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1 PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO Graduação PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 97 U N ID A D E 10 PROCESSOS SOCIAIS Nesta unidade, iremos estudar o ramo da Psicologia cujo objeto de estudo é o ser humano nas suas interações sociais. OBJETIVOS: Compreender a importância do aspecto social para a formação humana. Analisar as inter-relações entre indivíduo e sociedade, considerando o processo de cisão imposto pela conjuntura sócio-histórica, entre os aspectos individuais e coletivos. Refletir sobre as relações entre capitalismo e alienação, considerando o trabalho como elemento central da mediação entre indivíduo e natureza. Apropriar-se do conceito de indústria cultural, refletindo sobre seus desdobramentos na vida cotidiana e na formação humana. PLANO DE UNIDADE: Viver é conviver Indivíduo X Sociedade O capitalismo e a alienação Identidade e diferença A cultura das massas, ideologia e indústria cultural. Bons estudos! UNIDADE 10 - PROCESSOS SOCIAIS 98 Segundo Aroldo Rodrigues(apud BOCK 2003, p.135) a Psicologia Social é o estudo das “manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação”. Nessa perspectiva a Psicologia Social investiga de que maneira os aspectos sociais interferem no comportamento humano. O início da Psicologia social é marcado por uma perspectiva tanto mais descritiva do comportamento humano em sociedade, do que propriamente pela busca da compreensão da natureza social do psiquismo humano. Naquela visão, a Psicologia social contribuiu apenas para a manipulação da sociedade. Atualmente vivemos um outro “modelo” de Psicologia social, que se preocupa em estudar a maneira como a realidade objetiva é apropriada pelo ser humano e se converte em mundo subjetivo, num processo dinâmico de interação: o homem muda o mundo que é transformado pelo homem. Com base nos estudos da Psicologia social numa perspectiva crítica é possível, inclusive, pensar que toda Psicologia é, de certa maneira, social na medida em que, na formação humana, o “outro” está sempre presente. Sob este aspecto, a formação, segundo Adorno (1996, p. 389), “[…] nada mais é do que a cultura tomada pelo lado de sua apropriação subjetiva”. Então, a realidade concreta é um elemento fundante da subjetividade humana. Então, é possível afirmar que: “Viver é conviver”. Concorda? Faça um exercício reflexivo e tente se imaginar fora do contexto social: sem os grupos sociais básicos, como a família, a escola, a igreja e tantas outras instituições sociais que criamos com o intuito de nos ajudarmos mutuamente na travessia da vida. Será que teria sobrevivido? Talvez não, considerando nossa total dependência nos primeiros anos de vida. Precisamos de vários anos até que estejamos autônomos nas nossas atitudes e aptos a cuidarmos de nós mesmos. Mas caso tivesse sobrevivido, possivelmente não teria se tornado um ser humano em sua plenitude. Vejamos a história das meninas-lobo, você já ouviu falar? As meninas-lobo, assim chamadas por terem sido encontradas vivendo entre lobos, em uma floresta na Índia, no ano de 1920, foram denomidadas de Amala, a que tinha aproximadamente 2 anos, e Kamala, a de 8 anos. Ao serem encontradas, as meninas não falavam, não sorriam, andavam de quatro e uivavam, só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Singh, o reverendo que as encontrou, tentou desenvolver um processo de socialização com as meninas, porém Amala, a mais jovem, morreu um ano após ter sido encontrada e Kamala, que viveu por mais 8 anos, só aprendeu a andar depois de seis anos, e pouco antes de morrer, tinha um vocabulário de apenas cinqüenta palavras. Chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 99 Considerando o aspecto natural, ou seja, sua constituição biológica, podemos afirmar que se tratavam de indivíduos da espécie humana, mas sabemos que não é somente natureza que nos constitui, são vários os aspectos que se combinam até que nos tornemos um ser humano. E o aspecto social é um deles. Com este caso, podemos perceber o quanto o aspecto social é definitivo para o nosso processo de humanização. Em sociedade, nós damos significado à nossa existência. Utilizamos representações mentais e símbolos, somos capazes de dar significado ao que nos circunda. Somos capazes de produzir as condições necessárias para a nossa sobrevivência. Segundo Piéron apud Leontiev (1978, p.238), “A criança no momento do nascimento, não passa de um candidato à humanidade”. Portanto, é no processo de socialização que construímos todos os nossos sistemas de crenças, valores, regras. É nesse processo que assumimos um papel social, que desenvolvemos um sentimento de pertencimento a um determinado grupo ou grupos, nos apropriamos dos conhecimentos produzidos ao longo da existência humana e que “herdamos” ao nascer. Criamos uma cultura. Mas o que é cultura? Bem, o termo cultura pode designar muitas coisas, por exemplo: dizemos que uma pessoa tem cultura porque tem muito conhecimento ou domina os princípios eruditos do saber. Mas, para nós, o importante é saber que cultura significa o conjunto de representações simbólicas. Por exemplo, um indiozinho ao nascer em sua tribo receberá, como herança cultural, um conjunto de valores, regras, costumes que constituirá e o acompanhará em toda sua vida e que farão dele um representante daquele povo. Entretanto, na atualidade vivemos uma dualidade perigosa e, muitas vezes, perversa. A sociedade está se impondo tão duramente às pessoas, que o indivíduo tem sido negado. O individual se perde no todo social. No entanto, seria igualmente perverso se tentássemos negar o social, pois, como já vimos, o homem é um animal social. Vivemos, portanto, uma oposição entre o indivíduo e a coletividade. O CAPITALISMO E A ALIENAÇÃO Segundo Jobim, (2005, p.34), “o marxismo compreende a relação do homem com a natureza, consigo mesmo e com os outros homens na perspectiva da realização da liberdade humana por meio do trabalho”. O trabalho aqui entendido como a atividade de transformação da natureza, a possibilidade do homem criar suas formas e condições de existência, de dar sentido e de constituir-se. UNIDADE 10 - PROCESSOS SOCIAIS 100 Considerando ainda a obra de Marx, quando a atividade essencial para a existência humana – o trabalho – se converte em meio para atingir um fim ele perde sua perspectiva libertadora. E é esse processo que nos converte em seres “alienados”, conceito central na teoria marxista. Um clássico do cinema que retrata essa alienação a qual estamos submetidos é o filme “Tempos Modernos” de Chaplin. Já assistiu? Vale a pena. Nesse filme, o protagonista fica, de tal ordem, alienado em decorrência de seu trabalho repetitivo, que sai da fábrica comportando-se como se ainda lá estivesse. Segundo Jobim(2005, p.37): A atividade produtiva na sociedade capitalista nega a mediação humana entre sujeito e objeto, homem e natureza; o indivíduo isolado e reificado é reabsorvido pela natureza. O trabalhador se relaciona com sua própria atividade como uma atividade externa a ele. A satisfação lhe é proporcionada por uma possibilidade abstrata: a possibilidade de vender sua atividade a alguém, dentro de certas condições. O homem se transforma em mercadoria. Tudo é coisificado – o homem e suas relações. Desde o ingresso do ideário burguês no cenário social, lá no período das grandes revoluções: Industrial, Francesa e outras, e a conseqüente submissão do trabalho ao capital, ou seja, todotrabalho, assume a função de garantir lucro aos proprietários dos meios de produção. O homem passa a ser apenas um “apêndice” da maquinaria, como destaca Jobim(2005, p.41), “nenhuma atividade humana, nenhum setor de produção escapa ao seu controle.” Entretanto, na atualidade, não somente os setores de produção estão sob o controle do capital, mas, para se sustentar, engendra e renova estratégias para subjugar a todos em diversos espaços sociais à sua lógica. Segundo Jobim(2005, p.41): “quando levamos em conta a vida urbana, as relações domésticas e conjugais, os meios de comunicação de massa, a indústria do lazer, percebemos quanto é difícil escapar ao controle de capital”. Portanto, na formação subjetiva, a lógica capitalista se esmera em formar um novo homem, capaz de produzir e consumir. Desde que nascemos, somos imersos nessa rede de padrões e valores, que trata-se de mais um componente da cultura que herdamos. IDENTIDADE E DIFERENÇA Desde sempre o homem tende a formar grupos sociais, como uma organização capaz de conferir-lhe uma certa proteção tanto física quanto psíquica. Nesta forma de organização, oriundas do processo de socialização, são estabelecidas as identidades e diferenças sociais. Os limites que definem as identidades e diferenças não são fenômenos da essência humana, mas sim construções culturais. Eles apresentam maleabilidade, dinamicidade, decorrentes de uma incessante disputa de PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 101 poder, política e social, mantidas ideologicamente como forma de garantir hegemonia, como destaca Silva (2001, p.83): Fixar uma determinada identidade como norma é uma das formas privilegiadas de hierarquização das identidades e das diferenças. A normalização é um dos processos mais sutis pelos quais o poder se manifesta no campo de identidade e da diferença. Normalizar significa eleger […] uma identidade especifica como parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. A INDÚSTRIA CULTURAL Termo utilizado originariamente por Horkheimer e Adorno, refere-se ao processo de fabricação, pelos meios de comunicação de massa, de uma sociedade orquestrada, em que as pessoas estão submetidas à lógica do mercado, guiadas pelo regime do lucro. Segundo os referidos autores (1985, p.114): Na realidade, é por causa desse círculo de manipulações e necessidades derivadas que a unidade do sistema torna-se cada vez mais impermeável. O que não se diz é que o ambiente em que a técnica adquire tanto poder sobre a sociedade encarna o próprio poder dos economicamente mais fortes sobre a mesma sociedade. Na atualidade, podemos falar da televisão, como um bom exemplo de elemento da indústria cultural. Basta atentarmos pelo seu poder em estabelecer modelos de comportamento, que vão desde o corte de cabelo até a opção sexual das pessoas. E, é claro, todos têm um apelo consumista. Os reflexos desse ideário na vida cotidiana, caracteriza-se pela conversão dos indivíduos a mercadorias, à resignação diante do sempre igual, à posição de comandado, que em nome da autoconservação, deve adaptar-se. UNIDADE 10 - PROCESSOS SOCIAIS 102 Quanto a isso Adorno (1996, p.391) destaca que “[…] a adaptação é, de modo imediato, o esquema da dominação progressiva. […] Essa acomodação persiste sobre as pulsões humanas como um processo social.” Assim, a apropriação dos parâmetros construídos socialmente é um processo que aponta para a necessidade de autoconservação do indivíduo, o que acaba por eliminá-lo na medida em que precisará “assemelhar-se” de tal maneira que negará a si, em prol do coletivo. Assim, cabe ao humano a adaptação às exigências da realidade. Para estar em sociedade, é preciso se adequar às regras e limites e isso “[…] pressupõe interdependência entre condições objetivas de vida e experiências subjetivas, o compartilhamento de convenções e valores de modos de pensar, de agir e de sentir mais ou menos formalizados […]”, como destaca Azevedo(s/d, p.43). O indivíduo renuncia aos seus desejos mais genuínos em prol de sua adaptação ao grupo em que pertence ou, do contrário, corre o risco de ser excluído. Segundo Adorno (1995, p.122) essa realidade exerce “[…] a pressão do geral dominante sobre tudo que é particular, os homens individualmente e as instituições singulares, têm uma tendência a destroçar o particular, o individual juntamente com seu potencial de resistência.” E o referido autor(1996, p. 390) ainda destaca que: […] nos casos em que a cultura foi entendida como conformar-se à vida real, ela destacou unilateralmente o momento da adaptação, e impediu que os homens se educassem uns aos outros. Isso se fez necessário para reforçar a unidade sempre precária da socialização e para colocar fim àquelas explosões desorganizadoras que se produzem […]. Quanto a isso, Freud (1997, p.24) nos ajuda a compreender a constituição da subjetividade humana e aponta para importância de analisarmos os reflexos do mundo externo no mundo interno e traz para esse cenário os conceitos do princípio do prazer e do princípio da realidade, vistos na unidade 3, lembra-se? E, mais, Adorno (1995, p.119-122), ainda aproximando-se dos estudos freudianos, afirma que a própria civilização origina e fortalece o que é anticivilizatório, ou seja, a pressão social para que todos se tornem os mesmos, converge para o que considerou possível chamar de “claustrofobia das pessoas no mundo administrado, um sentimento de encontrar-se enclausurado numa situação cada vez mais socializada, como em uma rede densamente interconectada”. E complementa: “Justamente esses momentos repressivos da cultura produzem e reproduzem a barbárie nas pessoas submetidas a essa cultura.” Mas não se trata de negar a sociedade, pois como já vimos isso seria o fim da própria humanidade. Trata-se de sairmos do estado de “ofuscamento”, termo utilizado por Adorno para designar o encobrimento ou turvamento da razão, que nos remete a situação de encantamento ou feitiço que nos impede de nos diferenciarmos, de nos descolarmos dessa massa amorfa e sermos senhores de nós mesmos. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 103 Agimos de tal modo que não percebemos o quanto estamos submetidos a esse sistema. LEITURA COMPLEMENTAR: Assistir ao filme: O enigma de Kaspar Hauser, do diretor Werner Herzog. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Chegamos ao final dos estudos de Psicologia utodesenvolvimento Estudamos, pesquisamos, discutimos sobre vários assuntos até então desconhecidos por vocês. Tenho certeza que foi muito prazeroso. Sua aprendizagem não pára por aqui. Você deve manter o hábito de ler. Atualize-se sempre e não se esqueça de praticar o que foi aprendido. Sucesso!
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