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PSICOLOGIA FENOMENOLOGICA – NP1 1)Segundo Feijoo (2011), Para a fenomenologia de Husserl, o psiquismo não possui nenhuma determinação prévia, nem mesmo um eu substancial. A consciência é, para este filósofo, transcendente, nunca se retém em si mesma, mas se vê projetada por seus próprios atos para o campo dos objetos correlatos. (p.31) A concepção de “eu” de Husserl é de natureza filosófica, mas pode, com muitos cuidados, ser transportada para o contexto de prática do psicólogo. Seguindo tal concepção, está correto afirmar que uma Psicologia fundamentada na fenomenologia de Husserl: Compreende que os relatos do paciente/cliente referentes às coisas e aos outros ao seu redor revelam como ele os experiencia, pois a consciência é intencional. Assume o “eu” como um fluxo de vivências intencionais. 2)Husserl (1859 - 1938) é o fundador da Fenomenologia, movimento filosófico mais importante do século XX. Após uma breve incursão pela Matemática, o filósofo assume como tarefa tornar a filosofia uma ciência rigorosa, o que o leva a questionar os postulados científicos e filosóficos da época. Sobre esse contex to histórico está correto afirmar: (Feijoo, 2011) A Fenomenologia questiona a pretensão de cientificidade plena das ciências naturais, que falham na compreensão do ser humano. Ao postular a objetividade exterior independente do sujeito, a ciência mina suas próprias bases. Hipóteses, inferências e deduções são necessários quando se pressupõe a impossibilidade de acesso a o que se quer conhecer. Já a epoché suspende a cisão entre sujeito que conhece e objeto conhecido, t omando-os como uma unidade, de modo que para a Fenomenologia as teorias são prescindíveis. Husserl é enfático na crítica à Psicologia da época. A atribuição de uma natureza psicofísica à consci ência torna todo conhecimento relativo, pois fundado em acontecimentos fisiológicos. 3)O fenomenólogo André Dartigues (1992), comenta a respeito da concepção de consciência de Husserl que ela contém muito mais que a si própria. Para a fenomenologia, a consciência: R: Refere-se ao ato de consciência, que sempre visa um objeto. 4) Escreve a fenomenóloga FEIJOÓ (2011): “Husserl considera desde as suas primeiras obras o caráter intencional dos fenômenos psíquicos. Ele se refere claramente às relações imanentes da subjetividade ou da consciência pura, ou seja, fenomenologicamente reduzidas, diferenciandoas, assim, dos fenômenos materiais em jogo em uma consciência empírica, na qual se pressupõe que essa seja constituída por propriedades e por uma essencialidade específica” (p.30) A Fenomenologia desconstrói a formulação teórica de uma consciência pura separada do objeto, representada pelo esquema S - O, através da formulação husserliana da consciência intencional, representada pelo esquema S → O. São aspectos que compõem o conceito de consciência intencional: Não considera como a priori do homem ter um psiquismo. Atos da consciência nunca estão separados dos objetos destes atos. A consciência não é em si mesma. Está sempre projetada, em direção ao objeto. 5)O filósofo Stegmüller (1997) resume a concepção de consciência da fenomenologia de Husserl da seguinte maneira: [...] a consciência como o entrelaçamento das vivências psíquicas empiricamente verificáveis numa unidad e de fluxo de vivência; como a percepção interna dessas próprias vivências e como designação que resume t odas as vivências intencionais. (Stegmüller, 1997). Sobre essa concepção de consciência, peculiar à Fenomenologia, está correto afirmar: A consciência não é uma substância (alma), mas uma atividade constituída por atos (percepção, imag inação, volição, paixão etc.) com os quais se visa a algo. O traço essencial da consciência é a intencionalidade: toda consciência é consciência de algo. Consciência é sempre de algum objeto e os objetos só têm sentido para uma consciência. 6)Segundo a fenomenóloga Feijoó (2011), “Husserl propõe que, frente ao fenômeno, possamos assumir uma atitude antinatural própria à fenomenologia.” (p.29) A psicóloga se baseia na distinção efetuada por Edmun d Husserl no livro A Idéia da Fenomenologia (1907). Nesse livro, o filósofo afirma que na atitude natural, “ na percepção, por exemplo, está obviamente diante dos nossos olhos uma coisa; está aí no meio de outras coi sas, vivas e mortas, animadas e inanimadas, portanto no meio de um mundo que, em parte, como as coisas si ngulares, cai sob a percepção... (p.39) Sobre as atitudes natural e fenomenológica é verdadeiro afirmar que: A atitude natural é o modo como cotidianamente encontramos as coisas no mundo, existindo por si mesmos. A atitude fenomenológica refere- se a um passo metodológico pelo qual a consciência suspende a crença na realidade em si dos objeto s do mundo. É a chamada epoché. Surgem, então, os fenômenos. Embora Husserl não se preocupasse com a prática psicológica, a atitude fenomenológica foi assumid a pela Psicologia como uma possibilidade. Tal atitude acontece na prática psicológica como esforço do psicólogo de deixar que o outro revele os significados de sua experiência tal como a experiencia. 7) No livro A Ideia da Fenomenologia (1907/1990), Husserl distingue a atitude natural da atitude fenomeno lógica. Na atitude natural, afirma que “na percepção, por exemplo, está obviamente diante dos nossos olhos uma coisa; está aí no meio de outras coisas, vivas e mortas, animadas e inanimadas, portanto no meio de um mundo que, em parte, como as coisas singulares, cai sob a percepção... (p.39) [Referência bibliográfica: Husserl, E. A Ideia da Fenomenologia. Trad.: Artur Morão. 1a ed. 1907. Lisboa: Edições 70, 1990.] Sobre as atitudes natural e fenomenológica está correto afirmar: A atitude natural é o modo como encontramos as coisas no mundo, existindo por si mesmos. A atitude fenomenológica refere- se a um passo metodológico pelo qual a consciência suspende a crença na realidade em si do mundo externo. Pela atitude fenomenológica, a consciência revela- se condição de aparição do mundo, isto é, mundo revela-se fenômeno. 8)O lema da Fenomenologia de Husserl é “voltar às coisas mesmas”. Segundo o estudioso Tommy GOTO ( 2008), “A fórmula inicial da fenomenologia não tem a pretensão de negar o conhecimento construído na ciê ncia e na filosofia, apenas requer para si o direito de excluir qualquer perspectiva teórica sobre as coisas para que se possa ir espontânea e livremente até elas, i.e., ‘deixar aparecer a coisa mesma’.” (Introdução à Psicol ogia Fenomenológica. São Paulo: Paulus, p.74) As afirmações que explicam esta ideia são: As “coisas mesmas” são os fenômenos no seu aparecer na correlação intencional. Só se chega às coisas mesmas através do método fenomenológico de suspensão (epoché). As “coisas mesmas” são as coisas tal como e apenas enquanto se manifestam na correlação noético- noemática. Módulo 2: Introdução à Fenomenologia Existencial de Martin Heidegger e à Analítica Existencial 1)A personagem Mafalda, do cartunista argentino Quino, exprime uma máxima da fenomenologia da existência de Heidegger, que fundamenta a clínica daseinsanalítica. São eles: Segundo Heidegger, Dasein se relaciona com o ser, se compreende em seu ser e é aberto para ser. Is so significa que toda existência ‘tem’ alguma compreensão de seu ser. Mafalda exprime a radical singularidade de cada existência. Nenhum outro pode existir por mim. 2) Segundo a psicóloga fenomenóloga Bilê Sapienza, “As proposições heideggeriana implicam alterações ra dicais em nossopensar impregnado pela metafísica tradicional e subverte a costumeira ordem que havia e m nossa aceitação tácita (...)” (2025, p.37, grifo meu) Por metafísica Heidegger se refere: À crença numa realidade externa objetiva independente do sujeito (interior), tal como na fenomenologia de Husserl,. Às concepções de homem (interno) e mundo (externo) que fundamentam a Psicologia moderna. À exigência de um método objetivo para se conhecer a realidade. 3)Segundo a psicóloga fenomenológica Ida Cardinalli (2012), “Na obra Ser e Tempo, o fio condutor do pens amento de Heidegger é o esclarecimento do sentido do ser como tal”. (CARDINALLI, 2012, Daseinsanalyse e esquizofrenia, São Paulo, Escuta, 2012, pag. 53.) Em relação às ideias de Heidegger acerca do existir humano como Dasein, pode-se afirmar que: O Da (aí) do Dasein (ser- aí) é a abertura essencial do existir humano, o que significa dizer que ele é esse estar aberto para per ceber, compreender, entender e conhecer o que é encontrado no mundo; A essência do Dasein é a própria existência; O Dasein nunca é um objeto simplesmente presente; 4) A noção de Dasein (ser- aí), delineada por Heidegger em Ser e Tempo, é o primeiro passo na direção de elaboração de uma ‘psicologia’ fenomenológico-existencial. Uma primeira apresentação da ‘definição’ de Dasein está no §9 do livro Ser e Tempo, onde o filósofo indica que 1) “a ‘essência’ deste ente [nós mesmos] está em ter de ser” e 2) “O ser, que está em jogo no ser deste ente, é sempre meu.” (Heidegger, 1927/1998, p.78) Que nossa existência é Dasein (ser-aí) significa: O ser-aí é sempre uma possibilidade de ser si- mesmo. Isso significa que o Dasein é as possibilidades existenciais que realiza. Existir significa compreender ser, tanto de si mesmo quanto dos outros e das coisas. Para Heidegger, a existência não tem uma essência quididativa (o que é); isto é, Dasein é atravessad o pelo Nada, que é a indeterminação ontológica enquanto tarefa de ter-que-ser. 5) Leia o trecho abaixo, extraído da Carta Sobre o Humanismo, de Martin Heidegger. Do mesmo modo com ‘animal’, zõon [animal], já se pro-pôs uma interpretação da ‘vida’ que repousa necessariamente sobre uma interpretação do ente como zoé [vida] e physis [energia], em meio à qual se manifesta o ser vivo. Além disto e antes de qualquer outra coisa, resta, enfim, perguntar se a essência do homem como tal, originalmente – e com isso decidindo previamente tudo – realmente se funda da dimensão da animalitas [animalidade]. Estamos nós no caminho certo para essência do homem, quando distinguimos o homem e enquanto o distinguimos, como ser vivo entre outros, da planta, do animal e de Deus? Pode-se proceder assim, pode-se situar, desta maneira, o homem em meio ao ente, como um ente entre outros. Com isso se poderá afirmar, constantemente, coisas acertadas sobre o homem. É preciso, porém, ter bem claramente presente que o homem permanece assim relegado definitivamente par a o âmbito essencial da animalitas; é o que acontecerá, mesmo que não seja equiparado ao animal e se lhe atribuir uma diferença específica. (...) Um tal pôr é o modo próprio da Metafísica. Mas com isso a essência do homem é minimizada e não é pensada em sua origem. (...) A Metafísica pensa o homem a partir da anim alitas; ela não pensa em direção de sua humanitas [humanidade]. (p.352) Considere as afirmações abaixo sobre a essência do homem para a fenomenologia-existencial: Pensar o homem a partir da animalitas não é exclusividade da Metafísica. Nós, cotidianamente, pensamos o homem (e nós mesmos) a partir da animalitas a todo momento em que nos compreende mos como um organismo vivo (zoé). A essência do homem para a Daseinsanalyse não está em sua constituição física, nem psíquica, nem social. A essência do homem é ser-aí (Dasein). Conceber o homem como bio-psico- social permanece preso à interpretação “do ente como zoé [vida] e physis [energia], em meio à qual se manifesta o ser vivo.” Portanto, não nos aproxima mais da essência do humano. 6) O livro Ser e Tempo de Heidegger (1927) traz como epígrafe a citação de Platão, transcrita abaixo: ... pois é evidente que de há muito sabeis o que propriamente quereis designar quando empregais a express ão ‘ente’. Outrora, também nós julgávamos saber, agora, porém, caímos em aporia. [aporia = “caminho inexpugnável, sem saída”, “dificuldade”] Essa epígrafe está articulada com o projeto de Heidegger nesse livro. Considere as afirmações abaixo, indic ando as corretas. Heidegger visa resgatar a questão sobre o sentido do ser, que ele considera que foi esquecida pela fi losofia. Para recolocar a questão do ser, Heidegger precisa desvelar o ser do ente para quem perguntar é um a possibilidade. As considerações de Heidegger em Ser e Tempo influenciam as psicologias de Binswanger e Boss, que fundam a Daseinsanalyse. 7) Em Ser e Tempo, Heidegger afirma que a ‘essência’ do homem reside em sua existência. Para indicar o ser do homem usa o termo Dasein (ser-aí). O ser-aí é sempre uma possibilidade de ser si-mesmo. Existir significa compreender ser, tanto de si mesmo (Dasein) quanto dos outros e das coisas. Do ponto de vista ôntico, ser-aí é ser-no-mundo-com-os-outros. 8) Heidegger, em Ser e Tempo (1927), desenvolve uma Analítica do Dasein que servirá de fundamento para a prática terapêutica Daseinsanalítica desenvolvida por Binswanger e Medard Boss. À luz desse contexto teórico, considere as afirmações abaixo e indique as corretas. Heidegger preocupa- se com a questão sobre o sentido do ser e com isso identifica um modo de pensar ocidental que ele d enomina por pensamento metafísico, um modo de pensar que objetiva, substancializa o ser dos entes Heidegger, preocupado com a questão sobre o sentido do ser, refere- se ao homem com o termo Dasein, ressaltando que o “da” do “dasein” (o “aí” do ser- aí) é o âmbito onde o ser se dá. Heidegger entende que a questão sobre o ser e seu sentido ficou esquecida pelo pensamento metafísico. Módulo 3: A condição humana descrita pela fenomenologia existencial 1)A experiência da angústia tem destaque na fenomenologia de Heidegger, pois ela possibilita uma visão clara da condição existencial. A respeito dessa experiência no contexto fenomenológico-existencial está correto afirmar: Apresenta(m) corretamente as ideias de Heidegger acerca do modo de ser da angústia Na angústia, o ente intramundano desaba, não sendo mais relevante e significante. A angústia é precisamente a experiência do ser-no-mundo enquanto tal, do próprio mundo. 2)Sapienza destaca a importância da obra Ser e tempo de Martin Heidegger para a fundamentação da Daseinsanalyse. A prática clínica fundada no pensamento do filósofo alemão propõe uma postura e um olhar novo do terapeuta frente ao seu paciente e à prática clínica. Com base na postura do terapeuta daseinsanalist a, assinale a alternativa correta: Fenomenologia requer que estejamos abertos para acolher aquilo que um dado fenomênico conta de si mesmo, em seu mostrar e se ocultar. Para atender em Daseinsanalyse, é necessário estar inteiro no atendimento e sustentar o próprio des amparo como terapeuta, isto é, a insegurança, desabrigo por não contar com uma teoria que “diz o que fazer”. 3)Muitas pessoas procuram psicoterapia em razão de decisões que precisam tomar em suas vidas. As decisões articulam-se com futuro, pois, decidir-se é escolher um futuro possível e abdicar de todos os demais. Entretanto, Heidegger descreve em Ser e tempo que a maioria das vezes a existência não se assume assim, entregando a responsabilidade de seuexistir a “a gente”. À luz desse contexto teórico-filosófico está correto afirmar: A fenomenologia-existencial compreende a existência como indeterminada, como poder- ser. Existir é tarefa. Cotidianamente, existimos abrindo mão de nosso ser- aí, deixando de perceber a singularidade das situações que vivenciamos e de nossa própria existência. 4) Leia o seguinte poema e a seguir responda a questão: Amadurecer e crescer também significa ir, de olhos abertos, em direção à morte. Nós só somos maduros o tanto quanto estejamos dispostos a aceitar nossa própria mortalidade. A morte nos torna sábios para a vida. Eu me nego, por isto, À fuga ilusória para a superficialidade tentadora e para ocultar o doloroso. Eu quero visualizar conscientemente que a qualquer momento será o meu último dia. E por meio disto estar mais desperto, mais vivo, realizado, sábio e mais grato por cada dia, por cada momento. Em meio à plena paixão pela vida, sou mortal. Um dia virá a ser meu último. Saber disto me faz amadurecer. (ULRICH SCHAFFER, Crescer, Amadurecer) Fazendo uma aproximação do poema com a compreensão heideggeriana acerca do ser-para-a- morte, podemos afirmar corretamente que: R: Neste poema, o poeta expressa uma relação própria/autêntica com a morte, uma vez que a traz para o acontecimento presente e, com isso, abre a possibilidade de ver a si mesmo como um poder-ser. 5)Em seu texto, Sapienza (2015) apresenta os caracteres existenciais, descritos por Heidegger em Ser e tempo, da abertura constitutiva do Dasein do compreender, disposição e discurso. Com base nesses existenciais, assinale a alternativa correta: O compreender constitui o poder-ser e é sempre disposto, isto é, determinado por uma disposição. A disposição diz respeito o modo como o existir já se encontra no mundo, ao modo como já foi lançado. 6) O pensar fenomenológico não considera o homem e os demais entes da natureza da mesma maneira. Enquanto no homem seu ser está em suas diversas possibilidades de se ser-no-mundo, os elementos da natureza e os entes que não são humanos não têm possibilidade de virem-a-ser eles mesmos. No contexto fenomenológico-existencial, O homem é um tempo que se esgota, um intervalo entre o nascimento e a morte, que se emprega, qu e se empenha, que se reserva, que se omite, enquanto vive; Sendo a.existência possibilidade, cada qual tem que transformar esta possibilidade no seu aconteci mento. 7)Juvenal está em psicoterapia há 6 meses. Nunca falta às sessões. Começou o processo alegando dificuldades na relação com seu chefe, mas estas logo cederam espaço a dificuldades de relacionamento com seu pai quando ele ainda estava vivo. O pai de Juvenal faleceu há 10 meses. O psicólogo que o atende é daseinsanalista e enfatiza em supervisão que o paciente raramente fala a respeito de si mesmo, pois fala do chefe, do pai, da esposa, do filho, sempre como se os outros fossem os causadores de seu sofrimento. Como o psicólogo é daseinsanalista, ele fundamenta sua compreensão em: Juvenal é ek-sistência, que significa que ele é por condição jogado no mundo, aí ‘fora’. Assim, chefe, pai, familiares são mundo de Juvenal e, ao falar deles, fala de seu ser-no-mundo. De acordo com a noção heideggeriana de existência, Juvenal é ser-com- outros. Isso significa que ele é suas relações com chefe, pai, esposa, filho, etc. e deve- se buscar com ele uma compreensão de quem e como ele é nessas relações. A existência de Juvenal pode ser descrita fenomenologicamente como antecipar- se a si mesmo, já no mundo em meio aos entes intramundanos que vêm ao encontro. Módulo 4: Fenomenologia Existencial da História Pessoal 1) Edna procura um psicólogo fenomenológico-existencial. Relata que está em crise no seu casamento. Ela e João "não se entendem mais." Procurou finalmente a psicoterapia devido a uma briga que tiveram na semana passada. Ela preparou um jantar para os dois, mas ele jantou rápido e foi assistir futebol na TV. " Nem elogiou minha comida! Quando eu falei isso para ele, ele explodiu e saiu de casa. Acho que foi ver o jogo num bar lá perto. Voltou de madrugada." Com base nas reflexões de Critelli (2012), o psicólogo investiga com Edna o que ela esperava (quais eram as intenções) no momento da briga com João. Ele faz isso, pois: (Assinale a alternativa correta) R: Os atos de Edna não são autossignificantes. O significado deles aparece nas relações com os outros. Pensando na especificidade da relação com João, o significado das ações de Edna depende de como elas repercutem nele. 2) Ana procura um psicólogo fenomenológico-existencial em estado de grande sofrimento. Seu marido faleceu recentemente num acidente de carro. Para ela, essa experiência a fez “perder o chão”. Critelli (2012) mostra, com base no pensamento de Hannah Arendt, que os seres humanos precisam de sentido para viver. Está correto afirmar sobre Ana, fundamentando-se em Critelli (2012) que: Os fatos da vida de Ana precisam ser costurados por um fio de sentido. Sua incompreensão em à m orte de João indica que esse fato não está ainda tecido aos nexos de seu existir. Acontecimentos inusitados provocam uma ruptura com o senso comum. 3) Ana procura um psicólogo fenomenológico-existencial. Ele recorre à concepção de Historiobiografia de Critelli (2012) para buscar com ela uma compreensão de sua história. Isso significa que: Estão de acordo com a Historiobriografia (Critelli, 2012) apenas as afirmações: Na narrativa dessa história pessoal e na sua interpretação, é possível redescobrir os nexos através do s quais se ligam os acontecimentos da existência de Ana e o sentido de ser já realizado. O sentido do processo psicoterapêutico como Historiobiografia é tornar o próprio destino disponível para ação e autoria. Historietas que Ana retome são indicativas de seu perfil, seus sonhos e temperamento e orientam seu posicionamento nas situações de sua vida. 4) Critelli (2012) afirma: “A intenção da Historiobiografia é descobrir a personagem que um indivíduo realiza desdobrada no tempo e nas circunstâncias da sua existência. Trata-se do desvelamento de um destino já realizado em nome de um destino em realização. É um processo que favorece aos indivíduos aquisição de lucidez e os prepara para a autoria consciente e responsável na existência.” Podemos dizer, a partir dessas reflexões de Critelli, que a Historiobiografia nos dá pistas para a formulação de uma atitude clínica fenomenológica existencial. São aspectos dessa atitude: A importância de refletir sobre as motivações e os significados, tais como o próprio sujeito o compreende. A consideração pelos desdobramentos da ação, para além das intenções e dos significados percebidos pelo sujeito, investigando as repercussões de seus atos junto aos outros e ao mundo. 5) A Historiobriografia (Critelli, 2012) é uma “abordagem terapêutico-pedagógica que tem por intenção a redescoberta do sentido da vida através da compreensão da história pessoal.” (p.12) Embora não tenha sido elaborada por uma psicóloga (Critelli é filósofa) nem seja prerrogativa do psicólogo, trata-se de uma abordagem que fornece elementos importantes para a formulação de uma atitude clínica fenomenológica existencial. São aspectos dessa atitude: A importância de perguntar ao agente do ato sua intenção. No contexto clínico, isso significa refletir sobre as motivações para ação realizada. A consideração de que o sentido de um ato está “no mundo”, isto é, nos desdobramentos iniciados pela ação. Assim, a atitude clínica considera os testemunhosdos atos. Isso pode acontecer na forma de investigar junto ao “autor” as consequências que ele percebeu e/ou ouvindo dos demais envolvidos como interpretaram esses atos. 6) Um dos conceitos mais importantes da Psicologia é “consciência”. Entretanto, as várias psicologias discordam quanto a que se refere esse termo. A filósofa Hannah Arendt tece reflexões sobre a “consciência apontando-a como um aspecto próprio da condição humana. Na Historiobiografia de Dulce Critelli (2012), consciência é a condição indicada por Platão de sermos dois-em-um. Isso significa: que nosso pensamento pode se desdobrar em dois, tornando-me expectador e avaliador dos meus próprios atos. que é da condição humana ser outro de si mesmo. Funda-se na consciência a possibilidade do diálogo (dia – logos) silencioso consigo mesmo. que na relação com outros, o dois-em-um se unifica, silenciando-se, possibilitando aparecer ao outro como indivíduo (não dividido). 7) Leitoras da Revista CLAUDIA escrevem o que, para elas, é o mais importante na vida: Felicidade é... "Estar perto de quem eu amo me deixa nas nuvens. Aconteceu recentemente, na minha formatura. As pessoas mais importantes da minha vida estavam lá, foi um momento único" A lista de ingredientes de anônimos e famosos que já experimentaram o sabor da felicidade é variada, bem temperada e afetiva" - Maristela Ramos, 25 anos, designer gráfica, de Curitiba "Felicidade é se dar conta dos momentos maravilhosos que a vida oferece. Tive dois inesquecíveis: os dias em que meus filhos nasceram" - Sandra Helena Ramos, 32 anos, analista financeira, de Joinville (SC) "Minha maior alegria é fazer compras. Outro dia adquiri uma jóia e fiquei radiante" - Josiane Bassoto de Lima, 30 anos, analista de sistemas, de São Paulo "Dar um mergulho, ficar na areia tomando sol e depois ainda comer frutos do mar! Como moro perto de praias lindas, sigo essa receita todo fim de semana. Aprendi que felicidade é deixar de lado o stress do dia e simplesmente curtir o melhor da vida" - Ana Paula Ramos, 26 anos, designer, de Joinville (SC) As afirmações dessas leitoras estão imersas no senso comum (Critelli, 2012), que é nossa realidade compartil hada. Sobre isso está correto afirmar: O senso comum é resultante de renovados acordos que os indivíduos tácita ou explicitamente fazem entre si. O senso comum é formado pelas respostas que coletivamente damos às perguntas essenciais: Quem sou eu? Qual é o sentido da vida? Que sentido eu faço nela? 8)Leia o trecho da notícia abaixo, retirado do canal de notícias R7 (http://noticias.r7.com/), sobre os desaba mentos em Petrópolis (RJ) em 2011. Psicólogos dizem que vítimas da tragédia precisam reconstruir identidades Perdas inesperadas de parentes e bens pessoais causam transtornos e traumas Monique Cardone, do R7, e Gabriela Pacheco, do R7, em Petrópolis | 22/01/2011 às 06h00 “Qualquer barulho lembra aquela noite”. Essa é a sensação do pedreiro Luiz Cláudio Ramos Fonseca, que perdeu a casa onde morava na região conhecida como Buraco do Sapo, em Itaipava, distrito de Petrópolis, uma das cidades da região serrana do Rio de Janeiro mais atingidas pelo temporal do último dia 11. De acordo com os psicólogos, esse tipo de trauma é comum após experiências em situações de desastre, como os deslizamentos e enchentes na serra, que deixaram centenas de mortos e milhares de desabrigados e desalojados. Segundo o psicólogo Othon Vieira Neto, especialista em emergência e crise, as pessoas que sobreviveram a tragédias como essas têm perdas rápidas e inesperadas de familiares e bens pessoais. Cada amigo, parente e até objetos fazem parte da história das pessoas. Quando elas perdem tudo, é como se tivessem perdido a identidade. De acordo com Neto, em relação aos pertences, não são os objetos caros que fazem mais falta. As pessoas se emocionavam mais com a perda dos álbuns de fotos do que qualquer outra coisa simples. E isso não dá para recuperar e nem comprar de novo, como uma televisão ou um sofá. (...) Para a psicóloga Patrícia Adnet, o maior desafio dos profissionais de saúde que vão trabalhar junto com as vítimas é mostrar o sentido de viver novamente após o trauma. O psicólogo vai ter que ouvir o desabafo, o choro e acolher esses moradores. Eles vão intervir no sentido de ajudar a construir uma nova identidade porque muitos não querem mais viver porque eles até entendem que podem recuperar a casa, mas não a família que morreu. Critelli (2012) se refere à importância da capacidade de narrar os acontecimentos, pois essa narrativa forma o senso comum, suporte da sensação de realidade. Para a autora, se a realidade for caótica, torna-se insuportável e a reação mais comum é de recusá- la. “Um mundo que não puder ser narrado não pode ser habitado.” (p.33) As tragédias são um modo possível de abalar a sensação de realidade. Nesse contexto, está correto afirmar: Os eventos da vida precisam ser arranjados numa história para lidarmos com eles. Os nexos que os articulam fundam sua compreensibilidade, ao mesmo tempo em que indicam a ‘identidade’ daquele para quem esses eventos são significativos. A matéria apresenta a situação de pessoas que perderam a noção da realidade, por estarem incapazes de articular o ocorrido num nexo de sentido. Segundo a psicóloga Patrícia Adnet, o maior desafio dos psicólogos é “mostrar o sentido de viver a pós o trauma”. Ou seja, é acompanhar as pessoas cuja realidade ruiu no desvelamento de sentido pa ra esse acontecimento em suas biografias, abrindo se para o futuro possível, que é condição humana. ESTUDOS DISCIPLINARES 1) QUESTÃO ADAPTADA DO ENADE 2013 A psicologia como ciência caracteriza-se pela tensão entre recortes epistemológicos e pressupostos ontológicos sobre seu objeto, criando, ao longo de sua história, uma diversidade de abordagens, tal como o cognitivismo e a psicologia fenomenológica. Em relação à concepção da psicologia fenomenológica como ciência, são feitas as seguintes afirmativas: A Psicologia Fenomenológica, inspirada nas filosofias de Husserl e Heidegger, preconiza uma visão de ciência centrada na concepção de descrição precisa dos dados da experiência. Para a psicologia fenomenológica, a experiência é irredutível a uma análise descontextualizada do mundo do existente; portanto, os métodos experimentais não são adequados. 2) Segundo Feijoó (2011), “Husserl propõe que, frente ao fenômeno, possamos assumir uma atitude antinatural própria à fenomenologia.” (p.29) A psicóloga se baseia na distinção efetuada por Edmund Husserl no livro A Idéia da Fenomenologia (1907). Diz ele que na atitude natural, “na percepção, por exemplo, está obviamente diante dos nossos olhos uma coisa; está aí no meio de outras coisas, vivas e mortas, animadas e inanimadas, portanto no meio de um mundo que, em parte, como as coisas singulares, cai sob a percepção... (p.39) Sobre as atitudes natural e fenomenológica é verdadeiro afirmar que: A atitude natural é o modo como cotidianamente encontramos as coisas no mundo, existindo por si mesmos. A atitude fenomenológica refere-se a um passo metodológico pelo qual a consciência suspende a crença na realidade em si dos objetos do mundo. É a chamada epoché. Surgem, então, os fenômenos. Embora Husserl não se preocupasse com a prática psicológica, a atitude fenomenológica foi assumida pela Psicologia como uma possibilidade. Tal atitude acontece na prática psicológica como esforço do psicólogo de deixar que o outro revele os significados de sua experiência tal como a experiência. 3) “Fenomenologia diz então: αποφα?νεσθαιτα φαιν?μενα – deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a partir de si mesmo. É este o sentido formal da pesquisa que traz o nome de fenomenologia. Com isso, porém, não se faz outra coisa do que exprimir a máxima formulada anteriormente – ‘para as coisas mesmas!’” (p.65) (Heidegger, M. Ser e Tempo. São Paulo: Ed. Vozes, 1998) A Fenomenologia é antes de tudo um método de acesso ao sentido de cada fenômeno. Fenomenologicamente compreendido, o fenômeno já é um modo privilegiado de encontro. A fenomenologia enquanto método é uma reaprendizagem do olhar. É o esforço incessante de apreender a linguagem das próprias coisas. Dizer que a fenomenologia é um método significa reconhecer que ela se pergunta pelo como, o modo de acesso privilegiado às coisas. Nesse sentido é que ela é a ciência dos fenômenos. 4) Feijoo cita um trecho do relato de caso da paciente sra. K, analisada por Boss, cuja primeira análise fora motivada por sintomas histéricos e, posteriormente, sintomas ginecológicos (corrimento vaginal) e transtornos alimentares (grande oscilação de apetite e peso). Após quatro anos de análise, a paciente relata o seguinte sonho: Entra um homem, um professor, com uma aparência expressiva, inteligente. O analista o apresenta à paciente. O professor sai com ela sem dar maior importância ao analista. Vão, ambos, a uma grande festa. Ei-los na varanda contemplando a noite. Eles sabem estar unidos por todos os seus pensamentos e todos os seus sentimentos. Nenhum apetite sexual. Naturalmente, eles se casarão e conhecerão, então, a união carnal. Mas sabem esperar. Na casa, o baile terminou. Eles não conseguem parar de contemplar as estrelas. A partir daí é o céu que começa a mandar na festa. As estrelas se juntam até formar um gigantesco pinheiro de Natal. Poderosos órgãos cósmicos tocam a melodia da paz na Terra. A paciente, no seu sonho, cai, então, em sono profundo. Ela acorda tarde na manhã seguinte, porém feliz. (BOSS, 1959 apud FEIJOO, 2011, p.80) Sobre o sonho da sra K. e o sonhar na psicoterapia daseinsanalítica (Feijoo, 2011; Evangelista, 2015), está correto afirmar: R: Os sonhos revelam possibilidades existenciais que uma existência singular está incapaz de se apropriar na vida desperta. Cabe ao daseinsanalista considerar com o paciente a quais fenômenos a existência do sonhador está aberta. 5) Trecho extraído da Carta Sobre o Humanismo, de Martin Heidegger. Do mesmo modo com ‘animal’, zõon [animal], já se pro-pôs uma interpretação da ‘vida’ que repousa necessariamente sobre uma interpretação do ente como zoé [vida] e physis [energia], em meio à qual se manifesta o ser vivo. Além disto e antes de qualquer outra coisa, resta, enfim, perguntar se a essência do homem como tal, originalmente – e com isso decidindo previamente tudo – realmente se funda da dimensão da animalitas [animalidade]. Estamos nós no caminho certo para essência do homem, quando distinguimos o homem e enquanto o distinguimos, como ser vivo entre outros, da planta, do animal e de Deus? Pode-se proceder assim, pode-se situar, desta maneira, o homem em meio ao ente, como um ente entre outros. Com isso se poderá afirmar, constantemente, coisas acertadas sobre o homem. É preciso, porém, ter bem claramente presente que o homem permanece assim relegado definitivamente para o âmbito essencial da animalitas; é o que acontecerá, mesmo que não seja equiparado ao animal e se lhe atribuir uma diferença específica. (...) Um tal pôr é o modo próprio da Metafísica. Mas com isso a essência do homem é minimizada e não é pensada em sua origem. (...) A Metafísica pensa o homem a partir da animalitas; ela não pensa em direção de sua humanitas [humanidade]. (p.352) (HEIDEGGER, M. Conferências e Escritos Filosóficos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973) Considere as afirmativas abaixo sobre a “essência” do homem para a fenomenologia-existencial: Pensar o homem a partir da animalitas não é exclusividade da Metafísica. Nós, cotidianamente, pensamos o homem (e nós mesmos) a partir da animalitas a todo o momento em que nos compreendemos como um organismo vivo (zoé). A essência do homem para a Daseinsanalyse não está em sua constituição física, nem psíquica, nem social. A essência do homem é ser-aí (Dasein). Conceber o homem como bio-psico-social permanece preso à interpretação “do ente como zoé [vida] e physis [energia], em meio à qual se manifesta o ser vivo.” Portanto, não nos aproxima mais da essência do humano. 6) Segundo Feijoó (2011), é necessário retomar a noção de Dasein (ser-aí) delineada por Heidegger em Ser e Tempo para a elaboração de uma ‘psicologia’ fenomenológico-existencial. Uma primeira apresentação da ‘definição’ de Dasein está no §9 do livro filósofo, onde ele indica que 1) “a ‘essência’ deste ente [nós mesmos] está em ter de ser” e 2) “O ser, que está em jogo no ser deste ente, é sempre meu.” (Heidegger, 1927/1998, p.78) Que nossa existência é dasein (ser-aí) significa: O ser-aí é sempre uma possibilidade de ser si-mesmo. Isso significa que a existência é as possibilidades existenciais que realiza. Existir significa compreender ser, tanto de si mesmo quanto dos outros e das coisas. Há vários modos de ser. Para Heidegger, a existência não tem uma essência quididativa; isto é, Dasein é atravessado pelo Nada, que é a indeterminação ontológica enquanto tarefa de ter-que-ser. 7) Leia o trecho abaixo, extraído de um livro do analista existencial norteamericano Rollo May: “A maioria dos que leem trabalhos referentes à analise existencial [daseinsanalyse] como manuais de técnica se desapontam. Eles não encontram métodos práticos especificamente desenvolvidos. Grande parte dos analistas existenciais não se mostra muito interessada em assuntos técnicos. O motivo principal de não estarem interessados em formular técnicas, sem nenhum constrangimento por isso, é que a análise existencial é uma forma de compreensão da existência humana, ao contrário de um sistema de ‘explicações’.” (p.166) (MAY, R. A descoberta do Ser, Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1993) De acordo com o texto, a maioria dos daseinsanalistas não se debruça sobre assuntos técnicos, pois o que constitui o cerne da compreensão da existência humana não é um sistema de explicações. O texto não nega em momento algum a possibilidade de o daseinsanalista fazer uso de técnicas especificas. Ele apenas aponta o fato de que a preocupação primeira desses analistas é a compreensão da existência humana. De acordo com o texto há uma distinção importante entre uma compreensão da existência humana e um sistema de explicações, sendo que a primeira é sempre o objetivo principal dos daseinsanalistas. 8) QUESTÃO ADAPTADA DO ENADE 2013 Uma paciente de 20 anos de idade, em uma entrevista inicial, relata um quadro diagnosticado como Transtorno de Pânico Sem Agorafobia (DSM IV 300.01): “Doutora, não sei o que eu tenho... estava na minha casa sozinha. Quando fui à cozinha, comecei a sentir mal! Senti como se algo horrível fosse acontecer. Senti como se estivesse morrendo... Minhas mãos começaram a formigar. Meu coração disparou, mal conseguia respirar. Nada estava acontecendo e eu não sabia o que me acontecia. Achei que meu coração ia parar! Comecei a chorar! O médico me disse que eu não tinha nada. Me receitou um ansiolítico e me mandou para casa. Isso foi há um ano. Isso ocorreu mais de uma vez e sempre de repente! Às vezes, quando menos espero. Eu estou apavorada! Não sei o que acontece, nem quando vai acontecer! Tenho medo de enlouquecer ou de ter um ataque cardíaco! E eu sou atleta! Sei que não tem nada a ver! Nunca tive nada disso! Nunca usei drogas! E o médico me disseque minha saúde está bem. Meus pais estão bem! Minha relação com eles é boa! Tenho namorado! Agora não consigo nem ir à aula na faculdade sem ter medo! Mesmo em casa fico preocupada! O que é que eu tenho? Tem tratamento?” Considerando-se a terapia daseinsanalítica como referencial para compreender os quadros psicopatológicos e seu diagnóstico, são feitas as seguintes afirmativas: O diagnóstico psicopatológico é uma referência importante para o psicólogo daseinsanalítico, mas não pode ser sobreposto à observação direta do paciente nem à busca de uma compreensão conjunta com ele sobre como são para ele os acontecimentos que compõem sua existência. Nesse caso, cabe ao daseinsanalista investigar com o paciente como ele se sente, como compreende o que se passa com ele, etc. 9) Segundo JARDIM (2015), Por um lado, na familiaridade da queda (Verfallen) o fazer repetitivo é constitutivo e indispensável para o existir, tornando desnecessário que as atitudes sejam pensadas e percebidas a todo o momento; por outro, essa mesma repetição pode se tornar um aprisionamento quando restringe a possibilidade de surgimento de um novo modo de ser, isto é, de uma ação propriamente dita que abra outros caminhos para lidar com os questionamentos próprios de cada um. (p.69-70) Na terapia daseinsanalítica isso implica em: O sofrimento existencial está relacionado a uma queda no fazer repetitivo que fecha para novos modos de ser. O sentido da ação clínica é resgatar a condição de agente, isto é, iniciante na própria vida, recuperando a liberdade para projetar-se adiante.
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