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A proporção de mulheres cujo músculo tinha uma tonici- dade relativamente boa, constituindo portanto um suporte firme e reto, em boas condições de funcionamento, era de uma em três. Para elas, a incontinência urinaria era uma raridade. (Devemos observar que esse problema tem ainda outras causas além da fraqueza muscular.) Além disso, tinham partos rela- tivamente mais fáceis, que causavam poucos danos à vagina. Sua reação sexual, em geral, era boa. Mas, pelo menos em duas de cada três mulheres examina- das, o pubo-coccígeo era relativamente flácido e fraco. Ficava abaulado, como uma rede; e os órgãos que ele tinha a função de sustentar, eram caídos. Para essas mulheres, o parto parecia ser mais penoso; eram mais comuns as afecções do canal vaginal. Após o nascimento dos filhos, aparecia a incon- tinência urinaria, e, em alguns casos, esse problema vinha desde a infância. Para elas, a satisfação sexual era coisa rara. O mais estranho é que a tonicidade do pubo-coccígeo parecia independer totalmente da condição geral dos outros músculos. Assim é que mulheres atletas podem ter um pubo- coccígeo fraco e flácido. Enquanto outras, mais delicadas, de vida mais sedentária, apresentam bom tono muscular no pubo-coccígeo. A explicação era que este músculo acha-se suspenso pelas duas pontas, preso pelas extremidades a dois ossos. Portanto, o exercitamento de outros músculos não o afetava. Ele se acha desligado dos outros. Aos poucos, Kegel foi criando um método para exercitar e fortalecer o pubo-coccígeo. Em 1947, a Escola de Medicina da Califórnia fundou uma clínica onde ele pôde continuar seu 134 ( Fig.6 — O pubo-coccígeo visto de cima. Observe como as fibras cercam as três aberturas, ligando-se às fibras musculares desses órgãos. Quando o pubo-coccígeo tem bastante tônus muscular fornece um bom suporte para esses órgãos; quando é flácido, o suporte é pouco. Esses músculos podem ser fortalecidos através de um exercitamento correto. trabalho, e, em 1948, sua obra conquistou o prêmio anual da Sociedade de Obstetrícia de Los Angeles. Embora o interesse principal de Kegel não fossem os problemas de ordem sexual, ele sentiu-se obrigado a seguir o ) fio de suas descobertas nesse campo. Começou a aceitar em sua clínica pacientes encaminhadas pelo Instituto Americano de Relações Familiares, as quais haviam fracassado sexual- mente. ... Certa paciente era pessoa carinhosa e obtinha grande satisfação no amor físico, mas não conseguia atingir o orgas- mo. Na verdade, ela sentia pouco estímulo físico, depois que iniciava o ato propriamente dito. Contudo, psicologicamente, era uma pessoa normal. Depois de examiná-la, o Dr. Kegel mostrou-lhe dois moldes em gesso que ilustravam sua descoberta. Esses moldes haviam sido feitos pela introdução de uma massa especial no interior da vagina, retirada assim que tomou a conformação do órgão. Eram moldes quase perfeitos do canal vaginal. Um deles era da vagina de uma paciente que possuía boa tonicidade no pubo-coccígeo. Parecia-se com um tubo com- primido. Largo na base, estreitava-se no centro, por cerca de 135 cinco centímetros, para depois alargar-se novamente. A parte estreitada revelava a ação compressora do seu pubo-coccígeo, que era um músculo forte. Nessa parte também, a parede do molde se mostrava ligeiramente ondulada, sendo que essas ondulações haviam sido produzidas pela pressão do enrijeci- mento das faixas musculares, uma sobre a outra. Eram as fibras do pubo-coccígeo. Por causa delas é que a vagina era forte. O outro molde fora tirado da vagina de uma paciente que nunca havia experimentado um verdadeiro orgasmo. Asseme- lhava-se a um funil, cujos lados eram lisos; era estreito na abertura e alargava-se para o alto. As paredes dele estavam praticamente sem marcas de pressão muscular. Estava claro que o pubo-coccígeo era fraco. O órgão tinha pouco suporte e baixa tonicidade. "Esse segundo molde", explicou o médico, "é mais ou menos uma reprodução das condições de sua vagina. Você pode perceber que a vagina da qual este molde foi feito não pode exercer a pressão necessária a uma boa função sexual." Por que essa capacidade de fazer a compressão é tão importante no ato sexual? A resposta desta pergunta fornece aos estudiosos do assunto a solução para a velha questão de como a vagina pode fornecer satisfação sexual, quando parece quase não possuir terminações nervosas. A solução é dada deste modo pelos doutores Terence F. McGuire e Richard M. Steinhilber, da Clínica Mayo: "De acordo com as informações atuais, os músculos situados lado a lado com a mucosa vaginal (parede interna da vagina) e a ela ligados, possuem muitos nervos proprioceptivos (terminações nervosas sensíveis à pressão, movimentos ou distensão). Esses nervos são adequadamente estimulados durante o ato sexual, e podem representar... o mecanismo sensorial básico. Tudo indica que existe realmente um orgasmo vaginal." Em outras palavras, o músculo que cerca a vagina é rico em terminações nervosas. Os médicos não encontraram tais ner- vos, porque limitaram-se a procurá-los apenas no interior da vagina. E como estes nervos acham-se do outro lado da parede vaginal, é preciso que se exerça uma pressão firme, de dentro para fora, para que eles sejam estimulados. Numa vagina larga, relaxada, o órgão masculino tem poucos e raros contatos com as paredes do canal, e por isso o estímulo exercido sobre os nervos da musculatura que o circunda é insuficiente. Quando a vagina, pelas contrações desses músculos, é 136 estreitada, formando um canal rijo e firme, o órgão masculino faz pressão sobre eles, criando assim um forte estímulo. Estimulados, os músculos responderão com uma contração automática, o que aumenta o contato, o qual, por sua vez, eleva a tensão que culmina com o clímax feminino. Alguns estudiosos do assunto já suspeitavam deste fato antes. Já por volta do início da século, o Dr. Robert L. Dickinson observou que era capaz de identificar mulheres que provavelmente fracassavam no ato sexual, apenas examinan- do-as. Ele escreveu o seguinte: "A medida, o tônus, as reações e o ritmo de contração dos músculos da base pélvica são indicadores do tipo de orgasmo no coito" (orgasmo atingido durante o intercurso sexual). A respeito de uma de suas primeiras pacientes, ele obser- vou o seguinte: "O músculo eretor não se acha em boas condições. Ensinei-a a contraí-lo." E depois acrescentou: "Parece muito significativo o fato de que inúmeras mulheres conseguem obter certa satisfação orgásmica depois de recebe- rem instruções, o que não conseguiam antes delas." Alguns povos primitivos e orientais já reconheceram a necessidade desse controle muscular, e instruem as jovens nesse sentido. Em certa tribo africana, nenhuma moça pode casar-se sem antes aprender a exercitar os músculos vaginais de forma a contraí-los para exercer pressão. Outros grupos já notaram que, após o parto, o desempenho sexual da mulher fica prejudicado devido ao alargamento do canal ou a alguma lesão decorrente dele. Em alguns países muçulmanos, as mulheres têm o estranho costume de encherem a vagina com pedras de sal, logo após o parto, a fim de forçá-la a contrair-se. Após um estudo das reações sexuais em vários grupos sociais, Ford e Beach concluíram que "Existem fortes evidên- cias que comprovam a tese de que a distensão das paredes vaginais, em decorrência da introdução do rjênis, é fator de grande importância." Atualmente, relatórios de estudos, amplamente divulgados, confirmam esta conclusão. O Dr. Donald Hastings, da Univer- sidade de Minnesota, faz o seguinte comentário: "O exercita- mento e a contração voluntária dos músculos que formam a base pélvica e cercam a vagina são importantes para a intensificação do prazer sexual."