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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 18ª TURMA Processo TRT/SP nº 0001661.64.2011.5.02.0481. RECURSO ORDINÁRIO DA 01ª VARA DO TRABALHO DE SÃO VICENTE. RECORRENTES: CARREFOUR PROMOTORA DE VENDAS E PARTICIPAÇÕES LTDA e ELIENE OLIVEIRA MAIA. RECORRIDO: BANCO CSF S.A. Inconformada com a r. sentença de fls. 408/412, complementado à fl. 479, que julgou a pretensão procedente em parte, e cujo relatório adoto, recorre a primeira reclamada (fls. 434/436), sustentando ser indevida a condenação em danos morais e questionando o valor fixado. Custas e depósito recursal às fls. 437/438. Recorre também a reclamante (fls. 484/492), alegando cerceamento de defesa, e no mérito, pugnando pelo enquadramento sindical da segunda reclamada e condenação da ré em horas extras, sobreaviso e quantificação do dano moral. Contrarrazões das partes às fls. 482/483 e 495/499. É o relatório. V O T O CONHEÇO dos apelos, eis que presentes os pressupostos de admissibilidade. CERCEAMENTO DE DEFESA Alega a demandante cerceamento de defesa (fl. 490-v) por ter duas testemunhas presentes na audiência de fl. 400, sendo que o convencimento do juízo, quanto ao dano moral, foi satisfatório com a oitiva da primeira. Verifica-se na audiência citada que a reclamante tinha duas testemunhas presentes, todavia, após a oitiva da Sra. Edna Maria da Conceição dos Santos, dispensou sua outra testemunha (fl. 400-v), restando claro estar a parte satisfeita com as provas apresentadas, não devendo se imputar a responsabilidade da dispensa ao juízo. Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA Aduz ainda que o indeferimento das perguntas feitas ao preposto da segunda ré, quais sejam, “se outras bandeiras de cartões de crédito eram comercializadas pela 2ª reclamada junto a 1ª reclamada” e “se a 2ª reclamada controla, afere, fiscaliza, a produção dos funcionários da 1ª reclamada”, a prejudicaram quanto a análise da condição de financiaria. O primeiro questionamento foi esclarecido por uma das testemunhas ouvidas, bem como o segundo não se faria suficiente para a caracterização da condição pleiteada. Analisar-se-á o pedido no mérito. Desta feita, rejeito as preliminares arguidas. 1) DANO MORAL Matéria comum a ambos os recursos. O Magistrado singular condenou a reclamada ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 30.888,30, por entender que a ré excedeu seus limites no trato com seus colaboradores. Apela a ré sustentando que o dano moral suportado por alguém não se confunde com meros transtornos ou aborrecimentos que o cidadão sofre no dia a dia. Salienta que não se vislumbrou nos autos qualquer cobrança vexatória ou de forma excessiva, bem como não restou provado a exposição das fragilidades pessoais confessadas na reunião de “terapia em grupo”. Subsidiariamente, pugna pela redução da condenação. A autora requer a majoração do valor fixado e distinção entre a indenização pelo dano moral e assédio moral. A caracterização do dano moral, para ensejar reparação, necessita da convergência de alguns pressupostos, quais sejam, conduta ilícita, resultado danoso e nexo causal entre a conduta e a lesão. Pois bem. No caso em tela, a reclamante não logrou êxito em comprovar a ocorrência efetiva de lesão imaterial pela suposta divulgação de informações confidenciadas na reunião de “terapia em grupo”, ônus que lhe incumbia segundo as regras dos artigos 818 da CLT e 333, inc. I, do CPC. Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO A primeira testemunha ouvida afirma que não participou da reunião denominada dinâmica de grupos, “que foi colocado como um anexo no NOTES os assuntos íntimos tratados naquela dinâmica de grupo com os supervisores, a depoente não abriu tal arquivo, tendo recebido a comunicação de uma chefe do Guarujá para apagar tal arquivo por se tratar de assuntos íntimos dos supervisores” (fl. 399). Já a segunda testemunha, que também não participou da reunião, esclarece que “dela teve conhecimento, que tomou conhecimento pelos funcionários, ou seja, um funcionário falou para o outro, que em relação a reclamante ouviu alguns comentários, falaram do pai dela, não se recorda de outros comentários (...) que nunca presenciou no ambiente de trabalho a reclamante ser ofendida” (fl. 400). Assim, as testemunhas da reclamante não confirmaram, de forma inequívoca, os fatos ensejadores do dano moral alegado, não comprovando, por conseguinte, a prática de ato ilícito ou com abuso de direito, imprescindíveis à imputação da responsabilidade. Requer ainda a autora, na exordial, indenização pelo assédio moral, por ter sido submetida a cobrança de metas, pressão e regras excessivas, conforme e mails anexados aos autos. Em audiência, confirma o preposto que os documentos de fls. 65/135 “são procedentes da empresa” (fl. 287-v). Cumpre transcrever alguns deles: “- Para que não fique nenhuma dúvida, não abro mão da meta entregue hoje. Se alguém tem algum compromisso à noite, entregue o resultado durante o dia. Ficou Claro?” (fl. 65). “- Está bem difícil explicar porque tantas lojas ruins. Falta acompanhamento, falta severidade na apuração, falta ação preventiva e após tomado o conhecimento, falta a medida punitiva. (...) Se for necessário, cancele a senha de acesso deste pessoal que insiste em nos prejudicar” (fl. 82). “- (...) As folgas de Domingo dos Supervisores estão canceladas. O motivo do cancelamento todos vocês devem ter ciência, nossos resultados nesses últimos dias não estão acontecendo (...). Se a Regional entregar hoje no mínimo 300 propostas e sábado 400 (mantenho a escala de folga), caso contrário as folgas serão Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA canceladas. Os supervisores que ainda não entregaram as metas, estão de plantão independente do resultado alcançado” (fls. 84/85). “- Que resultado são esses na parcial das 10:00? (...) Não vou aceitar nenhuma loja zerada na parcial do 12:00, quem não gosta de ser cobrado de duas em duas horas, faça gestão de seus números” (fl. 88). “- Na terça-feira quero a meta do posto entregue. Não quero desculpas, entreguem. Várias lojas com poucas propostas feitas durante o dia, uma vergonha. É uma gestão que vocês estão fazendo? ” (fl. 112). “- (...) VCS QUEREM QUE EU CANCELE A NOSSA CAMPANHA? Acelerem suas equipes pois se os resultados não melhorarem vou cancelar a campanha dos supervisores, fui clara?” (fl. 118). “- Quantas vezes vou ter que falar da produção do posto de gasolina? A maioria de vcs tem funcionários exclusivo para o posto e mesmo assim não estou vendo produção, é isso mesmo? Essa é a última vez que vou chamar a atenção de vcs, a meta diária para o posto é para ser entregue, façam gestãoe entreguem. Fui clara ou alguém tem alguma dúvida?”(g.n.) (fl. 127). O assédio moral consiste em uma das espécies do dano moral e tem pressupostos muito específicos, tais como: conduta rigorosa reiterada e pessoal, diretamente em relação ao empregado; palavras, gestos e escritos que ameaçam, por sua repetição, a integridade física ou psíquica; o empregado sofre violência psicológica extrema, de forma habitual por um período prolongado com a finalidade de desestabilizá-lo emocional e profissionalmente. É fundamental que haja a intenção de desestabilizar o empregado vitimado, minando sua confiança produtiva, com a intenção de excluí-lo do ambiente de trabalho, marginalizando-o e debilitando gravemente seu potencial de trabalho. Os e mails citados demonstram que todos os empregados deveriam atingir metas e cotas de venda, todavia, as ameaças eram direcionadas aos supervisores. Tais atitudes afetavam diretamente a autora, expondo-a a pressão excessiva, com cominações, inclusive, de se retirar as folgas de domingo e cancelamento de Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO campanha. No caso, restou demonstrado que as metas eram cobradas com rigor excessivo e de forma desnecessariamente reiteradas, fazendo-se agressivas. Sendo assim, caracterizado o assedio moral pleiteado na exordial e deferido pela Origem. Quanto ao valor fixado, a indenização por danos morais deve atender ao seu caráter dúplice, ou seja, compensatório (para a vítima) e pedagógico (para o agressor). Para tanto, sua valoração não se limitada à capacidade econômica das partes, mas considera também a conduta e a intensidade da culpa do ofensor e a extensão dos danos. Todavia, não deve importar em enriquecimento para a vítima, nem em valor irrisório. Dessa feita, analisando-se os fatores mencionados, conclui-se que a indenização fixada em Primeiro Grau, qual seja, dez vezes o valor do último salário da autora, no importe de R$30.888,30, foi exagerada, devendo ser reduzida. Fixo, assim, o seu montante em R$ 10.000,00 (dez mil reais), como dano moral decorrente do assédio moral praticado, valor este mais condizente com as agressões praticadas, cabendo frisar que a condenação em indenização por danos morais também não pode visar o enriquecimento de quem a recebe. Mantenho a decisão de Origem. RECURSO DA AUTORA 1) CONDIÇÃO DE FINANCIÁRIO O MM. Juízo de origem julgou improcedente o pedido de enquadramento sindical da reclamante como empregada de financeira. Apela a reclamante sustentando que tanto suas atividades profissionais, quanto as próprias rés, Carreffour Administradora de Cartões de Crédito Comércio e Participações Ltda e Banco CSF S.A., exerciam atividades financeiras. Com razão. Em sede de audiência relatou o preposto que “na célula de trabalho da reclamante eram comercializadas outras bandeiras Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA de cartão de crédito, além do Carrefour” (fl. 287). As testemunhas ouvidas ainda esclareceram (fls. 399/400): Primeira testemunha da autora: “que a depoente trabalhou na recda, como operadora comercial na denominada CAC, que era a administradora de cartão de crédito, (...) que além da bandeira Carrefour, a empresa também operava com a bandeira Visa, e logo depois da saída da depoente também passou a operar com a Mastercard; que a análise de crédito é feita numa central na cidade de São Paulo, central essa da própria CAC, que existe o formulário eletrônico denominado NOTES, que serve para comunicação da empresa, por exemplo, para alteração com relação a análise de crédito, sendo que os chefes utilizam esse formulário para se comunicarem entre si” (g.n.). Segunda testemunha da autora: “(...) que trabalhou na mesma loja que a reclamante, acredita que por mais de 01 ano (...) que a depoente trabalhou na loja de São Vicente/SP por quase 07 anos, que a depoente trabalhava no próprio setor do cartão de crédito” (g.n.). A própria ré, em contestação, informa que “a reclamante desenvolvia atividades de intermediação de produtos como cartões de crédito” (fl. 291), acrescentando ainda que “oferecia cartões da loja aos clientes, procedia a análise de crédito e cadastros de clientes, bem como realizava a coordenação das equipes que passaram a desenvolver tais atividades, já que a reclamante foi promovida a Controladora, Supervisora e, por último, Coordenadora” (fl. 293). Ainda consta na documentação carreada aos autos, à fl. 42, no mapeamento de competências, a NEGOCIAÇÃO, cuja descrição é apresentar “habilidade de obter os melhores resultados, na concessão de cartões novos e exploração comercial dos cadastros. Viabilizando a alavancagem de vendas do Grupo e geração de resultados da CACC”. Além disso, os e mails de fls. 65/135, reconhecidos pelo preposto como sendo de origem da ré (fl. 287-v), combinados com os depoimentos citados e a defesa deixam claro que a principal atividade da reclamante consistia em gerir a captação de clientes para a segunda reclamada. Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO Desta feita, entendo que mencionada tarefa constituem atividade fim do banco réu. Confira-se como já se pronunciou o C. TST sobre questão análoga à debatida nos autos: AGRAVO DE INSTRUMENTO. BANCO. TERCEIRIZAÇÃO. VENDA DE CARTÕES DE CRÉDITO E DÉBITO. ILICITUDE. (omissis) O que caracteriza o serviço bancário é a movimentação de ativos financeiros pertencentes a terceiros, inclusive a concessão de empréstimo, qualquer que seja a sua modalidade. Insere-se nessa atividade a captação de clientes a quem o banco concede cartões de crédito e débito, para que assim se convertam tais clientes à condição de mutuários ou lancem mão de quantia disponível em suas contas-correntes. E se esse serviço é praticado sob a fiscalização da instituição bancária, como afirmado pela Corte Regional, dá-se a ilicitude da intermediação do trabalho não apenas em razão de ela ocorrer na atividade-fim, mas em consequência, igualmente, da subordinação direta e mesmo estrutural ao banco, destinatário primeiro e final das tarefas cometidas à reclamante. Os itens I e III da Súmula 331 do TST, desprezados na prática empresarial sob exame, não devem ter obviada a sua eficácia nos casos em que a terceirização da atividade-fim promove a precariedade dos serviços a ela inerentes, quer pela atribuição de responsabilidade a empresas de porte econômico menor, quer porque descola o trabalhador das conquistas históricas da categoria profissional correspondente (a dos bancários in casu). Formado, portanto o vínculo de emprego diretamente com a instituição bancária. Recurso de revistaconhecido e provido. ( RR - 941-19.2011.5.03.0110 , Rel. Min.: Augusto César Leite de Carvalho, Julgamento: 29/08/12, Data de Publicação: 31/08/2012). “RECURSOS DE REVISTA DO BANCO BMG S.A. E PRESTASERV - PRESTADORA DE SERVIÇOS LTDA. TEMAS COMUNS. ANÁLISE CONJUNTA. ATIVIDADE-FIM DO BANCO CONTRATANTE. TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA. Conforme registrado no acórdão do Regional, - A cláusula primeira do contrato de prestação de serviços firmados entre as reclamadas estabelece como seu objeto 'o desempenho das funções de correspondente, no encaminhamento de pedidos de empréstimos pessoais e de crédito direto ao consumidor, de pretendentes tomadores de créditos, inclusive com utilização de sua Central de Atendimento (fls. 344)' e, assim, -não há como entender que as atividades laborativas da autora não se ligavam à atividade-fim do tomador da mão-de-obra, pois a captação de clientes é essencial à manutenção das Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA atividades de uma instituição financeira.”(omissis) ( RR - 58500-87.2009.5.03.0114, Rel. Min.: Kátia Magalhães Arruda, Julgamento: 27/06/2012, Data de Publicação: 10/08/2012) Como bem destacado na ementa da lavra do I. Ministro Augusto César Leite de Carvalho, a capitação de clientes se insere na atividade fim dos bancos, pois a eles a entidade bancária concede cartões de crédito e débito para que se convertam à condição de mutuários ou lancem mão de quantia disponível em suas contas correntes. Os empregados da primeira reclamada ofereciam e negociavam produtos oferecidos pelo Banco Carrefour (CSF), tarefas que não podem ser consideradas apenas atividade meio do tomador. Entendimento em sentido contrário tornaria frágil a relação de emprego no âmbito das instituições financeiras, ainda mais em se considerando que estas oferecem ao mercado uma gama diversificada de produtos. Imperioso destacar que a transferência de atividades inerentes aos bancários a outras empresas por meio da terceirização não pode sustentar que as empresas prestadoras e tomadoras se eximam da responsabilidade dos encargos trabalhistas. Apesar de a terceirização implicar em redução de custos e servir como medida legítima para desafogar o empresário, já tão sobrecarregado pela alta carga tributária, tal ocorrência não pode prevalecer quando há o desvirtuamento da lei e o desrespeito às garantias mínimas do trabalhador. Mister consignar que a autorização do Banco Central contida na Resolução 3.110/2003 para a contratação de correspondentes bancários se restringe à relação empresarial, não afastando a proteção da CLT e das normas coletivas direcionadas aos bancários na hipótese de os trabalhadores das empresas contratadas exercerem atividades típicas da instituição bancária. Assim, reformo a r. sentença para reconhecer o enquadramento sindical da autora como empregada de financeira, e por consequência, deferir as diferenças salariais em razão da aplicação dos reajustes salariais, bem como seus reflexos nas verbas contratuais (férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário e FGTS – fl. 09), observando-se a vigência da norma coletiva (fls. 263/278), nos termos da fundamentação do voto. Não é devido diferenças nas verbas rescisórias visto que inexiste nos autos Convenção Coletiva de Trabalho ao referido período. Quanto à jornada de trabalho, o pedido será analisado no tópico Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO seguinte. 2) HORAS EXTRAS Pugna a recorrente pela condenação das rés ao pagamento de horas extras, ao argumento de que não exercia cargo de confiança, pois sua atribuição era de mera coordenadora de vendas. Não prospera o inconformismo. Precipuamente, deve ser ponderado que as normas que estabelecem exceções aos limites gerais fixados pela Constituição da República quanto à jornada de trabalho devem sempre ser interpretadas restritivamente. Nesse contexto, a limitação de jornada se apresenta como regra, enquanto que o labor por jornadas indefinidas figura como exceção. O artigo 62, II, da CLT, no qual a reclamada fundamenta sua defesa, contém a seguinte redação: “Art. 62 - Não são abrangidos pelo regime previsto neste capítulo: ...Omissis... II - os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gestão, aos quais se equiparam, para efeito do disposto neste artigo, os diretores e chefes de departamento ou filial. Parágrafo único - O regime previsto neste capítulo será aplicável aos empregados mencionados no inciso II deste artigo, quando o salário do cargo de confiança, compreendendo a gratificação de função, se houver, for inferior ao valor do respectivo salário efetivo acrescido de Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA 40% (quarenta por cento). Como pode ser claramente verificado na redação do mencionado dispositivo, o permissivo ali contido está direcionado ao empregado ocupante de cargo que, por sua própria natureza, envolve maior fidúcia dentro da estrutura organizada da empresa, dada a presença, no corpo da norma, da expressão "ou que desempenhem outros cargos de confiança". In casu, assim relatou a primeira testemunha da reclamante (fls. 399): “(...) que a recte era supervisora; que a recte podia contratar e despedir empregados; que a recte não podia mexer na disposição da loja; que a recte não podia aprovar créditos, o que era feito na central; que a recte chefiava cerca de 12 empregados; que a recte possuía superiores hierárquicos como o Sr. Carlos, diretor e a coordenadora Jaldejane, mas esses dois não se ativavam no mesmo local que a recte; que a recte recebia ordens de superiores do Banco Carrefour, acreditando que a recte também desse ordens para empregados do Banco Carrefour.”. Ora, o fato de a reclamante ser responsável pela coordenação de vendas de uma das lojas da ré, de gerenciar uma equipe de 12 pessoas, podendo contratar e demitir empregados, com autonomia setorial, já que seus superiores hierárquicos não se ativavam no mesmo local de trabalho, confirma que seu cargo exigia fidúcia especial, demonstrando o exercício de cargo de confiança, nos moldes do art. 62 da CLT. Destaca-se ainda que a segunda testemunha da autora, ao tentar esclarecer os horários de trabalho da recorrente se faz genérica e confusa afirmando que “não via o horário que a reclamante entrava de manhã, mas sabia que ela entrava cedo; que viu os horários de saída da reclamante, que variava, 17h/19h/20h/21h; que o horário mais comum de saída era 19h/20h, não demonstrando a depoente, entretanto, muita convicção a respeito” (fl. 400). Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br.Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO Por fim, na exordial, ao se fazer o pedido de dano moral, esclarece a demandante que “no ano de 2010, foi feita uma reunião apenas para Supervisores, Coordenadores e Gerente Comercial, dentre essas pessoas convocadas estava a reclamante” (fl. 10), não cabendo a parte se “vestir” em tal função apenas quando lhe é conveniente à tese apresentada. Nessa senda, irreparável se mostrou a r. sentença de origem, não havendo nada a ser reformado. 3) SOBREAVISO Pugnou a reclamante a reforma da r. sentença quanto ao tema em epígrafe, sob a alegação de que confirma o preposto que a autora poderia ser chamada ao serviço, via telefone celular, fora do horário de expediente (fl. 490). Pois bem. O sobreaviso é o tempo que o empregado permanece em sua casa aguardando o chamado para o serviço e, por conta disso, deve ser remunerado na razão de 1/3 da hora normal, bem como que sua escala não pode ultrapassar de 24 horas, conforme determina o artigo 244, § 2º da CLT. Neste ponto, de bom alvitre colacionarmos a Súmula 428 do c. TST sobre o tema em questão: Súmula 428. Sobreaviso. Aplicação analógica do art. 244, § 2º da CLT. I - O uso de instrumentos telemáticos ou informatizados fornecidos pela empresa ao empregado, por si só, não caracteriza o regime de sobreaviso. II - Considera-se em sobreaviso o empregado que, à distância e submetido a controle patronal por instrumentos telemáticos ou informatizados, permanecer em regime de plantão ou equivalente, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço durante o período de descanso. Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA Feitas tais considerações, impende mencionar que por alegar fato constitutivo de seu direito, cabia à reclamante comprovar que laborou, faticamente, nos moldes do § 2º, do artigo 244 da CLT. Todavia, desse encargo não se desincumbiu, vez que, suas testemunhas nada mencionam quanto ao alegado sobreaviso (fls. 399/400). Destaca-se, nos termos do depoimento pessoal do preposto, que “a empresa forneceu a reclamante um telefone celular, com a finalidade de, eventualmente, se a responsável no momento da ausência da reclamante não conseguisse resolver a situação deveria fazer contato através desse telefone; porém a reclamante não era chamada a comparecer ao trabalho fora dos dias referentes a sua escala; raramente sim” (fl. 287-v). O depoimento citado, por si só, não é suficiente para se caracterizar o sobreaviso, tendo em vista ter restado claro que não havia a convocação da demandante nos períodos em que não estava trabalhando, podendo, apenas excepcionalmente, ser requisitada. Pelo exposto, conclui-se que a recorrente não comprovou suas alegações e, nesse passo, nego provimento ao apelo. DISPOSITIVO Posto isso, ACORDAM os Magistrados da 18ª turma do Tribunal Regional do Trabalho em: CONHECER dos apelos interpostos e, no mérito, DAR PROVIMENTO PARCIAL ao da primeira reclamada (Carrefour Promotora de Vendas e Participações Ltda), a fim de reduzir o montante da indenização por danos morais decorrentes do assédio a R$ 10.000,00, e DAR PARCIAL PROVIMENTO ao da autora a fim de reconhecer o seu enquadramento sindical como empregada de financeira, e por consequência, diferenças salariais em razão da aplicação dos reajustes salariais, bem como seus reflexos nas verbas contratuais (férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário e FGTS – fl. 09), observando-se a vigência da norma coletiva (fls. 263/278), nos termos da fundamentação do voto. Mantém-se a sentença em seus demais termos, inclusive quanto aos valores da condenação e custas processuais. Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO As partes atentarão ao art. 538, parágrafo único, do CPC, bem como aos artigos 17 e 18 do mesmo diploma legal, não cabendo embargos de declaração para rever fatos, provas e a própria decisão. Nada mais. DONIZETE VIEIRA DA SILVA Desembargador Relator DVS/06 Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 1886030 Data da assinatura: 28/05/2014, 02:26 PM.Assinado por: DONIZETE VIEIRA DA SILVA Desembargador Relator
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