Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Doença de Chagas Trypanosoma cruzi PARASITOLOGIA Tripanossomíase americana, esquizotripanose ou Doença de Chagas. Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas • Integrante da equipe de Oswaldo Cruz no estudo sobre o controle de malária; • 1907 – 1909: mico – encontrou hemoflagelados – Trypanossoma minasensi (exclusivo de micos); • “chupões” ou “barbeiros” – suspeitando que a transmissão do parasito era feita por esses vetores. 1º Caso no Brasil • 14/04/1909: Berenice de 2 anos de idade, febril – Carlos Chagas: descobriu em seu sangue o mesmo protozoário; • Mãe da criança o informou que ela havia sido sugada por um barbeiro; • Parasitas retirados do sangue da menina – inoculados em animais que desenvolveram a infecção. • Determinação da espécie: T. cruzi 4 53 anos depois... • Sangue de Berenice foi analisado – encontrado parasito – mas sem alterações físicas da paciente; • Considerada forma indeterminada da doença de Chagas – assintomática; • Morreu 11/09/82 – com 75 anos – não foi realizada necrópsia – sua morte não poderia ser atribuída à infecção. 5 Doença de Chagas Distribuição Global – Epidemiologia Infectados: 12 -14 milhões na América Latina 18 países endêmicos Mortes: 14.000 anualmente Casos novos: 810 mil Complicações crônicas: 2-3 milhões de casos Pessoas em risco: 60 milhões Invalidez por incapacitação física Uma das principais causas de morte súbita Parasita heteroxeno, Desenvolve-se no tubo digestivo de triatomíneos (hemípteros hematófagos), no sangue e nos tecidos de diferentes mamíferos (marsupiais – gambá, desdentados – tatu, quirópteros – morcego, roedores – rato, primatas – macaco – coelho, carnívoros – cão e gato) Não infecta aves nem répteis Multiplica-se por divisão binária (assexuada) MORFOLOGIA: Amastigota: - Intracelular (tecidos do hospedeiro vertebrado) Epimastigota: -Intestino posterior de triatomíneos, -Em meios de cultura Tripomastigota: -Sangue circulante -Fezes do triatomíneo -Em meios de cultura Morfologia tripomastigota amastigota T. cruzi Epimastigota 10 No inseto Tripomastigotas sanguíneos Formas infectantes no hospedeiro vertebrado e depende da cepa: -Formas largas (menos patogênicas) -Formas finas e delgadas (mais patogênicas) Forma fina – cerca de 20µm de comprimento por 2µm de largura. Aspecto de “S” Forma larga - cerca de 12µm de comprimento por 4µm de largura. Aspecto de “C” Vários T. cruzi no momento em que se aderem a uma fibra muscular cardíaca 12 T. cruzi (P) sobre uma hemácia do sangue de camundongos infectados 13 Multiplicação do T. cruzi no interior das células musculares, sob a forma de amastigota 14 Tripomastigota Amastigotas Epimastigotas Barbeiro se alimentando As formas tripomastigotas metacíclicas do T. cruzi encontram-se em suas fezes Transmissão Vetorial Tripomastigotas penetram através das mucosas, conjuntivas ou de qualquer solução de continuidade da pele Transplacentária – amastigotas na placenta – liberação de tripomastigotas – circulação fetal Leite materno Oral Triatomíneos Transmissão Transfusão de sangue Transplante de órgãos – amastigotas Acidentes de laboratório Relação parasita-hospedeiro (vetor) Fases da Doença: - Fase Aguda: (sintomática ou assintomática) a) Manifestações locais: * Sinal de Romaña * Chagoma de inoculação - Fase Crônica: * Assintomática: (“indeterminada”) * Sintomática: lesões nos sistemas cardiocirculatório e digestivo Sintomatologia e Formas Clínicas da Doença de Chagas • Fase aguda – Oligossintomática – febre pouco característica e reduzida em resposta celular aos antígenos do T.cruzi; – Indivíduos jovens (primeiros anos de vida:+++); – Tripanossomos facilmente encontrados no sangue • Febre • Sensação de fraqueza • Poliadenite – inflamação dos gânglios linfáticos • Aumento do fígado e baço Fase Aguda – Sinal de Romaña • Marca o começo da doença; • Edema bipalpebral e unilateral; • Instala-se rapidamente; • Conjuntivite e lacrimejamento; • Pode estender-se a toda a face. Sinal de Romaña Aguda - Sintomática - Sinais de entrada Sinal de Romaña - Chagoma primário Pele Paciente com chagoma de inoculação Classificação clínica • A idade média em que se adquire a doença é de 4 anos; 85% dos casos agudos ocorre em crianças < 10 anos; a susceptibilidade é universal • Período de incubação: 5 a 14 dias da picada p/ a forma aguda, > 10 anos p/ forma crônica; 30 a 40 dias p/ aquisição transfusional • Apenas 10 a 30% dos que tem infecção por T.cruzi terão a doença de Chagas sintomática; a maior parte com cardiopatia, só 15 a 20% com megas. • Mortalidade de 12% na forma aguda Sinal de Romaña FASE AGUDA Formas Cardíacas Agudas Graves – Taquicardia ou outras alterações do ritmo; – Aumento da área cardíaca; – Sinais de insuficiência circulatória Mortalidade elevada em crianças < 5 anos Ninhos de amastigotas grandes e alongados no interior das fibras musculares cardíacas Rompimento dos ninhos -Miocardite -Lesões isquêmicas -Enfartes microscópicos -Céls nervosas ganglionares lesadas Fase Crônica da Doença de Chagas • Formas indeterminadas – 50-70% dos casos; – Assintomática desde o início ou sobreviventes da infecção aguda; • Reação sorológica / xenodiagnóstico positivos; – Prognóstico incerto (podem evoluir para formas crônicas típicas ou permanecer latentes). • Formas oligossintomáticas – Sintomatologia pobre (difíceis de diagnosticar); – Pacientes descobertos ocasionalmente, durante inquéritos epidemiológicos. • Formas crônicas sintomáticas Formas crônicas sintomáticas • Podem seguir-se imediatamente ao período agudo ou instalar-se após um intervalo variável de muitos anos (10 a 30 anos) – Podem também instalar-se sem que tenha havido um período agudo característico • Duas formas são importante pela freqüência e gravidade – Cardiopatia crônica – Casos com megas Megas Adquiridos, frequentemente vistos no Brasil e em várias outras regiões da América do Sul, são manifestações tardias da doença de Chagas e se desenvolvem como resultado da DESTRUIÇÃO IRREVERSÍVEL DE CÉLULAS GANGLIONARES PERIFÉRICAS DO SISTEMA NERVOSO AUTONÔMICO E/OU CENTRAL durante a fase aguda da doença. Nas vísceras ocas a destruição de células ganglionares provoca, com o passar do tempo, o aparecimento das dilatações, hipertrofias e alongamentos caracterizando as enteromegalias. Cardiopatia crônica 31 Tecido cardíaco com sinais inflamatórios da fase aguda - Áreas inflamadas e necrosadas -Tromboses -Fibrose difusa (substituição de elementos musculares por tecido conjuntivo) – Redução da força de contração do coração – Mecanismos compensadores: -Hipertrofia das fibras musculares -Aumento do volume cardíaco: dilatação das cavidades e hipertrofia da parede o órgão – Destruição do SNA simpático e parasimpático – Taquicardia – Aneurisma de ponta – Bloqueio parcial ou total do ramo direito do feixe de His (patognomônico da doença de Chagas). Bloqueio total dos ramos: morte súbita – Má irrigação cerebral: ataques convulsivos (Síndrome de Stokes-Adams) Radiografia torácica de um paciente chagásico, 40 anos de idade, que apresenta grande aumento do volume cardíaco devido a doença de Chagas Corações chagásicos crônicos Forma indeterminada Morte súbita por bloqueio dos feixes de His Morte por insuficiência cardíaca Fase crônica: Miocardite chagasica Cardiopatias Coração chagásico com aneurisma de ponta Nas formas graves, o coração é geralmente o órgão mais afetado. Seu volume fica aumentado e com as paredes delgadas (A). Eventualmente com um aneurisma em sua ponta (B). Pode haver, então, a formação de um trombo, com risco elevado de causar embolias. B A Fotos do Dr. H. Lenzi, FIOCRUZ Forma digestiva crônica Podem começar a se manifestar de 1-3 meses após a fase aguda Essa manifestação (megas) pode acometer o esôfago e o cólon 1. Destruição dos neurônios ganglionares formadores do peristaltismo Alteração da progressão do bolo alimentar ou fecal (cada vez se torna mais lento) 2. Hipertrofia muscular Dilatação e atonia MEGACÓLON OU MEGAESÔFAGO Radiografia, com contraste, do esôfago de doente com tripanossomíase americana e megaesôfago Visão lateral: órgão dilatado em toda sua extensão Megaesôfagos chagásicos Graus de dilatação Indivíduo normal Casos com megas Podem começar a se manifestar de 1-3 meses após a fase aguda • Colopatias – Lesões intestinais; – Constipação; – Agravamento dos sintomas – lavagens intestinais; • Megacólon – Freqüentemente associado ao megaesôfago; – Fecalomas - Acúmulo de fezes muito endurecidas e secas no final do intestino grosso; Megacólons 41 Megacólons Megacólons Resposta imune/inflamatória Interação parasita/célula Rompimento Liberação de fragmentos celulares e antígenos parasitários Inflamação focal aguda proporcional aos ninhos de parasitas Formação de Ac IgG e IgM Redução da parasitemia DIAGNÓSTICO: - Laboratorial: *Fase aguda: Pesquisa do parasito Sorológico *Fase crônica: Pesquisa do parasito (Xenodiagnóstico - método de diagnóstico usado para documentar a presença de um patógeno causador de uma doença infecciosa pela exposição de material infectado a um vetor); Hemocultura; Inoculação em camundongos; Sorológico Diagnóstico da infecção Outras técnicas possíveis são a hemocultura e a PCR, se bem que esta última não tenha entrado ainda na rotina diagnóstica. Diagnóstico clínico Diagnóstico Laboratorial 47 Xenodiagnóstico Tratamento - Poucas drogas, pouco eficiente e altamente tóxicas 1. Nirfutimox, benzonidazol (controvérsia) 1. Os recursos terapêuticos estão em aliviar os sintomas e não provocam a cura: anti-arritmia do coração, intervenção cirúrgica do megaêsofago ou cólon. Epidemiologia Ecossistema exclusivamente americano; Sul dos EUA até sul da Argentina; Encontra-se em todos os territórios habitados por triatomíneos; A doença de Chagas humana é limitada aos lugares onde houve a domiciliação dos triatomíneos; 90 milhões - áreas de risco; 16 a 18 milhões estão infectadas; Os insetos vetores Hemípteros da subfamília Triatominae 1. Espécies estritamente silvestres 2. Espécies semidomiciliares ou peridomiciliares 3. Espécies predominantemente domiciliárias Brasil, os principais vetores são: Triatoma infestans (de hábitos domésticos) e Panstrongylus megistus (doméstico ou silvestre, segundo as regiões). Várias outras espécies silvestres, que transmitem a infecção entre os animais, podem contaminar pessoas que penetrem no ecossistema onde vivem. Ou quando, por acaso, esses insetos invadem as casas, como faz o Triatoma braziliensis, de hábitos peri-domésticos e o principal transmissor da infecção em todo o Nordeste do Brasil. T. infestans P. megistus A doença de Chagas se mantém na América Latina não como uma fatalidade da natureza, mas sim como resultado da organização sócio-política-econômica dos seus povos. 1. Utilização de mosquiteiro 2. Educação da população para os seguintes aspectos: como é a transmissão, evolução e prevenção da doença. 3. Medidas de reinvindicação de saúde urbana e de moradia saudável Construção de casas decentes que torne o barbeiro transmissor não-domiciliável Leituras complementares ALENCAR, J.E. – História Natural da Doença de Chagas no Estado do Ceará. Fortaleza, Imprensa Universitária da UFC, 1987 [341 páginas]. DIAS, J.C.P & COURA, J.R. – Clínica e Terapêutica da Doença de Chagas. Uma abordagem prática para o clínico geral. Rio de Janeiro, FIOCRUZ, 1997 [486 páginas]. REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2002 [380 páginas]. REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Guanabara- Koogan-, 2001 [856 páginas]. SILVEIRA, A.C. e outros – O controle da Doença de Chagas nos Países do Cone Sul da América. História de uma iniciativa internacional, 1991-2001. Uberaba, Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, 2002 [316 páginas]. WORLD HEALTH ORGANIZATION – Control of Chagas Disease. WHO Technical Report Series, 905. Geneva, WHO, 2002 [109 páginas]. REY, L. Parasitologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. NEVES, DP Parasitologia Dinâmica. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2005. DE CARLI, GA. Parasitologia Clínica: Seleção de Métodos e Técnicas de Laboratório para o Diagnóstico das Parasitoses Humanas. São Paulo: Atheneu, 2001. MARCONDES, CB. Entomologia médica e veterinária. São Paulo: Atheneu, 2005. CAMARGO, LMA; BASANO, SA. Leishmaniose tegumentar americana: histórico, epidemiologia e perspectivas de controle. Rev. bras. epidemiol. vol.7 no.3 São Paulo Sept. 2004. Yrla Nívea Oliveira PEREIRA, YNO; MORAES, JLP; LOROSA, ES; REBÊLO, JMM. Preferência alimentar sanguínea de flebotomíneos da Amazônia do Maranhão, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(9):2183-2186, set, 2008. Sistema de Vigilância em Saúde (SVS) – Ministério da Saúde. Programa Nacional de Vigilância e Controle das Leishmanioses. Disponível em: www.saude.gov.br/svs Centers for Disease Control and Prevention. www.cdc.gov World Health Organization – Programmes and Projects Leishmaniasis. www.who.int/leishmaniasis Referências bibliográficas
Compartilhar