Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Texto 16 – Primeiros Estudos Sobre as Propriedades Elétricas da Matéria – Fisquim II; prof. Ourides Os estudos sistemáticos sobre eletricidade remontam pelo menos até o século XVI, quando Sir William Gilbert, médico da rainha Elizabeth I, introduziu o termo elétrico, aplicando-o a corpos que, quando esfregados com peles, atraiam pequenos pedaços de papel e penas de aves. O termo elétrico vem do grego hlektrou (âmbar), palavra que designa uma resina vegetal que se carrega eletricamente ao ser friccionada com flanela ou lã. Em sua obra De Magnete (1600) Gilbert nega a possibilidade de a atração entre os corpos ocorrer por ação à distância e apresenta a seguinte explicação para o fenômeno, Um eflúvio é exalado pelo âmbar e libertado pelo atrito. Pérolas, cornalina, ágata, jaspe, calcedônia, coral, metais e similares são inativos quando esfregados, mas não haverá também algo emitido por eles pelo calor e pelo atrito? Existe na verdade, mas o que é emitido dos corpos densos é espesso e vaporoso (e desse modo não é suficientemente móvel para causar atrações). A exalação, então, [...] chega ao corpo a ser atritado e, tão logo ele é atingido, une-se ao elétrico atrativo. Como nenhuma ação pode ser realizada pela matéria senão pelo contato, esses corpos elétricos parecem não se tocar; todavia, necessariamente, algo é fornecido de um ao outro para entrarem em contato próximo, sendo, portanto, a causa que determina a ação recíproca. Investigação posterior revelou que materiais como o vidro, após serem esfregados com seda, exerciam forças opostas às do âmbar. Deste modo, distinguiram- se duas variedades de fluido elétrico: o vítreo e o resinoso. Foram projetadas, então, máquinas de atrito para produzir elevados potenciais eletrostáticos e usados para carregar capacitores na forma de garrafas de Leyden (ver figuras 1 e 2). Figura1: à esquerda, máquina de atrito; à direita, esquema de uma garrafa de Leyden. Figura 2: à esquerda, detalhes de construção e operação da garrafa de Leyden; à direita, exemplar de 1745. Benjamin Franklin simplificou a questão do que seria a eletricidade em 1745, ao propor a teoria de que ela seria constituída por um só fluido, segundo a qual os corpos atritados entre si adquirem excesso ou uma deficiência de fluido elétrico, dependendo de suas atrações relativas pelo mesmo. A diferença de carga resultante determinaria as forças observadas. Franklin estabeleceu a convenção de que o tipo vítreo de eletricidade é positivo (fluido em excesso) e o tipo resinoso é negativo (deficiência de fluido). Note que essa escolha foi arbitrária, uma atribuição oposta não mudaria em nada nossas teorias ou resultados. Em 1791, Luigi Galvani colocou acidentalmente o nervo exposto de uma perna de rã parcialmente dissecada em contato com uma máquina de descarga elétrica. A nítida convulsão da perna conduziu à descoberta da eletricidade galvânica. Logo a seguir se verificou ser dispensável a máquina elétrica e que a contração poderia ser produzida simplesmente pondo em contato, por meio de uma tira metálica, as extremidades do nervo e da perna. A ação era aumentada quando dois metais diferentes completavam o circuito. Galvani, um médico, denominou o novo fenômeno de “eletricidade animal” e acreditava ser característica apenas dos tecidos vivos. Alessandro Volta, físico e professor de filosofia natural em Pavia, descobriu que a eletricidade poderia ter uma origem inanimada. Empilhando metais diferentes em contato com papel umedecido, foi capaz de carregar um eletroscópio. Em 1800 ele construiu sua famosa pilha, consistindo em muitas placas consecutivas de prata, zinco e pano umedecido em solução de ácido sulfúrico. Dos terminais da pilha, Volta conseguia obter os choques e as descargas até então observados apenas nos dispositivos eletrostáticos. Figura 3: à esquerda, pilha de Volta; à direita, um eletroscópio sendo carregado por indução. A novidade da pilha de Volta gerou entusiasmo e assombro. Em maio de 1800, Nicholson e Carlisle decompuseram a água por meio de corrente elétrica, isolando o oxigênio em um dos polos da pilha e o hidrogênio no outro. A seguir, foram decompostas soluções de vários sais até que entre 1806 e 1807, Sir Humphry Davy usou uma pilha para isolar sódio e potássio de seus hidróxidos. A teoria de que os átomos são mantidos num composto pela atração entre cargas de sinais opostos ganhou, imediatamente, larga aceitação. Em 1813 Michael Faraday contava com 22 anos de idade e era aprendiz de encadernador. Ele entrou para a Royal Society de Londres como assistente de laboratório de Davy. Nos anos seguintes realizou uma serie de pesquisas que constituíram os fundamentos da eletroquímica e do eletromagnetismo. Faraday estudou intensamente a decomposição de soluções de sais, ácidos e bases por meio da corrente elétrica. Com assistência de William Whewell, inventou a elegante nomenclatura utilizada nesses estudos: eletrodo, eletrólise, eletrólito, íon, cátion e ânion. O eletrodo para o qual os cátions se movem foi chamado de catodo e o eletrodo para o qual os ânions se movem foi chamado de anodo. Faraday prosseguiu estudando quantitativamente a relação entre a massa de uma substância produzida pela corrente empregada (quantidade de eletrólise) e a quantidade de eletricidade empregada. Seus resultados se resumem da seguinte maneira, A potência química de uma corrente de eletricidade está na proporção direta da quantidade absoluta de eletricidade que passa [...]. As substâncias em que estes eletrólitos se dividem, sob a influência da corrente elétrica, formam uma classe geral extremamente importante. São corpos que entram em combinação, estão diretamente associados às partes fundamentais da doutrina da afinidade química e cada um deles mantém uma proporção definida em que sempre se originam numa ação eletrolítica. Propus chamar [...] os números representando as proporções em que as substâncias são produzidas de equivalentes eletroquímicos. Assim, hidrogênio, oxigênio, cloro, iodo, chumbo e estanho são íons; os três primeiros são ânions e os dois metais, cátions; 1, 8, 36, 125, 104 e 58 são, aproximadamente, seus equivalentes eletroquímicos. Os equivalentes eletroquímicos não só coincidem como são os mesmos que os equivalentes químicos. Penso que não me iludo em considerar a doutrina de uma ação eletroquímica definida como da mais alta importância. Através de seus fatos, esta doutrina atinge mais diretamente e mais de perto, do que qualquer fato ou conjunto de fatos anteriores, a magnífica ideia de que a afinidade química ordinária é uma mera consequência das atrações elétricas de diferentes espécies de matéria. (Faraday, M.; Phil. Trans. Roy. Soc. London, Ser. A, 124, 77; 1834). Hoje em dia, reconhecemos que os íons em solução podem apresentar mais do que uma carga elementar e que o equivalente eletroquímico é a massa molar da espécie química (M) dividida pelo módulo de sua carga |z|. A quantidade de eletricidade constante sempre associada a um equivalente de reação eletroquímica é chamada de 1 Faraday (1 F) e vale 96478 C (Coulomb). O fato de uma quantidade definida de carga elétrica, ou de um múltiplo inteiro pequeno da mesma, estar sempre associada a cada átomo carregado em solução sugere fortemente que a própria eletricidade apresenta natureza corpuscular. Por isso, em 1874, G. J. Stoney dirigiu-se à British Association como segue, A natureza nos apresenta uma única quantidade definida de eletricidade, a qual é independente dos corpos particulares sobre os quais atua. Para deixar isto claro, expressarei a lei de Faraday nos seguintes termos [...]: para cada ligação química que é rompida num eletrólito, uma certaquantidade de eletricidade atravessa o eletrólito, a qual sempre é a mesma em todos os casos. Em 1891 Stoney propôs que esta unidade natural de eletricidade deveria receber um nome especial, elétron. Portanto, um mol de elétrons (e) seria igual a 1 Faraday de carga elétrica, isto é, 1 F = N0e
Compartilhar