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Ergonomia e Segurança do Trabalho Ergonomia e Segurança do Trabalho Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.e Cristhiane Eliza dos Santos Revisão Textual: Prof. 5 • Conceito de Ergonomia • Origem da Ergonomia • Objetivos básicos da Ergonomia O conteúdo dessa unidade foi elaborado de maneira a propiciar sua participação efetiva nas atividades. Leia o conteúdo sugerido, procure se aprofundar no complementar com artigos, vídeos e filmes. Essa dinâmica vai coloca-lo no caminho da construção do seu próprio conhecimento. Esse é o único caminho no sentido de obter não somente informações “regulamentares”, mais obter sim, a “ampliação do tamanho do seu mundo” que é verdadeiramente emancipadora. Participe dos fóruns. O compartilhamento de informações e de pontos de vista é de grande valia na construção e consolidação do seu conhecimento além de ser, incondicionalmente, um exercício de cidadania e democracia! · esta unidade tem por objetivo apresentar e introduzir os conceitos elementares sobre a ergonomia e segurança do trabalho situando-as na história e, permitindo que você possa compreendê-las e localizá-las no amplo contexto da engenharia. Ergonomia e Segurança do Trabalho • Os precursores da Ergonomia • A ergonomia, do Taylorismo até os dias de hoje • A abrangência da Ergonomia 6 Como o curso está estruturado: • Os assuntos abordados nas unidades estão apresentados de forma tão objetiva quanto possível. Seus tópicos mais importantes estão enfatizados por elementos gráficos. • Todas as lições apresentam: • Um texto introdutório dando uma ideia geral da matéria que será enfocada; • Seções expositivas, dividindo didaticamente a matéria em temas ordenados; • Exercícios de fixação de aprendizagem. Como você deve estudar: • Tenha em mente que vários períodos curtos de estudo são mais producentes que um único período longo. Reserve quatro períodos por semana para trabalhar com o curso. Passe de 50 min a uma hora estudando de cada vez, ou se preferir, apesar da sugestão, estude as 4h/a em um dos dias da semana com uma pausa de 20 min entre cada 2h/a. • Cada assunto é cuidadosamente planejado para ordenar as informações necessárias ao entendimento da matéria – sua capacidade de assimilar um conteúdo depende de quão bem você aprendeu a precedente. • O domínio do assunto estudado se dá por meio do estudo repetido. O ideal é sentir-se a vontade a seu respeito a ponto ser possível reproduzi-lo. • Responda os exercícios de recapitulação no final de cada unidade. Pense 7 Contextualização Um dos principais objetivos no mundo de hoje é a produção máxima com um custo mínimo. Isso vale tanto os países subdesenvolvidos que buscam de alguma maneira alternativas que possam melhorar os seus custos para eventualmente alcançar o crescimento, quanto os países desenvolvidos que buscam o controle econômico, mas, muitas vezes, esse interesse deixa de lado o bem estar do ser humano e, para isso é necessário que exista algo que possa tratar da segurança do mesmo. Fonte: http://segurancasaude.blogspot.com.br/2011/10/acidentes-de-trabalho-consequencias-e.html Com isso, podemos pensar nos conceitos de segurança e de ergonomia que podem e devem atuar em conjunto com um fator imprescindível na redução dos custos: a tecnologia. 8 Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho 1 – Conceito de Ergonomia O conceito de ergonomia está relacionado com a concepção do trabalho e remonta a história do homem na Terra: A primeira definição de trabalho conhecida está nas Sagradas Escrituras em Gênesis 3: 17 b, 19: Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano: maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Do suor do rosto comerás teu pão, até que tornes a terra; pois dela foste tomado; pois és pó, e ao pó tornarás. É conclusivo que o trabalho está relacionado com a noção geral de sofrimento e pena. (Bíblia, 1995). Há muitas definições sobre ergonomia. Vamos apresentar algumas delas. Segundo Falzon (2009), a International Ergonomics Association (IEA), em 2000 adotou uma definição que é referência internacional. Todavia, vamos apresentar a definição que antecedeu a definição de 2000 para que o leitor possa compreender a evolução da conceituação entre os próprios ergonomistas. Assim, ilustramos a premissa de que além de ser uma disciplina “nova”, em especial no Brasil, o conceito vêm sendo continuamente revisto causando assim, uma constante ampliação de escopo da citada disciplina. Primeira definição de ergonomia proposta pelo IEA: A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e ambientes de trabalho. Seu objetivo é elaborar, com a colaboração de diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, numa perspectiva de aplicação, deve ter como finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos de produção e dos ambientes do trabalho e da vida. A segunda definição de ergonomia proposta pelo IEA em 2000: 9 A ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica que visa a compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e outros componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos, dados e métodos com o objetivo de otimizar o bem estar das pessoas e o desempenho global dos sistemas. Os profissionais que praticam a ergonomia, os ergonomistas, contribuem para planificação, concepção e avaliação das tarefas, empregos, produtos, organizações, meios ambientes e sistemas, tendo em vista torna-los compatíveis com as necessidades, capacidades e limites das pessoas. Note que, conforme apontado anteriormente, é evidente a ampliação do escopo da ergonomia. Se compararmos atentamente as duas definições do IEA notaremos que há uma evolução significativa na percepção do conceito de trabalho e de quem o executa vindo ao encontro com a “Escola das relações humanas” e em oposição á “Escola da Administração Científica de Taylor”, especificamente, no reconhecimento da força de trabalhador (homem) como ser humano. Nota- se também uma “preocupação” no sentido de adequar harmonicamente a interação da força de trabalho humana com os sistemas, de maneira que a especificação do trabalho laboral não venha prejudicar a saúde do homem e nem tão pouco venha a comprometer sua força de trabalho futura. Ainda na segunda definição do IEA, o universo da ergonomia é dividido em três dimensões: • Ergonomia física: está relacionada com as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica e sua relação à atividade física. Os tópicos relevantes incluem o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde. • Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação homem computador, stress e treinamento conforme esses se relacionem a projetos envolvendo seres humanos e sistemas. • Ergonomia organizacional: refere-se à otimização dos sistemas sóciotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, gerenciamento de recursos de tripulações (CRM - domínio aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede, tele-trabalho e gestão da qualidade. 10 Unidade: Ergonomia eSegurança do Trabalho As “áreas de especialização da ergonomia” proposta pelo IEA, segundo Falzon (2009), são citadas por autores em todo mundo e, assim, adotada como referência internacional. E, segundo Falzon (2009), ainda na segunda definição proposta pelo IEA em 2000 esclarece- se que: A palavra Ergonomia deriva do grego Ergon [trabalho] e nomos [normas, regras, leis]. Trata- se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade humana. Para darem conta da amplitude dessa dimensão e poderem intervir nas atividades do trabalho é preciso que os ergonomistas tenham uma abordagem multidisciplinar de todo o campo de ação da disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos, como sociais, organizacionais, ambientais, etc. Contudo, pode dizer que ergonomia está apoiada em dois pilares fundamentais: De um lado o objetivo centrado nas organizações e sua busca incansável pela eficiência, produtividade, confiabilidade, qualidade, durabilidade, etc. a fim de serem mais competitivas reduzindo custos. De outro, o objetivo centrado no ser humano considerando-se segurança, saúde, conforto, facilidade de uso, motivação, etc. Sob o enfoque de projeto do trabalho, a ergonomia é definida por Barnes (2008) como o meio de encontrar a mais eficiente combinação entre homem e máquinas equipamentos e materiais no ambiente de trabalho e cita que o objetivo da ergonomia é a adaptação das tarefas ao ambiente de trabalho às características sensoriais, perceptivas, mentais e físicas das pessoas, e, como resultado, obtém-se então melhores projetos de equipamentos, sistemas homem-máquina, de produtos de consumo, métodos e ambiente de trabalho. No Brasil, contamos com a ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia1 que é uma associação sem fins lucrativos que tem como finalidade o estudo, a prática e a divulgação das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente considerando as suas necessidades, habilidades e limitações. 2 – Origem da Ergonomia A ergonomia surgiu em meados da Segunda Guerra Mundial em virtude da complexidade de manuseio de armamento e dispositivos de ataque. Todo planejamento e investimento feito no desenvolvimento de materiais bélicos seria inútil se o “operador” (soldado) não soubesse como fazê-lo. E ainda, frente aos horrores da guerra muitos soldados desenvolviam doenças psiquiátricas. Para amenizar o impacto, tanto de manuseio como da saúde mental dos soldados e procurar “manter a produtividade”, grupos multidisciplinares foram mobilizados para entrar como “suporte” no cenário da guerra. 1 Disponível em:< http://www.abergo.org.br>. Acessado em: jul / 12. 11 Figura 1.1 – http://www.portalplanetasedna.com.ar/images/guerra2_05.jpg Mais especificamente, a ergonomia nasceu em 12 de junho de 1949, data em que se reuniu, pela primeira vez na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores motivados em discutir essa “nova disciplina” interessada em discutir e formalizar esse novo campo de pesquisa multidisciplinar da ciência que propunha uma interação harmônica entre homens e sistemas. Todavia, já em meados de 1857 um polonês, Wojciech Jastrzebowski já havia publicado um artigo sob o título “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. Entretanto, a ergonomia só veio adquirir status de disciplina mais organizada em na primeira metade de 1950 com a fundação da Ergonomics Research Society, na Inglaterra. Os membros dessa organização, muitos deles pesquisadores, disseminavam seus conhecimentos e propunham a aplicação da ergonomia na indústria e não somente na área militar como era difundido até então. 3 – Objetivos básicos da Ergonomia Conforme citado anteriormente, o objetivo da ergonomia é estudar a interação entre o homem e os sistemas considerando fatores físicos e psicológicos a fim de obter ganhos em eficiência para os sistemas (empresas) bem como a manutenção da saúde por parte dos colaboradores procurando reduzir a fadiga, estresse, erros e acidentes. Nesse cenário, a eficiência produtiva bem como motivação é consequência direta da assertividade dessas ações. Para o “exercício e aplicação da ergonomia” conforme discutido até agora é preciso deixar claro que não é o empenho de apenas um colaborador, ou ainda, a contribuição de uma área específica de conhecimento que vai obter resultados esperados. É preciso contar com grupo multidisciplinar com representantes de várias áreas da organização, como: médico do trabalho, psicólogos dos recursos humanos, técnicos da segurança do trabalho, representantes da operação, engenheiros da produção, engenheiros do desenvolvimento do produto ou serviço e do processo, profissionais da manutenção e demais áreas que possa se fazer necessário. E ainda, além do grupo multidisciplinar é preciso ter o conhecimento de que, se necessário, profissionais de outros campos de conhecimento devem ser convidados a participar dos projetos de ergonomia tais como: Psicologia, Anatomia e Fisiologia, Organização do Trabalho, Design e Métodos de Avaliação, Tecnologia da informação, entre outros. 12 Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho 4 – Os precursores da Ergonomia Discorrendo sobre a ergonomia é imprescindível citar as definições, a origem, mas, para um completo entendimento da aplicação da ergonomia nos dias de hoje, não podemos deixar passar despercebido os precursores da ergonomia. Vamos a eles! Já foi mencionado, nessa seção, que identificamos nas escrituras da Bíblia a noção de trabalho dedicado ao homem para a sua sobrevivência. Vimos também que a noção de ergonomia acompanha a necessidade de trabalho que homem tem a partir da mais básica, que é caçar para comer. Ainda na pré-história quando o homem era nômade precisava caçar para comer e, quando a comida começava faltar em uma determinada região, migravam pra outra. E, quando saiam para a caça, procuravam uma pedra que melhor se encaixasse á sua mão a fim de usá-la como arma e auxiliar na caçada. Nota-se que desde a pré-história, ainda que intuitivamente, o homem procura por dispositivos que o auxiliem no trabalho. Essa ideia também esteve presente na era da produção artesanal que antecedeu a revolução industrial onde os artesãos procuravam adaptar as tarefas às necessidades humanas. A Inglaterra foi “arrastada” para a Revolução Industrial a partir da formação de uma classe burguesa ávida por consumir bens, pelo êxodo dos ingleses do campo para a cidade e, ainda, o domínio da tecnologia da máquina a vapor. Essa união de fatores promoveu a Revolução Industrial na Inglaterra, evento esse que mudou a face do mundo. A onda da “produção de bens” em escala industrial (larga escala) invadiu a Europa rapidamente por uma questão de proximidade geográfica e subsequentemente, a América. As primeiras fábricas que surgiram nesse cenário eram sujas, escuras, barulhentas e perigosas; era o ambiente de trabalho de milhares de pessoas. As fábricas dessa época em nada parecem com o ambiente industrial nos moldes que conhecemos hoje em dia. Naquela época o trabalho era realizado por homens, mulheres e crianças que tinham jornadas de trabalho de até 18 horas por dia e, constantemente, submetidos à castigos físicos, sem férias, sem indenizações de qualquer espécie e o pagamento pelo trabalho era feito diariamente. Figura 1.3 – Cena do Filme Tempos Modernos - “Não sois máquinas; Homens é o que sois” – Charlie Chaplin Fonte: http://guia.uol.com.br/album/2012/08/09/confira-filmes-de- charles-chaplin-em-mostra-de-belo-horizonte.htm#fotoNav=2 – Acessado em julho 2012. Figura 1.2 – Máquina a vapor. Fonte: http://www.viaki.net/wp-content/ uploads/2012/06/maquinas-a-vapor-antiga.jpg - Acessado em julho 2012. 13 No final do século XVIII e início do século XIX, surge nosEstados Unidos da América um simples operário que revolucionaria a maneira de se produzir bens industrialmente (em larga escala), seu nome é Frederick Winslow Taylor. Taylor estudou e tornou-se Engenheiro Mecânico e, no ambiente que conhecia, foi de simples operário à gerente industrial promovendo estudos sistêmicos acerca de como organizar a produção e melhorar a sua eficiência. Esses estudos transformaram-se em publicações que preconizavam uma maneira sistêmica, científica de analisar o trabalho buscando redução de movimentos e aumento de eficiência. A essa “maneira científica” de “organizar o trabalho” deu-se o nome de Administração Científica ou Taylorismo. Na Europa, mais especificamente na Alemanha e França e países escandinavos em meados de 1900, surgiram estudos sobre a fisiologia humana voltada ao trabalho (fisiologia do trabalho) e gastos energéticos na tentativa de migrar os conhecimentos sobre fisiologia desenvolvidos em laboratório para ambientes extremos tais como: minas de carvão, fundições e outras situações onde a energia gasta para realizar o trabalho humano era máxima e o ambiente extremante agressivo à saúde humana. Ao redor do mundo, muitos esforços foram mobilizados para realização de estudos relacionados sobre os movimentos do corpo como: fadiga muscular, fadiga psicológica, aptidão física, postura no trabalho, desenvolvimento de mobiliário, iluminação, ventilação, temperatura, ruído, umidade, vibração, etc. Todos esses conhecimentos que foram acerca da combinação harmônica entre homens e sistemas acumulados em todas as partes do planeta foram de grande valor na ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) com a finalidade de desenvolver projetos e promover a construção de materiais bélicos sofisticados tais como submarinos, tanques, radares, navios, aviões, sistemas contra incêndio, etc. Além do alto custo de cada um desses produtos, o operador (soldado) no manuseio dessas “máquinas” era exposto a condições de extrema fadiga física e psicológica. Assim, estudos foram promovidos por equipes multidisciplinares a fim de melhorar a adaptação do homem ao sistema, ou seja, do soldado às máquinas bélicas no campo de batalha. A ergonomia do pós-guerra, em tempos de paz, era frequentemente ridicularizada por sua “falta de credibilidade” que perdurou até o Departamento de Defesa dos EUA desenvolver pesquisas em Universidades e Centros de Pesquisa Especializados. 5 – A Ergonomia, do Taylorismo até os dias de hoje Conforme citado anteriormente, o ícone da Administração Científica é o Engenheiro americano, Frederick Winslow Taylor (1856 – 1915), todavia, devido à importância de seus métodos, vamos conhecê-lo melhor. Retomando, Taylor começou sua vida profissional como simples funcionário de uma empresa metalúrgica americana e chegou, como engenheiro mecânico ao nível, do que se conhece de estrutura organizacional nos dias de hoje, diretoria industrial tendo passado também pelo nível gerencial. Figura 1.4 – Frederick Wisnlow Taylor (1856 – 1915) Fonte: upload.wikimedia. org/wikipedia/commons/9/90/ Frederick_Winslow_Taylor_ crop.jpg 14 Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho Pelo fato de Taylor iniciar sua vida profissional como simples operário, nessa função, teve a oportunidade de vivenciar o que a sociologia do trabalho chama de código de trabalho. Código de trabalho é quando os funcionários de um determinado setor de uma empresa definem regras próprias quanto ao ritmo de trabalho e, muitas vezes, regras próprias para o método de trabalho também. Por isso, mais tarde, Taylor definiu os funcionários de “indolentes”; oportunamente retornaremos a essa afirmação. Ao receber sua primeira promoção, Taylor, como qualquer líder, inclusive nos dias de hoje, passou a ser cobrado por resultados. Como era conhecedor de como o trabalho era realizado em sua empresa, sabia que era vital para seu sucesso profissional organizar a parte feia, suja e desorganizada da empresa chamada de produção. Como não havia nenhum histórico anterior relacionado a estudos específicos sobre organização da produção ou eficiência do processo produtivo, Taylor pode realizar, sem nenhum tipo de cobrança ou expectativa, seus experimentos acerca do que ele, Taylor, imaginava ser uma empresa organizada e eficiente. Fez muitos testes tipo tentativa e erro. O resultado desses testes e observações fez com que Taylor publicasse sua teoria de organização do trabalho conhecido como “Princípios da Administração Científica” que consistia primeiramente na divisão do trabalho. Taylor pregava que para se obter ganhos de eficiência na produção de todo trabalho a ser realizado, esse “trabalho todo” deveria ser dividido em tarefas simples e repetitivas e que o funcionário deveria ser treinado nas suas tarefas seguindo rigorosamente a “prescrição da tarefa”. Naquela época o funcionário recebia por dia e não havia um vínculo formal de trabalho na forma de “emprego” como conhecemos hoje. Antes de seu método, não havia nenhuma recomendação da sequência de atividades que deveriam ser feitas ou como essas atividades deveriam ser feitas. Cada um fazia, mais ou menos, o que queria da forma que queria e com a “carga de trabalho” que achava justa pelo seu ganho diário. Ou seja, um funcionário que trabalhava muito ganhava o mesmo dinheiro que um funcionário que trabalhava pouco; logo, a realização do trabalho era nivelada por baixo. E Taylor sabia disso, sabia que havia uma boa parcela de ineficiência aceita pelo formato de trabalho da época. Foi nesse cenário que Taylor, ao dividir o trabalho, impôs uma sequência de trabalho, posto a posto de trabalho. Definiu que, em cada posto de trabalho as tarefas deveriam ser feitas de maneira simples e repetitivas. Foi uma maneira inteligente de definir um fluxo contínuo de produção além de tentar garantir que o trabalho fosse feito, sempre, da mesma maneira e, como consequência distribuiu a carga de trabalho uniformemente entre os operários em cada um dos seus postos der trabalho. Na prescrição da tarefa dos postos de trabalho, Taylor procurava pensar na tarefa e rever os movimentos de maneira a eliminar os movimentos desnecessários a fim de economizar tempo e energia. A fim de tornar o trabalho mais eficiente e menos exaustivo ao operário, começou a medir o trabalho no tempo, o que mais tarde seria chamado de cronoanálise. Além de dividir o trabalho, passou a definir a sequência e fazer a prescrição da tarefa, Taylor também imprimiu um ritmo de trabalho na produção com as esteiras móveis. A esteira móvel a que nos referimos, nesse momento, não é a esteira móvel de Ford que foi a precursora da produção em massa. A esteira móvel de Ford veio mais tarde. Além de todas as preocupações de Taylor relativas à organização da fábrica bem como sua eficiência, preocupou-se também em organizar o espaço fabril ordenando os elementos (máquinas) de maneira eficiente no meio (fábrica). Após as publicações de Taylor “Princípios da Administração Científica” muitas empresas adotaram seus métodos. 15 Taylor foi muito criticado em sua obra, pois afirmava-se que ele rebaixava o homem a condição de animal. Taylor dizia que o estudo do método de trabalho deveria ser executado por uma parte da empresa composta por pessoas que deveriam ser estudadas e devidamente preparadas para isso. Não deveria, jamais, ser dado ao simples funcionário a autonomia de decidir o que, como e quando fazer. Falava-se, com essa afirmação, que Taylor definia o simples funcionário como “acéfalo”, ou, pouco dotado de inteligência e incapaz de tomar decisões racionais. Taylor dizia também que o trabalho deveria ter um método definido com ritmo a fim de “impedir” que funcionário “burlasse intencionalmente” os índices de eficiência esperados, hoje em dia poderíamos dizer que Taylor não queria que o simples funcionário “encostasseo corpo”, e, com essa situação, afirmava-se que Taylor havia rotulado o simples funcionário de indolente, ou se preferir, vagabundo. Taylor, para “motivar” seus funcionários, oferecia prêmios para ganhos em produtividade; quem produzisse mais, ganhava mais. Todavia, nem sempre os princípios de Taylor eram devidamente empregados. Muitas vezes o tempo definido para execução da tarefa e, muitas vezes o próprio método eram definidos por quem sequer conhecia a fábrica e, muitas vezes, impossíveis de ser cumpridos. Os funcionários sentiam-se oprimidos pela gerência da fábrica e, muitas vezes, reagiam descumprindo as normas (prescrição da tarefa) e danificando, intencionalmente, os equipamentos além de não se sentirem minimamente comprometidos com a qualidade. Por sentirem-se vítimas de um ambiente absolutamente coercitivo, houveram reclamações generalizadas por todo país (EUA), envolvendo inclusive os sindicatos. O descontentamento era tão grande que Taylor foi chamado a se explicar no Congresso Nacional Americano sob o argumento de que, nesse “novo método de trabalho”, trabalhava-se mais (produzia-se mais) e ganhava-se a mesma quantidade em dinheiro além de ser coercitivo. Taylor defendeu-se dizendo que, na Administração Científica, o trabalhador não trabalhava mais, trabalhava melhor. Como havia uma grande preocupação com a economia de energia do trabalhador através da racionalização dos movimentos, ele trabalhava menos, produzia mais e ainda tinha prêmio relativo ao seu desempenho. Segundo a física, toda ação requer uma reação, e, como reação à Administração Científica de Taylor, ou Taylorismo, surge a Escola das Relações Humanas onde seu ícone é Elton Mayo. Figura 1.5 – Georges Elton Mayo (1880 – 1949), psiólogo australiano precursor da sociologia industrial. Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-cWf6oh1eyps/T5f_oI8sBZI/AAAAAAAAAOE/WwRSPdRuHeY/s1600/Elton%2BMayo%2B6.jpg Acessado em: Ago/2012 16 Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho Até Mayo a noção de trabalho era relacionada à pena bem como na Bíblia. E a imagem de operário era relacionada a quem não tem vontade, direitos ou, sequer, dores. Meados da década de 1920, Mayo promoveu uma pesquisa que revolucionou a relação homem x trabalho na empresa Western Electric em Hawtorne, EUA. Mayo pretendia estudar os efeitos da iluminação na eficiência da fábrica. Separou um grupo de trabalhadores da produção e colcou-os num ambiente isolado da produção. Nesse espaço, não havia a presença do “capataz”, encarregado ou supervisor de produção nos dias de hoje. Muitas vezes o capataz era coercitivo a ponto de castigar fisicamente o operário. Mayo forneceu iluminação adequada e a produção aumentou. Em um segundo momento Mayo reduziu a iluminação e a produção continuou a subir. Esse foi chamado o efeito Hawtorne onde Mayo concluiu que a eficiencia na produção não era explicada ou justificada apenas fatores físicos, havia o componente humano que deveria ser identificado, reconhecido e valorizado. Os operários escolhidos para essse estudo receberam atenção especial e, ao saberem que estavam sendo filmados, sentiram-se valorizados. Ao contrário da proposta de Taylor onde o operário era analisado isoladamente, Mayo propôs, a partir do efeito Hawtorne, a humanização da produção criando incentivos morais e psicológicos. Afinal, posto que o trabalho é um meio de vida e não de morte, não precisa der “penoso”. A partir do efeito Hawtorne, surge um novo campo de pesquisa conhecido como sociologia industrial e, com ela, os grupos autônomos com tarefas mais integradas nos moldes da organização do trabalho como conhecemos nos dias de hoje. 6 – A abrangência da Ergonomia Conforme já citado anteriormente, a amplitude do conceito de ergonomia vem sendo ampliado dia após dia. Quanto maior o conhecimento das pessoas em geral sobre o que vem a ser ergonomia e suas respectivas aplicações, não só o conceito fundamental se consolida como também se aperfeiçoa de acordo com a resposta da sociedade. No Brasil não há cursos de graduação que forme ergonomistas, todavia, há uma grande variedade de cursos de pós-graduação nessa área para os mais diversos profissionais que vão desde a engenharia até disciplinas ligadas à saúde e psicologia e sociologia. A maioria das empresas que aplica a ergonomia não possui uma àrea composta de ergonomistas, mas, possui um grupo de profissionais ligados, direta ou indiretamente, à execução do trabalho e suas derivações. Na organização moderna, em um ambiente cada vez mais competitivo, não é raro as empresas “incorporarem” a preocupação com a ergonomia e segurança do trabalho até porque existem normas brasileiras que regulamentam a relação empregador x empregado. Mais adiante, em uma unidade próxima, veremos as NR’r, normas regulamentadoras brasileiras que regulamentam a aplicação da ergonomia, NR 17, de trabalhos salubres, NR 15 e de máquinas eletromotrizes, NR 11. Sempre quando há um acidente de trabalho dentro da empresa ou no percurso de ida e vinda do trabalho, a empresa responde legalmente por esse acidente. 17 Em havendo um acidente, a empresa preenche um formulário chamado de CAT, comunicação de acidente no trabalho. A Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT foi prevista inicialmente na Lei nº 5.316/67, com todas as alterações ocorridas posteriormente até a Lei nº 9.032/95, regulamentada pelo Decreto nº 2.172/97. A Lei nº 8.213/91 determina no seu artigo 22 que todo acidente do trabalho ou doença profissional deverá ser comunicado pela empresa ao INSS, sob pena de multa em caso de omissão. Cabe ressaltar a importância da comunicação, principalmente o completo e exato preenchimento do formulário, tendo em vista as informações nele contidas, não apenas do ponto de vista previdenciário, estatístico e epidemiológico, mas também trabalhista e social. (fragmento de um texto extraído do site do Ministério da Previdência Social em 10/7/2012) - http://www.mpas.gov.br/conteudoDinamico. php?id=297 Esse formulário é enviado ao Ministério do Trabalho e será revertido no FAP, fator previdenciário que abordaremos detalhadamente em uma próxima unidade bem como a abordagem “legal” da ergonomia e suas devidas regulamentações. A fim de aplicar a devidamente ergonomia em toda sua amplitude, muitas empresas criam e mantém o “COMITÊ DE ERGONOMIA”, que é um grupo de profissionais multidisciplinar a fim de “garantir” que, nessa organização, as interações entre homens e sistemas acontecem harmonicamente. Esse grupo deve-se reunir periodicamente e planejar a aplicação de ações imediatas além de planejar eventos futuros guardando a premissa de “Melhoria Contínua”. De acordo com IIda (2005), há profissionais ligados à saúdo do trabalhador, à organização do trabalho, ao projeto de máquinas e equipamentos. Trazem consigo sua contribuição em conhecimentos úteis que devem ser considerados na solução de problemas ergonômicos, dentre os quais destacam-se: Médicos do trabalho: podem ajudar na identificação dos locais que provocam acidentes ou doenças ocupacionais a realizar acompanhamentos de saúde e ainda, criar um dossiê de “histórico de dor” por setor. Essa prática vai servir para orientar o “Comitê de ergonomia” na revisão de processos de trabalho atuais e no projeto de novos processos de trabalho. Engenheiros de projeto: contribuem nos aspectos técnicos procurando adequar máquinas e ambiente de trabalho. Engenheiros de produção: procuram distribuir o trabalho sem sobrecarga estabelecendo um fluxo racional de materiais e postos de trabalho, devem estudar os métodos de trabalho, tempos e postos de trabalho. 18 Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho Engenheiros de segurança e manutenção: identificam áreas, máquinas e processos de trabalho que podem oferecer risco ao trabalhador. Desenhistas industriais: ajudam na adaptaçãode máquinas e equipamentos, projeto do posto de trabalho e sistemas de comunicação. Psicólogos: são comumente envolvidos na análise dos processos cognitivos, relacionamentos humanos, seleção e treinamento de pessoal e podem dar sua contribuição no estabelecimento de novos métodos. Enfermeiros e fisioterapeutas: devem procurar agir preventivamente no histórico de dor e lesões ocupacionais. Quando a prevenção não tiver sido possível, atuam na recuperação desses trabalhadores. Programadores de produção: podem contribuir definindo, na medida do possível, um fluxo contínuo de produção e evitando trabalhos noturnos. Administradores: podem atuar na elaboração de cargos e salários mais justos melhorando a autoestima do trabalhador. Compradores: devem ser conhecedores dos princípios de ergonomia a fim de procurarem adquirir máquinas, equipamentos e materiais mais limpos, seguros, confortáveis e menos tóxicos. Quando não existe um grupo multidisciplinar, que aqui chamamos de “Comitê de ergonomia”, apoiado incondicionalmente pela alta administração, ou, quando a organização dá os primeiros passos dentro do universo da ergonomia, muitas vezes a ergonomia é aplicada de acordo com a ocasião que é feita e, segundo IIda (2005) apud Wisner (1987), essa “ergonomia de ocasião” é classificada em concepção, correção, conscientização e participação. Ergonomia de concepção: quando a abordagem ergonômica nasce com a ideia inicial sobre uma máquina, equipamento, mobiliário e processo de fabricação e/ou prestação de serviços. O projetista já pensa na aplicação final de seu produto e/ou serviço dentro dos preceitos da ergonomia. Ergonomia de correção: quando o problema já existe, seja histórico de dor física ou alguma patologia psíquica desenvolvida pela natureza do trabalho feito, é necessário a mobilização de profissionais capacitados nessas áreas específicas a fim de corrigir esse histórica já existente. Ergonomia de conscientização: ainda que a empresa forneça EPI’s (equipamentos de proteção individual), ainda que haja palestras de integração quando o trabalhador inicia seu trabalho na empresa, ainda que a empresa disponibilize equipamentos ergonômicos para os funcionários e os engenheiros e fisioterapeutas promovam treinamentos sobre os movimentos corretos em novos processos, o trabalhador PRECISA entender que toda essa mobilização de recursos é para ele, todavia, depende dele o trabalho correto. É preciso preparar devidamente o trabalhador por meio de palestras de informação e conscientização da sua própria responsabilidade para manutenção da sua própria saúde e motivação no ambiente de trabalho. Altos investimentos são feitos por parte das organizações e, sem a devida participação do trabalhador, todos esses esforços bem como os investimentos mobilizados por parte da empresa de NADA valem. A dor vai existir, o assédio moral vai existir, o afastamento e o aumento 19 nos custos bem como a perda de eficiência vai persistir. Por mais que seja oneroso “parar” a operação para palestras, ainda é bem mais barato do que perder os investimentos de energia, tempo e dinheiro para “aplicar devidamente a ergonomia”. Ergonomia de participação: é quando o trabalhador ou usuário participam do processo de desenvolvimento de máquinas, equipamentos, mobiliário e processo de fabricação e/ou prestação de serviços. A ergonomia de participação é efetiva quando o trabalhador ou usuário já possui conhecimentos prévios sobre o que vem a ser ergonomia. Traçando um paralelo entre o conceito de ergonomia e o conceito de qualidade, igualmente atuais em constante ampliação de escopo, sabemos que, quando o conceito de qualidade invade toda organização podemos entender que a organização ampliou o escopo de tal forma que tomou, invadiu toda organização. Para essa situação é possível afirmar que a empresa chegou ao estágio de QUALIDADE TOTAL. Bem como a empresa que invade toda a organização com os conceitos de qualidade e chega ao estágio de qualidade total, a organização seja de natureza manufatureira ou de prestação de serviços, quando “invade” toda empresa com os conceitos de ergonomia, podemos afirmar que a organização aplicou a MACROERGONOMIA. Sempre onde há trabalho humano, em qualquer segmento de mercado, inclusive em nossa vida quotidiana, deve haver ergonomia. No ato de um estudante levar uma mochila para escola, deve haver ergonomia de correção na ou conscientização sobre como carregar a mochila, as duas alças devem ser usadas, uma em cada ombro. Caso seja possível, as mochilas com rodinhas devem ser escolhidas. 20 Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho Material Complementar Com o objetivo de consolidar as informações obtidas nesse ambiente, sugiro que façam uso do seguinte material: Explore Vídeo sobre Revolução Industrial - I http://www.youtube.com/watch?v=meSQG6bNvOM Administração Científica de Taylor http://www.youtube.com/watch?v=JZq9a_r4C3M Fábrica da Ford e o Modelo – T http://www.youtube.com/watch?v=8caU8gvD6Dc Toyota – Produção enxuta parte I e II http://www.youtube.com/watch?v=hj-FvgCf0VQ http://www.youtube.com/watch?v=nGS0av1MC7I Elton Mayo e a Escola das Relações Humanas http://www.youtube.com/watch?v=KOGrcLx5W-g Filme: Tempos Modernos – Charles Chaplin http://www.youtube.com/watch?v=XolZOPk533w 21 Referências 22 Unidade: Ergonomia e Segurança do Trabalho Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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