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Alguns Comentários Preliminares 1 Uma parte significativa dos exemplos e problemas apresentados ao longo do nosso es- tudo da termodinâmica envolve a análise de processos que ocorrem em equipamentos como centrais termoelétricas, células de combustível, refrigeradores por compressão de vapor, resfriadores termoelétricos, turbinas, motores de foguetes e equipamen- tos de decomposição do ar. Neste capítulo introdutório, apresentaremos uma breve descrição desses equipamentos. Há, pelo menos, duas razões para a inclusão deste capítulo no livro. A primeira é que muitos estudantes tiveram pouco contato com tais equipamentos e a solução de problemas será mais bem compreendida quando eles já tiverem alguma familiaridade com os processos reais e os equipamentos. A segunda razão é que este capítulo fornece uma introdução à termodinâmica, incluindo a utili- zação de certos termos (que serão rigorosamente definidos em capítulos posteriores), analisa certos problemas em que a termodinâmica pode ser aplicada e apresenta al- guns avanços que, pelo menos em parte, devem-se à aplicação da termodinâmica. A termodinâmica é importante para muitos outros processos que não são abor- dados neste capítulo. Ela é fundamental, por exemplo, para o estudo dos materiais, das reações químicas e dos plasmas. Os estudantes devem ter em mente que este capítulo é somente uma breve introdução, portanto, incompleta ao estudo da termo- dinâmica. 1 Alguns Comentários Preliminares termo 01.indd 1 09.06.10 15:53:18 2 Fundamentos da Termodinâmica 1.1 INSTALAÇÃO SIMPLES DE UMA CENTRAL TERMOELÉTRICA A VAPOR A Figura 1.1 mostra o esquema de uma central ter- moelétrica instalada recentemente. Observe que vapor superaquecido a alta pressão deixa o tambor da cal- deira, também chamada de gerador de vapor, e entra na turbina. O vapor é expandido na turbina e, em o fazendo, realiza trabalho, o que possibilita à turbina acionar o gerador elétrico. O vapor, agora a baixa pres- são, deixa a turbina e entra no trocador de calor, onde calor é transferido do vapor (condensando-o) para a água de resfriamento. Como é necessária uma grande quantidade de água de resfriamento, as centrais ter- moelétricas são frequentemente instaladas próximas a rios ou lagos, causando a poluição térmica dessas fontes de água. A água de resfriamento também pode ser resfriada em grandes torres de resfriamento em que a redução da temperatura é alcançada à custa da evaporação de uma parte dessa água. A água de res- friamento do condensador presente na central indica- da na Figura 1.1 é utilizada para aquecer ambientes localizados na região vizinha à central termoelétrica. A pressão do condensado que sai do condensador é aumentada na bomba, permitindo que ele escoe de volta para o gerador de vapor para ser reutilizado. Os recuperadores de calor, ou pré-aquecedores de água, são muito empregados nos ciclos de potência a vapor. Em muitas centrais termoelétricas, o ar utilizado na combustão também pode ser pré-aquecido pelos ga- ses de combustão. Esses gases de exaustão também precisam ser limpos antes de serem descarregados na atmosfera. É importante observar que existem várias complicações apesar de se tratar de um ciclo simples. A Figura 1.2 é uma fotografia da central esboçada na Figura 1.1. O prédio alto, mostrado na parte esquer- da da figura, é a casa das caldeiras. Perto dela estão posicionados os prédios que abrigam a turbina e ou- tros componentes da central. A figura também mostra a chaminé acoplada à caldeira, que é bastante alta, e o navio que transporta o carvão consumido na caldei- ra. Essa central de potência, localizada na Dinamarca, atingiu uma eficiência térmica recorde na época de sua inauguração, convertendo 45% dos 850 MW da energia disponível da queima do carvão em energia elétrica. Quarenta e sete por cento da potência térmica da cen- tral são aproveitados para aquecimento de ambientes localizados nas proximidades da usina. Em centrais de potência mais antigas essa energia era simplesmente rejeitada no ambiente, sem que fosse aproveitada. A central termoelétrica a vapor descrita anterior- mente utiliza carvão mineral como combustível. O gás natural, os óleos combustíveis e as biomassas também são utilizados como combustíveis em outras centrais termoelétricas. Algumas centrais termoelétricas no mundo operam a partir do calor gerado pelas reações nucleares em vez da oxidação de combustíveis. A Figu- ra 1.3 mostra o esquema de uma instalação propulsora naval nuclear. Um fluido secundário circula pelo reator, absorvendo o calor gerado pelas reações nucleares que ocorrem no equipamento. Esse calor é então transferi- do do fluido secundário para a água no gerador de va- por. Esse ciclo ocorre da mesma forma que o mostrado no exemplo anterior, mas nesse caso a água de resfria- mento utilizada no condensador é a água do mar, que é devolvida para o mar a uma temperatura mais alta. Figura 1.1 Esquema de uma central termoelétrica a vapor. Sistema de distribuição elétrico Chaminé Calcário Cinza volante Moedor de carvão Óleo Ar Cinza fundida Silo de carvão Turbina Gerador elétrico Sistema de resfriamento (aquecimento distrital) Trocador de calor Lavador de gases Despoeirador Tambor de vapor (tubulão) Produtos de combustão Bomba termo 01.indd 2 09.06.10 15:53:18 Alguns Comentários Preliminares 3 Figura 1.2 Central termoelétrica Esbjerg, Dinamarca. (Cortesia da Vestkraft, 1996.) Blindagem do reator Embreagem Bateria M. G. Mancal Motor elétrico de propulsão SALA DE MÁQUINAS Redutor Condensador principal Blindagem do sistema nuclear Gerador de vapor Bomba de resfriamento do reator Bomba Bomba Entrada de água do mar Pressurizador Varas de controle Reator Válvula de controle Turbina principal Gerador Figura 1.3 Diagrama do sistema nuclear de propulsão naval. (Cortesia da Babcock and Wilcox Co.) 1.2 CÉLULA DE COMBUSTÍVEL Quando uma usina termoelétrica convencional é con- siderada globalmente, como mostrado na Figura 1.4, verificamos que o combustível e o ar entram, enquanto os produtos da combustão saem da unidade. Há tam- bém uma transferência de calor para a água de res- friamento e é produzido trabalho na forma de energia elétrica. O objetivo global da central termoelétrica é converter a disponibilidade (para produzir trabalho) do combustível em trabalho (na forma de energia elé- trica) da maneira mais eficiente possível, mas levando em consideração os custos envolvidos, o espaço neces- sário, a segurança e aspectos ambientais. Poderíamos perguntar se todos os equipamentos da usina, tais como o gerador de vapor, a turbina, o condensador e a bomba são necessários para a pro- dução de energia elétrica. Não seria possível produzir energia elétrica a partir do combustível de uma forma mais direta? Central termoelétrica Combustível Ar Produtos de combustão Transferência de calor para a água de resfriamento Energia elétrica (trabalho) Figura 1.4 Diagrama esquemático de uma central termoelétrica. termo 01.indd 3 09.06.10 15:53:19 4 Fundamentos da Termodinâmica A célula de combustível atinge esse objetivo. A Fi- gura 1.5 mostra o esquema de uma célula de combus- tível do tipo membrana de troca iônica. Nessa célula, o hidrogênio e o oxigênio reagem para formar água. O gás hidrogênio entra pelo lado do anodo e é ionizado na superfície da membrana de troca iônica, como indi- cado na Figura 1.5. Os elétrons fluem pelo circuito ex- terno, enquanto os íons positivos de hidrogênio atra- vessam a membrana. No catodo ambos reagem com o oxigênio para formar água. Há uma diferença de potencial entre o anodo eo catodo, resultando num fluxo elétrico que, em termos termodinâmicos, é chamado de trabalho. É possível que também ocorra uma transferência de calor da cé- lula de combustível para o ambiente1. Atualmente, o combustível mais utilizado em cé- lulas de combustível é o hidrogênio ou uma mistura gasosa de hidrocarbonetos e hidrogênio. O oxidante normalmente é o oxigênio. Entretanto, as pesquisas atuais estão voltadas para o desenvolvimento de cé- lulas de combustível que utilizam hidrogênio ou hi- drocarbonetos e ar. Embora as termoelétricas a vapor convencionais ou nucleares ainda sejam amplamente empregadas para geração de energia em larga escala, e embora motores convencionais de combustão interna Figura 1.5 Esquema de uma célula combustível do tipo membrana de troca de ions. __ 1 O termo ambiente aqui se refere à região exterior ao sistema que está sendo analisado. O termo “vizinhanças do sistema” ou sim- plesmente “vizinhanças” também é amplamente utilizado para essa designação (N.T.). Figura 1.6 Esquema de um ciclo simples de refrigeração. Anodo Membrana de troca de ions Eletrodos catalíticos Catodo Carga Câmaras de gás OxigênioHidrogênio H2O 4e– 4e– – + 2H2O O2 4e– 4H+ 2H2 4e– 4H+ e turbinas a gás ainda sejam utilizados como sistemas propulsores de meios de transporte, a célula de com- bustível poderá se tornar uma séria competidora. Ela já tem sido utilizada como fonte de energia em satéli- tes artificiais e outras aplicações especiais. A termodinâmica desempenha um papel vital na análise, no desenvolvimento e no projeto de todos os sistemas geradores de potência, incluindo-se os moto- res alternativos de combustão interna e as turbinas a gás. Considerações como aumento de eficiência, aper- feiçoamento de projetos, condições ótimas de opera- ção e métodos alternativos de geração de potência envolvem, entre outros fatores, a cuidadosa aplicação dos princípios da termodinâmica. 1.3 CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO DE VAPOR A Figura 1.6 mostra o esquema de um ciclo simples de refrigeração por compressão de vapor. O refrigerante entra no compressor como vapor ligeiramente supera- quecido a baixa pressão. O vapor é descarregado do compressor e entra no condensador como vapor numa pressão elevada. A condensação do refrigerante é rea- lizada no condensador à custa da transferência de ca- lor para a água de refrigeração ou para o ambiente (vi- zinhanças). O refrigerante deixa o condensador como líquido a uma pressão elevada. A pressão do líquido é reduzida ao escoar pela válvula de expansão e isso provoca a vaporização instantânea de parte do líquido. O líquido restante, agora a baixa pressão e tempera- tura, é vaporizado no evaporador como resultado da Compressor Trabalho Vapor a baixa pressão Transferência de calor para o ar ambiente ou água de refrigeração Líquido a alta pressão Válvula de expansão Mistura de líquido e vapor a baixa pressão Condensador Vapor a alta pressão Evaporador Transferência de calor do espaço refrigerado termo 01.indd 4 09.06.10 15:53:19 Alguns Comentários Preliminares 5 transferência de calor do ambiente refrigerado para o fluido refrigerante. Após essa operação, o vapor retor- na ao compressor. Em um típico refrigerador doméstico, o compres- sor está localizado na parte traseira inferior do equi- pamento. Os compressores são geralmente selados hermeticamente, isto é, o motor e o compressor são montados numa carcaça fechada e os fios elétricos do motor atravessam a carcaça. Isso é feito para evitar o vazamento do fluido refrigerante. O condensador também está localizado na parte posterior do refrigerador e colocado de tal maneira que o ar ambiente escoa pelo condensador por convec- ção natural. A válvula de expansão apresenta a forma de um longo tubo capilar e o evaporador envolve o con- gelador existente no interior do refrigerador. A Figura 1.7 mostra uma unidade centrífuga de grande porte que é utilizada para prover a refrigera- ção numa unidade de ar condicionado. Nessa unidade, a água é resfriada e depois enviada aos locais onde é necessário o resfriamento do ar. 1.4 O REFRIGERADOR TERMOELÉTRICO Podemos fazer para o refrigerador por compressão de vapor a mesma pergunta que fizemos para a central de potência a vapor, isto é, não seria possível alcançar nosso objetivo de uma maneira mais direta? Não seria possível, no caso do refrigerador, utilizar diretamente a energia elétrica (que alimenta o motor elétrico que aciona o compressor) para prover a refrigeração e, as- sim, evitar os custos do compressor, condensador, eva- porador e das tubulações necessárias? O refrigerador termoelétrico é a maneira de con- segui-lo. A Figura 1.8a mostra o esquema de um re- frigerador desse tipo que utiliza dois materiais dife- rentes, de maneira similar ao termopar convencional. Há duas junções entre esses dois materiais num refri- gerador termoelétrico. Uma está localizada no espaço refrigerado e a outra no ambiente. Quando uma dife- rença de potencial é aplicada, a temperatura da junção localizada no espaço refrigerado diminui e a tempera- tura da outra junção aumenta. Operando em regime permanente, haverá transferência de calor do espaço refrigerado para a junção fria. A outra junção estará a uma temperatura maior que a do ambiente e haverá, então, transferência de calor para o ambiente. Figura 1.7 Unidade de refrigeração de um sistema de ar condicionado. (Cortesia de Carrier Air Conditioning Co). termo 01.indd 5 09.06.10 15:53:19 6 Fundamentos da Termodinâmica Um refrigerador termoelétrico também poderá ser utilizado para gerar potência, substituindo-se o espa- ço refrigerado por um corpo a uma temperatura acima da ambiente. Esse sistema é mostrado na Figura 1.8b. O refrigerador termoelétrico ainda não compete economicamente com as unidades convencionais de compressão de vapor, mas em certas aplicações espe- ciais o refrigerador termoelétrico já é empregado. Ten- do em vista as pesquisas em andamento e os esforços para o desenvolvimento desse campo, é perfeitamente possível que, no futuro, os refrigeradores termoelétri- cos sejam muito mais amplamente utilizados. Figura 1.8 (a ) Refrigerador termoelétrico. (b ) Gerador termoelétrico. Transferência e calor do espaço refrigerado Material A Transferência de calor para o ambiente Transferência de calor para o ambiente i Material B i +– Junção quenteJunção quente Eletrodos de metal Eletrodos de metal Transferência de calor de um corpo a alta temperatura Material A i Material B i + Carga Junção friaJunção fria Junção fria (a) (b) Junção quente 1.5 O EQUIPAMENTO DE DECOMPOSIÇÃO DO AR Um processo de grande importância industrial é a decomposição do ar nos seus vários componentes. O oxigênio, o nitrogênio, o argônio e os gases nobres são obtidos desse modo e podem ser extensivamente uti- lizados em várias aplicações industriais, espaciais e de bens de consumo. O equipamento de decomposi- ção do ar pode ser considerado como um exemplo de dois campos principais: o da indústria dos processos químicos e o da criogenia. Criogenia é um termo que diz respeito à tecnologia, processos e pesquisas em temperaturas muito baixas (geralmente inferiores a –125 °C). A termodinâmica é básica para a compre- ensão de muitos fenômenos que ocorrem tanto nos processos químicos como na criogenia, e, assim, ela é fundamental no projeto e desenvolvimento de proces- sos e equipamentos. Várias concepções de instalações para a decompo- sição do ar foram desenvolvidas. A Figura 1.9 mostra o diagrama simplificado de um dos tipos dessas insta- lações. Comprime-se o ar atmosférico até uma pressãode 2 a 3 MPa (20 a 30 vezes a pressão atmosférica pa- drão). O ar é, então, purificado, com a finalidade espe- cial de se remover o dióxido de carbono, pois ele se so- lidifica quando o ar é resfriado até sua temperatura de liquefação, o que bloquearia as seções de escoamento. O ar é, então, comprimido até uma pressão que pode variar de 15 a 20 MPa, resfriado até a temperatura am- biente no resfriador posterior e seco para remover o vapor d’água da mistura (que também obstruiria as seções de escoamento ao solidificar). A refrigeração básica no processo de liquefação é alcançada com dois processos diferentes. Um envolve a expansão do ar no expansor. Durante esse processo o ar realiza trabalho e, em consequência, sua tempera- tura é reduzida. O outro processo de refrigeração en- volve a passagem do ar por uma válvula de estrangula- mento, projetada e localizada de tal forma que provoca uma queda substancial da pressão do ar e, associada a esta, uma queda significativa da temperatura. A Figura 1.9 mostra que o ar, seco e a alta pres- são, entra num trocador de calor. A temperatura do ar diminui à medida que este escoa pelo trocador de calor. Num ponto intermediário do trocador de ca- lor, uma parte do ar é desviada ao expansor. O res- tante do ar continua a escoar pelo trocador de calor e pela válvula de estrangulamento. As duas correntes se misturam, numa pressão que varia de 0,5 a 1 MPa, e entram na parte inferior da coluna de destilação que também é conhecida por coluna de alta pressão. A função dessa coluna é separar o ar em seus vários componentes (principalmente oxigênio e nitrogênio). Duas correntes de composições diferentes escoam da coluna de alta pressão para a coluna superior (também termo 01.indd 6 09.06.10 15:53:20 Alguns Comentários Preliminares 7 conhecida por coluna de baixa pressão) passando por válvulas de estrangulamento. Uma dessas correntes consiste num líquido rico em oxigênio que escoa da parte inferior da coluna mais baixa e a outra consiste numa corrente rica em nitrogênio que escoa através do subresfriador. A separação é finalizada na coluna superior, com o oxigênio líquido saindo pelo fundo e o nitrogênio gasoso pelo topo da coluna superior. O nitrogênio gasoso escoa através do subresfriador e do trocador de calor principal. A transferência de calor ao nitrogênio gasoso frio provoca o resfriamento do ar que entra no trocador de calor a alta pressão. A análise termodinâmica é essencial para o pro- jeto global desse sistema e cada componente isolado, incluindo-se os compressores, o expansor, os purifica- dores, os secadores e a coluna de destilação funcionam de acordo com princípios da termodinâmica. Nesse processo de separação devemos lidar com as proprie- dades termodinâmicas das misturas e também com os princípios e procedimentos para sua separação. Esse tipo de problema é encontrado na refinação do petróleo e em muitos outros processos químicos. É importante ressaltar que a criogenia é fundamental para muitos aspectos do programa espacial e que é essencial um conhecimento amplo da termodinâmica para realizar um trabalho criativo e efetivo nessa área. 1.6 TURBINA A GÁS A operação básica de uma turbina a gás é similar à do ciclo de potência a vapor, mas o fluido de trabalho utilizado é o ar em vez da água. Ar atmosférico é as- pirado, comprimido num compressor, e encaminhado, a alta pressão, para uma câmara de combustão. Nessa câmara o ar é misturado com o combustível pulveri- zado e é provocada a ignição. Desse modo, obtém-se um gás a alta pressão e temperatura que é enviado a uma turbina onde ocorre a expansão dos gases até a pressão de exaustão. O resultado dessas operações é a obtenção de potência no eixo da turbina. Essa potên- cia é utilizada no compressor e em outros dispositivos, como um gerador elétrico, que pode ser acoplado ao eixo. A energia que não for utilizada para trabalho de eixo permanece nos gases de combustão, que possuem alta temperatura ou alta velocidade. A finalidade da turbina a gás irá caracterizar o projeto, de modo que a produção da forma de energia mais desejada seja maximizada. A Figura 1.10 mostra uma turbina a gás estacionária, de grande porte, e que é utilizada na ge- ração de potência. A unidade apresenta 16 estágios de compressão, 4 estágios de expansão e potência igual a 43 MW (43000 kW). Note que, como a combustão consome o oxigênio do ar, os gases de exaustão não podem ser reciclados como ocorre com a água no ciclo de potência a vapor. A turbina a gás é usualmente preferida como sis- tema gerador de potência nos casos em que existe problema de disponibilidade de espaço físico e se ne- cessita de muita potência. Os exemplos são: motores aeronáuticos, centrais de potência para plataformas de petróleo, motores para navios e helicópteros, pequenas centrais de potência para distribuição local e geradores Figura 1.9 Diagrama simplificado de uma instalação de oxigênio líquido. Oxigênio líquido Tanque de oxigênio líquido Nitrogênio gasoso Coluna de destilação Subres- friador Absorvedor de hidrocarbonetos Válvula de estrangulamento Expansor Tomada de ar fresco Compressor de baixa pressão Purificador de ar Compressor de alta pressão Pós-resfriador Trocador de calor Secador de ar termo 01.indd 7 09.06.10 15:53:20 8 Fundamentos da Termodinâmica de potência para atendimento de picos de consumo em centrais de potência maiores. Como os gases de exaus- tão apresentam temperaturas relativamente altas, pode ser proposto um arranjo para que esses gases aqueçam a água que alimenta uma central de potência a vapor antes de serem descarregados para a atmosfera. Nos exemplos mencionados anteriormente, as aplicações do motor a jato e do turbopropulsor utilizam parte da potência para descarregar os gases a alta velocidade. É isso que produz o empuxo que movimenta o avião. As turbinas a gás nessas aplicações são, portanto, di- ferentes daquelas projetadas para centrais de potência estacionárias, de onde a energia é extraída como tra- balho de eixo para um gerador elétrico. A Figura 1.11 mostra um motor a jato, do tipo “turbofan”, utilizado em aviões comerciais. Note que o primeiro estágio de compressão, localizado na região próxima à seção de entrada do ar na turbina, também força o ar a escoar sobre a superfície externa do motor, proporcionando o seu resfriamento e também um empuxo adicional. Figura 1.10 Turbina a gás de 43 MW. (Cortesia da General Electric Co.) Figura 1.11 Motor a jato Turbofan. (Cortesia da General Electric Aircraft Engines.) Escoamento principal Escoamento secundário (”Bypass”) termo 01.indd 8 09.06.10 15:53:22 Alguns Comentários Preliminares 9 1.7 MOTOR QUÍMICO DE FOGUETE O advento dos mísseis e satélites pôs em evidência o uso do motor de foguete como instalação propulsora. Os motores químicos de foguetes podem ser classifica- dos de acordo com o tipo de combustível utilizado, ou seja, como propelente sólido ou líquido. A Figura 1.12 mostra o diagrama simplificado de um foguete de propelente líquido. O oxidante e o com- bustível são bombeados através da placa injetora para a câmara onde ocorre a combustão a alta pressão. Os produtos de combustão a alta temperatura e pressão expandem-se ao escoarem através do bocal. O resulta- do dessa expansão é uma alta velocidade de descarga dos produtos. A variação da quantidade de movimento associada a esse aumento da velocidade de escoamen- to fornece o empuxo sobre o veículo. O oxidante e o combustível devem ser bombeados para a câmara de combustão. Para que isso ocorra, é necessária uma instalação de potência auxiliar para acionar as bombas. Essa instalação, nos grandes fo- guetes, deve sermuito confiável e apresentar potência relativamente alta; todavia, deve ser leve. Os tanques do oxidante e do combustível ocupam a maior parte do volume de um foguete, cujo alcance é determinado principalmente pela quantidade de oxidante e de com- bustível que podem ser carregados. Diversos combus- tíveis e oxidantes têm sido considerados e testados, e muito esforço tem sido demandado no desenvolvi- mento de combustíveis e oxidantes que proporcionem o maior empuxo por unidade de fluxo mássico dos rea- gentes. O oxigênio líquido é frequentemente utilizado como oxidante nos foguetes de propelente líquido, e o hidrogênio líquido como combustível. Muitas pesquisas também foram realizadas para desenvolver os foguetes de propelente sólido. Esses foguetes apresentaram bons resultados no auxílio da decolagem de aviões e na propulsão de mísseis mili- tares e de veículos espaciais. Embora sejam mais difí- ceis de controlar, eles requerem equipamentos básicos mais simples para a operação e há menos problemas de logística envolvidos no seu uso. 1.8 OUTRAS APLICAÇÕES E ASPECTOS AMBIENTAIS A termodinâmica é relevante na análise de muitas ou- tras aplicações. O calor produzido pela decomposição do lixo urbano em aterros municipais, que contém muito material orgânico, tem sido utilizado para a pro- dução de energia elétrica. Além disso, o gás metano produzido na decomposição do lixo urbano tem sido coletado para ser utilizado como combustível. As fon- tes geotérmicas de calor, a energia solar e a energia dos ventos também têm sido utilizadas na produção de energia elétrica. Combustíveis têm sido convertidos de uma forma em outra, visando a uma maior conveniên- cia e facilidade de uso, como ocorre na gaseificação do carvão mineral e na síntese de combustíveis líquidos a partir de biomassa. As hidrelétricas têm sido utiliza- das há muito tempo na produção de energia elétrica. A termodinâmica também é relevante na análise do processo de cura das estruturas de concreto, que pro- duz calor, do resfriamento de componentes e equipa- mentos eletrônicos, dos processos criogênicos (como a criocirurgia e o congelamento rápido de alimentos) e de muitos outros processos importantes. Muitas das aplicações mencionadas aqui serão examinadas em detalhes nos capítulos subsequentes deste livro. Devemos também nos preocupar com os aspectos ambientais relacionados com os processos e equipa- mentos que foram desenvolvidos com os conhecimentos Figura 1.12 (a ) Esquema simplificado de um foguete a combustível líquido. (b ) Fotografia do motor principal de nave espacial da NASA. Tanque de oxidação Tanque de combustível Instalação auxiliar para acionamento das bombas BombaBomba Placa do injetor Câmara de combustão Bocal Gases de combustão a alta velocidade (a) (b) termo 01.indd 9 09.06.10 15:53:22 10 Fundamentos da Termodinâmica da termodinâmica. Um exemplo é a central termoelétri- ca a vapor, que produz eletricidade, profundamente in- corporada na sociedade. Nos últimos anos, entretanto, ficou claro que temos de levar em consideração os efei- tos da implantação e operação dessas centrais sobre o ambiente. A combustão de hidrocarbonetos e de carvão mineral produz dióxido de carbono que é lançado na at- mosfera, aumentando a concentração desse componen- te. O CO2, assim como alguns outros gases, absorve a radiação infravermelha emitida pela superfície da Ter- ra e, assim, propicia o “efeito estufa”, responsável pelo aquecimento global e pelas mudanças significativas do clima em todo o planeta. A queima de outros combus- tíveis em centrais termoelétricas e em motores a diesel ou a gasolina também produzem outros poluentes além dos dois já citados. Componentes como o monóxido de carbono, óxidos nítricos e combustíveis parcialmente oxidados, juntamente com material particulado, con- tribuem para a poluição atmosférica e por isso têm a emissão limitada por leis em muitas aplicações. Con- versores catalíticos instalados nos automóveis ajudam a minimizar o problema da poluição. A Figura 1.1 mostra o sistema de limpeza dos gases de exaustão e remoção de cinzas incorporados nas centrais de potência para combater esses problemas. A poluição térmica associa- da com o resfriamento da água de centrais termoelétri- cas já foi discutida na Seção 1.1. Os sistemas de refrigeração e ar condicionado, e alguns outros processos industriais, utilizam compos- tos fluorclorados de carbono que, quando emitidos na atmosfera, provocam a destruição da camada proteto- ra de ozônio. Muitos países proibiram a fabricação de alguns desses compostos e incentivaram de modo sig- nificativo a substituição deles por substâncias menos nocivas ao ambiente. Esses são apenas alguns dos problemas ambien- tais provocados pelos nossos esforços para produzir bens e melhorar o nosso padrão de vida. É necessário manter a atenção sobre o assunto ao longo do nosso estudo da termodinâmica, que é a ciência que estuda as conversões de energia. Devemos pensar em como eliminar ou, pelo menos, minimizar os efeitos noci- vos, usando os recursos naturais de forma eficiente e responsável. termo 01.indd 10 09.06.10 15:53:23
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