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Crimes contra a Ordem Tributári 1

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Crimes contra a Ordem Tributária. Lei nº (8.137/90). Aspectos gerais
O objetivo desse tópico é a análise dos aspectos e regras gerais relacionadas aos crimes contra a ordem tributária.
NESTE TÓPICO
 INTRODUÇÃO
 BEM JURÍDICO PENAL TUTELADO
 SUJEITOS DOS DELITOS
 NECESSIDADE DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO
 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES TRIBUTÁRIOS
 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
 COMPETÊNCIA JURISDICIONAL
 Referências
NESTE TÓPICO
 INTRODUÇÃO
 BEM JURÍDICO PENAL TUTELADO
 SUJEITOS DOS DELITOS
 NECESSIDADE DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO
 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES TRIBUTÁRIOS
 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
 COMPETÊNCIA JURISDICIONAL
 Referências
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AUTOR(A)
PROF. HANS ROBERT DALBELLO BRAGA
   
 
INTRODUÇÃO
 
O artigo 145 da Constituição Federal estabelece que a UNIÃO, os ESTADOS, o DISTRITO FEDERAL e os MUNICÍPIOS poderão instituir os seguintes tributos: IMPOSTOS; TAXAS e CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA que são o objeto material dos delitos. É importante salientar que o conceito geral de tributo é encontrado no artigo 3.º da Lei n.º 5.172, DE 25 DE OUTUBRO DE 1966, o Código Tributário Nacional (CTN).
O Estado brasileiro precisa manter serviços, promover o bem-estar social e cumprir, sobretudo, os objetivos fundamentais previstos no artigo 3.º do Texto Constitucional. Assim sendo, para realizar esses objetivos é imprescindível que o Estado cobre tributos. Portanto, o Estado necessidade, em sua atividade financeira, captar recursos para a manutenção de sua estrutura, disponibilizando ao cidadão-contribuinte os serviços que lhe compete.
Existe clara relação interdisciplinar entre o DIREITO PENAL e o DIREITO TRIBUTÁRIO, haja vista que o segundo marcado pela COMPULSORIEDADE na tributação dá margem à aplicação de sanções, em caso de inadimplemento obrigacional ou de infração tributária.
Atualmente a Lei n.º 8.137/90, trata e regulamenta a tipificação e punição dos CRIMES CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA. É importante salientar que, atualmente, o Direito Penal tem sido utilizado para realização de cobrança tributária, o que não se coaduna com os princípios da INTERVENÇÃO MÍNIMA e SUBSIDIARIEDADE.
 
BEM JURÍDICO PENAL TUTELADO
 
O bem jurídico penalmente protegido nos crimes contra a ordem tributária, previstos na Lei n.º 8.137/90, é a ORDEM TRIBUTÁRIA, entendida como o interesse do Estado na realização de arrecação dos tributos, para concretizar seus objetivos. 
Ademais, conforme entendimento doutrinário predominante tutela-se, também, a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, a FÉ PÚBLICA, o TRABALHO e a LIVRE-CONCORRÊNCIA.
 
SUJEITOS DOS DELITOS
 
É importante ressaltar que, no geral, os crimes contra a ordem tributária são CRIMES COMUNS, tendo em vista que não é necessariamente exigida a qualidade de contribuinte ou responsável tributário. Assim, o artigo 121 do Código Tributário Nacional não tem aplicação no âmbito do Direito Penal Tributário.
No entanto, existem crimes praticados apenas por funcionário público contra a ordem tributária (vide artigo 3.º da Lei n.º 8.137/90) e neste caso são considerados CRIMES PRÓPRIOS.
É imporante salientar que a pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo de crimes contra a ordem tributária, uma vez que, mesmo  com a disposição do artigo 173 §5.º da CF, apenas nos casos de crimes contra o meio ambiente há legislação regulamentando a matéria.
Ademais, questão importante no âmbito do Direito Penal Tributário é referente à RESPONSABILIDADE PENAL SUBJETIVA. No âmbito dos crimes contra a ordem tributária a responsabilidade penal é sempre subjetiva, de modo que, em caso de delito praticado dentro de uma empresa, responderá pelo crime aquele que possuia efetivamente o poder de gestão. Sendo assim, não basta constar, por exemplo, na condição de sócio ou administrador no contrato social, pois é imprescindível a demonstração de que o agente efetivamente praticou a conduta delituosa dolosamente. Portanto, podem ser autores ou partícipes dos crimes contra a ordem tributária: ADMINISTRADOR, que pode ser o sócio administrador, DIRETOR, ADMINISTRADOR POR PROCURAÇÃO DE UM DOS SÓCIOS. Ademais, podem ser considerados, partícipes do crime contra o ordem tributária o EMPREGADO, CONTADOR, ADVOGADO, desde que evidenciada a sua ciência sobre as fraudes nas condutas.
No geral, em situações excepcionais que envolvem concurso de pessoas e de delitos, principalmente nos denominados crimes econômicos, no caso crimes contra a ordem tributária, tem a doutrina majoritária, bem como a jurisprudência atual admitido a denominada DENÚCIA GENÉRICA. Assim, tem prevalecido o entendimento de que em situações excepcionais, diante da gravidade e complexidade da situação factual , deve-se admitir a denominada denúncia genérica que não individualiza a conduta de cada sujeito denunciado, desde que não inviabilize totalmente o direito a ampla defesa.
O sujeito passivo dos crimes contra a ordem tributária é o Estado.
 
NECESSIDADE DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO
 
Atualmente está pacificado o entendimento e que é necessário o denominado LANÇAMENTO DEFINITIVO do TRIBUTO para a caracterização de tipicidade material e, portanto, para o oferecimento da denúncia nos crimes contra ordem tributária, previstos no artigo 1.º, incisos I a IV da Lei n.º 8.137/90.
Nesse sentido é o texto da Súmula Vinculante n.º 24 do E. Supremo Tribunal Federal: "NÃO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, PREVISTO NO ARTIGO. 1.º, INCISOS I A IV DA LEI N.º 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO".
O conceito de LANÇAMENTO está previsto no artigo 142 do Código Tributário Nacional, segundo o qual o lançamento é o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e propor, sendo o caso, a aplicação de penalidade cabível.
 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES TRIBUTÁRIOS
 
O princípio da insignificância ou da bagatela tem origem na obra de CLAUS ROXIN, decorrente dos princípios da MÍNIMA INTERVENÇÃO DO DIREITO PENAL, bem como da SUBSIDIARIEDADE. Segundo tal princípio as condutas causadoras de danos ou perigos ínfimos ou irrelevantes aos bens jurídicos são consideradas materialmente atípicas.
Sobre a atual sistemática de aplicação do princípio da insignificância no âmbito do Direito Penal pela jurisprudência, é importante conhecer os VETORES DE APLICAÇÃO: A ausência de periculosidade socia da ação; O reduzido grau de reprovabilidade do comportamento formalmente típico; A mínima ofensividade da conduta; e A inexpressividade da lesão jurídico ao bem tutelado. Esses vetores foram sedimentados no julgamento do HABEAS CORPUS N.º 84.412-0/2004, da Relatoria do Ministro Celso de Mello do STF.
Atualmente é pacifico o entendimento de que é possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes contra a ordem tributária, crimes previdenciários, bem como ao crime de descaminho. A primeira vez que o E. Superior Tribunal de Justiça entendeu pela aplicação do princípio em análise foi no julgamento do RECURSO ESPECIAL N.º 1.171.199/RS, da Relatoria do Ministro Gilson Dipp. No julgamento do mencionado recurso o STJ entendeu que o valor considerado para considerar o fato insignificante, a priori, foi de R$ 10.000,00 (dez mil) reais, haja vista o disposto no artigo 20 da Lei n.º 10.522/2002. 
Isso ocorreu, pois a administração tributária passou a editar normas no sentido de que determinado valor não seria inscrito em dívida ativa ou não seria executado. Assim, tendo em vista os princípios do direito penal, concluiu-se, então, que se a Fazenda não tem interesse em executar civilmente em razão do valor, tampouco se justifica a aplicação do direito penal.
No entanto, atualmente, a jurisprudência francamente majoritária reconhece o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil) reais para a aplicação do princípio da insignificância, haja vista o disposto no artigo 1.º da PORTARIA N.º 75/2012 do Ministério da Fazenda, queelevou o valor para esse patamar atual.
 
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
 
Nos crimes contra a ordem tributária, o grande interesse do Estado em ARRECADAR TRIBUTOS levou o legislador pátrio a utilizar o Direito Penal como ameaça para a cobrança de tributos.
Assim, o pagamento integral do crédito tributário conduzirá à extinção da punibilidade. Ademais, o parcelamento do crédito tributário (REFIS) gera a suspensão do processo e do curso do prazo prescricional, e ao final, com o pagamento integral a extinção da punibilidade. 
É importante salientar que na história recente, regra referente à extinção da punibilidade pelo pagamento do crédito tributário são e foram encontradas no artigo 14 da Lei n.º 8.137/90, revogado pela Lei n.º 8.383/91. A possibilidade da extinção veio, também, posteriormente, com o artigo 34 da Lei n.º 3.249/95. Posteriormente, vieram as regras do artigo 15 da lei n.º 9.964/00 (REFIS); do artigo 9.º da Lei n.º 10.684/03 (REFIS II); dos arts. 68 e 69 da Lei n.º 11.941/09 (REFIS IV) e do artigo 6.º da Lei n.º 12.383/11.
Na atualidade a matéria obedece as regras previstas nos artigos 698 da Lei n.º 11.941/09 e artigo 6.º da Lei n.º 12.382/11, segundo as quais o pagamento integral, inclusive o principal, multa e juros, a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado da condenação e início da execução crimina, gera a extinção da punibilidade para os crimes contra a ordem tributária, (vide artigos 1.º e 2.º da Lei n.º 8.137/90), bem como para os crimes contra a ordem tributária previdenciária (vide artigos 168-A e 337-A, ambos do CP).
Ademais, o parcelamento, até o recebimento da denúncia, determina a suspensão da punibilidade e, em consequência, de eventual processo criminal, enquanto o acusado ou empresa se mantiverem adimplentes com o parcelamento.
 
COMPETÊNCIA JURISDICIONAL
 
Os crimes contra a ordem tributária, envolvendo a atividade de arrecadação de tributos da UNIÃO, dos Entes Federativos, dos Municípios e de determinadas AUTARQUIAS, devem ser julgados pela JUSTIÇA FEDERAL ou ESTADUAL, conforme o ente que é beneficiário do tributo objeto da conduta típica.
Assim, é importante trazer os seguintes exemplos práticos: A sonegação fiscal de imposto de renda será julgada pela justiça federal, haja vista que envolve interesse de arrecadação da UNIÃO.
Entretanto, a sonegação de ICMS será analisada judicialmente pela justiça estadual, pois o interesse é do Ente Federativo. E por fim, a sonegação de IPTU, de interesse do município cabe à justiça estadual.

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