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Os ciclos e subciclos econômicos e as origens e características da economia cafeeira Nos primeiros trezentos anos, o Brasil esteve vinculado a Portugal, na condição de Colônia. A partir da vinda da família real portuguesa e da declaração de Independência, estabeleceram-se laços de dependência econômicos e financeiros com a Inglaterra. Nesse longo período da história brasileira, os interesses da classe senhorial (latifundiários) dominaram o cenário econômico-social do país; participavam desse poder, secundariamente, os grandes comerciantes, dedicados à exportação e importação ou ao tráfico de escravos, estabelecidos nas principais cidades-porto do litoral brasileiro. Tais interesses de poder eram articulados de forma dependente com os interesses econômicos dos centros hegemônicos mundiais e que controlavam a sociedade brasileira no plano interno, refletindo uma dominação de poucos sobre muitos. As atividades econômicas, desde o início da colonização, foram predominantemente dirigidas para a exportação. Essa orientação decorreu da situação colonial e dos interesses dominantes do mercantilismo. Não se criou propriamente um mercado interno. A imensa maioria da população (brancos pobres, mestiços, pretos, índios) vivia submissa, em condições precárias de subsistência, e marginalizada do processo econômico dominante. De outro lado, a classe de senhores latifundiários consumia produtos importados, pois possuía nível de renda e padrões de consumo mais elevados devido às suas atividades estarem ligadas às necessidades do mercado internacional. O colonialismo e o mercantilismo determinaram a orientação da economia para o comércio exterior, para a exportação da produção mais rentável em determinada conjuntura. A exportação constituía, na época, a base da renda da Colônia, sendo a Metrópole a principal beneficiária. Mesmo depois da Independência (1822) e do abandono ou superação do mercantilismo, no início do século XIX, a orientação da economia para o exterior se manteve, e a exportação continuou a ser a base da renda nacional. O ciclo econômico pode ser definido como o período em que determinado produto, beneficiando-se da conjuntura favorável do momento, se constituiu no centro dinâmico da economia, atraindo as forças econômicas e provocando mudanças em todos os outros principais setores da sociedade. Mudanças como a criação de novas atividades, e alterações no uso de equipamentos, na distribuição das rendas, na constituição das classes sociais ou frações de classe, com o declínio de umas e ascensão de outras etc. Geralmente, embora não necessariamente, o ciclo se caracterizava pela supremacia de determinado produto na exportação. Um ciclo propriamente dito supõe três fases sucessivas: o início da expansão, o auge, e a decadência acentuada tendente ao desaparecimento. No caso brasileiro, alguns dos principais produtos cíclicos tradicionais, com destaque para o açúcar e o café, embora experimentassem um declínio, continuam ainda hoje a ter uma relativa expressão, tanto na produção como na exportação da economia brasileira. No caso especificamente do café, este ciclo só passou a ter efetivamente alguma expressão econômica a partir da última década do século XVIII. Sua importância foi crescendo lentamente nas décadas seguintes, mas a fase de expansão acentuada só ocorreu após a Independência (1822). As lavouras de café estenderam-se primeiro no Rio de Janeiro e alcançaram mais tarde Minas Gerais e principalmente São Paulo. O ciclo propriamente dito teve mais de um século de duração (1825-1930). Todavia, mesmo depois de encerrada a fase de grande expansão, continuou por mais de quatro décadas a ser o principal produto de exportação do país e ainda hoje tem uma posição destacada. Na segunda metade do século XX, a expansão do café alcançou o Norte do estado do Paraná e depois chegou a Minas Gerais. Também ocorreu uma mudança na estrutura fundiária nesse processo: enquanto no passado predominava a grande propriedade, nesta nova fase a cultura cafeeira desenvolveu-se em áreas menores. Com o ciclo do café, deslocou-se o eixo da economia brasileira do Nordeste para o Centro-Sul. E também a hegemonia política. O processo de deslocamento do eixo econômico já havia começado com o ciclo do ouro e se consolidou por volta de 1870. Ao longo do período colonial, o açúcar foi o principal produto de exportação e os senhores de engenho tiveram um considerável poder econômico, social e político. Na época da Independência, o ouro já não tinha mais expressão econômica no país e o Nordeste era a região mais rica. Com a expansão da lavoura cafeeira, a hegemonia se transferiu para os barões do café. E o tripé básico da Região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) passou a moldar o Brasil independente de acordo com os seus interesses. Em torno dos interesses do café reordenou-se a vida econômica brasileira e o intercâmbio internacional. A atividade cafeeira gerou fortunas e forneceu a maior parte do capital inicial para a alavancagem do processo de industrialização.
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