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M
ea
J 3
Capítulo t
Ciência dá~CorfTúnicação
M -JUSTIFICATIVA
No mundo moderno, a palavra comunicação tomou-se lugar-comum
e transformou-se em força de extraordinária vitalidade na observação
das relações humanas e no comportamento individual.
Nos últimos trinta_anos, os cientistas aumentaram seu interesse
pelo estudo e os efeitos do processo de comunicação. Inicialmente
esse estudo era a^sislenáliço^transformando-se depois em subsídio
valioso para outras-ciências. Provado está que a comunicação é1 um
processo s^djil^e, sem ela, a sociedade não existiria. Psicólogos, so-
ciólogos, antropólogos foram atraídos a investigar e compreender sua
atuacão sobre os grupos-humanos.
1.2-QUE E COMUNICAÇÃO?
Comunicar implica busca de entendimento, de compreensão. Em
suma, contato. É uma ligação, transmissão de sentimentos:e°de ideias.
1.3-PROCESSO DA COMUNICAÇÃO
. . ' • - ' • • .• ;i
O ser humano tem necessidade imperiosa de externar- seus sen-
timentos ou ideias. Assim, em sua forma mais simples, o processo de
23
'
Pode ser também uma organização mformativrj lcon)q.rac:o, TV,
estúdio cinematográfico.
Ao enviar um tekgraina, será e/mssor o telegrafisca que codifica a 'mensa-
gem.
OBSERVAÇÃO __ ____ '
Geralmente, a íbnCe coincide com o emissor:
Num diálogo, o falante é fonte e emissor ao mesmo cempo.
i.4.j -Mensagem
Mensagem é o que a fonte deseja transmitir, podendo ser visual,
auditiva ou audiovisual. Serve-se de um código que deve ser estrutu-
rado e decifrado. É preciso que a mensagem tenha conteúdo, objetivos
e use canal apropriado.
No telegrama, a mensagem é o texto.
1.44- Recebedor
Recebedor é um elemento muito importante no processo. Pode
ser a pessoa que lê, que ouve, um pequeno grupo, um auditório ou
uma multidão.
Ao recebedor cabe decodificar a mensagem e dele dependerá.
em termos, o êxito da comunicação. Temos que considerar, nesse
caso, os agentes externos que independem do recebedor (ruídos, en-
tropia).
Ao enviar um telegrama, o recebedor será o telegrafista que decodifica a
mensagem.
PORTUCUÍ5 INSTKUMÍNTAI 2 J
comunicação consiste em um comunicador (emissor, transmissor ou
codificador), uma mensagem e um recebedor (receptor ou de(s)codi-
ficador).
A mensagem, num certo momento, está separada tanto do rece-
bedor como do comunicador. É um sinal com-algum significado para
o comunicador e que transmite para o recebedor qualquer conceito que
este interprete da mensagem. Esses sinais têm úrjTsignificado conven-
cionado por nós ou peia nossa experiência. Assim os sinais de trânsito
significam o mesmo para todos os motoristas, e':o código Morse é in-
terpretado, da mesma maneira, pelos telegrafisfa-s.
Essa é uma norma fundamental da comunicação: os sinais têm o
significado que" a experiência das pessoas permite atribuir a esses sig-
nos. • " ' ' • " ~ "
Enquanto no Ocidente a cor preta representa tristeza, luto, na índia,
ao contrário, o signo representativo desse sentimeiit6~é a cor branca..
1.4 - ELEMENTOS ESSENCIAIS DO PROCESSO
DA COMUNICAÇÃO
H-
Comunicar envolve «na dinâmica que nãêC-pode dispensar as
unidades que englobam o processo e que, dissociadas, constituem os
elementos mais importantes na comunicação. .'...
1.4.1 - Fonte
Fonte é a origem da mensagem.
Ao enviar um telegrama, será/wiíe o redaíor do mesmo.
v.4.2- Emissor • . - " •.
Emissor é quem envia a mensagem atrayés da palavra_oral ou
escrita, gestos, expressões, desenhos, etc. .1.
24 DdíM iVí.VCWM /Hwr/Aíj / -ÍÚHIA SCUÃK
rí^?^^^
Entropia é a desorganização da mensagem.
Eu menina unu vi.
Redundância é a repetição, objetivando clareza. Confere à
comunicação um certo coeficiente de segurança.
Aqui, neste lugar, onde tu te encontras com a tua família, aconteceram fatos
que mudaram o mundo.
1.6- IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO
A força da comunicação, no mundo atual, é de uma multiplici-
dade infinita. Realmente, a todo instante, o homem sofre o impacto
desse processo. A vida e o comportamento humano são regidos pela
informação, pela persuasão, pela palavra, som, cores, formas, gestos,
expressão facial, símbolos. O entendimento não mais se faz apenas
pela língua falada ou escrita, mas também através do rádio, da televi-
são, do jornal, da música, do cinema, da publicidade. Diríamos mais:
hoje, podemos constatar estarrecidos que o código verbal está em cri-
se. Predominam a imagem e a comunicação gestual.
Assim, podemos concluir que todas as atividades procuram desen-
volver e ampliar as habilidades comunicatórias através de experiências
reais de comunicação.
1.7 - A COMUNICAÇÃO DA PUBLICIDADE
Segundo alguns especialistas em comunicação visual, a nossa
civilização é a civilização da imagem, pois, a todo instante, o cidadão
das grandes metrópoles é bombardeado por informações visuais.
A publicidade atingiu, de tal forma, o homem através dos meios de
comunicação, que nenhuma opção é feita sem o auxílio desses veículos.
28 SH.VEÍKA MARTINS / LÚBIA SCLIAR ZILSERKNOP
Recursos técnicos e científicos motivam os grupos humanos,
seja no seíor comercial, político ou religioso. O profissional, na publi-
cidade, precisa motivar a massa, criando símbolos, siglas, marcas. No
comércio, a marca de um produto ou de uma organização identifica a
empresa, para que adquira características próprias e seja reconhecida e
memorizada.
A programação visual, com projetos bem fundamentados, seja
nas indústrias, no comércio, nas rodovias, comprovadamente contribui
para o progresso, a difusão dos produtos e a segurança dos usuários.
Mais do que as palavras, o vocabulário visual identifica, muitas vezes,
símbolos universais. Há, inclusive, uma preocupação de economia
linguística nas propagandas comerciais com o propósito de fazer che-
gar mais rápido a mensagem, chamando a atenção.
UM P E DAÇO
DO PARA Í SO .
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 29
1.4.5- Destino
Destino é(são) a(s) pessoa(s) a quem se dirige a mensagem.
Ao enviar o telegrama, o destino será o destinatário.
OBSERVAÇÃO
Geralmente, o destino coincide com o recebedor.
Num diálogo, o ouvinte é destino e recebedor ao mesmo tempo.
1.4.6- Canal
Canal é a forma utilizada pela fonte para enviar a mensagem.
Ele deve ser escolhido cuidadosamente, para assegurar a eficiência e o
bom êxito da comunicação.
O canal pode ser: i
NATURAL = ÓRGÃOS SENSORIAIS
TECNOLÓGICO C
ESPACIAL
TEMPORAL
Canal tecnológico espacial: • "-' • ' , - - : - - ' - : ^'~ '...."••'"-••"•-~
Leva a mensagem de um lugar para outro como o rádio, telefone, telex,
teletipo, televisão, fax, internet.
Canal tecnológico temporal: '- . . . . . . . . ....-,^ . •
Transporta a rrgjjsagem de uma época para outra, como os texto"s, livros1,'3*'
discos, fotografias, slides, fitas gravadas, videoteipe.
1.4.7- Código
Código é um conjunto de sinais estruturados. O código pode ser:
26 OnfTA Silvas* MARTINS / LÚOIA SO.MRZIIKRKNOP
CÓDIGO
i VERBAL
NÃO-VERBAL
O código verbal é o que utiliza a palavra falada ou escrita.
Português, francês, inglês, etc.
O código não-verbal é o que não utiliza a palavra.
Gestos, sinais de trânsito, expressão facial, etc.
O código não-vèrbal não é só visual ou sonoro, mas plurissigní-
fiçante. Apresenta-se fragmentado, .imprevisto, não-linear^ ao contrá-
rio do código vèrbapque •év.discursi.vò e^ondè>geValmeiUé'J:;"pfe;(íetóina-
a lógica. r - ... . /
Alguns códigos não-verbais, pela sua própria natureza, dificul-
tam a descodificação.
ESQUEMA DOS ELEMENTOS DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
1.5 - RUÍDO - ENTROPIA - REDUNDÂNCIA
• Ruído é toda interferência indesejável na transmissão de uma
mensagem.
Um borrão na mensagem escrita, uma sirene durante um diálogo, etc.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 2 7
VEJA TUDO.
ASSINE VEJA JÁ.
VARIG
ACIMA DE TUDO, VOCÊ.
1.8- QUEM SE COMUNICA?
Soo ser humano se comunica?Embora sabendo que há investigações no sentido de esclarecer
se animais ou plantas se comunicam, isso, mesmo que venha a ser
comprovado, possivelmente não modificará o critério adotado pelos
teóricos da comunicação: só o ser humano se comunica através da
língua como código.
19 - LINGUAGEM - LÍNGUA - FALA
• Linguagem - é o exercício oriundo da faculdade, inerente ao
homem, que lhe possibilita a comunicação. Embora nem todos os teó-
ricos assumam esse posicionamento, podemos dizer que todo ser hu-
mano possui, ao nascer, uma predisposição que faculta a aquisição da
mesma (característica inata).
30 DllETA SlLVBKA MARTINS / Í.ÚOM SOJAK ZlLUfXKNOP
"A linguagem tem um lado individual e um lado social, senão
impossível conceber um sem o outro."
"A cada instante, a linguagem implica, ao mesmo tempo, um
sistema estabelecido e uma evolução.""
Por outro lado, sem o convívio social, essa predisposição se
atrofia. Assim, tudo indica que a aprendizagem, na criança, se dá por
imitação (característica adquirida).
• Língua - há um instrumento peculiar de comunicação - a lín-
gua - distinta da fala e que representa a parte social da linguagem,,
exterior ao indivíduo, "que por si só, não pode modificá-la".3 Língua é
forma.
Enquanto a linguagem,.como faculdade natural, é um todo hete-
rogéneo, a língua é de natureza homogénea - sistema de signos (códi-
go) convencionais e arbitrários.
._• Fala - a fala, ao contrário, é um ato intencional, em nível in-
dividual, de vontade e de inteligência.
no-REPERTÓRIO
Para que haja comunicação, é necessário que o emissor utilize o
mesmo código do recebedor. Mas só isso não basta. É preciso também
atender ao aspecto repertório. Definimos repertório como o conjunto
vocabular de que se serve cada falante para expressar-se. Dessa forma,
como é fácil deduzir-se, o repertório vai variar muito de indivíduo
para indivíduo, de grupo para grupo, de região para região.
Assim, na língua portuguesa (código), nem sempre emissor e re-
cebedor se comunicam, pois, apesar do uso do mesmo código, o re-
pertório pode ser diverso.
Vejamos alguns excertos de diálogos reais nos quais se verifica
desigualdade dos níveis de língua: (Ver p.34-8)
' SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral, p.16.
1 SAUSSURE, Ferdinand de. Op. cif. p. 16.
3 SAUSSURE, Ferdinand de. li ib. f.22.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 31
- Comi uma salada maravilhosa na festa de casamento.
- Que salada era?
- Salada mística (= mista).
- Aquele apartamento é muito bom: tem independência de empregada
(= dependência).
- Não fizeste a tua molecagem hoje? (= maquilagem).
A patroa, dirigindo-se à empregada:
- Também, você não descortina nada...
No outro dia, vendo as janelas sem cortinas, a patroa lhe perguntou:
- O que foi que você fez, menina?
- Vê, a senhora mandou descortinar... (= ver além, ter alcance # retirar as
cortinas).
Alguém, vindo da Europa, disse:
- A cidade (de) que mais gostei foi Antenas (= Atenas).
- Que maravilha! Colocaram uma antena paranóica1. (= parabólica).
a) o canal,
b) o código,
c) a mensagem,
relacionando-os com três novas funções: fática, metalingiiística e poé-
tica.
1 1 1 i - Funções Propriamente Ditas „ ^'; C['°'^
^^^&-~^'" '
• Função referencial (ou denotativa ou cognitiva). Aponta para
o sentido real das coisas e dos seres.
À noite, vemos ai.ua no céu.
• Função emotiva (ou expressiva'). Centra-se no sujeito emis-
sor e tenta suscitar a impressão de um sentimento verdadeiro ou si-
mulado.
1.11 - FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Pré-requisitos básicos:
A linguagem, como instrumento de comunicação, não é exerci-
tada gratuitamente.
Segundo Karl Biihler, um enunciado estabelece uma relação trí-
plice com:
a) o emissor (1a pessoa);
b) o receptor (2a pessoa);
c) as coisas sobre as quais se fala (3a pessoa).
Fundamentando-se nesse esquema, Biihler encontrou três fun-
ções na linguagem: expressiva, apelativa e representativa.
Roman Jakobson apóia-se nessas funções, desdobrando-as com
nova terminologia: emotiva, conativa e referencial.
Para ampliar a tripartição de Biihler, Jakobson enfatiza mais al-
guns elementos no processo comunicatório:
32 DliSTA SILVEIRA MAKTINS / LÚ8IA SCUAK ZllBEKKNOP
Que lua maravilhosa!...
• Função conativa (ou apelativa ou imperativa). Centra-se no
sujeito receptor e é eminentemente persuasória.
Inspira-me, ó tua'. f..\^-*~
• Função fática (ou de cantata). Visa a estabelecer, prolongar
ou interromper a comunicação e serve para testar a eficiência do canal.
Alo, alo, astronautas na Lua, vocês conseguem me ouvir? : . . ,
_^0. JJ.v.^-.-Vj"'.-- ; .
• Função metalinguística. Consiste numa recodificação & pas-
sa a existir quando a linguagem fala dela rnesma. Serve para verificar
se emissor e receptor estão usando o mesmo repertório. ,
POKTUCUÉS INSTRUMENTAL 33
A Lua é o satélite natural da Terra.
• Função poética. Centra-se na mensagem, que aqui é mais
fim do que meio. Opõe-se à função referencial porque nela predomi-
nam a conotação e o subjetivismo.
"... a lua era um desparrame de prata". (Jorge Amado)
1.12- REGISTROS OU NÍVEIS DE LÍNGUA(GEM)
A comunicação não é regida pôr normas, .fixas e imutáveis. Ela
pode transformar-se, através do tempo, e, se compararmos textos antigos
com atuais, perceberemos grandes mudanças no estilo e nas expressões.
Por que as pessoas se comunicam de formas diferentes? Temos
que considerar múltiplos fatores: época, região geográfica, ambiente e
status sócio-cultural dos falantes.
Há uma língua-padrão? O modelo de língua-padrão é uma de-
corrência dos parâmetros utilizados pelo grupo social mais culto. Às
vezes, a mesma pessoa, dependendo do meio em que se encontra, da
situação sócio-cultural dos indivíduos com quem se comunica, usará
níveis diferentes de língua. Dentro desse critério, podemos reconhe-
cer, num primeiro momento, dois tipos de língua: a falada e a escrita.
A LÍNGUA FALADA PODE SER
CULTA
COLOQUIAL
VULGAR OU INCULTA
REGIONAL _
GÍRIA
TÉCNICAGRUPAL
A LÍNGUA ESCRITA PODE SER
NÃO-LITERÁRIA
LITERÁRIA
LÍNGUA-PADRÃO
COLOQUIAL -
VULGAR OU INCULTA
REGIONAL
DILETA SILVEIRA MARTINS / LÚBIA SCLIAR
1 1 2 1 - Língua Falada
1.12.1.1 - Língua Culta
Língua culta é a língua falada pelas pessoas de instrução, niveladas
pela escola. Obedece à gramática da língua-padrão. É mais restrita, pois
constitai privilégio e conquista cultural de um número reduzido de falantes.
Temos conhecimento de que alguns casos de delinquência juvenil no mundo
hodierno decorrem da violência que se projeta, através dos meios de comuni-
cação, com programas que enfatizam a guerra, o roubo e a venalidade.
1.12.1.2- Língua Coloquial
Língua coloquial é a língua espontânea, usada para satisfazer as
necessidades vitais do falante sem muita preocupação com as formas
linguísticas. É a língua cotidiana, que comete pequenos - mas perdoá-
veis - deslizes gramaticais.
- Cadê o livro que te emprestei? Me devolve em seguida, sim?
1.12.1.3- Língua Vulgar ou Inculta
Língua vylgar é própria das pessoas sem instrução. É natural,
colorida, expressiva, livre de convenções sociais. É mais palpável,
porque envolve o mundo das coisas. Infringe totalmente as conven-
ções gramaticais.
_ Móis ouvimo fala do pograma da televisão.
1.12.1:4-
Língua regional, como o nome já indica, está circunscrita a regiões
geográficas, caracterizando-se pelo acento linguístico, que é a soma
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 35
das qualidades físicas do som (altura, timbre, intensidade). Tem um
património vocabular próprio, típico de cada região.
A Ia pucha, tchê! O índio está mais por fora do que cusco em procissão - o
negócio hoje é a tal de comunicação, seu guasca!
1.12.1.s- Língua Grupai
Língua grupai é uma língua hermética, porque pertence a grupos
fechados.
1.12.1.5.1 - Língua Grupai (Técnica)A língua grupai técnica desloca-se para a escrita. Existem tantas
quantas forem as ciências e as profissões: a língua da Medicina (como
é difícil entender um diagnóstico...), a do Direito (restrita aos meios
jurídicos), etc. Só é compreendida, quando sua aprendizagem se faz
junto com a profissão.
O materialismo dialético rejeita o empirismo idealista e considera que as
premissas do empirismo materialista são justas no essencial.
1.12.1.5.2- Língua Grupai (Gíria)
Existem tantas quantos forem os grupos fechados. Há a gíria
policial, a dos jovens, dos estudantes, dos militares, dos jornalistas,
etc.
O negócio agora é comunicação, e comunicação o cara aprende com material
vivo, descolando um papo legal. Morou?
OBSERVAÇÃO __ ' _
1.12.2- Língua Escrita
1.12.2.1 - Língua Não-Literãria
A língua não-literária apresenta as mesmas características das
variantes da língua falada tais como língua-padrão, coloquial, inculta
ou vulgar, regional, grupai, incluindo a gíria e a técnica e tem as mes-
mas finalidades e registros, conforme exemplificaremos abaixo:
1.12.2.1.1- Língua-Padrão
A língua-padrão é aquela que obedece a todos os parâmetros
gramaticais.
Quando a gíria ê grosseira, recebe q nome de calão.
"O problema que constitui objeto da presente obra põe-se, com evidente prin-
cipalidade, diante de quem quer que enfrente o estudo filosófico ou o estudo
só cientifico do conhecimento. Porém não é mais do que um breve capítulo
de gnoseologia." (Pontes de Miranda)
1.12.2.1.2- Língua Coloquial
- Me faz um favor: vai ao banco pra mim.
1.12.2.1.3- Língua Vulgar ou Inculta
(TRECHO DE UMA LISTA DE COMPRAS)
- assucar
- basora (= vassoura)
- qejo (= queijo)
- alveques (= Alvex)
1.12.2.1.4- Língua Regional
Deu-lhe com a boleadeira nos cascos, e o piá correu mais que parelheiro em
cancha reta.
36 Dfí.£TA Sll.VEIRA MARTINS / LÚBIA SCilAK ZíiSERKNOP PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 37
f1
1.12.2.1.5- Língua Grupai
Os exemplos dados no item 1.12.1.5 servem para ilustrar tanto a
língua grupai gíria como a técnica.
OBSERVAÇÃO
Quando redigimos um texto, não devemos mudar o registro, a nãe ser que
o estilo o permita. Assim, se estamos dissertando - e, nesse tipo de reda-
ção, usa-se, geralmente, a língua-padrão - não podemos passar desse nível
para um outro, como a gíria, por exemplo.
•_-.-i. 12.2.2- Língua Literária
' .-* ' - -'' " . •--,--•"/':7 »'
A língua literária é o instrumento utilizado pelos escritores.
Principalmente, a partir do modernismo, eles cometeram certas infra-
ções gramaticais, que, de modo algum, se confundem com os erros
observados nos leigos. Enquanto nestes as incorreções acontecem por
ignorância da norma, naqueles as mesmas ocorrem por imposição da
estilística.
"Macunaíma ficou muito contrariado. Maginou, maginou e disse prá velha..."
(Mário de Andrade)
1.12.3- Textos-"que Exemplificam os Níveis de Língua
1.12.3.1 - Língua Regional
OUTRA DO ANALISTA DE BAGÉ
Lindaura, a recepcionista do analista de Bagé - segundo ele, "mais
prestimosa que mãe de noiva" - tem sempre uma chaleira com água quente
ptonta-para o mate. O analista gosta de oferecer chimarrão a seus pacientes e,
OMpO;«^e diz, "charlar assando a cuia que loucura não tem micróbio". Um dia
entrou um pacieTttê<novo no consultório.
DiLETA 5/LVE/RA MARTINS / ÍÚWA SCLIAK Z:t_QERKNOP
- Buenos, tchê - saudou o analista. - Se abanque no más.
O moço deitou no divã coberto com um pelego e o analista foi logo
lhe alcançando a cuia com erva nova. O moço observou-
- Cuia mais linda.
- Cosa mui especial. Me deu meu primeiro paciente O coronel Mace-
dônio, lá pras banda de Lavras.
- A troco de quê? - quis saber o moço, chupando a bomba.
- Pues tava variando, pensando que era metade homem e metade ca-
valo. Curei o animal.
- Oigalê.
- Ele até que não se importava, pues poupava montaria. A família é
v
O moço deu outra chupiáda, depois examinou^a cuia com mais cuidado.
- Curtida barbaridade. '"-"" :'V1" v 7" -"•'"'*
- Tambçm. Mais usada que pronome oblíquo em conversa de professor.
- Oigatê.
E a todas estas o moço não devolvia a cuia. O analista perguntou:
- Mas o que é que lhe traz aqui, índio velho?
- E esta mania que eu tenho, doutor.
- Pôs desembuche.
- Gosto de roubar as coisas.
-Sim.
Era cleptomania. O paciente continuou a falar mas o analista não ou-
via mais. Estava de olho na sua cuia.
- Passa - disse o analista.
- Não passa, doutor. Tenho esta mania desde piá.
- Passa a cuia.
- O senhor pode me curar, doutor?
- Primeiro devolve a cuia.
O moço devolveu. Daí para diante, só o analista tomou chimarrão. E
cada vez que o paciente estendia o braço para receber a cuia de volta, ganha-
va um tapa na mão.
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Oulra.t da analista dt Bagé. p. 73-4)
1.12.3.2- Língua Vulgar
Mas a última flor do Lácio, inculta e bela, poucas vezes tem sido tão
venerada como naquele relato que a cozinheira de minha irmã lhe fez, do mal
de que foi acometida na sua ausência:
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 39
l
- Comecei a sentir uma zombaria na minha cabeça e de repente, pá!
dei um taque. Chamaram a insistência e me levaram pró Pronto Socorro.
Chegando lá o médico doutor disse que eu tinha de operar os alpendres.
Então eu caí numa prostituição...
(SABINO, Fernando. Zero Hora. Caderno D, 29/05/88. p. 2)
Comprovando o que já foi dito sobre as mutações que a lingua-
gem sofre, por influência da época ou, ainda, das circunstâncias sociais
e do ambiente, vejamos um exemplo gostoso de gíria da Jovem Guarda:
1.12.3.3- Gíria
"Meus camaradinhas:
Não entendi bulufas dessa jogada de fazerem o papai aqui apresentar o
seu Antenor Nascentes, um cara tão crânio, cheio de mumunhas, que é man-
jado até na Europa. Estou meio cabrero até achando que foi crocodilagem do
diretor do curso, o professor Odorico Mendes, para eu entrar pelo cano.
O seu Antenor Nascentes é um chapa legal, é bárbaro e, em Filologia,
bota banca. Escreveu um dicionário etimológico que é uma lenha. Dois vo-
lumes que vou te contar. Um deles é desta idade... mais grosso que trocador
de ônibus. O homem é o Pele da Gramática, está mais por dentro que bicho
de goiaba. Manda brasa, professor Nascentes!"
Abaixo, um exemplo de gíria mais recente que nos permite ver
como esse nível de língua possui mobilidade.
Pôxa, to numa pior! Queria descolar uma grana pra comprar um refri
pr'aquela gata que pintou no pedaço e que eu to tri a fim, mas não deu. Minha
velha tá dura, cara, e o velho foi pra Sampa.
1.13- PROCESSO SIMBÓLICO E ARBITRARIEDADE
DO SIGNO
O homem arbitrariamente pode fazer qualquer coisa representar
outra, e a isso chamamos processo simbólico.
40 DILATA SILVÇIRA MARTINS / LÚUIA SCLIAR ZiLutRKMOp
Charles Morris, estudioso da linguagem, diz quê'"signo é1 toda
coisa que substitui outra, de modo a desencadear - em relação a um
terceiro - um complexo análogo de reações".4
A linguagem, nesse processo, é a mais complexa forma de re-
presentação. Podemos usar vários símbolos para apontar um conceito.
Assim, pois, o signo é totalmente arbitrário e convencional.
Para representar o animal "cão", usamos "dog", "cane", "chien",
"perro". Não existe, portanto, nada no animal que se relacione com o
signo verbal, empregado para designá-lo. É através do uso que essa
representação vai se consagrar.
t) símbolo ,. ,
.X. eãcoisa.simbolizada*-
' ^sàaíiridependentes-enírèsr,
Lf ' - T -v
• CÃO
• DOG
• GANE
' CHEN
• PERRO
OBSERVAÇÃO
Essa não-relação do signo com a coisa significada não se aplica à linguagem
onoraatopaica, uma vez que ela tenta reproduzir os sons emitidos pelo referente.
cricri, tique-taque, quero-quero
Exemplo de texto com expressões onamatooaicas
"Em certos lugares, pêlo interior,
a vida como que passou cansada.
Pegou no sono.
É tudo quieto.
É tudo igual.
É tudo sempre a mesma coisa.
Só, de vezem quando, ao longo dos caminhos abandonados, passam burros cho-
calhando campainhas no pescoço:
blem-blem-blem...
Passam depressa.
Depois, fica o silêncio ecoando:
blém... blem... blem...
Que diferença da cidade!
Aqui, por exemplo, a gente não sabe nunca,
quando é que os burros vêm.
Se ninguém tem campainha...
Se ninguém faz blem-blem-blem..."
(MOREYRA. Álvaro. O Circo, p.5'8)
1 MORRIS, Charles. Signs, íanguage and behavior. p.26.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 41
.M- DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO 1.14.1.1 - A Palavra na Poesia
Uma mensagem não é tão simples como nos parece. Além de
possuir significados diversos para diversas pessoas, tem também for-
mas diferentes de significados. Há, pois,, o. sentidckderiotativo, que é,
mais ou menos, igual para todas as pessoas"que falam a mesma língua.
É o sentido real, objetivo, aquele que aparece nos dieionários.
E há, também, o sentido conotativò,-oú's'eja, q significado emo-
cional ou avaliativo de acordo com as experiências de cada um. E o
sentido subjetivo.
Estrela
• A estrela brilha no céu. (= denotação)
• A ministra foi a estrela da equipe governamental. (= conotação) • » "^
• Vi estrelas quando bati com o pé na porta. (= conotação) •
Cabeça
• No acidente, ele fraturou a cabeça. (= denotação)
• Ele foi o cabeça da greve. (= conotação)
• O movimento hippie fez a cabeça dos jovens dos anos sessenta. (= cono-
tação)
• Caldo de galinha e cabeça fria fazem bem. (= conotação)
A palavra, na poesia, toma um caráter universal e serve de ponte
entre as emoções do poeta e as interpretações que lhe são atribuídas.
AS COVAS
O bicho,
quando quer fugir dos outros,
faz um buraco na terra. ,,__•'-
O homem,
para fugir de si, •
fez um buraco no céu.
(QUINTANA, Mário. A vaca e o hipogrifo. Porto Alegre: Garatuja, 1977, p. 10.)
1.14.2- Variações da Palavra no Contexto
PONTOS
1 1 4 . 1 - A Palavra no Contexto
Uma palavra não possui um só significado: tem uma gama rica"
de significações que unicamente o contexto pode determinar. Assim,
sem antes ler o texto, não podemos traduzir, com segurança, o signifi-
cado de uma palavra.
Se usarmos o verbo contrair, podemos ter vários significados:
• contrair o músculo (= endurecer o músculo);
• contrair uma dívida (= dever);
• contrair uma doença (= adoecer);
• contrair matrimónio (= casar).
No início era um ponto. Ponto de partida. O ponto onde a tangente
toca a circunferência, e faz-se a vida. Ponto pacífico.
O círculo é a timidez do ponto. A linha é o ponto desvairado. O tra-
vessão é o ponto-ante-ponto, a primeira exploração embevecida, a infância.
Ligando as palavras. Nasceu num ponto qualquer do mapa. Sua mãe levou
pontos depois do parto. A linha reta é o caminho mais chato entre o parto e o
ponto final, preferiu o ziguezague. Teve uma vida pontilhada, os pontos que
caíam nos exames, os pontos que subiam na Bolsa, os pontos de macumba, os
pontapés. Mas sempre foi pontual.
O ponto é uma vírgula sem rabo.
A vírgula não é como o ponto e vírgula ponto e vírgula a vírgula qual-
quer um usa mas o ponto e vírgula requer prática e discernimento vírgula
modéstia à parte ponto.
- ..Nova linha. Fez ponto em frente à casa da namorada, uma cir-
cunferência com vários pontos positivos, como a sua mãe apontada acima
42 SILVEIRA MARTINS / LÚIÍIA SCLIAR ZÍLBERKNOP PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 43
Não dormiu no ponto, acabou convidado para entrar quando estava a ponto
de desistir, pontificou sobre vários pontos, não demora já era apontado como
íntimo da casa, jogava cartas (pontinho) com a família, parecia um pontífice,
não desapontou. Casaram. Tinham muitos pontos em comum.
O sexo! Ponto de exclamação. Querida, estou a ponto de... não! Cui-
dado. Ponto fraco. A tangente toca a circunferência. Outro ponto no mapa.
Parto. Pontos.
Tiveram muitos pontos em comum. Os outros caçoavam: que ponta-
ria! Discordavam num ponto: a pílula.
Zig-zag-zig-zag. Os ponteiros andando. Um dia, no futebol - jogava
na ponta - sentiu umas pontadas. Coração. O ponto-chave.
O médico insistiu nurn ponto: pára.
Mas como? Chegara a um ponto em que não podia parar, era um
ponto projetado no espaço, a vida é um ponto com raiva, parar como? A que
ponto? Saiu encurvado. Como um ponto de interrogação.
Só uma solução, dois pontos: os 13 pontos na loteria. Senão era um
ponto morto. A linha reta no eletro, outro ponto pacífico, o ponto no infinito
onde as paralelas, a distância mais curta entre, cheguei a um ponto em que,
meu Deus... três pontinhos.
Jogou o que tinha num ponto de bicho e o que não tinha num ponto
lotérico. Não deu ponto.
Em casa a circunferência e os sete pontinhos. Resolveu pingar os pontos
nos is. Melhor deixar uma viúva no ponto.
De um ponto de ônibus mergulhou, de ponta-cabeça, na ponta de um
táxi, uu Je um ponto de táxi na ponta de um ônibus, é um ponto discutível.
Entregou os pontos.
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. O popular. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973, p.97-8.)
i.is- HOMONÍMIA - POLISSEMIA - PALAVRAS
SEMELHANTES NA GRAFIA E NA PRONÚNCIA
1.15.1 - Homonímia
Homonímia é a situação em que uma só palavra assume duas ou.
mais significações completamente diferentes, mas cuja origem admite
44 DILETA SH.VEIKA MARTINS / LÚHIA SCLIAR
vocábulos heterogéneos. Com relação à homonímia, os dicionários,
via de regra, apresentam mais de uma entrada (verbete).
SÃO
sadio (latim = "sanus")
santo (latim = "sanctus")
verbo ser (latim = "sunt")
As palavras homónimas podem ser:
a) homónimas perfeitas
b) homóíbnas
c) homógrafas
(som igual e grafia igual);
(som igual e grafia diferente);
(grafia igual e som diferente).
venda (substantivo) venda
sentença (condenação) sentença
cabo (posto militar) cabo
fiar (vender a crédito) fiar
real (que pertence ao rei) real
cravo (tipo de prego) cravo
(verbo vender)
(frase)
(acidente geográfico)
(reduzir a fio)
(verdadeiro)
(instrumento musical)
l acender
[ascender
^acento
[assento
acerto
[asserto
í apreçar
\_apressar
l área
[ária
\arrear
[arriar
arrochar
[arroxar
atear fogo
elevar-se
sinal gráfico
banco
precisão
afirmação
marcar o preço de
acelerar
superfície
cantiga
pôr arreios
baixar
apertar
tornar roxo
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 45
ás
[az
j caçar
\_cassar
| carear
[cariar
\cegar
[segar
Ice/f!
[sela
1 censo
[senso
cerrar
serrar
carta de jogo; pessoa notav
esquadrão
apanhar, perseguir animais
ii ivdluJdi
confrontar, acarear
criar cárie
privar da visão
ceifar
cubículo
arreio
recenseamento
juízo
fechar
cortar
cessão ato de ceder
seção (secção) parte, setor
sessão reunião
cheque
[xeque
cesta
[sexta
concertar
[consertar
\
| espectador
esperto
[experto
espiar
[expiar
esterno
[externo
estrato
[_extrato
\era
[hera
ordem de pagamento
lance de xadrez; chefe de tribo orie
balaio
numeral
harmonizar
remendar
assistente
quem está na expectativa
vivo, atilado
perito
olhar
pagar com sofrimento
nome de urn osso
estar por fora
tipo de nuvem
perfume; resumo (conta bancária)
época
planta
incerto duvidoso
inserto introduzido
l incipiente principiante
[insipiente ignorante
laço nó
l lasso frouxo, cansado
\maca clava
[massa mistura com farinha
nós . pronome pessoal; plural de nó
noz fruto da nogueira' . -_ - . - .
l paço palácio
[passo ato de avançar o pé
\peao serviçal de estância
[pião brinquedo
[tacha prego
[taxa imposto
l vês verbo ver
[vez ocasião
vós pronome pessoal
voz som da laringe
acordo (substantivo)
erro (substantivo)
jogo (substantivo)
ele (pronome pessoal)
governo (substantivo)
este (pronome demonstrativo)
forma (substantivo)
acordo
erro
jogo
ele
governo
este
forma
(verbo acordar)
(verbo errar)
(verbo jogar)
(letra)
(verbo governar)
(ponto cardeal)(substantivo e verbo formar)
1.15.2- Polissemia
Polissemia é a situação em que uma palavra assume significados
variáveis de acordo com o contexto, mas cuja origem é única. Com
relação à polissemia, os dicionários, via de regra, apresentam uma
entrada (verbete).
46 DILETA SILVARA MARTINS / LÚBIA SCLIAR ZILBERKNOP PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 47
iliuiE
sinal gráfico
PONTO lugar determinado
n livro em que se marcam as faltas, etc.
11V
vem de "punctus" (latim))
OBSERVAÇÃO
Há palavras que são homónimas em relação a outras e polissêmicas se as
compararmos com terceiras.
asnraEs
Cravo, do francês "clavecin" (= instrumento musical) e cravo, do latim
"clavu" (= prego, afecção da pele, flor ou condimento) são homónimos.
Cravo (prego), cravo (afecção da pele), cravo (flor) e cravo (condimento)
são polissêmicos (há analogia quanto à forma, e a origem vocabular é a
mesma ("clavu").
1.15.3- Palavras Semelhantes na Grafia e na Pronúncia
(Parônimos)
32EI3EB
acidente desastre
incidente acontecimento inesperado
adereço enfeite
endereço residência
apóstrofe figura de estilo :
apóstrofo notação léxica
atuar agir
•-»
autuar processar
auréola círculo luminoso
ourela beira
casual - ocasional
_causal relativo a causa
conjetura
[conjuntura
decente
docente
discente
\deferir
[diferir
degradar
[degredar
delatar
dilatar
desapercebido
[despercebido
[ , • -descrição
[discrição
descriminar
[discriminar
\(des)mitificar
[(des)mistificar
l despensa
[dispensa
[destinto
[distinto
\destratar
< [distratar
[ emergir
[imergir
emigrar
[imigrar
eminente
\
í cavaleiro homem que anda a cavalo :' emitir
\_cavalheiro homem cortês f- [imitir
hipótese
situação, oportunidade
correto
referente a professor
referente a aluno
conceder algo
ser diferente; adiar
rebaixar
exilar
trair
aumentar
desprevenido
não observado
ato de descrever
qualidade de ser discreto
inocentar
diferenciar
desfazer o mito
desfazer o engano
depósito de mantimentos
licença
descolorido
diferente
ofender
rescindir um contrato
vir à tona
mergulhar
sair da pátria
mudar-se para país estrangeiro
notável, célebre
imediato, prestes a
enviar
investir (investidura) Ex.: imis
48 D/t£TA SILVEIRA MARTINS / LÚUIA SCLIAK PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 49
50-
[.enfestar
[infestar
entender
[intenda
[ esbaforidoespavorido
[estalado
[estrelado
[estada
[estadia
[estofar
[estufar
[estripar
[extirpar
[flagrante
[fragrante
[florescente
[fluorescente
r -, .[fluir
[fruir
[fusível
[fuzil
\gral
[grau
[incontinente
[incontinenti
[indefeso
.\_indefesso
linfligir
[infringir
insolúvel
[insolvível
intemerato
[intimorato
dobrar a fazenda intimar
devastar j ' [intimidar
compreender ! [laçadeira
r!-r ,-rvici ,Tp-ir ; [lanç adeira
... "-•
ofegante
apavorado
partido
em forma de estrela (ovos estrelados)
ato de estar, permanência
demora de um navio no porto (ou de veículos, em geral)
guarnecer com estofo
aquecer com estufa
tirar as tripas
extrair
[ lance
--• •- \_lanco
lustre
[lustro
mandado
[mandato
mantilha
; •:~ [matilha
perfilar
[perfilhar
evidente ' r
perfumado
florido
propriedade da fluorescência
j pleito
[preito
preceder
j [proceder
correr
gozar
peça de eletricidade
arma
taça, pilão
degrau •
imoderado, sensual
sem demora . -' "~
sem defesa •- <
incansável
aplicar (pena)
violar
preferir
proferir
preterir
prescrever
[proscrever
\
[prover . : : _
[ratificar
\_retificar
sobrescritar
[subscritar —
sem solução '" ' "" ~ - [sortir
que não pode ser pago . . \_surtir
puro, íntegro ' • . ' . • - - . • - • " " ' . _> [subtender
destemido •. • • - -•
OlLETA SllVEIKA MARTIVS / LÚB1A SCUAR ZllflERKHCP
[subentender
notificar
amedrontar
feminino de laçador
peça de máquina de costura
risco, perigo
oferta de preço em leilão; espaço da escada entre os degraus
brilho: candelabro
quinquénio
ordem de autoridade judicial
procuração (mandato de deputado)
xale
grupo de cães
alinhar
adotar como filho
eleição
homenagem, respeito
anteceder
comportar-se
querer mais
pronunciar
deixar de lado
ordenar; ficar sem efeito
desterrar
antever
; abastecer
confirmar
corrigir
endereçar (envelope)
assinar
prover
produzir efeito
estender por baixo
suprir mentalmente
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 5
susiar deter
\_susier sustentar
tráfego trânsito
tráfico comércio ilícito
í vestiário recinto para troca de roupa
\_vestuario traje
\vultoso grande
[vultuoso inchado
52 DlLETA SlLV&RA MARTINS / LÚ8IA SCLIAK ZlLBERKNOP
EXERCÍCIOS
Complete as lacunas com a palavra adequada:
... (descrição-discrição).
.... do filme de Elizabeth Taylor
1. Guardando sigilo, você agirá com
2. Iremos amanhã à primeira
(seção - sessão - cessão).
3. O fato me passou (despercebido - desapercebido).
4. O da.orquestra sinfónica foi de música moderna (con-
serto - concerto).
5. Os bancos transacionam somas (vultuosas - vultosas).
6. Aquele sujeito era tão mal-educado, que . . sua mãe em
presença de todos (destratava - distratava).
7. Na
ourela).
8. Muitos inconfidentes foram
- degredados).
9 o
- cassaram, mandado - mandato).
10. As pessoas surdas não conseguem
- discriminar).
11.0 criminoso foi apanhado em
12. A massa está
13. A maioria dos i..'... :...
14. O tenor cantou uma
15.0 preso foi encaminhado à sua
16. De acordo com o último _..
da fazenda estava escrita sua procedência (auréola -
para a África (degradados
do deputado (caçaram
os sons (descriminar
(flagrante - fragrante).
(cosida-cozida).
.. diferenciais caiu (assentos - acentos).
antiga (área - ária).
(cela-sela).
somos cem milhões
de brasileiros (censo - senso). .
17. Os culpados devem - '. suas falhas (espiar - expiar).
18.0 imperador encaminhou-se até o ...: (paço - passo).
19. O político foi de subversivo (tachado - taxado).
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 53
20. O secretário o pedido do funcionário (deferiu-diferiu).
21.0 calor . os corpos (delata - di la ta) .
22. Os alimentos estão guardados na (despensa - dispensa).
23. Aquele é um
24. Aquele armário estava
25. A minha
26. A lâmpada
27.Troqueo
28. Irei para lá
29. O delegado
30. Compramos para a sala um
3 1. O médico
32. A escolha do candidato
(retificou - ratificou).
33. A mensagem do autor ficou .
- subentendida)-.
34.0
conferencista (eminente - iminente).
_..de insetos (enfestado - infestado).
na serra foi rápida (estada - estadia).
..ilumina bem (florescente - fluorescente),
.porque estamos sem luz (fusível - fuzil).
(incontinente - incontinenti).
-lhe um duro castigo (infligia - infringiu).
de cristal (lustre- lustro).
-lhe repouso (prescreveu - proscreveu).
_ os prognósticos do partido
no texto (subtendida
_ de entorpecentes é proibido por lei (tráfego -tráfico).
35. Um enxadnsta deve observar, com atenção, partidas de
jogadores experientes (incipiente - insipiente).
36. A campanha do trânsito deveria ter '. efeitos imediatos (sortida-.
surtido). - " . . . ' "
37. Queres
38. Aceite meus .
mentos).
.......p envelope? (sobrescritar- subscritar).
...pela sua formatura (comprimentos-- cumpri-
39. Por uma
dade).
encòntramo-nos fia rua (casualidade - causali-
40. A bandeira será ...:.-. às 18 horas (arreada - arriada).
54 A SILVEIRA MARTINS / LÚRIA SCLIAK ZILBSRKNOP
Capítulo 2
2.1 -CONCEITO
Tudo aquilo que o ser humano faz, traz a marca de sua indivi-
dualidade. Pois bem, essa maneira pessoal de o homem expressar-
se, dentro de uma determinada época, seja ela através da pintura,
seja ela através da música ou da literatura, é o que chamamos de
estilo.
Para nós, particularmente, o estilo que interessaé o que tem
como instrumental & palavra. Mas, mesmo em se tratando da palavra,
perguntamos:
•--.; .----Existe um estilo não-literário?
Considerando-se estilo em sentido abrangente, podemos dizer
que, em realidade, ele existe, já que cada um tem sua maneira peculiar
de comunicação: preferência vocabular, poder de síntese, prolixidade,
etc.
Ratificando essa posição, podemos mencionar o estilo epistolar.
A carta, mesmo informal, geralmente traz a marca de seu redator. Al-
gumas, inclusive, são belas peças literárias. Como exemplo, podemos
citar estas:
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 55
CARTA DE JORGE AMADO AO EDITOR MARTINS,
APRESENTANDO-LHE TEREZA BATISTA.^
Querido Martins, a portadora é Tereza Batista, receba-a com amizade.
Acusam-na de arruaceira, atrevida e obstinada, de não respeitar autoridade e
de se meter onde não é chamada. Mas tendo com ela convivido longo tempo,
praticamente juntos dia e noite de março a novembro neste ano de 72, sei de
suas boas qualidades. Nasceu para a alegria e lutou contra a tristeza, não es-
conde o pensamento, gosta de aprender e um pouco aprendeu nas cartilhas,
muito na vida. De tão doce e terna, o doutor, homem fino, só a tratava de Te-
reza Favo-de-Mel.
Comeu do lado podre da vida com fartura e não se desesperou. Cansa-
da de tanto guerrear, um dia pensou-se terminada, resolvendo ensarilhar as
armas e nas prendas domésticas se enterrar. Bastou porém soprar a viração do
golfo, ouvir o som do búzio no apelo do marujo, para erguer-se inteira e par-
tir a velejar.
Moça de cobre, usa dente de ouro e um colar de contas roxas, xale flo-
rado sobre os cabelos negros. Dizê-la formosa é dizer pouco, louvar-lhe a
competência no ofício não basta para explicar-lhe a sedução. Conto algumas
de suas peripécias, desenho-lhe o perfil e me pergunto se não restaram traços
obscuros. Saí perguntando a meio mundo e à própria Tereza interroguei. Viver
paga a pena e o amor compensa, disse-me ela, nos olhos um fulgor de diamante.
Certa vez lhe mandei, caro Martins, a moça Gabriela, feita de cravo e
de canela, tirada de uma moda do cacau, por onde anda? O personagem só
pertence ao romancista enquanto permanecem os dois na labuta da criação,
barro amassado com suor e sangue, com ódio e com amor, embebido em so-
frimento, salpicado de alegria. Depois é dos outros, de quem dele se aposse
nas páginas do livro e lhe dê um pouco de si, enriquecendo-o. A moça Gabriela,
de Ilhéus, anda mundo afora, sei lá em quantas línguas. Tantas, já perdi a conta.
De outra feita, em prova de amizade lhe enviei dona Flor, solteira, casa-
da, viúva, depois feliz com seus dois maridos, propondo uma adivinha mágica
da Bahia, prisioneira que rompeu as grilhetas da moral corrente e libertou o
amor dos preconceitos. Mansa criatura, quem a diria capaz de agir como ela
agiu? De repente surpreendeu-me. Pensava conhecê-la e não a conhecia. É
outra cujo destino escapou de minha mão, ainda agora neste novembro, anda
de roupa nova nas ruas de Paris, vestida de francesa por Stock. Com esses
gringos fanáticos por mulher bonita, seus dois maridos, Vadinho e doutor
Teodoro Madureira, correm perigo.
Esta carta consta na ordha da capa do romance de Jorge Amado, Tereza Batista cansada de guerra. São
Paulo: Martins, 1972.
56 A SÍI.VEIKA MARTINS / ÍÚBIA SCUAK ZIÍUERKNOP
Não há dois sem três, dizem por aqui. Assim sendo, receba agora Tereza
Batista para formar o trio. Mulherzinha persistente: me perseguiu durante
anos,.quis escapar-lhe, meter-me em empresa menos braba, não consegui, ela
me teve e durante este ano todo fui seu escravo. Agora você é seu senhor.
Despeço-me dela com saudade, me ensinou a acreditar ainda mais na
vida e, na invencibilidade do povo mesmo quando levado às últimas resistên-
cias, quando restam apenas solidão e morte. No final da história me dei conta
que nem tudo no mundo é ruim como a princípio imaginei ao me afundar nos
atropelos de Tereza. A maldade quase sempre é miséria ou ignorância. Frase
digna do conselheiro Acácio, não a coloco na boca de Tereza. O que houver
de bom no livro a ela se deve. O resto é meu, desacertos e limitações, trova-
dor de rima pobre.
Há mais de trinta anos trabalhamos juntos, você e eu, escrevendo e fa-
bricando livros. Eu, parindo gente, você, criando com carinho esse meu povo
rude e irredutível. Pois cuide de Tereza Batista e a apresente a Edith. Vai com
recomendação de Zélia e o abraço afetuoso de seu velho amigo
Jorge
FRAGMENTO DE UMA DAS FAMOSAS CINCO CARTAS DE AMOR
ESCRITAS POR SOROR MARIANA DE ALCOFORADO AO OFICIAL
FRANCÊS CHAMILLY (SÉCULO XVII).6
... Adeus. Como eu quisera nunca te haver visto. Sinto profundamente
a falsidade dessa ideia e conheço, no mesmo instante em que a escrevo, que
bem mais prezo, do que nunca te haver visto, ser desgraçada, amando-te.
Concito, pois, sem queixa nesta minha má sorte, já que não foi do teu agrado
tê-la feito melhor. Adeus! Promete-me, se eu morrer de amor, ter saudades de
mim, e logre ao menos a desgraça violenta da paixão apartar-te de tudo com
desgosto.
Essa consolação me bastará; e, se é fatal que eu te abandone para sem-
pre, era meu único desejo não te deixar a outra. Pois não é certo, meu Amor,
que não serias tão cruel que te servisses desse desespero, para tornar-te mais
amado, gabando-te de haver causado a maior paixão que houve no mundo?
Adeus, mais uma vez!... Escrevo-te cartas tão compridas! Não tenho
consideração por ti! Peço-te perdão e ouso esperar que tenhas indulgência
5 Nossos clássicos. Rio de Janeiro: Agir.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 57
l! por esta pobre louca que não o era, bem sabes, antes de te amar. Adeus, pa-
rece-me que falo em demasia do lastimoso estado em que me encontro. Mas,
no fundo do coração, te agradeço o desespero que me causas e detesto a tran-
quilidade que vivia antes de conhecer-te. Adeus! A minha paixão aumenta a
cada hora.
Ai! Quantas coisas tinha ainda para te dizer!...
Como se vê, essas duas cartas trazem consigo uma marca, ou
seja, um estilo que difere bastante, já pela individualidade dos autores,
- já pela distância que separa as épocas em que ambas foram escritas.
Por outro lado, como distinguir um texto onde há criatividade e
imaginação de um outro não-criativo?
Vejamos aqui diversos textos:
2.2 - COMPARAM DO TEXTOS
2.2.1 - Bula Farmacêutica
Mioflex é um novo tratamento não hormonal das doenças reumáticas
agudas e crónicas, articulares e extra-aniculares, inflamatórias e degenerativas.
Mioflex é um produto analgésico, miorrelaxante, antiexsudativo e
antipirético.
Mioflex é uma associação de carisprodol, aminopirina, fenilbutazona
e N-zcetil-p-aminofenol, err. proporções equilibradas.
2.2.2- Receita Culinária
FEIJOADA COMPLETA
1/2 quilo de carne de porco salgada - 1/2 quilo de carne seca - l pé,-
orelha e l focinho de porco salgado - l quilo de feijão preto - 1/2 quilo de
DILETA SILVEIRA MARTINS í LÚBIA SCUAR ZILBERKHOP
carne de vaca (ponta de agulha ou braço) - 1/2 quilo de linguiça portuguesa -
l osso de presunto - l paio - 100 gramas de toucinho - l colher (sopa) de
gordura vegetal - cebola batidinha - alho socado - cheiros verdes.
Ponha de molho de véspera as carnes salgadas. No dia seguinte, ponha
desde cedo o feijão no fogo. Afervente as carnes salgadas e, quando fizer
uma hora que o feijão estiver no fogo, misture-as no mesmo caldeirão, jun-
tando também os outros ingredientes e deixando tudo em fogo brando para
não pegar no fundo. Prove o sal. E possível que não precise pôr sal, devido ao
que já contêm as carnes. Quando tudo estiver mais ou menos cozido, faça um
refogado a parte com a gordura vegetal, a cebola batidinha, o alho socado e
os cheiros verdes. Na hora de servir, retire todos os ingredientes para uma
travessa, arrumando-os com jeito. O feijão será levado à mesa numa terrina
ou tigelão de barro. Sirva com laranjas doces picadas empedacinhos e pol-
vilhadas com sal. Acompanha a feijoada o molho para feijoada.
(SANGIRARDI. Helena. A alegria lie cozinhar. 33.ed. Rio de Janeiro: Cientifica, 1960, p.328)
2 2 3 - Receita Culinária Poética
Carta-receita culinária, enviada por Vinícius de Moraes a Helena
Sangirardi, em forma de poema:
FEIJOADA A MINHA MODA7
Amiga Helena Sangirardi
Conforme um dia eu prometi
Onde, confesso que esqueci
E embora - perdoe - tão tarde.
""(Melhor do que nunca!) este-.poeta '
Segundo manda á boa ética :
Envia-lhe a" receita (poética)
De sua feijoada completa.
7 MORAIS, Vinícius de. Para viver um grande amor. Apud GIACOMOZZI, Gílio. Português moderno,
31 série. São Paulo: FTD.[s.d.] p.l 12-4.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 59
Em atenção ao adiantado
Da hora em que abrimos o olho
O feijão deve, já catado
Nos esperar, feliz, de molho.
E a cozinheira por respeito
À nossa mestria na arte
Já deve ter tacado peito
E preparado e posto à parte.
Os elementos componentes
De um saboroso refogado
Tais: cebolas, tomates, dentes
De alho - e o que mais for azado.
Tudo picado desde cedo
De feição a sempre evitar
Qualquer contato mais ... vulgar
Às nossas nobres mãos de aedo.
Enquanto nós, a dar uns toques
No que nos seja a contento
Vigiaremos o cozimento
Tomando o nosso uísque "on the rocks".
Uma vez cozido o feijão
(Umas quatro horas, o fogo médio)
Nós, bocejando o nosso tédio,
Nos chegaremos ao fogão.
E em elegante curvatura:
Um pé adiante e o braço às costas
Provaremos a rica negrura
Por onde devem boiar postas.
De carne-seca suculenta
Gordos paios, nédio toucinho
(Nunca orelhas de bacorinho
Que a tornam em excesso opulenta)!
E - atenção! - segredo modesto
Mas meu, no tocante à feijoada:
Uma língua fresca pelada
Posta a cozer com todo o resto.
DILATA SILVEIRA MARTINS / LÚSIA SCLIAR ZILBERKNCP
Feito o quê, retire-se o caroço
Bastante, que bem amassado
Junta-se ao belo refogado
De modo a ter-se um molho grosso.
Que vai de volta ao caldeirão
No qual o poeta, em bom agouro,
Deve esparzir folhas de louro
Com um gesto clássico e pagão.
Inútil dizer que, entrementes,
Em chama à parte desta liça
Devem fritar, todas contentes,
Lindas rodelas de linguiça.
Enquanto ao lado, em fogo brando,
Desmilingiiindo-se em gozo,
Deve também se estar fritando
O torresrninho delicioso.
Em cuja gordura, de resto
(Melhor gordura nunca houve!)
Deve depois frigir a couve
Picada, em fogo alegre e presto.
Uma farofa? - tem seus dias...
Porém, que seja na manteiga!
A laranja, gelada, em fatias
(Seleta ou da Bahia) - e chega.
Só na última cozedura
Para levar à mesa, deixa-se
Cair um pouco de gordura
Da linguiça na iguaria - e mexa-se.
Que prazer mais um corpo pede
Após comido um tal feijão?
- Evidentemente uma rede
E um gato para passar a mão...
Dever cumprido. Nunca é vã
A palavra de um poeta... -jamais!
Abraça-a, em Brillat-Savarin,
O seu Vinícius de Moraes.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 61
2.2.4 - Poesia
SONETO DA SEPARAÇÃO3
Vinícius de Morais
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da<alma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
2.2.5-Textos Humorísticos
A COISA
Vão Gogo (Millor Fernandes)
Eu vi a coisa, quando o dia nascia, nascia o ano. A festa mal começa-
ra, era pura meia-noite, de modo que nem acusar de bêbedo vocês podem. Ela
surgiu, aos poucos, entre um copo e outro, foi crescendo, tomando vulto, ad-
quirindo forma. A princípio, achei-a engraçada, mas pouco a pouco, percebi
seu ar teratológico, sua efígie de monstro. Não fez nada, sumiu algumas horas
depois. Mas era horrenda, como vocês verão por esta descrição:
Tinha cabelo de relógio,
testa de ferro,
cabeça de ponte,
orelhas de livro,
ouvidos de mercador.
Um olho-d'água,
outro da rua,
pupilas do Sr. Reitor,
nariz de cera,
dente de coelho,
língua de trapo,
barba de milho
e costeletas de porco.
Tinha um seio da pátria,
outro da sociedade,
braço do mar,
cotovelos de estrada,
uma mão de direção,
outra mão boba,
palmas de coqueiros,
dois dedos de prosa
e unha de fome.
Tinha tronco de árvore,
corpo de delito,
juntas comerciais,
barriga de revisão,
bacia do Amazonas,
costa da África,
pernas de mesa,
canela em pó,
um pé cúbico,
outro pé de vento
e plantas de arquitetura.
s Apud MESERANI, Samir C. Criatividade, col. [I. São Paulo: Discubra [s.d.] p.79.
9 Apud SCARTON, Gilberto. Português na comunicação. Porto Alegre: PUC [s.d.] p.40.
SER GAÚCHO
Certa vez, eu criei um tipo, um gauchão grosso que estivera exilado na
França, voltara para o Brasil e, com sua mulher francesa, a Françoise, abrira
um restaurante fino, o "Tchè Françoise".
62 DILETA SILVEIRA MARTINS / LÚBIA SO.SAK ZILBERKNOP PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 63
I
64
Só que o gaúcho desaconselhava os fregueses a pedirem aqueles pra-
tos com nomes complicados e tentava empurrar, em vez deles, o carreteiro de
charque, a linguiça, etc.
O bom do personagem era a oportunidade de inventar ditos e máximas
de gaúcho. "Mais nervoso que gato em dia de faxina", por exemplo, ou "mais
triste que tia em baile". Mais tarde, transformei esse personagem em psicana-
lista, mas ele não deixou de ser gaúcho e grosso, com o hábito de dizer as
coisas na cara e o gosto pelas frases feitas, sintéticas e definidoras. Quase to-
das as frases do analista fui eu que inventei. Mas, se quisesse, teria um ver-
dadeiro tesouro de frases, máximas, aforismos, comparações e ditados ao
qual recorrer no folclore gaúcho. Alguns poucos exemplos:
"Todo cavalo tem seu lado de montar" - quer dizer que é preciso saber
como abordar as pessoas.
"A sombra da vaca engorda o terneiro" - filho criado junto da mãe se
cria melhor.
"Vela acesa não acorda defunto" - depois da morte, não há mais o que
fazer.
"Sortido como baú de velha".
"Sofredor como vaca sem rabo" - que não tem como espantar as moscas.
"Mais feio que briga de foice".
"Mais grosso que dedão destroncado".
"Mais pelado que sovaco de sapo".
"Quieto como guri borrado".
"Quem vê cara não vê as unhas".
"Quem puxa a teta bebe o apojo" - apojo é o último leite da vaca, mais
gordo e mais saboroso.
"Quem monta na razão não precisa esporas".
"Pra quem sempre vive na cozinha é verão o ano todo".
"Praga de urubu não mata cavalo gordo" - quem está preparado não
deve temer nada.
"Pobre só vai pra diante quando a polícia vem atrás".
"Perder a ceroula dentro das bombachas" - o máximo da distracão.
"Mais espremido que alpargata de gordo".
"Rápido como enterro de pesteado".
"Gordo que nem noivo de cozinheira".
"Folgado como cama de viúva".
"Esquecido como encomenda de pobre".
"Enrolado como linguiça em frigideira".
"Diz mais bobagem que caturrita de hospício".
"Como punhalada em melancia" - coisa fácil, sem resistência.
"Assustado como cachorro em canoa".
Frases como estas - a maioria tirada, quando falhava a memória, de
um livro precioso chamado Bruaca, Àdagjário Gauchesco, de Sílvio da Cunha
DILETA SILVEIRA MAKTINS / LÚBIA SCUAK ZILIÍERKNOP
Echenique - mostram não só uma sabedoria antiga, passada de geração cam-
peira a geração campeira, como também uma maneira bem humorada, muitas
vezes irónica e sutil, de observar o mundo e as pessoas.
Todo o folclore do Rio Grande do Sul é cheio de humor e sutileza, o
que desmente a "grossura" da caricatura consagrada do gaúcho.
Existe, isto sim, uma maneira franca e aberta de dizer as coisas, que às
vezes pode passarpor rudeza.
Mas o gaúcho sempre teve muito humor e sensibilidade. O que não
quer dizer que o gaúcho da caricatura, com todos os seus exageros, não tenha
o seu valor.
Quando me perguntam se com O Analista de Bagé eu estava satiri-
zando o gaúcho ou o gauchismo, respondo que sim, mas com afeto. Prefiro
ver no jeito do gauchão não tanto a grossura quanto a antifrescura, uma certa
impaciência com as coisas rebuscadas ou as pessoas muito sinuosas.
Quer dizer: grosso, mas no bom sentido.
(VERÍSSIMO, Luís Fernando, f ai nau entende aatlu, p.S5-7)
2 2 6 - Crónica Literária
PARA TEUS OLHOS, MILENE
Sabes o que mais me tocou em tua carta, Milene?
Aquela parte em que, quase distraidamente, falas da parede de tijolos
expostos do prédio vizinho, que é a única paisagem que contemplas do teu
quarto de moça. Foi esse sombrio, limitado horizonte que me comoveu, tão
diverso do riacho, das montanhas, do arvoredo que podias divisar cada ma-
nhã do perdido sítio onde nasceste.
Pois que o resto tem remédio, Milene, o resto se resolve.
Sei bem que isso de trabalhar de dia e estudar de noite é exigente e
cansativo, especialmente quando pensas, em meio a alguma aula mais chata,
que o mundo lá fora deve estar cheio de pessoas agradavelmente reunidas
pelos bares da vida. Mas as faculdades felizmente não são eternas. Logo dirás
adeus à tua e fruirás a liberdade de tuas noites e te chamarão doutora e, ao
ouvires como música esse título, o próprio vinho te parecerá mais inebriante.
Também não é nenhuma tragédia vestir eternamente gastos jeans, não
porque são moda ou porque todo mundo usa, mas porque não tens dinheiro
para comprar as calças fuseau que há séculos namoras numa vitrina, não tens
como pagar as prestações da blusa em matelassê que viste anunciada numa
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 65
66
revista. Uma pessoa não é o que ela veste, Miiene. Uma pessoa é a sua rou-
pagem interior, que não se mede por griffes ou modelos.
E isso de frequentares a bibl ioteca aos sábados e domingos, em busca
dos livros que prezas mas que não podes te presentear, te digo, Miiene, é um
programa innuKànieato maií bolu c inteligente do que o cinzento fim de se-
mana sem ideias em que milhares de pessoas bem postas na vida homiziam o
seu tédio.
Não deixes também que fira tua tenra sensibilidade a inconstância
desse João - vamos chamá-lo assim - que te lançava antes uns olhares com-
pridos, sonhadores, que te despertaram amor, e que agora, toda noite, vai
buscar de moto não a ti, mas aquela tua colega que não usa óculos e que já
foi tua melhor amiga. Se João não foi feito para ti, tanto pior para João.
Não sofras por ele, Miiene. Algum dia, te surgirá talvez um Carlos e não
dará a menor para a espessura de tuas lentes e te raptará numa flamante
Harley-Davidson para que juntos percorram rotas de paixão.
Tudo se resolve, Miiene, tudo tem remédio.
Algum dia, já doutora, comprarás teu aparelho de som e ouvirás todas
as fitas e discos que hoje escutas, clandestina, nas cabines das lojas, para di-
zer ao final à vendedora impaciente que não gostaste de nenhum, que não era
bem aquilo que estavas procurando.
Algum dia, já doutora, entrarás para a tua aula de jazz, ornarás teus
braços de pulseiras, farás quem sabe aquela viagem ao Tahiti em busca da es-
quecida tela de Gauguin que imaginas estar escondida de museus, marchands,
colecionadores, numa cabana à beira de_uma fonte.
Basta esperar que tudo se resolve, Miiene. Em tudo dá-se um jeito.
Terás, doutora, todos os livros de teu afeto, todas as blusas em matelassê, to-
das as calcas fuseau. E liberta, disponível, ainda terás por acréscimo o amor
de algum Carlos, por infinitas noites sem outras aulas que as dos mistérios da
entrega e posse.
Tudo se resolve, tudo tem remédio. Ou quase tudo. Pois comoveu-me
aquilo da parede de tijolos em. que falaste quase distraidamente e que é hoje
toda a paisagem de teu quarto de moça. Porque se pudesse te devolveria ago-
ra mesmo o riacho, as montanhas, o arvoredo do perdido sítio em que nas-
ceste, todas aquelas coisas que foram feitas para teus olhos, Miiene, e que a
cidade grande te roubou.
(CUNHA, Liberalo Vieira da. A mulher de vialaa. Porto Alegre: Tchê, 1990, p.57-9)
2.2.7- Notícia Esportiva
CASO RONALDINHO
O Inferno astral vivido por Roríaldinho é consequência de sua escala-
ção na Copa do Mundo. Segundo Massimo Moratti, presidente do Inter de
DILETA SILVEIRA MARTINS / LÚSIA SCLIAR ZILBEKKNOP
Milão, o craque jogou a Copa sem condições e. por isso agora não consegue
jogar. Moratti diz que o jogador chegou à França com os tendões dos dois joe-
lhos inflamados. Segundo Moratti, Ronaldinho precisou de seis semanas para
se recuperar física e emocionalmente do fracasso do Brasil. Moratti diz que
dará apoio ao craque.
(Jornal GLOBO, 28/01/99, p.44)
2.2.8- Notícia Policial
MORTE DE PM
" - ; Jovem'recolmao à Febetn
R.A.F., 15 anos, ficará recolhido ao Centro de Jovens Adultos da Fun-
dação Estadual do Bem Estar do Menor (Febem) até seu julgamento pela
Vara da Infância e da Juventude. R. está envolvido no assassinato do PM
Carlos José Covalski Fraga, 34 anos, ocorrido no início do mês na Capital.
O jovem foi apontado como matador por João Paulo Catio Fernandes
Vargas, 18 anos. Os dois planejavam um assalto quando foram abordados
pelo PM. R. teria acertado quatro tiros contra o PM, que revidou com cinco
disparos no adolescente. O garoto foi hospitalizado e teve alta.
(2tro Hora. 28/01/99, p.59)
2.2.9 - Notícia Política
REGIMES CAMBIAIS
O presidente do Banco Central, Chico Lopes, passou a maior parte do
tempo de seu depoimento na Comissão de Assuntos Económicos do Senado
tratando do regime cambial flutuante e relembrando a genialidade do Plano
Real, desde o seu brilhante lançamento por André Lara Resende e Pérsio Ári-
da até a hecatombe recente, produzida pela atual equipe económica, onde a
sua estrela brilha. O debate foi fraco e a aprovação burocrática.
(O Globo, 28/01/99, p.4)
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 67
2.2.10-Anúncio Económico
Vende-se excelente ponto comercial, área: 440 metros — localização: a
mais central possível. Quase esquina Andradas. Preço de oportunidade e ne-
gócio imediato. Tratar: Vigário José Inácio, ...
2.2.11 - Propagandas
3 a l i z a m o s o sonho de todo economis ta .
A l L e r a m o s o c à m h i u
sem d e s v a l o r i z a r o seu d i n he i r o .
'68 DILETA SILVEIRA MARTINS / LÚBIA SCUAR
nOV-R-S -F-CJRm-R-
(Jornal da Brasil - 15/11/98 - Ano 23, tíM 176.)
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 69
4 > t-ti » Ir/gflCP^r HOYAí-^">l-A-:::-
?j* 'A *L v, " ' l^-i f ' *£ .
7 O DiifM SILVEIRA MARINS / LúntA SCLIAR Z/i.
2.2.12- Crónica Literária (Anúncio)
PEQUENOS ANÚNCIOS'
Pauto Mendes Campos
Ajudante de cozinha precisa de ajudante de ajudante de cozinha.
Precisa-se de empregada; tem janela no quarto.
Precisa-se de empregada competente e amante da limpeza para cozi-
nhar, lavar, copeirar, passar, engomar, cuidar das crianças, servir de enfer-
meira a senhor idoso paralítico, regar o jardim, fazer a faxina diária e demais
serviços leves.
Apartamento muito pequeno precisa de cozinheira nas mesmas condições.
Cavalheiro fino, mas teso, casa-se com moça grossa, mas rica.
Churrascaria precisa garçom prática pista de atletismo.
Casal educado na Europa quer empregada que saiba apreciar uma boa
conversação em inglês ou francês.
Desiludido urbano troca carrinho de mão por carroça de burro.
Compro sepultura urgente motivo saúde.
Viúvo vende barato televisão motivos óbvios.
Cartomante lê passado, presente e futuro de funcionário público.
Precisa-se urgente de colocador de pronomes.
Precisa-se capitão rico para infantil de futebol pobre.
Arrenda-se tenda espírita com clientela do outro mundo.
Porto Alegre, 20 de maio de 1998
2 2 1 3 - Carta Comercial
Senhores
J. MORAIS & IRMÃO
Av. Farrapos, ...
N/CAPITALSenhores:
Conforme entendimento anteriormente mantido com V. S-, formalizo,
pela presente, o pedido do meu afastamento de sua empresa, visto ter decor-
rido o prazo legal de trinta dias.
10 Apud NUNES, Amaro-Ventura, LEITE, Roberto A. Soares. Comunicação expressão em língua nacio-
nal. São Paulo: Ed. Nacional, 1973, p.197.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 71
Confirmo a V. Sa que a minha atitude se prende a motivo de ordem
estritamente particular, nada havendo contra a firma ou seus diretores, de
quem sempre obtive a máxima consideração.
Mais uma vez, reitero meus agradecimentos pela confiança merecida.
Atenciosamente
Pedro Silva
2.2.14- Carta Literária (Modelo Comercial)
Prezada Senhorita:
Tenho a honra de comunicar a V.Sà que resolvi, de acordo com o que
foi conversado com seu ilustre progenitor, o tabelião juramentado Francisco
Guedes, estabelecido a Rua da Praia n2 632, dar por encerrados nossos enten-
dimentos de noivado. Como passei a ser o contabilista-chefe dos Armazéns
Penalva, conceituada firma desta praça, não me restará, em face dos novos e
pesados encargos, tempo útil para os deveres conjugais.
Outrossim, participo que vou continuar trabalhando no varejo da man-
cebia, como vinha fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de
maio de 1932, em solenidade presidida pelo Exma Sr. Presidente do Estado e
outras autoridades civis e mili tares, bem assim como representantes da Asso-
ciação de Varejistas e da Sociedade Cultural e Recreativa José de Alencar.
Sem mais, creia-me de V. S1, patrício e admirador.
(CARVALHO. José Cândido de
Olympio. 1971.p.l4-5)
'orqug Lulu Bergantim nãti d o Rubicnn. Rio de Janeiro: José
2.2.15- Carta Literária
Veja, na página 56, a carta de Jorge Amado.
Numa reportagem policial ou notícia política, o autor tem a in-
tenção de informar o leitor a respeito de tal ou qual fato ocorrido na-
quela esfera. Ele (com raras exceções) não tem preocupações com
forma literária, estilo, etc. Escreve de forma jornalística, objetivando
informação, clareza, concisão.
7 2 OIÍETA SILVEIRA MARTIKS / LúaiA SCUAK
Já a crónica esportiva pode ou não ter essa preocupação, trazen-
do, às vezes, certo estilo pessoal. Por outro lado, na crónica literária,
não obstante o autor geralmente ser pressionado pelo cotidiano (e,
muitas vezes, escrever em órgãos de imprensa), há a preocupação da
forma, do estilo; esse é simples, mas peculiar. Há o emprego de figu-
ras de estilo. Predominam a conotação e o subjetivismo.
O que se disse com relação à reportagem esportiva, ajusta-se à
bula, à receita de Helena Sangirardi, ao anúncio económico e à carta
comercial. Aqui o objetivo primordial é a comunicação direta, sem
rodeios.
Para o farmacêutico, o que interessa é que o decodificador en-
tenda a mensagem, sabendo como administrar o medicamento.
Quanto à receita culinária, acontece a mesma coisa: o decodifi-
cador (cozinheira) precisa receber a mensagem com clareza, para po-
der executá-la.
Referentemente ao anúncio económico, o que.o proponente do
negócio quer é vender o ponto comercial. Portanto: linguagem sim-
ples, direta e objetiva.
Já na carta comercial, há uma linguagem, de certa forma, estereo-
tipada, e o uso de termos alheios ao repertório comercial "atrapalharia"
a decodificação da mensagem. É preciso seguir, mais ou menos, uma
"fórmula", com termos já conhecidos no âmbito comercial, para que a
mesma seja bem decodificada.
Por outro lado, examinando as propagandas, há ou não há uma
grande dose de imaginação e, conseqiientemente, criatividade na pu-
blicidade moderna?
Em relação às receitas de Vinícius e de Helena Sangirardi, o que
faz com que somente a primeira seja poética? Como se pode ver, o
que as diferencia, não é propriamente o que se diz, mas como se diz.
Isso posto, podemos dizer que, dos textos examinados,
possuem originalidade e criatividade e
não o possuem.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 73
«lif II
Com relação ao texto literário, podemos dizer que ele apresenta
diversas características, entre elas, uma maneira original de penetrar a
realidade, um modo bonito e diferente de dizer as coisas. O texto lite-
rário tem beleza, ritmo e foge ao lugar comum.
Por outro lado, no texto literário, há, muitas vezes, como já se-
disse, o desrespeito à norma gramatical. Isso se deve ao impulso ex-
pressivo e à intenção estética. Logo, o erro estilístico não se confunde
com o erro gramatical puro, que se caracteriza por um desvio à gra-
mática, sem qualquer intenção estética ou imposição estilística.
Quanto à beleza do texto literário, quando o poeta diz isto:
"Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,,.. "
(Fernando Pessoa)
O não-poeta diria, por exemplo, assim:
Assim termina a lenda, já que enfrentamos a realidade.
2.3 - O ESTILO COM RELAÇÃO AO CONTEXTO
Quanto ao contexto, o estilo pode ser:
• literário;
• não-literário.
2 .3 .1 - O Estilo Literário
No estilo literário, predominam a conotação e a subjetividade.
2.3.2- O Estilo Não-Literário
No estilo não-literário, pode predominar a subjetividade, não
havendo, geralmente, preocupação com a criatividade. No estilo
não-literário, destacamos os textos técnicos, òrfde devem predominar
74:
a denotação, a objetividade, a simplicidade, a formalidade, a impes-
soalidade, a precisão, a clareza, a concisão, a cortesia, a cuerência e a
harmonia (ver qualidades do estilo, p.75-9).
A propósito, Othon M. Garcia diz: "A descrição técnica deve es-
clarecer, convencendo; a literária deve impressionar, agradando. Uma
traduz-se em objetividade; a outra sobrecarrega-se de tons afetivos.
Uma é predominantemente denotativa; a outra, predominantemente
conotativa."
Assim, a descrição que um perito em Medicina Legal faz da
autópsia de um cadáver deve ser eminentemente objetiva e denotativa.
A descrição, porém, que um escritor faz de um pôr-de-sol é geral-
mente poética, subjetiva, conotativa.
2.4- QUALIDADES DO ESTILO
Hoje, mais do que nunca, dá-se à comunicação o lugar mereci-
do: principal veículo de entendimento entre as pessoas.
Urge, portanto, comunicar-se bem. E, para atingir esse objetivo,
é necessário que o estilo do comunicador possua uma série de requi-
sitos, dentre os quais destacamos como mais importantes:
24 i --Harmonia
Entende-se por mensagem harmoniosa aquela que é elegante,
que soa bem aos nossos ouvidos.
Muitos fatores prejudicam a harmonia, tais como:
• Aliteração
A aliteração consiste na repetição do mesmo fonema. Sendo um
recurso estilístico de belo efeito na composição literária, não soa bem
aos ouvidos num tipo de redação mais formal.
Na certeza de que seria bem sucedido, o sucessor fez a seguinte asserção: ...
(aliteração do fonema /s/).
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 75
. Emenda de vogais (ou hiatismo}
mu
Obedeça à autoridade.
• Cacofonia
Na vez passada, agimos diferente.
• Rima
A rima, embora seja um bom recurso literário, é inaceitável
numa redação oficial.
O diretor chamou, com muita dor, o assessor, dizendo-lhe que, embora reco-
nhecendo ser o mesmo trabalhador, não lhe poderia fazer esse favor.
• Repetição de palavras
A exemplo de alguns itens supracitados, a redundância, quando
enfática, é um excelente recurso estilístico. É o caso da publicidade:
"Viaje bem. Viaje VASP."
Entretanto, num texto não-literário, a repetição inadvertida de
termos é geralmente deselegante.
O presidente da Cia. de Seguros é primo do presidente daquela empresa sen-
do um presidente muito ativo.
• Excesso de "que"
O excesso de "que" confere ao período um estilo arrastado a que
se denomina acumulamento. Além de deselegante, demonstra que o
autor não conhece bem o manejo do idioma quanto à substituição das
orações desenvolvidas por expressões equivalentes.
Solicitei-lhe que me remetesse a mercadoria que me prometera a fim de que
eu pudesse saldar oscompromissos que tinha assumido.
2.4 2 -Clareza
Para que a comunicação se faça clara, é preciso que o pensa-
mento de quem comunica também seja claro.
Portanto, de uma cabeça confusa, com ideias emaranhadas, será
praticamente impossível brotar uma mensagem clara.
Outros fatores que poderão concorrer para uma comunicação
imperfeita são: pontuação incorreta, má disposição das palavras na
frase, omissão de alguns termos (principalmente pronomes), impreci-
são vocabular, excesso de intercalações, ambiguidade causada pelos
pronomes possessivos, relativos, etc.
Só para vermos o que são mensagens defeituosas, daremos, a
seguir, alguns exemplos:
a) Eu, parece-me que o rapaz que eu fui ao escritório dele na semana passa-
da, é fã ardoroso do Flamengo (pensamento confuso, ideias desordenadas).
b) Perdoas? Não discordo.
Perdoas? Não! Discordo, (mudança de sentido, através da mudança de
pontuação).
c) Vendem-se cobertores para casal de lã (má disposição das palavras na frase).
d) O velhinho tomou aquele remédio dentro do vidrinho (má disposição das
palavras na frase).
e) Precisa-se de babá para cuidar de criança de 17 a 25 anos (má disposição
das palavras na frase).
f) Estamos liquidando pijamas para homens brancos (má disposição das pala-
vras na frase).
g) Escutei algo a respeito do envenenamento da mulher sentada no banco da
praça (má disposição das palavras na frase).
h) A ordem do ministro que veio de Brasília... (ambiguidade do pronome rela-
tivo que).
i) Subindo a serra, avistei vários animais (ambiguidade provocada pelo ge-
rúndio: quem subia?)
j) Eu noivaria com você, Verinha, se tivesse um pouco de dinheiro (ambi-
guidade ocasionada por omissão de termos; eu ou você?).
76 DlLfTA SILVÍIKA MARTINS / LÚalA5CLIARZll.BCKKNOP PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 77
l) Ele pensava no antigo amor e julgava que a sua agressividade teria con-
tribuído para o término do romance (ambiguidade ocasionada pelo em-
prego de um pronome que é válido tanto para "ele" como para "ela"; dele
ou dela'1'}
m) Aquele sujeito foi prescrito de sua Pátria (imprecisão vocabular pela con-
fusão dos termos prescrito e proscrito).
n) O leite, que é um alimento precioso para a saúde, e esta, uma dádiva divi-
na, deve ser ingerido após sofrer o processo de pasteurização, que o imu-
niza contra diversas infecções (excesso de intercalações. Ver explicações
sobre concisão, a seguir).
2.4.3- Concisão
Numa época como a nossa, em que a rapidez e a praticidade de-
vem imperar, é necessário que a comunicação seja lingiiisticamente
económica.
Entende-se por mensagem concisa, pois, aquela redigida com
poucas palavras, comunicando apenas o essencial e desprezando as
explicações óbvias e/ou não-pertinentes.
Dessa forma, temos a dizer que, por primar pela economia de
palavras, a seguinte informação é concisa:
O número cada vez maior de separações tem alarmado as autoridades
governamentais.
Se disséssemos essa mesma frase, porém acrescentando-lhe uma
carga informativa desnecessária, uma série de termos inúteis que, por
só enfeitarem, são plenamente dispensáveis, teríamos um estilo proli-
xo e não conciso. . . . . ' • • . - . -
78
A partir deste século, o número cada vez maior e, por isso mesmo,
mais alarmante de separações, flagelo irrecuperável da família moderna, tem
alarmado as autoridades governamentais, guardiãs perenes do bem-estar social,
principalmente pelas sequelas traumatizantes produzidas nos filhos e pela de-
cadência moral da sociedade, tendo em vista ser a família o esteio e a célula-
mater dessa mesma sociedade.
DILETA SILVEIRA MARTINS / LÚIIIA SCLIAK
Analisaremos, a seguir, por que o texto acima contém muitas
afirmações desnecessárias:
a) A partir deste século - expressão desnecessária, porque não
estamos historiando o fato. O nosso objetivo é dizer que isso preocupa
alguém.
b) ... e, por isso mesmo, mais alarmante ... - expressão desne-
cessária, porque, logo a seguir, se fala sobre isso.
c) ...flagelo irrecuperável da família moderna ... - expressão de
mau gosto, desnecessária, porque vazia de conteúdo e com dois ter-
mos supérfluos: irrecuperável (sendo um flagelo, já não se pode espe-
rar qualquer recuperação...) e moderna (se já foi dito que é a partir
deste século, o termo "moderno" torna-se desnecessário).
d) ... guardiãs perenes do bem-estar social ... - outra expressão
chavão e deselegante, além de servir de explicação desnecessária.
e) principalmente pelas sequelas, etc. Aqui temos uma série de
termos e explicações que só servem para encher papel; não devem,
portanto, ser escritas ou ditas.
2 4 4 - Outras
É evidente que as três qualidades enunciadas, embora sejam as
mais importantes, não são as únicas. Temos, também, como virtudes
estilísticas, a correcão gramatical, a coesão e a coerência.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 79
EXERCÍCIOS
Reformule os seguintes trechos, tendo em vista a clareza, a harmonia e a
concisão.
A sugestão da mesa foi enviada àquela reunião, por se constituir numa solicita-
ção de longa data daquela população.
2. O contador, ao pôr o projetor na mesa, sentiu uma dor profunda nas costas.
3. Na vez passada, ela também se atrasou.
4. É uma realidade tradicional e costumeira que a diversão popular - e ela abrange
várias modalidades circunscritas a épocas ou regiões diversas - geralmente é ofe-
recida ao povo (podemos remontar à Roma Antiga),visando não ao objetivo pre-
cípuo da diversão (dar lazer a quem dele necessite), mas sim visando a uma alie-
nação dos seres pensantes à situação política vigente, para que eles não pensem
na fome, na miséria e na injustiça, suas companheiras de infortúnio e dor.
5. "Se buscamos amor em nossas vidas, nossos pensamentos devem ser pensamen-
tos amorosos que, num ato amoroso, desenvolvem um caráter amoroso que nos
dará um destino de amor". (Juan Carlos Kreimer).
6. Logo que ela pensou que tinha sido aprovada, ficamos satisfeitos, porque, ainda
que passasse com algumas deficiências, seria um gasto a menos que teríamos no
ano seguinte.
80 SHVEIXA MARTINS / (.OfíM SCLIAK
7. Gostei das atitudes dos alunos que o diretor elogiou.
8. Pago R$ 200,00 por cada.
9. Solicitou a Nestor que lhe enviasse os seus relatórios.
10. Vendia meias para a freguesia de baixa qualidade.
11. Pensando que ela chegaria cedo saiu à procura de flores.
12. A ser realidade que a tua amiga à facilidade de permanecer estudando no Brasil
prefere a chance de, apesar de isso te causar sofrimento, tentar uma bolsa que sa-
bemos incerta para a Franca, deves acatar a sua decisão.
13. A História registra fatos injustos, como os operários que, no início do século,
trabalhavam diuturnamente por algumas migalhas de pão, o que os prostituía
como seres humanos.
14. Regando as flores, vi dois estranhos no jardim.
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 81
-c..*; A> (b/O," 'C -J
FAP Maurício de Nassau
Coordenação do Curso de Administração/ Contábeis
Ensina, pesquisa D e
Curso
Bacharelado em Administração
Disciplina
Comunicação Oral e Escrita
Professora
Márcia Edlene Mauriz Lima
Aluno
Atividade Complementar
01. Leia o fragmento a seguir e responda às questões:
SCLIAR, Moacyr. Saturno nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
-Em seu novo livro, o gaúcho Moacyr Scliar deixa a ficção de lado e investe em
outra de suas especialidades: o enaio. Saturno nos trópicos é um estudo sobre a
melancolia, e custou cinco anos de pesquisa ao escritor. Não se trata de uma
obra difícil: ao contrário, sua linguagem é sempre acessível e envolvente. Scliar
enfoca o tema em momentos históricos.Fala da Idade Média dos tempos da
peste negra e da Renascença dos grandes avanços científicos. Mas seu objetivo
é, sobretudo, compreender a melancolia à moda brasileira e traçar uma história
dela. Scliar examina a cultura nacional desde os primeiros tempos até o século

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