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1 PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO Graduação PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 73 U N ID A D E 8 PROCESSOS COGNITIVOS Nesta unidade, vamos estudar a inteligência como um dos elementos centrais para compreender a sobrevivência e superioridade da espécie humana no planeta. OBJETIVOS: • conceituar inteligência, compreendendo o processo histórico de construção desse conceito desde suas primeiras escalas de mensuração até a teoria das múltiplas inteligências do Psicólogo Howard Gardner. • analisar a função da memória como um elemento do processo de cognição. • apropriar-se dos conceitos estudados de modo que sejam aplicados em sua área de atuação. PLANO DE UNIDADE: • Conceito de inteligência. • História do conceito de inteligência. • Testes de QI. • Teoria Triárquica. • Teoria das Inteligências Múltiplas. • A memória. Bons estudos! UNIDADE 8 - PROCESSOS COGNITIVOS 74 É magnífica e ao mesmo tempo assustadora a capacidade humana! Desde que o primeiro hominídeo manipulou a natureza e transformou um galho seco de árvore em um instrumento de defesa, retirou a pele de um animal e cobriu seu corpo para proteger-se de temperaturas frias ou enterrou seus mortos, ele revelou sua capacidade intelectual. De lá para cá o homem vem manipulando a natureza de modo a ajustar- se e ajustá-la as suas necessidades. Portanto, a inteligência é elemento central para compreender a sobrevivência e superioridade da espécie humana no planeta. Considerando esse aspecto, podemos entender porque nossos ancestrais são chamados de homo sapiens, sem querer entrar no mérito filosófico e conceptual do que é mais relevante para a formação humana, se os aspectos intelectuais, emocionais ou motores/corporais. Mas, afinal, como podemos definir inteligência? Na realidade existem muitas definições de inteligência, mas a que parece mais bem aceita é a de que a inteligência é a capacidade de aprender e de mobilizar as habilidades cognitivas necessárias para uma adaptação bem sucedida às exigências do ambiente e da cultura de cada um. A história do conceito de inteligência é muito antiga. Desde o século V na China, os testes de inteligência já eram usados, mas na história mais recente ocidental, da qual sofremos grande influência, temos os registros dos estudos do médico francês Jean Gaspard Itard(1774-1830), que, em 1801, relatou sua experiência ao assumir a responsabilidade de educar um menino selvagem encontrado nos bosques de Aveyron denominado Victor, considerado ineducável pela avaliação de Philippe Pinel. Como destaca Jannuzzi (2004, p.32): Desta forma, por meio de procedimentos experimentais com base em discriminações perceptivas, de desenvolvimento dos órgãos sensoriais, procurou desenvolver a aprendizagem de Victor. Essa pesquisa inaugura os estudos sobre inteligência. O biólogo que revolucionou o entendimento da origem da humanidade, Charles Darwin(1871), traz importantes contribuições para o conceito de aptidão intelectual, que, a reboque do que vinha acontecendo no mundo científico, também lança luz sobre o conceito, desmistificando–o de seu caráter divino. Entretanto, a tendência da concepção inatista permaneceria influenciando muitas pesquisas sobre o tema a partir de então. Podemos citar também os estudos de Francis Galton(1869), cujo objetivo era melhorar as capacidades mentais da raça humana a partir da análise de dados quantitativos para explicar as influências da hereditariedade sobre as diferenças individuais. Também no campo da Psicologia são identificados avanços significativos para o entendimento do conceito de inteligência. Segundo Jannuzzi(2004, p.48 - 49): Os laboratórios de Psicologia experimental lá organizados [referindo-se à França] nos princípios do século XX, a difusão das PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 75 idéias de seus criadores, as pesquisas em Psicologia genética e diferencial […] principalmente através das obras de Alfred Binet (1857- 1911) elaborador dos testes de inteligência(1905), tendo como colaborador Theodore Simon(1871-1961) Binet e seu colaborador Simon desenvolveram a primeira graduação da inteligência denominada Escala Binet-Simon, e tinha como objetivo predizer quais crianças teriam sucesso ou fracasso escolar. Como destaca Pinell (apud Jannuzzi 2004, p.57): A medicina só conhecia os aspectos profundos de deficiência mental, que eram a idiotia e a imbecilidade, nas quais a inteligência não representava papel significativo no conjunto da complexa patologia. Eram perturbações somáticas e uma complexa sintomatologia que faziam a medicina classificá-los de idiotas. Binet vai romper essa taxionomia. Comparou deficiência ao estado moral e estabeleceu uma variação quantitativa, cujo parâmetro foi a escola. Com base no desempenho da criança em uma série de questões ou itens que deveria resolver, Binet acreditava que seria capaz de avaliar o desenvolvimento intelectual das crianças. Os resultados dos testes de inteligência são apresentados pelo que denominou de Quoeficiente Intelectual, conhecido por nós como QI. Para ambos os pesquisadores, as dificuldades apresentadas pelos estudantes era um “defeito que estava na criança”(Jannuzzi 2004, p.57), sendo assim, seu teste de inteligência era um sistema classificatório que encaminhava para as práticas segregacionistas, que rotulavam as pessoas submetidas aos testes. Nos Estados Unidos, esse mesmo trabalho foi desenvolvido por Lewis Terman(1911), psicólogo da Universidade de Stanford, que o adaptou para identificar as diferenças individuais no que tange a inteligência. Assim, formulou a Escala de inteligência Stanford-Binet, que, após várias versões, é utilizada até hoje. Lewis Terman começou um estudo sobre crianças intelectualmente superdotadas que foi continuado ao longo de décadas por outros psicólogos. A história de vida de alguns dos participantes dessa pesquisa é relatada por Shurkin(apud NEWCOMBE, 1999,p.281): A vida das crianças nem sempre seguiu seu potencial inicial. Tal fato é ilustrado na história de ‘Beatrice’, que se formou em Stanford aos 17 anos e parecia superdotada para a escultura. Contudo, ela nunca conseguiu um emprego adulto no qual pudesse ser produtiva. Neste trecho, ingressamos na história de vida de Beatrice depois dela ter terminado a faculdade. Uma transformação estranha ocorreu com Beatrice Enfim, os testes de QI sofreram severas críticas e hoje questiona-se a sua aplicabilidade, sobretudo, nos seguintes aspectos: UNIDADE 8 - PROCESSOS COGNITIVOS 76 · a tendência em classificar e rotular as crianças em retardadas, normais e superdotadas ou inteligentes e não-inteligentes. · a divergência nos testes de QI quanto ao aspecto cognitivo mensurado, o que poderia provocar resultados diferentes para a mesma pessoa. Dependendo do teste de QI a que era submetida, a mesma pessoa poderia ser considerada deficiente ou superdotada. · o uso de padrões socialmente valorizados pelos grupos dominantes na construção dos testes. Mais recentemente, Sternberg (1985) formula a Teoria Triárquica da inteligência em que propõe um modelo ampliado da inteligência, incorporando a esse conceito as habilidades cognitivas, as experiências de vida, assim como sua habilidade para adaptação. Sua teoria Triárquica tem três componentes principais: 1º - componentes cognitivos e conhecimento: esse componente compreende habil idades de resolução de problemas, planejamento, monitoração e avaliação do próprio desempenho e o acréscimo de conhecimento, relacionando as novas informações às que já possui. 2º - facilidade e rapidez com as quais os indivíduos lidam com as novas experiências. 3º -capacidade de se adaptar ao seu ambiente social e cultural. Envolvem não só a necessidade de mudanças pessoais para a adaptação, mas também as ações do indivíduo sobre o meio de modo que possa reorganizá-lo para que, a partir daí, possa melhor se adaptar. Atualmente vivemos uma forte tendência em compreender a inteligência como um aspecto múltiplo e não geral. Um dos mais expressivos representantes dessa corrente teórica e que tem maior visibilidade no mundo acadêmico é Howard Gardner da Universidade de Harvard. Ele formulou a Teoria das Inteligências Múltiplas. Gardner caracteriza a Inteligência: • como habilidade para resolver problemas; • como habilidade de projetar algo útil em um contexto cultural. Segundo Gardner(2000), a inteligência é um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura. Pontos fundamentais: · número de competências não é definitivo nem central, fundamental é o caráter múltiplo; · as Inteligências interagem; · a Inteligência não é única e não pode ser medida; · considera diferenças, não rotula, padroniza ou mede habilidades. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 77 Com base no site do jornal Appai Educar1, Gardner propõe as seguintes modalidades de inteligência: INTELIGÊNCIA LINGÜÍSTICA - Os componentes centrais da inteligência lingüística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com recisão, experiências vividas. Outros exemplos: escritores, poetas, redatores, roteiristas, oradores, líderes políticos e jornalistas. Principais características: • sensível às regras; • organizado; • sistemático; • habilidade para raciocinar; • gosta de ouvir; • gosta de ler e de escrever; • soletra com facilidade; • gosta de jogos de palavras. UNIDADE 8 - PROCESSOS COGNITIVOS 78 INTELIGÊNCIA MUSICAL - Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma. Exemplos: músicos, compositores, concertistas, fabricantes de instrumentos musicais e afinadores de piano. Principais características: · sensível à entonação; · tem ritmo, marcação de tempo; · sensível ao poder emocional da música. INTELIGÊNCIA LÓGICO-MATEMÁTICA - Os componentes centrais desta inteligência são descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e cientistas. Gardner, porém, explica que, embora o talento científico e o talento matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza. A criança com especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio. Exemplos: matemáticos, cientistas, engenheiros, investigadores, advogados e contadores. Principais características: · gosta de raciocínio abstrato; · gosta de ser preciso; PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 79 · aprecia cálculos; · organizado; · utiliza estruturas lógicas; · aprecia computadores; · aprecia resolução de problemas; · prefere anotações de forma ordenada. INTELIGÊNCIA ESPACIAL - Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. Mais exemplos: pintores, escultores, navegadores, jogadores de xadrez e estrategistas militares. Principais características: • pensa em figuras; • cria imagens mentais; • utiliza metáforas; • gosta de arte: desenho, pintura e escultura; • lê com facilidade mapas e gráficos; • lembra-se com figuras; • utiliza todos os sentidos para formar imagens; • tem bom senso de direção. UNIDADE 8 - PROCESSOS COGNITIVOS 80 INTELIGÊNCIA CINESTÉSICA - Esta inteligência se refere à habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se move com graça e harmonia a partir de estímulos musicais ou verbais; demonstra uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. Exemplos: bailarinos, atores, atletas, inventores, mímicos, cirurgiões, vendedores, pilotos de corrida, praticantes de artes marciais e trabalhadores com habilidades manuais. Principais características: • controle excepcional do próprio corpo; • controle de objetos; • bons reflexos; • aprende melhor se movimentando; • gosta de se envolver em esportes físicos; • habilidoso em artesanato; • gosta de representar, contador de piadas; • brinca com objetos enquanto escuta; • irrequieto e aborrecido em palestras longas. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 81 INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL - Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade pare entender e responder adequadamente a humores, temperamentos, motivações e desejos de outras pessoas. Ela é melhor apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas e, na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros. Exemplos:políticos, professores, líderes religiosos, conselheiros, vendedores, gerentes, relações públicas e pessoas com facilidade de relacionamento. Principais características: • relaciona-se e associa-se bem; • consegue “ler” as intenções de terceiros; • aprecia estar com pessoas; • tem muitos amigos; • comunica-se bem; • às vezes manipula as pessoas; • gosta de mediar disputas. INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL - Esta inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos própriossentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências próprias, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações lingüísticas, musicais ou UNIDADE 8 - PROCESSOS COGNITIVOS 82 cinestésicas. Exemplos: romancistas, conselheiros, sábios, filósofos, místicos e pessoas com um profundo senso do “eu”. Principais características: • autoconhecimento; • sensibilidade aos valores próprios de cada um; • tem um senso bastante desenvolvido do “eu”; • habilidade intuitiva; • automotivado; • consciente das próprias potencialidades e fraquezas; • muito reservado; • deseja ser diferente da tendência geral. INTELIGÊNCIA NATURALISTA - Esta inteligência foi recentemente adicionada à lista das sete inteligências múltiplas e consiste na habilidade de identificar e classificar padrões da natureza. É também conhecida como inteligência biológica ou ecológica. Exemplos: biólogos, botânicos, pescadores, agricultores, jardineiros, paisagistas, ecologistas e amantes da natureza. Principais características: · Tem capacidade para perceber a natureza de maneira integral. · Sente processos de acentuada empatia com animais e com as plantas; uma capacidade que pode estender-se a um sentimento ecológico, uma percepção de ecossistemas e habitats. INTELIGÊNCIA EXISTENCIALISTA - Esta nona inteligência, que ainda está em estudo, não foi aceita por inteiro, pois os cientistas ainda não provaram que ela requer áreas específicas do cérebro. Está relacionada à capacidade de consciência da própria existência. Exemplos: místicos, líderes religiosos, pessoas que meditam. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 83 É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Gostou? Sem dúvida é magnífica a capacidade humana! Mas não paramos por aqui. Na unidade IX, iremos compreender o que acontece quando as engrenagens chamadas de “processos psicológicos” não funcionam harmoniosamente. NOTA 1 Disponível em: http://www.appai.org.br/Jornal_Educar/jornal35/historia_educacao/ howard.asp Acesso em: 15/12/2006.
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