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Pedido de revogação de prisão preventiva

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 8ª VARA CRIMINAL DE JOÃO PESSOA.
NOME DO REQUERENTE, CGENILSON DO NASCIMENTO brasileiro, portador do RG nº _567.456-9_, inscrito sob CPF nº 456.897.546-09, residente e domiciliado nesta capital, por intermédio de seu bastante advogado que a esta subscreve, vem respeitosamente perante a elevada presença de Vossa Excelência, expor e ao final requerer PEDIDO DE REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA, aduzindo em suas razões o quanto segue;
1) SÍNTESE DOS FATOS
O requerente teve a sua prisão decretada mediante decisão deste juízo no dia 02/03/2018.
A prisão do acusado foi decretada para assegurar a aplicação da lei penal e a conveniência da instrução criminal, em face de notícia de suposta subtração de celulares e e quantia em espécie.
2) DO DIREITO
O REQUERENTE, ora acusado, é pessoa íntegra, pai de família (certidão de nascimento em anexo), trabalhador, de bons antecedentes, eis que cumpre sua pena de forma integral, já estando inclusive em fase final de cumprimento. Não bastassem os antecedentes, a biografia, e a conduta do Acusado, que, como já dito anteriormente o requerente tem um bom comportamento e tem vínculos constituídos no distrito da culpa.
E mais, o REQUERENTE não pretende se furtar à aplicação da lei penal, nem obstaculizar o restante das investigações, uma vez que possui residência fixa nesta comarca, nesta capital. Inclusive, como dito anteriormente, vem cumprindo pena de forma regular, sem qualquer questionamento negativo, Presidio do ROGER localizado nesta capital.
Assim Excelência, com a devida vênia, não se apresenta como medida justa o encarceramento de pessoa cuja conduta sempre pautou na honestidade e no trabalho, conforme se comprova com as assinaturas em sua carteira de trabalho em anexo.
Saliente-se inicialmente que o processo penal cautelar (compreensivo das denominadas medidas cautelares pessoais entre as quais se alinha a prisão preventiva) na busca da compatibilização dos interesses conflitantes em tal seara (de um lado o interesse do acusado de ver-se livre e, de outro, o interesse de segurança da sociedade), sem que se ultrapasse o limite do necessário na lesão ao direito individual que todos têm à liberdade, estabelece uma série de parâmetros aplicativos interdependentes convencionalmente qualificados como princípios, a serem observados quando a referência é feita à adoção ou não das medidas de cautela, valendo ressaltar entre tais princípios, o da necessidade. 
Analisemo-lo, vertendo-se para a espécie, verificando se encontram presentes in casu:
I- QUANTO AO PRINCÍPIO DA NECESSIDADE
É ressabido que para externar-se a decretação da custódia preventiva devem concorrer duas ordens de pressupostos: os denominados pressupostos proibitórios (o fumus commisi delicti representado no nosso direito processual pela prova da materialidade do delito e pelos indícios suficientes da autoria) e os pressupostos cautelares (o periculum libertatis, representado na legislação brasileira pelas nominadas finalidades da prisão preventiva, trazidas na parte inicial do art. 312 do estatuto processual penal).
O princípio ora sob epígrafe se expressa através dos denominados pressupostos cautelares, chamados comumente na doutrina brasileira de finalidades da prisão preventiva. Decorre de tal princípio que, para se ver decretada a medida coativa, deve revelar-se no caso concreto uma das três finalidades expressas pela lei: a conveniência da instrução criminal, o asseguramento da ordem pública ou a garantia da ordem pública. Na espécie sequer um de tais pressupostos se encontra evidenciado.
III- DA AUSÊNCIA DOS FUNDAMENTOS PARA MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA
Em análise primária, sem entrar no mérito acerca das circunstâncias do fato, tem-se a aparência de delito, havendo a prisão preventiva decretada. Contudo, os fundamentos que autorizam a manutenção da ordem de prisão preventiva não se fazem mais presentes. Explico:
O doutrinador JULIO FABBRINI MIRABETE já ensinava:
"Havendo prova da materialidade do crime e indícios suficientes da autoria, o juiz pode decretar a prisão preventiva somente quando exista também um dos fundamentos que a autorizam: para garantir a ordem pública por conveniência da instrução criminal; ou para assegurar a aplicação da lei penal. Preocupa-se a lei com o periculum in mora, fundamento de toda medida cautelar". (CPP Interpretado; ed. Atlas; São Paulo; 1996; p. 376).
O fumus commissi delicti é o requisito da prisão preventiva, exigindo-se para sua decretação que existam prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria. Como dito, a princípio este requisito não está presente no caso concreto, uma vez que os indícios se baseiam apenas em sede de interrogatório dos investigados durante o APF.
O periculum libertatis, fundamento da prisão preventiva, data vênia, não se faz mais presente no caso em apreço, como passo a demonstrar:
IV - DA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA
No caso presente, a liberdade do suplicante em momento algum afetará tal ordem pública, que segundo LAUDELINO FREIRE é o “conjunto das leis, preceitos e regras que constituem a segurança da sociedade”.
PEDRO NUNES, em seu conceituado Dicionário de Tecnologia Jurídica, Ed. Freitas Bastos, p. 641, a define como: “Conjunto de princípios jurídicos, éticos, políticos e econômicos, pelos quais se rege a convivência social, no interesse público. Situação de segurança e tranqüilidade do corpo comunitário, conseqüente à sinergia normal de seus órgãos, fiscalizados pelo poder de polícia”.
A ordem pública constitui-se da segurança da coletividade, para impedir que o acusado viesse a praticar novos delitos, ou viesse a consumar um crime tentado. Não é evidentemente o caso dos autos.
Não sendo o suplicante um infrator contumaz da lei, nem um elemento perigoso, sua prisão constitui-se de absoluto constrangimento ilegal, sanável por habeas corpus (RF 252/355, RT 474/359).
Neste aspecto, a Câm. Crim. Do TJPR, em 24-07-74 no HC 227, já proclamou que:
“A garantia da ordem pública, fundamento da custódia, tem que residir, de maneira indispensável, nas razões pelas quais o juiz invoca tal fundamento, indicando os fatos que serviriam de arrimo para decretar a prisão preventiva”. (RF 252/355).
Neste aspecto, data vênia, falece motivo para a custódia preventiva do paciente.
Alguns, fazendo uma confusão de conceitos, invocam a gravidade ou brutalidade do delito como fundamento da prisão preventiva. A gravidade do delito, por si só, não pode justificar a prisão preventiva, como reiteradamente vem decidindo os tribunais superiores:
STJ - HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO. ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PLEITO PELA REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. DECRETO PRISIONAL COM FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. AUSÊNCIA DE SITUAÇÃO FÁTICA CONCRETA.
[...] 2. A gravidade do crime cometido, seja ele hediondo ou não, com supedâneo em circunstâncias que integram o próprio tipo penal não constitui, de per si, fundamentação idônea a autorizar a prisão cautelar.
3. Ordem concedida para revogar a prisão preventiva, determinando a expedição de alvará de soltura, se por outro motivo não estive preso, sem embargo de novo decreto prisional, com observância dos requisitos legais. (HC 212131 SP. Rel. Min. Adilson Vieira Macabu. 5ª Turma. DJ 01.02.2012)
STJ- DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. DECRETO DE PRISÃO FUNDADO NA GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. PROCESSO CONCLUSO PARA SENTENÇA. ORDEM CONCEDIDA.
1. A prisão cautelar é medida de caráter excepcional devendo ser decretada e mantida apenas quando preenchidos os requisitos previstos no artigo 312 do CPP, exigindo-se, para tanto, sólida fundamentação.
2. A gravidade abstrata do delito, sob a pretensa garantia da ordem pública, não serve de fundamento ao decreto de prisão preventiva, se ausentes circunstâncias concretas que recomendem a segregação cautelar do acusado.(HC
204809 / MG – Rel. Min. Vasco Della Giustina. 6ª Turma. DJ 05.09.2011).
STJ- PRISÃO PREVENTIVA. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. FUNDAMENTAÇÃO.
O preso em flagrante e acusado de tráfico de entorpecentes, crime de natureza hedionda, não pode ter seu pedido de liberdade provisória indeferido pela simples razão da gravidade do delito. Necessário que a manutenção da prisão seja fundamentada em fatos que indiquem sua necessidade, observados os requisitos previstos no artigo 312 do CPP, Precedentes citados 11.631-MG, DJ 15.10.2001, e HC 31.230-SP, DJ
13.09.2004. (HC 39.635-DF, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, julgado em 17.02.2005).
A justificativa em nome da credibilidade da justiça e, ainda, no risco de reiteração de condutas criminosas. Este último se daria quando ao agente fossem imputados diversos crimes. Tal circunstância não está presente no feito em voga!
Neste sentido, diz o insigne JULIO FABBRINI MIRABETE, em seu festejado CPP INTERPRETADO, 8ª edição, pág. 670:
“Como, em princípio, ninguém deve ser recolhido à prisão senão após a sentença condenatória transitada em julgado, procura-se estabelecer institutos e medidas que assegurem o desenvolvimento regular do processo com a presença do acusado sem sacrifício de sua liberdade, deixando a custódia provisória apenas para as hipóteses de absoluta necessidade.”
V- DA GARANTIA DA ORDEM ECONÔMICA
O fundamento da Garantia da Ordem Econômica foi inserido no artigo 312 do CPP por força da Lei 8.884/94, Lei Antitruste, para o fim de tutelar o risco decorrente daquelas condutas que, levadas a cabo pelo agente, afetam a tranquilidade e harmonia da ordem econômica.
Com relação à manutenção da prisão com base nesse fundamento, nada há a ser alegado a esse respeito, vez que tal hipótese se aplica unicamente aos crimes que possuem como bem jurídico tutelado a economia nacional, ou o sistema tributário, o que não é o caso.
VI - DA CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL
Quanto à prisão por conveniência da instrução criminal, esta também não merece acolhida. Esse fundamento se configura a partir do momento em que o indiciado/denunciado age no sentido de apagar vestígios, coagir testemunhas, desaparecer com provas do crime.
No caso em tela, o Requerente possui residência fixa e somando-se a isso, vem cumprimento pena no presido ROGER desta capital de forma REGULAR, sendo devidamente encontrado sempre que fora necessário.
Esse tem sido o pacífico entendimento da jurisprudência:
STJ- RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE FURTO E RECEPTAÇÃO. PRISÃO PREVENTIVA. DECISÃO JUDICIAL
CARENTE DE FUNDAMENTAÇÃO LEGAL. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CONCRETOS APTOS A DEMONSTRAR A NECESSIDADE DA SEGREGAÇÃO. MOTIVAÇÃO GENÉRICA E ABSTRATA. PRECEDENTES DO STJ.
1. O édito constritivo de liberdade deve ser concretamente fundamentado, com a exposição dos elementos reais e justificadores de que o réu solto irá perturbar a ordem pública, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal. Precedentes do
STJ.
2. Recurso provido para revogar o decreto judicial de prisão preventiva expedido em desfavor do ora recorrente, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de eventual decretação de prisão cautelar devidamente fundamentada.
(STJ - 5ª Turma - Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 16.906/MG - Rel. Laurita Vaz).
TJMS- ROUBO- INDEFERIMENTO LIBERDADE PROVISÓRIA - SEGREGAÇÃO CAUTELAR FUNDAMENTADA NA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL - AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CONCRETOS A ENSEJAR A CUSTÓDIA CAUTELAR- CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS - ORDEM CONCEDIDA.
A segregação cautelar é medida excepcional e somente se justifica quando presentes os requisitos do art. 312 doCPP, desde que fundados em elementos concretos que evidenciem a real necessidade da prisão. A gravidade abstrata do delito, o clamor público e a invocação de resposta enérgica do Poder Judiciário, sem qualquer motivo concretamente apontado nos autos, não são elementos idôneos a justificar a prisão cautelar do paciente, ainda mais quando o mesmo possui condições pessoais favoráveis. (HC 34489 MS. Rel. Juiz Manoel Mendes Carli. 2ª Turma. Publicação em 05.02.2010).
No caso concreto, não há nos autos nenhum indício de que o Requerente integra alguma organização ou grupo criminoso, coagiu testemunha, destruiu provas ou oferece risco às investigações, ao contrário disso é que colaborou para o deslinde da questão.
O último fundamento que autoriza a manutenção da prisão em preventiva é a garantia da aplicação da lei penal. Esse fundamento se caracteriza pela necessidade de ser imposta a prisão como forma de impedir o desaparecimento do autor. É aplicável em situações especiais, a réus que não possuem domicílio definido, não residem na comarca onde se deram os fatos típicos, ou não possui laços familiares.
O que não é o caso do Requerente que já provou de forma inequívoca possui residência fixa, conforme se vê nos autos principais e laços familiares nesta comarca.
Portanto os pressupostos do Artigo 312 do CPPl estão suplantados, sendo incabível manutenção da prisão cautelar e o Requerente deve, portanto ser posto em liberdade.
Ademais, a experiência nos permite concluir que levando em consideração as condições pessoais do Requerente e as circunstâncias do caso concreto, mesmo em caso de condenação, não será imposto o regime fechado, razão pela qual se torna desproporcional a manutenção da prisão.
Outrossim, cumpre ressaltar que a liberdade concedida ao indiciado, mediante ausência de pressupostos supramencionados, não constitui faculdade do juiz mas direito processual subjetivo do indiciado.
No ordenamento constitucional vigente, A LIBERDADE É REGRA, excetuada apenas quando concretamente se comprovar, em relação ao indiciado ou réu, a existência de "periculum libertatis", o que não acontece no caso em tela.
3) DO PEDIDO
Diante do exposto, o Requerente pede e espera que digne Vossa Excelência de lhe conceder a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA do acusado ,nos termos do artigo 316, do CPP, determinando a expedição de alvará de soltura e a referida baixa no sistema de Mandados de Prisão, por ser tal medida a mais lídima JUSTIÇA.
Termos em que,
Pede deferimento.
João Pessoa, 06 de Março de 2018.
Advogado
OAB

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