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1 As Etapas de Implementação do Plano Real Ao longo de todo esse período tumultuado desde o início do governo de Itamar Franco até a entrada de Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda, a inflação chegou à casa de 2.708,6% a.a. em 1993, como podemos observar na tabela abaixo. Essa aceleração foi atribuída basicamente a: expansão dos gastos do governo, notadamente com pessoal e encargos; nova política salarial com aumento da indexação de salários; e redução das taxas reais de juros. Taxas de Inflação – Brasil (IGP-DI em % - dezembro a dezembro) Anos Inflação 1990 1.476,6 1991 480,2 1992 1.158,0 1993 2.708,6 1994 1.093,8 1995 14,8 1996 9,3 1997 7,5 1998 1,7 1999 20,0 Fonte: Fundação Getúlio Vargas. Apud: Lanzana A aceleração da inflação levou o governo Itamar Franco, entre o final de 1993 e meados de 1994, a implementar o Plano Real. Esse, por sua vez, representou um avanço em relação aos planos anteriores, reconhecendo que as principais causas da inflação brasileira estavam no desequilíbrio do setor público e principalmente nos mecanismos de indexação. 2 Primeira etapa Por meio do PAI (Programa de Ação Imediata), procurou-se equilibrar o orçamento público através: da criação do IPMF (Imposto sobre Movimentação Financeira, posteriormente denominado CPMF – Contribuição sobre Movimentação Financeira) que incidia sobre as transações bancárias; do Fundo Social de Emergência (FSE), que desvinculou (e classificou) as receitas e os gastos federais das receitas e dos gastos dos Estados, dos Municípios e das Estatais.( )1 Segunda etapa Procurou-se, de forma bem-sucedida, a quase total desindexação da economia com a mudança da moeda: passagem do cruzeiro real para a URV (Unidade Real de Valor) que durou quatro meses, de 01/03/94 a 30/06/94, e dessa para a nova unidade monetária, o Real. A URV variava diariamente e tinha como objetivo fazer com que todos os preços flutuassem em torno dela, promovendo, assim, o ajuste dos preços relativos 1 Em 1998, a política de controle de gastos foi complementada por meio da Lei de Responsabilidade Fiscal, ou seja: Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) A LRF foi um importante instrumento de política fiscal implementado a partir de 1998, cujo objetivo era o de proporcionar o equilíbrio orçamentário do setor público. Ela estabeleceu o seguinte: > Limite para as despesas com funcionalismo público: a) de 50%, para a União; b) de 60%, para Estados e Municípios; > Proibição de socorros financeiros entre União, Estados e Municípios; > Limite de despesas feitas pelos administradores em final de mandato; > Limite de endividamento para União, Estados e Municípios, por meio do Senado. Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, ganhou-se maior eficiência na ação governamental, obrigando Estados e Municípios a explorar mais as receitas próprias, contribuindo decisivamente para o ajuste fiscal. OBS: É importante salientar também que o governo FHC gerou uma política de privatizações. Dentre as privatizações temos a privatização da Cia. Vale do Rio Doce, as ferrovias, as companhias telefônicas, entre outras empresas estatais para que, com as privatizações, o governo pudesse diminuir os seus gastos. 3 da economia. No final dos quatro meses, todos os preços estavam fixados por URV; seus valores, expressos em cruzeiros reais, foram transformados em reais. Assim, estando sincronizados todos os preços relativos em torno de um valor de referência, que foi a URV, não houve pressão inflacionária ao introduzir-se o real como moeda em 01/07/94, quando o governo proibiu o uso de indexadores nos contratos. A terceira etapa Consistiu na consolidação do Plano, utilizando instrumentos econômicos como a âncora cambial e a âncora monetária: Âncora Cambial Î consistiu na valorização da moeda nacional, ao lado de um regime de bandas cambiais (câmbio fixo) ( )2 , que procurou baratear o custo dos produtos importados. Âncora Monetária Î consistiu-se na elevação da taxa de juros e das reservas compulsórias dos bancos comerciais, com o objetivo de controlar a demanda agregada que tinha aumentado substancialmente no período de 1994 a 1995 (primeiro ano do governo FHC), devido à melhoria do poder aquisitivo da população em geral com a queda da inflação. 2 OBS: Câmbio Fixo Câmbio Flutuante (Flexível) Características Banco Central fixa a taxa de câmbio Banco Central é obrigado a disponibilizar as reservas cambiais O mercado (oferta e demanda de divisas) determina a taxa de câmbio O BC não é obrigado a disponibilizar as reservas cambiais Vantagens Maior controle da inflação (custos das importações estáveis) Política monetária mais independente do câmbio Reservas cambiais mais protegidas de ataques especulativos Desvantagens Reservas cambiais vulneráveis a ataques especulativos A política monetária (taxa de juros) fica dependente do volume de reservas cambiais A taxa de câmbio fica muito dependente da volatilidade do mercado financeiro nacional e internacional Maior dificuldade de controle das pressões inflacionárias, devido às desvalorizações cambiais Fonte: Vasconcellos e Garcia. 4 Esse modelo de âncoras permaneceu até janeiro de 1999 no governo de Fernando Henrique, quando, em decorrência da redução do fluxo financeiro de capitais para os países emergentes, iniciada com a crise do Sudeste Asiático em 1997 e a moratória da Rússia em 1998, o Brasil foi forçado a recorrer ao FMI e a abandonar as âncoras anteriores, adotando desde então o câmbio flexível (ou flutuante) e o regime de metas inflacionárias. As metas inflacionárias passaram a ser a nova âncora monetária. As autoridades monetárias (Conselho Monetário Nacional, Ministério da Fazenda e Banco Central) se comprometeram a cumprir metas de inflação estabelecidas para o ano corrente e próximo, com tolerância de um desvio de 2% para cima ou para baixo (no governo Lula, tal desvio é de 2,5%). Para o cumprimento dessas metas, foi criado, em junho de 1999, o Comitê de Política Monetária (COPOM), composto pelo presidente, diretores e chefes de departamento do Banco Central, que se reúne mensalmente e fixa a taxa de juros de compra e venda de títulos públicos (taxa Selic), uma taxa consistente com a meta fixada de inflação. O COPOM também anuncia, nessas reuniões, um viés, ou seja, a tendência de inflação até a próxima reunião. Pode ser anunciado um viés de alta ou viés de baixa ou viés neutro (sem viés). Por exemplo, se o COPOM estabelecer um viés de baixa, isso significa que o presidente do Banco Central poderá reduzir a taxa SELIC antes mesmo da próxima reunião do Comitê. Enfim, pode-se observar que, comparativamente aos Planos Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I e II (respectivamente em 1990 e 1991), o Plano Real efetivamente foi um sucesso em acabar com a inflação, dadas as medidas implantadas ao logo das etapas de formação desse plano.
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