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artigo nutrição funcional e autismo

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Dr. Hugo Braz Marques
Abstract
Autism spectrum disorders typically present before the age of 3 years with impairment of communication and 
social interaction, as well as restricted and repetitive patterns of behavior. The autistic child usually presents 
sensory disintegration, which may manifest in feeding. In recent years, the incidence of autism spectrum disorders 
has grown remarkably, and it is believed that autism is a genetic disease, worsened or triggered by environmental 
factors such as intoxication, vaccines, food allergens, as well as changes in the intestinal microflora and immunity. 
Autistic children have altered gut permeability, with translocation of food allergens (gluten and casein), triggering 
systemic inflammatory and immune reactions. Gluten and casein, poorly digested, seem to form opioids that affect 
the temporal lobes and cause difficulties in speech and hearing integration, reduction of nerve cells and inhibition of 
neurotransmitters. The aim of this paper is to propose a food guide with functional nutritional guidelines for children 
with autism spectrum, aimed to prevent vitamin and mineral deficiencies, optimization of intestinal microbiota, 
formation of neurotransmitters and immunity.
Keywords: childhood autism; dysbiosis; food allergy; functional nutrition; functional food guide.
Resumo
O espectro autista costuma apresentar-se antes dos 3 anos, pelo comprometimento da comunicação e da interação 
social e por padrões restritos e repetitivos de comportamento. A criança costuma apresentar desintegração sensorial, 
que pode se manifestar na alimentação. Nos últimos anos, a incidência do espectro autista tem crescido notavelmente, 
e a tese é de que seja uma doença genética, agravada ou desencadeada por fatores ambientais, como intoxicações, 
vacinas, alimentos alergênicos, alterações da microbiota intestinal e da imunidade. Crianças autistas apresentam 
alteração na permeabilidade intestinal, com translocação de alérgenos alimentares (glúten e caseína), gerando 
reações inflamatórias e imunológicas sistêmicas. Glúten e caseína, mal digeridos, parecem formar opioides que 
afetam os lobos temporais e causam dificuldades na fala e na integração da audição, redução de células nervosas e 
inibição de neurotransmissores. O objetivo deste trabalho é propor um guia alimentar com diretrizes nutricionais 
funcionais, destinadas a crianças com espectro autista, com vistas a prevenção de deficiências de vitaminas e 
minerais, otimização da microbiota intestinal, formação de neurotransmissores e imunidade.
Palavras-chave: autismo infantil; disbiose; alergia alimentar; nutrição funcional; guia alimentar funcional.
Proposal for a Functional Food Guide for Children with 
Autism Spectrum Disorders
Proposição de Guia 
Alimentar Funcional 
para Crianças com 
Espectro Autista
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Proposição de guia alimentar funcional para crianças com espectro autista
Introdução
O espectro autista costuma apresentar-se antes dos 3 
anos, pelo comprometimento da comunicação, da interação 
social e padrões restritos e repetitivos de comportamento1. Por 
tratar-se de um espectro, compreende desde quadros graves 
com prejuízo cognitivo até quadros mais leves, com ilhas de 
conhecimento avançadas, variando entre autistas de baixo e alto 
funcionamento – estes últimos, com Síndrome de Asperger, 
grau em que não há nenhum atraso significativo na aquisição 
da linguagem2. 
Os padrões repetitivos podem estender-se aos hábitos 
alimentares da criança autista, que apresenta desintegração 
sensorial e pode limitar seu consumo a poucos tipos de 
alimentos, limitar a consistência alimentar ou, ainda, associar 
seu consumo a determinadas rotinas3.
Nos últimos anos, a incidência do espectro autista tem 
crescido notavelmente em menores de 3 anos, gerando 
discussões acerca de uma maior acurácia dos médicos e 
maior informação dos pais, antecipando o diagnóstico. Nesse 
sentido, se o autismo fosse causado por fatores exclusivamente 
genéticos, sua incidência deveria ser constante4.
A tese em voga é a de que o autismo seja uma doença 
genética, agravada ou desencadeada por fatores ambientais, 
como intoxicações ambientais, vacinas, alimentos alergênicos, 
alterações da microbiota intestinal, infecções e alterações da 
imunidade5.
A existência de um componente genético tem sido 
explorada, haja vista o risco 60 vezes maior de nascer uma 
criança autista em uma família em que exista um caso anterior. 
Além disso, 7% dos autistas têm irmãos com autismo. No 
genoma, foi identificada uma região instável (Iq21.1), que 
concentra inúmeras cópias do gene DUF1220, ligado ao 
desenvolvimento cerebral, o que vem sendo investigado em 
autistas6. Há, também, uma variante no gene HOXA1, onde a 
incidência de autismo parece ser maior7.
Parece haver alta correlação entre a prevalência de otites 
e a incidência de autismo. Acredita-se que o desenvolvimento 
anormal se dê pelo acúmulo de subprodutos de leveduras e 
bactérias resistentes absorvidos pelo intestino – causado pelo 
uso excessivo de antibióticos e verificado em testes de ácidos 
orgânicos na urina de autistas4.
Vários pais relatam regressão do desenvolvimento normal 
da criança dias após a vacinação com tríplice viral, tríplice 
bacteriana ou contra hepatite B. Doenças inflamatórias 
intestinais parecem estar relacionadas à vacina de sarampo, 
rubéola e caxumba (tríplice viral)4.
Alterações na permeabilidade intestinal de 
crianças com espectro autista
Goodwin et al.8 vêm analisando relatos de pais de 
autistas nos últimos 30 anos, evidenciando que as crianças 
sofrem disfunção gastrointestinal e hipersensibilidade a 
determinados alimentos. 
D’Eufemia et al.9 detectaram permeabilidade intestinal 
alterada em 42,8% das 21 crianças autistas analisadas, entre 
4 e 16 anos de idade. Horvarth et al.10 realizaram biópsia 
em 36 crianças autistas com queixas gastrointestinais e 
encontraram refluxo gastroesofágico em 69,4%, gastrite 
crônica em 41,7%, duodenite crônica em 66,7% e baixa 
atividade de enzimas digestivas em 58,3%. Wakefield11 
estudou 50 crianças autistas com queixas gastrointestinais e 
encontrou hiperplasia de linfonodos no íleo de 93% e cólon 
de 30% das crianças, bem como colite em 88% delas.
Horvarth e Perman12 descreveram alterações patológicas 
na permeabilidade intestinal, aumento da resposta secretória 
à injeção intravenosa de secretina, alteração na acidez 
gástrica e diminuição da atividade enzimática digestiva em 
crianças com espectro autista.
Parracho et al.13 identificaram diferenças na microbiota 
intestinal de crianças com e sem autismo, prevalecendo 
a enterobactéria patogênica Clostridium hystolyticum no 
primeiro grupo.
A síndrome fúngica é oculta, mas pode exercer efeitos 
sistêmicos. Medicamentos, estresse e alterações metabólicas 
podem estimular a proliferação de fungos como Candida 
albicans, levando a infecção, inflamação e doenças crônicas. 
Açúcar, lactose, carboidratos refinados, embutidos, cafeína 
e alimentos contendo bolor favorecem fungos14.
O desequilíbrio na microbiota intestinal, em que micro-
organismos de baixa virulência tornam-se patogênicos e 
criam condições de maior permeabilidade, denomina-se 
disbiose. Os sintomas são: distensão abdominal, eructação 
e flatulência; constipação ou diarreia; presença de restos 
alimentares mal digeridos nas fezes, língua branca e mau 
hálito15.
Segundo Nichols et al.16, fatores dietéticos que propiciam 
a disbiose incluem carência de fibras e zinco; excesso 
de carboidratos simples, proteínas e lipídios; mastigaçãoinsuficiente e presença de líquidos junto às refeições. Tais 
fatores prejudicam a nutrição das bactérias intestinais e dos 
enterócitos; favorecem o crescimento de leveduras e bactérias 
patogênicas; inibem a atividade fagocitária; promovem 
redução de sucos digestivos e enzimas pancreáticas.
Com a disbiose, surge a perda da permeabilidade 
seletiva, com translocação de produtos bacterianos, alérgenos 
alimentares e metais tóxicos, gerando reações inflamatórias 
e imunológicas sistêmicas, além da absorção reduzida de 
minerais e vitaminas15.
Ações dos peptídeos derivados de caseína e 
glúten no cérebro
Devido à alteração na permeabilidade intestinal, a 
digestão ineficiente das proteínas do leite e do trigo gera 
peptídeos de cadeia curta, estruturalmente semelhantes 
a opioides, capazes de adentrar o sangue e a barreira 
hematoencefálica, trazendo repercussões negativas17.
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No cérebro, os opioides gerados pela caseína 
(caseomorfinas) e pelo glúten (gluteomorfinas) promovem 
ações semelhantes às que ocorrem em usuários de 
morfina, afetando os lobos temporais e causando 
dificuldades na fala e na integração da audição, redução 
das células nervosas do sistema nervoso central e inibição 
de alguns neurotransmissores18. Bloqueiam receptores 
dopaminérgicos, causando derramamento de dopamina no 
líquido cefalorraquidiano ou na urina4. Afetam a percepção, 
a emoção, o humor e o comportamento do autista19.
Lucarelli et al.20 e Knivsberg21 perceberam melhora na 
interação social, cognição e comunicação de crianças autistas 
das quais foi restrita a ingestão de trigo e leite de vaca.
Israngkun et al.22 e Shattock et al.23 encontraram modelos 
patológicos na urina de autistas, com altos níveis de peptídeos 
derivados de glúten e caseína. Após um ano de dieta de 
exclusão, houve melhora no comportamento das crianças e 
normalização dos peptídeos urinários.
Ao acompanharem a dieta de exclusão de leite e 
glúten em 15 indivíduos autistas de 3 a 17 anos, durante o 
período de um ano, Reichelt et al.24 encontraram melhora 
comportamental em 13 (87%) das crianças estudadas, como 
otimização do comportamento motor, do contato social, 
visual e da linguagem, diminuição do comportamento 
ritualístico e normalização do sono.
A baixa absorção intestinal de vitamina B12 pode 
prejudicar o desenvolvimento neural, por interferir na 
formação de mielina, necessária para ação das fibras 
nervosas25.
Gilberg e Wing26 perceberam que 6 das 20 crianças 
autistas que estudaram tinham aumento nas encefalinas em 
uma porção do líquor e redução na sensibilidade à dor. O 
triptofano é precursor da serotonina, neurotransmissor que 
modula o sono, a temperatura corporal, a senso-percepção, 
estados afetivos, convulsões e o movimento. Autistas tendem 
a ter elevados níveis de serotonina no sangue.
A arabinose, metabólito produzido por leveduras, é 
encontrada em quantidades elevadas na urina de autistas. 
Ela se liga à lisina e à arginina, comprometendo a função 
das proteínas compostas por estes aminoácidos, inclusive 
aquelas responsáveis pelas interconexões de neurônios18.
O acetaldeído, formado pela fermentação do 
açúcar por fungos, tem poder neurotóxico. Reage com 
neurotransmissores como dopamina e serotonina, reduzindo 
impulsos sensoriais em nível simpático15.
Hipersensibilidades alimentares em crian-
ças com espectro autista
O sistema imune é destinado a manter a integridade 
orgânica por meio do reconhecimento do que se é próprio e 
estranho ao indivíduo, defendendo-o de agentes infecciosos 
ambientais ou antígenos – vírus, bactérias, fungos, 
protozoários, parasitas27. 
Seus componentes são fatores de crescimento (sistema 
complemento, anticorpos e citocinas) e leucócitos, que se 
dividem em fagócitos (neutrófilos, basófilos, eosinófilos, 
monócitos e macrófagos) e linfócitos27. Existem linfócitos 
T (contra vírus, bactérias e fungos), linfócitos B (contra 
parasitas e componentes alergênicos) e células natural killers. 
As células T consistem em TH1, TH2 e TH17
28. 
A diminuição das células TH1 pode explicar a maior 
suscetibilidade às infecções por vírus, bactérias e fungos no 
autismo. O desequilíbrio nas células TH1 e TH2 pode explicar 
o aumento da autoimunidade, assim como a presença de 
anticorpos contra a proteína básica da mielina e contra 
filamentos de axônios no cérebro de crianças autistas28. O 
aumento da resposta TH17 também favorece um processo de 
autoimunidade29,30. Além disso, há um aumento no fator de 
necrose tumoral alfa no autismo, que pode levar à diminuição 
do fluxo sanguíneo no cérebro28.
As reações aos alimentos podem ocorrer por 
hipersensibilidade imediata ou tardia. Na primeira, a relação 
consumo-sintoma é imediata, o que facilita o diagnóstico; já 
as alergias alimentares tardias exigem um diagnóstico clinico 
ou bioquímico. Verifica-se que os alimentos ingeridos com 
maior frequência – por serem os de preferência do paladar, 
causarem saciedade e bem-estar momentâneos – são os que 
geram mais reações tardias, dias depois, dificultando sua 
correlação com os sintomas do indivíduo27.
As alergias alimentares fragilizam o sistema imunológico; 
suscetibilizam a deficiências nutricionais; causam alteração 
na permeabilidade intestinal por desencadearem inflamação 
local, promovendo absorção de macromoléculas proteicas 
de difícil digestão. Essas moléculas podem gerar reações 
alérgicas e podem ser fermentadas por fungos15.
O trigo e o leite são considerados os principais alérgenos 
alimentares associados com o autismo, seja por um processo 
de formação de substâncias opioides neurotóxicas, seja por 
desencadearem um processo autoimune e anticorpos anti-
cérebro18.
As respostas antigênicas induzidas pelos peptídeos 
mal digeridos causam agregação de linfonodos no íleo, 
mobilizando linfócitos B em resposta à presença de antígenos 
da dieta, secretando anticorpos20,31.
Crianças autistas mostraram maiores níveis de IgA 
secretória para caseína, lactoalbumina, beta-lactoglobulina 
e glúten. A IgG teve maiores níveis para caseína e glúten. 
A IgM teve maiores níveis para caseína. A remoção das 
proteínas da dieta minimizou a resposta imune32.
Mostrou-se reatividade cruzada dos anticorpos 
produzidos contra os antígenos dos fungos com o glúten, 
em virtude de diversas sequências de aminoácidos desses 
antígenos homólogos à gliadina, peptídeo do glúten15. 
Conforme Wilke18, muitas crianças autistas apresentam 
elevação de anticorpos antigliadina e contra antígenos do 
cerebelo.
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Proposição de guia alimentar funcional para crianças com espectro autista
Abordagem nutricional funcional sobre o 
espectro autista
Apesar dos estudos mencionados, ainda há ceticismo 
no meio científico sobre a influência de peptídeos opioides 
liberados pela alimentação na expressão do espectro autista, 
em virtude da heterogeneidade de causas viáveis. Além 
disso, estudos científicos com essa abordagem ainda não 
apresentam consenso, pois utilizaram amostras pequenas 
ou se trataram de estudos individualizados. 
Das dificuldades percebidas por Wilke18 para realização 
desses estudos científicos, destacam-se: encontrar um grupo 
grande de pais que aceitem submeter os filhos a dieta por 6 
meses; constituir grupos de crianças que eliminem opioides 
na urina; encontrar crianças que não sigam tratamentos 
médicos ou intervenções terapêuticas que possam interferir 
nos resultados.
As observações do nutricionista se fazem necessárias 
com objetivo de prevenir possíveis deficiências de vitaminase minerais que possam ser iniciadas com a retirada dos 
componentes alimentares glúten e caseína, assim como o 
aparecimento da síndrome de abstinência, ocasionada pelo 
bloqueio e interferência da ação opioide dos peptídeos no 
sistema nervoso central.
A nutrição clínica funcional surge como uma ciência 
integrativa, que compreende aspectos bioquimicamente 
únicos de cada indivíduo, a fim de identificar todos os sinais e 
sintomas relacionados a déficits ou toxicidades de nutrientes, 
dentro de uma teia de fatores fisiológicos e simbólicos que 
podem representar gatilhos para sua saúde27.
A presença de anormalidades bioquímicas e o 
comprometimento cognitivo e sensorial no autista podem 
resultar em deficiências nutricionais33. 
As intervenções nutricionais primárias sobre a criança 
com espectro autista requerem a abordagem da disbiose, 
por meio do Programa de Restauração Gastrointestinal 
5 R´s descrito por Paschoal, Naves e Fonseca27 e por Dean 
e Swift33:
1. Remover: Reduzir a colonização intestinal 
por bactérias patogênicas, fungos e parasitas; reduzir 
xenobióticos; remover alimentos alergênicos para a criança.
A ACELBRA-RJ34 preconiza a restrição dos alérgenos 
leite e glúten em três fases:
- Fase 1 (1º mês): Começar a introduzir alimentos 
isentos de caseína e de glúten ao cotidiano da criança com 
espectro autista, considerando essa fase como um período 
de transição dietética.
- Fase 2 (2º mês): Eliminar toda a caseína da dieta da 
criança.
- Fase 3 (3º mês em diante): Eliminar todo o glúten da 
dieta da criança.
O rol de alimentos que contêm caseína inclui o leite de 
vaca, queijos, margarinas, iogurte, sorvete, creme de leite 
com soro, leite acidificado, leitelho, leite condensado, leite 
de cabra e leite maltado. Alguns alimentos enlatados podem 
ser conservados com caseinatos34.
O glúten está em alimentos que contêm trigo, aveia, 
centeio, cevada, malte; como: triguilho, farinha de rosca, 
Durum, Graham, gérmen e farelo de trigo, sêmola, semolina, 
massas, alguns vinagres, dextrina, goma vegetal, molho de 
soja, temperos e caldos prontos34.
A adesão à dieta ecológica, priorizando alimentos livres 
de agrotóxicos, pesticidas e aditivos melhora a microbiota 
intestinal. Para eliminar patógenos, é importante adicionar ao 
consumo regular sementes de abóbora ou de frutas cítricas, 
óleo de coco, alho, cebola, orégano, cúrcuma, tomilho e ervas 
antiparasitárias, antifúngicas e antibacterianas27.
Para maximizar a frequência evacuatória, diminuindo 
o contato de toxinas produzidas por patógenos na mucosa 
intestinal, deve-se oferecer uma ótima hidratação e um 
adequado consumo de fibras, em especial as solúveis, que 
auxiliam no crescimento da microbiota. Semente de linhaça 
e biomassa de banana verde são boas fontes27.
Cabe ressaltar que o açúcar favorece a disbiose e 
nas crianças autistas com sintomas desse desequilíbrio, 
recomenda-se a retirada gradual, por 3 semanas, para 
evitar o desaparecimento total dos sintomas e, em seguida, 
reintroduzir o açúcar por 5 dias, verificando os sintomas 
apresentados. Se a criança apresentar reação adversa a 
essa reintrodução, será necessária a restrição por tempo 
prolongado18, substituindo-o por edulcorantes naturais à 
base de esteviosídio.
Crianças com espectro autista podem mostrar 
sensibilidade a aditivos, corantes, conservantes e salicilatos18. 
Segundo Feingold35, diversas dessas substâncias podem 
desencadear sintomas autísticos, dificuldades cognitivas, 
distúrbios do sono e agressividade; como corantes tartrazina 
e vermelho carmoisine e conservantes a base de benzoato. 
Já os salicilatos estão na maçã, cereja, uva, café, cravo e 
páprica. Recomenda-se que esses alimentos sejam retirados 
de uma vez e depois, reintroduzidos e testados um a um para 
determinar reações adversas específicas.
2. Recolocar: Re-equilibrar as concentrações do ácido 
clorídrico do estômago e das enzimas digestivas essenciais, 
por meio da inclusão de chás digestivos (180ml após as 
refeições) contendo alecrim, sálvia, cidreira, canela, erva-
doce ou hortelã; abacaxi, mamão e limão, que melhoram a 
digestão das proteínas27; ou a suplementação de cloridrato 
de betaína, proteases, lipases e sacaridases33. É preciso ainda 
evitar volumes de líquidos junto às refeições, pois atrapalham 
o processo digestivo pela diluição do suco gástrico.
3. Reinocular: Probióticos são micro-organismos vivos 
que conferem alívio a sintomas intestinais e melhoram a 
imunidade. Crianças com constipação intestinal podem 
ter modificações na microbiota do intestino grosso, como 
declínio de bactérias probióticas e aumento de patógenos. 
Cepas variadas de lactobacilos ou o Kefir são fontes de 
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probióticos, que podem reduzir toxinas, principalmente em 
crianças que usam antibióticos ou têm colite36. Prebióticos 
nutrem exclusivamente as bactérias probióticas do trato 
gastrintestinal, antagonizando o desenvolvimento de 
patógenos. As doses eficazes variam de 4 a 20g/dia. Estão 
nas brássicas (brócolis, couve, couve-flor, repolho, rúcula, 
chicória), batata yacón e biomassa de banana verde27.
4. Reparar: Ênfase a elementos dietéticos não irritativos, 
ricos em nutrientes de crescimento e reparadores da mucosa 
intestinal, com isenção de frituras, café, chá preto e alimentos 
industrializados. Para reparo da mucosa, antioxidantes e 
anti-inflamatórios, como zinco, ferro, glutamina, ácido 
fólico, vitaminas E, A, B12 e C são essenciais. Gorduras 
monoinsaturadas e ômega 3 melhoram a fluidez das 
membranas dos enterócitos27. A glutamina otimiza a 
integridade física e imunológica da mucosa gastrointestinal33.
A modulação nutricional do sistema imune intervém 
sobre a funcionalidade da barreira de mucosas, defesa celular 
e inflamação local ou sistêmica. Os ácidos graxos ômega 
3 são exemplos de nutrientes que participam dessas ações. 
Outros nutrientes com papel essencial na função imune 
compreendem o zinco, cobre, magnésio, cálcio, ácido fólico 
e outras vitaminas do complexo B, vitaminas A, E, C, e em 
especial, a vitamina D27.
Kuriyama et al.37 perceberam aprimoramento no QI 
verbal de crianças autistas que receberam suplementação 
de vitamina B6,comparadas às que receberam placebo. A 
piridoxina está envolvida na síntese de neurotransmissores 
como serotonina, GABA, dopamina, adrenalina e 
noradrenalina. Agregada ao magnésio pode trazer benefícios 
neuronais aos autistas. Cabe salientar que o excesso de 
vitamina B6 pode provocar neuropatia periférica em longo 
prazo38.
A vitamina C participa de diversas vias metabólicas 
e é cofator da síntese de neurotransmissores, propiciando 
a conversão de tirosina em dopamina e triptofano em 
serotonina. Está envolvida em vias antioxidantes e na 
regulação da função imune. Dolske et al.39 realizaram 
estudo longitudinal duplo-cego, com 18 crianças autistas, 
tendo identificado minimização dos comportamentos 
estereotipados naquelas que receberam suplementação de 
vitamina C.
O ácido fólico também é essencial para a síntese de 
alguns neurotransmissores, constituição do tubo neural e 
parece trazer, segundo Kidd38, benefícios às crianças autistas, 
especialmente aquelas com quadro associado à Síndrome 
do X Frágil.
O adequado turnover de metionina depende de vitamina 
B12 para a metilação. Sua suplementação, combinada com 
ácido fólico e betaína, pode aumentar os níveis de metionina 
e a relação glutationa oxidada-reduzida em autistas, 
combatendo o estresse oxidativo40.
Ácidos graxos essenciais, particularmente os ômega 
3, estão deficientes em transtornos neurológicos do 
desenvolvimento, como o autismo, a hiperatividade, a 
dislexia e a dispraxia. Crianças autistaspodem se beneficiar 
de seu potencial anti-inflamatório e neuroprotetor (Kidd38).
Metalotioneínas são proteínas reguladoras dos níveis 
de cobre e zinco, que atuam no sistema nervoso central. 
Autistas possuem defeito nessas proteínas por deficiência 
de zinco, sendo sensíveis a metais tóxicos41. Yorbik et 
al.42 detectaram baixos níveis de zinco em 45 crianças 
autistas. O zinco contribui na resposta imune e produção 
de neurotransmissores e combate ao estresse oxidativo38.
5. Aliviar: Do inglês Relieve, visa a reduzir o desconforto 
agudo por meio de fitoterápicos com ações antiespasmódicas, 
como lavanda, hortelã pimenta, camomila e ginseng33.
O objetivo deste artigo consiste em propor um Guia 
Alimentar com diretrizes nutricionais funcionais qualitativas, 
destinadas a crianças com espectro autista.
Resultado
O Guia Alimentar Funcional apresenta diretrizes 
nutricionais gerais visando à coletividade de crianças com 
espectro autista, cujo diagnóstico costuma ser realizado a 
partir dos 3 anos. 
Ao fim do guia são disponibilizadas receitas funcionais 
selecionadas para crianças com espectro autista. Suas fontes 
consistem em Savioli e Caleffi43 e Marcelino44, ou originam-
se de experimentações do autor. As receitas referem-se às 
pequenas refeições das crianças, uma vez que no almoço 
e jantar, socialmente, costumam prevalecer outras opções 
isentas de glúten e caseína.
Uma vez que as necessidades nutricionais variam 
conforme faixa etária e situação clínica, o guia proposto traz 
recomendações estritamente qualitativas. A individualidade 
bioquímica da criança deve ser considerada para a adoção 
de um plano alimentar elaborado com base na avaliação 
clínico-funcional e construção conjunta do nutricionista com 
seus pais ou responsáveis.
Conclusões
A crescente especulação sobre interferências ambientais 
na etiologia do autismo, as evidências sobre alterações na 
permeabilidade intestinal e as ações deletérias de alérgenos 
alimentares como caseína e glúten no sistema nervoso 
central justificam um olhar diferenciado para esse grupo 
populacional pela nutrição clínica funcional.
Por meio do Guia Alimentar Funcional, espera-se 
promover hábitos alimentares saudáveis às crianças com 
espectro autista, com vistas à otimização em sua microbiota 
intestinal, a uma maior oferta de nutrientes que promovam a 
formação de neurotransmissores e restaurem sua imunidade. 
Sabe-se que essas modificações dietéticas não são fáceis 
para as famílias com crianças autistas, pois, embora ávidas 
por informações para melhorar a qualidade de vida de seus 
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Proposição de guia alimentar funcional para crianças com espectro autista
filhos, constroem socialmente seus hábitos alimentares, que, 
como na maioria das famílias brasileiras, estão arraigados 
com a presença diária dos principais alérgenos alimentares.
Apesar dos benefícios clínicos da dieta isenta de glúten 
e caseína, deve-se reconhecer que a interação social das 
crianças autistas acaba não sendo favorecida por essas 
intervenções nutricionais, que são excepcionais ao padrão 
alimentar predominante da sociedade contemporânea.
Devem ser considerados a desintegração sensorial 
e o comportamento alimentar restrito e repetitivo de 
muitos autistas, que podem ser barreiras para a adoção das 
intervenções dietéticas, muito embora tal comportamento 
possa ter sido gerado pela ação neurotóxica de antígenos 
alimentares.
Faz-se necessária maior divulgação à população sobre 
a nutrição clínica funcional, a fim de que políticas públicas 
sejam criadas no sentido de um maior consumo de alimentos 
naturais (frutas, hortaliças, leguminosas), rotação entre 
cereais com e sem glúten, rotação entre laticínios e outras 
fontes nutricionalmente equivalentes, em detrimento dos 
alimentos industrializados.
Destaca-se a essencialidade de outras reabilitações 
terapêuticas destinadas às crianças com espectro autista, 
como psicoterapia, fonoaudiologia, integração sensorial 
e estímulo às atividades de vida diária por terapeuta 
ocupacional, além da intervenção neuropsiquiátrica.
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