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Aula 1: Modelagem com equac¸o˜es diferenciais Disciplina: Equac¸o˜es Diferenciais To´pico: Equac¸o˜es diferenciais de 1a ordem Professora: Luiza Vidigal Gonc¸alves Um modelo matema´tico e´ a descric¸a˜o matema´tica (frequentemente por meio de uma func¸a˜o ou de uma equac¸a˜o) de um fenoˆmeno do mundo real, como o tamanho de uma populac¸a˜o, a demanda por um produto, a velocidade de um objeto caindo, a concentrac¸a˜o de um produto em uma reac¸a˜o qu´ımica, a expectativa de vida de uma pessoa ao nascer ou o custo da reduc¸a˜o de poluentes. O propo´sito desses modelos e´ entender o fenoˆmeno e talvez fazer previso˜es sobre seu comportamento futuro. Dado um problema do mundo real, nossa primeira tarefa e´ formular um modelo matema´tico por meio da identificac¸a˜o e especificac¸a˜o das varia´veis dependentes e independentes e da formulac¸a˜o de hipo´teses que simplifiquem o fenoˆmeno o suficiente, tornando-o matematicamente trata´vel. O modelo matema´tico frequentemente tem a forma de uma equac¸a˜o diferen- cial, isto e´, uma equac¸a˜o que conte´m uma func¸a˜o desconhecida e algumas de suas derivadas. Sejam os seguintes exemplos: Modelos de crescimento populacional: Um dos modelos para o cresci- mento de uma populac¸a˜o baseia-se na hipo´tese de que uma populac¸a˜o cresce a uma taxa proporcional ao seu tamanho. Essa hipo´tese e´ razoa´vel para uma populac¸a˜o de bacte´rias em condic¸o˜es ide- ais. As varia´veis desse exemplo seriam: t - tempo (a varia´vel independente) P - nu´mero de indiv´ıduos da populac¸a˜o (a varia´vel dependente) A taxa de crescimento da populac¸a˜o e´ a derivada: dP dt 1 Enta˜o a hipo´tese de que a taxa de crescimento da populac¸a˜o e´ proporcional ao tamanho da populac¸a˜o e´ escrita como: dP dt = kP, onde k e´ a constante de proporcionalidade. Esta e´ uma equac¸a˜o diferencial porque conte´m uma func¸a˜o desconhecida P e sua derivada dP dt . Agora que ja´ temos um modelo, vamos olhar para suas consequeˆncias. Se desconsiderarmos uma populac¸a˜o nula, enta˜o P (t) > 0 para todo t. Dessa forma, se k > 0 enta˜o pela equac¸a˜o dP dt = kP temos que P ′(t) > 0 para todo t. Isso significa que a populac¸a˜o esta´ sempre aumentando. De fato, quando P (t) aumenta, temos pela equac¸a˜o que dP dt torna-se maior. Isto e´, a taxa de crescimento aumenta quando a populac¸a˜o cresce. A equac¸a˜o dP dt = kP pede que encontremos uma func¸a˜o cuja derivada seja um mu´ltiplo constante dela pro´pria. As func¸o˜es exponenciais teˆm esta pro- priedade. De fato, se fizermos P (t) = cekt P ′(t) = ckekt = k(cekt) = kP (t) Portanto qualquer func¸a˜o exponencial da forma P (t) = cekt e´ uma soluc¸a˜o de dP dt = kP. Se fizermos c variar em todos os nu´meros reais, obtemos a famı´lia de soluc¸o˜es P (t) = cekt. Mas as populac¸o˜es teˆm apenas valores positivos. Dessa forma, so´ estamos interessados nas soluc¸o˜es com c > 0. E provavelmente interessados apenas com valores de t maiores que o instante inicial t = 0. Fazendo c = 0, temos P (0) = cek(0) = c, isto e´, a constante c acaba sendo a populac¸a˜o inicial P (0). A equac¸a˜o dP dt = kP e´ apropriada para a modelagem do crescimento popu- lacional sob condic¸o˜es ideais, mas devemos reconhecer que um modelo mais realista deve refletir o fato de que um dado ambiente tem recursos limitados. 2 Muitas populac¸o˜es comec¸am crescendo exponencialmente, pore´m o n´ıvel da populac¸a˜o se estabiliza quando ela se aproxima de sua capacidade de suporte L (ou diminui em direc¸a˜o a L se ela excede o valor de L). Vamos verificar duas hipo´teses: • dP dt ≈ kP se P for pequeno (inicialmente a taxa de crescimento e´ proporcional a P ). • dP dt < 0 se P > L (P diminui se exceder L). Uma expressa˜o simples que incorpora ambas as hipo´teses e´: dP dt = kP ( 1− P L ) Notem que se P e´ pequeno quando comparado com L, P L esta´ pro´ximo de zero ⇒ dP dt ≈ kP . Se P > L enta˜o ( 1− P L ) e´ negativo e assim dP dt < 0. A equac¸a˜o dP dt = kP ( 1− P L ) e´ chamada equac¸a˜o diferencial log´ıstica e foi proposta pelo matema´tico e biolo´gio holaˆndes Pierre-Franc¸ois Verhulst na de´cada de 1940 como um modelo para o crescimento populacional mundial. Posteriormente desenvolveremos te´cnicas para encontrar soluc¸o˜es expl´ıcitas. Mas por hora, podemos deduzir caracter´ısticas qualitativas so´ olhando para a equac¸a˜o dP dt = kP ( 1− P L ) Notem que as func¸o˜es constantes P (t) = 0 e P (t) = L sa˜o soluc¸o˜es pois o lado direito da equac¸a˜o se anula (isso tem sentido f´ısico pois se a populac¸a˜o for zero ou estiver na capacidade suporte, permanecera´ dessa maneira.) Essas duas soluc¸o˜es sa˜o denominadas soluc¸o˜es de equil´ıbrio. Se a populac¸a˜o inicial P (0) estiver entre 0 e L enta˜o o lado direito da equac¸a˜o dP dt = 3 kP ( 1− P L ) e´ positivo, assim dP dt > 0 e a populac¸a˜o aumenta. Se a po- pulac¸a˜o ultrapassa a capacidade de suporte (P > L) enta˜o 1− P L e´ negativo, assim dP dt < 0 e a populac¸a˜o diminui. Notem que em qualquer um dos casos, se a populac¸a˜o se aproxima da capa- cidade de suporte (P → L) enta˜o dP dt → 0 o que significa que a populac¸a˜o se estabiliza. Um modelo para o movimento de uma mola: Agora vamos verificar um modelo f´ısico. Seja o movimento de uma objeto com massa m na extremidade de uma mola vertical. Uma mola esticada (ou comprimida) x unidades a partir de seu tamanho natural, exerce uma forc¸a proporcional a x : Fe = −kx onde k e´ uma constante positiva (constante da mola). Ignorando qualquer forc¸a externa de resisteˆncia (por causa da resisteˆncia do ar ou do atrito) enta˜o pela segunda Lei de Newton: F = ma. Assim temos: m d2x dt2 = −kx. Esse e´ um exemplo de equac¸a˜o diferencial de 2a ordem, porque envolve deri- vadas segundas. Reescrevendo a equac¸a˜o: d2x dt2 = − k m x. temos que a derivada segunda de x e´ proporcional a x, mas tem sinal oposto. Conhecemos duas func¸o˜es com esta propriedade, as func¸o˜es seno e cosseno. 4 Assim todas as soluc¸o˜es da equac¸a˜o d2x dt2 = − k m x podem ser escritas como combinac¸o˜es de certas func¸o˜es seno e cosseno. Como a mola oscila em torno de sua posic¸a˜o de equil´ıbrio, e´ natural pensar que func¸o˜es trigonome´tricas esta˜o envolvidas. Aprenderemos a resolver todas estas equac¸o˜es diferenciais informadas nesta aula. 5
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