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Sensações Sornai II. Dor, Cefaléia e Sensações Térmicas Várias (se não a maioria) das doenças corporais causam dor. Além disso, a capacidade do médico de diagnosticar diferentes doenças depende, em grande parte, do conhecimento que ele tenha das diferentes qualidades da dor. Por estas razões, este capítulo dedica-se principalmente à dor e à base fisiológica de alguns dos fenômenos clínicos associados. A finalidade da dor. A dor é um mecanismo motetor para o corpo; ocorre sempre que qualquer tecido seja lesado, e faz com que o indivíduo reaja para remover o estímulo álgico. Mesmo atividades simples, como sentar-se por longo tempo sobre o is- quio, podem causar destruição tecidual, devido à ausência de fluxo sanguíneo para a pele, no local onde ela é comprimida pelo peso do corpo. Quando a pele fica dolorida, devido à isque- mia, a pessoa normalmente desloca inconscientemente seu peso para outra região. Mas a pessoa que perdeu a sensibilidade álgica, como após lesão da medula espinhal, não percebe adore, portan- to, não executa o movimento necessário. Isso resulta logo em ulceração nas áreas de pressão. e OS DOIS TÏPOS -0€ DOR E SUAS QUALIDADES — DOR RAPIDA E DOR LENTA A dor foi classificada em dois tipos principais: dor rápida e dor lenta. A dor rápida ocorre dentro de cerca de 0,1 s, quando é aplicado um estímulo, enquanto•a dor lenta só se inicia após 1 sou mais e, depois, aumenta lentamente durante vários segun- dos e, algumas vezes, até mesmo minutos. Neste capitulo veremos que as vias de condução para esses dois tipos de dor são diferentes e que cada uma delas tem qualidades específicas. A dor rápida também recebe vários outros nomes, como dor em pontada, dor em agulhada, dor aguda, dor elétrica, e outros. Esse tipo de dor é percebido quando uma agulha é espe- tada na pele, ou quando a pele é cortada por lâmina, e essa dor também é percebida quando a pele sofre um choque elétrico. A dor rápida, em pontada, não é percebida na tnaioria dos tecidos profundos do corpo. A dor lenta também recebe vários outros nomes, como dor em queimação, dor continuada, dor latejante, dor nauseante e dor crônica. Esse tipo de dor está em geral associado à destruição tecidual. Pode ser extrema e causar sofrimento insuportável, pro- longado. Esse tipo de dor pode ocorrer tanto na pele como em qualquer tecido ou órgão profundo. Adiante, aprenderemos que a dor rápida é transmitida por fibras sensíveis à dor do tipo AS, enquanto a dor lenta resulta da estimulação das fibras tipo C, mais primitivas. OS RECEPTORES DA DOR E SUA ESTIMULAÇÃO Todos os receptores de dor são terminações nervosas livres. Os receptores de dor, na pele e em outros tecidos, são terminações nervosas livres. Apresentam-se distribuídos difusamente nas ca- madas superficiais da pele, e, também, em determinados tecidos internos, como o periósteo, as paredes arteriais, as superfícies articulares e a foice e o tentório da calota craniana. A maioria dos outros tecidos profundos possui inervação pobre de termina- ções nervosas sensíveis à dor; todavia, qualquer lesão tecidual difusa ainda pode, por somação, causar a dor do tipo contínua, crônica e lenta nessas áreas. Três diferentes tipos de estímulos excitam os receptores de dor — mecânicos, térmicos e químicos. A maioria das fibras sensí- veis à dor pode ser excitada por tipos múltiplos de estímulos. Entretanto, algumas fibras têm maior tendência a responder ao estiramento mecânico excessivo, outras a extremos de calor ou frio, e, ainda outras, a substâncias químicas específicas, nos teci- dos. Elas são classificadas, respectivamente, como receptores me- cânicos, térmicos e químicos de dor. Em geral, a dor rápida é produzida pelos receptores dos tipos mecânico e térmico, en- quanto a dor lenta pode ser produzida por todos os três tipos. Algumas das substâncias químicas que excitam o tipo quí- mico de receptores de dor incluem: bradicinina, serotonina, hirta- mina, íons potássio, ácidos, acetilcolina, e enzimas proteolíticas. Além disso, as prostaglandinas estimulam a sensibilidade das terminações sensíveis à dor, mas não as excitam diretamente. As substâncias químicas são muito importantes na estimulação da dor do tipo lenta, incómoda, que acompanha a lesão tecidual. Nú m er o de in d i vk i.u o s 1 43 44 45 46 47 Temperatura (°C) Natureza não-adaptativa dos receptores de dor. Ao contrário da maioria dos outros receptores sensoriais do corpo, a adaptação dos receptores de dor, quando ocorre, é mínima. Na verdade, em algumas condições, a excitação das fibras sensíveis à dor é progressivamente maior à medida que o estímulo continua. Esse aumento da sensibilidade dos receptores de dor é denomi- nado hiperalgesia. É fácil compreender a importância dessa incapacidade de adaptação dos receptores de dor, pois permite que a pessoa per- maneça sempre alerta a um estímulo lesivo que cause dor enquan- to ele persistir. Intensidade da lesão tecidual como causa da dor. A média das pessoas começa a perceber dor quando a pele é aquecida acima de 45(C, como mostrado na Fig. 10.1. Essa é também a temperatura na qual os tecidos começam a ser lesados pelo calor; na verdade, os tecidos acabam por ser totalmente destruí- dos se a temperatura permanecer indefinidamente acima desse nível. Portanto, está bastante claro que a dor resultante do calor está intimamente relacionada à capacidade do calor de lesar os tecidos. Além disso, a intensidade da dor também foi intimamente relacionada à intensidade de lesão tecidual por outras causas além do calor—infecção bacteriana, isquemia tecidual, contusão tecidual, e assim por diante. Importância especial dos estímulos dolorosos químicos du- rante a lesão tecidual. Os extratos de tecidos lesados causam dor intensa quando injetados sob a pele normal. Todas as substân- cias químicas relacionadas acima que excitam os receptores quími- cos da dor são encontradas nesses extratos. Entretanto, a substân- cia química que parece ser mais dolorosa é a bradicinina. Portan- to, vários pesquisadores sugeriram que a bradicinina poderia ser o único agente responsável, na maioria das vezes, pela dor associada à lesão tecidual. Também, a intensidade da dor perce- bida esta relacionada ao aumento local da concentração de íons potássio. E, também, devemos lembrar que as enzimas proteo- titicas podem atacar diretamente as terminações nervosas e exci- tam a dor, tornando suas membranas mais permeáveis aos íons. A liberação dos vários excitantes álgicos químicos não apenas estimula as terminações álgicas quimiossensíveis, mas, também, diminui muito o limiar para a estimulação dos receptores de dor mecanossensíveis e termossensíveis. Exemplo muito conhe- Fig. 10.1 Curva de distribuição, obtida a partir de grande número de indivíduos, da temperatura cutânea mínima que causa dor. (Modificado de Hardy: J. Chronic Dis., 4:22, 1956.) ciclo é a dor extrema, causada por pequenos estímulos mecânicos ou térmicos, após lesão iceidual por queimadura solar. Isquemia tecidual corno causa da dor. Quando o fluxo san- guíneo para uni tecido é bloqueado, o tecido fica muito dolorido em poucos minutos. E, quanto maior o metabolismo do tecido, mais rapidamente surge a dor. Por exemplo, se um manguito de pressão arterial for colocado ao redor do braço e insuflado até que cesse o fluxo sanguíneo arterial, o exercício dos müSetilos do antebraço pode causar dor muscular intensa em 15 a 20 s. Na ausência de exercício muscular, a dor só surgirá após 3 a 4 min. Urna das causas sugeridas de dor na isquemia é o acúmulo de grandes quantidades de ácido tático nos tecidos, formado em conseqüência do metabolismo anaeróbico (metabolismo sem oxigênio) que ocorre durante a isquemia. Entretanto, tambémé possível que outros agentes químicos, como a braclicinina, enzi- mas proteolíticas, e outros, sejam formados nos tecidos, devido á lesão celular, e que eles, em lugar do ácido latiu), estimulem as terminações nervosas sensíveis à dor. Espasmo muscular como causa da dor. O espasmo muscular também é causa muito comum de dor, e é a base de várias síndromes álgicas clínicas. Essa dor, provavelmente, resulta, em parte, do efeito direto do espasmo muscular na estimulação de receptores de dor mecanossensíveis. Entretanto, talvez resulte, também, do efeito indireto do espasmo muscular que comprime os vasos sanguíneos e causa isquemia. Por outro lado, o espasmo aumenta, ao mesmo tempo, o metabolismo do tecido muscular, aumentando, assim, ainda mais, a isquemia relativa, criando con- dições ideais para a liberação de substâncias químicas que indu- zem a dor. e AS DUNS VIAS DE TRANS -MISSÃO DOS SINAIS DOLOROSOS PARA O SISTEMA NERVOSO CENTRAL Embora todas as terminações sensíveis à dor sejam terminações nervosas livres, elas utilizam duas vias separadas para a trans- missão de sinais de dor para o sistema nervoso central. As duas vias correspondem aos dois tipos diferentes de doi, urna via para a dor rápida-em pontada e uma via para a dor lenta-crônica. As fibras periféricas da dor — fibras "rápidas" e "lentas". Os sinais da dor rápida-em pontada são transmitidos, nos nervos periféricos, para a medula espinhal, por fibras delgadas do tipo AS, com velocidade de 6 a 30 m/s. Por outro lado, a dor do tipo lenta-crônica é transmitida por fibras do tipo C, com veloci- dades entre 0,5 e 2 m/s. Quando as fibras do tipo AS são bloquea- das, sem bloqueio das fibras C, por compressão moderada do tronco nervoso, a dor rápida-em pontada desaparece. Por outro lado, quando as fibras do tipo C são bloqueadas, sem bloqueio das fibras 8, por baixas concentrações de anestésico local, a dor do tipo lenta-crônica-continuada desaparece. Devido a esse duplo sistema de inervação para a dor, o início súbito de estímulo álgico produz uma "dupla" sensação de dor: uma dor rápida-em pontada, seguida, 1 s depois, por dor lenta, em queimação. A dor em pontada alerta a pessoa, de modo muito rápido, para a existência de influência potencial- mente lesiva, e, portanto, representa papel importante por provo- car reação imediata da pessoa para afastar-se do estímulo. Por outro lado, a sensação em queimação, lenta, tende a ser cada vez mais dolorosa, com o decorrer do tempo. Essa sensação leva, por fim, a sofrimento intolerável de dor longa e continuada. Após penetrar na medula espinhal, provenientes da raiz dor- sal espinhal, as fibras da dor trafegam, para cima e para baixo, por um a três segmentos, pelo feixe de Lissauer, que se localiza Fetxe de Lissauer Lâmina marginal Fibras r. -r de dor — lenta-crônica Substância gelatinosa Via Salero-lateral Nervo espinhal , Fibras .1)— de dor !Calda-aguda Complexo venlrobasal e grupo nuclear posterior Fibras de Dor "Rápida" Núcleos intralaribnares Fibras de Dor "Lenta" Formação reticular Feixes de dor Fig. 10.2 Transmissão de sinais de dor "aguda-em pontada" e "lenta- crônica" para e pela medula espinhal, em seu trajeto até o tronco cere- bral. imediatamente posterior à ponta dorsal da substância cinzenta da medula espinhal, terminando, então, sobre neurônios locali- zados nas pontas dorsais. Entretanto, de novo, aqui, existem dois sistemas para o processamento dos sinais de dor, que se dirigem para o encéfalo como mostrado nas Figs. 10.2 e 10.3. Eles são os seguintes: AS DUAS VIAS DA SENSAÇÃO DA DOR, NA MEDULA ESPINHAL EIVO TRONCO CEREBRAL — OS FEIXES NEO-I?SPINHOTALA MICO E PA_LEOESIPINHOTAIÂMICO Após entrarem na medula espinhal, os sinais de dor se dirigem para o encéfalo por meio de duas vias distintas, o feixe neo-espi- nhotalámico e o feixe paleoespinhotaMmico. Para: Áreas sensoriais somáticas Fig. 10.3 Transmissão de sinais de dor para o rombencéfalo, tálamo e córtex, pelas vias de dor rápida "em agulhada" e da dor lenta "em queimação". O feixe neo-espinhotalâmico para a dor rápida. As fibras da dor, tipo AS, "rápidas", transmitem a maior parte dos sinais dolorosos mecânicos e térmicos. Terminam, em sua maioria, na lâmina I (lâmina marginal) das pontas dorsais e, aí, excitam os neurônios de segunda ordem, do feixe neo-espinhotalâmico. Estes neurônios dão origem a longas fibras, que cruzam imediata- mente para o lado oposto da medula, passando pela comissura anterior e, depois, se dirigem para o encéfalo nas colunas ântero- laterais. Terminação do feixe neo-espinhotalâmico no tronco cerebral e no tálamo. Algumas fibras do feixe neo-espinhotalâmico termi- nam nas áreas reticulares do tronco cerebral, mas a maioria segue até o tálamo, terminando no complexo ventrobasal, juntamente com o feixe coluna dorsal-lemnisco medial, discutido no capítulo anterior. Algumas também terminam no grupo nuclear posterior do tálamo. A partir dessas áreas, os sinais são transmitidos para outras áreas basais do cérebro e para o córtex sensorial somáti- CO. Capacidade do sistema nervoso de localizar a dor rápida no corpo. A dor do tipo rápida-em pontada pode ser localizada com muito mais precisão nas diferentes partes do corpo que a dor lenta-crônica. Entretanto, mesmo a dor rápida, quando só são estimulados receptores de dor, sem estimulação simultânea de receptores táteis, ela ainda é mal localizada, freqüentemente dentro de 10 cm da área estimulada. Porém, quando os receptores táteis também são estimulados, a localização pode ser muito precisa. O feixe paleoespinhotalântico para a transmissão da dor lenta' crônica. O feixe paleoespinhotalâmico é um sistema muito mais antigo, e transmite os sinais de dor, conduzidos, em sua maior parte, pelas fibras periféricas de dor lenta, do tipo C, embora também transmita alguns sinais pelas fibras tipo AS. Nesse feixe, as fibras periféricas terminam quase totalmente nas lâminas II e III das pontas dorsais, que, juntas, são denominadas substância gelatinosa, como representado pela fibra da raiz dorsal mais late- ral na Fig. 10.2. A maioria dos sinais passa, então, por um ou mais neurônios de fibras curtas, nas próprias pontas dorsais, antes de penetrarem, em grande parte, na lâmina V, também na ponta dorsal. Aí, o último neurônio da série origina axônios longos que se unem, em sua maioria, às fibras do feixe rápido, passando, pela comissura anterior, para o lado oposto da medula e, depois, dirigindo-se para o encéfalo, pela mesma via ântero- lateral. Entretanto, algumas dessas fibras não cruzam a medula e seguem, ipsilateralmente, em direção ao encéfalo. Substância l', o provável neurotmnsmissor das terminações nervosas do tipo C. Acredita-se que, no local onde as fibras do tipo C fazem sinapse, nas pontas dorsais da medula espinal, ocorra liberação de substância I', como transmissor sináptico. A substância P é um neuropeptídio e, como todos os neuropep- [Mios, é produzida e destruída lentamente na sinapse. Portanto, acredita-se que sua concentração, na sinapse, aumente durante, no mínimo, vários segundos, e talvez muito mais, após o início do estímulo álgico. Após a cessação da dor, a substância P persiste por mais de vários segundos ou, talvez, por minutos. A impor- tância disso é que poderia explicar o aumento progressivo da intensidade da dor lenta-crônica, com o passar do tempo, e, também, poderia explicar, ao menos parcialmente, a persistên- cia desse tipo de dor, mesmo após a remoção do estímulo álgi- co. Terminação dos sinais da dor lenta-crônica, no tronco cerebral e no tálamo. O feixe lento-crônico termina, de forma bastante difusa, no tronco cerebral, na grande área em rosa mostrada na Fig. 10.3. Apenas umdécimo a um quarto das fibras percorrem todo o trajeto das três diferentes áreas (1) os núcleos reticulares do bulbo, ponte e mesencéfalo; (2) a área lactai do mesencéfalo, em situação profunda aos colículos superior e inferior; e (3) Neurônics de enceitallna Ponte Núcleo magno da rate Quarto ventrIculo Fibras de dor Neurõnlos de encordoe InIbIçãO praisindptica da dor TerGelro ventriculo Núcleos — pedventrmulares Aqueduto — 'i-, Substância cinzenta periaquedutal Mesencéfato Neurbnlos serotomirglcos ---- Feixe somatossensorial ântero-lateral 1 t as () , ri( nr, a área cinzenta periaquedutal adjacente ao aqueduto de Sylvius. Essas regiões inferiores do encéfalo parecem ser muito impor- tantes na avaliação da dor do tipo crónica, pois animais com cérebro seccionado acima do mesencéfalo mostram sinais evi- dentes de sofrimento, quando qualquer parte de seu corpo é traumatizada. A partir da área reticular do tronco cerebral, múltiplos neurônios de axônios curtos enviam os sinais da dor para os núcleos intraluminares do tálamo e também para determinadas porções do hipotálamo e outras regiões adjacentes basais do cérebro. Capacidade do sistema nervoso de localizar a dor, transmitida pelo feixe ,da dor lenta-crônica. A localização da dor transmitida pelo feixe paleoespinhotalâmico é muito imprecisa. Na verdade, estudos eletrofisiológicos sugerem que a localização refere-se com muita freqüência apenas a partes bastante amplas do corpo, como um membro, mas não a um ponto determinado sobre o membro. Isso se deve as conexões difusas e multissinápticas no trajeto para o encéfalo. Também explica por que os pacientes têm, mui- tas vezes, grande dificuldade de localizar a origem de alguns desses tipos de dor crônica. Função da formação reticular, tálamo e córtex cerebral na apreciação da dor. A remoção completa das áreas sensoriais so- máticas do córtex cerebral não destrói a capacidade de percepção da dor. Portanto, é provável que os impulsos de dor que entrem na formação reticular, tálamo e outros centros inferiores possam causar percepção consciente da dor. Entretanto, isso não significa que o córtex cerebral não está relacionado à apreciação normal da dor; na verdade, a estimulação elétrica das áreas sensoriais somáticas corticais faz com que a pessoa perceba a dor leve em cerca de 3% dos diferentes pontos estimulados. Acredita-se que o córtex represente papel importante na interpretação da qualidade da dor, embora a percepção da dor possa ser função dos centros inferiores. Capacidade especial dos sinais dolorosos de alertar o sistema nervoso. A estimulação elétrica das áreas reticulares do tronco cerebral e, também, dos núcleos intralaminares do tálamo, as áreas onde termina a dor do tipo lenta-crônica, exerce forte efeito de alerta sobre a atividade nervosa em todo o encéfalo. Na verdade, essas duas áreas são parte do sistema principal de alerta do encéfalo que é discutido no Cap. 21. Isso explica por que uma pessoa com dor intensa se mantém muitas vezes em alerta máximo, e, também, explica por que é quase impossível dormir quando se está sentindo dor. Interrupção cirúrgica das vias da dor. Com freqüência, ocorre dor tão intensa e intratável (muitas vezes resultante de câncer de progressão rápida) que é necessário aliviá-la destruindo a via de condução em qual- quer um de vários pontos distintos. Se a dor está localizada na região inferior do corpo, a cordotonia, na região torácica superior, em grande parte dos casos, alivia a dor, por algumas semanas ou meses. Isso é obtido pela secção quase total do quadrante ânterolateral da medula espinhal no lado oposto ao da dor, o que interrompe a via sensorial ântero-lateral. Porém, infelizmente, a cordotomia nem sempre é bem-sucedida no alivio da dor, por duas razões. Primeira, várias das fibras de dor na parte superior do corpo não cruzam a medula para o lado oposto antes de atingir o encéfalo, de forma que a cordotomia não secciona essas fibras. Segunda, a dor, freqüentemente, retorna alguns meses de- pois, causada, talvez, em parte, pela sensibilização de outras vias de dor e, em parte, pela estimulação pelo tecido fibroso das fibras remanes- centes. Essa nova dor, com muita freqüência, é ainda mais difícil de controlar que a dor original. Outro procedimento cirúrgico para aliviar a dor é a lesão dos núcleos intralaminares do tálamo, o que, por vezes, alivia a dor do tipo crônica, enquanto deixa intacta a capacidade de apreciação da dor "aguda", uni importante mecanismo protetor. A A'' lide, ed IkLA )1 ff: A F;,1-1 O grau de reação à dor de cada pessoa varia muito. Isso resulta, parcialmente, da capacidade do próprio encéfalo de controlar grau de entrada dos sinais de dor no sistema nervoso, pela ativação de um sistema de controle da dor, denominado sistema de analgesia. O sistema de analgesia é representado na Fig. 10.4. Consiste em três componentes principais (mais outros componentes aces- sórios): II) a área cinzenta periaquedutal do mesencéfalo e parte superior da ponte, que circundam o aqueduto de Sylvius; os neurônios dessa área enviam seus sinais para (2) o núcleo magno da rafe, um pequeno núcleo da linha média, localizado nas regiões inferior da ponte e superior do bulbo. Daí, os sinais são transmi- tidos pelas colunas dorsolaterais da medula para (3) um complexo inibitório da dor, localizado nos pontos dorsais da medula espi- nhal. Nesse ponto, os sinais da analgesia podem bloquear os sinais da dor antes que cheguem ao encéfalo. A estimulação elétrica na área cinzenta periaquedutal, ou no núcleo magno da rafe, pode causar supressão quase total de vários sinais dolorosos muito fortes, que chegam pelas raízes dorsais espinhais. Também, a estimulação de áreas em níveis cerebrais mais superiores — que, por sua vez, excitam a área cinzenta periaquedutal, e, principalmente, os núcleos pedventri- cubares do hipotálamo, de localização adjacente ao terceiro ventrí- culo e, em menor proporção, o feixe prosencefálico medial, tam- bém no hipotálamo — pode suprimir a dor, embora talvez não faça com a mesma eficácia. Fig. 10.4 O sistema de analgesia do encéfalo e da medula espinhal, mostrando inibição dos sinais de dor recebidos ao nível medular. Fibras nervos viscerais \ Fibras nervosas cutâneas Fig. 10.5 Mecanismo de dor referida e hiperalgesia referida. Vários transmissores diferentes estão envolvidos no sistema de analgesia, principalmente a encefalina e a serotonina. Várias fibras nervosas provenientes dos núcleos periventriculares e da área cinzenta periaquedutal secretam encefalina em suas termina- ções. Assim, corno mostrado na Fig. 10.4, as terminações de várias das fibras, no núcleo magno da rafe liberam encefalina. As fibras originadas nesse núcleo, mas que terminam nas pontas dorsais da medula espinhal, secretam serotonina em suas termina- ções. A serotonina, por sua vez, ainda atua sobre outro grupo de neurônios medulares locais, que parecem secretar encefalina. Acredita-se que a encefalina cause inibição pré-sintIptica das fi- bras aferentes de dor do tipo C e tipo AS, onde fazem sinapse nos pontos dorsais. Provavelmente, o faz bloqueando os canais de cálcio nas membranas das terminações nervosas. Como são os íons cálcio que piovocam a liberação de transmissor na sinapse, esse bloqueio do cálcio, obviamente, resultaria em inibição pré-si- náptica. Além disso, o bloqueio parece durar por períodos prolon- gados, porque, após a ativação do sistema de analgesia, essa analgesia, com muita freqüência, dura vários minutos ou até mesmo horas. Assim, o sistema de analgesia pode bloquear sinais de dor no ponto de entrada inicial na medula espinhal. Na verdade, também pode bloquear váriosreflexos medulares locais que resul- tam de sinais de dor, de modo especial os reflexos de retirada, que são descritos no Cap. 16. É provável que esse sistema de analgesia também possa inibir a transmissão da dor em outros pontos da via da dor, principalmente nos núcleos reticulares no tronco cerebral e nos núcleos intralaminares do tálamo. O sistema opiáceo cerebral — as endorfinas e eneefalinas Há mais de 20 anos, foi descoberto que a injeção de quantidades extremamente pequenas de morfina, no núcleo periventricular, ao redor do terceiro ventrículo do diencéfalo, ou na área cinzenta periaquedutal do tronco cerebral, causava grau extremo de anal- gesia. Estudos subseqüentes mostraram que a morfina atua ainda em vários outros pontos do sistema da analgesia, incluindo as pontas dorsais da medula espinhal. Como a maioria das substân- cias que alteram a excitabilidade dos neurônios o faz por ação sobre os receptores sinápticos, supôs-se que os "receptores de morfina" do sistema da analgesia deveriam ser na verdade receptores para algum neurotransmissor semelhante à morfina naturalmente secretado no encéfalo. Portanto, foi iniciada pes- quisa extensa para descobrir o opiáceo natural do cérebro. Já foi detectada cerca de 1 dúzia dessas substâncias opiáceas em diferentes pontos do sistema nervoso, mas todas são produtos do metabolismo de três grandes moléculas protéicas: pró-opiome- lanocortino, pró-encefalina e pró-dinorfina. Além disso, nume- rosas regiões do cérebro possuem receptores para opiáceos, prin- cipalmente as áreas no sistema da analgesia. Entre as substâncias opiáceas mais importantes estão a fi-endorfina, metencefalina, leu-encefalina e dinorfina. As duas encefalinas são encontradas nas partes do sistema da analgesia descritas acima, e a 13-endorfina está presente no hipotálamo e na hipófise. A dinorfina, embora só encontrada em quantidades pequenas no tecido nervoso, é importante porque é opiáceo muito potente, com efeito de cessação da dor 200 vezes maior que a morfina, quando injetada diretamente no siste- ma da analgesia. Assim, embora todos os detalhes hinos do sistema dos opiá- ceos encefálicos não estejam totalmente elucidados, a ativação do sistema da analgesia, por sinais nervosos que entram na área cinzenta periaquedutal, ou por substâncias semelhantes à mor- fina, pode suprimir, tola] ou quase totalmente. vários Sinais álgi- cos que entram pelos nervos periféricos. 861/111çÃO DA TRANS.11SSA0 DA DOR SENSORIAIS TA TE/S Outro marco importante do estudo para o controle da dor foi a descoberta de que a estimulação das grandes fibras sensoriais dos receptores táteis periféricos deprime a transmissão de sinais da dor, na mesma área do corpo ou, até mesmo, em áreas por vezes localizadas a vários segmentos de distância. Esse efeito resulta provavelmente de um tipo de inibição lateral local. Isso explica por que manobras simples, corno a fricção da pele perto de áreas doloridas, são, militas vezes, bastante eficazes no alivio da dor. E, com certa probabilidade, também explica por que ouso de linimentos ê útil no alívio da dor. Esse mecanismo e a excitação psicogênica simultânea do sistema de analgesia central também são prova- velmente a base do alívio da dor por acupuntura. TRATAMENTO DA Dl.jn POR ESTI114111/lrÃe,n Eil:TICICA Recentemente, foram desenvolvidos diversos procedimentos clínicos pa- ra suprimir a dor pela estimulação elétrica de grandes fibras nervosas sensoriais. Os eletródios de estimulação são colocados sobre áreas sele- cionadas da pele, 011, ocasionalmente, podem ser implantados sobre a medula espinhal, para estimular as colunas sensoriais doriais. Em alguns pacientes, os eletródios também foram colocados, este- reotaticamente, nos núcleos intralaminares do tálamo ou na área periven- tricular ou periaquedutal do diencéfalo. O paciente pode, então, contro- lar pessoalmente o grau dessa estimulação. Foi descrito alívio dramático em alguns casos. Também, o alivio da dor muitas vezes dura até 24 horas, após apenas alguns minutos de estimulação. DOR REFERIDA Freqüentemente, uma pessoa sente dor em parte de seu corpo bastante distante dos tecidos de origem da dor. Essa der é denomi- nada dor referida. Em geral, a dor é iniciada em um dos órgãos viscerais e referida a uma área da superfície corporal. Também, a dor pode ser referida a outra área profunda do corpo que não coincide, com exatidão, à localização da víscera que produz a dor. O conhecimento desses diferentes tipos de dor referida é extremamente importante no diagnóstico clínico, porque várias doenças viscerais não produzem outros sinais além da dor refe- rida. Mecanismo da dor referida. A Fig. 10:5 apresenta o meca- nismo mais provável para o surgimento da dor referida. Na figura, são mostrados ramos das fibras viscerais de dor fazendo sinapse Estômago Fígado e vesícula biliar Piloro Umbigo Apêndice e intestino delgado Rim direito Rim esquerdo Fig. 10.6 Áreas superficiais da dor referida de diferentes órgãos visce- rais. Esófago II , I I \ I I \, - t_,-- ,r "X II y 1 Colori Ureter , CC, (;,ais e «alogiaSe a' na medula espinhal, com alguns dos mesmos neurônios de segun- da ordem que recebem fibras de dor provenientes da pele. Quan- do as fibras viscerais de dor são estimuladas, os sinais de dor das vísceras são conduzidos por, no mínimo, alguns dos mesmos neurônios que conduzem os sinais da dor da pele, e a pessoa tem a sensação de que os sinais têm origem na própria pele. • DOR VISCERAL No diagnóstico clínico, a dor originada nas diferentes vísceras do abdome c tórax é uni dos poucos critérios que podem ser utilizados no diagnóstico de inflamação, doenças e outros tipos de lesões viscerais. Em geral, as vísceras não possuem receptores sensoriais para outras modalidades de sensação além da dor. Também a dor visceral difere da dor superficial em vários aspectos importantes. Uma das diferenças mais importantes entre a dor superficial e a dor visceral é que lesões viscerais muito localizadas só em raras ocasiões causam dor intensa. Por exemplo, um cirurgião pode seccionar inteira- mente o intestino dividindo-o em dois, com o paciente acordado, sem provocar dor significativa. Por outro lado, qualquer estímulo que cause estimulação difusa das terminações nervosas de dor de uma víscera produz dor que pode ser muito intensa. Por exemplo, a isquemia causada pela oclusão do suprimento sanguíneo para grande área do intestino estimula muitas fibras difusas de dor ao mesmo tempo, podendo resultar em dor intensa. CAUSAS DA VERDADEIRA DOR VISCERAL Qualquer estímulo que excite as terminações nervosas de dor em áreas difusas das vísceras causa dor visceral. Esses estímulos incluem isquemia do tecido visceral, lesão química das superfícies da víscera, espasmo do músculo liso em uma víscera oca, distensão de víscera oca, ou estira- mento dos ligamentos. Praticamente, toda dor visceral verdadeira originada nas cavidades torácica e abdominal é transmitida por fibras nervosas sensoriais que correm pelos nervos simpáticos. Essas fibras são fibras delgadas, tipo C, e, portanto, só podem transmitir a dor do tipo crônica-contínua de sofrimento. Isquemia. A isquemia causa dor visceral do mesmo modo preciso que nos outros tecidos, provavelmente devido à formação de produtos finais do metabolismo ácido, ou produtos da degeneração tecidual, como bradicinina, enzimas proteoliticas, ou outros, que estimulam as termina- ções nervosas de dor. Estímulos químicos. Ocasionalmente, as substâncias lesivas extra- vasam do tubo gastrintestinal para a cavidade peritoneal. Por exemplo, MICO gástrico ácido proteolitico, com freqüência, extravasa pela ruptura de úlcera gástrica ou duodenal Esse suco produz digestãodifusa do peritânio visceral, estimulando, assim, com muita intensidade, grandes áreas de fibras de dor. A dor é em geral muito intensa. Espasmo de víscera oca. O espasmo do intestino, vesícula biliar, vias biliares, ureter, ou de qualquer outra víscera oca, pode causar dor, possivelmente, por estimulação mecânica das terminações da dor. Ou sua causa poderia ser a redução do fluxo sanguíneo para o músculo, associada ao aumento da necessidade metabólica de nutrientes do múscu- lo. Assim, poderia haver desenvolvimento de isquemia relativa, que causa dor intensa. Freqüentemente, a dor de espasmo visceral ocorre na forma de cólicas, com a dor aumentando até grau elevado de intensidade e, depois, diminuindo, em processo rítmico, a intervalos de alguns minutos. Esses ciclos rítmicos resultam da contração rítmica do músculo liso. Por exem- plo, a cada vez que uma onda peristáltica percorre o intestino espástico hiperexcitado ocorre cólica. A dor do tipo eólica freqüentemente ocorre na gastrenterite, constipação, menstruação, parto, doença da vesícula biliar ou obstrução ureteral. Hiperdistensão dê víscera oca. O enchimento excessivo de uma vísce- ra oca também resulta em dor, provavelmente devido ao estiramento demasiado dos próprios tecidos. Entretanto, a hiperdistensão também pode causar colapso dos vasos sanguíneos que circundam a víscera, ou que passam por sua parede, assim, talvez, promovendo dor isquémi- Ca. Vísceras insensíveis Algumas áreas viscerais são quase completamente insensíveis à dor de qualquer tipo. Elas incluem o parênquima do fígado e os alvéolos pulmo- nares. Porém, a cápsula hepática é extremamente sensível ao trauma- tismo direto e ao estiramento, e os ductos biliares também são sensíveis à dor. Nos pulmões, embora os alvéolos sejam insensíveis, os brônquios e a pleura parietal são muito sensíveis à dor. DOU PARIETAL CAUSADA POR LESÃO VISCERAL Além da verdadeira dor visceral, as sensações de dor também são transmi- tidas, a partir das vísceras, por fibras nervosas não-viscerais, que inervam peritónio parietal, pleura ou pericárdio. Quando a doença afeta uma víscera, ela freqüentemente se difunde para a parede parietal da cavidade visceral. Essa parede, como a pele, é suprida por extensa inervação dos nervos espinhais, e não dos nervos simpáticos. Portanto, a dor proveniente da parede parietal sobrejacente â víscera muitas vezes é muito aguda. Para enfatizar a diferença entre essa dor e a verdadeira dor visceral: uma incisão, por corte, através do peritônio parietal é muito dolorosa, embora a dor produzida por corte semelhante no peritónio visceral ou no intestino, se houver, seja muito pequena. LOCALIZAÇÃO DA DOR VISCERAL — AS VIAS DE TRANSMISSÃO "VISCERAL" E "PARIETAL" Freqüentemente, é difícil localizar a dor das diferentes vísceras, por várias razões. Primeira, o encéfalo não tem conhecimento em primeira mão da existência dos diferentes órgãos, e, portanto, qualquer dor que tenha origem interna s6 pode ser localizada genericamente. Segunda, as sensações provenientes do abdome e do tórax são transmitidas por duas vias distintas para o sistema nervoso central —a via visceral verda- deira e a via parietal. A dor visceral verdadeira é transmitida por fibras sensoriais do sistema nervoso autonómico (simpático c parassimpático), e as sensações são referidas às áreas superficiais do corpo muitas vezes distantes do órgão onde a dor tem origem. Por outro lado, as sensações' parietais são conduzidas diretamente para os nervos espinhais locais a partir do peritênio parietal, pleura ou pericárdio, e as sensações em geral são localizadas com precisão sobre a área dolorosa. Localização da dor referida, transmitida pelas vias viscerais. Quando a dor visceral é referida à superfície do corpo, a pessoa geralmente a localiza no segmento do dermátomo de origem no embrião do órgão visceral. Por exemplo, o coração tem origem no pescoço e tórax superior, de forma que as fibras da dor visceral cardíaca entram na medula entre os segmentos C-3 e T-S. Portanto, corno mostrado na Fig. 10.6, a dor Coração - . HORDatE Por vezes, o ramo posterolateral da ai téria cerebral posterior — urna pequena artéria que irriga a porção poste ruventral de tálamo — é obstrui- do por trombose, de forma que ocorre degeneração dos núcleos dessa área do tálamo, enquanto os núcleos mediais e anteriores permanecem intactos. O paciente apresenta uma serre de anormalidades. Primeira, a perda de quase toda a sensibilidade do lado oposto do corpo é devida à destruição dos núcleos de retransinissão. Segunda, a ataxia (incapa- cidade de controlar os movimentos com precisão) pode ser evidente, devido à perda dos sinais de posição e et nestásicos transmitidos normal- mente, por meio do tálamo, para o córtex. Terceira, após período de algumas semanas a alguns meses, há retorno de alguma percepção senso- rial no lado oposto do corpo, mas, geralmente, são necessários fortes estímulos para produzi-la. Quando ocorrem essas sensações, elas tém localização imprecisa e, quase sempre, são muito dolorosas, algumas vezes lancinantes, independentemente do tipo de estimulo aplicado ao corpo.- Quarta, a pessoa é capaz de perceber várias sensações afetivas bastante desagradáveis ou, só raramente, muito prazerosas; as desagra- dáveis, freqüentemente, estão associadas a manifestações emocionais. Os núcleos mediais do tálamo não são destruidos por trombose dessa artéria. Portanto, acredita-se que esses núcleos sejam facilitados e causam aumento da sensibilidade à dor. transmitida pelo sistema reticu- lar, bem como as percepções afetivas. Dor visceral Dor parietal Fig. 10.7 Transmissão visceral e parietal da dor originada no apêndice. proveniente do coração é referida à face lateral do pescoço, sobre o ombro, sobre os músculos peitorais, em direção ao braço e na área subesternal do tórax. Na maioria das vezes, a dor se localiza no lado esquerdo, e não no direito — porque o lado esquerdo do coração é envolvido muito mais freqüentemente na doença coronariana que o lado direito. O estômago orgina-se, aproximadamente, entre o sétimo e o nono segmentos torácicos do embrião. Portanto, a dor gástrica é referida no epigástrio anterior, acima do umbigo, que é a área superficial do corpo inervada pelos segmentos T-7 a T-9. E a Fig. 10.6 mostra várias outras áreas superficiais, para onde é referida a dor visceral de outros órgãos, representando, em geral, as áreas no embrião de onde se originou o respectivo órgão. A via parietal para a transmissão da dor abdominal e torácica. A dor visceral está freqüentemente localizada em duas áreas superficiais do corpo ao mesmo tempo, devido à dupla transmissão da dor pela via visceral referida e a via parietal direta. Assim, a Fig. 10.7 apresenta a dupla transmissão de apêndice inflamado. Os impulsos saem do apên- dice pelas fibras da dor visceral simpática, para a cadeia simpática e, daí, para a medula espinhal, aproximadamente, ao nível de T-10 ou T-11; essa dor é referida à área ao redor do umbigo e é do tipo contínuo, em cólica. Por outro lado, os impulsos da dor também se originam com grande fremi4ncia no peritônio'parietal, onde o apêndice inflamado toca ou adere à parede abdominal. Eles causam dor, do tipo, agudo, diretamente sobre o peritónio irritado, no quadrante inferior direito do abdome. ALGUMAS ANORMALIDADES CLINICAS DA DOR E DE OUTRAS SENSAÇÕES SOMÁTICAS HIPERAILGESIA Ocasionalmente, a via da dor fica hiperexcitável; isso causa hiperalgesia, que significa hipersensibilidade à dor. As causas básicas de hiperalgesia são hipersensibilidade dos próprios receptores de dor, o que é denomi- nado hiperalgesia primária, e facilitação da transmissão sensorial,que é denominada hiperalgesia secundária. Um exemplo de hiperalgesia primária é a extrema sensibilidade cutânea causada pela queimadura de sol, que parece resultar da sensibi- lização das terminações da dor por produtos teciduais locais da queima- dura — talvez histamina, talvez prostaglandinas, talvez, outras. A hiper- algesia secundária resulta freqüentemente de lesões na medula espinhal ou no tálamo, várias delas discutidas nas seções subseqüentes. 41101PES ZOSTER (CORREMO) Por vezes, um vírus do herpes zoster infecta um gânglio da raiz dorsal. Isão causa dor intensa no segmento do dermátomo normalmente inervado pelo gânglio, produzindo, assim, dor segmentar que circunda a metade do corpo. A doença é denominada herpes zoster ou "cobreiro" devido à erupção descrita no próximo parágrafo. A causa da dor é provavelmente a excitação das células neuronais do gânglio da raiz dorsal pela infecção virótica. Além de causar dor, vírus também é transportado, ao longo do axoplasma dos axônios periféricos, até suas terminações cutâneos. O vírus provoca uma erupção que, em poucos dias, produz vesículas, que, após mais alguns dias, for- mam crostas. Todas essas manifestações ocorrem no dermátomo corres- pondente à raiz dorsal infectada. TIQUE DOLOROSO Algumas pessoas sentem dores lancinantes em um lado da face, na área de distribuição sensorial correspondente ao quinto ou nono nervo crania- no; esse fenômeno é denominado tique doloroso (ou neuralgia do trigê- meo ou neuralgia do glossofartngeo). As dores são percebidas como choques elétricos súbitos, e podem se manifestar durante poucos segun- dos, ou de forma quase contínua. Freqüentemente, são produzidos a partir de "áreas desencadeadoras", extremamente sensíveis, localizadas na superfície da face, na boca ou na garganta — quase sempre por estímulo mecânico, e não por estímulos dolorosos. Por exemplo, quando paciente engole o bolo alimentar, caso o alimento toque uma amígdala, isso pode desencadear dor lancinante na região mandibular do quinto nervo. A dor do tique doloroso pode ser geralmente bloqueada pela secção do nervo periférico da área hipersensível. O componente sensorial do quinto nervo é freqüentemente seccionado logo após sua entrada no crânio, onde as raízes motoras e sensoriais do quinto nervo podem ser separadas, de forma que os componentes motores, necessários para vários movimentos mandibulares, são preservados, enquanto os elementos sen- soriais são destruídos. Obviamente, essa operação anestesia o lado da face, o que, por si sã, pode ser desagradável. Além disso, algumas vezes é malsucedida, indicando que a lesão que causa a dor está no núcleo sensorial, no tronco cerebral, e não nos nervos periféricos. A SÍNDROME DE BROWN-SÉQUAIID Obviamente, se a medula espinhal for totalmente seccionada, toda a sensibilidade e as funções motoras distais aos segmentos da secção são bloqueadas, mas, se apenas metade da medula espinhal for seccionada em um lado, ocorre a denominada síndrome de Brown-Séquard. Os 122 rv e O Sistema Net Conicoesnínhal lateral Flubroespinhal Codlcoespinhal ventral 011voesalnhal TetoespInhal Vestibuloespinhal Feixes descendentes flra,': Á iOrinrcípios Gerais Fascículo 7grad Fascículo cunciforme Espinhocerebelar dorsal EspInhocerebelar ventral Espinhotalánaco lateral Espinhotectal Espinhotalánaco ventral Cefaléias do tronco cerebral e da calota corobelar Cefaleias cia caiota cerebrai Feixes ascendentes Fig. 10.8 Corte transversal da medula espinhal, mostrando os principais feixes ascendentes, à direita, e os principais feixes descendentes, à esquer- da. %lsiOloyirs Se FISOilaf Cefaleias do seio nasal e oculares Fig. 10.9 Áreas de cefaléias, resultantes de diferentes causas. efeitos dessa secção podem ser previstos a partir do conhecimento dos feixes de fibras nervosas da medula representados na Fig. 10.8. Todas as funções motoras são bloqueadas, no lado da secção, em todos os segmentos abaixo do nível da secção. Porém, apenas algumas das modali- dades de sensibilidade são perdidas no lado seccionado enquanto outras são perdidas no lado oposto. As sensações de dor, calor e frio são perdidas no lado oposto do corpo, em todos os dermátomos, dois a seis segmentos abaixo do nível da secção. As sensações transmitidas apenas pelas colunas dorsal e dorsolateral — sensibilidade cinestésica e de posição, sensibi- lidade vibratória, localização discreta e discriminação de dois pontos — são perdidas totalmente no lado da secção, em todos os dermátomos abaixo do nível da secção. O tato é comprometido no lado da secção porque a via principal para a transmissão do tato fino — as colunas dorsais — é seccionada, Porém, o "tato grosseiro", que é mal localizado, ainda persiste, devido à transmissão pelo feixe espinotalámico ventral oposto. CEFALÉIA As cefaléias são, na verdade, dores, referidas à superfície da cabeça, originadas nas estruturas profundas. Várias cefaléias resultam de estímu- los álgicos originados no interior do crânio mas outras resultam de dor originada fora do crânio, como dos seios nasais. 611 CEFALEIA DE ORIGEM INTRACRANIANA Áreas sensíveis à dor no interior da abóbada craniana. O cérebro, em si. é quase totalmente insensível à dor. Mesmo o corte ou a estimulação elétrica das áreas sensoriais somáticas do córtex só raras vezes causam dor; em vez disso, causam sensação de parestesia tátil na área do corpo representada pela porção do córtex sensorial estimulada. Portanto, é provável que a maioria das causas de dor do tipo da cefaléia não seja por lesão do próprio cérebro. Por outro lado, a distensão dos seios venosos, lesão do tentório, ou o estiramento da dura, na base do cérebro, também podem causar dor intensa, que é reconhecida com cefaléia. Também quase todos os estímulos traumáticos, de esmagamento ou de estiramento dos vasos sanguíneos da dura podem causar cefaléia. Uma estrutura muito sensível é a artéria meníngea média, e os neurocirurgiões são muito cuidadosos em anestesiar, especificamente, essa artéria durante a execução de acuro- cirurgia sob anestesia local. Áreas da cabeça para onde se irradia a cefaléia Intracraniana. A estimulação dos receptores de dor localizados na abóbada intracraniana acima do tentório, incluindo a superfície superior do próprio tentório, produz impulsos no quinto nervo e, portanto, causa cefaléia referida a metade frontal da cabeça, na área suprida pelo quinto nervo, como representado na Fig. 10.9. Por outro lado, os impulsos de dor originados abaixo do tentório entram no sistema nervoso central, ein sua maior parte, pelo segundo nervo cervical, que também inerva o couro cabeludo, atrás da orelha. Portanto, os estímulos dolorosos subtentoriais causam "cefaléia occipi- tal" referida à parte posterior da cabeça, como mostrado na Fig. 10.9. Tipos de cefaléia intracraniana. Cefaléia da meningite. Uma das cefaléias mais intensas é a resultante da meningite, que causa inflamação de todas as meninges, incluindo as áreas sensíveis da dura e as áreas sensíveis ao redor dos seios venosos. Essa lesão intensa pode causar cefaléia extrema, referida a toda a cabeça. Cefaléia causada por baixa pressão do líquido cefalorraquidlano. A remoção de apenas 20 rn1 de liquor do canal medular, principalmente se a pessoa permanece na posição ortostática, causa, muitas vezes, intensa cefaléia intracraniana. A remoção dessa quantidade de líquido elimina a flutuação do cérebro, que é normalmente proporcionada pelo líquido cefalorraquidiano. Portanto, o peso do cérebro distende e distorce as várias superfícies durais e, assim, produz a dor que causa a cefaléia. Cefaléia da enxaqueca. A cefaléia da enxaqueca é um tipo especial de cefaléia que parece resultarde fenômenos vasculares anormais, embo- ra seja desconhecido seu mecanismo exato. As cefaléias da enxaqueca, freqüentemente, se iniciam com várias sensações prodrômicas, como náuseas, perda da visão em parte do campo visual, aura visual, ou outros tipos de alucinações sensoriais. Comumente, os sintomas prodrômicos iniciam-se de 30 a 60 minutos antes do início da própria cefaléia. Portanto, qualquer teoria que explique a cefaléia da enxaqueca também deve explicar esses sintomas prodrômicos. Uma das teorias da causa das cefaléias da enxaqueca diz que a emoção ou tensão prolongada causa vasoespasmo reflexo de algumas das artérias da cabeça, incluindo as artérias que irrigam o próprio cérebro. --- O vasoespasmo, teoricamente, produz isquemia em diversas regiões do cérebro, e que seria a responsável pelos sintomas prodrômicos. Então, como conseqüência da isquemia intensa, acontece algo com a parede vascular, fazendo com que ela fique flácida e incapaz de manter o tônus vascular durante 24 a 48 horas. A pressão arterial nos vasos causa sua dilatação e pulsação intensas, e supõe-se que o estiramento excessivo das paredes das artérias — incluindo também algumas artérias extracra- nianas, como a artéria temporal — cause a verdadeira dor das cefaléias da enxaqueca: Entretanto, é possível que pós-efeitos difusos da isquemia, no próprio cérebro, sejam, ao menos parcialmente, responsáveis por esse tipo de cefaléia. Cefaléia alcoólica. Como várias pessoas ja experimentaram, é comum o surgimento de cefaléia após consumo excessivo de álcool. É mais provável que o álcool, sendo tóxico para os tecidos, irrite diretamente as meninges e cause dor intracraniana. Cefaléia causada por constipação. A constipação causa cefaléia em várias pessoas. Como foi demonstrado que a cefaléia da constipação pode ocorrei cai pessoas cuias tnedulas espinhais foram seccionadas, sabe-se que essa cefaléia não é causada por impulsos nervosos do cólon. Portanto, resulta possivelmente da absorção de produtos tóxicos ou de alterações do sistema circulatório, resultantes da perda de líquido para O intestino. Calor °oanani° ,stte I 540am10 I calo, tánram, Ele Fremir Receptores de calor 10 Receptores de frio Calor-dor /I \711 8 c 0 6 \ Frio-dor o .2 \ E Sonu-i' loa TIPOS EXTigACRANIA IVOS DE CEVA LÉM Cefaléia mediante de espasmo muscular. A tensão emocional usa mui- tas vezes o espasmo de vários músculos da cabeça, incluindo, nincipal- mente, os músculos fixados ao couro cabeludo e os músculos do ,iescoço, com pontos de inserção no occipital, e acredita-se que essa Ha uma das causas mais comuns de cefaléia. A dor do espasmo dos músculos da cabeça é supostamente referida às áreas sobrejacentes d., cabeça e produzo mesmo tipo de cefaléia que as lesões intracranianas Cefaleia causada por irritação das estruturas nasais e acessorias na- sais. As mucosas do nariz e, também, de todos os seios nasais são sensíveis à dor, mas não de forma intensa. Todavia, a infecção, ou outro. proces- sos irritativos, em áreas difusas das estruturas nasais causam L ni geral cefaléia que é referida para trás dos olhos ou, no caso de infecção do seio frontal, nas superfícies frontais da fronte e do couro cabeludo, como mostrado na Fig. 10.9. Também, a dor dos seios infei tores — como os seios maxilares — pode ser percebida na face. Cefaléia causada por distúrbios oculares. A dificuldade de 5°: conse- guir uma perfeita focalização ocular pode causar a contração excessiva dos músculos ciliares, na tentativa de obter visão nítida. Embc Ira esses músculos sejam extremamente pequenos, sua contração tônica pode ser a causa de cefaléia retroorbital. Também, as tentativas excessivas de focalização ocular podem resultar em espasmo reflexo de vários músculos faciais e extra-oculares, o que também é uma causa possível de cefaléia. Um segundo tipo de cefaléia originada nos olhos ocorre quando estes são expostos à irradiação excessiva poi raios luminosos, principal- mente à luz ultravioleta. O olhar direto para o sol, ou para a descarga de um arco voltaico, por apenas poucos segundos pode resultar em cefaléia com 24 a 48 horas de duração. A cefaléia, algumas vezes, resulta da irritação "actínica" das conjuntivas, e a dor é irradiada para a super- fície da cabeça, ou para a região retroorbital. Entretanto, a luz intensa de um arco voltaico ou do sol focalizada sobre a retina pode realmente queimar a retina, e isso poderia resultar em cefaléia. SENSAÇÕES TÉRMICAS RECEPTORES TÉRMICOS E SUA EXCITAÇÃO O homem pode perceber diferentes graduações de frio e calor, evoluindo do frio congelante para o frio, frescor, indiferente, mor- no, quente e queimante. As gradações térmicas são discriminadas por, no mínimo, três tipos diferentes de receptores sensoriais: os receptores de frio, os receptores de calor e os receptores de dor. Os receptores de dor s6 são estimulados por graus e extremos de calor ou frio e, portanto, são responsáveis, juntamente com os receptores de frio e de calor, pelas sensações de "frio congelante" e "calor queimante". Os receptores de frio e calor ficam idealizados imediatamente sob a pele, em pontos distintos mas separados, cada um tendo diâmetro estimulatório de aproximadamente 1 nun. Na maioria das áreas do corpo, existem 3 a 10 vezes mais receptores de frio que receptores de calor, e o número, em diferentes áreas do corpo, varia de 15 a 25 pontos de frio/em' nos lábios, a 3 a 5 pontos de frio/em' no dedo, a menos de 1 ponto de frio/c& em algumas áreas superficiais do tronco. Existem números corres- pondentemente menores de pontos de calor. Embora testes psicológicos indiquem, quase com certeza, que há terminações nervosas distintas de calor, elas ainda não foram identificadas histologicamente. Supõe-se que sejam termi- nações nervosas livres, porque os sinais de calor são transmitidos, principalmente, por fibras nervosas do tipo C, com velocidade de transmissão de apenas 0,4 a 2 mis. Por outro lado, foi identificado um receptor de frio bem definido. É uma pequena e especializada terminação nervosa mielinizante, tipo AS, que se ramifica nas superfícies inferiores das células epidérmicas basais. Os sinais são transmitidos a partir desses receptores, por meio de fibras nervosas deita, com dade de até cerca de 20 m/s. Entretanto, algumas sensações de frio também são transmitidas por fibras nervosas do tipo C, o que sugere que algumas terminações nervosas livres também po- deriam funcionar conto receptores de frio. Estimulação dos receptores térmicos — sensações de frio, frescor, indiferente, morno e quente. A Fig. 10.10 apresenta os efeitos de diferentes temperaturas sobre as respostas de quatro fibras nervosas distintas: (1) uma fibra de dor, estimulada peto frio; (2) uma fibra de frio; (3) uma fibra de calor; e (4) uma fibra de dor, estimulada pelo calor. Observe-se, principalmente, que essas fibras respondem de forma diversa a diferentes níveis de temperatura. Por exemplo, na região muito fria, apenas as fibras de dor são estimuladas (se a pele ficar ainda mais fria, tendendo a congelar ou congelando, nem mesmo essas fibras são estimuladas). Quando a temperatura se eleva para 10° a 15°C, os impulsos de dor cessam, mas os receptores de frio começam a ser estimulados. Então, acima de cerca de 30°C, os receptores de calor são estimulados, e os receptores de frio param de respon- der a temperaturas de aproximadamente 43°C. Finalmente, por volta de 45°C, as fibras de dor começam a ser estimuladas pelo calor. Portanto, pelos dados da Fig. 10.10 pode-se compreender que a pessoa determina as diferentes gradações de sensações térmicas, pelos graus relativos de estimulação dos diferentes tipos de terminações. Podem-se compreender, também, a partir dessa figura, omotivo pelo qual graus extremos de frio ou calor podem ser dolorosos e porque essas duas sensações, quando suficien- temente intensas, podem produzir, de modo quase exato, a mes- ma qualidade de sensação — isto é, sensação de frio congelante e calor queimante parecem semelhantes; ambas são muito dolo- rosas. Efeitos estimulatórios da elevação e redução da temperatura — adaptação de receptores térmicos. Quando um receptor de frio é subitamente submetido a redução abrupta da temperatura, ele é muito estimulado de início, mas essa estimulação diminui de forma bem rápida durante os primeiros segundos e, de modo progressivo, de forma mais lenta durante os próximos 30 minutos ou mais. Em outras palavras, o receptor "se adapta" em propor- ção muito grande, mas não parece se adaptar 100%. Assim, é evidente que as sensações térmicas respondem sig- nificativamente a alterações da temperatura, além de serem capa- zes de responder a estados constantes de temperatura. Portanto, isso significa que, quando a temperatura da pele está diminuída ativamente, a pessoa sente muito mais frio que quando a tempe- ratura permanece no mesmo nível. De modo inverso, se a tempe- 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 Temperatura (°C) Fig. 10.10 Frequencias de descarga de uma fibra de frio-dor, uma fibra de frio, uma fibra de calor, e uma fibra de calor-dor. (As respostas dessas fibras foram extraídas de dados coletados, em experiências distin- tas, por Zotterman, Hensel, e Kenshalo). Princípios Gerais Flsioiojzia Seasoria ratura estiver subindo ativamente, a pessoa sente muito mais calor do que sentiria à mesma temperatura, se ela fosse constante. A resposta a alterações da temperatura explica o grau extre- mo de calor que um indivíduo sente ao entrar pela primeira vez em uma banheira de água quente, e o grau externo de frio sentido ao sair da sala aquecida para o ambiente extremo em dia frio. Mecanismos de estimulação dos receptores térmicos Acredita-se que os receptores de frio e de calor sejam estimulados por alterações de seu metabolismo, alterações que resultam do fato de que a temperatura modifica a velocidade das reações químicas intracelulares, por mais de duas vezes para cada altera- ção de 10°C. Em outras palavras, a detecção térmica provavel- mente resulta não de efeitos físicos diretos do calor ou do frio sobre as terminações nervosas, mas da estimulação química das terminações pela ação da temperatura. %mação espacial das sensações térmicas. Como o número de terminações de frio ou de calor, em qualquer área da superfície do corpo, é muito pequeno, é difícil julgar as gradações da tempe- ratura quando pequenas áreas são estimuladas. Entretanto, a estimulação de grandes áreas do corpo causa a somação dos sinais térmicos de toda a área. Por exemplo, alterações rápidas da temperatura de apenas 0,01°C podem ser detectadas, se essa alteração afeta toda a superfície do corpo a um só tempo. Por outro lado, alterações da temperatura 100 vezes maiores que essa poderiam não ser detectadas quando a superfície cutânea afetada tem área de aproximadamente 1 cm2. IRANSMISSÃO DOS SINAIS TERMIG us NU SISTEMA NERVOSO Em geral, os sinais térmicos são transmitidos por vias quase paralelas às dos sinais de dor, mas não as mesmas. Ao entrar na medula espinhal, os sinais percorrem alguns segmentos, para cima ou para baixo, no feixe de-Lissauer e, então, terminam nas lâminas I, II e III das pontas dorsais — as mesmas onde terminam as fibras de dor. Após pequeno processamento, por um ou mais neurônios medulares, os sinais penetram em longas fibras térmicas ascendentes que cruzam para o feixe sensorial ântero-lateral oposto e terminam (1) nas áreas reticulares do tronco cerebral e (2) no complexo ventrobasal do tálamo. Alguns sinais térmicos também são enviados do complexo ventrobasal para o córtex sensorial somático. Por vezes foi constatado, por estudos com microeletródios, que um neurônio na área sensorial somática I pode ser diretamente reativo a estímulos de frio ou calor em áreas específicas da pele. Além disso sabe-se que a remoção do giro pós-central no ser humano reduz-lhe a capaci- dade de distinguir as gradações de temperatura. REFERÊNCIAS Ver referenc,as no Cap. 9. 00000001 00000002 00000003 00000004 00000005 00000006 00000007 00000008 00000009 00000010
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