Buscar

VELHOS E NOVOS DESAFIOS PARA A SOCIOLOGIA ECONOMICA DO SECULO XXI

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

C
A
D
ER
N
O
 C
R
H
, S
al
va
do
r, 
v.
 2
5,
 n
. 6
6,
 p
. 3
85
-3
90
, S
et
./D
ez
. 2
01
2
385
Cristiano Fonseca Monteiro,
Marcelo Sampaio Carneiro
DO
SS
IÊ
INTRODUÇÃO
Cristiano Fonseca Monteiro*
Marcelo Sampaio Carneiro**
VELHOS E NOVOS DESAFIOS PARA A SOCIOLOGIA
ECONÔMICA NO SÉCULO XXI
O presente dossiê reúne artigos apresenta-
dos no Grupo de Trabalho (GT) de Sociologia Eco-
nômica do XV Congresso Brasileiro de Sociologia,
realizado na cidade de Curitiba em julho de 2011,1
além da tradução de um artigo sobre a Sociologia
dos Mercados de autoria de Neil Fligstein e Luke
Dauter, publicado na Annual Review of Sociology.2
Os trabalhos do GT selecionados para compor
esse dossiê exploram temas relacionados ao con-
ceito mais amplo da imersão social dos proces-
sos econômicos, os diferentes tipos de relação
entre agentes estatais e privados em processos
de desenvolvimento econômico, em setores (te-
lecomunicações) ou regiões (sul fluminense), e
utilizam como ferramentas analíticas principais
a teoria dos campos (Bourdieu, 2000) e a análise
de redes sociais (Lazega, 1998; Lemieux; Ouimet,
2008; Mizruchi, 2009). Assim, a presente intro-
dução explora três temas que caracterizam o con-
junto de artigos reunidos no dossiê: a imersão
social da economia, as ferramentas analíticas
subjacentes aos estudos e o debate sobre
globalização, livre mercado e desenvolvimento.
* Doutor em Sociologia. Professor do Programa de Pós-
Graduação em Administração (campus Volta Redonda)
e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, ambos
na Universidade Federal Fluminense.
Rua Desembargador Ellis Hermydio Figueira, 783, Prédio
1, Sala 307. Aterrado. Cep: 27213-415. Volta Redonda,
Rio de Janeiro – Brasil. fonsecamonteiro@yahoo.com.br
** Doutor em Sociologia. Professor do Programa de Pós-
graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal
do Maranhão. marcelosc@uol.com.br
1 O grupo de trabalho recebeu 72 propostas de comunica-
ções, enviadas por pesquisadores de todas as regiões do
Brasil, além de algumas propostas de colegas da Argenti-
na. Conforme indicação da organização do Congresso,
foram selecionados 36 trabalhos para apresentação, or-
ganizados sob as seguintes rubricas classificatórias: abor-
dagens teóricas e construção social das lógicas econômi-
cas; sociologia dos mercados e formas de coordenação
das atividades econômicas; desenvolvimento: dimen-
sões teóricas e empíricas.
2 Artigo que realiza uma ampla revisão da literatura em
língua inglesa, apresentando as correntes mais consolida-
das na comunidade anglófona a respeito do que os auto-
res chamam de “Sociologia dos Mercados”, não só explo-
rando as zonas de interseção e oposição entre essas cor-
rentes, como também sinalizando os possíveis ganhos
com a incorporação de abordagens em campos próximos,
na Ciência Política e nos Estudos Organizacionais. Uma
limitação que pode ser identificada na obra é seu desco-
nhecimento de importantes contribuições produzidas em
língua francesa sobre a análise de mercados, caso princi-
palmente da análise das convenções (Eymard-Duvernay,
2009; Salais, 2003); da economia das singularidades
(Karpik, 2007) e da teoria dos campos de Pierre Bourdieu
(2000), que é citado no artigo de forma marginal, apenas
como um estudioso da questão do consumo e da firma.
C
A
D
ER
N
O
 C
R
H
, S
al
va
do
r, 
v.
 2
5,
 n
. 6
6,
 p
. 3
85
-3
90
, S
et
./D
ez
. 2
01
2
386
VELHOS E NOVOS DESAFIOS PARA A SOCIOLOGIA...
A questão da imersão social dos proces-
sos econômicos pode ser considerada como um
eixo comum ao conjunto dos estudos apresenta-
dos no dossiê. Este eixo caracteriza aquilo que o
artigo de Neil Fligstein e Luke Dauter demarca
como um dos principais pontos de acordo da
sociologia econômica no estudo de mercados.
Trata-se, ainda, do que Philippe Steiner (2006)
identifica como um das principais críticas feitas
pela nova sociologia econômica à abordagem eco-
nômica tradicional, qual seja, sua incapacidade
em perceber que os fatos econômicos são cons-
truções sociais.
Contudo, como também destacam esses
autores, sublinhar os mercados (ou os fatos eco-
nômicos) como imersos em estruturas sociais (re-
des, campos, arenas e afins) é apenas a primeira
etapa do percurso da sociologização dos estudos
de processos econômicos, cabendo, num segundo
momento, “abrir a caixa preta” do funcionamento
dos diferentes tipos de processos pelos quais os
bens e serviços econômicos são produzidos, dis-
tribuídos e consumidos (Boyer, 2004; Swedberg,
2005; Fligstein; Dauter, neste volume), bem como
a forma como esses bens e serviços são
construídos simbolicamente como econômicos
(Duval; Garcia-Parpet, 2012).
Outra característica comum aos textos sele-
cionados é a utilização de ferramentas analíticas
inspiradas tanto na abordagem bourdieusiana da
teoria dos campos como na análise de redes soci-
ais. A realização de pesquisas baseadas nessas duas
abordagens demonstra, dentre outras coisas, a pre-
ocupação dos autores com a natureza relacional
dos objetos pesquisados, destacando o papel im-
portante dos laços sociais [como capital relacional
ou como capital social (Lazega, 2012)] na
estruturação dos mercados e das estratégias de
desenvolvimento, como pontos de apoio para a
disputa no processo de privatização de uma em-
presa ou no desenvolvimento de estratégias dife-
renciadas no campo da chamada responsabilida-
de social empresarial.
A utilização do conceito de campo, como
espaço social onde se desenvolvem relações de
concorrência e colaboração por participantes que
compartilham a mesmo illusio (Bourdieu, 2000),
pode ser considerada uma das marcas da sociolo-
gia econômica elaborada no Brasil.3 Quanto ao uso
da análise de redes sociais, podemos dizer que,
tanto na perspectiva etnográfica (Eve, 2002; Fry,
2011) quanto na neo-estrutural (Lazega, 1998;
Lemieux; Ouimet, 2008), ela se encontra em está-
gio menos avançado em nosso campo de pesqui-
sa, mas ganhando força, como mostram os traba-
lhos apresentados no GT4 e a publicação recente
de traduções e estudos inspirados nessa perspec-
tiva (Mizruchi, 2009; Lazzarini, 2011).
Em um primeiro momento, a apropriação
do conceito de embeddedness privilegiou uma pers-
pectiva mais microssociológica, analisando a orga-
nização de mercados particulares, seja demonstran-
do os mecanismos que permitem seu funciona-
mento (resolvendo os problemas de coordenação),
seja demonstrando as relações de poder ali consti-
tuídas. Mais recentemente, a Sociologia Econômi-
ca tem se tornado mais aberta aos temas trazidos à
baila pela globalização e pela agenda de liberalização
econômica, abarcando a questão mais geral do de-
senvolvimento econômico. A seleção dos artigos
reunidos neste dossiê reflete essa ampliação de
agenda.
Em artigo introdutório a uma recente edição
de A Grande Transformação (Polanyi, 2001), o soci-
ólogo norte-americano Fred Block (2001) chama aten-
ção para a contribuição dessa obra seminal para o
debate sobre os desafios colocados aos atores públi-
cos e privados em um contexto de globalização eco-
nômica e retomada da agenda de livre mercado.
3 O levantamento da produção bibliográfica de artigos clas-
sificado sob a rubrica da sociologia econômica realizado
por Edmilson Lopes Junior (2012), apresentado no Gru-
po de Trabalho, mostra Mark Granovetter e Pierre
Bourdieu como os autores contemporâneos mais cita-
dos. O volume elevado de citações de Mark Granovetter
poderia servir como indicador da pujança dos estudos
baseados na metodologia ou no paradigma da análise de
redes sociais. Contudo, como mostra esse mesmo le-
vantamento, os temas da produção bibliográfica classifi-
cados como “Instituições, Organizações e Redes”, que
são associados ao nome desse autor, representam so-mente 22,72% do conjunto.
4 Caso dos trabalhos de Minella (2011), Cenerino e Nasci-
mento (2011) e Carbonai (2011), além de Silva e Neves,
neste volume.
C
A
D
ER
N
O
 C
R
H
, S
al
va
do
r, 
v.
 2
5,
 n
. 6
6,
 p
. 3
85
-3
90
, S
et
./D
ez
. 2
01
2
387
Cristiano Fonseca Monteiro,
Marcelo Sampaio Carneiro
Trata-se, com efeito, da retomada do movimento
em direção ao disembedment da economia, aban-
donado as estratégias de autoproteção persegui-
das, principalmente nos países desenvolvidos,
no contexto do pós-guerra. Escrevendo na vira-
da para a década de 2000, Block (2001) refletiu
sobre os processos de ruptura do tecido social
provocados pela disseminação da agenda
neoliberal, assim como apostou nos movimen-
tos contra-hegemônicos como possíveis caminhos
por meio dos quais a sociedade estaria em busca
de sua autoproteção.
Nesse novo contexto, Block (2001) sugeriu
que a obra de Karl Polanyi poderia ser inspiradora
também para uma sociologia econômica mais
engajada no debate sobre os rumos do capitalismo
(Nee; Swedberg, 2005, 2007), capaz de refletir so-
bre os desafios da regulação dos mercados em tem-
pos de globalização e financeirização, assim como
sobre os riscos representados pela adesão ampla e
irrestrita ao que Polanyi chamou de “utopia do li-
vre mercado”. A crise de 2008 e suas repercus-
sões confirmariam a urgência do engajamento da
sociologia econômica nesse debate. O livro Markets
on trial:the economic sociology of the US financial
crisis, em dois volumes (Lounsbury, Hirsch, 2010),
é um dos marcos desse engajamento, contando com
a participação de expoentes da vertente anglófona
da disciplina, tais como Neil Fligstein, Richard
Swedberg, Bruce Carruthers, Frank Dobbin, Mark
Mizruchi, Michel Abofalia, Marc Schneiberg e
Nicole Woosley Biggart, além do próprio Fred Block.
Coletâneas e artigos mais recentes têm
enfatizado a crítica à “utopia do livre mercado”,
explorando o tema do papel ativo do Estado na
constituição e criação de mercados e setores eco-
nômicos de uma perspectiva teórica (Block, Evans,
2005) e com base em pesquisas empíricas. Um dos
temas privilegiados nessa vertente é o papel ativo
do Estado na economia norte-americana, contrari-
ando o senso comum que costuma associar esse
tipo de capitalismo a uma espécie de liberalismo
puro. Assim, Fligstein (2005) discute o papel do
Estado americano na constituição do shareholder
value e na promoção do desenvolvimento da in-
dústria mais inovadora que floresceu em torno do
Vale do Silício, enquanto Dobbin e Dowd (2000)
discutem o papel da legislação antitruste na con-
formação do mercado de transporte ferroviário entre
o século XIX e o início do século XX. Mais recente-
mente, Fred Block (2008) falou de um “estado
desenvolvimentista escondido” nos Estados Uni-
dos, explorando o papel de agências públicas fede-
rais e regionais no financiamento, seleção e estímu-
lo ao desenvolvimento de projetos que, contrarian-
do o discurso pró-mercado e anti-intervencionismo
estatal da política norte-americana a partir de
Reagan, fomentaram setores específicos e criaram
empresas e produtos com maior capacidade de
competir no contexto do capitalismo global.
Um olhar mais atento aos desafios políticos
advindos com a globalização e a “utopia do livre
mercado” nos remete a temas tratados tanto neste
dossiê como entre outros trabalhos apresentados
no GT de Sociologia Econômica. Chamamos aten-
ção, em especial, para a forma como tais mudan-
ças impactam na dinâmica interna das organiza-
ções (Pedroso Neto, neste volume; Carbonai, 2011),
na relação entre Estado e setores econômicos espe-
cíficos (Mocelin, Barcelos, neste volume; Cruz,
2011) e na questão do desenvolvimento regional
(Lima, neste volume; Garcia, 2011).
A leitura dos artigos publicados neste dossiê
deve servir, por um lado, como uma amostra da
produção recente, permitindo um contato com te-
mas e abordagens teórico-metodológicas privilegi-
ados pela Sociologia Econômica no Brasil, acresci-
dos da revisão bibliográfica empreendida por
Fligstein e Dauter (2007) acerca da literatura em
língua inglesa. Por outro lado, essa leitura pode
servir também como um convite e um estímulo para
que mais estudantes e pesquisadores participem
ativamente do debate. Nesse sentido, acreditamos
que os textos selecionados, cada um à sua maneira,
contribuem para o enfrentamento das questões dis-
cutidas anteriormente, alargando o campo da pes-
quisa empírica em Sociologia Econômica.
O artigo que abre o dossiê denomina-se A
privatização de uma empresa: uma ação econômi-
ca enraizada nas relações sociais e foi escrito por
C
A
D
ER
N
O
 C
R
H
, S
al
va
do
r, 
v.
 2
5,
 n
. 6
6,
 p
. 3
85
-3
90
, S
et
./D
ez
. 2
01
2
388
VELHOS E NOVOS DESAFIOS PARA A SOCIOLOGIA...
Antonio Pedroso Neto. Nele, seu autor descreve
o processo de privatização em uma empresa do
setor elétrico paulista, destacando o movimento
interno desse processo, as formas pelas quais os
dirigentes (por ele designados de alto clero) lo-
graram impor um conjunto de ações
modernizantes nessa empresa. A partir de uma
abordagem inspirada na teoria dos campos, ana-
lisa as diferentes etapas de modernização vivi-
das pela empresa, destacando a capacidade de o
alto clero impor sua visão sobre a necessidade
da adaptação da empresa ao futuro iminente (a
privatização), frente à resistência movida pelo
movimento sindical e por outros agentes no in-
terior da empresa. Nesse relato, destaca o êxito
luta cognitiva movida por esses dirigentes, um
processo capaz de atrair parcelas do baixo clero
para sua proposta, ao mesmo tempo em que es-
tigmatizou seus oponentes, sublinhando o resul-
tado paradoxal do processo de reengenharia pré-
privatização, que fragilizou a importância do alto
clero para os futuros proprietários da empresa.
O texto de Daniel G. Mocelin e Regis L. G.
Barcelos, Tecnologia, competitividade e regulação:
a estruturação do mercado de telecomunicações no
Brasil, discute a estruturação do mercado de teleco-
municações no período posterior ao processo de
privatização, destacando o papel dos diferentes agen-
tes sociais (Estado, empresas e consumidores) na
construção do ambiente político-institucional que
define os parâmetros da regulação desse setor. Os
autores chamam atenção para o forte crescimento
do setor, apontando para uma relação complemen-
tar entre a ação estatal e o desempenho empresari-
al, sem, contudo, entrarem no mérito de disputas
recentes sobre a qualidade dos serviços prestados
pelas operadoras da telefonia móvel.
O artigo de Raphael Jonatha Lima, Estraté-
gias integradas de regeneração em regiões industri-
ais: uma aproximação com a conjuntura pós-dé-
cada de 1990 no Sul Fluminense, analisa a tentati-
va de construção de formas coletivas de governança
territorial em regiões marcadas por processo de
desindustrialização. Tomando o exemplo da região
sul fluminense no estado do Rio de Janeiro,
marcada pelo declínio de um polo econômico tra-
dicional (Volta Redonda) assentado na siderurgia,
o autor destaca as dificuldades de concertação en-
tre os diferentes atores políticos, chamando aten-
ção para as disputas locais entre um polo em
declínio e um polo em ascensão, baseado na pro-
dução automobilística sediada nos municípios de
Resende e Porto Real. Apesar de constatar o
insucesso na criação de um movimento de desen-
volvimento regional (a experiência do Mercovale),
o autor sugere que esse processo lançou as semen-
tes da necessidade da construção de instituições
regionais para enfrentar os desafios da de indus-
trialização e da emergência de um novo centro di-
nâmico na economia regional.
Da filantropia ao investimento social respon-
sável: novas distinções, texto escrito por Marina
de Souza Sartore, abordao processo de diferenci-
ação das práticas sociais empresariais relaciona-
das com os temas do desenvolvimento sustentá-
vel, da responsabilidade empresarial e do investi-
mento responsável, num espaço social marcado
por relações de cooperação e competição. Com base
na análise dos capitais e da trajetória dos princi-
pais agentes envolvidos nas iniciativas empresari-
ais (Fundação Abrinq, Instituto Ethos, CEBDS, ISE
etc.), a autora propõe critérios para classificar as
diferentes estratégias adotadas, chamando atenção,
dentre outros aspectos, para a diferença de nature-
za geracional que recobre algumas das principais
transformações das intervenções empresariais no
campo das práticas sociais.
O artigo de Gustavo M. Silva e Jorge A. B.
Neves, Sistemas produtivos tradicionais e imersão
de interesses econômicos em relações sociais, abor-
da o funcionamento do mercado de tecelagem tra-
dicional do município de Resende Costa (Minas
Gerais), descrevendo o funcionamento das redes
estabelecidas entre os produtores domésticos, os
fornecedores de insumos e os compradores dos
produtos da atividade de tecelagem. Através da
utilização das técnicas de pesquisa e dos concei-
tos da análise estrutural de redes sociais, os auto-
res destacam o papel desempenhado pelos laços
familiares no funcionamento desse mercado, atra-
C
A
D
ER
N
O
 C
R
H
, S
al
va
do
r, 
v.
 2
5,
 n
. 6
6,
 p
. 3
85
-3
90
, S
et
./D
ez
. 2
01
2
389
Cristiano Fonseca Monteiro,
Marcelo Sampaio Carneiro
vés do estabelecimento de relações de confiança
entre os integrantes da rede e da mobilização dos
recursos necessários para o funcionamento da ati-
vidade produtiva.
***
Além dos artigos selecionados para o pre-
sente dossiê, gostaríamos de destacar como indi-
cador da qualidade dos trabalhos que têm sido
apresentados no Grupo de Trabalho de Sociologia
Econômica dos Congressos da Sociedade Brasilei-
ra de Sociologia, a publicação em dossiê de traba-
lhos apresentados no evento anterior, realizado
em 2009, na cidade do Rio de Janeiro (Carneiro;
Monteiro, 2010), de artigos apresentados no even-
to de Curitiba, mas que foram convidados para
outras publicações (Santos, 2011; Carneiro; 2012),
bem como a seleção do estudo apresentado por
Lopes Junior (2012), que realiza um balanço da
produção bibliográfica classificada como sociolo-
gia econômica realizada no Brasil, no período com-
preendido entre os anos de 2000 a 2010, para inte-
grar livro contendo artigos indicados pelos coor-
denadores dos grupos de trabalho do Congresso
Brasileiro de Sociologia (SBS), realizado em
Curitiba.5
Tem sido uma característica dos fóruns de
Sociologia Econômica, tanto no Brasil como no
exterior, a diversidade de temas, abordagens e
metodologias. Essa diversidade já foi interpretada
por alguns críticos como uma deficiência da Soci-
ologia Econômica, pois lhe faltaria uma identida-
de em torno de um corpo teórico e de uma
metodologia específicos (Ingham, 1996). O perfil
plural de encontros internacionais – como as reu-
niões da Society for the Advancement of Socio-
Economics –, a diversidade de temas e questões
tratadas nas principais coletâneas da área
(Handbook of Economic Sociology e afins) e os
diferentes problemas empíricos tratados sob a ru-
brica da Sociologia Econômica, ao longo dos últi-
mos anos, confirmam que essa é uma característi-
ca desse campo de conhecimento. Nosso entendi-
mento é que essas características constituem a ri-
queza e a força da Sociologia Econômica no mun-
do todo. No Brasil, não poderia ser diferente.
(Recebido para publicação em 20 de agosto de 2012)
(Aceito em 24 de agosto de 2012)
REFERÊNCIAS
BLOCK, Fred. Swimming against the current: the rise of
a hidden developmental state in the United State. Politics
& Society, Califórnia, v. 36, n. 2, p. 169-206, jun., 2008.
______. Introduction. In: POLANYI, Karl. The great
transformation: the political and economic origins of our
time. Boston: Beacon Press, 2001. p. 18-38.
______; EVANS, P. The state and the economy. In:
SMELSER, Neil; SWEDBERG, Richard (Ed.). The
handbook of economic sociology. 2. edi. Princeton:
Princeton University Press, 2005. p. 505-551.
BOURDIEU, Pierre. Les structures sociales de l’économie.
Paris: Seuil, 2000.
BOYER, Robert. Une théorie du capitalisme est-elle
possible? Paris: Odile Jacob, 2004.
CARBONAI, Davide. Os administradores em comum: uma
análise comparada dos capitalismos europeus em rede.
In: Congresso Brasileiro de Sociologia, 15, 2011, Curitiba.
Anais... Curitiba: SBS, 2011. Disponível em: http://
cursos.unipampa.edu.br/cursos/cienciapolitica/files/2011/
04/2011_0_3_91.pdf. A cesso em: 12 dez. 2012.
CARNEIRO, Marcelo D. Entre o estado, a sociedade e o mer-
cado: análise dos dispositivos de governança da indústria
florestal na Amazônia. Cad. CRH, Salvador, v. 25, n. 64, p.
73-86, jan./abr., 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/
pdf/ccrh/v25n64/06.pdf. Acesso em: 12 dez. 2012.
CARNEIRO, Marcelo D.; MONTEIRO, Cristiano. Redes,
estratégias e desenvolvimento: caminhos da renovação
da sociologia econômica no Brasil. Revista Pós Ciências
Sociais, v. 7, n. 13, p. 9-12, 2010. Disponível em: http://
www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rpcsoc/
article/viewFile/138/127. Acesso em: 12 dez. 2012.
CENERINO, Alessandra; NASCIMENTO, Mauricio. For-
mação de estrutura de redes sociais e inovação: um estu-
do da incubadora Tecnológica de Maringá. In: Congresso
Brasileiro de Sociologia, 15., 2011, Curitiba. Anais...
Curitiba: SBS, 2011.
CRUZ, Verônica. Estado, mercado e (des)regulação da saú-
de suplementar no Brasil. In: Congresso Brasileiro de Soci-
ologia, 15., 2011, Curitiba. Anais... Curitiba: SBS, 2011.
DOBBIN, Frank; DOWD, Tomothy. The market that
antitrust built: public policy, private coercion, and railroad
acquisitions, 1825 to 1922. American Sociological Review,
Washington, v. 65, n. 5, p. 631-657, out., 2000.
DUVAL, Julien; GARCIA-PARPET, Marie-France. Les
enjeux symboliques des échanges économiques. Revue
Française de Socio-Economie, Lille, n.10, p. 13-28, 2012
EVE, Michael. Deux traditions d’analyse des réseaux
sociaux. Réseaux, Paris, n. 115, p. 183-212, 2002.
5 A partir das discussões realizadas nos dois últimos con-
gressos da SBS, integrantes do Grupo de Trabalho de
Sociologia Econômica lançaram um blog na rede mun-
dial de computadores, com o objetivo de facilitar o inter-
câmbio entre os pesquisadores. Atualmente, esse blog é
coordenado pelos professores Marina Sartore e João
Martins Ladeira(SOCIOLOGIA, 2012).
C
A
D
ER
N
O
 C
R
H
, S
al
va
do
r, 
v.
 2
5,
 n
. 6
6,
 p
. 3
85
-3
90
, S
et
./D
ez
. 2
01
2
390
VELHOS E NOVOS DESAFIOS PARA A SOCIOLOGIA...
EYMARD-DUVERNAY, F. L’économie des conventions
entre économie et sociologie: l’homme conventionalis
calcule et parle. In: STEINER, Philippe; VATIN, François
(Ed.). Traité de sociologie économique. Paris: PUF, 2009. p.
131-164.
FLIGSTEIN, N. States, markets, and economic growth.
In: NEE, Victor; SWEDBERG, Richard (Org.). The
economic sociology of capitalism. Princeton: Princeton
University Press, 2005. p. 119-143.
________; DAUTER, Luke. Sociology of markets. Annual
Review of Sociology, v. 33, p. 105-128, ago., 2007.
FRY, Peter. Nas redes antropológicas da Escola de
Manchester: reminiscências de um trajeto intelectual.
Iluminuras, Porto Alegre, v. 12, n. 27, p. 1-13, 2011. Dis-
ponível em: http://seer.ufrgs.br/iluminuras/article/view/
20854/11987. Acesso em: 12 dez. 2012.
GARCIA, Sandro. Conhecimento, inovação e desenvol-
vimento do setor naval no Rio Grande do Sul. In: Con-
gresso Brasileiro de Sociologia, 15, 2011, Curitiba. Anais
eletrônicos... Curitiba: SBS, 2011.
INGHAM, Geoffrey. The “new economic sociology”. Work,
employment & society, v. 10,n. 3, p. 549-564, set., 1996.
KARPIK, Lucien. L’économie des singularités. Paris:
Gallimard, 2007.
LAZEGA, Emmanuel. Réseaux sociaux et structures
relationnelles. Paris: PUF, 1998.
________. Analyses de réseaux et classes sociales. Revue
Française de Socio-Economie, Lille, n. 10, p. 273-279,
2012
LAZZARINI, Ségio. Capitalismo de laços: os donos do
Brasil e suas conexões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
LEMIEUX, Vicent; OUIMET, Mathieu. Análise estrutural
das redes sociais. Lisboa: Instituto Piaget, 2008.
LOPES JUNIOR, E. Um balanço da sociologia econômica
brasileira (2000-2010). In: RASIA, José; SALLAS, Ana;
SCALON, Celi (Org.). Temas da sociologia contemporâ-
nea. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012. p. 139-154.
LOUNSBURY, Michael; HIRSCH, Paul (Org.). Markets on
trial: the economic sociology of the US financial crisis.
New York: Emerald, 2010. 2 v.
MINELLA, Ary. Análise de redes sociais, classes sociais e
marxismo. In: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pes-
quisa em Ciências Sociais – ANPOCS, 35º. Caxambu, MG.
Out. 2011.
MIZRUCHI, M. Análise de redes sociais: avanços recentes
e controversias atuais. In: MARTES, Ana C. B. (Org.).
Redes e sociologia econômica. São Carlos: EdUFSCAR,
2009. p. 131-160.
POLANYI, Karl. The great transformation: the political
and economic origins of our time. Boston: Beacon Press,
2001.
NEE, Victor; SWEDBERG, Richard (Org.). On capitalism.
Stanford: Stanford University Press, 2007.
________. (Org.). The economic sociology of capitalism.
Princeton: Princeton University Press, 2005.
SALAIS, R. Postface. In: STANZIANI, Alessandro;
MINARD, Philippe (Ed.). La qualité des produits
alimentaires en France (XVIIIe-XXe siècles). Paris: Belin,
2003. p. 271-290.
SANTOS, Rodrigo. Redes de Produção Globais (RPGs): con-
tribuições conceituais para a pesquisa em ciências sociais. R.
Pós Ci. Soc., São Luis, v. 8, n. 15, p. 127-141, jan./jun., 2011.
Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/
index.php/rpcsoc/article/viewFile/589/336. Acesso em: 12
dez. 2012.
SOCIOLOGIA Econômica no Brasil. Disponível em: http:/
/sociologiaeconomicanobrasil.wordpress.com/a-rede/.
Acesso em: 12 dez. 2012.
STEINER, Philippe. A sociologia econômica. São Paulo:
Atlas, 2006.
SWEDBERG, Richard. The economic sociology of
capitalism. An introduction and agenda. In: NEE, Victor;
SWEDBERG, Richard (Org.). The economic sociology of
capitalism. Princeton: Princeton University Press, 2005.
p. 3-40.
Cristiano Fonseca Monteiro – Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor
do Programa de Pós-Graduação em Administração (campus Volta Redonda) e do Programa de Pós-Graduação
em Sociologia, ambos na Universidade Federal Fluminense. Tem publicado artigos e capítulos de livro sobre
diferentes aspectos da relação entre Estado e mercado no transporte aéreo brasileiro. Publicou recentemente
“Political dynamics and liberalization in the Brazilian air transport industry: 1990-2002”, na Brazilian
Political Science Review (2011) e organizou, em co-autoria, o Dossiê “Redes, estratégias e desenvolvimento:
caminhos da renovação da Sociologia Econômica no Brasil”, Revista Pós Ciências Sociais (2010). Coordena,
atualmente, junto com Marcelo S. Carneiro, o Grupo de Trabalho de Sociologia Econômica nos encontros da
Sociedade Brasileira de Sociologia.
Marcelo Sampaio Carneiro – Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com estágio
na École de Hautes Études en Sciences Sociales (França). Professor Adjunto do Programa de Pós-graduação
em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão. Publicou recentemente (em co-autoria) os livros:
“A terceira margem do rio: ensaios sobre a realidade do Maranhão no novo milênio” (EDUFMA, 2009) e “A
agricultura familiar da soja na região sul e o monocultivo no Maranhão” (FASE, 2008) e, os artigos: “Entre o
estado, a sociedade e o mercado. Análise dos dispositivos de governança da indústria florestal na Amazônia”,
Caderno CRH (UFBA), 2012 e “Práticas, discursos e arenas. Notas sobre a socioantropologia do desenvolvi-
mento”, Sociologia & Antropologia (UFRJ), 2012.

Outros materiais