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Notas de Aula - Fundamentos de Economia para Decisões e Gerenciais - José Maria Machado Gomes

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 Gestão de Negócios
 
 
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��Notas de Aula 1
Prof. -RVp�0DULD�0DFKDGR�*RPHV
 
Ementa
 
 
T 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. PROGRAMA DA DISCIPLINA 02 
1.1 Ementa do curso.......................................................................................................... 02 
1.2 Carga horária da disciplina.......................................................................................... 02 
1.3 Objetivos gerais........................................................................................................... 02 
1.4 Conteúdo programático........................................................................................... 02 
1.5 Metodologia............................................................................................................ 03 
1.6 Critérios de avaliação.............................................................................................. 03 
1.7 Bibliografia adotada e recomendada....................................................................... 03 
1.8 Sites de interesse..................................................................................................... 03 
 
 
2. INTRODUÇÃO E MICROECONOMIA 05 
 2.1 Economia e Microeconomia................................................................................... 05 
 2.1.1 O caso dos mercados competitivos............................................................... 05 
 2.1.2 Elasticidade e a curva de demanda.............................................................. 15 
 2.1.3 Estrutura de Mercado.................................................................................... 17 
 
3. MACROECONOMIA 23 
 3.1 O mercado de bens e serviços: crescimento e inflação.......................................... 26 
 3.1.1 PIB: Conceitos e fatores de crescimento da Oferta Agregada...................... 27 
 3.1.2 O conceito de valor agregado 29 
 3.1.3 PIB e PNB 36 
 3.1.4 A Demanda Agregada em uma economia completa..................................... 39 
 3.1.5 O PIB e o ciclo de negócios.......................................................................... 43 
 3.2 Política Fiscal ................................................................................................. 47 
 3.2.1 Dívida e déficits públicos.............................................................................. 47 
 3.3 O macromercado monetário: A atuação do Banco Central e as metas de inflação 51 
 3.3.1 O processo inflacionário.............................................................................. 51 
 3.3.2 A oferta de moeda e a determinação da taxa de juros de mercado.............. 53 
 3.4 O macromercado de câmbio................................................................................... 61 
 3.4.1 Regimes cambiais........................................................................................... 61 
 3.4.2 As contas do Balanço de Pagamentos............................................................ 65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 1 
1 Programa da disciplina 
 
1.1 Ementa do curso 
 Microeconomia: fundamentos 
 Macroeconomia de Uma Economia Aberta. 
 PIB, Crescimento, tendência e ciclos econômicos. 
 Moeda e política monetária. 
 Política fiscal e dívida pública. 
 Taxas de câmbio, regimes cambiais e Balanço de Pagamentos. 
 Conjuntura econômica e cenários para a economia brasileira 
 
1.2 Carga horária da disciplina 
Para esta disciplina tem-se destinada uma carga horária mínima de 30 horas/aula, para 
que haja um bom desenvolvimento das idéias, conceitos e teorias econômicas que podem ser 
aplicadas ao bom gerenciamento das organizações em todas as suas esferas. 
 
1.3 Objetivos gerais 
Compreender os conceitos e processos econômicos mais relevantes e suas aplicações 
dentro das organizações. Identificar os aspectos microeconômicos e ao mesmo tempo 
conciliá-los com movimentos macroeconômicos que sejam de interesse para as empresas e 
interfiram em seu processo de gestão. 
 
1.4 Conteúdo programático 
Microeconomia 
 Oferta e demanda; 
 O conceito de elasticidade; 
 Estruturas de Mercados; 
 Teoria dos jogos no Oligopólio. 
Macroeconomia: o fluxo 
circular de renda e o 
mercado de bens e serviços. 
 Determinação da renda como fluxo de valor; 
 Os conceitos de PIB e PNB; 
 Poupança, investimento e crescimento econômico e Inflação; 
 O balanço de pagamentos; 
O mercado monetário-
financeiro 
 Políticas Macroeconômicas; 
 O papel do Banco Central: políticas de mercado; 
 Políticas de estabilização e as metas de inflação. 
O mercado cambial e fluxo 
de divisas 
 Taxas de câmbio e regimes cambiais. 
 
 
2
 2 
 
1.5 Metodologia 
Aulas expositivas dialogadas com o foco em fornecer um conjunto de elementos que 
visam a discussão continuada de temas que envolvam a realidade econômica das empresas, do 
Brasil e demais componentes do mercado internacional. As atividades e discussões serão 
realizadas em grupos, com o intuito de analisar os fatos do passado, da atual e da futura 
conjuntura econômica que, de certa forma, contribuirá positivamente na formulação das 
estratégias por parte dos alunos. 
 
1.6 Critérios de avaliação 
Prova discursiva, sem consulta, envolvendo temas apresentados e amplamente 
debatidos durante todo o curso; com peso 7. Aplicação de uma atividade em grupo, com 
consulta, tendo peso 3. 
 
1.7 Bibliografia adotada e recomendada 
 
1. PARKIN, M. Economia. São Paulo : Pearson, 2010 
2. MANKIW, N. Gregory, Introdução À Economia: Princípios de Micro e Macro 
Economia. Rio De Janeiro, Pioneira Thomson, 2009. 
3. VASCONCELLOS, M. A. S. de. Economia: Micro e Macro. São Paulo: Ed. Atlas, 
2008. 
4. Textos sobre economia atual do jornal Valor Econômico 
 
1.8 Sites de interesse: 
• Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br 
• Banco Mundial: www.worldbank.org 
• BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social: www.bndes.gov.br 
• Google Acadêmico: www.scholar.google.com 
• IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: www.ibge.gov.br 
• IPEA- Instituto Pesquisas Econômicas Aplicadas: www.ipeadata.gov.br 
• Ministério das Relações Exteriores: www.mre.gov.br 
• Ministério do Desenvolvimento: www.desenvolvimento.gov.br 
• SEADE- Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados: www.seade.gov.br 
 
3
 3 
1.9 – Currículo Mínimo 
Graduado em Economia, pela UFJF/MG. Doutorado em Direito Econômico e Pós Doutorado 
em Administração pela EBAPE/FGV-RJ. Business Law pela Fordham University - Nova 
York. Consultor Econômico do Escritório Vieira & Pessanha Advogados Associados. 
Professor do Ibmec nos cursos de Graduação – Economia, Direito, Administração e Relações 
Internacionais; e Pós-Graduação do Ibmec/RJ e FGV Management. Foi Coordenador 
Acadêmico da Educação Executiva – Cursos LLM - Legal Law Master e Coordenador 
Acadêmico da Educação Corporativa no Ibmec. Tem experiência na área empresarial, atuando 
principalmente com os seguintes temas: Economia Empresarial, Corporate Law, Defesa da 
Concorrência e Regulação. 
 
 
 
 
 
2. Introdução e Microeconomia 
 
A Economia pode ser definida como a ciência social que estuda como o indivíduo e a 
sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de bens e serviços, de 
modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade,com a finalidade de 
satisfazer às necessidades humanas. (VASCONCELLOS, 2002) 
 
2.1 Economia e Microeconomia 
Pontos-chave: Custo de oportunidade; Assimetria da informação, Demanda e Oferta, 
Equilíbrio de mercado; Elasticidade; Funcionamento dos Mercados, Teoria dos Jogos e 
Formulação de Cartel. 
 
2.1.1 O caso dos mercados competitivos 
Numa definição bastante geral, o objeto da Economia são as relações materiais entre 
os indivíduos, com especial atenção para aquelas que se realizam através do mercado, ou seja, 
4
 4 
através de relações de caráter mercantil. Um elemento básico com o qual trabalha a Ciência 
Econômica é o fato de que, na sociedade moderna, os desejos ou necessidades materiais dos 
indivíduos são, em geral, mais amplos do que a disponibilidade de recursos existentes. Em 
outros termos, podemos imaginar que não existe um limite, a priori, para os desejos ou 
necessidades materiais, ao mesmo tempo em que existem claras limitações à produção dos 
bens e serviços necessários ao atendimento destes desejos ou necessidades. 
Este confronto entre desejos ilimitados e recursos limitados resulta no que se 
convencionou chamar “escassez”. Este conceito, de caráter explicitamente relativo, implica 
que a sociedade precisa encontrar meios de alocar recursos para a produção de bens e serviços 
e desenvolver formas de distribuir estes sabendo que apenas uma parcela dos desejos 
materiais dos indivíduos será satisfeita. Assim passamos a ter a idéia que apenas uma parcela 
dos indivíduos poderá satisfazer seus desejos ou necessidades. Quando o critério de definição 
de quais desejos ou necessidades será atendido e quais não o serão passa por relações 
mercantis, de forma que o problema da escassez se transforma em uma “solução” estritamente 
de caráter econômico. 
Compreendida desta forma, a escassez é o elemento central que justifica a existência 
dos mercados. E os mercados são a melhor forma de “resolver” este problema econômico — 
ou pelo menos é o que afirmam os economistas. 
Por mercado deve-se compreender tão somente um conceito abstrato que está referido, 
em última análise, a relações mercantis específicas entre agentes econômicos. Assim, quando 
falamos em mercado de automóveis, por exemplo, estamos nos referindo ao conjunto de 
relações mercantis que têm por objeto carros, motos, caminhões, etc. Se quisermos ser mais 
precisos, podemos falar no mercado brasileiro de automóveis, restringindo geograficamente a 
idéia de mercado. 
A relação entre a idéia de escassez e o conceito de mercado pode ser construída de 
diversas formas. Uma delas é através da dicotomia tradicional entre oferta e demanda. Em um 
mercado competitivo, temos sempre muitos ofertantes e demandantes, isto é, pessoas que 
querem se desfazer de determinado bem e pessoas que desejam adquiri-lo. O grande número 
de demandantes e ofertantes é o caso típico de mercados que transacionam bens relativamente 
padronizados e em grandes quantidades. Ainda que não seja o caso mais comum na história, o 
mercado competitivo é sempre a referência de análise e estudo do economista tradicional. 
A idéia de recursos escassos nos impõe o fato de que toda oferta é limitada, e se 
contrapõe a uma demanda (potencialmente) ilimitada. No caso dos automóveis, existe um 
claro limite para a sua produção; entre outros motivos, os recursos que são utilizados na 
5
 5 
produção de carros podem ter diversos outros usos e, certamente, a sociedade não estaria 
interessada em despender todos os seus meios produtivos (energia, trabalho, matérias-primas) 
exclusivamente na produção de automóveis. Em outras palavras, existe um “custo de 
oportunidade” na produção de automóveis, mensurável pelo valor de todos os outros bens e 
serviços que deixam de ser produzidos para que se possa fabricá-los. Por outro lado, o número 
de pessoas que gostaria de ter um, dois ou diversos carros também é elevado. 
Suponha que atualmente existe uma oferta limitada de automóveis em um determinado 
país. Agora complemente com a idéia que os vendedores percebam que existem mais 
compradores do que unidades para serem vendidas. Como resolver quem poderá levar as 
unidades disponíveis e quem ficará insatisfeito? 
Dentre todas as alternativas possíveis, a que possui maior relevância econômica é a 
elevação dos preços de venda. Tal elevação irá reduzir gradualmente o número de 
compradores, até que este iguale o número de unidades disponíveis para a venda. Quando isto 
ocorrer, o mercado de automóveis estará em equilíbrio, ou seja, estará em vigor um preço 
suficientemente alto e fará com que todos aqueles que continuem dispostos a (ou ainda 
podem) comprar seu automóvel consigam adquiri-lo, sem que haja nenhum consumidor em 
potencial não atendido. 
Mas, e se o número de compradores fosse menor que o de unidades disponíveis para a 
venda? Os vendedores estariam acumulando estoques indesejados e não estariam satisfeitos. 
A forma de resolver este problema seria reduzir os preços, até que o número de compradores 
se elevasse. O preço de equilíbrio seria aquele que deixasse relativamente satisfeitos tanto 
compradores quanto vendedores, ou seja, àquele preço, todos os que queriam comprar 
puderam fazê-lo, assim como todos os que queriam vender. 
Com esta descrição ilustrativa, o mercado aparece como uma forma de decidir quem 
terá acesso de fato aos bens e serviços produzidos na economia, dada sua escassez. 
Por trás desta visão, com um apelo intuitivo claro, estão dois princípios que 
fundamentam o funcionamento dos mercados, e que podem ser expressos de forma bastante 
simples: 
 
 
 
 
 
 
Princípio da demanda: Apresenta relação inversa entre o preço e a quantidade que os 
demandantes desejam e podem comprar de um determinado bem ou serviço. 
Princípio da oferta: Apresenta relação direta entre o preço e a quantidade que os ofertantes 
desejam e podem produzir e vender de determinado bem ou serviço. 
6
 6 
Ambos os princípios estão na base do funcionamento dos mais diferentes tipos de 
mercados. Se estivermos pensando em mercados muito específicos, como o de automóveis 
ou, de uma forma ainda mais precisa, de automóveis populares em São Paulo em 2004, 
podemos dizer que estamos tratando de um micromercado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Suponha que a curva D1 (representada na Figura 1, abaixo) representa a demanda por 
determinado bem como automóveis populares. Através de sua representação gráfica, podemos 
notar que, ao preço de $ 30.000 a unidade, o total de vendas é de 2 milhões de unidades. A 
este preço, apenas uma pequena parcela dos consumidores estaria disposta a abrir mão do 
consumo de outros bens e serviços para adquirir um automóvel deste tipo. Caso o preço fosse 
reduzido para $ 20.000 a unidade, a demanda seria ampliada para 4 milhões de unidades. A 
este preço, um número maior de pessoas poderia adquirir este bem; outras pessoas 
acreditariam que o sacrifício (custo de oportunidade), mensurado pelos demais bens que 
Custo de Oportunidade: O conceito de custo de oportunidade envolve uma avaliação das 
escolhas que fazemos em tudo em nossas vidas, especialmente na esfera econômica. 
Ninguém gosta de se arrepender de suas decisões. E isso é válido também em Economia. Uma 
pessoa pode decidir aplicar seu dinheiro em renda fixa por receio do risco do mercado de ações. 
Mas, se a bolsa subir muito, essa pessoa vai avaliar a diferença entre o que ganhou em renda fixa 
e o que poderia ter ganho caso tivesse aplicado em ações. Essa diferença mede o “tamanho” do 
arrependimento dessa pessoa ou o custo da oportunidade perdida. Mas existem outros exemplos 
de avaliaçãodo custo de oportunidade que nada tem a ver com ganho financeiro. Comprar um 
apartamento e descobrir, dias depois, um novo lançamento com mais itens de conforto ou 
localização gera arrependimento. De novo, esse arrependimento é a diferença entre a satisfação 
que temos pelo imóvel comprado e a satisfação que poderíamos ter se tivéssemos esperado mais 
uns dias. 
Assimetria da Informação: Em Economia, assimetria da informação ou informação 
assimétrica é interpretada como um fenômeno que ocorre quando dois ou mais agentes 
econômicos estabelecem entre si uma transação econômica com uma das partes envolvidas 
detendo informações qualitativa ou quantitativamente superiores aos da outra parte. Essa 
assimetria gera o que se define na microeconomia como falhas de mercado. 
Esse fenômeno ocorre freqüentemente quando não se possui toda informação suficiente em uma 
negociação, ou mesmo os segredos comerciais tão resguardados por inúmeras empresas, uma vez 
que fará toda a diferença no processo comercial, afetando diretamente a atratividade dos bens ou 
serviços, ou mesmo no auxílio da formulação estratégica empresarial. 
7
 7 
deixariam de ser comprados, passaria a valer a pena ao preço unitário de $ 20.000. 
Finalmente, caso o preço fosse de $ 10.000 a unidade, a demanda seria de 6 milhões de 
unidades, isto é, um número maior de consumidores estaria disposto a abrir mão do consumo 
de outros bens e serviços para adquirir um automóvel popular. 
Note que, para “desenharmos” uma curva de demanda como D1, estamos fazendo a 
hipótese de que tudo mais permanecerá constante naquela economia (coeteris paribus, em 
latim). Isto significa que a relação entre preço e quantidade demandada, expressa em D1, 
supõe que permaneceram inalterados elementos como as preferências dos consumidores, o 
preço de todos os outros bens, a renda dos consumidores, e tudo mais. Em outras palavras, 
estamos analisando, por enquanto, apenas a relação estrita entre preço e quantidade, tanto do 
ponto de vista da demanda quanto da oferta. 
 
Figura 1 - Princípio da Demanda 
 
 
 
Agora, observe a curva D2. Para cada preço constante no eixo vertical está associada 
uma quantidade demandada maior em D2 relativamente a D1. Se, por exemplo, o preço 
unitário dos automóveis populares fosse de $ 10.000, a quantidade demanda seria de 10 
milhões de unidades. 
A curva D2 representa uma situação onde alguma das condições antes incluídas em 
nossa hipótese coeteris paribus foi alterada (em geral, apenas uma das condições é alterada de 
cada vez nas análises econômicas, todas as demais permanecendo, constantes). Por exemplo, 
imagine que houve um aumento da renda dos consumidores de automóveis populares. Tudo 
mais constante haverá um deslocamento da curva de demanda de D1 para D2, conforme 
10.000 
20.000 
30.000 
Preço 
unitário em 
R$ 
D1 
D2 
2 4 10 6 Unidades em milhões 
8
 8 
indicado pelas setas na Figura 1. Agora, com os consumidores possuindo mais renda, a cada 
preço unitário, a demanda por automóveis será mais elevada do que na situação anterior, 
expressa em D1. 
Agora, observe a Figura 2. Nela está representada uma expressão gráfica para o 
princípio da oferta. Quanto mais alto o preço, maior o volume ofertado. Vamos nos fixar 
novamente no caso dos automóveis populares. Observe a curva de oferta O1. Caso o preço de 
oferta seja de $ 10.000, apenas um pequeno número de carros será ofertado, ou seja, os 
fabricantes estariam dispostos a ofertar apenas 2 milhões de unidades. A este preço 
relativamente baixo, os fabricantes estarão mais interessados em modelos com preços mais 
elevados, e mesmo os comerciantes estarão desinteressados em oferecer automóveis deste 
tipo. Se o preço for de $ 30.000 a unidade, o número de automóveis ofertados também 
aumenta, passando para 6 milhões de unidades. Note que, quando o preço é de $ 20.000, a 
quantidade ofertada é de 4 milhões de unidades. 
Novamente, a curva O1 é construída com a tradicional hipótese de coeteris paribus. 
Em termos da oferta, isto significa que elementos como a tecnologia, o número de fabricantes, 
o preço dos insumos etc, são fixos e não se alteram. Mas, o que ocorreria caso houvesse uma 
alteração do número de fabricantes? Suponha que algumas novas empresas ingressam no 
mercado. Caso isso ocorra, é razoável supor que, a cada preço, haverá uma oferta maior de 
automóveis. Isto é ilustrado na Figura 2 através do deslocamento da curva de oferta de O1 
para O2. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9
 9 
 
Figura 2 - Princípio da Oferta 
 
 
 
Com mais fabricantes no mercado a disputa (ou concorrência) será ampliada e, ao 
preço de $ 10.000, por exemplo, o volume de automóveis ofertado será de 4 milhões de 
unidades, e não mais apenas 2 milhões. O mesmo ocorreria se, por exemplo, o preço dos 
insumos fosse reduzido. Caso isso acontecesse, 4 milhões de automóveis populares poderiam 
ser fabricados a um preço menor do que $ 20.000 a unidade (como estava expresso na curva 
O1); em nosso exemplo, caso esta redução de preços de insumos pudesse ser descrita pela 
curva O2, o preço unitário para uma produção de 4 milhões de unidades passaria para $ 
10.000, exatamente como no caso do ingresso de mais um concorrente. 
Situações opostas, isto é, a saída de um fabricante e/ou o encarecimento dos insumos, 
levariam a uma contração da oferta. Isto significa que, para uma produção de 2 milhões de 
unidades, o preço unitário deveria ser de $ 20.000, tal como expresso na curva O3. 
Compreendidas as formas de representação gráfica dos princípios da oferta e da 
demanda, podemos completar nosso mercado, indicando como as curvas de oferta e demanda 
interage simultaneamente. Observe a Figura 3. Ela nada mais é do que a reunião, em um só 
gráfico, das curvas D1 e O1. Da forma como foram construídas, estas curvas de oferta e 
demanda se interceptam no ponto E, no qual os preços de oferta e de demanda são idênticos 
($ 20.000) e a quantidade transacionada é de 4 milhões de unidades. O ponto E (break-even 
point) caracteriza o equilíbrio de mercado. 
 
Preço unitário 
em R$ 
30.000 
20.000 
10.000 
2 4 6 Unidades em milhões 
O3 
O1 
O2 
10
 10 
 
Figura 3 - Ponto de Equilíbrio Econômico, ou equilíbrio de Mercado 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na Figura 3, acima, ao preço de $ 20.000 a unidade, os consumidores estão dispostos a 
adquirir 4 milhões de unidades do bem transacionado, quantidade que é idêntica àquela que os 
produtores estão dispostos a ofertar àquele preço. Com isso, tanto consumidores quanto 
produtores estão (relativamente) satisfeitos. Os consumidores gostariam de adquirir um 
número maior de automóveis, mas apenas se o preço fosse mais baixo. Isto porque, a um 
preço menor, o custo de oportunidade (o sacrifício de outros bens que deixariam de ser 
comprados), também seria reduzido, estimulando a compra do bem em questão - automóveis 
populares. Por outro lado, os produtores somente estariam dispostos a ampliar a produção 
caso o preço fosse mais elevado; apenas nestas condições, o negócio de produção e venda de 
carros populares seria suficientemente atraente para fazê-los mobilizar recursos para sua 
produção, abandonando outras alternativas de negócios. 
Agora, suponha que houvesse um tabelamento de preços, e os automóveis populares 
passassem a ter um preço máximo de $ 10.000 a unidade. A este preço, os consumidores 
desejam adquirir um total de 6 milhões de unidades. Por seu turno, dada a baixa atratividade 
do negócio, os produtores estão dispostos a ofertar apenas 2 milhões de unidades. A diferença 
entre a quantidade demandada e a quantidadeofertada pode ser representada graficamente 
10.000 
20.000 
30.000 
Preço unitário 
em R$ 
2 4 6 Unidades em milhões 
E 
D 
D1 
B A 
O1 
C 
Conceito de equilíbrio de mercado: o equilíbrio de mercado é atingido quando, a determinado 
preço, todos os consumidores dispostos a comprar, bem como todos os produtores dispostos a 
vender, atingem seus objetivos mercantis. 
11
 11 
através do segmento C-D. Este segmento indica o excesso de demanda que ocorreria caso o 
preço fixado fosse baixo demais. Para 6 milhões de 10 unidades desejadas pelos 
consumidores, haveria apenas 2 milhões de unidades disponíveis, gerando um contingente de 
consumidores insatisfeitos. Caso análogo ocorreria caso o preço fosse fixado em $ 30.000. 
Neste caso, porém, o segmento A-B ilustra o excesso de oferta, pois, a este preço, a 
quantidade ofertada (6 milhões de unidades) excederia a quantidade demanda (2 milhões). 
O exemplo dos automóveis pode não parecer muito realista neste caso. Isto porque, 
dada a existência de um número muito pequeno de produtores de automóveis, estes em geral 
sabem qual a quantidade máxima que o mercado poderá absorver a cada preço. Em outras 
palavras, cada produtor conhece a curva de demanda. Este tipo de situação (excesso de oferta) 
é bastante comum quando da fixação de preços mínimos para produtos agrícolas. Neste caso, 
como cada produtor é muito pequeno diante dos volumes totais de produtos transacionados, 
tende a elevar sua oferta quanto o preço mínimo é fixado em níveis muito elevados, apostando 
na possibilidade de poder vender toda sua produção àquele preço. No entanto, quando todos 
os produtores agem da mesma forma, o resultado é um excesso de oferta no mercado. 
Caso o mercado com muitos ofertantes e muitos demandantes (isto é, um mercado 
competitivo) fosse deixado para funcionar livremente, tanto os excessos de oferta quanto os 
excessos de demanda seriam automaticamente corrigidos. Isto é que se chama tendência 
automática ao equilíbrio. Situações de excesso de demanda tendem a gerar disputas entre os 
consumidores, cuja manifestação mais simples é a existência de filas. Havendo tal disputa, a 
tendência é de que os consumidores mais “ávidos” pela aquisição do bem façam lances mais 
altos, como em um leilão. O resultado é uma elevação do preço que tende a reduzir a demanda 
e ampliar a oferta. Diante de lances mais altos, uma parte dos consumidores desiste da 
compra, ao mesmo tempo em que um número maior de unidades é ofertado. 
Na figura acima, esta tendência ao equilíbrio é mostrada nas setas que indicam o 
movimento de A e B em direção a E. Quando oferta e demanda coincidirem, não haverá mais 
pressão por alterações de preço. O mesmo ocorre quando há excesso de oferta; os ofertantes 
passariam a acumular estoques que não conseguem vender e tenderiam a baixar seus preços 
para atrair compradores, ao mesmo tempo em que reduziriam a produção. Diante de preços 
mais baixos, a própria oferta tende a reduzir-se, ao mesmo tempo em que um número maior 
de consumidores passa a demandar o produto. Este processo aconteceria até que oferta e 
demanda fossem coincidentes, quando então dizemos que o mercado está em equilíbrio. 
Agora, observe a Figura 4, abaixo. Ela mostra deslocamentos da curva de oferta. No 
ponto E1, podemos observar o equilíbrio de mercado quando as curvas de oferta e demanda 
12
 12 
são, respectivamente, O1 e D1, o preço de equilíbrio é $ 20.000 e a quantidade de equilíbrio é 
4 milhões. A curva O3 mostra uma contração da oferta, ou seja, para cada preço, os ofertantes 
estão dispostos a colocar uma quantidade menor de produto no mercado (o que pode ter sido 
causado pela saída de produtores ou por uma elevação nos preços dos insumos, por exemplo). 
 
Figura 4 – Deslocamentos da Oferta 
 
 
 
 
 
Podemos notar que, toda vez que a oferta se retrai, tudo mais constante, o preço de 
equilíbrio se eleva. No caso da figura acima, ele passa de $ 20.000 para $ 28.000. 
Paralelamente, a quantidade de equilíbrio se reduz, passando de 4 milhões para 2,3 milhões de 
unidades. O ponto de equilíbrio que era representado por E1 passa agora a ser E3. Situação 
inversa ocorre quando a oferta se expande, passando de O1 para O2. Toda vez que a oferta se 
expande, o preço de equilíbrio se reduz e a quantidade transacionada se eleva. 
A Figura 5 mostra uma situação onde a curva de demanda é que se desloca: ocorre 
uma expansão de D1 para D2 e uma contração de D1 para D3. No caso de uma expansão de 
demanda, preços e quantidades transacionadas se elevam, ocorrendo o oposto quando a 
demanda se contrai. 
 
 
 
 
 
 
2,3 4 5,6 Unidades em milhões 
10.600 
20.000 
28.000 
Preço unitário 
em R$ 
O1 
O2 
O3 
E3 
E1 
E2 
D1 
13
 13 
 
Figura 5 - Deslocamentos da Demanda 
 
 
 
 
O funcionamento dos mercados competitivos, tal como descrito pela Economia, nos 
permite compreender uma série de fenômenos. A relação básica, por trás dos mecanismos que 
acabamos de descrever, refere-se a interação mútua entre preços e quantidades transacionadas 
de determinado bem ou serviço. 
Se tal bem ou serviço for descrito através de características bastante específicas 
(automóveis ou, de forma ainda mais precisa, carros populares, por exemplo), estaremos 
tratando de um micromercado e, portanto, estaremos no âmbito da microeconomia. No 
entanto, podemos pensar em mercados cuja principal característica seja a descrição bastante 
genérica do bem ou serviço transacionado. Por exemplo, quando analisamos o mercado de 
trabalho, estamos em um nível muito geral, sem explicitarmos nenhuma característica 
específica da “mercadoria” transacionada. Afinal, estamos preocupados como o trabalho 
feminino na indústria paulista, por exemplo? Ou com o trabalho de recém formado em direito 
em Porto Alegre? Se estivermos pensando no mercado de trabalho global de um país, não 
estaremos fazendo distinções deste tipo e, portanto, não estaremos no âmbito da 
microeconomia, mas no da macroeconomia. Em outras palavras, quando pensamos em um 
mercado definido de forma bastante genérica e para um país como um todo, estamos tratando 
de macromercados. 
Apesar de sua característica de generalidade e abrangência nacional, os 
macromercados obedecem, em linhas gerais, os mesmos princípios de funcionamento de 
1,8 5,3 4 
Preço unitário 
em R$ 
29.000 
20.000 
10.400 
Unidades em milhões 
D1 
D2 
D3 
O1 
14
 14 
micromercados como o de carros populares, utilizado acima. Assim, é possível pensar em 
oferta, demanda, preço, equilíbrio, e tudo mais que foi definido para micromercados. 
 
2.1.2. Elasticidade e a curva de demanda 
O conceito de elasticidade da demanda procura mensurar a sensibilidade dos agentes 
que desejam comprar algum bem a alterações em alguma das variáveis que determinam a 
curva de demanda, normalmente sobre a ótica do preço. As duas elasticidades mais 
importantes são a elasticidade-preço (que representaremos por Ep) e a elasticidade-renda 
(representada por Er) da demanda. Genericamente, a elasticidade da demanda é calculada da 
seguinte forma: 
 
Variação percentual na quantidade demandada 
 
 
 (Qf – Qi) / Qi 
 (Pf – Pi) / Pi 
 
Como mostra a figura abaixo, nem todas as demandas reagem do mesmo modo a 
variações no preço. Quando o preço cai de P1 para P2, observe que a quantidade demanda na 
curva A varia menos que na curva B. Assim, a sensibilidade (elasticidade) preço é maior para 
a curva B. O valor crítico para a elasticidade-preço é 1. 
Se o preço variar 10% e a quantidade demandada variar, por exemplo, 5%, teremosuma Ep < 1 (desprezando-se o sinal). Isso significa que a demanda é pouco sensível a preço 
como a demanda A da Figura 6. Se o preço variar os mesmos 10% e a quantidade varia, por 
exemplo, 25%, teremos uma Ep > 1. Isso significa que a demanda é muito sensível a preço e 
os impactos sofridos com qualquer elevação do mesmo será direto na comercialização do bem 
ou serviço. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Variação percentual no preço ou na renda 
Ep ou Er = 
EP = 
 
15
 15 
Figura 6 – Elasticidade-preço 
 
 
 
 
 
Na economia há basicamente três fatores determinantes da elasticidade-preço da 
demanda, são eles: 
Necessidade ou essencialidade: reagimos menos às altas no preço dos remédios ou da 
energia elétrica residencial do que às altas de igual proporção nos preços de itens como 
mensalidades de revistas ou viagens internacionais. Isso porque os dois primeiros itens são 
considerados mais essenciais que os últimos. 
Peso no orçamento: todos nós somos mais sensíveis a variações nos preços dos itens 
com maior peso em nosso orçamento. Você reagiria mais a um aumento de 15% no preço do 
cafezinho ou a um aumento dos mesmos 15% no preço da gasolina? Certamente, como 
gastamos maiores parcelas de nosso orçamento em gasolina, reagimos muito mais às 
variações de preço desse último item. Da mesma forma, pessoas com menor renda são mais 
sensíveis ao preço, pois mesmo pequenas variações nos preços acabam pesando 
demasiadamente em seu orçamento. 
Concorrência ou existência de substitutos: se houvesse uma única marca disputando 
um determinado mercado, aumentos de preço seriam seguidos de pouca reação dos 
demandantes devido à falta de opções em termos de substitutos. O mesmo ocorre quando há 
grande fidelidade do consumidor a determinada marca: mesmo diante de elevações de preço, 
como para um consumidor fiel não há substitutos perfeitos para sua marca preferida, a reação 
em termos de quantidades seria muito pequena. 
 Existe também a visão da Fidelidade por um bem ou serviço que impacta em sua 
elasticidade, porém esse item cada vez mais está sendo difícil de se conciliar, dado o enorme 
volume de opções que o mercado apresenta rotineiramente, seja ele de bens ou de serviços. 
QA1=QB1 QA2 QB2 
P1 
P2 
DA DB 
Q 
P 
16
 16 
Por sua vez, a elasticidade-renda (Er) é útil para classificarmos os bens e serviços em 
superiores ou normais (“tops” de linha) ou inferiores (“pops”, ou populares). O valor crítico 
para a elasticidade-renda é zero. 
No caso dos bens “top” (superiores), quando a renda aumenta, a demanda pelo mesmo 
também se eleva. Com isso, na fórmula da elasticidade, teremos variações positivas tanto no 
numerador quanto no denominador. Por outro lado, quando a renda cai, a demanda também 
deste bem ou serviço também cai. Com isso, na mesma fórmula, teremos variações negativas 
tanto no numerador quanto no denominador. Em outras palavras, a Er dos bens superiores 
sempre será um número maior que zero, ou seja, positiva. 
Quando nossa renda aumenta, aumentamos a demanda por filé mignon, pulsos de 
telefonia celular e sessões de cinema. Esses são bens e serviços para os quais a demanda varia 
junto com a renda. Se a renda cai, a demanda por esses itens tende a cair também pelo fato de 
existirem bens mais baratos que substituem os mesmos. 
No caso dos bens “pop” (inferiores) ocorre o inverso. Quando nossa renda cai, a 
demanda por eles aumenta, pois estamos substituindo os bens “top” pelos mais populares. 
Mas quando a renda aumenta, fazemos o contrário. Na fórmula acima, teremos variações 
positivas divididas por variações negativas e vice-versa. Em outras palavras, a Er dos bens 
inferiores é sempre menor que zero, ou seja, um resultado negativo. 
 
2.1.3 Estruturas de mercado 
Uma hipótese básica para o funcionamento do sistema descrito nas seções anteriores é 
que os mercados estejam operando com um grau elevado de concorrência. Numa situação 
limite, estaríamos em concorrência perfeita. Se os mercados estiverem funcionando com essa 
estrutura, as firmas não estarão em condições de realizarem conluios ou cartéis. Isso poderia 
ocorrer porque, caso houvesse um cartel que tentasse elevar preços e margens de lucro, 
qualquer empresa de fora poderia entrar no mercado com preços mais baixos e “se apossar” 
de toda a demanda. 
O cartel é crime contra a ordem econômica previsto no art. 4º da Lei n.º 8.137, de 27 
de dezembro de 1990. Trata-se da formação de acordo, convênio, ajuste ou aliança entre 
ofertantes, visando à fixação de preços ou quantidades vendidas ou produzidas, prevista no 
inciso II, "a" do dispositivo em questão. Falamos de crime pessoal, cuja sanção consiste em 
pena de reclusão ou multa. 
O cartel é, também, crime concorrencial e, portanto, infração econômico-penal. Nos 
termos do art. 21 da Lei n.º 8.884, de 11 de junho de 1.994, trata-se de fixação de preço e 
17
 17 
condições de venda de bens e prestação de serviços em acordo com concorrente; obtenção de 
conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes; divisão de mercados de 
serviços ou produtos; combinar previamente preços ou vantagens em concorrência pública. 
Os crimes concorrenciais, equiparados ao tort anglo-saxão, ao serem enquadrados como 
infrações de cunho econômico-penal, ensejam penalização essencialmente econômica. 
Crimes contra a ordem econômica, ao serem perpetrados pela pessoa jurídica 
(responsabilidade empresarial) ensejam punição econômica. O cartel, ao gerar a generalizada 
perda de bem-estar econômico da sociedade e de competitividade do próprio cartel – que 
assegura, ardilosamente, seu poder de mercado – deve ser combatido com veemência. Assim 
se faz necessário, uma analise como o governo pode caracterizar algumas situações da 
indústria como sendo um cartel. 
Evidentemente que isso exigiria que o produto em questão fosse altamente 
padronizado (semelhantes) e que a tecnologia1 necessária para produzi-lo fosse totalmente 
acessível. Em resumo, a concorrência perfeita é uma situação onde, por quaisquer motivos, 
todas as firmas têm que cobrar preços muito parecidos ou até mesmo idênticos e não há como 
impedir que novas firmas entrem no mercado ofertando o produto. Isso só seria possível se 
esse mercado tivesse as seguintes características: 
 
1) Transacionasse um bem padronizado, isto é, que não apresentasse diferenças de 
marca ou origem relevantes; 
2) Fosse de livre entrada para firmas que quisessem passar a operar nele; 
3) Tivesse um grande número de firmas operando. 
Ocorre que esse tipo de mercado, muito embora seja o mais estudado, não constitui o 
caso mais típico nas economias modernas. No extremo oposto da concorrência perfeita, 
estaria o monopólio, isto é, o mercado dominado por uma única firma. Em geral, o monopólio 
surge devido a três causas básicas: 
1) O tamanho do mercado: imagine uma cidade pequena na qual se instala um 
hipermercado. Esse estabelecimento, por operar em escala mais ampla e ter custos de 
comercialização mais baixos, pode levar à falência todos os mercados tradicionais da cidade. 
Mais ainda, caso outro hipermercado se instale na mesma cidade, o movimento em cada um 
deles será tão pequeno que ambos passarão a operar com prejuízo. Portanto, só há mercado 
para uma firma. Esse tipo de estrutura de mercado é chamado de monopólio natural. 
 
1 Por “tecnologia”, os economistas entendem não somente saber como fazer, mas também como comercializar, o 
que inclui o domínio de estratégias mercadológicas na definição da marca e de distribuição do produto. 
18
 18 
2) O monopólio pode ser instituído por lei, como foi o caso diversos serviços deutilidade pública no Brasil até há alguns anos atrás. Esse é o monopólio legal. 
3) Por fim, o monopólio pode ser resultado de uma inovação tecnológica desenvolvida 
por uma empresa que a mantém como segredo industrial (assimetria) ou patente. Essa 
inovação pode ser a descoberta de um novo produto (caso típico da indústria farmacêutica), a 
descoberta de um novo tipo de empreendimento (como foi o caso da Disneylândia que, 
durante muitos anos, simplesmente não teve concorrentes em escala mundial), a conquista de 
uma reputação ou a “fixação” de uma marca (caso típico de produtos de perfumaria ou moda 
e mesmo de informática, como certas marcas de perfume francês, ou softwares). 
 
Quadro1 - Características das estruturas de mercado 
 
Estruturas Número de concorrentes Características básicas 
Monopólio 
Natural 
Um único ou uma empresa 
muito maior que as demais 
Tamanho do mercado não 
permite mais de uma firma. 
Legal 
Legislação que institui 
monopólio. 
Tecnológico 
Domínio de “segredos 
industriais” (assimetria), 
patentes ou marcas que 
impedem a concorrência. 
Oligopólio 
Com 
combinação 
Poucos 
Produto padronizado, barreiras 
à entrada de novos 
concorrentes e preços 
uniformes. 
Produto diferenciado, 
barreiras à entrada de novos 
concorrentes e preços 
diferenciados. 
Competição Monopolística Muitos 
Produtos únicos, com 
características semelhantes 
que atendem um mercado 
específico. 
Concorrência Perfeita Muitos 
Produtos padronizados, onde 
há livre entrada de firmas e os 
preços são uniformes. 
 
Entre os dois extremos da concorrência perfeita e do monopólio, temos os mercados 
que operam com poucas firmas - isto é, ao menos duas, mas não muitas estes são os 
oligopólios. A característica básica dessa estrutura de mercado é a existência de barreiras à 
entrada, de forma que não é fácil para uma firma nova entrar no mercado e passar a concorrer 
com as já estabelecidas. 
Isso pode ocorrer por razões parecidas com aquelas que explicam a existência de 
monopólios. Por exemplo, na atualidade, o tamanho do mercado brasileiro não permite que 
19
 19 
existam mais de duas empresas de telefonia fixa de longa distância. Na indústria 
automobilística ou eletrônica, não é fácil dominar a tecnologia de produção. Quando o 
produto ofertado pelas empresas que operam em oligopólio é muito padronizado (como é o 
caso de papel para impressão ou baldes de plástico), dizemos que se trata de um oligopólio 
homogêneo. Nesse caso, os preços cobrados por cada ofertante não podem ser muito 
diferentes, caso contrário os consumidores simplesmente escolherão o produto mais barato. 
Quando há uma clara diferenciação entre as diferentes “marcas” (como é o caso e 
eletroeletrônicos, automóveis ou cervejas), dizemos que se trata de um oligopólio 
diferenciado. 
O Quadro 1, acima, resume as principais características das estruturas de mercado. 
Para entender como atuam os oligopólios vamos inicialmente estudar uma situação muito 
utilizada no ensino de microeconomia. Trata-se de um acontecimento imaginário, cujos 
resultados podem ser imediatamente aplicados à atuação de um oligopólio homogêneo de 
duas firmas - isto é, um duopólio. Essa situação hipotética é chamada de dilema dos 
prisioneiros, vinculado ao estudioso John Nash. 
A Teoria dos Jogos é o estudo econômico que visa representar os padrões de 
interações nos quais os resultados auferidos por qualquer participante (players) depende das 
ações de alguns ou todos os integrantes deste mercado. 
Suponha que duas pessoas foram presas e são acusadas de terem cometido um crime 
juntas. Cada uma é colocada em uma cela separada e precisa decidir se confessa ou não o 
crime, antes de saber o que o outro prisioneiro decidiu. As penas a serem aplicadas serão as 
seguintes: 
1) Caso ambos os suspeitos confessem o crime, serão condenados a uma pena de 2 
anos na prisão; 
2) Caso um confesse e o outro não, o que confessou é libertado imediatamente por ter 
colaborado com a justiça e desmascarado o outro que ficou calado, mas o suspeito que não 
confessou, por ter tentado obstruir a justiça, será condenado a 4 anos (2 pelo crime e mais 2 
pela tentativa de obstrução); 
3) Caso nenhum dos dois confesse, eles permanecerão presos por apenas 1 ano, 
durante as investigações. 
O quadro abaixo resume o dilema dos prisioneiros. Os números entre parênteses 
representam as penas aplicadas em cada caso (o número da esquerda é a do prisioneiro A e o 
da direita é a do prisioneiro B). Note que estamos representando as penas com sinais 
negativos para indicar que cada ano na prisão é um custo ou perda. 
 
20
 20 
 Prisioneiro B 
 Confessa Não confessa 
Prisioneiro A 
Confessa (-2; -2) (0; -4) 
Não confessa (-4; 0) (-1; -1) 
 
O que você acredita que os prisioneiros fariam? Note que o melhor resultado para 
ambos analisados em conjunto seria não confessarem os dois a um só tempo. Isso resultaria 
em apenas 1 ano de prisão para cada um. Qualquer outro comportamento faria com que pelo 
menos um deles passasse no mínimo 2 anos atrás das grades. Mas, se você olhar atentamente 
para a figura acima, vai notar que a atitude de confessar é sempre melhor que a de não 
confessar. Se, por exemplo, o prisioneiro A espera que o outro vai confessar, o melhor que A 
tem a fazer é confessar também e, assim, pegar uma pena de 2 anos em lugar de 4. Mas se A 
imagina que B não vai confessar, ele também prefere confessar pois, nesse caso, é solto 
imediatamente em lugar de ficar na cadeia por 6 meses. 
Observando com atenção o quadro acima, é possível notar que, qualquer que a 
expectativa do prisioneiro A sobre a decisão do outro, o melhor a fazer é confessar. Isso 
também vale para o prisioneiro B. Nesse caso, dizermos que confessar é a estratégia 
dominante para ambos os prisioneiros (vamos passar a chamá-los de agentes, que é um termo 
mais leve). A hipótese de comportamento, muito razoável e racional, é de que os agentes 
escolhem sempre as estratégias dominantes, isto é, se adotar uma determinada estratégia é 
sempre melhor que adotar qualquer outra, evidentemente que o agente adotará essa estratégia. 
A limitação do nosso exemplo para que possamos passar a uma aplicação econômica 
do dilema dos prisioneiros é que os agentes não podem se comunicar antes de decidir o que 
farão e, obviamente, as empresas que atuam em oligopólio trocam informações, ainda que 
indiretamente. Assim, vamos alterar um pouco o exemplo, permitindo aos agentes uma única 
comunicação prévia. Suponha que os prisioneiros tenham feito um pacto de não confessar o 
crime em caso de prisão. Você acredita que eles manteriam o pacto depois de terem sido 
pegos, abandonando a estratégia dominante? Se o prisioneiro A acreditar que B vai manter a 
promessa, ele estará tentado a romper o acordo. Nesse caso, A confessa e é solto 
imediatamente e B fica preso por 4 anos. Nesse ponto, caso B tenha receio de que A vai cair 
em tentação, ele prefere confessar também, por simples medo. Se A acha que B não acredita 
nele, também poderá confessar, confirmando o receito de B de que A confessaria, rompendo o 
acordo. Mas se ambos confessarem, ambos terão agido como se o pacto não existisse. 
Quando chegamos nesse ponto da análise do dilema dos prisioneiros, já estamos nos 
encaminhando para o estudo das empresas que atuam em oligopólio. Para isso, basta 
21
 21 
substituir a situação analisada por outra, muito parecida, mas com a mesma estrutura. 
Suponha que em um mercado existem apenas duas firmas: A e B. Suponha que essas firmas 
atuam em uma estrutura de oligopólio homogêneo e estão decidindo sobre que quantidades 
deverão ofertar deum produto padronizado. Suponha ainda que essas firmas tenham que 
escolher entre dois níveis de oferta: 1 e 2. Os resultados em termos de lucros estão resumidos 
no quadro a seguir. 
 
Lucro das empresas em $ milhões. 
 Empresa B 
 Nível 1 Nível 2 
Empresa A 
Nível 1 (9; 9) (12,5; 6) 
Nível 2 (6; 12,5) (10; 10) 
 
Vamos admitir que o nível 1 seja uma grande oferta de produtos. Isso permitiria $ 9 
milhões de lucro para cada uma. Mas, se ambas as empresas produzirem nesse nível alto, só 
conseguirão vender a produção a preços baixos, pois o mercado tenderá a ficar saturado. Elas 
podem formar um cartel e combinarem de produzir ambas no nível 2 (mais baixo). Isso faria 
com que houvesse escassez do produto, elevando os preços e fazendo os lucros subirem de $ 9 
milhões para $ 10 milhões. Acontece que, como no dilema dos prisioneiros, as firmas estão 
tentadas a desrespeitarem o cartel. Observe que, caso a empresa A suponha que a empresa B 
vai honrar o acordo e produzir no nível 2, ela (firma A) pode ter um lucro ainda maior ($ 12,5 
milhões) caso produza no nível 1, rompendo o acordo e ganhando na quantidade vendida. 
Com isso, os preços irão baixar um pouco (pois o produto não será tão escasso) e a firma B 
terá uma redução nos seus lucros (que passarão para $ 6 milhões quando ela esperava $ 10 
milhões). 
 
 
 
 
 
 
22
 22 
 
 
3. Macroeconomia 
 
 
Em uma perspectiva empresarial, o estudo da Macroeconomia se dedica à análise de 
um conjunto de fenômenos, derivados da ação conjunta dos agentes econômicos, e que 
determina o entorno mais amplo do ambiente de tarefa da empresa. Muito embora cada firma 
esteja sempre e antes de tudo preocupada com o que ocorre em seus próprios mercados (de 
bens e serviços, em um extremo, e de insumos, no outro), cada um destes mercados é afetado 
diariamente pelas chamadas variáveis macroeconômicas: taxas de câmbio, carga tributária, 
taxa de juros, etc. Mesmo a empresa que não tenha nenhum tipo de relação com o exterior 
deve se preocupar com o comportamento da taxa de câmbio; mesmo a empresa que não é nem 
credora nem devedora líquida deve se preocupar com a taxa de juros, e assim por diante. Isto 
porque as variáveis macro afetam um grande número de agentes de uma só vez. Se a empresa 
não for ela própria afetada, certamente ou seus clientes, ou seus fornecedores, ou seus 
trabalhadores ou todos a um só tempo o serão. 
 
 
 
 
 
Figura 7 - Esferas que compõem o ambiente de tarefa da empresa 
23
 23 
 
 
 
 
É por isso que, se imaginarmos que o ambiente de tarefa da empresa é, na verdade, 
representado por uma sobreposição de níveis, como na figura acima, cada um dos quais com 
um determinado tipo de influência sobre suas atividades cotidianas, o nível macroeconômico 
será o mais amplo de todos, no sentido de que não se refere às variáveis diretamente 
controladas pela firma. Ao mesmo tempo, porém, os destinos dos negócios da empresa a 
longo prazo estão intimamente relacionados às tendências das variáveis macroeconômicas. 
Uma empresa jamais manterá seus preços constantes se houver uma inflação acelerada; 
jamais poderá manter-se pesadamente endividada se a taxa de juros for alta demais; jamais 
manterá um mesmo número de empregados caso os salários caiam fortemente, e assim por 
diante. 
É por razões como esta que o estudo da macroeconomia se insere na dimensão 
estratégica da firma, e pode contribuir explicitamente com a manutenção de um padrão 
adequado de gestão de seus negócios. 
A Macroeconomia pode ser compreendida através do estudo do funcionamento e da 
interação recíproca de três macromercados. Como dissemos acima, tais mercados são 
definidos da forma mais genérica e abrangente possível, e estão sempre referidos ao conjunto 
de uma economia nacional. Os três macromercados são: 
a) Bens e serviços; 
b) Moeda (e demais ativos financeiros); 
c) Câmbio. 
Como em todo mercado, cada um destes três macromercados possui preços e 
quantidades transacionadas. No entanto, os preços e quantidades nestes mercados possuem 
EMPRESARIAL SETORIAL MACROECONÔMICA 
24
 24 
algumas peculiaridades. Em nosso exemplo dos automóveis populares, era fácil mensurar as 
quantidades transacionadas; tais quantidades eram simplesmente o número de unidades de 
automóveis vendidos em determinado período. No entanto, com fazer para “contar” unidades 
no macromercado de bens e serviços, por exemplo? Como somar unidades de uma infinidade 
de bens e serviços, com características muitas vezes absolutamente distintas? 
Antes de tentarmos propor uma solução para este tipo de problema, vamos apresentar 
o que seriam os preços e as quantidades em cada um dos macromercados (ou, pelo menos, 
quais são as variáveis que fazem as vezes de preços e quantidades nestes mercados). 
Quando falamos do conjunto de todos os bens e serviços produzidos em um país, 
podemos avaliar seus preços através de uma média. Esta média deve ser construída 
ponderando cada bem ou serviço de acordo com sua importância relativa no total de bens e 
serviços produzidos. Esta média ou preço médio é o chamado Nível Geral de Preços e pode 
ser compreendido como o preço vigente no macromercado de bens e serviços. No entanto, 
dada a infinidade de bens e serviços produzidos em um país a cada ano, é literalmente 
impossível saber com exatidão qual o nível geral de preços (ou qual o preço médio de todos 
os bens e serviços). Diante desta dificuldade, costuma-se estimar o Nível Geral de Preços 
através de índices, calculados por institutos de pesquisa. No Brasil, a melhor aproximação 
para o Nível Geral de Preços é o Índice Geral de Preços (IGP). As variações no IGP nos 
oferecem uma forma de medir a inflação, que nada mais é do que uma elevação do Nível 
Geral de Preços. 
No que se refere às quantidades no macromercado de bens e serviços, costuma-se 
utilizar como aproximação o PIB ou Produto Interno Bruto. Voltaremos a tratar do PIB com 
mais detalhes adiante. Por enquanto, podemos dizer que o PIB é a soma dos valores de todos 
os bens e serviços finais, produzidos em uma economia durante certo período de tempo. 
Assim, a produção de aço, utilizada na fabricação de automóveis ou na construção de 
edifícios não entra no cômputo do PIB, uma vez que o aço não é um bem final e sim um 
insumo. O preço do aço será computado nos preços dos automóveis e dos edifícios, os quais 
já incorporam todos os custos, incluindo o preço do próprio aço. Isto evita que se faça dupla 
contagem, isto é, que somemos o preço do aço duas vezes, uma quando ele próprio é 
produzido e outra quando consideramos os preços dos automóveis e dos edifícios, os quais já 
trazem embutidos os custos com o aço. O cálculo do PIB nos permite somar bens e serviços 
com características muito diferentes, como casas e cortes de cabelo, ponderando cada item por 
seu próprio preço. 
25
 25 
Como em todo mercado, no macromercado de bens e serviços haverá uma oferta 
(chamada de oferta agregada) e uma demanda (chamada de demanda agregada). Os ofertantes 
são em geral empresas (também os trabalhadores autônomos) e os demandantes são tanto 
consumidores quanto outras empresas. Estas últimas podem estar interessadas, por exemplo, 
em adquirir automóveis para sua frota ou contatar serviços de engenharia. 
No macromercado de moeda (e outros ativos financeiros), o preço é a taxa de juros. 
Isto porque a moeda pode ser emprestada, como se fosse um bem que se aluga, e a 
remuneração por este aluguel é exatamente a taxa de juros. A quantidade neste mercado é o 
volume de moeda em circulação, o qual pode ser avaliado pelo volume de meios de 
pagamento. Este conceito também será melhorexplicado adiante; por enquanto podemos 
definir meios de pagamento como os ativos financeiros que são inequivocamente aceitos para 
o pagamento de obrigações, isto é, a moeda propriamente dita (que está nas mãos das pessoas 
ou nas reservas dos bancos) e depósitos à vista. 
Finalmente, no macromercado de câmbio, negocia-se moeda estrangeira, 
principalmente o dólar americano. Ofertantes e demandantes são simplesmente pessoas 
querendo se desfazer ou querendo adquirir dólares (ou outra moeda estrangeira). As 
quantidades são simplesmente os fluxos de dólares transacionados e o preço é a taxa de 
câmbio. Esta última nada mais é do que o preço em moeda nacional de cada unidade da 
moeda estrangeira. Quando dizemos que US$ 1 vale R$ 2,95, estamos afirmando que o preço 
do dólar é R$ 2,95. 
Em toda nossa discussão macroeconômica, estaremos nos referindo sempre a um ou 
mais destes macromercados uma vez que o dia-a-dia da economia de um país pode ser 
descrito através do funcionamento deles. No entanto, ao contrário de alguns micromercados, 
os macromercados estão fortemente relacionados entre si e o que se passa em cada um deles 
tem conseqüências diretas e indiretas sobre os demais. Assim, para compreendermos este tipo 
de interação, faremos um percurso mais ou menos longo, até que, ao final desta apostila, 
possamos tratar novamente dos três macromercados, interagindo mutuamente. 
 
 
 
 
 
 
Figura 8 - Sistemas de Políticas Macroeconômicas 
26
 26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os três macromercados não apenas têm relações importantes entre si como também 
são influenciados pela ação da política econômica do governo. Veremos que há três frentes 
principais de ação da política econômica: a política cambial, a política fiscal e a política 
monetária, cada uma delas atuando diretamente sobre cada um dos macromercados e, 
indiretamente, sobre os demais, com reflexos sobre o ambiente de atuação das empresas. 
 
 
3.1 O mercado de bens e serviços: crescimento e inflação 
 
Pontos-chave: PIB como fluxo de bens, serviços e geração de renda; Valor agregado 
ou valor adicionado; PIB versus PNB; Conceitos econômicos de Poupança e Investimento; 
Fluxo circular de renda. 
3.1.1 PIB: conceito e fatores de crescimento da Oferta Agregada 
As duas variáveis centrais em qualquer exercício de cenarização macroeconômica são 
crescimento e inflação. Em outras palavras, a evolução no tempo do Produto Interno Bruto 
(PIB) e do Nível de Preços (mensurado estatisticamente pelo Índice Geral de Preços - IGP). 
Esses são dois dos principais agregados macroeconômicos. Como o próprio nome diz, esses 
agregados são mega-variáveis que permitem acompanhar a evolução do ambiente econômico 
em seu nível mais geral. Crescimento econômico e inflação representam, portanto, o ponto de 
partida para qualquer construção de cenários em Macroeconomia. 
Vamos começar pela definição da primeira dessas variáveis. Como o próprio nome 
diz, o Produto Interno Bruto representa, em primeiro lugar, o total da produção em um país. 
 
 
Monetário 
 
Cambial 
Bens e 
serviços 
Política Monetária Política Fiscal e 
Política Comercial 
Política Cambial 
27
 27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ocorre que realizar essa mensuração pode acarretar em erros grosseiros se a 
metodologia não for simples e inteligente em termos contábeis. Isso sem falar nas 
dificuldades estatísticas de realizar uma amostra adequada de empresas e setores. Assim, 
vamos analisar a primeira e mais direta definição de PIB, abaixo. 
 
 
Vale destacar um a um os diferentes aspectos da definição acima. Antes de mais nada, 
 
Ao definirmos o PIB como o somatório de todos os bens e serviços finais gerados em 
um país durante um certo período de tempo estamos evitando a chamada dupla contagem. 
Imagine que em lugar dos bens e serviços finais, tentássemos mensurar o PIB pela soma de 
todos os bens e serviços gerados em um país, fossem eles finais ou não. Suponha que 
começássemos pela produção de cimento, aço e edifícios, como ilustrado na figura abaixo. 
 
 
 
 
Principais índices de preço no Brasil 
Índices Gerais de Preço: são calculados através da média ponderada de outros três índices (60% 
IPA - Índice de Preços por Atacado, 30% IPC - Índice de Preços ao Consumidor e 10% - Índice 
Nacional de Custos da Construção). Como Duas instituições calculam, cada uma, seu próprio 
IGP: 
a) IGP-DI (disponibilidade interna) evolução dos preços do dia 30 ao 30 do mês posterior (FGV - 
contratado pelo governo federal) 
b) IGP-M (de mercado) evolução dos preços do dia 21 ao 21 do mês posterior (FGV - contratado 
pelo setor privado) 
 
Índices de Preço ao Consumidor (IBGE): como o próprio nome diz, visa monitorar o chamado 
“custo de vida”, isto é, os preços ao consumidor tais como despesas com supermercados, 
aluguéis, serviços pessoais e de utilidade pública, etc. Os dois principais índices de preço ao 
consumidor divergem basicamente pela abrangência em termos da cesta de consumo que serve de 
referência para o cálculo. Além disso, o IPCA ganhou notoriedade desde 1999 ao ser adotado 
como meta oficial de inflação pelo Banco Central. Ambos os índices abaixo são calculados pelo 
IBGE: 
a) INPC (nacional) baseado no padrão de consumo de famílias com renda entre 1 e 6 Salários 
Mínimos (S.Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Fortaleza, 
Salvador, Brasília, Belém e Goiânia) 
b) IPCA (amplo) baseado no padrão de consumo de famílias com renda entre 1 e 40 Salários 
Mínimos, com a mesma abrangência geográfica. 
 
PIB: é calculado a partir da soma dos valores de todos os bens e serviços finais produzidos 
dentro das fronteiras de um país durante certo período de tempo (um ano, um semestre, um 
trimestre etc.). 
 
28
 28 
Figura 9 – Valor agregado 
 
 
O valor da produção total de cimento em um país em determinado ano teria sido, 
digamos, R$ 1 bilhão. A produção de aço teria sido de R$ 4 bilhões e a de edifícios R$ 9 
bilhões. Se estivéssemos começando a calcular o PIB pela soma destes três setores já teríamos 
um total de R$ 10 bilhões. No entanto, sabemos que o valor total de cimento produzido foi 
vendido para o setor de construção civil e utilizado na construção de edifícios como insumos 
naquele ano. O mesmo ocorreu com 1/4 da produção de aço (ou seja, R$ 3 bilhões). O 
restante foi exportado. Isto significa que nos R$ 9 bilhões correspondentes à produção de 
edifícios já estavam embutidos na forma de custos de insumos R$ 4 bilhões correspondentes à 
utilização de cimento e aço. Ao somarmos o valor da produção dos três setores em nossos 
primeiros cálculos para mensurarmos o PIB, incorremos no erro de dupla contagem desse 
valor. É por isso que todas as vendas de cimento e aço feitas por seus produtores aos 
produtores de bens finais devem ser contabilizadas no PIB apenas de forma indireta. Assim, 
os R$ 9 bi já carregam em seu valor R$ 1,0 bi de cimento (insumo) e R$ 3 bilhões de aço 
(outro insumo). Se considerarmos o bem final (edifícios) no cálculo do PIB, devemos excluir 
do cálculo do PIB os insumos já incorporados. Ao mesmo tempo, o valor do aço exportado 
deve ser igualmente somado, pois esse aço não foi utilizado como insumo no país em questão 
e, por convenção, bem final é todo aquele que não é utilizado como insumo (ver glossário). E 
isto explica o método de cálculo do PIB, destacado acima. 
 
29
 29 
3.1.2 O conceito de valor agregado 
O conceito de valor agregado ou de “agregar valor” possui um uso corrente impreciso. 
Quando um artesão transforma argila em umvaso de barro cru e depois esse mesmo vaso é 
comprado por um artista que pinta esse vaso, dizemos que o artista “agregou valor ao vaso” e 
conseguiu vende-lo por um preço maior do que havia pago para o artesão. Mas, e a 
transformação do barro em vaso? Agora, pense na atividade de coleta. Uma pessoa entra na 
mata e colhe uma fruta. Leva a fruta para a beira da estrada e a vende por determinado preço. 
Houve agregação de valor? Esse caso difere do artista que decorou o vaso de barro cru, feito 
pelo artesão? 
Para evitar imprecisões, vamos definir de forma simples e clara o conceito de valor 
agregado (VA). Considere uma empresa que vende um produto por R$ 150. Esse é o valor 
bruto da produção (VP). Agora, suponha que a produção desse bem exija a compra de 
insumos no valor de R$ 120. Chamaremos esse valor de VI (isto é, valor dos insumos). 
Vamos definir insumos como aqueles materiais que, de alguma forma, são incorporados ao 
produto: matérias-primas, energia, material de acabamento ou de embalagem. O importante é 
que os insumos são comprados de outras empresas e só podem ser utilizados uma única vez, 
pois são incorporados ao produto final. O valor agregado (VA) na atividade em análise será 
dado simplesmente pela expressão: 
 
VA = VP - VI 
 
No caso em questão, o valor agregado será 150 - 120 = 30. Vamos voltar aos casos 
citados acima. O artesão que produziu o vaso de barro cru e o vendeu por, digamos, R$ 30 
talvez não tenha gasto um único centavo com insumos: recolheu a argila e a água na natureza 
para moldar o vaso que secou ao sol. O valor agregado por sua atividade foi de R$ 30, isto é, 
igual ao valor da produção. O mesmo ocorre com os coletores de frutas que simplesmente as 
recolhem e colocam na beira da estrada para venda. Essas atividades agregam valor, ou 
transformando o barro ou simplesmente transportando as frutas para a beira da estrada. 
Agora, vamos considerar o artista que decora o vaso. Ele comprou o vaso cru, que é o 
principal insumo do vaso decorado, pagando R$ 30. Também gastou R$ 40 com as tintas e 
mais R$ 15 com a energia elétrica de um forno necessário para queimar o vaso. Se esses 
foram todos os insumos e o vaso decorado foi vendido por R$ 200, o valor agregado será: 
 
VA = 200 - (30 + 40 + 15) = 115 
 
30
 30 
Lucro do artista, 
aluguéis, juros, salários, 
impostos embutidos no 
preço final. 
 Note que esse é o valor agregado total. Ele não é, necessariamente, o lucro do artista. 
Se ele vender 1000 vasos como esse por mês, teria um ganho bruto de R$ 115.000. Essa 
margem total também será utilizada para pagar a folha de salários dos funcionários (que não é 
insumo!), os aluguéis da oficina (que também não são insumo!), eventuais juros devidos sobre 
o capital de giro e, é claro, os impostos embutidos no preço final do vaso decorado. Esses 
itens não são insumos, pois não estão incorporados ao produto final. Os trabalhadores voltam 
a cada mês, a oficina pode ser utilizada continuamente, os empréstimos podem ser renovados, 
etc. 
 
Figura 10 – Importância do Valor agregado 
 
 
 
 
 
 VP 
 $200 VI 
 $85 
 
 
 
Esquematicamente, nosso exemplo ficaria da seguinte forma: 
É uma situação parecida com o exemplo da construção civil, mostrado acima, que 
entrega prédios no valor de R$ 12 milhões tendo empregado insumos (cimento e aço) no valor 
total de R$ 1,5 bilhão. 
Para que possamos discutir quais os fatores que podem contribuir com o crescimento 
do PIB ao longo do tempo será conveniente desagregar (dividir) esse agregado econômico a 
fim de refinar a análise. Assim, o PIB pode ser separado em subconjuntos de bens e serviços 
de diversas formas. Uma maneira seria por setor de atividade: agricultura, indústria e serviços. 
Para qualquer país, é possível calcular o PIB industrial, o PIB agrícola e o PIB do setor de 
serviços, cuja soma corresponde ao produto interno bruto em sua totalidade. 
Outra forma é separar os bens em duas categorias básicas: os bens de consumo e os 
bens de investimento. Esta separação nos permitirá analisar em mais detalhes o que se chama 
de consumo agregado e investimento agregado. 
 
VA 
$115 
Energia 
$15 
 
Tintas 
$40 
Vaso cru 
$30 
31
 31 
Suponha inicialmente que um determinado país não possui governo, nem se relaciona 
com o resto do mundo através de importações e exportações. É uma situação meramente 
hipotética que se convenciona chamar de economia fechada e sem governo. Toda a produção 
de bens e serviços finais só pode ser classificada em duas categorias: bens de consumo, que se 
destinam a satisfazer necessidades ou desejos dos consumidores, e bens de investimento, 
adquiridos pelas empresas para viabilizar a produção de outros bens e serviços. Assim, 
podemos representar o PIB pela igualdade abaixo: 
 
PIB = consumo agregado + investimento agregado, ou 
(3.1) PIB = C + I 
 
Esta representação apresenta o PIB sob a ótica da produção. Isto é, os bens e serviços 
produzidos na economia em um determinado ano são classificados ou como bens de consumo 
ou como bens de investimento. No entanto, em uma economia fechada e sem governo, as 
empresas acabam transformando sua produção agregada (ou produto agregado) em renda 
agregada. 
A ótica da renda agregada permite outra representação do PIB. Ao venderem seus 
produtos aos preços de mercado, as empresas obtêm um faturamento que é transferido às 
pessoas (físicas) através do pagamento de salários, juros, aluguéis, lucros e dividendos. Isto é 
o que se chama remuneração dos fatores de produção. Os fatores de produção são os 
elementos essenciais para que uma economia possa produzir. Em última instância, os fatores 
de produção são o capital e o trabalho. A remuneração do trabalho é feita através dos salários. 
Já a remuneração do capital se desdobra em várias categorias. Aquele que aluga um escritório 
para instalar sua firma se utiliza dele como capital, e tem que remunerar o dono deste capital 
através do pagamento de aluguéis. Aquele que toma dinheiro emprestado para utilizar como 
capital de giro paga juros ao dono do dinheiro. Já o empresário, quando é dono de sua 
empresa, tem direito aos lucros que a empresa gera.
2
 
Por seu turno, a renda agregada pode ser transformada em gasto (o gasto agregado). 
Em uma economia fechada e sem governo, o gasto somente pode se dar através da aquisição 
de bens e serviços de consumo ou de investimento, fechando o ciclo. Os bens de consumo são 
adquiridos pelas pessoas (físicas), ao gastarem parte de sua renda. Já os bens de investimento 
são adquiridos pelas empresas (pessoas jurídicas). No entanto, se a empresa transfere todo o 
seu ganho na forma de remuneração dos fatores produtivos, como ela poderá adquirir bens de 
 
2
 É interessante notar que a Economia considera fatores como terra e tecnologia como formas de capital. A terra 
sendo uma espécie de “capital natural” e a tecnologia como “capital intelectual”. 
32
 32 
investimento? Na Macroeconomia, costuma-se supor que todo o investimento é financiado 
com recursos de fora da empresa. Por exemplo, se a empresa acumula lucros para financiar 
seus projetos de investimento, tudo se passa como se os donos da empresa decidissem 
emprestar parte do lucro a que têm direito para sua própria empresa. Por enquanto devemos 
lembrar que os bens de consumo são adquiridos pelas pessoas (físicas), através do gasto de 
parte de sua renda, e que os bens de investimento são adquiridos de algumas empresas que 
compram de outras, e que se financiam tomando recursos emprestados. 
Este movimento através do qual a produção é vendida, viabilizandoa geração de renda 
que, por sua vez, se transforma em gasto que nada mais é do que a compra daquela mesma 
produção é o chamado fluxo circular de renda, o qual está representado esquematicamente na 
figura abaixo. As setas representam fluxos financeiros. 
 
Figura 11 – Fluxo Circular da Renda 
 
Fluxo circular de renda 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na comparação do PIB de diversos países, é usual utilizar o método chamado de 
Paridade do Poder de Compra (Puchased Power Parity). Esse método consiste em desprezar a 
taxa de câmbio corrente, sujeita às grandes oscilações no dia a dia, e empregar uma taxa de 
câmbio alternativa para transformar o valor do PIB de um país de sua própria moeda para 
dólares. Essa taxa de câmbio alternativa é calculada reunindo-se uma cesta de bens e serviços 
idêntica em todos os países. Se essa cesta custa, por exemplo, R$ 2.100 no Brasil e US$ 1.000 
nos EUA, a taxa de câmbio segundo a Paridade do Poder de Compra será R$ 2,10. Veja 
abaixo como ficam os valores PIBs dos mesmos países listados anteriormente segundo a 
Paridade do Poder de Compra: 
 
Valores em US$ Trilhões em 2009 
 
PRODUÇÃO 
GASTOS RENDA 
33
 33 
1- Estados Unidos- 14,266 2- Japão- 5,048 
3- China- 4,757 4- Alemanha- 3,235 
5- França- 2,634 6- Reino Unido- 2,198 
7- Itália- 2,089 8- Brasil- 1,481 
9- Espanha- 1,438 10- Canadá- 1,319 
Fonte: Fundo Monetário Internacional - World Economic Outlook Database, 2010. 
 
Numa economia fechada, isto é, sem relações com o exterior, vale sempre a igualdade 
entre produto agregado, renda agregada e gasto agregado. Mas a representação do fluxo 
circular de renda, no qual a produção agregada, a renda agregada e o gasto agregado são 
necessariamente iguais, nos permite representar uma outra relação, tão importante quanto a 
relação (3.1), mostrada acima. Se a produção se transforma em renda (alguns autores usam o 
jargão PIB => RIB, ou seja, Produto Interno Bruto gerando a Renda Interna Bruta) a renda, 
por sua vez, não poderia ser desagregada, da mesma forma que desagregamos o PIB? De que 
forma as pessoas em geral alocam sua renda em uma economia fechada e sem governo? 
Nesta situação hipotética, só há duas coisas que se pode fazer com a renda: consumir 
ou poupar. Se o seu consumo for menor que sua renda, então sua poupança será positiva, isto 
é, haverá um excedente de renda que poderá ser emprestado. Mas emprestado para quem? Se 
alguém possui gastos maiores que sua renda, terá uma poupança negativa, isto é, precisará 
pedir emprestado (caso esta pessoa não tenha ela mesma poupado no passado). Além disso, 
como vimos, as próprias empresas precisam de recursos de terceiros para investir. Assim, 
neste exemplo hipotético, aqueles que têm poupança positiva podem emprestar para aqueles 
que têm poupança negativa ou que precisam investir. Ainda assim, só há duas coisas a fazer 
com a renda: consumir ou poupar. E como a renda agregada é igual ao produto agregado (que 
nada mais é do que o PIB), chegamos à seguinte relação: 
 
PIB = consumo agregado + poupança agregada, ou 
(3.2) PIB = C + S 
 
Agora observe. Vamos colocar lado a lado as relações (3.1) e (3.2) apresentadas 
acima
3
: 
 
3
 Note: em Macroeconomia, investimento não é sinônimo de aplicação financeira. Neste contexto, investimento 
significa a produção de bens e serviços que são utilizados na produção de outros bens e serviços sem serem 
transferidos diretamente para estes novos produtos. Assim, bens de investimento são, tipicamente, máquinas, 
34
 34 
 
(3.1) PIB = C + I Produto e Gasto Agregados 
(3.2) PIB = C + S Renda Agregada 
 
Considerando estas duas igualdades (na verdade, estas duas identidades, pois resultam 
de uma definição do que seja o PIB e a Renda Agregada), podemos derivar uma segunda 
relação de grande importância: 
PIB = C + I = PIB = C + S 
C + I = C + S 
(3.3) I = S 
Poupança (=Investimento) em países selecionados como percentual do PIB: 
 China: 39% Índia: 30% 
 Coréia: 30% Espanha: 28% 
 Turquia: 26% Japão: 24% 
 Brasil: 19% Argentina: 19% 
 EUA: 18% Bolívia: 12% 
 
Os dados acima mostram que os países com maior potencial de crescimento sustentado 
a longo prazo são os que têm maiores taxas de investimento e poupança. Um país com a 
China pode manter a taxa de crescimento do PIB perto de 10% ao ano em média graças a um 
nível de investimento próximo a 40% do próprio PIB. Outros países como Brasil e Argentina 
têm crescido muito pouco nos últimos dez anos (em média), pois não investem o suficiente 
para sustentar o crescimento. Em algum momento, países que se deparam com baixos níveis 
de investimento ou terão falta de capacidade produtiva ou terão que importar bens e serviços 
em escala crescente (caso dos EUA). 
A identidade (3.3) mostra que, em uma economia fechada e sem governo, o 
investimento agregado é necessariamente igual à poupança agregada. Caso o país hipotético 
em questão consuma demais, haverá menos recursos disponíveis para o investimento. A 
capacidade produtiva estará sendo destinada prioritariamente para a geração de bens de 
 
equipamentos, instalações industriais, implementos agrícolas, automóveis que são utilizados por empresas de 
transporte de passageiros (taxis, ônibus, etc). Os bens que se transferem para os produtos (areia na construção 
civil, tinta nos automóveis, plástico na indústria de brinquedos) não são bens finais, mas insumos ou matérias-
primas. Do mesmo modo, como veremos adiante, poupança não é sinônimo de caderneta de poupança, 
representando apenas a parcela da renda agregada não consumida no período corrente. 
35
 35 
consumo. Agora, caso as pessoas decidam consumir menos e, portanto, poupar mais (não há 
nada mais a fazer com a renda que não consumir ou poupar), sobrarão recursos que poderão 
ser emprestados para as empresas que poderão investir. Como, em geral, os projetos de 
investimento são feitos, mesmo que parcialmente, com recursos tomados de empréstimo, o 
investimento agregado poderá ser expandido com a ajuda do aumento da poupança. 
Note um detalhe importante. Caso as firmas decidam, por exemplo, reter uma parcela 
dos lucros gerados para financiar seus próprios projetos de investimento, tal retenção de 
lucros também será caracterizada como poupança. Isto porque, as firmas, por decisão de seus 
proprietários e/ou acionistas, não transferem os lucros, na forma de rendas, para estes mesmos 
proprietários e acionistas. Assim, em última análise, foram eles mesmos que tomaram a 
decisão de poupar recursos que eram seus por direito, deixando-os acumulados na firma. 
Assim, é como se a firma financiasse, ainda que parcialmente, seus projetos de investimento, 
com recursos dos próprios donos da empresa. 
Outra observação importante é que poupança, em Macroeconomia, não é sinônimo de 
caderneta de poupança. Poupança é simplesmente a parcela da renda que não é consumida no 
período analisado, seja ela emprestada diretamente a algum agente que precise de recursos, 
seja ela aplicada no sistema financeiro em qualquer tipo de aplicação financeira. 
 
3.1.3 PIB e PNB 
Agora, vamos supor que nossa economia hipotética possui um único tipo de relação 
com o exterior. Ainda não há importação ou exportação de bens, por exemplo, mas 
suponhamos que existem empresas

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