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IMPACTO SOCIOLÓGICO DA FUMICULTURA EM AGRICULTORES

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VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
Saúde como objeto do conhecimento: história e cultura 
ISSN: 1982-5544 
 
 
Curitiba –08 de novembro de 2013 
 
 
 
IMPACTO SOCIOLÓGICO DA FUMICULTURA EM AGRICULTORES* 
 
Gabriel Piovezan
1
 
Josias do Prado
1
 
Ketrin Ortiz Jorgensen
1
 
Stéphanie Gomes
1
 
Leandro Rozin
2
 
Roberta Giraldi Romano
2
 
 
 
RESUMO 
 
A cultura do fumo, apesar de ter impacto positivo na economia, traz diversas problemáticas 
em seu bojo, dentre eles os danos à saúde dos que o consomem, intensamente abordados em 
pesquisas, e os impactos ambientais. Apesar de não haver ampla divulgação, o fumo também 
pode ser danoso aos que o produzem pelo uso de agrotóxicos e até mesmo pelo contato com 
sua folha. Esta pesquisa de revisão integrativa objetivou evidenciar os prejuízos do tabaco 
para os agricultores de fumiculturas. Salienta-se o processo de plantio e colheita, os fatores 
envolvidos para sua eficácia e os efeitos resultantes para o meio ambiente e para o próprio 
agricultor. Neste artigo foi possível correlacionar o cultivo do fumo aos níveis alarmantes de 
depressão e suicídio, de forma a abordar aspectos biológicos, químicos e psicossociais. 
 
Palavras-chave: fumicultura, agrotóxicos, green tobacco sickness, suicídio. 
 
 
INTRODUÇÃO 
A agricultura pode ser considerada uma das grandes responsáveis pela economia do 
Brasil, chegando a ser conhecida como “o celeiro do mundo”. Esta produção é sem dúvida 
essencial para abastecer a indústria alimentícia e outros mercados, porém a agricultura não 
está somente relacionada à produção de alimentos. Um exemplo desta situação é a 
fumicultura, a cultura do tabaco (ALMEIDA, 2005). 
O principal foco da plantação de fumo no Brasil encontra-se na região sul do país. No 
estado do Paraná, 39% dos municípios estão diretamente envolvidos com a fumicultura, no 
Rio Grande do Sul são 64% das cidades e em Santa Catarina 82% (ALMEIDA, 2005). 
A cultura do tabaco concentra-se em pequenas propriedades rurais, já que a 
preferência das empresas integradoras é contratar agricultores que trabalham em regime 
 
* Trabalho apresentado pelos acadêmicos do 4º período do Curso de Graduação em Biomedicina da 
Faculdades Pequeno Príncipe, 2013. 
1
 Acadêmicos do 4º período do curso de Biomedicina da Faculdades Pequeno Príncipe, 2013. 
2
 Orientadores da pesquisa e docentes da Faculdades Pequeno Príncipe. 
 
 
 
VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
Saúde como objeto do conhecimento: história e cultura 
ISSN: 1982-5544 
 
 
Curitiba –08 de novembro de 2013 
 
 
familiar e tenham pouca terra para lavrar, devido à preferência por famílias mais suscetíveis 
ao discurso da rentabilidade por hectare do fumo, superior frente às culturas de alimentos 
(ALMEIDA, 2005). 
Em média, a renda bruta das famílias por ano é de R$ 9.300,00. A produção do fumo 
gera um custo de aproximadamente 73% do valor total da renda, ou seja, R$ 6.789,00, 
restando apenas R$ 2.511,00 por família ao ano. Cada família produtora de fumo é composta 
por uma média de 3 pessoas. Se o valor restante for dividido por cada pessoa, e 
posteriormente por doze, a renda por trabalhador será de R$ 69,75 ao mês (ALMEIDA, 
2005). 
A renda das famílias envolvidas no cultivo do tabaco, de fato, não lhes confere grande 
autonomia financeira, impedindo-os de pagar pela mão-de-obra requerida nas épocas de safra, 
já que é uma atividade não mecanizada. Inclusive crianças pertencentes às famílias 
fumicultoras acabam por ajudar nas plantações, por mais que frequentem a escola, 
convertendo o trabalho em prioridade (ALMEIDA, 2005). 
O processo inicia-se quando o pequeno agricultor é procurado pelos orientadores das 
indústrias, firma contrato de compra e venda de tabaco em folha, em que não há qualquer 
possibilidade de negociação entre as partes, apenas restando especificar o tipo de fumo, o 
tamanho da área onde será feito o plantio, a variedade de semente, a estimativa de pés que 
serão cultivados, os quilos de tabaco a serem entregues para as fumageiras (SOUZA CRUZ, 
2002). 
A empresa integradora compromete-se a comprar do agricultor a totalidade da 
produção de fumo cultivada, ato chamado de “garantia de mercado”, ou seja, o compromisso 
do fumicultor vender, dentro do prazo, única e integralmente à empresa sua produção de fumo 
em folha, nos limites da estimativa contratual (ALMEIDA, 2005). 
Se o agricultor produz acima da estimativa, a empresa compra até o limite de 5% a 
mais do que o previsto no contrato. Se o agricultor produz abaixo, a empresa não compra e 
arresta a produção para notabilizar o débito referente ao pacote tecnológico. É uma medida 
para evitar a comercialização livre do tabaco com as demais empresas (ALMEIDA, 2005). 
Esta situação acaba realizando uma reserva de mercado, favorecendo a formação do 
“cartel do tabaco” e o controle do processo de endividamento dos agricultores, necessário 
para a previsibilidade e segurança dos contratos de exportação firmados com o mercado 
internacional (ALMEIDA, 2005). 
 
 
 
VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
Saúde como objeto do conhecimento: história e cultura 
ISSN: 1982-5544 
 
 
Curitiba –08 de novembro de 2013 
 
 
MÉTODO 
Considerando a ampla divulgação dos danos à saúde em fumantes e fumantes passivos 
e menor divulgação dos danos em fumicultores, configurou-se a seguinte questão norteadora 
deste trabalho: quais são os prejuízos do fumo para a saúde dos trabalhadores de 
fumiculturas? 
O método utilizado é de revisão integrativa da literatura, que reúne e contempla o 
conhecimento científico produzido, por meio da análise dos resultados já evidenciados nos 
estudos que receberam tratamento científico. 
As buscas abrangeram todas as publicações que continham as palavras-chave: 
fumicultura, agrotóxicos, green tobacco sickness. A pesquisa foi realizada na base eletrônica 
de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) que contempla artigos da base de dados, onde 
foram encontrados 33 artigos que abordavam a temática. Após a leitura na íntegra, foram 
selecionados 18 artigos por apresentar a especificidade dos dados propostos para esta 
pesquisa, que possibilitaram responder a questão norteadora. 
Como critérios de inclusão, artigos publicados em português e inglês foram utilizados, 
entre os anos de 1996 e 2013, completos e que respondessem a questão da pesquisa. Como 
critério de exclusão, artigos que não estivessem disponíveis on-line, sem textos completos, 
além dos que não apresentavam dados relacionados e coerência com o tema proposto. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
PROCESSOS DA PRODUÇÃO DE FUMO 
A cadeia produtiva do fumo, com enfoque em seu plantio, tem início com a fase de 
Canteiros, que atualmente é substituída pela utilização do sistema Float, de acordo com 
informações disponibilizadas em 2011 pela Souza Cruz. Esta tem continuidade com a fase de 
Lavoura, seguida da fase de Capação e finalmente, no que concerne ao plantio, se encerra 
com a fase da Colheita. 
Inicialmente, a muda é gerada através da semente por um sistema chamado Float. 
Neste sistema, as sementes são colocadas em bandejas flutuantes, feitas de isopor ou plástico, 
que possuem diversas divisões, em que cada divisão suporta apenas uma semente. Um 
composto formado por terra enriquecida com nutrientes, chamado de substrato, é acrescentado 
a estas bandejas. As bandejas contendo as mudas são submetidas à ação da água ao serem 
 
 
 
VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
Saúde como objeto do conhecimento: história e cultura 
ISSN: 1982-5544 
 
 
Curitiba –08 de novembro de 2013 
 
 
submersasem um tanque de aproximadamente 5 cm de profundidade. O processo de 
semeadura ocorre entre os meses de julho e setembro. 
Primeiramente, o agrotóxico da classe inseticida, denominado Evidence, é aplicado, 
que possui função de combater um tipo de pulgão proeminente nesta fase do plantio. Após 
cerca de 10 dias, é acrescentado adubo diluído em água. Cerca de 20 dias após o início do 
processo, as sementes germinam. Ao transcorrer aproximadamente 30 dias, é aplicado um 
processo, chamado repique, que consiste na distribuição adequada de mudas ao longo das 
divisões da bandeja, acomodando uma unidade em cada divisão. Após o repique, é empregado 
o segundo agrotóxico, o Ridomil Gold MZ, que tem a finalidade de evitar a deterioração das 
raízes. O terceiro agrotóxico a ser aplicado é o Confidor Supra, que é empregado no controle 
de alguns tipos de pragas. (BIANCO; GOULART, 2007) 
A fase de lavoura tem início com o transplante das mudas para a lavoura definitiva. A 
terra é preparada preliminarmente ao transplante, com a aplicação do agrotóxico Gamit 360 
CS, que evitará o crescimento de ervas-daninhas. A muda é transplantada para passar a se 
desenvolver na terra. Se surgirem larvas no miolo desta planta, será aplicado o Nomolt 150 
para extingui-las. No caso de aparecimento de insetos, como a vaquinha amarela e verde, é 
aplicado o Talstar 100 EC. Com o progresso do crescimento da planta, há o desenvolvimento 
de uma flor no talo central. As flores devem ser desbastadas, caracterizando a fase de 
capação, e após o corte o agrotóxico Primeplus BR deve ser aplicado para evitar a formação 
de novos brotos. Normalmente, o broto cresce em todas as plantas, porém seu crescimento é 
contido, já que ele propicia a ocorrência de folhas delgadas, e a grossura da folha é fator de 
classificação de preços (BIANCO; GOULART, 2007). 
O processo seguinte é a colheita, que tem início ao final de dois meses, coincidindo 
com os meses de dezembro a março. A cada semana, são colhidas três folhas de cada planta, 
sempre da parte inferior para a superior, pois as inferiores são as primeiras a entrarem em 
maturação, ou seja, apresentam a cor amarelada nas extremidades. Assim que colhida, é 
acondicionada em uma estufa para iniciar o processo chamado de cura, onde sofrerá perda de 
água, mudança de cor e alterações bioquímicas, que contribuirão para o sabor específico de 
cada marca de cigarro. A estufa contém um aquecedor de grande porte, alimentado por lenha, 
e também ventiladores, de modo que um equilíbrio da temperatura do ar circulante seja 
mantido; a folha deve permanecer nestas condições por cerca de 7 a 8 dias. A temperatura da 
sala pode atingir meados de 70°C, dependendo do estágio em que a folha se encontra. Ela não 
 
 
 
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poderá ficar com excesso de água, nem escassez, para a posterior industrialização. Após o 
processo de cura ocorre a separação das folhas do tabaco conforme cor e tamanho, etapa onde 
se concentra o trabalho de mulheres e crianças, e comercialização à empresa. É importante 
ressaltar que cada planta de fumo resultará em vários tipos de fumo, desde o fumo de 
qualidade inferior até o de qualidade superior. As folhas da parte inferior do pé 
corresponderão ao fumo de menor qualidade, enquanto as folhas da parte superior do pé, as 
últimas a serem colhidas, serão as de melhor qualidade, devido ao seu aroma pronunciado e 
seu tamanho e grossura proeminentes (SILVA, 2011 e ALMEIDA, 2005). 
 
AGROTÓXICOS NA FUMICULTURA E O MEIO AMBIENTE 
Os agrotóxicos podem ser definidos como produtos de natureza química, fisica ou 
biológica, cuja finalidade é destruir qualquer tipo de praga que atrapalhe o processo de 
culturas agrícolas. Podem ser classificados de acordo com a estrutura química, atuação no 
organismo alvo e efeitos que podem ser causados à saúde humana. Em relação à ação no 
organismo alvo ou à natureza da praga combatida, os agrotóxicos podem ser diferenciados em 
inseticidas, fungicidas, herbicidas, acaricidas, nematicidas, rodenticidas e/ou raticidas, entre 
outros (SAVOY, 2011). Para a cultura do tabaco, é permitida a comercialização de 65 
agroquímicos, dentre eles inseticidas, fungicidas e herbicidas (SILVA, 2011). 
A plantação de fumo necessita de quantidades significativas de agrotóxicos para a 
devida proteção contra pestes. De acordo com Falk et al., (1996), a quantidade habitual de 
agrotóxicos usada varia entre 50 a 60 Kg por hectare, podendo ter esses valores alterados em 
consequência de muitas pragas ou da variação climática, possibilitando um aumento 
considerável da quantia destes produtos. 
Na fumicultura, são usados cerca de 7 tipos de agrotóxicos diferentes, cujas 
classificações variam de perigoso ao meio ambiente até altamente perigoso ao meio ambiente. 
Tais agrotóxicos oferecem riscos a espécies de animais aquáticos, a contaminação de 
mananciais de água e até mesmo a população, sendo alguns deles proibidos de serem 
aplicados durante o vento ou próximos a vilarejos ou casas (SEAB, 2013). 
Os agrotóxicos, após serem aplicados, podem sofrer ações de microrganismos 
degradadores (SILVA; MELO; FAY, 2004). Porém, além da degradação dos organismos, não 
há nenhum tipo de produto que o elimine do solo e, além disso, não há nenhum tipo de 
 
 
 
VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
Saúde como objeto do conhecimento: história e cultura 
ISSN: 1982-5544 
 
 
Curitiba –08 de novembro de 2013 
 
 
controle do quanto é aplicado na terra e o quanto ainda ali permanece, ou seja, não há controle 
da decomposição destes no meio ambiente (ETGES, 2002). 
Em estudo de caso, foram testadas amostras de água coletadas em três municípios, em 
que a muda era apenas preparada, não ocorrendo a plantação em terra. Destas coletas, cerca 
de 15% estavam com nível de toxicidade ao organismo Daphnia magna, já comumente 
utilizado em bioensaios. O fato de as amostras terem sido coletadas nos meses de novembro a 
fevereiro, cerca de 4 a 7 meses após o transplante das mudas de fumo, e ainda assim 
apresentarem tal nível, evidencia a toxicidade persistente no sistema (ETGES, 2002). 
Para que a deterioração dos agrotóxicos por microrganismos possa ocorrer, vários 
fatores influenciam diretamente no processo, como parâmetros do solo e climáticos, entre eles 
umidade do solo, temperatura e pH (SILVA; MELO; FAY, 2004). 
Os microrganismos degradadores de agrotóxicos são, na maioria dos casos, bactérias, 
abrangendo vários tipos fisiológicos, como os aeróbios, anaeróbios (fermentativos, 
metanogênicos, redutores de enxofre), quimiolitotróficos e organismos fotossintéticos. A 
degradação dos agroquímicos gera resíduos que poderão ser mineralizados por apenas um 
microrganismo ou por vários. A maior parte destes microrganismos se encontra na fina 
camada de água que fica ao redor das partículas do solo (SILVA; MELO; FAY, 2004). 
O crescimento microbiano está diretamente relacionado à concentração de substrato, 
quanto maior a quantidade de microrganismos, mais rápida será a velocidade de 
biodegradação dos compostos (SILVA; MELO; FAY, 2004). 
 
TOXICIDADE DOS AGROTÓXICOS NO ORGANISMO 
A maior parte dos agrotóxicos pertence a três grupos químicos: organofosforados, 
carbamatos e piretróides (SILVA, 2011). 
Os fatores de risco de uma substância química dependem da exposição e toxicidade. A 
toxicidade dos agroquímicos é avaliada por diversos âmbitos, contendo normas e critérios 
rígidos que são definidos por órgãos oficiais. Para que as avaliações possam ser concluídas, 
estudos importantes devem feitos, dentre eles a DL50 e CL50. A DL50é caracterizada pela 
dose letal responsável pela exterminação de 50% dos animais submetidos ao experimento, e a 
CL50 é a concentração letal. Nos estudos são feitos a DL50 oral aguda, DL50 dérmica 
aguda, CL50 inalatória, irritabilidade ocular, irritabilidade dérmica e sensibilização dérmica 
(SILVA, 2011). 
 
 
 
VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
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Curitiba –08 de novembro de 2013 
 
 
Classe Classificação Cor da faixa no rótulo da 
embalagem 
I Extremamente tóxico 
(DL50 menor que 50 mg/kg de 
peso vivo) 
Vermelho vivo 
II Altamente tóxico 
(DL50 de 50 mg a 500 mg/kg de 
peso vivo) 
Amarelo intenso 
III Medianamente tóxico 
(DL50 de 500 mg a 5.000 mg/kg 
de peso vivo) 
Azul intenso 
IV Pouco tóxico 
(DL50 maior que 5.000 mg/kg 
de peso vivo) 
Verde intenso 
 
QUADRO 1. CLASSES TOXICOLÓGICAS DOS AGROTÓXICOS COM BASE NA DL50. 
Fonte: EMBRAPA, 2006 
 
A classificação toxicológica não está relacionada com a exposição a longo prazo, 
tampouco com a segurança do ambiente. A classificação é exclusiva aos trabalhadores que 
manuseiam o produto em uma única exposição, e isso serve como medida de segurança para 
quem trabalha na produção, na embalagem, no armazenamento, no transporte e na aplicação 
(SILVA, 2011). 
A absorção dos agrotóxicos pelo organismo depende da solubilidade destes compostos 
nos tecidos. Os organofosforados (OF) são compostos orgânicos derivados do ácido fosfórico, 
tiofosfórico ou ditiofosfórico (SAVOY, 2011). Os sinais clínicos de intoxicação causados 
pelos organofosforados aparecerão de maneira mais rápida através da inalação do produto, 
com os primeiros sintomas se manifestando em poucos minutos, enquanto que pela ingestão 
oral ou exposição dérmica pode haver um aparecimento tardio dos sintomas (CALDAS, 
2000). 
A distribuição pelos tecidos após a absorção dos organofosforados ocorre 
rapidamente, com os compostos lipofílicos, podendo alcançar altas concentrações no tecido 
nervoso e em outros tecidos ricos em lipídeos. Nos mamíferos ocorre o processo de 
biotransformação, que consiste na alteração da conformidade química de substâncias 
exógenas, podendo induzir ou inibir a atividade enzimática. No organismo, a 
biotransformação dos organofosforados acontece de maneira rápida, aumentando a 
detoxificação dos compostos. 
 
 
 
VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
Saúde como objeto do conhecimento: história e cultura 
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Curitiba –08 de novembro de 2013 
 
 
A toxicidade destes compostos está diretamente ligada à biotransformação e depende 
da relação entre ativação e inativação. As principais reações de biotransformação dos OF 
podem ser a dessulfuração, oxidação do grupo tioéter e a oxidação dos substitutos alifáticos. 
A dessulfuração compreende a transformação da ligação P=S em P=O, resultando em um 
aumento considerável da toxicidade do inseticida. A oxidação do grupo tioéter resulta na 
formação de compostos mais ativos, no entanto estes são de menor grau, assim como a 
oxidação dos substitutos alifáticos, que mesmo de menor grau, possuem sua toxicidade 
aumentada. 
A eliminação destes compostos ocorre principalmente através da urina e das fezes. 
Pode ser, no entanto, liberado pela via biliar, onde ocorre a circulação entero-hepática, 
prolongando a sintomatologia (CALDAS, 2000). 
Os carbamatos são compostos que apresentam a estrutura do ácido N-metilcarbâmico 
(SAVOY, 2011). No caso deste composto, a exposição dérmica se agrava quando o 
organismo se encontra em temperatura ambiente elevada. A absorção dos carbamatos pelo 
organismo pode ocorrer através das vias oral, respiratória e cutânea. A via de intoxicação de 
maior incidência é a dérmica, seguida pela via respiratória como a segunda mais comum 
(CALDAS, 2000). A maioria dos carbamatos não causa sintomatologia no sistema nervoso 
central, porém quando a sintomatologia é perceptível, é sinal de extrema gravidade. 
Na biotransformação dos carbamatos, as reações que ocorrem podem ser as seguintes: 
hidrólise; hidroxilação metil ligado ao nitrogênio formando compostos com menor grau de 
toxicidade; hidroxilação do anel aromático com formação de produtos com intensidade 
toxicológica variável, podendo ser menos ou mais tóxicos. Assim como nos 
organofosforados, a eliminação ocorre pela urina e fezes (CALDAS, 2000). 
Após contato esporádico de xenobióticos com seres vivos, ocorrem alterações no 
sistema imunológico que possuem grande influência na incidência de processos toxicológicos 
crônicos. Estes agentes químicos, ao alterar a integridade do sistema imune, podem 
desencadear um quadro imunossupressor, o que torna o hospedeiro mais suscetível a 
processos patológicos tais como infecção, doenças autoimunes e indução de tumores 
carcinogênicos. (FERNANDES, 1997) 
Conforme exposto, a exposição do agricultor ao agrotóxico é constante. A utilização 
dos agroquímicos, a maneira como são aplicados, e como são feitos os cuidados na cultura ao 
 
 
 
VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
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Curitiba –08 de novembro de 2013 
 
 
longo do ano são fatores determinantes para a exposição dos agricultores e suas respectivas 
famílias a estes compostos, tornando o cultivo um ciclo de longa duração (SILVA, 2011). 
Para evitar contaminações, a indústria fornece o uso dos Equipamentos de Proteção 
Individual (EPI), porém a desqualificação de grande parte dos fumicultores na aplicação dos 
produtos e a não utilização correta dos EPIs aumenta o risco de intoxicação. Segundo Silva et 
al., (2011), 31% dos fumicultores utilizam botas, 14% máscaras, 9% luvas e apenas 10% 
fazem o uso completo do EPI. 
 
EFEITOS NEUROCOMPORTAMENTAIS PROVOCADOS POR AGROTÓXICOS 
Os organofosforados afetam diretamente o sistema nervoso central e, portanto, são 
considerados os mais tóxicos. Um dos principais efeitos dos organofosforados sobre o 
organismo é a depressão, que compromete a qualidade de vida gerando pensamentos de 
desesperança e incapacidade que podem culminar em atitudes suicidas (CORREA E 
BARRETO, 2006). 
Segundo Corrêa e Barrero (2006), a relação entre suicídio e depressão é próxima, a 
ponto de ser considerada um sintoma ou uma consequência desta patologia. A depressão afeta 
a mente e modifica a maneira de como a pessoa enxerga o mundo a sua volta, como manifesta 
e interpreta suas emoções. De acordo com Vieira et al. (2008) a depressão afeta o organismo 
como um todo sem distinção entre o psíquico, o social e o físico. Os sintomas relacionados 
com o suicídio são o decréscimo da autoestima e a sensação de incapacidade da resolução de 
problemas. 
De acordo com Falk et al., estudos realizados em 1996 demonstram que os 
agrotóxicos organofosforados provocam efeitos neurocomportamentais. Eles apresentam-se 
em muitos casos como efeitos crônicos sobre o sistema nervoso central, especialmente do tipo 
neurocomportamental, como insônia ou sono perturbado, ansiedade, retardo de reações, 
dificuldade de concentração e uma variedade de sequelas psiquiátricas, como apatia, 
irritabilidade, depressão, esquizofrenia. 
Emílio Astolfi, médico argentino, divulgou na década de 60 uma possível relação do 
uso de agrotóxicos organofosforados na região do Chaco (região fumicultora na Argentina), 
com o número acentuado de suicídios entre os agricultores (FALK et al., 1996). 
A intensa carga de trabalho e a baixa remuneração, somando-se às preocupações em 
concluir a colheita a tempo dentro das especificações do contrato com a indústria, juntamente 
 
 
 
VII JORNADADE SOCIOLOGIA DA SAÚDE 
Saúde como objeto do conhecimento: história e cultura 
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com os danos que podem ser causados pela intoxicação dos agroquímicos, principalmente os 
neurocomportamentais, são fatores agravantes que contribuem para o suicídio. 
Na pequena cidade de Venâncio Aires-RS, que possui economia baseada na 
fumicultura, é relatado que até a década de 90 eram usados 60 kg de agrotóxicos para o 
cultivo do fumo. Entretanto no ano de 1995, devido à forte seca que atingiu a região, a 
quantidade usada de agrotóxicos passou de 60 kg para aproximadamente 100 kg por hectare. 
O índice de suicídios, que já era alto, quase duplicou chegando ao índice de 37,22 para cada 
100 mil habitantes; destas mortes, 60% ocorreram na área rural, tornando Venâncio Aires a 
cidade com uma das maiores taxas de suicídios do mundo (FALK et al., 1996). 
Outro estudo destacado por FALK et al. (1996), realizado na Universidade de Iowa 
com agricultores expostos aos organofosforados, demonstrou que a intoxicação resulta em 
substanciais disfunções do sistema nervoso central, incluindo ataxia, tremores, vertigens, 
convulsões, coma, ansiedade, confusão, irritabilidade, depressão, falhas de memória e 
dificuldade de concentração. 
Grande parte destes efeitos neurocomportamentais ocorre devido ao acúmulo de 
acetilcolina nas sinapses nervosas. Para que ocorra uma sinapse, é necessária a liberação de 
algum neurotransmissor, como a acetilcolina, que é difundida na fenda sináptica ligando-se a 
um receptor colinérgico. A acetilcolina liga-se a receptores na membrana da célula pós-
sináptica permitindo que os íons possam fluir para dentro desta célula (TURINI, 2013). 
Os organofosforados são inibidores da enzima acetilcolinesterase, enzima responsável 
pela hidrólise da acetilcolina. Na ausência de hidrólise, a acetilcolina se acumula na fenda 
sináptica, interferindo em próximas sinapses. O acúmulo desta, além de ser tóxico para o 
sistema nervoso central, provoca hiperestimulação colinérgica. Estudos experimentais e 
relatos de casos humanos têm demonstrado que várias funções cerebrais superiores, incluindo 
a memória, podem ser afetadas, tanto por lesões químicas do cérebro, como pelo bloqueio da 
transmissão colinérgica (FALK et al., 1996). 
 
DOENÇA DA FOLHA VERDE 
A doença da folha verde do tabaco, em inglês Green Tobacco Sickness, chamada 
também de GTS, é causada pela absorção da nicotina pela pele (OLIVEIRA et al., 2010). 
A nicotina, por ser solúvel em água, é facilmente absorvida pela pele quando 
trabalhadores lidam com a folha do tabaco que possui umidade da chuva em sua superfície, ou 
 
 
 
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que entra em contato com a umidade da transpiração. A nicotina, então, passa diretamente 
para a corrente sanguínea e é distribuída através do corpo, inclusive para o encéfalo 
(MCBRIDE et al., 1998). 
Esta doença é mais comum em agricultores que trabalham na época da colheita do 
tabaco, que lidam diretamente com a folha da planta madura (OLIVEIRA et al., 2010), já que 
colhem a folha manualmente e carregam a folha recém-cortada com a seiva escorrendo em 
suas roupas e ao longo de sua pele. Além disso, o desgaste causado pelo atrito ou um possível 
corte, ao lidar manualmente com o tabaco, pode agravar a possibilidade de ocorrência da 
doença (MCBRIDE et al., 1998). 
Seus principais sintomas são náusea, vômitos, tontura, fraqueza e cefaleia (OLIVEIRA 
et al., 2010). Outros sintomas incluem visão turva, dispneia, palidez, cólicas abdominais, 
tremores, calafrios, diarreia, irritação na pele, oscilação na pressão sanguínea, aumento da 
frequência cardíaca, aumento da transpiração, aumento da salivação e desmaios. Muito 
semelhantes aos sintomas de exaustão por calor ou de intoxicação por agrotóxicos, e também 
aos de intoxicação por nicotina em fumantes novatos (MCBRIDE et al., 1998). 
Os sintomas, característicos de infecção aguda, podem se apresentar uma hora após a 
exposição da pele à folha, geralmente se apresentando de 3 a 17 horas após a exposição, e 
permanecem de 12 a 48 horas, podendo chegar a 3 dias, normalmente não consistindo em 
casos crônicos (MCBRIDE et al., 1998). 
Esta doença foi verificada em vários países antes do Brasil, como EUA, Índia, Japão, 
Malásia e Itália. Sendo reportada no Brasil apenas em 2007, por mais que o Brasil seja o 
segundo maior produtor de tabaco do mundo (OLIVEIRA et al., 2010). Isto ocorre devido à 
dificuldade em reportar casos de GTS, já que raramente os afetados procuram atendimento e a 
divulgação é restrita (MCBRIDE et al., 1998). 
A prevalência também é associada a famílias localizadas em regiões específicas, onde 
há grande número de pequenos produtores e pouca mecanização, em que os fumicultores 
fazem o processo de colheita manualmente. Observa-se suscetibilidade de algumas pessoas à 
doença, já que foram reportadas 12 recorrências em 8 semanas por alguns trabalhadores. Com 
base nestes dados, é possível que seja associado à recorrência de GTS um aumento no risco de 
doenças cardiovasculares, cânceres ou outras doenças (MCBRIDE et al., 1998). 
Há maior incidência da GTS em não-fumantes em comparação a fumantes, o que 
ocorre devido à menor absorção dérmica da nicotina em fumantes, já que estes apresentam 
 
 
 
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vasoconstrição pelo consumo do tabaco, além de maior tolerância à nicotina pela adaptação 
metabólica que ocorre com o consumo do tabaco. Isto é conhecido como taquifilaxia, em que 
a administração de baixas doses de determinada toxina faz com que o organismo desenvolva 
maior proteção contra doses elevadas repentinas da mesma toxina. Porém a GTS pode ser 
observada quando o fumante é exposto a elevadas doses repentinamente (OLIVEIRA et al., 
2010). 
Portanto, assim como na aplicação dos agrotóxicos, durante a colheita é indicado o uso 
de EPIs, tais como luvas, roupas apropriadas para que a pele seja exposta o mínimo possível, 
o cuidado com a exposição excessiva ao calor, evitando trabalhar em dias quentes e úmidos, e 
a lavagem constante das mãos ao longo do trabalho, assim como a higienização corporal após 
o trabalho. Evitar o manuseio de folhas úmidas ou o uso de roupas úmidas, sempre as 
trocando quando contiverem seiva do tabaco, também é importante (OLIVEIRA et al., 2010) 
(MCBRIDE et al., 1998). 
Há necessidade de conscientização dos fumicultores a partir de campanhas 
informativas acerca da GTS e formas de prevenção, com incentivo à utilização de EPIs, 
mostrando a importância dos mesmos, já que se sabe que estes geralmente não são utilizados 
devido ao desconforto que provocam (MCBRIDE et al., 1998). 
É necessário o encontro de uma forma economicamente viável e sustentável para as 
pessoas que se mantêm da plantação de tabaco, forma esta, que se constitua em uma 
alternativa concedida pelo poder público que venha a ser menos nociva à saúde dos 
trabalhadores (OLIVEIRA et al., 2010). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A plantação do tabaco exige diversos cuidados, que não são necessários em outras 
plantações, devido à sensibilidade da planta a variações climáticas e suas próprias mudanças 
estruturais. Isto faz com que uma quantidade absurda de agrotóxicos seja necessária, visando 
a qualidade do produto e a economia de um modo geral. Entretanto, não foi percebida a 
exposição excessiva do agricultor frente ao agrotóxico e a contaminação pela própria folhaatravés da absorção da nicotina pela pele. 
Tal exposição deveria ser resolvida apenas com o uso dos EPI’s segundo os rótulos, 
porém, na prática é inviável. Os EPI’s, mesmo se usados corretamente, não evitam 
completamente a contaminação do agricultor, o que é exemplificado quando o agrotóxico está 
 
 
 
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sendo aplicado e, apesar do rótulo orientar a não aplicação em tempo climático com vento, 
dificilmente o agricultor interromperá frente a uma eventual mudança de tempo. Este evento 
pode acontecer em qualquer agricultura, mas dada a alta quantidade de agrotóxico usada nesta 
agricultura o risco torna-se maior. Além disso, nas demais agriculturas, o agricultor não é 
contaminado pela planta, o que ocorre na cultura do tabaco. 
Conforme identificado na pesquisa, grande parte dos agricultores possui escolaridade 
baixa, o que potencializa os riscos por não conseguirem interpretar corretamente o rótulo ou 
manuais. Esta situação, aliada ao desconhecimento do potencial de risco da folha do tabaco, 
também contribui para que não utilizem os EPI’s, fato justificado pela inviabilidade de colher 
folhas rasteiras sob um sol de 40 graus, com o corpo curvado, usando máscara, capa e luva. 
No decorrer deste trabalho, observou-se que a indústria de agrotóxicos considera 
suficiente a quantidade de EPI’s indicada e que apenas o fato de o agricultor utilizá-los 
previne qualquer contaminação. Em resumo: se houver contaminação, a responsabilidade é do 
agricultor, que não usou o EPI corretamente. 
Não há uma fiscalização do uso dos equipamentos por parte do produtor do 
agrotóxico, além deste eximir-se da responsabilidade dos efeitos do componente em relação 
ao homem e ao meio ambiente – agrotóxicos são persistentes no ambiente, podendo 
permanecer por muitos anos no solo e serem carreados para os rios. 
O uso de agrotóxicos também tem sido associado ao número de suicídios de 
fumicultores. Venâncio Aires-RS, a cidade com maior numero de suicídios no Brasil também 
é a cidade que mais planta fumo, sendo a responsável por grande parte da exportação do 
produto. Os índices são altíssimos se comparados a outras cidades que também plantam fumo, 
mas em menor escala. Um dos responsáveis por isso podem ser os organofosforados, que 
atingem o sistema nervoso central, levando à depressão. 
Além disso, a qualidade de vida dos agricultores é especialmente comprometida na 
época da colheita, devido ao processo de cura das folhas ser constante e depender de lenha a 
cada duas horas para que a sala da cura permaneça em temperaturas altas. Isto faz com que 
durmam muito pouco e de forma fracionada. A depressão aliada à baixa qualidade de vida são 
fatores que podem resultar no elevado número de suicídios na região. 
Por fim, salienta-se que o fumo não pode ser tratado como um problema apenas para 
quem o consome, mas que em nossa sociedade representa um risco a todos, desde o 
agricultor, o meio ambiente, o fumante passivo e o ativo. Há que se aprofundar as pesquisas 
 
 
 
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referentes aos impactos desta cultura e de seu consumo, com vistas a minimizar seus danos à 
saúde humana e ao planeta. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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