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[Artigo] Política criminal com derramamento de sangue - Nilo Batista

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DIREITO 
Política criminal 
com derramamento 
de sangue 
NILO BATISTA 
A pena é un i me io extremo; i o r n o lai c 
também a guerra. 
Tobias Barreto 
I - Introdução 
Para evitar distorções idealistas, no pre-
sente estudo a expressão politica criminal 
não se referirá apenas, como no concei to 
de Z ip l , à obtenção e realização de crité-
rios direiívos no âmbito da justiça c r i m i -
n a l " ", nela se i n c l u i n d o o desempenho 
concreto das agem ias públicas, pol ic iais ou 
judiciárias, que se encarregam da imp le -
mentarão co l i d i ana não só dos critérios 
diret ivos enunc iados ao nível normat i vo , 
mas lamoém daqueles outros critérios, s i -
lenciados ou negados pelo discurso jurídi-
co , porém leg i t imados soc ia lmente pela 
recorrência e ac a lamcnlo de sua aplicação. 
Assim, por exemplo , quando .1 polícia men -
salmente executa (valendo-sc de expedien-
tes encobridores os mais diversos, da s imu-
lação de confronto ao chamamento à au -
toria de gangues rivais) um numero cons-
tante de pesso.is, verif icando-sc ademais 
que essas pessoas têm a mesma exlração 
social, faixa etária e etnia, n ã o se pode dei-
xar de reconhecer que a politica criminal 
f o r m u l a d a para e por essa po l i c i a c o n t e m -
pla o extermínio c o m o tática de aterroriza-
ção e con t ro le d o g rupo socia l v i t im izado -
m e s m o que a Constituição proc lame coisa 
d i f e ren te . Por ou t ro l ado , c o m o p ione i ra -
mente entre nós observava He l eno Fragoso, 
"a política c r im ina l é parte da política soci-
àr m , e essa conexão - me lho r diríamos c o n -
t i n u i d a d e - pode ser u m impor tante expe-
d i en t e metodológico para o esc larec imen-
to de seus programas e ob je t i vos . Retoman-
do o e x e m p l o anter ior , a complacência , 
indiferença o u mesmo o aplauso para c o m 
rot inas po l ic ia is de aterrorização ^extermí-
nio s ina l iza para a incorporação desses, ins-
t rumentos por parte da política social de -
senvo lv ida - por mais q u e indignações opor -
tunistas ou o sacrifício periódico de bodes 
expiatórios p rocu rem sugerir coisa diversa. 
E nosso ob j e t i vo compreender a política 
c r i m i n a l para drogas no Brasil e seus ref le-
xos no d i re i to e no processo pena l ; c o m o 
se sabe, encont ramos ho je uma política c r i -
m i n a l (sem t rocad i lho ) dependente de cer-
tas articulações in ternac iona is , que gosta de 
apresentar-se c o m o u m a guerra . De fato, 
se o l h a r m o s o atual cenário amer i cano , que 
política c r im ina l é essa que con temp la ope -
rações mi l i tares e m territórios estrangeiros, 
que d i s t ingue grupos a l iados e be l igeran -
tes, p r o m o v e acumulação e intercâmbio de 
informações e m p lano in te rnac iona l e i n -
tervenção permanente da rede diplomáti-
ca , adm in i s t r a orçamentos astronómicos, 
ce l eb ra c rescentemente tratados que ver -
sam desde compromissos c r imina l izadores 
até erradicação de cul turas e extradições, 
passando por patrulhas marítimas e helicóp-
teros, e na qua l se pretende envo lver a cada 
d ia mais intensamente as forças armadas? 
C l ausew i l z obse rvou , c o m f inura , que 
"a guerra é u m ins t rumento da política: ela 
traz necessariamente a marca desta políti-
c a " 1 " . Tomemos a pr ime i ra guerra do ópio, 
q u e começa e m 1839 , o i t o anos após a 
morte de Clausewltz. Temos ali uma guerra 
em favor do comércio do ópio, em favor 
dos negociantes ingleses (havia-os também 
norte-americanos) que levavam o ópio da 
índia para a Ch ina , c o m o etapa de u m cir -
cu i t o comerc ia l tríplice. O conf l i to opunha 
de um lado a decisão do imperador chinês 
de i n t e r romper e p ro ib i r o comércio e o 
uso d o ópio, e de out ro "os enormes inves-
t imentos ingleses na produção e d i s t r ibu i -
ção da droga e o papel cruc ia l representa-
do pelos rendimentos do ópio na estratégia 
da balança de pagamentos internacional da 
Inglaterra" ' 4 ' . Sem nenhuma dúvida, a guerra 
do ópio traz "a marca da política" que a 
v i a b i l i z o u : o f i c i a lmen te , a ra inha Vitória 
nada sabe da droga, mas se preocupa sim 
c o m as violências e "injustiças" (leia-sc o 
conf isco do ópio) contra seus súditos, e o 
Par lamento autor iza o env io da frota para 
obter "reparações" (leia-se indenização pela 
perda dos estoques de ópio conf iscados, 
af inal aval iados em seis milhões de dóla-
res, c o n f o r m e o a r t igo 4" do t ra tado de 
N a n q u i m , cu jo art igo 3" entregava a i lha 
de H o n g Kong à soberania ing lesa ) " . A con -
dução das operações mil i tares também re-
vela "a marca da política", ob je t ivando uma 
asfixia em suprimentos externos e um gra-
dual avanço de posições (favorecido pelo 
fosso tecnológico) que conduza á rend i -
ção e ao acordo para as "reparações"; não 
era uma campanha para destituir o gover-
no nem destruir a nação chinesa (o Parla-
mento não declarara guerra à China) , e por 
mais que os documentos oficiais o d iss imu-
lem, a estratégia incluía a sobrevivência do 
Eslado-devedor e dos consumidores de ópio 
que hav i am c r i ado aquele mercado apa-
rentemente in f in i to . 
Se é relat ivamente fácil perceber "a mar-
ca da política" d iante de uma guerra e m 
favor d o tráfico de drogas, as coisas se c o m -
p l i c a m q u a n d o pretendemos perceber as 
características da política c r imina l que ele-
geu a própria guerra c o m o método, da po -
lítica c r im ina l que se vê e se pretende guer-
ra contra as drogai. Teremos que Inverter o 
percurso, e ao invés de, como Clausewltz, 
procurar na guerra a marca da política, tra-
tar de v is lumbrar nessa política c r imina l as 
marcas da guerra. 
I I - 1914-1964: o m o d e l o sanitário 
A legislação anterior a 1914, seja aque-
la inscrita na tradição, que remonta às Or -
denações Fil ipinas (V, LXXXIX), das "subs-
tâncias venenosas" (expressão empregada 
no CP 1890, art. 159), c o m sabor de del i to 
profissional dos boticários, prevent ivo do 
venefício, seja aquela esparsa em posturas 
munic ipa is , c o m o a proibição do "pito-de-
pango" pela Câmara d o Rio de Janeiro, em 
1830 ' " , a legislação anter ior a 1914 não 
dispõe de massa normat iva que permita ex-
trair-lhe uma coerência programática espe-
cífica. 
Tendo o Brasil subscrito, no próprio ano 
cie 1912, o p ro toco lo suplementar de assi-
naturas da Conferência In te rnac iona l do 
Óp io , rea l izada c m Ha ia , o dec re to n" 
2 . 8 6 1 , de 8 . ju l .14 , sancionou a Resolução 
do Congresso Nac iona l que aprovara a ade-
são. Através d o dec r e to n" 1 1 . 4 8 1 , de 
Kl.íev. 15 - que mencionava "o abuso cres-
cente do ópio, da morf ina e seus der iva-
dos, bem como da cocaína" -, Wenceslau 
Braz determinava a observância da C o n -
venção. É nesta ocasião que a política c r i -
mina l brasileira para drogas começa a ad-
quir i r uma configuração deíinida, na d i re -
ção de um mode lo que chamaremos "sani-
tário", e que prevalecerá por m e i o século. 
Seis anos depois , o decreto legislativo 
n 4 . 2 9 4 , de 6 . j u l . 2 1 , s a n c i o n a d o por 
Epitácio Pessoa, revogaria o artigo 159 do 
CP 1890 para in t roduz i r a hipótese na qual 
"a substância venenosa tiver qual idade en-
torpecente, como o ópio e seus derivados, 
a cocaína e seus der ivados" (art. 1 ", par. 
ún.); foi então que a expressão "entorpe-
c e n t e " in i c iou sua longa e polissémica car-
reira no direito penal brasileiro. Também as 
disposições sobre e m b r i a g u e z e v enda 
abusiva de bebidas do CP 1890 (arts. 39S, 
397 e 398) eram expressamente revogadas, , 
porque o decreto 4.294/21 disc ipl inava ino -
vadoramente a matéria, e devemos exami -
nar uma dessas inovações. Dist inguindo -
ao contrário do CP 1890 - entre a embr ia -
guez escandalosa e a hab i tua l , o decretoestabeleceu que à segunda se responderia 
com "internação por 3 meses a 1 ano em 
estabe lec imento co r r ec iona l adequado " , 
solução que vir ia a inf luem iar a ainda v i -
gente Lei de Contravenções Penais (art. 62 
e par. ún ) . Em correspondem ia a tal solu-
ção, os intoxicados "por substância vene-
nosa que tiver qual idade entotpecenle" se 
sujeitavam a uma internação compulsória 
"para evitar a prática de atos cr iminosos ou 
a completa perdição mora l " (art. 6", § 2"', 
a l . a). A regulamentação desse dec re to 
legislativo, efetuada dois meses depois atra-
vés do decreto n" 14.969, de l .set .21, pre-
via a criação do Sanatório para toxicóma-
nos" no Distrito Federal, mas enquanto isso 
não oroiresse as internações dos intox ica -
dos - que estavam sujeitos à interdição - se 
dar iam na Colónia de Al ienados (art. 9", § 
5"). Este decreto 14.969/21 dispunha t am-
bém sobre controle das substâncias entor-
pecentes nos despachos alfandegários e no 
varejo das farmácias, n u m esboço que se-
ria rendi lhadamente desenvolv ido nos anos 
trinta - c o m o já veremos mais pormenor i -
zadamente -, regu lamentando também o 
procedimento judiciário (art 15 ss) e pre-
vendo ainda, em seu artigo 8 , responsabi-
lização c o m o autores do droguista, do far-
macêutico, do prático, de "qualquer outro 
comerc iante" e f inalmente d<> "par t icu lar " 
que, conforme o caso, vendesse, expuses-
se à venda ou ministrasse tais substâncias, 
enquanto o "portador c o ent iegador" seri-
am punidos como autores, em caso de au-
xílio necessário, ou c o m o ( umpl ices sob 
qualquer outra moda l idade par t i c ipat iva : 
estas disposições sobre autoria e part ic ipa-
ção tiveram porventura a função de e l imi-
nar t oda dúvida sobre o caráter comum, 
não especia l (prof iss ional ) do crime. 
Mas o passo de c i s i vo foi dado com o 
decreto n° 2 0 . 9 3 0 , de 11 . j an .32, cujas nor-
mas c r im ina l i z ado ra s ser iam consol idadas 
por V i cen te P iragibe, no espaço d o revo-
gado a r t igo 159 d o CP 1890 . O decreto n" 
2 0 . 9 3 0 , d o qua l a lguns disposit ivos seriam 
a l t e r a d o s p e l o d e c r e t o n " 2 4 . 5 0 5 , d e 
2 9 . j u n . 3 4 , teve sua estrutura inte i ramente 
reaprove i tada pe lo decreto-lei n° 8 9 1 , de 
25 . nov .38 , que o revogar ia . N o que tange 
às normas c r im ina l i zado ras , a estrutura p r o -
posta pe los três decre tos dos anos t r in ta , 
submet ida a u m a c i ru rg ia técnico-jurídica, 
conduzirá à sóbria fórmula d o art igo 281 
do CP 1940 . 
É impor t an te ressaltar que esta sucessão 
de decre tos e x p r i m e a influência das su-
cessivas convenções in te rnac iona is . Após 
a Conferência de Ha ia , de 1912 , sucede-
ram-se, sob os auspícios da Liga das Na -
ções, conferências " c o m p l e m e n t a r e s " e m 
G e n e b r a , e m 1 9 2 5 , 1931 e 1936 , todas 
subscritas pe lo Brasil e promulgadas inter-
namente 1 7 1. A influência de tais convenções 
sobre a legislação penal brasi leira - essa i n -
ternacionalização d o con t ro l e argutamente 
perceb ida por Saio de Carva lho ' 8 ' - chegara 
para f icar, e não só caracter izar ia l odo o 
período d o m o d e l o sanitário c o m o subsist i -
r ia , c o m referenciais d is t in tos , à própria re-
fo rma do m o d e l o político-criminal, até por -
q u e , c o m o veremos opo r tunamente , o m o -
d e l o seria r e fo rmado de fora para dent ro . 
Impor ta agora ressaltar a influência das 
convenções in ternac iona is sobre o d i r e i to 
i n te rno . A convenção decorrente da C o n -
ferência de 1925 c o m p r o m e t i a os países 
subscritores c o m uma revisão periódica de 
suas leis e regulamentos (art. II); c o m a f is-
cal ização da exportação e importação, de 
sorte a que fossem expedidas autorizações 
específicas (art. IV, a l . b e arts. XII e XIII); 
com o registro nos l ivros mercant is e c o m a 
retenção das receitas que prescrevessem 
substâncias entorpecentes, a serem conser-
vadas "pe lo médico ou pelo farmacêutico" 
(art. V I , a l . c). A convenção decorrente da 
Conferência de 1931 trataria de regulamen-
tar desde os stocks de Estado (art. I, i tem 
4 " ; art. IV, i tem 2") até os rótulos de comer-
cialização das drogas (art. XIX), bem c o m o 
uma troca de informações entre os países 
"sobre todo caso de tráfico ilícito desco-
be r to " (art. XXIII). E a convenção decorren-
te da Conferência de 1936 se ocupava p r i n -
c ipa lmente dos problemas de extraterr itori-
a l idade colocados pela repressão do tráfi-
co internac ional versando, entre outros tó-
picos, extradição e reincidência in ternac i -
ona l (arts. V I , V I I , VIII e IX). 
Nossa legislação interna corresponden-
te não passa de uma ressonância, cer ta -
m e n t e d e c o r a d a c o m as v o l u t a s d o 
bachare l ismo t rop ica l , porém uma assumi-
da ressonância dessas convenções. O de-
creto n" 20 .930 , de 11 . j an .32 , mal enun -
ciada a lista das "substâncias tóxicas entor-
pecentes em ge ra l " , trata de deixar c laro 
sua revisão periódica "de aco rdo c o m a 
evolução da química-terapêutica" (art. I " , 
par. ún.); a licença especial para o fabr ico 
o u comercialização (art. 2") bem c o m o o 
cer t i f i cado de importação (art. 8"), registra-
d o e m l i v ro próprio (art. 10, § 2", e art. 
21) , c o m val idade anual (art. 15, par. ú n ) , 
estão con temp lados e regulamentados . A 
venda ao público depende de receita, que 
não é restituída mas s im registrada, c o m 
número de o rdem, em l i v ro "dest inado es-
pec ia lmente a esse f i m " (art. 3", § 1 ) , l i v ro 
este que deve ser aberto, encerrado e ru -
b r i c ado pela au tor idade sanitária o u , em 
sua falta, pelo " j u i z togado de pr imeira ins-
tância mais antigo na comarca ou t e rmo" 
(art. 3", § 2"); tais l ivros, além disso, estari-
am "permanentemente sujeitos à inspeção 
das autoridades sanitária, po l i c ia l e judiciá-
r ia, inc lusive o Ministério Público" (art. 3", 
§ 3"), e é c laro que da etiqueta comerc ia l 
da droga deve constar o número de ordem 
RH 
da receita (art. 3", § 4"). Todo o f luxo i m -
portador era concentrado na alfândega do 
Rio de Janeiro (arts. 11 e 14), e qualquer 
substância p r o i b i d a dest inada a alguém 
desprovido do cer t i f i cado de importação era 
cons iderada c o n t r a b a n d o (art. 19). Para 
poder intercambiar informações, o Depar-
tamento Nac iona l da Saúde Pública coor -
denaria dados estatísticos e organizaria "a 
lista dos indivíduos impl icados no tráfico" 
(arts. 54 e 55). O decreto n" 24 .505 , de 
29 . j un .34 , que alterou algumas disposições 
do decreto n" 20 .930 , de 11 . jun .32 , preo-
cupou-se c o m q u e as rece i t as fossem 
grafadas " e m caracteres legíveis" , c o m 
"identificação e residência do médico e do 
en fe rmo" (art. 3"), e lançada n u m "papel 
o f i c i a l " , " fo rnec ido gratuitamente pela re-
partição sanitária l o ca l " (art. 3", §§ 4" e 5"). 
O decreto-lei n" 8 9 1 , de 25.nov.38, recicla 
e revoga o decreto n" 20 .930 , de 11 . jun.32 
(mod i f i c ado pe lo decre to n" 2 4 . 5 0 5 , de 
2 9 . j u n . 3 4 ) , f ie l à mesma orientação das 
convenções (temos agora o "stock do Esta-
d o " - arts. 11 e 12), cap i la r izando o con -
trole alfandegário ("guardados debaixo de 
chave, sob imediata responsabi l idade do 
fiel do armazém"- art. 10, $ 5"). acrescen-
tando a exigência de "guia de trânsito de 
entorpecentes" para vendas internas (art. 
16), e de maior apuro na escrituração da -
queles l ivros ("sem rasuras ou emendas"-
art. 17, § 2"). 
O que se depreende c o m clareza de lais 
normas é uma concepção sanitária de con -
trole do tráfico, de u m tráfico que se a l i -
menta do desvio da droga de seu f luxo 
autor izado. As drogas estavam nas prate-
leiras das farmácias ou nos "stocks" de uma 
indústria que apenas suspeitavade seu fu -
turo sucesso comerc ia l , e boticários, práti-
cos, facultat ivos ' " , fiéis de armazém e fun -
cionários da alfândega" 0 ' são os persona-
gens que abastecem de opiáceos ou coca-
ína grupos reduzidos e exóticos, inte lectu-
ais, f i lhos do baronato agroexportador edu-
cados na Europa, artistas: um hábito com 
horizonte cultural bem def in ido, sem s ign i -
ficação económica, que desatava a repre-
sentação social de um "universo mister io-
so", como disse Rosa dei O l m o ' " 1 , e mórbi-
do. (A maconha, embora contemplada na 
listagem dos artigos pr imeiros, estava fora 
desse c i rcu i to , porque era consumida pe-
los pobres, ou , para usar as palavras aristo-
cráticas de Hungr ia , por "gente de m a c u m -
bas ou da boémia do troisième dessous"" 1 ' ; 
era a "erva do nor te " que figura num sam-
ba de Wi lson Baptista dos anos trinta.) Não 
é, contudo, apenas pela consideração do 
v ic iado como doente (ainda que ta[ cons i -
deração reforce o argumento, como vere-
mos) que este mode lo , no qual autoridades 
sanitárias, pol ic iais e judiciárias exercem -
às vezes, fungivelmente - (unções contínu-
as, merece a designação de sanitário: é que 
se pode perceber claramente o aproveita-
mento de saberes e técnicas higienistas, para 
as quais as barreiras alfandegárias são ins-
trumento estratégico no controle de epide-
mias, na montagem de tal política c r im ina l ; 
não por acaso, o decreto n" 2 0 . 9 3 0 , de 
11 jun .32 , converteu a drogadição em d o -
ença de notificação compulsória (art. 44), 
não por acaso a retenção de partidas i t re -
gulares sabe a quarentena, e a man ipu la -
ção dos extraditandos evoca as precauções 
com os contaminados. Constituir ia um ob-
jeto autónomo de estudo aprofundar as cor-
respondem ias entre medidas dessa política 
cr iminal e, no mov imento coetâneo de me-
dicalização das instituições, medidas h ig ie -
nistas sobre contágio e inlei ção no Rio da 
febre amarela c da varíola, bem c o m o a 
elaboração teórica racista da Liga Brasileira 
de Higiene Menta l , fundada em 1923, cujos' 
membros, c o m o adverte Freire Costa, so-
nhavam com " u m sistema med ico-po l i c i a l " 
para trabalhar u m de seu tópicos favoritos, 
o a lcool ismo " . 
O usuário de drogas, dependente o u 
experimentador, não era c r im ina l i zado , e 
Hungria, que transplantou o princípio para 
o CP 1940, expl icava por que: "o v ic iado 
ítual (ji toxicómano ou ilmplts Intoxicado 
habitual) é um doente que precita de trata-
mento, e não de punição (...) o a inda não 
v i c i a d o não d e i x a d e ser u m a vítima d o 
pe r i go de ser e m p o l g a d o pe lo vício, e não 
u m c r i m i n o s o " " 4 1 . C o m o e ram tratados esse 
d o e n t e e essa vítima? Estabelecido que a 
t o x i c o m a n i a era doença de not i f icação 
compulsória, estavam os usuários de d r o -
gas sujeitos a internação, que poder ia ser 
obrigatória o u facu l ta t i va , por t e m p o deter-
m i n a d o o u não (dec. 20 .930/32 , art. 45 ) : 
o decreto-le i n" 8 9 1 , de 17 .ago .38 , p r o i b i -
r ia " o t ra tamento de toxicómanos e m d o -
mic í l io" (art. 28) . A improvável internação 
facu l ta t i va "a r eque r imen to d o interessado" 
abr ia espaço para q u e parentes "até o quar -
t o g rau co la te ra l i n c l u s i v e " (dec. 2 0 . 9 3 0 / 
3 2 , ar t . 4 5 , § 3 o ) dispusessem de u m prec i -
oso i n s t r umen to de c o n t r o l e intrafami l iar , 
através de u m a delação c o m repercussão 
p a t r i m o n i a l , u m a v e z q u e a s i m p l e s 
internação, decretada pe lo j u i z , levava-o a 
n o m e a r "pessoa idónea para acautelar os 
interesses d o i n t e r n a d o " , c o m "poderes de 
administração", p o d e n d o o magistrado, f u n -
d a d o e m laudo médico, autor izar a ou to r -
ga d e "poderes expressos nos casos e na 
f o r m a d o ar t igo 1.295 d o Código C i v i l " , 
isto é, a l ienar e h ipotecar bens, entre o u -
tros (dec. le i 891/38 , art. 30) . A internação 
obrigatória, c o n t u d o , era m u i t o mais drásti-
ca : ve jamos c o m o a t ra tou o decreto-lei n" 
8 9 1 , de 25 .nov .38 . 
Prevista também para a hipótese de a l -
c o o l i s m o , a internação obrigatória depen -
d ia de representação da autor idade p o l i c i -
a l o u d o Ministério Públ ico, e cabia " q u a n -
d o p rovada a necess idade de t ra tamento 
adequado ao en fe rmo o u q u a n d o for c o n -
ven iente à o r d e m pública" (art. 2 9 , §§ 1° e 
2°) , sendo aplicável igua lmente às situações 
de i n i m p u t a b i l i d a d e v incu ladas ao abuso 
de drogas , na ocasião submet idas à fórmu-
la d a " c o m p l e t a perturbação de sentidos e 
de inteligência" da Consolidação das Leis 
Penais"*'. D ian te de "casos urgentes"(?) a 
potfcla podia tomar a Iniciativa da efetuar 
"a prévia e Imediata Internaçlo fundada no 
l audo de exame, embora sumário, eíetua-
d o por dois médicos idóneos" (art. 29 , § 
4 ° ) , d e vendo instaurar-se o p roced imen to 
j u d i c i a l e m c inco dias após a internação, 
levada a efeito " e m hospi ta l o f i c i a l para ps i -
copatas " ou part icular f isca l izado (art. 29 , 
§ 6") . A simples necessidade de "observa-
ção médico-legal" autor izava o ju iz a or -
denar, a internação (§ 5"). Todo diretor de 
hosp i t a l que recebesse toxicómanos para 
t ra tamento estava obr igado a comun i ca r o 
fato à autor idade sanitária, que por seu tur-
n o o transmit i r ia à polícia e ao Ministério 
Público; o diretor, na l inha do contro le b u -
rocrático e suspeição genera l izada, deve -
ria comun i ca r "a quant idade de droga i n i -
c i a lmente min is t rada" e qu inzena lmente "a 
diminuição feita na toxi-privação progressi-
va"(§§ 7" e 8° ) . Se o ingresso e m tais noso-
cômios parecia bastante fac i l i tado , a saída 
era comp l i c ada , dependendo sempre (a in-
da que não apenas) de uma atestação mé-
dica de cura ; a pretensão de retirar-se v o -
l u n t a r i a m e n t e o p a c i e n t e d e v e r i a ser 
comun i cada ao ju iz pe lo d i re tor do estabe-
l ec imento part icular, seguindo-se sua trans-
ferência forçada (§ 9° ) ; a d isc ip l ina do de -
creto n" 2 0 . 9 3 0 , de 11 . j an .32 , outorgava 
ao d i retor do hospital part icu lar no qual o 
toxicómano se houvera internado facul tat i -
vamente o poder de , d i scordando da alta, 
o f i c i a r ao Ministério Públ ico " m a n t i d a a 
internação pelo prazo de c inco d ias" (art. 
4 6 , § 7")! Q u a n d o a alta era conced ida , a 
a u t o r i d a d e sanitária n o t i f i c a v a a polícia 
"para efe i to de vigilância" (dec. lei 891/38, 
art. 29 , § 10). Cabia , é c laro , ao internado 
que se entendesse curado uma reclamação 
para postular d o ju iz o exame per ic ia l que 
lhe abr i r ia as portas do estabelec imento (§ 
13) Incontestavelmente, a alta do paciente 
não era uma decisão médica e s im uma 
decisão j ud i c i a l , assimilável a u m alvará de 
sol tura , in formada por u m parecer médico 
(art. 3 ° , § 4"). Além d o deficit imposto a 
sua capac idade jurídica, va r i ando da no-
82 
i 
meação do curador para caios de slmplei 
internaçlo, ató a Interdição p l ena , c o m 
equiparação aos absolutamente incapazes 
(art. 30 , § 5"), estava o interdi to sujeito a 
l i cenc iamento temporário d o cargo públi-
co que ocupasse (art. 31). Esta síntese das 
regras que d isc ip l inavam as respostas jurí-
d icas à drogadição d i spensam q u a l q u e r 
ou t ro argumento quan to à adequação da 
designação " m o d e l o sanitário". Em sua 
monograf ia sobre o a lcoo l i smo, o pr imei ro 
Evaristo de Moraes designava tal sistema por 
"assistência coac t i va " , semelhante - d iz ia 
ele - "à que se apl ica hoje aos pestosos, e 
que se aplicará, no futuro, aos siíilíticos em 
período de contágio" 1"' 1. 
Examinemos, por f i m , as normas penais. 
O decreto4 .294/21 , abstraídos os casos de 
embriaguez previstos, se restringia a punir 
as condutas de "vender, expor à venda ou 
min is t ra r " as "substâncias venenosas que 
tivessem qua l idade entorpecente " : a posse 
ilícita não era p u n i d a " 7 1 . Já o decreto n" 
20 .930 , de 11 . j an .32 , p romoveu uma i n -
tervenção penal m u i t o mais ampla e drásti-
ca. O t ipo básico do tráfico começa a acu-
mular núcleos ("vender, ministrar, dar, t ro -
car, ceder o u , de qualquer modo , propor -
c ionar " - art. 25), antec ipando o fenómeno 
que Zaffaroni designará por "multiplicação 
dos verbos"" " 1 , além de contemplar todo e 
qualquer i nduz imen to ou instigação ao uso. 
Os iníratores médicos, cirurgiões-dentistas, 
farmacêuticos ou que mil i tassem em qua l -
quer profissão o u arte que favorecesse a 
prática do cr ime sujeitavam-se ainda à sus-
pensão temporária do exercício prof iss io-
nal (no caso dos médicos, por 4 a 11 anos). 
A posse ilícita fo i c r imina l i zada (art 26), 
bem c o m o a prestação de local (art. 27) e a 
receita fictícia (art. 28): aí está o f igur ino do 
artigo 281 CP 1940. A receita íictícia con -
sistia n u m cr ime de perigo presumido, cons-
truído numa moda l idade c o m o norma pe-
nal e m branco ("prescrever o uso de qua l -
q u e r substânc ia e n t o r p e c e n t e c o m 
preterição de formal idade necessária", que 
poderia ter por exemplo o "receituário ofi-
cial") e em outras como infração Indetermi -
nada a norma técnica ("em dose ev idente-
mente mais elevada que a necessária o u 
fora dos casos indicados pela terapêutica"): 
nem o po l imento gramatical apl icado por 
Hungr ia resgataria os vícios desse t ipo , i n -
d icador da importância do e ixo médico-
farmacêutico no acesso às drogas ilícitas. 
A l iás , o p r o f i s s i o n a l que prescrevesse 
"cont inuadamente" substâncias entorpecen-
tes poderia ve r se "declarado suspeito" pelai 
autoridade sanitária, sendo seu receituário 
submetido a "fiscalização especial e r igo-
rosa (...) f icando as farmácias proibidas de 
aviar-lhe as receitas sem o visto da autor i -
dade sanitária l oca l " (art 29). A impor ta -
ção de entorpecentes por via aérea, ou pos-
ta l , ou qua lquer outra inobservância das 
regras próprias era punida com uma pena 
fixa de quatro anos de prisão celular (art. 
30) . Toda violação aos regulamentos de 
controle era punível com multa , e na re in -
cidência prisão de seis meses a dois anos 
(art. 32). O tráfico e a importação irregular 
eram inaíiançáveis (art. 3 1). O condenado, 
por qualquer de l i to , que fosse funcionário i 
público perderia o cargo; se fosse a luno de 
estabe lec imento de ensino "de qua lque r 
grau, público ou part icular" , seria excluído 
e teria a matrícula trancada pelo tempo da 
pena (arts. 34 e 37). A tentativa se equ ipa -
rava ao cr ime consumado (art. 18), c não 
cabia sursis nem l ivramento condic iona l (art. 
35). A reincidência agravava ao dob ro a 
pena (art. 39), e o estrangeiro reincidente 
seria expulso do território nac ional (art. 40). 
O sistema de tratamento inst i tuc iona l izado 
e interdição de in tox i cados faz surgir a 
modal idade de cárcere pr ivado consistente 
na internação extra judic ia l "sob o falso pre-
texto de tratamento" (art. 43) , que será re-
co lh ido pelo CP 1940 c o m o forma qua l i f i -
cada (art. 148, § 1 " , inc II). O contexto 
moralista dessa legislação não pode ser mais 
vis ivelmente demonstrado que pela trans-
crição da agravante prevista no art igo 36 : 
"a procura da satisfação de prazeres sexu-
ais, nos cr imes de q u e trata este decreto , 
constituirá circunstância agravante" . 
O dec re to n° 2 4 . 5 0 5 , de 2 9 . j u n . 3 4 , que 
i n t r o d u z i u a lgumas modificações, e o de -
creto n° 8 9 1 , de 25 .nov .38 , que revogou o 
dec re to n" 2 0 . 9 3 0 , de 11 . j an .32 , não al te -
r a r am substanc ia lmente essa proposta, sal -
v o na criminalização d o consumo , u m ver-
b o a ma is na nova multipl icação que se 
operou" ' " , que não p roduz i r i a efeitos práti-
cos face à próxima vigência do CP 1940. 
Registre-se, por o u t r o l ado , a eliminação 
da expulsão automática para réus estudan-
tes. O s processos cr imina is , no Distr i to Fede-
ra l , e r a m da atribuição da Procurador ia dos 
Feitos da Saúde Pública (art. 5 8 , dec. 20.930/ 
32) , e u m disposit ivo d o dec. 891/38 sela o 
compromisso médico-criminal desse mode -
l o : "as autoridades sanitárias e pol ic ia is pres-
tarão auxílio recíproco nas diligências que 
se t o m a r e m necessárias ao b o m cumpr imento 
dos disposit ivos desta l e i " (art. 63). 
Sob revêm o CP 1 9 4 0 , q u e con fe re à 
matéria u m a d i sc ip l ina equ i l i b rada , não só 
o p t a n d o por desc r im ina l i za r o consumo de 
drogas , mas também c o m u m sóbrio recor-
te dos t ipos legais, observando-sc inc lus ive 
u m a redução d o número de verbos c m c o m -
paração c o m o antecedente imed ia to (dec. 
891/38 , art. 33) , redução tanto mais a d m i -
rável q u a n t o se observa a fusão, n o art igo 
281 CP, d o tráfico e da posse ilícita no mes-
m o d i spos i t i vo . N o con t ex to l ibera l izante 
da redemocratização, após 1946 , o tema 
I das drogas cai para u m segundo p lano . O 
e ixo mítico repressivo centra l a inda repou-
sa - e assim permanecerá até os anos ses-
senta - na " c o m p l e t a perdição m o r a l " ou 
na predisposição para "a pract ica de actos 
c r i m i n o s o s " d o decre to de 1 9 2 1 , porém a 
irrelevância estatístico-criminal do tráfico e 
d o abuso de drogas não atrai a atenção 
dos jur istas, dos criminólogos e mesmo dos 
legis ladores. Convém menc ionar o decre-
to-lei n" 4 . 7 2 0 , de 21 de setembro de 1942, 
o decreto-lei n" 8 .646 , de 11 de jane i ro de 
1946 , e o decreto-lei n" 2 0 . 3 9 7 , de 14 de 
jane i ro de 1946 . O pr ime i ro f ixava as "no r -
mas gerais para o cu l t i vo de plantas entor-
pecentes e para a extração, transformação 
e pur i f i cação de seus pr incípios a t i vo-
terapêuticos"; o segundo alterava o decre-
to-lei n " 8 9 1 , de 25 de novembro de 1938, 
c en t r a l i z ando e m dete rminada repartição 
pública o poder de autor izar importação e 
exportação de entorpecentes para "d roga -
r ias, laboratórios, farmácias e estabelec i -
mentos fabr is " , e o terceiro regulamentava 
a indústria farmacêutica no país, detendo-
se, nos artigos 19 a 26, sobre os laboratóri-
os que fabricassem especial idades conten -
do entorpecentes. No pecul iar quadro da 
industrialização restringida brasileira, a con -
versão da droga em mercador ia de u m lado 
sinal izava os bons negócios futuros no âm-
b i to s i lencioso e lícito das íármaco-depen-
dências, e de o u t r o l ado contribuía para 
dissipar o protagonismo dos próprios ope -
radores sanitários no comércio das chama-
das substâncias entorpecentes, segundo a 
lógica - basta recordar Freud e a cocaína -
de que a droga é a cura da droga" 0 1 . 
I l l - O m o d e l o bélico 
A escolha de 1964 c o m o marco divisó-
r i o ent re o m o d e l o sanitário e o m o d e l o 
bélico de política c r im ina l para drogas cer-
tamente não se prende à edição da lei n" 
4 . 4 5 1 , de 4 de n o v e m b r o de 1964 , que 
acrescentou o verbo "p lanta r " ao art igo 281 
CP. (A inda que tecnicamente ociosa, c o m o 
logo registrou He leno Fragoso, toda altera-
ção no sent ido da "multiplicação dos ver-
bos" é sintomática para o panpena l i smo da 
proposta , para o delírio de uma i l i c i tude 
contínua e inescapável.) A escolha de 1964 
se prende obv iamente ao golpe de estado 
que c r i o u as condições para a implantação 
do m o d e l o bélico, o que não signif ica que 
mot ivos d o mode lo sanitário - m u i t o espe-
c i a l m e n t e na consideração d o "estereóti-
po da dependênc ia" , mag i s t r a lmen te des-
c r i t o po rRosa de i O l m o " " - não c o n t i -
nuassem a operar r e s idua lmen te . 
Não foi o acaso que reun iu , nos m o v i -
mentos contraculturais jovens dos anos ses-
senta, a generalização do contacto com a 
droga e a denúncia pública dos horrores 
da guerra, e a derrota de tais mov imentos 
não pode ser melhor representada que pela 
política c r imina l que resolveu opor-se à dro -
ga c o m os métodos da guerra. Refugindo 
por comple to aos l imites desse trabalho uma 
análise dos conf l i tos e contradições que 
exp lod i ram naqueles mov imentos , é indis-
pensável uma referência ao capita l ismo i n -
dustr ial de guerra. C o m o se sabe, a cha-
mada "guerra f r i a " p r o d u z i u nos Estados 
Unidos - e fixamo-nos nos Estados Unidos 
porque o chanceler brasi leiro d iz ia em 1966 
que "o que é b o m para os Estados Unidos 
é bom para o Brasi l " - uma aliança de seto-
res mi l i ta res e indust r ia i s para a qua l a 
iminência da guerra era condição de de-
senvo lv imento , ao ponto do fracasso das 
conferências sobre desarmamento no f inal 
dos anos c inquenta repercutir favoravelmen-
te em Wall Street" ' 1 ; segundo Leonlief, o 
gasto mi l i tar mund ia l d u p l i c o u entre 1951 
e 1970. passando de cem bilhões a duzen -
tos bilhões de dólares'-'". Estas c ifras fantás-
ticas, nesse período fortemente concentra-
das nos dois blocos de cu jo antagonismo 
depend iam (Estado Unidos e Otan de u m 
lado e União Soviética e Pacto de Varsóvia 
de outro ) , ag lu t inavam interesses para os 
q u a i s e ra f u n d a m e n t a l não apenas a 
militarização das relações internacionais, no 
c a m p o d o q u e então se c h a m o u de 
geopolítica, mas também ao nível interno 
dos países incorporados. O instrumento te-
órico desse projeto foi a doutr ina da segu-
rança nac iona l , e laborada no Brasil pela 
Escola Superior de Guerra, fundada em 1949 
sob a inspiração do National U'ar Colleue 
e c o m a ajuda de uma missão mi l i tar ame-
r icana' ' 4 1 . O autor i tar ismo da dout r ina da 
segurança nac iona l , expressamente adota-
da na legislação de defesa do Estado d u -
rante a d i t adu ra mi l i t a r 1 2 1 " , b e m c o m o a 
efetividade de seus porões, ultrapassam os 
objetivos desse estudo, porém é preciso re-
colher um de seus conceitos - o de " i n i m i -
go interno" - que, intensamente v ivenc iado 
pelos operadores pol ic ia is , militares e j u d i -
ciários no âmbito dos delitos políticos, trans-
bordará para o sistema penal em geral, e 
sobreviverá à própria guerra fr ia. N o dis -
curso de uma alta patente mil i tar da época, 
o "uso de tóxicos" - ao lado, claro está, d o 
"amor l ivre" - const i tu i lática da guerra re-
volucionária contra a "civilização cristã""1'1. 
Em 19í>8, treze dias depois do A to Insti -
tuc ional n" 5, o edito mi l i tar que minist rou 
o coi/p-cfe-grâce na democrac ia represen-
tativa e garroteou a um só tempo as garan-
tias indiv iduais, a l iberdade de expressão e 
o Poder Indiciário, o decreto lei n" 385, de 
2b de dezembro, alterava o artigo 281 CP. 
Além da introdução de mais alguns verbos 
no l ipo de injusto do tráfico ("preparar, p ro -
duz i r " ) , e de sua ampliação para as maléri-
as-primas, a novidade eslava na equipara-
ção quoad poenam do usuário - daquele 
que "Iraz consigo, para uso próprio, subs-
tância entorpecente"- ao traiic ante. Cerca 
de seis meses depois, o decreto-lei n" 753 , 
de I 1 de agosto de 1969, estabelecia fisca-
lização pol ic ia l sobre os laboratórios cujos 
produtos contivessem substâncias entorpe-
centes; neste d ip l oma , a preocupação c o m 
as amostras grátis ocupava a lunção que 
no imaginário c a r i o c a de ho j e têm os 
balciros das podas de escolas. 
A equiparação quoad poenam do usuá-
r io ao traficante de drogas provocou a lgu-
ma reação no escasso grupo de juristas e 
magistrados que ousavam insurgir-se c o n -
tra o regime autoritário. Uma das estratégi-
as por eles uti l izadas foi questionar a va l i -
dade do depo imento dos pol ic ia is que ha-
v iam part ic ipado da prisão em llagranle d o 
usuário, lendo se notab i l izado por suas sen-
tenças c seus trabalhos teóricos a respeito 
o juiz Hélio Sodré"" . O absurdo dessa equ i -
paração, mesmo (ou pr inc ipalmente) dian-
te da visão "of ic ia i " do problema, não sen-
sibi l izou os legisladores da ditadura, como 
demonstraria sua manutenção pela lei n° 
5 .726, de 29 de outubro de 1971. 
Dese jamos se lec ionar alguns aspectos 
dessa lei n" 5.726, de 29.out .71. Seu fa-
moso artigo 1°, inspirado no artigo 1" da 
" l e i " de segurança nacional vigente, como 
observou Ce lso Del manto' 2 " , que declara 
constituir "dever de toda pessoa física ou 
jurídica colaborar no combate ao tráfico e 
uso de substâncias entorpecentes" , para 
a lém do compromisso bél ico que a vox 
"combate" contém, utiliza-se da estrutura 
normativa da imposição do dever jurídico, 
fundamento dos ilícitos omissivos, para con-
verter qualquer opinião dissidente da polí-
tica repressiva numa espécie de cumpl ic i -
dade moral com as drogas. Decorre daí que 
"sob pena de perda do cargo, ficam os di-
retores obrigados a comunicar às autorida-
des sanitárias os casos de uso e tráfico (...) 
no âmbito escolar" (art. 7", par. ún.) Que i -
mando etapas burocráticas, a diretora de 
um colégio estadual do Rio de Janeiro en-
c a m i n h o u e m 1 9 7 3 à Po l í c i a F ede ra l 
cinquenta e quatro nomes de alunos "sus-
peitos de estarem envolvidos em tóxico"'" 1 , 
fato que poderia ter levado ao trancamento 
da matrícula de todos, tal como previsto 
no artigo 8" da lei. Para a lei, essa educa-
dora estava prestando "serviço relevante", 
ao colaborar "no combate ao tráfico e uso" 
de entorpecentes (art. 24). Aos usuários de 
drogas cujo vício pudesse fundamentar uma 
situação de inimputabi l idade, construída 
segundo o modelo biopsicológico, aplica-
va-se uma "medida de recuperação", con -
sistente em internação "para tratamento psi-
quiátrico pelo tempo necessário à sua re-
cuperação" (arts. 9° e 10). A lei 5.726/71 
cr iava um procedimento judicial sumário 
(art. 14 ss) e alterava as regras para expul -
são d e estrangeiros, colocando o uso e trá-
fico de drogas ao lado dos crimes contra a 
segurança nacional numa investigação su -
mária com o prazo de c inco dias (art. 22). 
Q u a n t o às normas c r im ina l i zadoras , sem 
p e r d e r a o p o r t u n i d a d e de acrescer u m 
ve rb inho a mais (dessa fe i ta , "oferecer" ) , as 
penas e ram elevadas (a escala da receita 
fictícia subia de 6 meses a 2 anos para 1 a 
5 anos), criava-se a "quadr i l ha de do i s " que 
até hoje const i tu i u m prob lema técnico-ju-
rídico, e mantinha-se a equiparação penal 
entre usuários e traf icantes, agora c o m o 
teto de 6 anos de reclusão. 
A cu l tura po l i c i a l dos anos setenta c o m -
preendeu perfei tamente as expectativas d o 
regime mi l i ta r acerca de seu desempenho, 
e respondeu a elas c o m dedicação. A o p i -
nião de u m inspetor de polícia m i n e i r o , 
transcrita no l i v ro de u m general que exer-
c i a impor tan tes funções na Secretaria de 
Segurança Pública d o Rio de Janeiro, é bem 
representat iva: "só há u m rumo para pôr 
f i m ao p rob lema , o enquadramento dos tra-
f icantes na lei de segurança nac ional (...), 
a interferência das autor idades mi l i t a res " " 0 1 . 
Vera Ma lagu t i S. W. Batista e x a m i n o u as 
fichas do DOPS-Rio referentes ao verbete 
tóxicos nesse período, demonstrat ivas des-
sa or ientação; u m dos d o c u m e n t o s , de 
1 9 7 3 , i n t i t u l a d o "Tóxicos e Subversão", 
apresenta a droga c o m o arma da guerra 
f r ia : " c i t ando Lênin, M a o e H o Chi M i n , 
atribui-se a disseminação d o uso de drogas 
a uma estratégia comunista para a destru i -
ção d o m u n d o o c i d e n t a l " " " . 
Mas a cu l turajurídico-penal também i n -
c o r p o r o u a visão segundo a qua l a questão 
das drogas não passava de uma face da 
guerra. V icente Greco F i lho, que na in t ro -
dução de seu l i v ro recordava a utilização 
histórica de tóxicos " c o m o arma bélica", 
interpretava o art igo 1" c o m o exortação às 
"forças da Nação para essa verdadeira guerra 
santa q u e é o c o m b a t e aos tóx icos" " 2 1 . 
"Ninguém contestará que a disseminação 
de tóxicos entre a juventude (...) const i tu i 
tática subvers iva" , pont i f i cava Seixas San-
tos, acrescentando: " o de l i t o d o traficante 
dever ia ser inser ido na lei de segurança na-
c iona l , porque é c r ime de lesa-pátria"'"'. A 
relação entre a tox i coman ia e a "segurança 
e o desenvo lv imento" - a divisa política da 
d i tadura - era assinalada por Sérgio de O l i -
veira Med i c i 1 1 4 1 , enquanto Carva lho Rangel 
t o m a v a e m cons ideração "as m e d i d a s 
adotadas pelo governo amer i cano" para as-
sinalar a necessidade de uma "ação con -
j u n t a " entre o judiciário e outras agências 
governamentais para co ib i r o tráfico, "pois 
só assim o ma l será e l i m i n a d o " ' 3 5 ' . Essa 
amostragem é suf ic iente para constatar que 
a produção jurídico-penal daquela con jun -
tura absorveu a ideia de que a general iza-
ção do contacto de jovens c o m drogas de-
via ser compreend ida , no quadro da guerra 
fr ia , como uma estragégia do b loco c o m u -
nista para solapar as bases morais da c i v i l i -
zação cristã o c i d e n t a l , e que o enfren-
tamento da questão devia valer-se de méto-
dos e dispositivos mil i tares. A reunião do 
e lemento bélico e d o e lemento religioso-
mora l resulta na metáfora da guerra santa, 
da cruzada, que t em a vantagem - extrema-
mente func iona l para as agências pol ic ia is 
- de expr imir uma guerra sem restrições, sem 
padrões regulat ivos, na qual os fins just i f i -
c am todos os meios. N o plano internacio-
na l , o novo front das drogas reforçava as 
fantásticas verbas orçamentárias do capita-
l ismo industrial de guerra 
A vigente lei n 6 .368 , de 21 de outubro 
de 1976, ap r imorou , para o bem e para o 
ma l , a lei n" 5 .726/71. Aquele dever jurídi-
co genérico do art igo 1 permaneceu, po -
rém a palavra " comba te " foi substituída pela 
expressão "prevenção e repressão". Os alu-
nos surpreendidos c o m um cigarro de ma-
c o n h a já não e s t a v a m s u j e i t o s ao 
trancamento da matrícula nem os diretores 
à delação, mas se os últimos não adotas-
sem medidas preventivas colocar-se-iam na 
l inha de uma responsabilização "penal e 
administ rat iva" fe l izmente não expl ic i tada 
(art. 4" e par. ú n ) . O proced imento j ud i c i -
ário foi regulamentado mais minuc iosamen-
te, e o réu condenado por tráfico não pode-
ria apelar sem recolher-se à prisão (art. 35). 
As penas subiram estratosfericamente, indo 
a escala penal do t ipo básico do tráfico (art. 
12) - ao qual se acresceram novos verbos, 
" remeter " , " adqu i r i r " e "prescrever", este 
ú l t imo p o r q u e a r e c e i t a f ic t íc ia se 
transmudaria e m cr ime culposo (art. 15) -
para a faixa de 3 a 15 anos de reclusão e 
mul ta . Uma modal idade de apologia, o r i un -
da da legislação dos anos tr inta, construída 
c o m o t i p o a b e r t o de conteúdo 
indeterminado ( c o n t r i b u i r de qualquer for-
ma para i n c e n t i v a r o u d i f u n d i r o uso 
indevido ou o tráfico" - ait 12, § 2", inc. 
I l l ) , capaz de, nas mãos de u m delegado de 
polícia devotado, levar à instauração de i n -
quérito contra Charles Baudelaire, Aldous 
Hux ley , Jean Cocteau e Walter Benjamin 
numa única estante de l ivrar ia, estava agora 
sujeita à pena de 3 a 15 anos de reclusão. A 
posse para uso próprio, entretanto, recebeu 
disc ip l ina à parte, cominando-se-lhe uma 
pena privativa da l iberdade (detenção de 6 
meses a 2 anos e mul ta - art 16) só excep-
c ionalmente executada O tratamento dos 
drogaditos foi apr imorado, prevista a alter-
nativa da assistência ambula tona l ("em re-
g i m e ex t ra-hosp i t a l a r " - art 10, § 1° ) , 
man t ida a cláusula de i n i m p u t a b i l i d a d e 
segundo o mode lo anterior (art. 19 e par. 
ún.) A regulamentação dessa le i , efetuada 
pelo decreto n" 78 992 , de 21 de dezembro 
de 1976, além cia vedação das amostras grá-
tis (art. 13), pro ib ia qualquer " tex to , car-
taz, representação, curso, seminário ou con -
ferência" sobre o tema sem prévia autor iza-
ção (art. 8 '), b e m c o m o recomendava a fis-
calização rigorosa pelas autor idades de 
censura", sobre espetáculos públicos, para 
"evitar representações, cenas ou situações 
que possam, ainda que veladamente, susci-
tar interesse" pelo tema (art 9"). "A l iber-
dade artística - d iz i a u m dos e laborado -
res dessa legislação - precisa de ser cont ro -
lada" i b . 
A Constituição da República de 1988 
de u m lado revogou esses últimos dispositi-
vos, ao ban i r a censura (art. 5 ° , inc . IX) e de 
o u t r o d e t e r m i n o u que o tráfico de drogas 
constituísse c r ime inafiançável e insuscetível 
de graça ou anistia (art. 5", inc . XLIII)^ no 
c o n t e x t o de uma disputa const i tu inte entre 
representantes da corrente que à época de -
s ignamos por "direita penal " e representan-
tes da tendência que Maria Lúcia Karam cha -
mar i a d e "esquerda pun i t i va " ' 1 7 1 . A chama -
da le i dos cr imes hed iondos (n° 8 . 0 7 2 , de 
2 5 . j u l . 9 0 ) p ro ib i r i a também o i ndu l t o e a 
l i be rdade provisória para o tráfico de d ro -
gas (art. 2", incs. I e II) e, pre tendendo ele-
var as penas da quadr i lha votada à prática 
de todos os del i tos por ela con templados 
(art. 8 ° ) , sem aperceber-se que a quadr i l ha 
de dois d o artigo 14 da lei 6.368/76 já dispu-
nha de uma escala penal elevadíssima (3 a 10 
anos de reclusão), acabou por invo lunta r iamen-
te r eduz i- l a " 8 1 . Essa mesma lei d o b r o u os 
prazos d o p roced imento jud i c i a l (art. 10), 
para garant i r uma prisão provisória mais 
extensa dos acusados por tráfico. 
Essas derradeiras alterações na d i s c i p l i -
na jurídico-penal do abuso e tráfico de d r o -
gas ilícitas, todas no sentido de uma severi -
dade e u m rigor só comparáveis ao m o d e l o 
repress ivo dos cr imes contra a segurança 
n a c i o n a l durante a d i tadura mi l i tar , já se 
dão n u m quadro político in ternac iona l d is -
t i n t o . N o s anos o i tenta , uma sequência ver-
t ig inosa de en tend imen tos e articulações 
c o n d u z ao f im da guerra fr ia , cu jo símbolo 
c o n s i s t i u na reunif icação da c i d a d e de 
Be r l im . O cap i ta l i smo monopol i s ta de base 
indust r ia l - aí compreend ida a indústria bé-
l ica - se reorganizava, ao impacto d o surto 
dos serviços e da corr ida tecnológica, c o m 
a emergência de novas potências económi-
cas a tuando t ransnac ionalmente e o adven -
to de u m a soc iab i l idade urbana na qua l o 
c o n s u m o e as comunicações de massa pas-
savam a exercer funções estratégicas. Para 
as classes hegemónicas do m u n d o o c i d e n -
tal e suas corporações, as perspectivas de 
expansão sobre os destroços do b l o c o soc i -
alista e r am deslumbrantes, e as poss ib i l i -
dades de deslocamento de recursos e inves-
t imentos de tal envergadura, a nível p lane-
tário, só pod i am ser em seus sonhos empa-
relhadas, guardadas todas as pecul iar idades 
dos respectivos processos históricos, aos ho -
r izontes abertos, meio milénio atrás, c o m a 
d e s c o b e r t a da Amér ica . Os artífices e 
ideólogos da guerra fria v i am sua história 
terminar, e nada mais compreensível que 
proclamassem o f im da História A econo -
mia de mercado vencera, as leis de merca-
do assumiam a função de estatuto funda-
m e n t a l das re lações e conómicas , e a 
c o m p e t i t i v i d a d ese c o n v e r t i a no l i a m e 
sinalagmático da convivência humana. Não 
compete mais ao Estado imiscuir-se na eco-
nomia para fomentar e garantir condições 
decentes de sobrevivência para a popu la -
ção, devendo sim privatizar todos os seto-
res de sua intervenção, desregulamentar os 
m e r c a d o s e p r o m o v e r a m a i s a m p l a 
liberalização f inanceira e comerc ia l ; para 
lavorecer estes objet ivos, a mídia - agora o 
braço armado do império transnacional da 
produção de tecnologias, equipamentos e 
dos serviços de telecomunicações - golpeia 
enfat icamente c procura desmoral izar coti-
d ianamente toda e qualquer irregular idade 
que se passe no âmbito da administração 
pública, enaltecendo paralelamente a " e f i -
ciência" das gestões privatizadas, reduz in -
do o noticiário ou mesmo s i lenc iando so-
bre suas negociatas. C o m o o resultado real 
dessa espécie de "vale-tudo" económico é 
o aumento da marginalização social e do 
desemprego, c o m todos os conf l i tos e ten-
sões que, exprimindo-se também nas inc i -
dências cr imina is , a lavancam crescente de-
manda de repressão po l i c i a l , estabelece-se 
um cur ioso paradoxo, tocando ao "Estado 
mínimo" exercer um contro le social penal 
máximo. 
Paralelamente a essas transformações, a 
ampliação inimaginável dos mercados i n -
ternacionais de drogas ilícitas alterara o ce-
nário geográfico da guerra que N i x o n enun -
ciara e Reagan ve io a declarar. Rosa dei 
O l m o mostra como , após as grandes ope-
rações na Jamaica e no México, em mea-
dos dos setenta, a produção da maconha, 
"seguindo a lógica d o cap i ta l " , vai estabe-
lecer-se na empobrec ida Colômbia" 9 ' . Nos 
anos o i ten ta , o apo io norte-amer icano à 
contra-revolução nicaraguense é empreen-
d ido " e m nome da luta contra as drogas" 1 4 0 1 . 
Dessa forma, a inda nos estertores de um 
m u n d o an tagon icamente b i p o l a r i z a d o , a 
droga vai se convertendo no grande eixo -
o mais imperturbave lmente plástico, capaz 
de associar motivos religiosos, morais, po-
líticos e étnicos - sobre o qual se pode re-
construir a face do i n im igo (interno) tam-
bém n u m compatr io ta ; no Rio de Janeiro, 
na f i g u r a de u m a d o l e s c e n t e neg ro e 
favelado que vende maconha ou cocaína 
para outros adolescentes bem-nascidos. A 
severidade de nossa legislação, acima exa-
minada , expr ime não somente a síndrome 
dos governos lat ino-americanos de serem 
"mais drásticos que o próprio governo nor-
te-americano" ' 4 " , mas também a func iona-
l idade mítica da droga para o exercício da-
quele contro le social penal máximo sobre 
as classes marginal izadas, cujos fi lhos são 
recrutados para trabalhar nos arriscados es-
tágios da produção e comercialização de 
um produto cu jo mercado está c o n d i c i o -
nado por sua criminalização e cujos pre-
ços osc i l am na razão direta da maior ou 
menor eficiência das agências de repressão 
penal1 4-'1. Consoante l uc idamente observa 
Nils Christ ie, " c o m o f im da guerra Iria, num 
quadro de profunda recessão económica, 
no qua l as nações indust r i a l i zadas mais 
importantes não têm in imigos externos con -
tra os quais se mobi l izar , não parece i m -
provável que a guerra contra in imigos i n -
ternos seja p r i o r i zada " 1 4 " : as drogas ilícitas, 
c o n v e n i e n t e m e n t e d e m o n i z a d a s , e suas 
i legal idades satélites v i e r am a cons t i tu i r 
o c a m p o de ba ta lha dos expe r imen tos e 
(áticas dessa guerra . "A guerra cont ra as 
drogas - escreve G i l b e r t o M e d i n a - ado-
tou as mesmas pautas estabelec idas para 
enfrentar a "ameaça c o m u n i s t a " ' 4 4 1 , e t an -
to o d iscurso penalístico quan to a práti-
ca do sistema penal o reve lam. 
Uma política cr imina l de guerra tem efe i -
tos benéficos para a indústria do contro le 
do cr ime, seja no aquecimento dos gastos 
públicos c o m equ ipamentos adequados , 
com a reengenharia das divisões encarre-
gadas da inteligência e do confronto , e c o m 
a ampliação do sistema penitenciário, seja 
no âmbito desse novo setor que é a segu-
rança privada, o qua l , segundo um relató-
r io amer i cano de 1 l) l)1 c i t ado por N i l s 
Christie, ultrapassa as verbas das agências 
públicas de segurança em mais de 7 0 % 
(US$ 52 bilhões anuais), e ocupa duas ve-
zes e meia mais pessoas do que elas, o que 
significa um milhão e meio de empregos 1 4 5 ' . 
Essa máquina g i g a n t e s c a , c a p a z de 
redirecior.ar frustrações orçamentárias o r iun -
das do f im da guerra fria, deve uma bela 
fatia de suas engrenagens a i legalidade da 
droga, e trata de realimentar todos os mitos 
que, a partir da droga, desatam pânicos 
sociais e instam por repressão penal. E fácil 
perceber que os lucros da industria do con -
trole do cr ime são tributários da política c r i -
mina l adotada, para compreender as ver-
dadeiras razões pelas quais as orientações 
político-criminais passam, neste período, a 
assumir uma posição de destaque no de-
bate político em geral, bem como os ver-
dadeiros compromissos dos representantes 
das correntes chamadas de " lei e o rdem" . 1 
A mudança de ident idade do in im igo , da 
guerra fria para a guerra contra as drogas e 
o "c r ime organizado" internacional , se re-
ílete também na indústria cultural do c r i -
me: sai de cena o agente soviético ru ivo 
que Sean Connery matava, entre uma na- | 
morada e outra, e entra um homem la t ino , 
mu i t o parecido com todos nos, perverso 
traficante que teve a desventura de conhe -
cer a filha de Charles Bronson 
IV - As marcas da guerra 
Seria re la t ivamente simples reduzi r as 
políticas sociais brasileiras a um aforismo 
elaborado para a guerra, e não hesitaría-
mos em eleger aquele que Maquiavel re-
co lheu em Vegécio: "é melhor vencer o 
inimigo com a fome do que com o ferro"' 4 6 ' . 
As coisas se compl icam um pouco ao pre-
tendermos surpreender alguns princípios da 
arte militar aplicados a um sistema penal 
cu jo funcionamento é concebido como uma 
guerra, mas essa angulação poderá recom-
pensar-nos com a revelação de certas cor-
respondências inquietantes. 
Principiemos por aquilo que o mais an-
tigo teórico da guerra conhecido, Sun Tzu , 
chamava de "lei mora l " , que segundo ele 
"faz c o m que o povo fique de completo 
a c o r d o c o m s e u g o v e r n a n t e " ' 4 7 1 , e 
C lausewi tz ' 4 4 1 chamou de "informação", ob-
servando que as notícias que circulam em 
tempo de guerra são na maior parte falsas; 
as guerras do século XX demonstrariam a 
importância estratégica da propaganda. No 
caso das drogas, entre tantas mistificações 
ideológicas produzidas não apenas pela 
m í d i a , mas t a m b é m p e l a e l a b o r a ç ã o 
conceituai teórica, selecionamos o dogma 
da i l icitude ontológica como aquele com 
maior aptidão para concentrar opiniões, 
para c o l o c a r o povo de acordo c o m o 
governante, como diz ia Sun T z u . Tráfico 
ilícito de drogas é sinónimo perfeito de trá-
fico de drogas ilícitas, porém nem mesmo 
a conhec ida experiência da malograda "lei 
s e c a " norte-americana consegue despertar 
essa desconfiança na generalidade dos ju -
ristas; muitos procuram refugiar-se numa 
argumentação qu ímica para preservar a 
conv icção de que a maconha é proibida 
pelo que é, e não porque é proibida - como 
se o álcool também não dispusesse de uma 
química, como se só o tabaco pudesse in-
denizar os danos aos pulmões, como no 
recente acordo bilionário nos Estados Un i -
dos. Por essa razão, enquanto, sob o mo-
delo sanitário, procuravam-se , como v i -
mos, soluções semelhantes para usuários 
de drogas ilícitas e para o alcool ismo, o 
m o d e l o bélico d is t ingue comp le t amente : o 
demónio não pode ser u m adjet ivo . 
Liga-se a tal empostação a característica 
de cr imes de per igo abstratodos tipos de 
in jus to . C o m o anota Saio de Carva lho , "nas 
leis de entorpecentes não há ofensiv idade 
causal , apenas jurídica, eis que o resultado 
das condutas não produz dano empírico, 
apenas n o r m a t i v o " ' 4 " . Todo o desprestígio 
teórico dos cr imes de per igo abstrato, às 
vezes proc lamado pelos t r ibunais - versan-
d o matéria dist ina - não aba lou , con tudo , 
a aplicação massiva e ind isc r iminada da le i . 
Dir-se-ia, c o m o Clausewi tz , que na guerra 
"a violência arma-se c o m as invenções das 
artes e das ciências" 1 S 0 ' , e no caso toca à 
ciência jurídico-penal fornecer a invenção 
de u m resultado presumido . 
Para não perder t e m p o c o m as óbvias 
impropr iedades da criminalização do uso, 
f ixemo-nos na indistinção da escala penal 
do tráfico de drogas ilícitas. C o m o compre -
ender que as mulheres pobres latino-ame-
ricanas que operam c o m o transportadoras 
de pequenas partidas, as " m u l i t a s " 1 5 " , ou o 
" t ra f icante famélico"' 5 2 1 , ou aquele que se 
envo lve e m decorrência do c o n s u m o 1 5 " , ou 
ainda o usuário que adquire também para 
seu co l ega , c o m o c o m p r e e n d e r que tais 
pessoas se suje i tem à mesma escala penal 
de u m atacadista fac inoroso, a não ser por 
u m a lógica de guerra , segundo a qua l -
valha-nos novamente C lausewi tz - " enquan -
to eu não tiver abat ido o meu adversário 
posso temer que ele consiga destruir-me" ' 5 4 ' , 
lógica que abstrai toda a f ragi l idade daque-
les personagens, transformados mag icamen-
te e m in imigos temíveis? 
Imaginemos a surpresa d o pesquisador 
que u m dia comparar o número de pesso-
as mortas pelas drogas, por overdose, de-
bilitação progressiva ou qua lquer out ro m o -
t i vo , c o m o número de pessoas mortas pela 
guerra contra as drogas. N o Brasil em ge-
ra l , e no Rio de Janeiro e m particular, aquele 
pesquisador perceberá que as vítimas da 
guerra contra a droga , além da extração 
social c o m u m , são jovens - tal c o m o na 
guerra convenc iona l - e será tentado a to -
mar uma vereda psicanalítica para conc lu i r 
que ao sistema penal a nova o rdem inter-
nac iona l reservou as tarefas do filicídio, 
antes cumpr idas pela guerra ' " ' . A questão 
da in imputab i l idade por menor idade, e den -
tro dela part icu larmente a tendência para 
rebaixar o marco etário, guarda impressio-
nante correspondência c o m a questão da 
idade de recrutamento mi l i tar tios jovens, 
que historicamente também sofria alterações 
ao sabor das necessidades de estorço béli-
co da ocasião1 5'". Os amplos setores da i m -
prensa compromet idos c o m o projeto eco-
nómico neol ibera l fazem o que podem para 
omi t i r ou recalcar o noticiário nosso de cada 
dia; um dos recursos consiste e m subtrair 
às execuções pol ic ia is sua autoria real (pela 
aceitação acrítica da versão de 'disputa de 
quadri lhas" ) ou sua significação de abuso 
de poder (pela tantas vezes indev ida atr i -
buição da qua l idade de "traf icantes" às ví-
timas). O jorna l carioca O Dia, edição de 
29.mar .97, estampava em sua pr imeira pá-
gina: "PM mata um a cada quatro horas -
Nos últimos seis dias, a Polícia Mi l i ta r m a -
tou 52 pessoas suspeitas de c r i m e . Só o n -
tem, no Rio e na Baixada, foram o i to . E o 
resultado da o rdem do general Cerqueira: 
'atirar pr ime i ro e perguntar depo is ' " . Caso 
este desempenho fosse mant ido permanen-
temente, a projeção para o i to anos e meio 
- o tempo que durou a escalada norte-ame-
ricana - nos convencer ia de que a Polícia 
Mi l i ta r carioca tem capacidade bélica ca-
paz de executar mais de u m terço do total 
de mortos norte-amerícanos em combate 
na guerra do Vietnã. Enquanto alguns j u -
ristas desatentos não se dão conta de quanto 
é ridículo propor a pena de morte n u m país 
em que a polícia a executa tão intensamente, 
no Rio de Janeiro a boa pontaria é premia -
da com aqu i lo que o h o m e m carioca cha-
ma de "gratificação faroeste". Mas ai en -
contramos ou t ro princípio, que Maqu iave l 
também tomou a Vegécio e transcreveu em 
sua Arte da Guerra: "mantemos os solda-
dos nos quartéis c o m o medo e com pena-
l idades; na guerra, nós os conduz imos com 
a esperança e prémios"" 7 ' . 
O mode lo bélico da po l i t i ca c r i m i n a l 
impr ime suas marcas também no proced i -
mento judiciário, a começar pela cont rad i -
ção de julgar alguém que, por constituir-se 
n u m i n i m i g o , deve ser imp lacave lmen te 
abatido (= condenado) Tal i ontradição f i -
cará exposta nas múltiplas toleiáncias para 
com violações ao dev ido processo penal , 
no preconceito general izado contra as ga-
rantias constituc ionais dos acusados por trá-
f ico de drogas, que alcançam também os 
democratas que não transigem c o m os d i -
reitos humanos. "As almas filantrópicas -
dizia Clausewitz - poder iam faci lmente j u l -
gar que existe uma maneira art if ic ial de de-
sarmar e derrotar o adversai 10 sem verter 
demasiado sangue. Por mais desejável que 
isso pareça, é u m erro que c preciso e l i m i -
nar. N u m assunto tão perigoso c o m o é a 
guerra, os erros devidos à bondade da alma 
são precisamente a pior das coisas"' 5"'. D i -
ante de tal enfoque, as limitações const i tu -
cionais ao exercíc io do poder penal se con -
v e r t e m n u m a b s u r d o , v l e t o m e m o s 
Clausewitz: "não seria possível in t roduzi r 
um pr inc ip io moderadoi na própria f i loso-
fia da guerra sem cometer um absurdo" ' 5 " . 
Basta olhar a tolerância dos tribunais - c o m 
honrosas exceções - para c o m as nu l ida -
des, c o m o excesso do prazo da prisão 
preventiva em processos concernentes a trá-
f ico de drogas, para constatar a influência 
velada do pensamento de C lausew i tz . A 
questão da prova ilícita, que está para a 
investigação po l i c ia l c o m o a espionagem 
para a guerra, também revelará uma to le -
rância especial para casob de tóxicos. Cur i -
osamente, a operação de c onlra-espiona-
gem, mediante a qual uma falsa in forma-
ção é passada ao i n im igo , é designada por 
"intoxicação""'"... N o l imi te , as "tensões i n -
ternas" associadas aos "apr is ionamentos em 
m a s s a " , aos "maus tratos ou condições 
inumanas de detenção" e ao menosprezo 
habitual pelas garantias fundamentais que 
equivalha a sua suspensão - estamos trans-
crevendo Swinarski ' 6 " - poderão criar con-
dições diante das quais a invocação do di -
reito internacional humanitário, as regras das 
Convenções de Genebra que limitam os 
métodos da guerra, deixaria de constituir 
uma trágica metáfora. 
Podemos ficar por aqui. A substituição 
de um modelo sanitário por um modelo 
bélico de política cr iminal , no Brasil, não 
representa uma metáfora académica, e sim 
a intervenção dura e frequentemente in-
constitucional de princípios de guerra no 
funcionamento do sistema penal. Mao Tsé-
Tung retomou certa feita a famosa compa-
ração de Clausewitz , formulando-a nos se-
guintes termos: "a política é guerra sem der-
ramamento de sangue, enquanto que a 
guerra é política com derramamento de san-
gue" . Neste sentido, podemos concluir que, 
em nosso país, temos para as drogas uma 
política criminal com derramamento de san-
gue. 
Ao participar do Congresso Internacio-
nal de Direito Penal em comemoração ao 
7 5 " aniversário do Código Penal Argenti-
no, tomei ciência do iminente fechamento 
do volume em honra do Proí. Jorge Frias 
Cabal lero. C o m o presente estudo, elabo-
rado para o Seminário Internacional do Ins-
tituto Brasileiro de Ciências Criminais deste 
ano, integro-me às merecidas homenagens 
que ora são prestadas ao notável penalista; 
dedico-o ao prof. Jorge Frias Caballero com 
afetuosa admiração. 
N o t a s : 
( 1 ) Z i p f , H e i n z , Intfoducción a la Política Crimi-
nal, t r a d . M l . M a c í a s - P i c a v e a , C a r ac a s , 1 9 7 9 . 
e d . E D R , p. 4 . 
( 2 ) Lições de Direito Penal, P C , R i o , 1 9 8 7 , e d . F o -
r e n s e , p. 1 7 . A l e s s a n d r o Barat ta o b s e r v a v a r e c e n -
t e m e n t e q u e " a c o n t r a p o s i ç ã o en t re p o l i t i c a d e 
s egu rança e po l í t i ca s o c i a l n ã o é lóg ica m a s s i m 
i d e o l ó g i c a " ( D e f e s a d o s d i r e i t os h u m a n o s e p o -
l í t i ca c r i m i n a l , i n Discursos Sediciosos - Crime, 
Direito e Sociedade, R i o , 1 9 9 7 , n" 3, p 5 8 ) . 
( 3 ) C l a u s e w i t z , C a r l v o n . D a G u e r r a , trad. T B P. Bar-
r o s o , B ras í l i a , 1 9 7 9 , e d U n B , p. 7 4 3 
(4 ) S p e n c e , Jona l l i . in D . , E m Busca d a China M o 
derna. t rad. T R B u e n o e P M Soares , S ã o Pau lo , 
1 9 9 5 . e d . C i a . d a s L e i r a s , p. 151 
(5) S p e n c e , o p . c i t . , p p . 1 6 5 e 1 6 9 . 
(6) C f . N i l o B a t i s t a , A c u r a , o ê x t a s e e a 
t r anscendênc i a , in O . D G o n c a l v e s e F.l. Bastos 
( o r g s ) , Só Socialmente, R i o , 1 9 9 2 , e d . Re l ume-
D u m a r á , p. 6 0 . 
(7 ) R e s p e c t i v a m e n t e através dos dec re tos n 2 2 . 9 5 0 , 
d e 1 8 . j u l . 3 3 , n" 1 1 3 , d e 1 3 . o u t . 3 4 e n " 2 . 9 9 4 , 
d e 1 7 . a g o . 3 8 . 
(8 ) A Politica Criminal de Drogas no Brasil, R i o , 
1 9 9 6 , e d . L u a m , p. 2 0 . 
(9 ) U m a d e c i s ã o d o T)SP, d o s a n o s q u a r e n t a , a b s o l -
v i a " o facu l ta t i vo q u e , por c a r i d a d e , s e m interes-
se p e c u n i á r i o , p r o c u r o u a l e n u a r o so f r imento d e 
u m c l i en te , p r e s c r e v e n d o - l h e e m la rgo p e r í o d o 
e n t o r p e c e n t e s " , e s c l a r e c e n d o q u e se o m é d i c o 
" d e i x o u d e usa r p a p e l o f i c i a l , n ã o foi i n t e n c i o -
n a l m e n t e , m a s p o r q u e g e r a l m e n t e n ã o e r a e m -
p r e g a d o n o lugar e m e s m o n ã o ex i s t i a à d i s p o s i -
ç ã o d o s m é d i c o s , n a é p o c a d o s f a tos " ( RT 168/ 
1 1 4 - 1 1 7 ) . 
( 1 0 ) N u m p r o c e s s o j u d i c i a l d e 1 9 2 1 , ind ic a d o pe l a 
Rev i s ta Fo r ense c o m o pr ime i ra ap l i c a ção d a nova 
le i s o b r e t o x i c o m a n i a , o in te rd i to é u m o f i c i a l 
a d u a n e i r o (RF XXXV I I I /88 ) . U m dos m é d i c o s q u e 
s u b s c r e v e r a m o l a u d o , s e g u n d o o q u a l a 
i n t e rnação d o p a c i e n t e se r e c o m e n d a v a urgente -
m e n t e pa r a ev i ta r a " c o m p l e t a p e r d i ç ã o m o r a l " , 
e r a He i t o r C a r r i l h o . A sen tença d o ju iz A b e l a r d o 
B u e n o d a C a r v a l h o c i l a c o n t u d o u m a d e c i s ã o 
an te r io r , d e 3 0 d e s e t e m b r o d e 1 9 2 1 , d o j u i z 
A l f r e d o R u s s e l , q u e t a m b é m foi p u b l i c a d a (RF 
X X X V I I / 4 2 6 ) , n a q u a l , p e l o m e s m o f u n d a m e n -
to , foi o i n t o x i c a d o i n t e r n a d o n o S a n a t ó r i o 
Bo ta fogo . 
( 1 1 ) A Face Oculta da Droga, I r ad . T O t t o n i , R i o , 
1 9 9 0 , e d . R e v a n , p. 2 9 . 
( 1 2 ) Comentários ao Código Penal, R i o , 1 9 5 9 , e d . 
F o r e n s e , v. IX, p 1 3 8 . 
(13 ) lu rand i r F re i r e C o i t a , H i s tó r i a rfa Psiquiatria n o 
Brasil. R i o . 1 9 8 9 . e d . X e n o n , p. 91 Sobre medi-
l a l i z a ç ã o d a s ins t i tu i ções . R o b e r t o M a c h a d o et 
a h i , Danação da Norma. R io , 1 9 7 8 , e d . G r a a l , 
pp. 2 7 8 ss ; sob re as opressões h ig ien is tas no R io 
de ( ane i ro , S i d n e y C h a l h o u b , Cidade Febril, S. 
Pau lo , 1 9 9 6 , e d . C i a . das Le i r a s . 
(14 ) O p . c i t , p. 1 19. 
(15 ) E m b o r a a n o r m a e s p e c i a l (ait 4 5 . ^ 2 , al h d e c 
2 0 . 9 3 0 / 3 2 e, d e p o i s , art. 2 9 § 2 , a l . b d e c . l e i 
891/38 ) p r e s c r e v e s s e in te rnação obrigatória para 
casos de " i m p r o n ú n c i a ou abso l v i ç ão " dec orren-
tes de ta is s i t uações , e n l e n d i a - s e , já no r eg ime 
d o C P 1 9 4 0 , q u e " n ã o e x c l u i a resi>onsal>il idade 
a embr iague i : p r o v o c a d a pe lo uso de entorpec e n -
t e s " (RF L X X X V / 4 7 8 ) . 
(16 ) Ensaios de Palholngia Social, R io 1 9 2 4 , e d . L 
R ibe i ro , p 1 14. 
(17 ) N ã o inc ide nas p e n a l i d a d e s c o m i n a d a s pe l o de -
c re to n' 4 2 9 1 . d e 6 . j u l . 2 1 . o i n d i v i d u o e m c u j a 
c a s a é e n c o n t r a d o f rasco d e c o c a í n a , e s c o n d i d o 
sob u m c o l c h ã o O q u e a lei d e f i n e c orno con-
I r a v e n ç ã o é vende r , e x p o r à v e n d a ou m in i s t r a i 
( . ) en torpecente , s e m legít ima autor ização e s e m 
as f o r m a l i d a d e s p resc r i t a s nos r e g u l a m e n t o s s.i 
n i t á r ios " (RF X L V / 5 6 8 ) . 
(18 ) L a l eg i s l a c ión an t i d rogas l a l i n o a m e i i c a n a : sus 
componen te s d e d e r e c h o pena l autoritário, in Fas-
cículos de Ciências Pen.m. v l , i i 2 . P \ l eg re . 
1 9 9 0 . e d . Fabr i s , p. 18 
(19 ) Art. 33 - Fac ihlar, inst igar por a ios o u por p a l a -
vras , a aqu i s i ç ão , u s o , e m p r e g o o u a p l i c a ç ã o d e 
qua lquer substância entorpec en le , i>u, sem as for-
m a l i d a d e s p resc r i t as n c s l a le i , v e n d e i ministrar, 
dar, deter, guardar , transportar, env i.u, troi ar, so-
negar, c o n s u m i r subs tânc ias c o m p r e e n d i d a s no 
art igo 1 o u p lantar , cu l t i var , c o l h e r as p l an tas 
m e n c i o n a d a s no art igo 2 " , ou de q u a l q u e r m o d o 
p r o p o r c i o n a r a aqu i s i ç ão , u s o o u a p l i c a ç ã o dos 
sas subs tânc ias - P e n a : u m a c i m o a n o s d e pr i -
são c e l u l a r e mu l t a d e 1 : 0 0 0 $ ( ) 0 0 a 5 : 0 0 0 $ 0 0 0 
(20 ) C í P a s s e l i , f d s o n . D a s Fumeriei a o Na r co t r á f i -
c o . S. P a u l o . 1 9 9 1 . e d . E d u c . p. lr> 
i 2 1 i A F a c e O c u l t a da D r o g a . cu., p S 4 e p a s s i m 
(22 ) C f . F r e d |. C o o k , O E s t ado Mi l i ta r i s ta , trad F C 
Fer ro , R io , 1 9 6 4 . e d . C i v Bras , p 154 ss 
121) Leon l i e í . W a s s i l y , e D u c h i n , F a y e Ef gasto m i l i -
tar. I r a d . A H i b b e r t . M a d n . 19H<> e d . A l i a n z a , 
p. 22 
(24) C ( . C o m b l i n , | o s e p h , A I d eo l og i a d.i S e g u r a n ç a 
N a c i o n a l , trad. A V F i a lho , Rio 1 9 7 8 , e d . C iv . 
Bras., p 151 ss; Martins. Rc4>etlo K Segurança Na 
c ion. i l . S .Pau lo , 1 9 8 6 , ed Bras i l i ense , p . l 1 ss 
(25 ) Cf . H e l e n o F ragoso , l e i de Segurança Nacional 
Uma Exper iênc ia A n t i d e m o c r á t i c a , P. A l eg r e , 
1 9 8 0 , e d . Fabr i s ; An tón io Evar isto de M o r a e s F i -
lho, Lei de Segurança Nac ion.i l ( ' m A ten tado a 
Liberdade, R io , l ' ) 82 . ed Zah .n 
(26) A p u d C o m b l i n . o p . c i l . , p 4ri 
(27 ) N o mie I O de 1 9 7 1 , H é l i o S o l e p u b l i c o u u m 
a i l i go , " P r o v a p e n a l r e l e i e n l e á posse de en tor -
p e c e n t e s " (Rev i s ta d e D i re i to / 'eu.d. R io , 1 9 7 1 , 
ed Borsó i , p. 91 ss) , e no ano seguinte u m l i v io , 
•Tóxicos - A N o v a t e i " , R io . 1 9 7 2 , e d . R i o 
(28 ) Tóxicos. S Pau lo . 19H2 ed S . u a i s a , p. 1 
i 29 ) V e r a M a l a g u t i S. W. Bat ista, D r o g a s e C r i m i n a l i -
z a ç ã o d.i j u v e n t u d e P o b r e no R io de l ane i r o , 
N i t e ró i , 1 9 9 7 , m i m e o , p H l 
(30) | a ime R ibe i r o <la G r a ç a . I Ó M I • . R i o . 1 9 7 1 , e d . 
Renes , p 24 
(31 ) D rogas e C r i m i n a l i z a ç ã o d a I m e n l u d e Pobre no 
R io de l ane i ro , in D i s c u r s o s Sed i c i o sos - Crime. 
D i r e i t o e S o c i e d a d e , R i o . 1 9 ' X i v 2. p 2 ) 8 
(32 ) tóxicos, S. P a u lo . 1977 ed S a i a i v a . p p . l e 4 i . 
U m acó rdão recen te do I|R| r e i o m a o mot i vo d a 
guerra santa , a o lembrar q u e " a i r u z a d a contra o 
tox i co n ã o se i nn f i na nos l i nde* de u m de te rm i -
n a d o p a i s " , c o n s i s t i n d o n u m d e s a l i o in te rna i i-
o n a l " . A e m e n t a de f ine o c a s o T o x i c o P lanta -
ç ã o da m a c o n h a no qu in ta l (!<• m o r a d i a d o a c u -
s a d o ' C \ C n m 1 4 1 5 'K, I i l i T|R| D ( ) - R | 
I 7 . a b r . 9 7 , P. Ill p 160) 
(33) -\a l e i Ant i tóxicos ( "o i i i en l .u l a S P a u l o , 
1 9 7 7 , e d . P I O - I I V I O , p. 2 1 . 
( ) 4 ) Tóxicos. B a u r u . 1 9 7 7 , ed |al u . p 29 
(35 ) l e i d e Tóxicos R io 1 9 7 8 ed F o r e n s e , p. XI. 
136) M e n n a Bar re io . Estudo Geral d.i Nova l e i de Tó-
x i cos . R io , 19H2 . e d . F Bastos p 1 6 0 . 
(37) N i l o Bat is ta , Pti/iidos <• M a l I . igos, R i o , 1 9 9 0 , 
e d . R e v a n , p IH . M a n a Lú( ia K.ir.irn, A esque r -
da puni t i va , in D i s c u r s o s Sedn I O S O Í - C o m e . D i -
reito e . Soc iedade , R io , 1 9 9 6 n 2, p. 7 9 SS . 
(38) A C o r t e S u p r e m a r e c e n t e m e n t e d e s l i n d o u o 
imbróg l i o , n o j u l g a m e n t o do I I C n" 6 8 . 7 9 3 - 8 , 
1' T., rei M i n M o r e i r a A l v e s , D l 27 j u n . 9 7 , p. 
50 2H7 
(39) Prohibir o Domesticarf Políticas d e d r o g a s e n 
América latina, C a r a c a s , 1 9 9 2 , e d . N u e v . i 
S o c i e d a d , p. 1B . 
( 4 0 ) S a u l o y , M y l è n e , e L e B o n n i e c , Y ve s , À quiproíite 
la cocaine?. P a r i s , 1 9 9 2 , e d . C a l m a n n - L é v y , p. 
2 9 7 . 
( 4 1 ) R o s a d e i O l m o , Prohibir o Domesticar' c i t . , p. 
6 7 . 
( 4 2 ) S o b r e a a t i v i d a d e p o l i c i a l p r e s s i o n a n d o o p r e ç o 
d a s d r o g a s , cf . C h a r l e s - H e n r i d e C h o i s e u l P ras l in , 
i a Drogue, une économie dynamisée par la 
répression, P a r i s , 1 9 9 1 , e d . C N R S . p. 2 3 e 
p a s s i m . 
( 4 3 ) Crime Control as Industry, L o n d r e s , 1 9 9 3 , e d 
R o u t l e d g e , p. 1 3 - 1 4 . 
( 4 4 ) La Narco-política de los EíUU, in Región, 
M e d e l l i n , nov . 9 6 , n* 2 2 , p. 2 0 . 
( 4 5 ) O p . c i t . , p. 1 0 4 . 
( 4 6 ) M a q u i a v e l , A Arte da Guerra, t r ad . S. B a t h , 
B r a s í l i a , 1 9 8 0 , e d . U n B , p. 3 3 ; V e g é c i o , A Arte 
Militar, t r a d . G . C . C , d e S o u z a , S. P a u l o , 1 9 9 5 . 
e d . P r u m a p e , p. 1 2 0 . 
( 4 7 ) A Arte da Guerra, t r a d . ) . S a n z , R i o , 1 3 ' e d . , e d . 
R e c o r d , p. 1 7 . 
( 4 8 ) Da Guerra, c i t . , p. 1 2 7 . 
( 4 9 ) O p . c i t . , p. 8 8 . 
( 5 0 ) O p . c i t . , p. 7 3 . 
( 5 1 ) Z a f f a r o n i , o p . c i t . , p. 2 2 . 
( 5 2 ) S a i o d e C a r v a l h o , o p . c i t . , p. 1 2 8 . 
( 5 3 ) R o s a d e i O l m o , Prohibir o Domesticar? c i t . , p. 
6 8 . 
( 5 4 ) O p . c i t . , p. 7 6 . 
( 5 5 ) " E n t r e a s d i v e r s a s c a u s a s q u e d e s e n c a d e i a m as 
gue r ras , des t aca-se a n e c e s s i d a d e d e perpe tuar o 
sac r i f í c i o h u m a n o n a f o r m a d e h o l o c a u s t o d o s 
f i l hos , c o m s e u s p r i m i t i v o s s i g n i f i c a d o s sócio-
c u l t u r a i s i m p l í c i t o s . (...) A gue r r a m a n t é m a 
a m e a ç a d e mor te s o b r e a j u v e n t u d e , q u e d e v e se 
s u b m e t e r t o t a lmen te a o exé r c i t o e d e s l o c a r s e u s 
l a ços e m o c i o n a i s d o lar p a r a a c o m u n i d a d e " • 
A r n a l d o R a s c o v s k y , O Filicídio, R i o , 1 9 7 4 , e d . 
A r t e n o v a , p. 1 6 4 . D o m e s m o R a s c o v s k y , 
F i l i c í d i o e G u e r r a , i n G l e y P. C o s t a ( o r g ) , G u e r -
ra e M o r t e , R i o , 1 9 8 8 , e d . I m a g o , p 6 0 s s . 
( 5 6 ) S a b i n a L o r i g a , A Experiência Militar, in L e v i , 
G i o v a n n i e S chmi t t , J e a n - C l a u d e (orgs.) História 
dos lovens, t r ad . P. N e v e s , N . M o u l i n e M . L. 
M a c h a d o , S P a u l o , 1 9 9 6 , e d C i a . d a s Let ras , v. 
2 . p. 2 3 . 
( 5 7 ) M a q u i a v e l , o p . c i t . , p. 3 4 ; V e g é c i o , o p . c i t . , p 
1 2 2 . 
( 5 8 ) O p . c i t . , p. 7 4 . 
( 5 9 ) I b i d e m . 
( 6 0 ) J e a n - P i e r r e A l e m , £/ Espionage y el 
Contraespionage, t rad . D . H u e r t a , M é x i c o , 1 9 8 3 , 
e d . F o n d o d e C u l t u r a E c o n ó m i c a , p p . 17 e 1 0 3 . 
( 6 1 ) C h r i s t o p h e S w i n a r s k i , A Norma e a Guerra, P. 
A l e g r e , 1 9 9 1 , e d . F a b r i s , p. 3 0 
\O j 
Tolerânssia Zero 
"A Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou lei que pune os 
comerciantes que usarem em seus estabelecimentos letreiros, anúncios 
ou qualquer outro tipo de mensagem pública com erros de português. 
As multas vão de R$ 100 a R$ 300, e serão aplicadas tanto para erros 
ortográficos e de concordância como de acentuação. A nova lei 
entrará em vigor em 30 dias." 
O Globo, 13.dez.97, p. 5 
DIREITO 
Sobre o alcance 
da imunidade 
parlamentar material 
ALEXANDRE ARARIPE M A R I N H O E 
I 
MARIA HELENA CORTES PINHEIRO 
I - Introdução 
Sem qua lque r pretensão de esgotar o 
tema, o presente trabalho tem por f ina l ida -
de ser uma breve reflexão sobre alguns as-
pectos do inst ituto da imun idade par lamen-
tar material . 
Os autores tomaram como base e pon -
to de partida para sua elaboração a prática 
no enfrentamento de questões relativas à 
inv io labi l idade dos parlamentares, obtida no 
desempenho de suas funções na Assesso-
ria Especial de Investigações Penais da Pro-
curadoria-Geral de Justiça do Estado do 
Rio de laneiro, órgão c o m atribuições de 
assessoramento e consultor ia do Exmo. Sr. 
Procurador-Ceral de Justiça, no que diz res-
pei to às atribuições originárias da Chefia 
do Ministério Público, e m sede c r im ina l 
(ação penal originária), aí eng lobados o 
exame e elaboração de pareceres sobre um 
expressivo número de representações c r i -
minais por prática de crimes contra a hon -
ra, formuladas em face de parlamentares, 
por diversas pessoas, na quase total idade 
dos casos, detentores de cargo público, p r in -
c ipalmente no Poder Executivo. 
O número relat ivamente expressivo de 
representações cr iminais cie detentores de 
cargos públicos no Executivo e no Judiciá-
r i o cont ra pa r l amenta res ; destes con t r a 
aqueles ou , até mesmo, em casos raros, de 
parlamentares contra parlamentares, conduz 
a pensarmos inicialmente no quanto alguns 
ocupantes de função pública não compre -
endem que é um dos, por assim se dizer, 
"ossos do ofício", a exposição à crítica, às 
vezes ácida, sobre suas vidas públicas. 
Ao discorrer sobre a exceção da verda-
de no de l i to de difamação cap i tu lado na 
Lei de Imprensa, e m seus Comentários", 
Darcy Ar ruda M i r a n d a sal ienta o t ema , 
quando af irma : 'Eis por que todo cidadão 
que aceita um cargo público ou se investe 
numa função pública, transitória que seja,

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