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1 PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO Graduação PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 23 U N ID A D E 2 AS PRINCIPAIS MATRIZES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XX Na unidade 1, vimos o trajeto histórico da Psicologia como chega ao século XX, trazendo uma herança marcada pelo positivismo. Nesta unidade, vamos conhecer os desdobramentos da Psicologia e as principais matrizes teóricas do século XX. OBJETIVOS DA UNIDADE: • conhecer as três principais correntes teóricas da Psicologia do século XX. • identificar as principais características, métodos de investigação, objeto e conceitos das correntes teóricas. PLANO DE UNIDADE: As principais matrizes teóricas da Psicologia no século XX: • O Behaviorismo. • A Gestalt. • A Psicanálise. Bons estudos! UNIDADE 2 - AS PRINCIPAIS MATRIZES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XX 24 Você percebe, então, que a Psicologia ingressa no século XX com três abordagens diferentes, mas que todas elas estão plenamente adaptadas aos padrões de ciência, ou seja, o conhecimento científico produzido a partir do uso de instrumentos de observação e medição em laboratórios. É possível perceber, então, como destaca Jobim (2005, p.20) que a Psicologia, componente das ciências humanas: “(...) reivindicando o status de serem científicas, aderiram ao universo do pensamento axiomático, calcado na lógica matemática, substituindo progressivamente o mundo da realidade humana, chegando mesmo a abolir a própria distinção entre pessoas e coisas”. Vamos pensar juntos: qual o preço pago pela sua cientificidade? De que teve de abrir mão para merecer esse status? O dilema vivido atualmente pelas ciências humanas, ou seja, quanto mais busca a neutralidade científica e objetividade mais se distancia de sua humanidade, traz uma nova concepção de ciência humana. Como destaca Jobim (2005, p.34) “A existência e a legitimidade das ciências humanas estão exatamente no enfrentamento dessa complexidade, e não na sua negação (...). A verdade que as ciências humanas buscam desvendar não se encontra, de modo algum, na univocidade de seus métodos, mas ao contrário, está na possibilidade permanente de rever e enfrentar suas contradições no bojo das práticas sociais”. Como vimos na unidade anterior, no século XX, a Psicologia está atrelada à lógica da produção e seus mecanismos de manutenção e a própria ciência serve a esse propósito. BEHAVIORISMO Das correntes teóricas que caracterizam a Psicologia do século XX, a que mais se afina com a perspectiva positivista, é o behaviorismo. Com o texto de 1913 intitulado “Psicologia: como os behavioristas a vêem”, John B. Watson apresenta à comunidade científica uma abordagem teórica da Psicologia cuja tônica é o comportamento, por isso o conceito behaviorismo, do termo inglês “behavior”, que significa comportamento. Mas fique atento: dependendo do autor consultado, essa mesma corrente teórica pode ser designada por outras terminologias, como comportamentalismo, teoria comportamental ou análise experimental do comportamento. Como um objeto de estudo observável, mensurável, cujos métodos de investigação pudessem ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos, a Psicologia estaria emancipada da visão “mentalista” e de métodos subjetivos que insistem em associar-se à Psicologia. Assim, o importante era preocupar-se com o que as pessoas fazem e não com discussões sobre a consciência. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 25 Os estudos de Watson foram fortemente influenciados pela idéia de condicionamento clássico de Pavlov (1849 – 1936), pesquisador russo, que desenvolveu estudos na área do comportamento, utilizando-se de cães. Conforme escreveu Watson (apud: NEWCOMBE, 1999, p.27-28): Dê-me uma dúzia de bebês saudáveis, bem formados, e o mundo que eu especificar para criá-los, e garanto que posso tomar qualquer um deles, aleatoriamente, treiná-lo para se tornar qualquer tipo de especialista que eu venha à escolher – medico, advogado, negociante, chefe e, sim, até mesmo, mendigo e ladrão, não interessando seus talentos, tendências, habilidades, vocações e a raça de seus ancestrais. B. F. Skinner (1904 – 1990) é considerado o mais importante sucessor de Watson na escola Behaviorista. Skinner desenvolve seus estudos com base no conceito de condicionamento operante. Mas como ocorre o condicionamento operante? Segundo Skinner é a ação do organismo sobre o meio e o efeito dele resultante, em outras palavras: agimos sobre o meio em função das conseqüências geradas pelas nossas ações. O estímulo reforçador, ou seja, aquele que é capaz de provocar a repetição daquela resposta é chamado “reforço”. Vamos compreender melhor essa teoria, conhecendo um de seus instrumentos de pesquisa a “caixa de Skinner “: um recipiente fechado no qual se encontrava apenas uma barra. Esta barra, ao ser pressionada por ele, acionava um mecanismo que lhe permitia obter uma gotinha de água. O rato é colocado dentro desta caixa – em privação de água - e espera-se que ele acione a alavanca para obter a água. Inicialmente, será uma resposta acidental, mas Skinner constatou que existe uma grande probabilidade de o rato repetir a ação. Este comportamento operante é representado pelo esquema: R S, onde R é a resposta emitida, neste caso o ato de pressionar a alavanca e S o estímulo reforçador, que, no experimento de Skinner, é a água. Assim, com tais experimentos Skinner elaborou as “leis comportamentais”. O reforço pode ser positivo, quando aumenta a probabilidade da repetição e emissão da resposta que o produz. Assim, o fato de receber a água favorecerá a repetição do comportamento de acionar a alavanca. Ou o reforço pode ser negativo, quando aumenta a probabilidade de emissão da resposta que o remove e, nesse caso, permite a supressão de algo indesejável. UNIDADE 2 - AS PRINCIPAIS MATRIZES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XX 26 O mesmo instrumento experimental poderá nos fazer entender o que é o reforço negativo. Desta vez, ao ser colocado na caixa, o rato levará choques do piso e, mais uma vez, por acaso, pressiona a barra, e assim os choques param. Com isso, constatou-se a probabilidade de aumento da freqüência dessa resposta. Extinção: é um procedimento no qual uma resposta deixa abruptamente de ser reforçada. Como conseqüência, a resposta diminuiria de freqüência e até mesmo poderá deixar de ser emitida. (BOCK, 2002,p.52) Punição: é outro procedimento importante que envolve a conseqüenciação de uma resposta quando há apresentação de um estímulo aversivo ou a remoção de um reforçador positivo presente. (BOCK, 2002,p.52) Aplicação das idéias Behavioristas são percebidas em várias áreas da vida cotidiana, na educação, por exemplo, são reconhecidos métodos de ensino que utilizam conceitos como: controle e organização da aprendizagem, premiação pelo desempenho escolar, entre outros. Essa prática também é recorrente na empresa, nos programas de treinamento e desenvolvimento de funcionários, na clínica psicológica, especialmente no trabalho com pessoas com necessidades educacionais especiais e na publicidade. Como vimos, as teorias comportamentalistas clássicas compartilham de pelo menos três características: 1) buscam uma objetividade impecável; 2) explicam o comportamento em termos moleculares, isto é, de associações estímulo-resposta elementares, não de comportamentos molares, globais, talvez mais difíceis de abordar; 3) fazem poucas referências às intenções do comportamento, exceto no que se refere a necessidades e impulsos específicos. GESTALT Outra escola em Psicologia de grande importância é a Gestalt. Segundo Moreira(1999, p.35-36): “Trata-se de uma orientação psicológica que se ocupa muito mais de variáveis intervenientes do tipo cognições e intenções, dos chamados processos mentais superiores (percepção, resolução de problemas por insight, tomada de decisões, processamento de informação, compreensão)”. Segundo Bock (2002,p. 59) “A Psicologia da Gestalt é uma das tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia” De origem alemã o termo “gestalt” é de difícil tradução para o português, podendo se aproximar do conceito de configuração, organização, PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 27 ou ainda, forma. Entretanto, esses correspondentes da língua portuguesa não expressam a sua complexidade e, portanto, optou-se por manter o termo alemão. A idéia central nessa perspectiva é de que o ser humano tende a perceber a realidade que o envolve como um todo organizado, ou seja, como gestalts. Assim, o todo é mais do que a soma de várias partes que o compõem, mas o todo é uma nova realidade. Assim como o Behaviorismo, o gestaltismo, originário da Alemanha, nasce em oposição ao movimento do estruturalismo. Lembra-se? Segundo eles, compreender a consciência apenas em seus aspectos estruturais a destituía do que havia de mais significativo nela. Por isso, como destaca Moreira (1999, p.45) “A Psicologia da gestalt é, às vezes, chamada de fenomenológica, pois se ocupa do fenômeno ‘o que é dado’, i.e., do evento mental intacto, sem dividi-lo para fins de análise.” Seus precursores foram: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka(1886-1941). Eles buscavam compreender os processos psicológicos da percepção e sensação. Apesar de terem o mesmo objeto de estudo que os behavioristas, o comportamento, os gestaltistas se opunham aos behavioristas, pois com base em seus estudos afirmavam que entre os estímulos do meio e as respostas do indivíduo existe o processo de percepção, ou seja, a forma como nos comportamos está vinculada à percepção que temos dos estímulos provocados pelo meio. Por isso, os gestaltistas definem dois tipos de meio: • geográfico: que é o meio físico, objetivo. • comportamental: que é a realidade subjetiva particular resultante da interpretação que fazemos do meio, através da percepção. A Gestalt, por meio do estudo da percepção, busca compreender o comportamento humano, pois, segundo eles, a maneira como percebemos o mundo exterior irá desencadear nossas atitudes. Portanto, propõem o conceito de “boa forma”: Tudo que é percebido tende a assumir a melhor forma possível. A boa forma significa: simplicidade, simetria, harmonia, concisão. Assim, é possível afirmar que os eventos psicológicos tendem a ser significativos, completos e simples. Subordinados a este princípio central da gestalt estão outros princípios que dele derivam: 1o. princípio da similaridade: itens semelhantes tendem a ser agrupados na percepção; 2o. princípio da proximidade: itens que estão próximos tendem a ser agrupados no campo perceptivo; UNIDADE 2 - AS PRINCIPAIS MATRIZES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XX 28 3o. princípio do fechamento: é a tendência de completar um padrão, as partes ausentes em uma figura, de modo a facilitar sua compreensão. As contribuições de Kurt Lewin Algumas obras, como Moreira(1999), incluem Lewim como gestaltista, sobretudo, porque trabalhou durante dez anos com os fundadores dessa corrente em Berlim. Entretanto, Bock (2002) afirma que “não podemos considerar Lewim como um gestaltista, já que ele acaba seguindo um outro rumo”. Lewim parte da teoria da gestalt para construir um conhecimento novo e genuíno, quando elabora sua “teoria de campo”. Ele descreve o conceito de campo psicológico que caracteriza-se pela totalidade dos fatos coexistentes na relação do indivíduo com o meio ambiente, que incluem não só a percepção, como haviam definido os gestaltistas, como também a personalidade, as emoções, a história de vida na qual estão envolvidas e que representam o “espaço vital” do indivíduo naquele momento. Outro conceito desenvolvido por Lewim foi o de campo social, a partir do qual afirma que o grupo forma uma gestalt, ou seja, não é tão somente a soma de seus membros, mas a configuração (identidade) que aquele conjunto forma, resultante dos processos que ali ocorrem. Suas contribuições estão presentes na Psicologia até os dias de hoje, sobretudo na área dos estudos dos grupos. ‘ PSICANÁLISE Não é possível compreender a psicanálise sem estabelecer uma interlocução com a trajetória de vida de seu “criador”: Sigmund Freud (1856- 1939). Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856 em Freiberg, Moravia. Era o mais velho dos oito filhos do terceiro casamento de Jacob Freud. De origem humilde, formou-se médico em Viena, em 1882. Com a ajuda de uma bolsa de estudos, foi à Itália, onde conheceu e tornou-se amigo de Josef Breuer. Casou-se, em setembro de 1886, com Martha Bernays. Nos três anos seguintes à sua formatura, trabalhou no Hospital Geral de Viena para sustentar-se, o que dificultou sua carreira de pesquisador. Praticou medicina e neurologia até que uma bolsa o levou a Paris onde se tornou aluno do médico Charcot. Incansável, retoma suas pesquisas, em direção à compreensão do universo subjetivo humano. Em 1887 conheceu Wilhelm Fliess, médico judeu berlinense, com o qual trocou correspondências de caráter pessoal e científico, onde iniciou sua auto-análise. A princípio Freud utilizava os meios terapêuticos disponíveis e aceitos na época como massagens, hidroterapia e eletroterapia. Constatando que esses métodos não davam resultados satisfatórios, começou a utilizar a hipnose. Aos poucos foi percebendo que também a hipnose não era suficiente para resolver os conflitos internos de seus pacientes, pois os sintomas PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 29 desapareciam, mas suas causas permaneciam o que provocava o surgimento de novos sintomas. Assim, substituiu a hipnose pela catarse e posteriormente inventou o método da livre associação e, finalmente, a psico-análise. Em 04 de novembro de 1899, escreve o livro “Interpretação dos Sonhos” publicado em 1900. Que, para muitos, é o marco histórico na literatura psicanalítica. Fundou em 1902 a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, primeiro centro de estudos de psicanálise. O médico Eugen Bleuler, chefe da clínica do Hospital Burghölzli de Zurique, iniciou a aplicação do método psicanalítico no tratamento das psicoses. Em 3 de março de 1907 Carl Gustav Jung, assistente de Bleuler, foi conhecer Freud em Viena. Em 1909, em companhia de Jung e de Sandor Ferenzi, a convite de Stanley Hall, Freud pronunciou cinco conferências na Clark University de Worcester, Massachusetts, EUA, publicadas com o título de Cinco lições de psicanálise. E, logo a Psicanálise se tornaria conhecida em todo o mundo. Freud consegue agregar a sua volta muitos amigos e colaboradores, como Adolf Adler, Carl Gustav Jung, para citar alguns, mas desde 1910 começaram algumas dissidências e posteriormente as cisões. Em fevereiro de 1923 foi descoberto um tumor maligno no lado direito do palato. Em decorrência dessa enfermidade, Freud sofreu ao todo 33 cirurgias. Tinha dificuldade para falar, mas mantinha contato com seus interlocutores e mantinha suas atividades de rotina. Em março de 1938, por ocasião da invasão da Áustria pela Alemanha, Freud e sua família deixaram Viena indo exilar-se em Londres. Redigiu nesse país seu último texto, Moisés e o monoteísmo. Freud faleceu em 23 de setembro de 1939. É difícil pensar em um adjetivo capaz de expressar a verdadeira contribuição desse teórico, não somente no que se refere à produção científica da Psicologia e outras ciências, masna vida cotidiana, na cultura e no conhecimento universal. Ainda hoje, utilizamos expressões, como: Freud explica! Para além de um jargão popular, suas idéias e seus ideais invadem o simbolismo do nosso dia-a-dia. Num momento científico de forte contestação, de tendência objetiva e rompimento com a subjetividade, Freud ousou colocar a interioridade humana - o inconsciente - como foco de seus estudos e nesse aspecto a psicanálise se constitui como uma “contraciência”, como destaca Jobim (2005, p.56) Mas de que maneira estudar o inconsciente, se não está em categorias observáveis como determina a ciência moderna e experimental? Se, para a psicanálise, “o que no sujeito é verdadeiro ele não sabe e o que ele sabe não é a sua verdade”(JAPIASSU, 1989, apud: JOBIM, 2005) A resposta está nos signos lingüísticos na palavra a partir da qual o sujeito representa o mundo. Não aquela palavra coerente, despida das contradições, que proclamavam os psicólogos do comportamento, mas, ao UNIDADE 2 - AS PRINCIPAIS MATRIZES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XX 30 contrário, aquela que insiste em se ocultar, entretanto, escapa e tropeça na forma dos chistes, dos sonhos, do esquecido, do que é dito no não dito. Como destaca Jobim (2005, p.57): O objetivo da psicanálise melhor se define por permitir que o sujeito humano assuma a sua história biográfica e cultural, a qual é construída na e pela palavra dirigida ao outro.(…) e é por isso que a psicanálise não elimina o sujeito. Muito controvertida e criticada, por se distanciar da Psicologia convencional, não podemos negar o valor da psicanálise para a compreensão do ser humano até hoje. Portanto, vamos conhecer alguns de seus conceitos fundamentais. A primeira teoria que desenvolve sobre a estrutura do aparelho psíquico foi apresentada pela primeira vez, no livro de 1900, intitulado “A interpretação dos sonhos”, onde descreve a existência de três instâncias psíquicas: Inconsciente: que se refere à zona do nosso psiquismo onde se encontra o “conjunto dos conteúdos não-presentes no campo atual da consciência”. No inconsciente podem estar conteúdos que já estiveram presentes no consciente e foram reprimidos - processo psíquico que visa ocultar da consciência conteúdos(idéias ou representações) dolorosos ou conteúdos originariamente inconscientes, os instintos, do termo alemão trieb - que segundo Teles (2003, p.47) talvez fosse melhor traduzido por “impulso”. Pré-consciente: refere-se à zona onde estão armazenados conteúdos acessíveis à consciência, ou seja, são conteúdos que não estão na consciência, mas que poderão estar no momento seguinte caso sejam requisitados. Consciente: é a instância psíquica que recebe as informações do meio exterior e interior. Segundo Freud apenas uma pequena parte da atividade psíquica é consciente, como a ponta de um iceberg. A segunda teoria do aparelho psíquico remodela a anterior e introduz os seguintes conceitos: Id: corresponde a zona inconsciente e engloba os impulsos primários. É regido pelo princípio do prazer, traduzido pela busca humana pela felicidade, pela satisfação de seus impulsos. O seu contraponto é o princípio da realidade, em que, segundo Freud(1997, p.24), a cultura se impõe aos sujeitos de tal modo que, “[…]um homem pense ser feliz, simplesmente porque escapou à infelicidade ou sobreviveu ao sofrimento[…]”, nesse caso, o princípio da realidade traduz-se pela satisfação pelo simples afastamento do sofrimento. Ego: suas funções principais são: resolver problemas, pensar, planejar e proteger a si mesmo. É a instância psíquica mais em contato com o mundo exterior e tem a responsabilidade de administrar os impulsos vindos do Id e os limites impostos socialmente e incorporados no superego. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 31 Superego: parte inconsciente do aparelho psíquico que representa a interiorização das normas, dos padrões culturais, da moral, é a censura. Quando nascemos, segundo Freud, o que existe é apenas o id, e, portanto, o que importa é a satisfação plena dos impulsos mais primários, mas na medida em que entramos em contato com o mundo exterior, gradualmente o ego vai se constituindo e assumindo a função da preservação do indivíduo, por meio de sua adaptação à realidade. Em decorrência disso, o ego desvia-se do princípio do prazer e o substitui pelo princípio da realidade. Já o superego se origina do Complexo de Édipo. Segundo a mitologia grega, Édipo nasceu com o destino de assassinar o pai e casar- se com a mãe. Sabedores disso, os pais mandaram matá-lo. O encarregado da execução, porém, apiedou-se da criança e deixou-a pendurada pelos pés numa árvore. Um pastor recolheu-a e levou- a para o seu senhor, que não tinha filhos. Assim, Édipo cresceu longe da cidade e de seus verdadeiros pais. Já moço, dirigiu-se a Tebas, cidade onde nascera. No caminho, discutiu com um homem e o matou, sem saber que era o rei de Tebas, seu verdadeiro pai. À porta da cidade, teve que responder ao enigma de uma esfinge. Se errasse a resposta, seria morto, como muitos já tinham sido. O enigma era: ‘Qual é o ser que de manhã tem quatro pés, ao meio dia, dois, e ao entardecer, três? Édipo acertou: “O homem”. De manhã, na infância, engatinha; ao meio dia (durante quase toda vida), anda sobre dois pés; ao entardecer (na velhice), anda sobre os dois pés e apoiado a bengala. Com isso, Édipo entra como herói em Tebas e, mais tarde, casa-se com a rainha, que era sua mãe. Cumpre-se, assim, o destino.1 Ao descobrir que havia se casado com a própria mãe Édipo fura seus próprios olhos. O que motivou Édipo a furar seus próprios olhos? A culpa. É a expressão do superego. Os mecanismos de defesa: São os recursos que usamos para “distorcer” a percepção de uma realidade provocadora de sofrimento ou desorganização psíquica. São mecanismos realizados pelo ego, mas são inconscientes, portanto, não dependem da vontade do indivíduo. Os mecanismos de defesa são: recalque: é a supressão de parte da realidade o que deforma a percepção do todo. Por exemplo: uma pessoa recebe o diagnóstico médico de que é portadora de uma doença crônica, mas suprime a informação de que tem pouco tempo de vida. UNIDADE 2 - AS PRINCIPAIS MATRIZES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XX 32 formação reativa: é o mecanismo em que o indivíduo adota uma atitude diametralmente oposta à um desejo. Por exemplo, superproteção dos pais. regressão: o indivíduo, diante de uma situação desorganizadora, retorna a estados mais primitivos do desenvolvimento. Por exemplo: a criança volta a chupar dedo após o nascimento de um irmão. projeção: o indivíduo projeta algo de si no outro, mas não é capaz de reconhecer em si mesmo tal característica. Por exemplo: o indivíduo é capaz de criticar no outro a intolerância e o preconceito, mas não é capaz de perceber o quanto essa característica está presente nele mesmo. racionalização: neste caso, o indivíduo constrói uma argumentação lógica para justificar estados distorcidos da realidade. Por exemplo: a guerra. Outra contribuição importante de Freud, diz respeito às relações infantis e suas interferências na vida futura do indivíduo. Segundo Freud, a infância é um período complexo permeado por conflitos, portanto, não se trata de um período harmônico e tranqüilo. Ao afirmar a complexidade da infância, Freud contribui para um novo olhar sobre esta fase da vida e, sobretudo, um maior cuidado e atenção quanto aos sentimentos, emoções e experiências primárias do ser humano. Propõe o processo de desenvolvimento psicossexual do indivíduo. Para compreendermos o desenvolvimento psicossexual proposto por Freud, precisamos conhecer alguns de seus aspectos: • a função sexual existe desdeo início da vida; portanto, postula a existência da sexualidade infantil; • o período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar a fase adulta; • a libido é a energia, dos instintos sexuais; • segundo Freud, a libido esta localizada em diferentes partes do corpo identificadas como zonas erógenas. Assim define as seguintes fases do desenvolvimento sexual: • fase oral: nesta fase a zona erógena é a boca. • fase anal: zona erógena é o ânus. • fase fálica: a zona erógena é o órgão sexual. • fase de latência: não há uma zona erógena nesta fase. A energia vital está voltada para os aspectos intelectuais. • fase genital: a libido está localizada nos órgãos sexuais. PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 33 É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Nesta unidade, estudamos os principais conceitos sobre o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Na próxima unidade, vamos conhecer o ramo da Psicologia que tem o “desenvolvimento humano” como objeto de estudo. Até lá! NOTA 1 Texto extraído de: CORDI, C. et.al. Para filosofar. São Paulo: Scipione,2000.
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