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TRABALHO DE TEORIA DO CRIME “TEORIA GERAL DO CRIME” Curso: Direito Professora: Eulina Maia Rodrigues Turma: 02NNB Alunos: André Luiz Nascimento Martins, Carlos Alberto de Carvalho Vaz Pereira Junior, Elbia Barbosa Carvalho, Lorena Kalif, Marcelo Fayal, Vander Brabo Fiel, Kelly Cristina Brabo Fiel. SUMÁRIO 1 INFRAÇÃO PENAL, CRIME, DELITO E CONTRAVENÇÃO PENAL 2 DIFERENÇAS ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL 3 SUJEITOS (ATIVO E PASSIVO) DO CRIME 4 OBJETOS (MATERIAL E JURIDICO) DO CRIME MATERIAL 5 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DE CRIMES 5.1 Crime material, formal e de mera conduta 5.2 Crime comum, próprio e de mão própria 5.3 Crime doloso, culposo e preterdoloso 5.4 Crime instantâneo, permanente e instantâneo de efeitos permanentes 5.5 Crime consumado e tentado 5.6 Crime de dano e perigo 5.7 Crime simples, complexo, qualificado e privilegiado 5.8 Crime plurissubjetivo e unissubjetivo 5.9 Crime comissivo e omissivo 5.10 Crime unissubsistente e plurissubsistente 5.11 Crime habitual 6. REFERÊNCIAS 1. INFRAÇÃO PENAL, CRIME, DELITO E CONTRAVENÇÃO PENA A expressão “infração penal” é utilizada, segunda a classificação da lei, para abranger o crime e a contravenção: STJ. Competência. Crime praticado por Prefeito. Falsificação de moedas e documentos de expedição federal. Competência da Justiça Federal. Súmula 122-STJ. Precedentes do STJ. CF/88, art. 109, IV. STF-122 ”Competência dos egrégios Tribunais Regionais Federais para processar e julgar Prefeitos Municipais por infrações praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da União.” Crime, “principio da legalidade”, previsto no (art. 5°, XXXIX, CF), o princípio da legalidade vem estampado no (art. 1°, CP), que diz: (art. 1° Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Através desse princípio ("nullum crimen, nulla poena sine lege ")), ninguém pode ser punido se não existir uma lei que considere o fato praticado como crime. Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. Um delito é uma ação ou omissão voluntária ou imprudente castigada e penalizada pela lei. Como tal, o delito corresponde a uma violação das normas e acarreta uma infração (um castigo) para o responsável (o autor). Fora as leis propriamente ditas, conhece-se como delito (ou crime, aliás sinónimo) qualquer ação reprovável do ponto de vista ético ou moral. Por exemplo: “Gastar tanto dinheiro num mero par de sapatos é um autêntico delito!”. É possível distinguir entre o delito civil, que é o ato que se comete com a intenção de prejudicar e/ou lesar os outros, e o delito penal, que está previsto na lei penal e que é sancionado. Existe uma classificação bastante ampla dos distintos tipos de delito. Um delito doloso é aquele que é cometido de forma consciente e deliberada, isto é, é o caso sempre que o autor tenha tido a intenção de fazer aquilo que fez. Neste sentido, contrapõe-se ao delito culposo, onde o erro resulta do fato de não ter sido cumprido/respeitado o dever de zelo e atenção. Um assassinato é um delito doloso; em contrapartida, um acidente do qual resulte a morte de uma pessoa é um delito culposo. Contravenção penal, de acordo com o (art. 1º, lei de introdução ao código penal e da lei das contravenções penais), contravenção é “a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente.”. Assim, conforme acima delineado, não existe uma diferença ontológica entre crime e contravenção penal, ocorrendo a sua diferenciação apenas nas penas cominadas, que no caso da contravenção consiste em prisão simples ou multa; e, quando se tratar de crime, as penas serão de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. 2. DIFERENÇAS ENTRE CRIMES E CONTRAVENÇÕES PENAIS Tipo de pena privativa de liberdade aplicada: Crime admite reclusão ou detenção. Já a contravenção penal só admite prisão simples (art. 5º e 6º, LCP) e multa (que não é pena privativa de liberdade). Registre-se que prisão simples jamais é cumprida no regime fechado (é semi-aberto ou aberto), nem mesmo por intermédio da regressão. 3. SUJEITOS (ATIVO E PASSIVO) DO CRIME O sujeito ativo é a pessoa definida na norma como possível autora do ilícito penal e que é, via de regra, pessoa física. “Sujeito ativo, autor, ou agente, é todo aquele que realiza a ação ou omissão típica, nos delitos dolosos ou culposos. Ou seja, é aquele cuja atividade é subsumível ao tipo legal incriminador”, define Prado (2014, p.258), “O conceito abrange não só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata, subtrai etc.), como também o partícipe, que colabora de alguma forma na conduta típica, sem, contudo, executar atos de conotação típica, mas que de alguma forma, subjetiva ou objetivamente, contribui para a ação criminosa”, complementa Capez, (2011, p.167). Conforme a posição no processo, ensina Capez (2011, p.168), o sujeito ativo pode ser chamado de agente (art. 14, II, CP), indiciado (art. 5º, 1º, b, CPP), acusado (art. 185, CPP), denunciado, querelado (art. 51, CPP), réu (art. 34, CP; art. 188, CPP), sentenciado, condenado (art. 34, CP), recluso, ou detento. Quando estudado pelas ciências criminais, é criminoso ou delinquente. O sujeito passivo do crime – o ofendido, ou vítima – é “titular do bem jurídico tutelado pela norma penal, que vem a ser ofendido pelo crime”, ensina Júnior (2010, p.115). O Estado é o sujeito passivo constante de todo o crime pelo fato de a lei penal situar-se no ramo predominantemente público, enquanto a pessoa que teve o bem diretamente atingido pelo crime é o sujeito passivo variável. Também não se pode confundir sujeito passivo do crime com sujeito passivo da ação, visto que sujeito passivo da ação é aquele sobre o qual recai materialmente a ação ou omissão criminosa. “Também não se confunde o sujeito passivo com aquele que suporta o dano. No homicídio, sujeito passivo é o morto; sofrem o dano os familiares. Assume relevo o sujeito passivo sob diversas angulações, inclusive qualificando o interesse jurídico tutelado, como no crime de desacato, que constitui hipótese particular de injúria caracterizada pelo fato de que o ofendido é um funcionário público (art. 331, CP).” Sujeito passivo constante (geral, genérico, formal, mediato, ou indireto) é o Estado, titular do “jus puniendi”. Sujeito passivo variável (particular, material, acidental, eventual ou direto) é a pessoa física (crimes contra a pessoa, por exemplo) ou jurídica (crimes contra o patrimônio, por exemplo) vítima da lesão ou ameaça de lesão. O sujeito passivo também pode ser indeterminado (coletividade – crimes contra a saúde pública - e família, por exemplo). Podem ser sujeitos passivos o nascituro, o incapaz e o Estado (crimes contra a administração pública, por exemplo). Não podem ser sujeitos passivos, no âmbito criminal, o animal, a planta e o ser inanimado. Explica melhor Prado (2014, p.258 e 259), “Podem figurar como sujeitos passivos – vítimas, ofendidos -, a pessoa física ou o indivíduo, mesmo incapaz, o conjunto de indivíduos, a pessoa jurídica, a coletividade, o Estadoou a comunidade internacional, de acordo com a natureza do delito. Tem crescido de importância, no campo político-criminal, o papel da vítima na realização do delito. Nesse particular aspecto, encaminha-se para uma constante busca do ponto de equilíbrio entre liberdade individual e defesa social.” Pode se acrescentar sobre o tema acima a jurisprudência: ESTELIONATO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO DO DELITO QUE OSTENTAM A CONDIÇÃO DE MILITAR. FATOS OCORRIDOS DENTRO DE UNIDADE SUJEITA À ADMINISTRAÇÃO MILITAR. ORDEM DENEGADA. 1. A orientação do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a condição de militar da vítima e do agressor não é suficiente para atrair a competência da Justiça Militar. Precedentes. 2. No caso, contudo, a subtração dos cartões magnéticos e um dos saques bancários ocorreram dentro de unidade sujeita à administração militar, em momento no qual o paciente e as vítimas estavam em serviço militar, não sendo possível afastar a competência da Justiça especializada. 3. Ordem denegada. - A C Ó R D à O - A Turma indeferiu a ordem de habeas corpus, nos termos do voto do relator. Unânime. Não participou, justificadamente, deste julgamento, o Senhor Ministro Luiz Fux. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Dias Toffoli. Presidência do Senhor Ministro Marco Aurélio. Primeira Turma, 20.5.2014. 4. OBJETOS (MATERIAL E JURÍDICO) DO CRIME Objeto material é o bem ou o interesse protegido pela norma penal, usado para classificar os crimes. “É a vida, no homicídio; a integridade corporal, nas lesões corporais; o patrimônio, no furto; a honra, na injúria; a dignidade e a liberdade sexual da mulher, no estupro; a administração pública, no peculato, etc.”, ensina Capez, (2011, pg.176). Prado (2014, pg.262), prefere denominar bem jurídico: “De outro lado, o bem jurídico vem a ser um ente (dado ou valor social) material ou imaterial haurido do contexto social, de titularidade individual ou metaindividual reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento do homem e, por isso, jurídico-penalmente protegido. E, segundo a concepção aqui acolhida, deve estar sempre em compasso com o quadro axiológico (Wertbild) vazado na constituição e com o princípio do Estado democrático e social de direito.” Assim, a lesão a bem jurídico ocorre quando existe uma relação de causalidade entre a ação típica e o valor protegido pela norma penal. Esse valor protegido pela norma penal pode, ou não, encarnar-se no objeto da ação. Objeto jurídico genérico é o bem protegido no título da lei penal. Objeto jurídico específico é o bem jurídico especificado em cada capítulo. Por sua vez, o objeto jurídico individual tem como titular o indivíduo. Já a titularidade do objeto jurídico transindividual é o grupo ou a coletividade. O objeto juridico é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a ação criminosa. Segundo, Padro (2014, pg.263), “objeto da ação vem a ser o elemento típico sobre o qual incide o comportamento punível do sujeito ativo da infração penal.” “Trata-se do objeto real (da experiência) atingido diretamente pelo atuar do agente. É a concreta realidade empírica a que se refere a conduta típica. Essa realidade passível de apreensão sensorial pode ser corpórea (v.g., pessoa ou coisa) ou incorpórea (v. g., honra). Em outros termos, o objeto material ou da ação é formado pelo ser animado ou inanimado pessoa ou coisa (animal)”, sobre o qual se realiza o movimento corporal do autor que pratica uma conduta típica no círculo dos delitos a cuja descrição pertence um resultado tangível. Tem sido afirmado, com acerto, que, enquanto o conceito de objeto da ação pertence substancialmente à consideração naturalista da realidade, o de bem jurídico, ao contrário, corresponde, em essência, à consideração valorativa sintética”. Objeto material é diferente de instrumento do crime (meio usado para o crime) e de corpo de delito (vestígios deixados pelo crime). Em alguns casos, o objeto material pode coincidir com o sujeito passivo do crime (homicídio, por exemplo). Segue jurisprudência que trata dos conceitos acima: APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. PRETENSÃO DE CONDENAÇÃO DO RÉU PELO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL. IMPROVIMENTO. OBJETO MATERIAL E JURÍDICO NÃO VIOLADO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ABSOLVIÇÃO QUE DEVE SER MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1 – Para a consumação do tipo descrito no artigo 217-A, do Código Penal Brasileiro, por tratar- se de crime material, exige-se um resultado naturalístico, consistente no efetivo tolhimento da liberdade sexual da vítima, o que no caso concreto, efetivamente, não ocorreu. 2 – Conforme as palavras da ofendida, nas duas oportunidades em que foi ouvida, declarações essas corroboradas pelas demais provas colhidas no curso da instrução criminal, a relação mantida com o acusado, limitada a um único beijo, tipo "selinho", foi por ela consentida, não havendo notícia de que tenha a menor sofrido qualquer constrangimento físico ou psíquico, ou que tenha sido alvo da prática de qualquer ato libidinoso que tenha atentado contra o seu pudor, ou passível de gerar prazer sexual no acusado. 3 – Recurso conhecido e impróvido. - A C Ó R D à O - Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de ação penal em que se interpõe apelação, ACORDAM os Desembargadores integrantes da Turma Julgadora da 2a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por votação unânime, conhecer do apelo, para improvê-lo, tudo em conformidade com o voto do Relator. Fortaleza, CE, 15 de setembro de 2015. 5. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DE CRIMES 5.1 - Crime material, formal e de mera conduta Os estudiosos da teoria do crime, no seu esforço para melhor classifica-lo acharam por bem dividi-los em materiais, formais e de mera conduta conforme no caso concreto a conduta do autor se relacione com resultado naturalístico produzido. Assim, com pequenas diferenças de doutrinador para doutrinador prevalece a ideia de que os crimes materiais é no resultado naturalístico que ocorre a consumação, por tanto sendo este condição “ sine qua non” de sua existência. Por tanto, nesse tipo de crime não sendo produzido o resultado esperado, não há que se falar em crime consumado e sim crime tentado. No que se refere ao aspecto conceitual ainda que com pequenas diferenças tanto Masson (2011, pg. 189), quanto Cunha (2016, pg. 164) convergem no pensamento no sentido que há nos crimes materiais uma nítida divisão entre conduta e resultado e que há uma sequência cronológica determinante para o quantum de pena deve sofrer o autor. Por exemplo, no crime previsto no (art. 121, CP), se da conduta do agente resulta em morte a pena será de 6 a 20 anos de reclusão, se todavia, o resultado morte não se produz, responderá o agente na forma prevista no parágrafo único do (art. 14, CP), sendo a pena reduzida de um a dois terços do crime consumado. No que concerne aos crimes formais, ou de mera conduta existe uma conduta e um resultado naturalístico, entretanto, não há um dialogo entre eles a determinando a dose da pena. Assim sendo, não há a necessidade de aguardar o resultado naturalístico para dosimetria da pena. Por tanto tendo a conduta do agente subsumindo-se ao tipo legal desnecessário será apurar o resultado. No que tange a questão doutrinaria ao analisarmos a argumentação de Masson e Cunha, há uma tênue linha conceitual que os diferencia, pois enquanto para o primeiro desnecessário é a consumação, o segundocria a figura do resultado jurídico consumador do delito, sem com tudo criar grande afastamento da ideia de centralização na conduta do agente e indiferença ao resultado. Exemplo no crime de corrupção ativa previsto no (art. 333, CP), não há a necessidade de o funcionário público aceitar a vantagem indevida para que aquele que a oferece tenha cometido crime, pois por tratar- se de crime formal a mera conduta de oferecer constitui-se por si só em fato punível legalmente. Os crimes de mera conduta descrevem unicamente uma conduta reprovável socialmente, ou seja, nesse tipo de crime o legislador estabelece como bem jurídico o não cometimento de uma conduta determinada sem se preocupar ou fazer qualquer menção a um resultado fruto desta conduta, para Rogerio Sanches não há como confundir crime formal com crime de mera conduta, pois preleciona o respeitado doutrinador que para àquela espécie de crime o tipo penal prevê um resultado, ainda que seja indiferente para a aplicação da pena, já para este tipo de crime, a letra da lei nem se quer resultado prevê. Podemos exemplificar este tipo de crime com o porte ilegal de armas, previsto no estatuto do desarmamento onde, o ato de conduzir arma de fogo sem previa autorização legal é por si só reprovável e punível, ainda que esta conduta não acarrete nenhum resultado. Abaixo seguem dois exemplos de jurisprudência do assunto abordado: TRF-1 - APELAÇÃO CRIMINAL ACR 133453620084013800 MG 0013345-36.2008.4.01.3800 (TRF-1) Data de publicação: 23/08/2013 Ementa: PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. LEI N. 8.137 /1990, ART. 1º, INCISO I . CRIME MATERIAL E DERESULTADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE LANÇAMENTO. PERSECUÇÃO CRIMINAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. CPP, ART. 397, INCISO I. PERTINÊNCIA. APELAÇÃO DESPROVIDA. 1. O delito previsto no art. 1º da Lei n. 8.137 /90 é material ou de resultado. Enquanto não há decisão definitiva do processo administrativo de lançamento, não há justa causa para a ação penal, não havendo que se falar em consumação do crime e, de consequência, em início do respectivo prazo prescricional. 2. "Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º , incisos I a IV , da Lei n. 8.137 /90, antes do lançamento definitivo do tributo." (STF, Pleno, Súmula Vinculante 24, aprovação em 02/12/2009, DJe 11/12/2009). 3. Os fatos geradores ocorreram ao longo de 2001, assim, o prazo para o fisco fazer o lançamento iniciou-se em 01/01/2002, com término em 01/01/2007. A constituição do crédito tributário pertinente ocorreu em 18/10/2007, data da lavratura do auto de infração que formalizou os créditos em tela. Dessarte, a constituição do crédito tributário foi atingida pelo decurso do prazo decadencial quinquenal para que o fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo. Não há, pois, justa causa para a persecução criminal quanto ao crimeprevisto no art. 1º , I , da Lei n. 8.137 /1990. 4. Apelação desprovida. TRF-3 - APELAÇÃO CRIMINAL ACR 817 SP 0000817- 90.2006.4.03.6125 (TRF-3) Data de publicação: 06/05/2014 Ementa: PROCESSUAL PENAL E PENAL. DESCAMINHO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. CORRUPÇÃOATIVA. ARTIGO 333 DO CP. AUTORIA E MATERIALIDADE. COMPROVAÇÃO. DOSIMETRIA DA PENA. I - Inicialmente, insta dizer que a Lei 12.034 /2010 não incide na hipótese em comento, porquanto o fato típico remonta ao ano de 2006. II - O prazo prescricional da pretensão punitiva do crime de descaminho, cuja pena fixada foi 01 ano de reclusão, é de 02 anos, ex vi do artigo 109, VI, do CP (redação anterior a Lei 12.034 /10). III - Considerando que os fatos ocorreram em 08/03/2006 e a denúncia foi recebida em 23/04/2008, impõe-se reconhecer que decorreu intervalo temporal que excede o prazo de atuação do jus puniendi estatal inscrito no artigo 109, VI do CP. Observa-se, portanto, a presença da prescrição subseqüente da pretensão punitiva estatal. IV - O delito de corrupção ativa é crime formal, de mera conduta, que independe de qualquer atitude, gesto ou mesmo pensamento do funcionário público, vale dizer: no momento em que o agente oferecer ou prometer espontaneamente a vantagem indevida, consumado estará o crime, independentemente da aceitação da oferta espúria. V - A promessa ou a oferta da vantagem ilícita pode ser feita direta ou indiretamente ao funcionário e pode dar-se, também, por meio de interposta pessoa. Anote-se, ainda, que o funcionário público destinatário da oferta ou da promessa deve ser individualizado e o ato buscado pelo agente do delito deve estar em sua esfera de atribuições. VI - Além disso, sendo lícita ou ilícita a conduta que se espera com a corrupção - que deve ser a prática, o retardamento ou a omissão de um ato -, chegando ao conhecimento do funcionário o oferecimento da vantagem indevida, o crime estará configurado. VII- Comprovadas a autoria e a materialidade delitiva do crime tipificado no artigo 333 do CP, o decreto condenatório era de rigor. VIII - Quanto à dosimetria da pena, considerando serem favoráveis as circunstâncias... 5.2. Crime comum, próprio e de mão própria Nessa forma de classificação leva-se em consideração o sujeito ativo, ou seja, será a condição fática do autor do crime que determinará seu crime comum, próprio ou de mao própria. Considera-se comuns aqueles crimes em que não se exige qualquer qualidade especial do sujeito ativo. Todavia, ao contrario de Cunha (2016, pg.165), Masson (2011, pg.187), cria uma subclassificação para os crimes comuns, ao prever os crimes bicomuns. Para este doutrinador bicomuns são os crimes que podem ser praticados por qualquer pessoa e contra qualquer pessoa, a exemplo do estelionato e da lesão corporal. Já os crimes próprios, são aqueles que exigem certas características do agente a exemplo do que ocorre com erro médico ou a corrupção ativa. Masson (2011, pg.187), ao classificar os crimes próprios, propõe uma inovação doutrinaria ao classifica-los em puros e impuros. Para este autor a ausência da condição especial do autor acarreta atipicidade do fato, excluindo inclusive a punibilidade e o próprio crime, como exemplo, podemos citar o crime de abuso de autoridade, que não ocorrerá se o agente dizendo ser autoridade pública e abusar da autoridade que dis ter e na verdade não tem. Já para o mesmo autor os crimes próprios impuros são aqueles em quer a exclusão da condição especial do sujeito ativo ocasiona a mudança na tipificação do delito a exemplo do funcionário publico que comete o crime de peculato, que perdendo a condição de funcionário público cometerá o crime de furto ou apropriação indébita conforme o caso. Entende-se por crime de mão própria aquele em que exige-se do sujeito ativo determinada condição pessoal exclusiva. Em consequência, admite não haver possibilidade de coautoria nesse tipo de crime visto ser ato personalíssimo e exclusivo a exemplo do que ocorre com o crime previsto no (art. 342, CP), crime de falso testemunho. A seguir jurisprudências sobre as classificações abordadas: STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL AgRg no REsp 1452682 DF 2014/0107973-1 (STJ) Data de publicação: 11/06/2015 Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. DECRETO N. 7.873/2012. INDULTO. CONCURSO DE INFRAÇÕES. CRIMES COMUM E HEDIONDO. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. VIA INADEQUADA. 1. De acordo com a jurisprudência deste Tribunal Superior, é possível a concessão de comutação de penas aos condenados por crimescomum e hediondo, quanto ao primeiro delito, quando cumpridos 2/3 da pena referente ao crime hediondo, conforme preceituam os arts. 2º e 7º do Decreto n. 7.873/2012. 2. Em recurso especial, via destinada ao debate do direito federal, é inviável a análise da alegação de ofensa a dispositivo constitucional (art. 5º, XLIII, da CF), ainda que para fins de prequestionamento. 3. Agravo regimental improvido. TJ-DF - Apelacao Criminal APR 20100111909347 DF 0061657- 22.2010.8.07.0001 (TJ-DF) Data de publicação: 27/05/2014 Ementa: PENAL E PROCESSUAL. DISPENSA INDEVIDA DE LICITAÇÃO. EXAME DOS FATOS RELEVANTES. LICITUDE DA INVESTIGAÇÃO COMANDADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. REGULARIDADE DA DENÚNCIA. RITO ESPECIAL DA LEI 8.666 /93 NOS CRIMES PRÓPRIOS DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS. AUSÊNCIA DE NULIDADE NO DESMEMBRAMENTO DO PROCESSO RELATIVO A UM DOS RÉUS NÃO CITADO REGULARMENTE. ALEGAÇÕES DE PRESCRIÇÃO E DE NULIDADES PROCESSUAIS. IMPROCEDÊNCIA. PROVA SATISFATÓRIA DA MATERIALIDADE E AUTORIA. CRIME DE MERA CONDUTA E PERIGO ABSTRATO. DOLO GENÉRICO. DESNECESSIDADE DA PROVA DE PREJUÍZO AO ERÁRIO. CRÍTICA DA DOSIMETRIA DA PENA. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 1 RÉUS CONDENADOS POR INFRINGIREM O ARTIGO 89 DO CÓDIGO PENAL, QUATRO DELES ENQUANTO EXERCIAM CARGOS EM COMISSÃO E OUTRO NA CONDIÇÃO DE EMPRESÁRIO. TODOS CONTRIBUÍRAM PARA COLOCAR EM PRÁTICA ARDILOSO ESQUEMA VISANDO A CONTRATAÇÃO PREDETERMINADA DE EMPRESA DE INFORMÁTICA JUSTIFICADA SOB ALEGAÇÃO DE URGÊNCIA. APR201001101909347 2 NÃO SE COGITA DE NULIDADE POR OMISSÃO NA APRECIAÇÃO DE FATO NOVO SEM RELAÇÃO COM OS FATOS DISCUTIDOS NOS AUTOS, NÃO AFETANDO A CREDIBILIDADE DAS OUTRAS PROVAS COLHIDAS SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. EM OUTRO PONTO QUESTIONA-SE A MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM AUTOS DIVERSOS, A QUAL NÃO VINCULA O JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA NESTA AÇÃO PENAL. 3 O INQUÉRITO POLICIAL PRÉVIO É PRESCINDÍVEL À PROPOSITURA DA AÇÃO PENAL, DESDE QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO DISPONHA DE ELEMENTOS SUFICIENTES PARA EMBASAR A DENÚNCIA. NÃO SE COGITA DE USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL, PORQUE A TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS AFIRMA QUE SE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL OUTORGA A DETERMINADA INSTITUIÇÃO FINS ESPECÍFICOS, TAMBÉM LHE CONCEDE, IMPLÍCITA E SIMULTANEAMENTE, OS MEIOS PARA ATINGIR TAL OBJETIVO. O MINISTÉRIO PÚBLICO, COMO TITULAR DA AÇÃO PENAL, TAMBÉM DISPÕE DE PODERES PARA REALIZAR A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. 4 TRATANDO-SE DE RÉUS SOLTOS, A INOBSERVÂNCIA DO PRAZO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA CONSTITUI MERA IRREGULARIDADE, POIS A AÇÃO... PROVER O RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. UNÂNIME. PROVER PARCIALMENTE OS RECURSOS DOS RÉUS. UNÂNIME TSE - Recurso Especial Eleitoral REspe 571991 RN (TSE) Data de publicação: 25/03/2015 Ementa: RECURSO ESPECIAL. INSCRIÇÃO FRAUDULENTA DE ELEITOR (CE, art. 289). CRIME DE MÃO PRÓPRIA. PARTICIPAÇÃO POSSÍVEL ATRAVÉS DE CUMPLICIDADE. 1. O crime do artigo 289 do Código Eleitoral é qualificado comocrime de mão própria, na medida em que somente pode ser praticado pelo eleitor. Assim sendo, não admite a coautoria, mas é possível a participação. Precedente do TSE. 2. A indução à prática da inscrição fraudulenta perfectibiliza o tipo do artigo 290 do Código Eleitoral. Se, porém, há prestação de auxílio material à conduta delitiva, está caracterizada a participação no delito do artigo 289 do Código Eleitoral. 3. Recurso especial desprovido. 5.3. Crime doloso, culposo e preterdoloso Os crimes dolosos são aqueles em que o agente quer o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo (dolo eventual), tais como o homicídio, o furto, o roubo, o estupro, o peculato etc. O crime será culposo cujo resultado não for querido ou aceito pelo agente, mas que, previsível, seja proveniente de inobservância dos deveres de cuidado em que o resultado ilícito decorre de imprudência, negligência ou imperícia. Exemplo, quando o motorista, trafegando por via pública em alta velocidade, agindo com imprudência, atropela um pedestre que circulava pelo local. Os preterdolosos, são crimes híbridos, em que a lei descreve uma conduta inicial dolosa agravada por um resultado culposo. Ou seja, praticado com dolo em relação ao fato antecedente e culpa no que tange ao resultado agravante, um exemplo e o crime de lesão corporal seguida de morte (art. 129, 3º, CP), pois nele existe por parte do agente apenas intenção de lesionar a vítima, mas, durante a agressão, ele acaba, culposamente, causando sua morte. Gonçalves (2010, p.67) e Cunha (2016, p.166). Pode se acrescentar sobre o tema acima a súmula vinculante: 45-STF:" A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual. Data de Aprovação Sessão Plenária de 08/04/2015 Fonte de Publicação DJe nº 72 de 17/04/2015, p. 1. DOU de 17/04/2015, p. 1. Referência Legislativa Constituição Federal de 1988, art. 5º, XXXVIII, "d"; art. 125, § 1º”. Abaixo jurisprudência que trata do assunto em seu caso concreto mesmo antes da matéria se tornar súmula vinculante: CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA MILITAR E JUSTIÇA COMUM. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. MILITAR EM SERVIÇO. VÍTIMA CIVIL. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. PRECEDENTES. 1. O art. 9º, parágrafo único, do Código Penal Militar, com redação dada pela Lei n. 9.299/1996, determina que as condutas dolosas contra a vida praticadas por militares, em tempo de paz, são de competência da justiça comum. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, bem como deste Superior Tribunal de Justiça, em que pesem posições doutrinárias divergentes, firmou-se pela constitucionalidade do disposto no parágrafo único do art. 9º do CPM, atribuindo ao Tribunal do Júri a competência para processar e julgar os crimes dolosos contra a vida cometidos por militares contra civis. Precedentes. 3. O § 2º do art. 82 do Código de Processo Penal Militar determina que, "nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum". 4. Conflito conhecido para declarar competente o JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DE SÃO PAULO - SP, ora suscitante, e determinar o desarquivamento do inquérito policial e a remessa dos autos ao Juízo declarado competente. (STJ - CC: 131899 SP 2013/0414268-0, Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 14/05/2014, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 26/05/2014). 5.4. Crime instantâneo, permanente e instantâneo de efeitos permanentes Essa classificação se refere à duração do momento consumativo. Sendo crime instantâneo aquele que se consuma em momento determinado (consumação imediata), sem qualquer prolongação. Não significa que ocorre rapidamente, mas que, uma vez reunidos seus elementos, a consumação ocorre peremptoriamente, como exemplo podemos citar o crime de lesões corporais. Crime permanente é aquele em que a execução se prolonga no tempo por vontade do agente. É a modalidade de crime em que a ofensa ao bem jurídico se dá de maneira constante e cessa de acordo com a vontade do sujeito ativo, exemplo a extorsão mediante sequestro. Nos crimes instantâneos de efeitos permanentes, a consumação também ocorre em momento determinado, mas os efeitos dela decorrentes são irreversíveis, como no estelionato previdenciario quando cometido por servidor do INSS ou por terceiro não beneficiárioque pratica a fraude, sendo consumado no momento do pagamento da primeira prestação do benefício indevido, por exemplo. Gonçalves (2010, p.66 e 67) e Cunha (2016, pag.166). Segue súmula que trata dos conceitos acima: 45-STF “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Data de Aprovação Sessão Plenária de 24/09/2003 Fonte de Publicação DJ de 09/10/2003, p. 6; DJ de 10/10/2003, p. 6; DJ de 13/10/2003, p. 6.” Abaixo entendimento jurisprudencial sobre crimes instantâneos de efeitos permanentes: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO. CRIME INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES QUANDO PRATICADO POR TERCEIRO NÃO BENEFICIÁRIO. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. PAGAMENTO DA PRIMEIRA PRESTAÇÃO DO BENEFÍCIO INDEVIDO. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. O estelionato previdenciário é crime instantâneo de efeitos permanentes quando cometido por servidor do INSS ou por terceiro não beneficiário que pratica a fraude, sendo consumado no momento do pagamento da primeira prestação do benefício indevido. Precedentes. 2. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no REsp: 1347082 RS 2012/0209682-9, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento: 21/08/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/08/2014). 5.5. Crime consumado e tentado Segundo o (art. 14, I, CP), “Diz-se o crime consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal”. Ou seja, quando são preenchidos todos os elementos do tipo objetivo. É por isso que se fala em “enquadramento legal”. Não se confunde com crime exaurido, pois no exaurimento, o crime já está consumado, mas ainda ocorrem outros resultados lesivos. Exemplos: Oferecer R$ 100,00 reais ao PRF para evitar uma multa já consuma o crime, não ser multado apenas exaure o crime; Sequestrar uma pessoa para solicitar o resgate consuma o crime, receber a quantia o exaure. O crime tentado ocorre quando o agente inicia a execução do delito mas este não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. De acordo com o parágrafo único do (art. 14, CP), "salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços". Para fixar a pena, o magistrado deve usar como critério a maior ou menor proximidade da consumação, de forma que quanto mais o agente percorrer o "iter criminis", maior será sua punição. 5.6. Crime de dano e perigo Ocorre crime de dano quando há efetiva lesão do bem jurídico tutelado. Exemplo (art. 121, CP), homicídio. Já o perigo é a possibilidade de dano ou a probabilidade de lesão, ou seja, é aquela espécie de injusto penal que se satisfaz/se consuma com a mera ameaça de lesão (ou perigo de lesão) ao bem jurídico tutelado. Exemplo (art. 132, CP), perigo para a vida ou a saúde de outrem. Porém dentro do crime de perigo podemos dividi – ló em: Individual, no qual a exposição a perigo de lesão se dirige ao bem ou ao interesse de uma só pessoa ou a número determinado de pessoas (risco de dano à bem jurídico individual ou plural limitado); alcança pessoa certa ou grupo limitado. Da periclitarão da vida e da saúde (arts. 130 a 136, CP). Exemplo perigo de contágio venéreo (art. 130, CP). Crime de perigo comum ou coletivo, onde a exposição a perigo de lesão se dirige ao bem ou ao interesse de toda a coletividade ou a número indeterminado de pessoas (risco de dano à bem jurídico coletivo ou plural ilimitado), previstos nos (arts. 250 a 259, CP), exemplo o incêndio (art. 250, CP). Crimes de perigo presumido ou abstrato é o perigo já considerado pela lei (de maneira presumida) pela simples prática da conduta típica. O tipo penal se limita a descrever a conduta, sem qualquer referência a resultado naturalístico, justamente por isso foram batizados pela doutrina (em geral) como “crimes de mera conduta”. Trata-se de presunção legal absoluta (“juris et de jure”) de perigo. Independe de prova. Exemplo crime de quadrilha ou bando (art. 288, CP), tráfico de drogas (lei n. 11.343/06), perigo para a saúde pública, porte de arma (art. 14 da lei n. 10.826/03). E os crimes de perigo concreto e o perigo que necessita de efetiva comprovação no caso concreto mediante atividade probatória regular, não há qualquer presunção legal, a configuração do crime depende da prova concreta do risco de lesão ao bem jurídico protegido. Exemplo o crime de perigo para a vida ou a saúde de outrem (art. 132, CP), prova do perigo direto e iminente (perigo real), crime de explosão (art. 251, CP), prova do risco de ofensa ao bem jurídico vida ou integridade física ou patrimônio de outrem. 5.7. Crime simples, complexo, qualificado e privilegiado Crime simples é o que possui tipo penal único, protegendo apenas um bem jurídico. Podemos citar como exemplo o crime de homicídio, que protege o bem jurídico vida. Como por exemplo podemos citar o caso concreto conhecido como caso “ Caso Russo, PM e condenado por homicidio simples”: Após doze horas de julgamento presidido pelo juiz Edmar Pereira, os jurados do 1º Tribunal do Júri de Belém condenaram por homicídio simples (pena prevista de 06 a 20 anos de prisão) o policial militar Marcelo Ferreira Zeferino, pela morte de Lucivaldo Cunha Ferreira, acatando parcialmente a tese da acusação. Em relação ao homicídio que vitimou o produtor de eventos Gustavo Maia Russo, o réu foi absolvido por maioria dos votos dos jurados, que acolheram as teses da defesa. Com base na decisão dos jurados, o juiz aplicou a pena de 12 anos de prisão, que o réu terá que cumprir em regime inicialmente fechado. Na sentença o juiz concedeu ao réu o direito de recorrer da decisão em liberdade, por ter respondido o processo em liberdade, ser primário, ter emprego e residência fixa. O militar respondeu por duplo homicídio ao participar de uma perseguição policial a um suspeito, que resultou nas mortes do promotor de eventos Gustavo Maia Russo e de Lucivaldo Ferreira, que mantinha refém o produtor ao fugir da Polícia, 10/01/ 2005. Este é o segundo júri do militar. No primeiro realizado em 2008 o militar foi absolvido, mas, o julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça que deu provimento ao recurso da promotoria, e considerou que os jurados votaram contrários às provas contidas no processo. Durante toda a manhã foram ouvidas quatro testemunhas requisitadas pela promotoria. Representada pelos promotores de justiça Arnaldo Azevedo e Mario Brasil. Também ouvidas no julgamento outras três testemunhas apresentadas pela defesa do réu promovida pelos advogados Rodrigo Santana e Marilda Cantal. Em seguida houve o interrogatório do réu e debates das teses. Os advogados de defesa sustentaram as tese da legítima defesa, ou estrito cumprimento do dever e inexigibilidade de conduta adversa, ao efetuar os disparos contra o suspeito Lucivaldo Ferreira, atingindo Gustavo Maia, mantido como refém do primeiro. Em interrogatório prestado o réu confessou que atirou na direção do suspeito que por estar fardado foi abordado por dois policiais procurou fugir, primeiro a pé e depois no carro do produtor de eventos, que estava parado fazendo um telefonema. Conforme o depoente, os policiais acionaram uma viatura e depois mais outra iniciando uma perseguição que terminou quando o carro do refém se chocou com uma camionete, obrigando-o a parar. Conforme a versão apresentada pelo réu, o suspeito saiu do veículopelo vidro frontal do carro estava armado o que fez os policiais atirarem contra o suspeito. Em relação ao produtor de eventos este continuou no interior do veículo, sendo atingido pelos disparos e morreu no interior do próprio carro. Os advogados sustentaram as tese da legítima defesa, ou estrito cumprimento do dever e inexigibilidade de conduta adversa, ao efetuar os disparos contra o suspeito Lucivaldo Ferreira, atingindo Gustavo Maia Russo mantido como refém do primeiro. Durante o dia os jurados ouviram no total sete depoimentos, entre eles a mãe do produtor e o de um perito do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, especializado em balística. Ele prestou informações sobre a trajetória da bala para os jurados. Outro depoimento prestado foi o da mãe do produtor, que contou como o filho foi rendido pelo suspeito e feito refém no próprio carro, em frente a vila onde morava. O suspeito estava trajando fardamento de policial e o filho fora obrigado a dirigir para o suspeito que estava fugindo de policiais. Durante o depoimento a mãe do produtor disse que não quer vingança, mas justiça. Ela revelou que considera a PM importante e mesmo o filho tendo sido vítima de militares respeita e considera importante a corporação. O crime ocorreu em 10 de janeiro de 2005 quando o produtor de eventos Gustavo Maia Russo falava ao celular, no interior de seu veículo, na Avenida João Paulo II, quando foi rendido, com arma de fogo, por Lucivaldo Cunha Ferreira, que o obrigou a iniciar a fuga. Lucivaldo era suspeito de assalto e fugia após ser abordado a pé por dois policiais que passaram a persegui- lo. Duas viaturas da Polícia Militar se juntaram à perseguição. Consta na denúncia, formulada pelo Ministério Público, que, com o carro da vítima colidiu com outro veiculo pondo fim à fuga. A promotoria narrou que o carro já estava parado, e que o suspeito saiu do interior do veiculo, sendo alvejado pelos policiais com sete tiros. Outros sete disparos teriam sido desferidos na direção do refém, que morreu dentro do próprio carro. Oito policiais que participaram da perseguição foram denunciados, sendo um deles impronunciado e 04 condenados e três absolvidos. Crime complexo é a fusão de dois ou mais tipos penais, protegendo dois ou mais bens jurídicos. O latrocínio é um exemplo de crime complexo, pois protege os bens jurídicos patrimônio e vida. Crime qualificado é aquele em que ao tipo básico a lei acrescenta circunstância que agrava a sua natureza, elevando os limites da pena. Não surge a formação de um novo tipo penal, mas apenas uma forma mais grave de ilícito. Chama-se homicídio qualificado, por exemplo, aquele praticado ‘’mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe’’ (art. 121, 2º, I, CP); denomina-se furto qualificado o praticado ‘’com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa’’ (art. 155, 4º, I, CP); considera- se qualificado o delito de injúria consistente em violência ou vias de fato (art. 140, 2º, primeira parte, CP) e etc. Crime privilegiado quando ao tipo básico a lei acrescentada circunstância que o torna menos grave, diminuindo, em consequência, suas sanções. São crimes privilegiados, por exemplo, o homicídio praticado por relevante valor moral (eutanásia), previsto (art. 121, 1º,CP) o furto de pequeno valor praticado por agente primário (art. 155, 2º, CP); o estelionato que causa pequeno prejuízo, desde que primário o autor (art.171, 1º, CP) e etc. Nessas hipóteses, as circunstancias que envolvem o fato típico fazem com que o crime seja menos severamente apenado. Os tipos qualificados e privilegiados são, em contraposição aos tipos básicos, tipos derivados. Mirabete e Fabbrini (2013, pg.116). 5.8. Crime plurissubjetivo e unissubjetivo Os crimes plurissubjetivos (ou de concurso necessário) são aqueles que exigem dois ou mais agentes para a prática do delito em virtude de sua conceituação típica. Eles subdividem-se em três espécies de acordo com o modus operandi. Crimes de condutas paralelas, quando há colaboração nas ações dos sujeitos, crimes de condutas convergentes, onde as condutas encontram-se somente após o início da execução do delito pois partem de pontos opostos e crimes de condutas contrapostas onde as condutas desenvolvem-se umas contra as outras. Exemplos de crimes plurissubjetivos, associação criminosa (art. 288, CP), organização criminosa (lei 12850/13), bigamia (art. 235, 1º, CP) e rixa (art. 35, CP). Os crimes unissubjetivos (ou monossubjetivos, ou de concurso eventual) são aqueles que podem ser praticados por apenas um sujeito, entretanto, admite-se a co-autoria e a participação. 5.9. Crime comissivo e omissivo Crimes comissivos são aqueles que necessitam de uma ação positiva do agente, como o homicídio, onde o criminoso precisa matar a vítima. Os crimes omissivos próprios ou puros são aqueles que pressupõem uma conduta negativa, um “não fazer” o que a lei determina como o crime de omissão de socorro. Já nos comissivos por omissão, ocorre uma transgressão do dever legal de impedir o resultado. Como por exemplo, um médico que deixa de prestar socorro a um indivíduo que necessita de socorro médico. Sendo assim, quando se trata da ação do agente, os crimes podem ser comissivos, omissivos ou comissivo por omissão. Pode se acrescentar sobre o tema acima a jurisprudência: REVISÃO CRIMINAL. DECISÃO CONTRÁRIA AO TEXTO DE LEI. ESTUPRO. VIOLÊNCIA PRESUMIDA. GENITORA. OMISSÃO. CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO. FIGURA DO "GARANTIDOR". PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO ABUSO. INÉRCIA CONFIGURADA. A omissão pode constituir elemento do tipo penal (crime omissivo próprio ou puro) ou apenas forma de alcançar o resultado previsto em um crime comissivo (crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão). Nestes casos, a conduta descrita no tipo é comissiva, mas o resultado ocorre por não o ter impedido o sujeito ativo. No crime omissivo impróprio o resultado pode ser atribuído ao omitente tanto por uma inércia dolosa quanto culposa (desde que também punível a título de culpa). A omissão só é "penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado" (CP, art. 13, § 2.º), colocando-se na figura do "garantidor". Este tem o dever de engendrar esforços para, ao menos, tentar evitar o resultado. São distintas as figuras da omissão imprópria e da participação por omissão. Enquanto na primeira o "garantidor" age como verdadeiro autor da omissão, da qual decorre o resultado, na segunda o partícipe, desejando resultado, limita-se a se omitir para auxiliar a sua consecução. Somente nesta pode-se cogitar da participação de menor importância. Age com verdadeira omissão dolosa a mãe que - "garantidora" legal do dever de cuidado, zelo e proteção da prole (CP, art. 13, § 2.º, a)- flagra o companheiro abusando sexualmente da filha e a abandona sem tomar qualquer providência. PEDIDO IMPROCEDENTE. 5.10. Crime unissubsistente e plurissubsistente O crime unissubsistente admite a prática através de um único ato para a concretização do crime. Por exemplo desacato, injúria, violação de segredo profissional, etc. Enquanto que o crime plurissubsistente é praticado por mais de um ato. Exemplo, o crime de roubo é formado pela subtração de coisa alheia mais grave ameaça ou lesão, logo deve haver mais de um ato para caracterizar o referido crime. No estelionato é formado pela obtenção da vantagem mais induzimento ao erro mais emprego de meio fraudulento, logo, há um conjunto de atosa serem praticados para que o crime seja iniciado. 5.11. Crime habitual Crime habitual é a reiteração da mesma conduta reprovável, de forma a constituir um estilo ou hábito de vida. Quando o agente pratica ações com intenção de lucro, fala-se em crime profissional. Segue jurisprudência que trata do conceito retratado acima: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. GESTÃO FRAUDULENTA. CRIME HABITUAL IMPRÓPRIO. CONDUTA QUE SE MANTEVE POR MAIS DE DOIS ANOS. AUMENTO DA PENA-BASE. MAIOR REPROVABILIDADE DA CONDUTA. POSSIBILIDADE. ESCOLHA DA FRAÇÃO DE MAJORAÇÃO DA PENA-BASE. EXAME DO CASO CONCRETO. 1. O crime de gestão fraudulenta é considerado delito habitual impróprio, em que uma só ação tem relevância para configurar o tipo, ainda que a sua reiteração não configure pluralidade de crimes. 2. Assim, sendo incontroverso que as condutas da recorrida se estenderam por período superior a dois anos, mostra-se justa e adequada a valoração negativa de sua culpabilidade e, logo, a a majoração da sanção inicial. 3. No caso, embora a Corte de origem, ao estabelecer a fração de aumento da pena inicial, não tenha observado a orientação consolidada no âmbito do STJ no sentido de que a ponderação das circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal não é uma mera operação aritmética, adotando critério cuja natureza é puramente objetiva, não se verifica, à luz do caso concreto, a necessidade de imposição de uma fração de aumento superior àquela adotada na instância ordinária. 4. Agravo regimental a que se dá parcial provimento apenas para restabelecer a consideração negativa da culpabilidade da agravada, readequando-se a pena que lhe foi aplicada. Acórdão - Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar parcial provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator" Os Srs. Ministros Gurgel de Faria, Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ/SC), Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ/PE) e Felix Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator. 6. REFERÊNCIAS CUNHA, Rogério Sanches, Manual de direito penal: parte geral, 4. ed. Salvador,Juspodivm, 2016. GONÇALVES, Victor Eduardo Rios, Direito Penal Esquematizado: parte especial, 1. ed. São Paulo, Saraiva, 2011. PRADO, Luiz Régis, Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 13. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal: parte geral. 15. ed. São Paulo, Saraiva, 2011. JÚNIOR, Paulo José Costa, Curso de Direito Penal. 12. ed. São Paulo, Saraiva, 2010. MIRABETE. Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., Manual de direito penal: volume 1, 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. MASSON, Cleber Rogério, Direito Penal Esquematizado: parte geral. volume 1, 4. ed. Rio de Janeiro: Metodo, 2011.
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