. 
Inépcia da denúncia. Improcedência. Preenchimento dos requisitos do art. 41 do CPP. A denúncia narra, de forma 
pormenorizada, os fatos e as circunstâncias. Pretensas omissões – nomes completos de outras vítimas, relacionadas 
a fatos que não constituem objeto da imputação –- não importam em prejuízo à defesa. 2. Ilicitude da prova 
produzida durante o inquérito policial - violação de registros telefônicos de corréu, executor do crime, sem 
autorização judicial. 2.1 Suposta ilegalidade decorrente do fato de os policiais, após a prisão em flagrante do corréu, 
terem realizado a análise dos últimos registros telefônicos dos dois aparelhos celulares apreendidos. Não 
ocorrência. 2.2 Não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que recebem, inclusive, proteção 
jurídica distinta. Não se pode interpretar a cláusula do artigo 5º, XII, da CF, no sentido de proteção aos dados 
enquanto registro, depósito registral. A proteção constitucional é da comunicação de dados e não dos dados. 2.3 
Art. 6º do CPP: dever da autoridade policial de proceder à coleta do material comprobatório da prática da infração 
penal. Ao proceder à pesquisa na agenda eletrônica dos aparelhos devidamente apreendidos, meio material 
indireto de prova, a autoridade policial, cumprindo o seu mister, buscou, unicamente, colher elementos de 
 
 
 
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informação hábeis a esclarecer a autoria e a materialidade do delito (dessa análise logrou encontrar ligações entre 
o executor do homicídio e o ora paciente). Verificação que permitiu a orientação inicial da linha investigatória a ser 
adotada, bem como possibilitou concluir que os aparelhos seriam relevantes para a investigação. 2.4 À guisa de 
mera argumentação, mesmo que se pudesse reputar a prova produzida como ilícita e as demais, ilícitas por 
derivação, nos termos da teoria dos frutos da árvore venenosa (fruit of the poisonous tree), é certo que, ainda 
assim, melhor sorte não assistiria à defesa. É que, na hipótese, não há que se falar em prova ilícita por derivação. 
Nos termos da teoria da descoberta inevitável, construída pela Suprema Corte norte-americana no caso Nix x 
Williams (1984), o curso normal das investigações conduziria a elementos informativos que vinculariam os 
pacientes ao fato investigado. Bases desse entendimento que parecem ter encontrado guarida no ordenamento 
jurídico pátrio com o advento da Lei 11.690/2008,que deu nova redação ao art. 157 do CPP, em especial o seu § 
2º. 3. Ilicitude da prova das interceptações telefônicas de conversas dos acusados com advogados, ao argumento 
de que essas gravações ofenderiam o disposto no art. 7º, II, da Lei n. 8.906/96, que garante o sigilo dessas 
conversas. 3.1 Nos termos do art. 7º, II, da Lei 8.906/94, o Estatuto da Advocacia garante ao advogado a 
inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua 
correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia. 3.2 Na 
hipótese, o magistrado de primeiro grau, por reputar necessária a realização da prova, determinou, de forma 
fundamentada, a interceptação telefônica direcionada às pessoas investigadas, não tendo, em momento algum, 
ordenado a devassa das linhas telefônicas dos advogados dos pacientes. Mitigação que pode, eventualmente, 
burlar a proteção jurídica. 3.3 Sucede que, no curso da execução da medida, os diálogos travados entre o paciente 
e o advogado do corréu acabaram, de maneira automática, interceptados, aliás, como qualquer outra conversa 
direcionada ao ramal do paciente. Inexistência, no caso, de relação jurídica cliente-advogado. 3.4 Não cabe aos 
policiais executores da medida proceder a uma espécie de filtragem das escutas interceptadas. A impossibilidade 
desse filtro atua, inclusive, como verdadeira garantia ao cidadão, porquanto retira da esfera de arbítrio da polícia 
escolher o que é ou não conveniente ser interceptado e gravado. Valoração, e eventual exclusão, que cabe ao 
magistrado a quem a prova é dirigida. 4. Ordem denegada. 
 
(STF - HC: 91867 PA, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 24/04/2012, Segunda Turma, Data de 
Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 19-09-2012 PUBLIC 20-09-2012) 
 
Art. 157, CP - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, 
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, 
por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: 
 Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
 § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a 
coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de 
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou 
para terceiro. 
 § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: 
 I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; 
 II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; 
 III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente 
conhece tal circunstância. 
 IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser 
transportado para outro Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei 
nº 9.426, de 1996) 
 V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua 
liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 
 
 
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 § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de 
reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a 
reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. (Redação dada 
pela Lei nº 9.426, de 1996) Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 
 
 Art. 180, CP - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em 
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou 
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: 
(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela 
Lei nº 9.426, de 1996) 
 Receptação qualificada (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em 
depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de 
qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de 
atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de 
crime:(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.(Redação dada pela 
Lei nº 9.426, de 1996) 
 § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo 
anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, 
inclusive o exercício em residência. (Redação dada pela Lei nº 9.426, 
de 1996) 
 § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela 
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a 
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: (Redação dada 
pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as 
penas. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento 
de pena o autor do crime de que proveio a coisa. (Redação dada pela 
Lei nº 9.426, de 1996) 
 § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, 
tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na 
receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. (Incluído 
pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 § 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, 
Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou 
sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo 
aplica-se em dobro. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

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