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A Inconstitucionalidade do Artigo 273 do Código Penal Frente os Princípios da Proporcionalidade e da Lesividade

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CURSO DE DIREITO – UNIASSELVI/FAMEG 
 
A INCONSTITUCIONALIDADE DA PENA DO ARTIGO 273 DO CÓDIGO PENAL 
FRENTE OS PRINCÍPIOS DA LESIVIDADE E PROPORCIONALIDADE 
 
 
Roberto Rubens da Rosa 
Orientadora: Sibély Suzena Rosa 
 
 
RESUMO 
O presente artigo trará à tona a discussão acerca da inconstitucionalidade elencada 
pela alteração da redação do artigo 273, feita através da lei 9.677/98, mais 
conhecida como “Lei dos Remédios”, trazendo uma rápida abordagem dos 
elementos históricos que desencadearam na criação da referida lei, bem como sua 
inserção no taxativo rol dos crimes hediondos. Em segundo momento será analisado 
o próprio artigo 273 do Código Penal, descrevendo suas formas, condutas, sujeitos, 
objetividade jurídica, modalidade culposa e a equiparação de remédios com 
cosméticos, saneantes e os produtos de uso de diagnóstico. Após, serão abordados 
os princípios constitucionais da lesividade e proporcionalidade, flagrantemente 
violados com a tipificação do artigo e sua inserção na Lei dos Crimes Hediondos (Lei 
8.072/90). A metodologia utilizada será baseada em pesquisa bibliográfica e 
documental, utilizando-se o método dedutivo. Ao final, verifica-se que o próprio 
judiciário vem tomando posicionamento favorável à ideia de inconstitucionalidade da 
pena do artigo 273 do código penal, aplicando, no atual contexto, a pena do tráfico 
de entorpecentes. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Falsificação de Medicamentos, Crime Hediondo, Princípio da 
Lesividade, Princípio da Proporcionalidade. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
2 
 
 
Em 1998 o Brasil era assolado por uma onda de crimes relacionados com a 
falsificação de medicamentos, que eram facilmente encontrados em lojas e 
farmácias, e como a fiscalização era pequena, as quadrilhas especializadas 
aproveitavam para lucrar (MONTEIRO, 2002), já que o país é um dos maiores 
consumidores de remédios do mundo, segundo dados da Organização Mundial da 
Saúde (LIMA, 2015). 
Desta forma, estas condutas ilícitas prejudicaram grande número de 
consumidores, os quais adquiriam medicamentos acreditando serem de 
procedência, mas eram falsificados e sem nenhum resultado efetivo em seus 
quadros de enfermidades. As pessoas acreditavam que estavam fazendo o 
tratamento correto para a cura da enfermidade quando na verdade estavam 
tomando “pílula de farinha”, por exemplo. 
As denúncias de apreensões de medicamentos falsificados noticiados pela 
grande mídia acabaram por pressionar o legislador, com o intuito de resgatar a 
credibilidade da indústria farmacêutica. Resultado deste movimento foi a edição de 
uma lei mais rigorosa que oferecesse resposta rápida e rigorosa aos que delinquiam 
contra a economia popular e saúde dos brasileiros. 
É certo, porém, que a resposta mais esperada pela população e pela mídia na 
época era uma lei que aumentasse as penas para tal conduta, já definida como 
crime pelo artigo 273 do Código Penal (MONTEIRO, 2002). 
Entretanto, com a urgência demasiada, acabou resultando em uma legislação 
severa, que agradou aos olhos da sociedade, porém revelou-se carente de técnicas 
e estudos que comprovassem sua eficácia (MONTEIRO, 2002). 
Neste contexto é que é promulgada em 02 de julho de 1998, a Lei nº 9.677 
que alterou os dispositivos do Capítulo III do Título VIII do Código Penal, incluindo 
na classificação dos delitos considerados hediondos os crimes contra a saúde 
pública. Ela aumentou severamente as penas do artigo 273 do Código Penal e 
trouxe consigo diversas mudanças em seus incisos, como a equiparação da 
falsificação de remédios à falsificação de cosméticos, produtos de limpeza e os de 
uso de diagnóstico. 
3 
 
 
Já em 20 de agosto de 1998 entra em vigor a lei 9.695/98, a qual agravou 
ainda mais a situação de quem comete o referido crime, transformando a 
falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins 
terapêuticos ou medicinais em crime hediondo, incluindo tal dispositivo na lei 
8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos). 
A partir de tais dispositivos, vários doutrinadores problematizam, criticam e 
questionam a vigência da pena do referido artigo do Código Penal, fundamentando 
seus argumentos nos princípios constitucionais da proporcionalidade e da 
ofensividade. 
Essa, portanto, é a problemática que envolve o tema e a justificativa para sua 
abordagem. A partir daí se buscará, então, como objetivo geral refletir acerca da 
inconstitucionalidade da alteração do artigo 273, feita por meio da lei 9.677/98. 
A metodologia utilizada será baseada em pesquisa bibliográfica e documental, 
utilizando-se o método dedutivo. 
Além da introdução e das considerações finais, o texto se dividirá em tópicos 
que tratarão dos crimes hediondos, do artigo 273 do Código Penal como crime 
hediondo, da falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado 
a fins terapêuticos ou medicinais (artigo 273 do Código Penal), da 
inconstitucionalidade do artigo 273 do Código Penal e da análise jurisprudencial 
sobre o tema. 
 
2 CRIMES HEDIONDOS 
 
2.1 DEFININÇÃO 
 
O dicionário da língua portuguesa já descreve a palavra hediondo como 
sendo algo que é considerado desprezível, horrendo, horrível, do ponto de vista 
moral (MICHAELIS, 2016). 
A introdução legal do crime hediondo na legislação brasileira ocorre com a 
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5°, XLIII, apresenta a expressão 
“Crimes Hediondos” 
4 
 
 
 
A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a 
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o 
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os 
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. 
 
O legislador constituinte deixou para o poder legislativo a responsabilidade de 
definir posteriormente quais seriam os crimes a serem considerados hediondos, o 
que foi feito em com a aprovação da Lei 8.072, em 25 de julho de 1990, que dispôs 
sobre tais crimes. 
Acerca desta definição o Judiciário passa a se manifestar, como expõe parte 
do julgado a seguir colacionado: 
 
O legislador brasileiro pecou por indefinição a respeito da locução crime 
hediondo contida na regra constitucional. Ao invés de fornecer uma noção, 
tanto quanto explícita, do que atenda ser a hediondez do crime, preferiu 
adotar um sistema bem mais simples, ou seja, o de etiquetar, com a 
expressão hediondo, tipos já descritos no Código Penal ou em leis penais 
especiais (TJRS – Rel. Moacir Danilo Rodrigues – RJTJRS 175/45). 
 
Pela falta de definição constitucional, o legislador criou um rol de crimes com 
objetos jurídicos diferentes, com o mesmo tratamento processual. No mesmo 
sentido, ensina Monteiro (2002): 
 
Assim, crime hediondo é simples e tão somente aquele que, 
independentemente das características de seu cometimento, da brutalidade 
do agente, ou do bem jurídico ofendido, estiver enumerado no artigo 1° da 
lei. Estamos assim diante de um grupo de crimes que, embora de objetos 
jurídicos distintos e de outros elementos de afinidade discutível, têm o 
mesmo tratamento processual pela simples razão de que a lei assim o quis. 
Os crimes Hediondos são em numerus clausus. 
 
Desta forma o legislador impediu o judiciário da possibilidade de interpretação 
do que seria a hediondez de um crime, sendo obrigado a obedecer aos crimes 
elencados na Lei 8.072/90. 
Portanto, são crimes hediondos: 
 
5 
 
 
I – Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de 
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado 
(art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); (Redação dada pela Leinº 
13.142, de 2015) 
I-A - Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão 
corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra 
autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, 
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, 
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, 
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa 
condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) 
II - Latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 
1994) 
III - Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela Lei 
nº 8.930, de 1994) 
IV - Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e 
§§ lo, 2o e 3o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) 
V - Estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei nº 
12.015, de 2009) 
VI - Estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação 
dada pela Lei nº 12.015, de 2009) 
VII - Epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela 
Lei nº 8.930, de 1994) 
VII-B - Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto 
destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e 
§ 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). 
(Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998) 
VIII - Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual 
de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). 
(Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014) 
 
Destaca-se ainda que a Constituição de 1988 equiparou os crimes de tortura, 
terrorismo e o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins aos crimes hediondos. 
 
2.2 ORIGEM 
 
A humanidade sempre se preocupou e penalizou a prática de crimes contra a 
vida de maneira severa. (Bíblia, p. 17): 
 
E quem matar a alguém certamente morrerá. Mas quem matar um animal, o 
restituirá, vida por vida. Quando também alguém desfigurar o seu próximo, 
como ele fez, assim lhe será feito: Quebradura por quebradura, olho por 
6 
 
 
olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se 
lhe fará. 
 
Depois disso, o Direito Penal começa a se desenhar e ganhar forma, pois 
muitos povos seguiram o mesmo parâmetro bíblico, como por exemplo, as Leis das 
XII Tábuas, Lei de Talião e o Código de Hamurábi, são Códigos Penais da 
antiguidade que visavam punir do infrator com uma pena, em tese, proporcional ao 
dano causado, mas não se importando se ele realmente teve a intenção de cometer 
tal delito (NORONHA; MAGALHÃES, 2004). 
Com o passar do tempo os pensamentos foram evoluindo, ou, em alguns 
casos retroagindo dependendo do lugar e das classes dominantes, porém sempre 
se utilizou o escopo da busca por uma sociedade justa. 
Deste modo, entende-se que o Direito Penal, de certa forma, não “evolui”, 
apenas acompanha os caminhos que o homem segue na história. No entanto, os 
crimes hediondos não são aqueles que trazem uma carga excessiva de injustiça ou 
violência. A definição está naquele crime que os legisladores entenderam por ser o 
mais reprovável (FRANCO, 2000). 
Contextualizando o tema para o Brasil, a primeira aparição na legislação 
brasileira do termo crimes hediondos foi no inciso XLIII do artigo 5° da Constituição 
de 1988: 
 
A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a 
prática da tortura, o tráfico de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e 
os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, 
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. 
 
A aprovação da Lei de Crimes Hediondos, em 1990, foi antecedida do 
sequestro de importante empresário brasileiro, Abílio Diniz, em 11 de dezembro de 
1989 (FOLHA ONLINE, 2002) e do empresário Roberto Medina em 06 de junho de 
1990, Medina ficou 16 dias em cativeiro o que influenciou a aprovação da referida lei 
(VIEIRA, 2002). 
Sob pressão da mídia, em 25 de julho de 1990 foi aprovada a Lei 8.072, de 
julho de 1990, a conhecida “Lei dos Crimes Hediondos”. 
7 
 
 
3 ARTIGO 273 DO CÓDIGO PENAL COMO CRIME HEDIONDO 
 
3.1 INTRODUÇÃO 
 
A Lei dos crimes hediondos (Lei 8.072/90) foi alterada em 20 de agosto de 
1998, pela Lei 9.695 e, com a nova redação trazida pela referida lei, a falsificação, 
corrupção, adulteração ou a alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou 
medicinais foi introduzida no rol de crimes hediondos. 
Monteiro (2002) explica que este agravamento de conduta foi implementado 
após as denúncias pelos órgãos de comunicação, do grande número de 
medicamentos falsificados: Em 1998 “o governo descobriu 138 medicamentos falsos 
nas prateleiras das farmácias”. 
Foram vários os casos de falsificações noticiados pela mídia em um curto 
período de tempo, como o caso da pílula de farinha Microvilar, do antibiótico Amoxil, 
do remédio de câncer de próstata Androcur. Assim mulheres começaram a 
engravidar indesejavelmente e idosos começaram a falecer pela ineficácia dos 
remédios de câncer de próstata. Diante da gravidade dos fatos a sociedade, 
impulsionada pela mídia, exigia das autoridades uma posição enérgica (MONTEIRO, 
2002). 
“É certo que a resposta mais esperada pela população e pela mídia era a 
criação de uma lei que aumentasse as penas dos crimes já previstos no Código 
Pena, nos artigos 272 a 275” (MONTEIRO, 2002). 
Neste contexto, surge a reflexão acerca da inconstitucionalidade da legislação 
em estudo. 
 
3.2 LEI Nº 9.677 DE JULHO DE 1998 
 
A resposta governamental aos escândalos foi rápida, no dia 04 de março de 
1998 o deputado Benedito Domingos do partido PPB/DF, apresentou o projeto de 
Lei n° 4207/98, com a seguinte ementa: 
 
8 
 
 
 
Altera a redação do art. 1° da Lei 8.072 de 25 de julho de 1990, incluindo na 
classificação dos delitos considerados hediondos, o crime de corrupção, 
adulteração, e falsificação de substância alimentícia ou medicinal, expondo 
à venda, na forma qualificada. (Art. 272 e seu §1°, combinado com o art. 
285, do Código Penal Brasileiro). 
 
 
Porém, neste primeiro projeto o nobre deputado ofereceu uma pena mais 
branda para os crimes previstos nos artigos 272 e 273 do Código Penal, sendo, de 2 
a 6 anos e multa. 
Em 24 de junho de 1998 foi aprovado o projeto substitutivo n° 4.642/98, de 
iniciativa do Poder Executivo, assinado pelo então Ministro da Justiça Renan 
Calheiros e o Ministro da Saúde José Serra, na sessão da Câmara presidida pelo 
Michel Temer, tendo como relator o Deputado Marconi Perillo. E no mesmo dia foi 
encaminhado ao Senado Federal. 
Neste projeto substitutivo, foram alteradas as penas e alguns tipos penais dos 
artigos 272, 273, 274, 275, 276, e 277 do Código Penal, sendo a do artigo 273 do 
Código Penal aumentada para 10 a 15 anos e multa, com a equiparação de 
medicamentos a cosméticos e saneantes. 
No Senado o relator do projeto foi o Senador Lúcio Alcântara, que lhe deu 
parecer favorável. No fim, foi aprovado em 1° de julho de 1998 o texto com a 
seguinte ementa: “Altera dispositivos do Capítulo II do Título VIII do Código Penal, 
incluindo na classificação dos delitos considerados hediondos crimes contra a saúde 
pública, e dá outras providências”. No mesmo dia foi enviado à sanção presidencial, 
transformando-se na Lei 9.667 de 2 de julho de 1998 (MONTEIRO, 2002). 
 
3.3 LEI Nº 9.695 DE 20 DE AGOSTO DE 1998 
 
O projeto de Lei n° 4628/98 foi apresentado pelo Deputado de Minas Gerais 
Silvio Abreu, com a seguinte ementa: “Acrescenta incisos ao artigo 1° da Lei n° 
8.072,de 25 de Julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos e altera os 
9 
 
 
artigos. 2°, 5° e 10° da Lei n° 6.437, de 20 de agosto de 1977, e dá outras 
providências”. 
Podemos observar que este projeto surgiu para corrigir um equívoco e falta 
de sintonia trazida pela Lei 9.677/98. E esse projeto possuía uma natureza 
administrativa e penal, pois a Lei n° 6.437/77 refere-se à legislação sanitária federal. 
Nesse sentido Monteiro (2002, p. 73): 
 
É um projeto ao mesmo tempo de natureza penal e administrativa, já que a 
Lei 6.437/77 “configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece 
sanções respectivas, e das providências”, mas seus dispositivos não têm 
natureza de lei penal. 
 
Esse projeto teve algumas emendas e foi aprovado com redação final no dia 
12 de agosto de 1998, pelo relator da Câmara dos Deputados Prisco Viana, para, 
em seguida, ser encaminhada ao Senado Federal no mesmo dia, recebendo parecer 
favorável do senador Lúcio Alcântara, com aprovação da redação final em 13 de 
agosto de 1998, sendo o relator o senador Ronaldo Cunha Lima. 
Por meio dessa lei, foram considerados hediondos apenas os delitos previstos 
nos artigos 272 e seus parágrafos e o artigo 273 e seus parágrafos do Código Penal. 
Entretanto, ao passar para sanção presidencial, Fernando Henrique Cardoso vetou a 
inclusão do artigo 272 e seus parágrafos aduzindo que sua inclusão afrontaria a 
ideia de razoabilidade e proporcionalidade positivados no artigo 5°, LIV, da 
Constituição Federal. 
As razões do veto estão na mensagem n. 976, de 20 de agosto de 1998: 
 
O tipo penal previsto no art. 272 ao descrever as diversas condutas 
passíveis de punição, contempla a adulteração de produtos alimentícios que 
possa causar danos à saúde ou reduzir o seu valor nutritivo. A última 
situação descrita – adulteração de produtos alimentícios com redução do 
valor nutritivo – poderá ensejar que se considere crime hediondo qualquer 
alteração de seu valor significante, de produto alimentício que acarrete a 
redução de seu valor nutritivo. A abertura textual do tipo penal sob análise 
pode permitir sua aplicação com amplo grau de subjetividade ou descrição. 
Tal fato já seria suficiente para não recomendar a sua inclusão no rol dos 
crimes considerados hediondos. É fácil ver, outrossim, que uma análise 
acurada das consequências indica que, em muitos casos, tal 
proporcionalidade positivada entre nós, no art. 5°, inciso LIV, da 
10 
 
 
Constituição Federal (princípio do devido processo legal). É certo, 
outrossim, que a qualificação de uma dada ação ou omissão como crime 
hediondo não pode ser banalizada, sob pena de se retirar o significado 
específico que o constituinte e o legislador pretendem conferir a esse 
especialíssimo mecanismo institucional. 
 
Assim o inciso vetado nada mais é do que o artigo 272, caput e § 1° - A e 1° 
do Código Penal, com a redação dada pela Lei 9.677/98, ou seja, corrupção, 
adulteração, falsificação ou alteração de substância ou produto alimentício destinado 
a consumo, tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo. Dessa 
forma apenas uma das novas figuras foi acrescentada à Lei dos Crimes Hediondos, 
e corresponde ao artigo 273 do Código Penal com a redação da Lei 9.677/98, caput, 
e §1°, 1°-A e 1°-B, com a redação dada pela mesma lei (MONTEIRO, 2002). 
Disto podemos extrair que depois da redação trazida pela Lei 9.677/98, o tipo 
do art. 272 cuidava apenas de substâncias ou produtos alimentícios, enquanto o art. 
273 refere-se a produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. E apenas este 
último é que restou incluído no rol dos crimes hediondos. 
 
4 FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE 
PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS (ARTIGO 273 
DO CÓDIGO PENAL) 
 
4.1 DEFINIÇÃO 
 
O artigo 273 do Código Penal Brasileiro teve sua redação significativamente 
alterada e determinada pela Lei 9.677/98, bem como sua tipificação e seus artigos. 
Até 1890 o Código Penal não previa delito semelhante ao do disposto no artigo 
comentado, pois não havia qualquer consenso sobre o assunto. O único propósito 
do legislador era garantir a saúde pública e punir o vendedor de remédios que agia 
de má-fé (PIERANGELI, 2007). 
Já o Código Penal de 1940, ainda em vigor, contempla tanto a nocividade 
positiva quanto negativa, a primeira no art. 272 e a segunda no art. 273 neste artigo, 
“muito embora se considere a produção de um perigo à saúde, por não reunir as 
11 
 
 
qualidades que deveria apresentar, não coloca, pelo menos de imediato, em perigo 
a saúde do ser humano” (PIERANGELI, 2007) 
Antes da nova redação trazida pela Lei 9.677/98 o referido artigo tratava de 
substância alimentícia ou medicinal, bem como da alteração dessas substâncias, 
independentemente de torná-las nocivas à saúde. 
Na mesma linha disserta Monteiro (2002, p.75): 
 
Os tipos penais previstos nos arts. 272 e 273 com a redação primitiva do 
Código Penal foram substancialmente alterados pela Lei n. 9.677/98. É que 
na versão original ambos tratavam de substância alimentícia ou medicinal, 
mas o tipo do art. 272 cuidava apenas da alteração dessas mesmas 
substâncias, independentemente de as tornar nocivas à saúde ou não. 
 
A Lei 9.677/98 alterou a redação do artigo 272 do Código Penal, fazendo com 
que este trate apenas de substâncias ou produtos alimentícios e do artigo 273 para 
medicamentos, porém, acrescentando os parágrafos § 1° - A e B deixando como 
redação final a seguinte disposição: 
 
Art.273. Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produtos destinados a fins 
terapêuticos ou medicinais: Pena – reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) 
anos, e multa. 
§1°. Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe a venda, tem 
em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a 
consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. 
§1°.-A. Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os 
medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os 
cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. 
§1°.-B. Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas 
no § 1° em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: 
I- Sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária 
competente; 
II- Em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso 
anterior 
III- Sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua 
comercialização; 
IV- Com redução do seu valor terapêutico ou de sua atividade; 
V- De procedência ignorada; 
12 
 
 
VI- Adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária 
competente. 
 
Ainda o mesmo artigo, em seu parágrafo 2º, prevê uma modalidade culposa 
para o delito descrito acima, ao dispor que “se o crime é culposo: Pena – Detenção 
de 1 (um) a 3 (três) anos e multa”. 
E a Lei 9.695/98 incluiu no rol dos crimes considerados hediondos (artigo 1° 
da Lei 8.072/90) o crime previsto no artigo 273, caput, §1°, §1° - A e §1° - B. 
 
4.2 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
 
O tipo penal em tela está situado no Capitulo III do Código Penal, intitulado 
“Dos Crimes Contra a Saúde Pública”, logo, o bem jurídico protegido é a própria 
“Saúde Pública” 
 
Tutela-se, ainda, a saúde pública, tentando-se evitar a produção, comércio 
ou entrega de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais com 
nocividade positiva, pela inadequação do produto ao tratamento ou com 
reduzido valor medicinal (MIRABETE, FABBRINI, 2009). 
 
Então a objetividade jurídica recai sobre a saúde pública, pois, diminuído o 
potencial restaurador da saúde, as pessoasserão prejudicadas em seu bem-estar 
pela insuficiência, podendo até chegar a morte (COSTA JÚNIOR, 2002). 
 
4.3 TIPO OBJETIVO 
 
O objeto material do crime previsto no artigo 273 é o produto destinado a fins 
terapêuticos ou medicinais. Segundo Mirabete e Fabbrini (2009) “produto é o 
resultado de qualquer atividade humana”. É necessário, porém, que seja destinado a 
fins terapêuticos ou medicinais, ou seja, para aliviar, tratar e curar doentes. 
A Lei 9.677/98 também incluiu expressamente todos os medicamentos, as 
matérias-primas, os insumos farmacêuticos (componentes da produção), 
13 
 
 
cosméticos, saneantes e os de uso de diagnóstico (usados para tomar 
conhecimento de determinada doença) (MIRABETE; FABBRINI, 2009). 
O artigo 273 do Código Penal, em seu caput, apresenta várias condutas 
incriminadoras, que, para Nucci (2014, p.827), “trata-se de tipo misto alternativo, ou 
seja, a prática de uma ou mais condutas implica sempre num único delito, quando 
no mesmo contexto”. 
Dentre as várias condutas, a primeira delas é falsificar, que, quer dizer alterar, 
mediante fraude, o produto. O crime pode ser praticado com o emprego de 
substância diversa das que entram na composição normal do produto, embora 
externamente tenha a aparência idêntica ou semelhante à genuína (MIRABETE; 
FRABBRINI, 2009). 
A segunda conduta tipificada é a de corromper o produto, ou seja, decompô-
lo, estragá-lo, desnaturá-lo, ou mesmo abrir a embalagem do produto antes da 
venda, mesmo que seja por omissão (MIRABETE, FABBRINI, 2009). 
E a seguinte é adulterar, que nada mais é do que mudar para pior o produto. 
Por fim, a última conduta típica é a de alterar o produto, modificando sua 
qualidade, suas características, seus atributos de pureza ou perfeição, suprimindo, 
total ou parcialmente, qualquer elemento de sua composição original. 
Sobre o tema apontam Mirabete e Fabbrini (2009): 
 
Lembre-se como caracterização do crime o fato recente de ter-se 
substituído a penicilina sintética por farinha de trigo no antibiótico 
Ampicilina, um medicamento produzido na cidade de Santo André, bem 
como no medicamento Androcur prescrito a pacientes portadores de câncer. 
Pode a ação reduzir o valor terapêutico do produto, quando o agente 
diminui suas características pela adição de outras substâncias. 
 
No § 1° o referido artigo também configura crime a conduta de quem importa, 
vende expõe à venda, tem em depósito, ou de qualquer forma distribui ou entrega a 
consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. Na conduta de 
ter em depósito, a lei exige que o comportamento tenha finalidade a venda 
(MIRABETE; FABBRINI, 2009). 
14 
 
 
A Lei também prevê que tais condutas podem referir-se a produtos nas 
seguintes condições: 
A) Sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária 
competente, ou seja, é o produto, que embora não adulterado de qualquer forma, 
deixou de ser regularmente inscrito no órgão governamental (trata-se de norma 
penal em branco). 
B) Em desacordo com a fórmula constante do registro no órgão 
competente, que é quando se registra o produto com uma fórmula, mas o destina a 
consumo com conteúdo diverso do que consta no registro (além de norma penal em 
branco). 
C) Sem as características de identidade e qualidade admitidas para sua 
comercialização, que nada mais é do que o produto que tenha mudado sua forma de 
apresentação, ou não é aquele que consta na autorização governamental, seja 
porque não preenche, na essência, o objetivo da vigilância sanitária (também se 
trata de norma penal em branco). 
D) Com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade, neste caso 
o produto, tal como é conhecido, deveria apresentar certa eficácia para o combate a 
determinados males ou doenças, deixando de agir porque foi alterado, perdendo sua 
capacidade terapêutica ou diminuindo-se o tempo de duração de seus efeitos. 
E) De procedência ignorada, é o produto sem origem, sem nota fiscal e 
sem controle de procedência, podendo ser verdadeiro ou falso, ou ainda, dificultando 
a fiscalização da autoridade sanitária. 
F) Adquiridos de estabelecimentos sem licença da autoridade sanitária 
competente, estes por sua vez, compõe o universo dos produtos originários de 
comércio clandestino de substâncias medicinais ou terapêuticas. 
 
4.4 TIPO SUBJETIVO 
 
O elemento subjetivo do tipo na figura típica prevista no caput do artigo 273 
do Código Penal é o dolo, ou seja, a vontade de falsificar, alterar, adulterar ou 
15 
 
 
praticar qualquer das condutas tipificadas no referido artigo. A priori o agente realiza 
a conduta com o fim de obter lucro (DAMÁSIO DE JESUS, 2013). 
Para Franco (2001) dolo é “vontade livre e consciente de praticar qualquer 
das ações no texto incriminadas, sabendo o agente destinadas às substâncias 
(alimentícias ou medicinais) a consumo público”. 
Uma exceção aqui é a modalidade “ter em depósito” que se exige, além do 
dolo, um especial fim de agir, consistente na finalidade de vender o produto alterado 
(DAMÁSIO DE JESUS, 2013). 
 
4.5 SUJEITOS DO DELITO 
 
4.5.1 Sujeito Ativo 
 
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Normalmente, o crime é praticado 
por comerciante ou industrial, a fim de obterem mais lucros em seus negócios. 
Contudo, não é exigível que o sujeito possua qualidade de comerciante ou industrial. 
Cabe destaque, que o empregado do estabelecimento comercial ou industrial 
pode ser sujeito ativo deste crime em concurso com o patrão (DAMÁSIO DE JESUS, 
2013). 
Reforçando, afirma Mirabete e Fabbrini (2009): 
 
Sujeito ativo é quem pratica uma das condutas incriminadas, 
independentemente da qualidade de produtor ou comerciante. Tratando-se 
de empregado, pode haver erro de tipo, ou, se forçado a praticar o ilícito sob 
ameaça de dispensa, a inexigibilidade de conduta diversa. 
 
 Assim, percebe-se que o sujeito ativo é quem pratica a conduta, 
mesmo se não for produtor ou comerciante. 
 
4.5.2 Sujeito Passivo 
 
16 
 
 
O sujeito passivo neste caso, sem grandes discussões a respeito, é o Estado, 
a coletividade, na qual a saúde da população é posta em risco, presumidamente, 
pela nocividade positiva ou negativa (MIRABETE; FABBRINI, 2009). 
 
4.6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
 
O crime consuma-se com a prática de qualquer das condutas descritas no 
caput do artigo 273 do Código Penal, ainda que não haja perigo para a saúde de 
outrem, o mesmo se aplica as condutas previstas no §1° (NUCCI, 2014). 
Na mesma linha de raciocínio leciona Mirabete e Fabbrini (2009): 
 
Consuma-se o crime quando praticada a ação típica, independentemente de 
qualquer outro resultado. O perigo para a saúde pública é presumido por lei, 
não se exigindo, pois, sua comprovação. 
 
Para Damásio de Jesus (2013): 
 
Os delitos descritos no art. 273, adotada a sistemática atual do Código 
Penal, são de perigo abstrato. O legislador presume, de maneira absoluta, a 
ocorrência de perigo à coletividade em face da alteração ou da entrega a 
consumo de produto fabricado para fins medicinais ou terapêuticos. Não é 
necessário que o Juiz perquira a real superveniência de perigo para a 
consumação. 
 
Como o crime é plurissubsistente, nada impede a tentativa. Esta existe 
quando não ocorre a falsificação, corrupção, adulteração ou alteração por 
circunstâncias alheias à vontade do agente, tendo este já iniciado a execução da 
conduta típica (DAMÁSIO DE JESUS, 2013). 
Para Damásio de Jesus (2013), “em qualquer das hipóteses, admite-se a 
tentativa, uma vez que o iter criminis é passível de fracionamento”. 
Assim, vemos que a tentativa é perfeitamente possível, pois trata-sede um 
crime composto de vários atos que integram a conduta fracionando-se o crime. 
 
17 
 
 
4.7 FORMAS QUALIFICADAS 
 
Em qualquer das condutas típicas, se do fato resultar lesão corporal de 
natureza grave ou morte, há crime qualificado pelo resultado. Neste caso aplica-se 
ao artigo 273 o disposto no artigo 258 por força do artigo 285 (MIRABETE; 
FABBRINI, 2009). 
Artigo 258: 
Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza 
grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta 
morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão 
corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena 
cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. 
 
Desta forma, seguindo o que dispões o artigo 258, um sujeito que causa lesão 
corporal grave dolosa terá uma pena mínima de 13 anos e 3 meses, já que causa 
morte culposa tem a pena mínima de 1 ano e 3 meses. Ainda, a legislação não faz 
distinção de pena nas modalidades culposa e dolosa no caso de lesão corporal de 
natureza grave. 
 
4.8 CRIME CULPOSO 
 
Comete o crime em pauta, na modalidade culposa o agente que, agindo sem 
dolo, mas com imprudência, negligência ou imperícia, falsifica, corrompe, adultera, 
importa, vende, dentre outros tipos constantes do artigo as substâncias 
incriminadas. 
Sobre o tema ensina Mirabete e Fabbrini (2009): 
 
Agindo o sujeito ativo sem dolo, mas também sem tomar as cautelas 
necessárias na espécie, comete o crime culposo ao corromper, adulterar, 
alterar, importar, vender etc. a substância incriminada. É dever do fabricante 
e do comerciante verificar as condições com que se apresentam os 
produtos referidos no artigo 273, além de obedecer às normas jurídicas 
específicas que regulam suas atividades. Quando o comerciante, porém, 
entrega ao consumo mercadoria contida em recipiente fechado como a 
recebeu do fabricante, não cabe condená-lo pelo delito, pois não podia 
saber se estava, ou não, adulterada. 
18 
 
 
 
Então aquele que, de qualquer forma, entrega ao consumo da coletividade 
substância medicinal tem o dever de verificar o estado em que ela se encontra. Caso 
não observe caracteriza a figura típica culposa. Porém, às vezes, tal verificação se 
torna inviável. Exemplo disso é a venda de enlatados. Obviamente, o comerciante 
não pode, ao receber tal mercadoria, abrir as embalagens para verificar o estado em 
que se encontram os produtos nela contidos. Nesta hipótese, não se poderá imputar 
a culpa de quem vende o produto adulterado, uma vez que a abertura das 
embalagens inutilizaria a mercadoria para a venda. Mas a responsabilidade de quem 
fabricou o produto, poderá estar caracterizada, se presentes as demais elementares 
da figura típica dolosa (DAMÁSIO DE JESUS, 2013). 
Dito de outro modo, o fornecedor de substância medicinal tem o dever de 
verificar o estado em que o produto se encontra, sob pena de poder caracterizar a 
figura culposa. 
 
4.9 PENA E AÇÃO PENAL 
 
A falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produtos destinados a 
fins terapêuticos ou medicinais é punida, cumulativamente, com pena de reclusão, 
de dez a quinze anos, e multa. 
As figuras típicas descritas nos §1°, §1° - A e § 1° - B são apenadas com as 
mesmas sanções previstas no caput. 
Se o crime é culposo, aplica-se a pena de detenção, de um a três anos, e 
multa (DAMÁSIO DE JESUS, 2013). 
Além da pena exacerbada, os delitos nesse artigo sujeitam-se as medidas e 
restrições previstas na Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), tais como a 
vedação da anistia, graça, indulto, fiança, e liberdade provisória após cumprido dois 
quintos da pena, se o réu for primário e três quintos se o réu for reincidente. 
Assim leciona Monteiro (2002): 
 
19 
 
 
Além de ser crime hediondo, e portanto, sujeito a todos os gravames 
processuais e outras restrições previstas na Lei n. 8.072/90, como vedação 
de anistia, graça e indulto, fiança e etc., a pena foi exasperada a tal ponto 
que houve uma inversão de valores. 
 
Por fim, a ação penal nesses casos será pública e incondicionada. 
 
5 A INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 273 DO CÓDIGO PENAL 
 
5.1 OFENSA AO PRINCÍPIO DA LESIVIDADE 
 
Embora seja um princípio que não esteja expresso na Constituição Federal, o 
princípio da lesividade é um daqueles que detêm base constitucional, mesmo que 
implicitamente, além de possuir fundamento legal. O artigo 13 do Código Penal 
Brasileiro preleciona que o resultado de que depende a existência de um crime 
somente é imputável a quem lhe deu causa. Ou seja, não basta, para criminalizar, 
que haja desvalor na conduta, eis que se exige, por força legal, desvalor do 
resultado. Dito de outro modo, sem resultado, sem ofensa, sem prejuízo a bens 
jurídicos, ainda que no modo ameaça concreta, não há delito (LUCAS, 2016). 
O princípio da lesividade, também conhecido como princípio da ofensividade, 
se traduz na concepção de que nenhum delito possa existir sem que ofenda o bem 
jurídico tutelado pela norma penal (nullum crime sine injuria). Sua origem remonta ao 
período do iluminismo, cujo movimento destacou justamente a importância da pena 
em ser a mais necessária possível e dirigida para a prevenção de novos crimes 
(GRECO, 2009). 
De acordo com Nilo Batista (2007), no enfoque do princípio da lesividade 
podemos trabalhar com quatro vertentes: 
Primeira: é a proibição de incriminações que digam respeito a uma atitude 
interna do agente. Que significam as ideias e convicções, os desejos, aspirações e 
sentimentos do homem não podem constituir o fundamento de um tipo penal. 
Segunda: proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do 
próprio autor. Neste caso, as condutas e atos preparatórios para o cometimento de 
um crime cuja a execução, entretanto, não é iniciada (art. 14, inc. II do CP) não são 
20 
 
 
punidos. O mesmo fundamento veda a “autolesão”, ou seja, a conduta externa que, 
embora vulnerando formalmente um bem jurídico, não ultrapassa o âmbito do 
próprio autor, como por exemplo o suicídio, a automutilação e o uso de drogas. 
Terceira: proibir as incriminações de simples estados ou condições 
existenciais, que nada mais é do que dizer que o homem responde pelo que faz e 
não pelo que é. É vedado pelo princípio da lesividade a imposição de pena, a um 
simples estado ou condição de um homem. 
Quarta: proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem 
qualquer bem jurídico. Aqui estamos falando do “direito a diferença”, de práticas e 
hábitos de grupos minoritários que não podem ser criminalizados. 
Resumindo as vertentes apontadas por Nilo Batista em um único raciocínio, 
podemos dizer que de acordo com o princípio da lesividade, este visa proibir 
comportamentos que extrapolem o âmbito do próprio agente, que venham atingir 
bens de terceiros, atendendo-se ao brocado nulla lex penalis sine injuria. 
Várias infrações penais são questionadas pela doutrina, negando-se inclusive, 
sua validade, quando submetidas ao “teste da lesividade”, todos os tipos penais que 
preveem delitos de perigo abstrato não se sustentariam. Do mesmo modo, a 
vadiagem, mendicância, embriaguez ao volante, o consumo de drogas, a 
automutilação, o suicídio e o tema abordado pelo presente artigo científico, a 
falsificação de medicamentos, cosméticos e saneantes (GRECO, 2009). 
Segundo Capez (2011), à luz do princípio da ofensividade, os crimes de 
perigo abstrato, nesse caso, incluindo o crime do artigo 273, em que a maior parte 
da doutrina considera ser um crime de perigo abstrato, não deveriam existir, pois 
seriam inconstitucionais: 
 
O princípio da ofensividadeconsidera inconstitucionais todos os chamados 
“delitos de perigo abstrato”, pois, segundo ele, não há crime sem 
comprovada lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico. Não se confunde 
com princípio da exclusiva proteção do bem jurídico, segundo o qual o 
direito não pode defender valores meramente morais, éticos ou religiosos, 
mas tão somente os bens fundamentais para a convivência e o 
desenvolvimento social. Na ofensividade, somente se considera a existência 
de uma infração penal quando houver efetiva lesão ou real perigo de lesão 
ao bem jurídico. No primeiro, há uma limitação quanto aos interesses que 
podem ser tutelados pelo Direito Penal; no segundo, só se considera 
21 
 
 
existente o delito quando o interesse já selecionado sofrer um ataque ou 
perigo efetivo, real e concreto. 
 
Não há como deixar de punir as condutas incriminadoras previstas pelo artigo 
273 do Código Penal, porém, existe um abismo entre as condutas previstas nos 
parágrafos 1-A e 1- B e as condutas previstas no caput do mencionado artigo. Não 
se pode equiparar a conduta de falsificar ou adulterar um medicamento, em que 
realmente pode causar um dano a toda sociedade, caracterizando realmente um 
crime que deve , ter uma pena maior, com a conduta de quem pratica alguma 
infração em relação aos produtos sem ter o registro. Ou seja, uma conduta que a 
priori não ocasionará dano de maior gravidade a ninguém. 
Monteiro (2002), no mesmo sentido diz “diversas críticas podem ser feitas... 
como a ofensa aos princípios da proporcionalidade e da ofensividade em face do 
quantum da pena cominada, bem como a equiparação de objetividades jurídicas tão 
distintas como produtos destinados a preservar a vida humana e outros tão somente 
visando à limpeza de forma geral”. 
 
5.2. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE 
 
Não é de hoje que se discute a ideia de se ter uma pena proporcional à 
infração cometida, mais especificamente a partir do século XVIII, que se deu mais 
destaque com a obra “Dos delitos e das Penas” de Beccaria. 
Podemos indicar, ainda o código de Hamurábi como aquele que tecnicamente 
foi o primeiro que nos forneceu uma noção de proporcionalidade, mesmo que não se 
pudesse afirmar, com certeza que o “olho por olho e o dente por dente”, cumpria 
rigorosamente essa função. 
É certo que penas desproporcionais trazem uma sensação de injustiça. Pois 
desde criança, o ser humano tem a ideia de um castigo proporcional à sua 
desobediência. E quando os pais exageram no castigo fica um sentimento de 
revolta. 
Contudo, um dos maiores problemas do direito penal é justamente, encontrar 
a pena proporcional à gravidade do delito praticado. 
22 
 
 
Por outro lado, sabemos que o raciocínio da proporcionalidade não é dos 
mais fáceis, pois não podemos mensurar, exatamente, quanto vale a vida, a 
integridade física, a honra, a liberdade sexual, etc. 
Podemos dizer que o legislador é o primeiro responsável pelo raciocínio da 
proporcionalidade, considerando que é ele que cria os tipos das infrações penais, 
então, o segundo será o juiz que escolherá a pena de acordo com a concreta 
gravidade do delito executado, fazendo uso da margem de discricionariedade que 
lhe é concedida (GRECO, 2009). 
A Constituição Federal de 1988 traz no seu artigo 5° a proibição de tortura e 
de tratamento cruel ou degradante, bem como de penas de morte ou de caráter 
perpétuo, além da individualização (proporcionalização) da pena. 
Tal proporcionalidade da pena visa integrar a ideia de justiça contida no 
Direito, logo o princípio da proporcionalidade intervém na cominação, na aplicação e 
na execução da pena. A pena não pode se exaurir num tiro de aflição e execração 
pública, não pode ser uma coerção puramente negativa (BATISTA, 2007). 
O delineamento sobre o princípio da proporcionalidade tem a intenção de 
aclarar o seu não uso no que diz respeito ao artigo 273, no momento em que este 
destaca como crime hediondo tipicidade a cosméticos e saneantes. 
Para entender a desproporcionalidade da pena aplicada basta ver a definição 
dada pelo Decreto n° 79.094 de ambos os produtos mencionados. 
 
IX – Cosmético – O de uso externo, destinado à proteção ou ao 
embelezamento das diferentes partes do corpo, tais como pós faciais, 
talcos, cremes de beleza, creme para as mão e similares, [...]; 
X – Saneante Domissanitário – Substância ou preparação destinada à 
higienização desinfecção ou desinfecção domiciliar, em ambientes coletivos 
ou públicos, em lugares de uso comum e no tratamento da água, 
compreendendo: 
a) Inseticida – [...] 
b) Raticida – [...] 
c) Desinfetante – [...] 
d) Detergente – [...] 
 
23 
 
 
Sabendo o que são cosméticos e saneantes, fica a crítica pela importância 
dada pelo legislador ao colocar à categoria de crime hediondo com pena de dez a 
quinze anos a ação de alterar algum desses produtos por mais simples que ele seja. 
O poder legislativo parece ter desmedido o senso da proporcionalidade e da própria 
justiça. 
Nesta linha preleciona Monteiro (2002): 
 
O decreto n. 79.094, de 5 de janeiro de 1977, traça uma classificação, com 
as distinções entre cosméticos, produtos de higiene e perfumes. Para 
concluir que “o descumprimento de simples regulamento administrativo foi 
erigido à condição de crime hediondo, com elevadíssima sanção privativa 
de liberdade. Perquirições quanto à efetiva nocividade dos produtos seriam 
tidas como irrelevantes. 
 
Outro ponto relevante a ser destacado seria o §1°-B do artigo 273 que dispõe 
sobre matéria administrativa, sendo “sem registro no órgão de vigilância sanitária 
competente; sem as características de identidade e qualidade admitidas para sua 
comercialização e de procedência ignorada”, ou seja, quem deixa de cumprir uma 
exigência administrativa, muitas vezes sem dolo, envolvendo xampu, desodorante 
ou detergente está sujeito à prisão em flagrante e a uma condenação de 10 à 15 
anos de reclusão (MONTEIRO, 2002). 
 Portanto, como discorrido, há um entendimento que uma norma deve ser 
considerada inconstitucional quando violar princípios constitucionais, o artigo 273 do 
código penal está eivado do vício da inconstitucionalidade, eis que flagrantemente 
fere o princípio da proporcionalidade, nesse sentido: 
 
Conclui-se que o crime descrito no art. 273 do Código Penal fere o princípio 
constitucional da proporcionalidade, sendo, portanto inconstitucional, já que 
“A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um mandamento 
obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de 
ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio 
atingido, pois representam insurgência contra todo o sistema, subversão de 
sus valores fundamentais. ” (Laurentino, 2008) 
 
24 
 
 
Cabe relembrar que antes da lei 9.677/98, o crime previsto no artigo 273 do 
código penal tinha a pena de 1 a 3 anos e multa. Com a modificação trazida pela 
referida lei a pena passou para 10 a 15 anos e multa. 
Não bastasse isso, a Lei 9.695/98, incluiu o artigo 273 do código penal no rol 
dos crimes hediondos, ou seja, passou a ter o mesmo tratamento dado a homicida, 
traficantes, estupradores, entre outros. 
E o problema continua, depois de a Lei 9.677/98, Laurentino (2008) comenta 
que: 
 
Para se ter uma ideia do absurdo jurídico criado com o advento da Lei nº 
9.677 /98, hoje, se o agente introduzir (importar) produto destinado a fim 
medicinal sem o devido registro estará sujeito a uma pena de no mínimo 
dez anos de reclusão. Importante ressaltar que, neste caso, o produto não 
precisa ter sido adulterado, pode estar em perfeitas condições, basta 
introduzi-lo sem o devido registro.Este tipo de pena desarma completamente todo arcabouço formado pelos 
estudiosos das políticas criminais, a exemplo de Montesquieu que se refere à “justa 
proporção das penas com os crimes” (MONTESQUIEU), bem como o que prega 
Beccaria sobre a “destruição de sentimentos morais” (BECCARIA). 
 
6 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL 
 
Apesar de não constar no artigo 4° da Lei de Introdução do Direito Brasileiro, 
a jurisprudência é uma fonte de Direito. 
Para Gagliano (2012) a jurisprudência “consiste no conjunto de reiteradas 
decisões dos tribunais sobre determinada matéria”. 
Então mesmo a jurisprudência não sendo reconhecida por lei como uma fonte 
de direito, vem ganhando importância nos tribunais, como por exemplo, a 
jurisprudência pacífica dos tribunais. 
Tendo demonstrado a importância da jurisprudência passamos a analisar 
algumas decisões que foram proferidas pelos tribunais sobre o artigo 273 do código 
penal com relação a aplicação da pena frente aos princípios constitucionais. 
25 
 
 
A decisão abaixo foi proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio 
Grande do Sul, o relator ao proferir o voto reconheceu a desproporcionalidade da 
pena prevista no artigo 273, conforme segue: 
 
EMBARGOS INFRINGENTES. ART. 273, § 1º-B, I, DO CÓDIGO PENAL. 
VOTO MINORITÁRIO QUE APLICOU A PENA REFERENTE AO DELITO 
DE TRÁFICO DE DROGAS. POSSIBILIDADE DE PREVALÊNCIA. 
Possível, em atenção ao princípio da razoabilidade/proporcionalidade, 
especialmente em se cuidando de casos sem grandes proporções - 
realçando-se que in casu sequer há notícia de dano -, a aplicação da pena 
referente ao ilícito de tráfico de entorpecentes quando se trata de denúncia 
pelo crime antevisto no art. 273 da Lei Substantiva Penal, diante da 
desproporcionalidade da pena em abstrato prevista no preceito... 
(TJ-RS - EI: 70047523469 RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, 
Data de Julgamento: 29/06/2012, Segundo Grupo de Câmaras Criminais, 
Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 17/07/2012) 
 
De acordo com o que foi apresentado até agora, referente aos princípios da 
proporcionalidade e lesividade, pode-se extrair que ambos possuem uma função 
controladora contra possíveis excessos que possam ser cometidos, e nesse caso, o 
julgador afirma que diante disso, a pena é excessiva. 
Já o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, também entende que o artigo 273 
do código penal é inconstitucional, porém, suas decisões vinham sendo aplicadas 
com o entendimento de que a pena a ser utilizada é a da legislação revogada, ou 
seja, utiliza-se a pena anterior a lei 9.677/98, vejamos: 
 
Contudo, entendo que a pena aplicada merece redução em respeito `a 
decisão do Órgão Especial deste Tribunal de Justiça, que em julgamento do 
incidente de inconstitucionalidade n° 1.0480.06.084500-9/002, ocorrido em 
10/10/12, declarou, incidentum tantum a inconstitucionalidade do preceito 
secundário do artigo 273 do Código Penal. 
[...] 
Em assim sendo, considerando a desproporcionalidade da pena cominada à 
espécie, vem como a decisão do órgão especial que reconheceu a 
inconstitucionalidade da Lei n° 9.677/98, que alterou os preceitos 
secundários do artigo 272 e 273 do Código Penal, que previa a pena de 
reclusão, de dois a seis anos, e multa, de cinco a quinze contos de reis. 
(Minas Gerais, 2013) 
 
 Nesse sentido, segue outra decisão proferida pelo mesmo tribunal: 
26 
 
 
 
Incidente de Inconstitucionalidade. Lei Federal nº 9.677/98 (""Lei dos 
Remédios""). Alteração dos arts. 272 e 273 do Código Penal. Violação do 
princípio da individualização da pena. A Constituição consagra a garantia da 
individualização da pena com a finalidade de obrigar a aplicação da 
isonomia no Direito Penal. A individualização é concernente à atividade 
legislativa para evitar que atos criminosos bem distantes em poder ofensivo 
recebam penalidades iguais. Em caso de declaração de 
inconstitucionalidade, 'incidenter tantum', aplica-se a legislação revogada, 
tendo-se em consideração que a lei inconstitucional não produz efeitos 
jurídicos. Incidente de inconstitucionalidade acolhido para declarar 
inconstitucionais os arts. 272 e 273 do Código Penal, na redação dada pela 
Lei Federal nº 9.677, de 1998."(TJMG, Rel. Des. Almeida Melo, Órgão 
Especial, Arguição de Inconstitucionalidade nº 1.0480.06.084500-9/002, 
j.10/10/2012, p.07/02/2013). 
 
Com isso é perceptível que alguns Tribunais ao julgar dos delitos 
enquadrados no artigo 273 do Código Penal, já vinham utilizando-se de meios 
alternativos para aplicar suas penas, visto a desproporcionalidade da “Lei dos 
Remédios”. 
Com toda a polêmica e discussão causada pela pena elevadíssima do artigo 
273 do código penal, eis que a questão foi levada ao órgão máximo do STJ pelo 
ministro Sebastião Reis Júnior. Na Sexta Turma, ele é o relator de um habeas 
corpus que contestava a constitucionalidade da norma. No caso, um homem foi 
condenado a 11 anos de reclusão por ter em depósito para venda pequena 
quantidade de substâncias anabolizantes – nove frascos e 25 comprimidos. 
A pena prevista para o crime é de dez a 15 anos de reclusão. Seguindo o voto 
do relator, a Corte Especial considerou que a sanção fere os princípios 
constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade. Trata-se de um crime de 
perigo abstrato, disse o ministro, sendo evidente a falta de harmonia entre o delito e 
a pena. 
 
O STJ decidiu que é inconstitucional a pena (preceito secundário) do art. 
273, § 1º-B, V, do CP (“reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa”). 
Em substituição a ela, deve-se aplicar ao condenado a pena prevista no 
caput do art. 33 da Lei n.° 11.343/2006 (Lei de Drogas), com possibilidade 
de incidência da causa de diminuição de pena do respectivo § 4º. 
STJ. Corte especial. AI no HC 239.363-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 
julgado em 26/2/2015 (Info 559). 
 
27 
 
 
Isso porque, “se comparado com o crime de tráfico de drogas, notoriamente 
mais grave e cujo bem jurídico também é a saúde pública, percebe-se total falta de 
razoabilidade”, avaliou o ministro do STJ, Sebastião Reis Júnior. Ele classificou de 
“gritante” a desproporcionalidade se comparada a pena em questão com as penas 
previstas para crimes gravíssimos como homicídio doloso, lesão corporal de 
natureza grave, estupro, estupro de vulnerável e extorsão mediante sequestro 
(EMAGIS, 2016). 
 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Após minuciosa pesquisa o presente trabalho trouxe à tona uma falha 
legislativa que está em vigor há quase 20 anos. Trata-se da lei 9.677/98 e da lei 
9.695/98. 
O tema proposto revelou que para reduzir a criminalidade em um momento 
tumultuado por vários casos de falsificação de medicamentos, o legislativo acabou 
trazendo uma resposta rápida para a população, sem, contudo, verificar os possíveis 
resultados, sem um mínimo estudo sobre o assunto. 
Abordou-se a conhecida “Lei dos Crimes Hediondos” (Lei 8.072/90), com 
destaque para a inclusão do artigo 273 no seu rol de crimes hediondos, e 
conjuntamente com a pena elevadíssima do referido artigo, até hoje causa 
discussão no mundo jurídico, acerca de sua constitucionalidade, uma vez que, a 
pena cominada fere importantes princípios constitucionais, como o princípio da 
proporcionalidade e lesividade, visto que a agressão ao bem jurídico tutelado não 
está em proporção adequada à pena cominada para tal tipo penal. 
Verificou-se, finalmente, que o próprio judiciário vem tomando posicionamento 
favorável à ideia de inconstitucionalidade da pena do artigo 273 do código penal, 
aplicando, no atual contexto, a pena do tráfico de entorpecentes. 
Contudo espera-se que seja modificado tal artigo de modoque respeite dos 
princípios constitucionais, trazendo um mínimo de proporcionalidade entre dano 
causado e a pena a ser cumprida. 
 
28 
 
 
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