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0 CURSO: BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL LEITURA E PRDUÇÃO DE TEXT0 PROF. Dr. ANTONIO NUNES PEREIRA IGUATU - CEARÁ 1 1 LEITURA E ESCRITA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS Leitura e escrita em foco: um olhar sobre as práticas de leitura e escrita na atualidade1 De acordo com Kramer (2000, p. 18), nas últimas décadas o campo da leitura e da escrita vem recebendo contribuições bastante expressivas, tanto no que se refere a produção teórico acadêmica, a nível nacional e mesmo internacional, quanto no que diz respeito a propostas de alternativas práticas, o que podemos compreender a partir da própria autora dentro da ótica contextual: Desde a critica à educação bancária feita por Paulo Freire ao anúncio de novas práticas nos anos 50 e 60, passando pelas mudanças na conjuntura política, a repressão sofrida no duro período da ditadura militar, até a reconquista da liberdade e do direito de participação política concretizada com a volta das eleições em 1982 e 1985 (respectivamente nos planos estadual e municipal) e a implementação de políticas locais e diferentes propostas pedagógicas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos, a alfabetização tem sido o centro das atenções (KRAMER, 2000, p. 18‐19). Como se pode perceber na citação, as mudanças ocorridas no Brasil, dentro da conjuntura social e política, tem apresentado, consequentemente, implicações no cenário educacional brasileiro, com destaque, como podemos visualizar, nos planos, políticas e propostas pedagógicas voltadas à educação básica, principalmente no que diz respeito à valorização e ao incentivo da promoção da alfabetização. Nesse sentido, paralelamente a tais mudanças, tem ocorrido, como assegura Kramer (2000, p. 19), avanços significativos no campo teórico, além de uma verdadeira revolução conceitual, em especial, a mudança no conhecimento sobre as formas e os processos de ler e escrever, apontando como fatores determinantes para isso os estudos da Sociolinguística, da Sociologia da Linguagem, da Psicolinguística e, mais recentemente, da própria História da leitura e também da Antropologia. Estas, por sua vez, e em conjunto, contribuem significativamente para as discussões sobre as práticas de leitura e escrita, pois elevam o letramento para outro patamar de reflexão e discussão crítica. Assim, para além da definição da leitura e escrita como hábitos, gostos, práticas, relações, exercícios, instrumentos e necessidades, que por muito tempo perdurou, como demonstra Kramer (2000, p. 19), nesse novo patamar ampliou-se as possibilidades para compreensão do que é ler e escrever, entendidos agora como experiência. Ou seja, a leitura e a escrita, postas nesses termos, transcende o momento em que se realiza e implica numa consequência que vai além do dado imediato, atuando na formação de um sujeito pensante, crítico, reflexivo e, portanto, 1 Texto extraído de: LIMA, João Batista; SILVA, Josenildo Marques da; ARAÚJO, Patrícia Cristina de Aragão. Leitura e escrita em foco: tecendo reflexões sobre práticas de leitura e escrita no espaço escolar. In: ANAIS DO IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUODS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 31 jul. – 03 ago., 2012. Disponível em: <www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario9/PDFs/3.46.pdf >. Acesso em 10 ago. 2015. 2 capaz de se posicionar diante da realidade em que se vê inserido. Isto nos parece particularmente significativo, haja vista que “a escola tem o desafio de ampliar o uso da leitura/escrita, de modo que seus alunos desenvolvam uma das competências mais importantes para o mundo atual: aprender a pensar e a tomar decisões” (BEZERRA, 2000, p. 79). Uma vez que passamos a compreender a leitura e a escrita a partir de questões mais amplas, que consideram o leitor como sujeito social que interfere no seu meio se posicionando criticamente frente à realidade, podemos pensar como tais práticas podem se constituir como importantes mecanismos para a formação da cidadania. Entretanto, é preciso que consideremos que: Ler é sempre um ato interativo e criativo, que exige descobrir novas realidades e maneiras inéditas de relacioná‐las entre si, de acordo com o contexto. A escola, neste sentido deveria buscar trabalhar vários tipos de textos, desde os formativos (livros técnicos e didáticos) até os informativos (jornais, revistas), mas também os literários (DINIZ, 2007,p. 136). A partir do fragmento acima reproduzido, podemos evidenciar a necessidade do papel a ser assumido pela escola a fim de que realmente as práticas de leitura e escrita possam se constituir em meios eficazes para alcançarmos a formação de sujeitos leitores e cidadãos. Nesse sentido, dois pontos nos parecem relevantes explicitar. O primeiro diz respeito ao que os alunos leem e escrevem e o segundo, como eles leem e escrevem na atualidade. Refletindo sobre essas questões, Ribeiro (2008, p. 44) faz referência ao contexto das últimas décadas do século XX, destacando a expansão da tecnologia digital e das redes de comunicação virtual através do computador, que teria desenvolvido novos suportes de leitura que se juntaram ao tradicional livro impresso. Entre esses suportes se destacam, por exemplo, os discos rígidos, disquetes, CD- ROM e multimídia, que se configuram como novas alternativas para o ato da leitura. Dentro desse contexto evidenciado pelo autor, é preciso considerar que cada vez mais se percebe atualmente a presença de uma leitura fragmentada, em que os alunos “leem pedaços de textos cada vez mais curtos, mensagens, trechos, resumos e informações” (KRAMER, 2000, p. 20). Por outro lado, e ainda de acordo com a autora, aparecem novos espaços para a escrita, se destacando o correio eletrônico, a internet e as histórias em quadrinho, entre outros. Nesses espaços, se escreve muito, mas também de forma fragmentada e dispersa. Diante dessa realidade cabe a escola propiciar situações e estratégias que permitam uma prática de leitura e escrita sistematizada. Esta, embora leve em consideração o contexto de vida do aluno, não pode deixar, contudo, de lhe oferecer uma visão mais ampla sobre os conteúdos que fazem parte de uma educação humanizadora e que, portanto, se configura como essencial à formação de um sujeito leitor capaz de se posicionar criticamente diante da realidade social em que se vê inserido. 3 2 PADRÕES DE TEXTUALIDADE EM LÍNGUA PORTUGUESA 2.1 Texto e propriedades da textualidade Qualquer falante sabe que a comunicação verbal não se faz através de palavras isoladas, desligadas umas das outras e do contexto em que são produzidas. As manifestações naturais da linguagem humana são configurações de uma língua natural qualquer, dotadas de sentido, e visando um dado objetivo comunicativo. A tais configurações chamamos de TEXTOS ou DISCURSOS. Portanto, TEXTO (ou DISCURSO) é uma unidade lingüística concreta dotada de sentido, que é tomada pelos usuários da língua (falante/escritor, ouvinte/leitor), visando um dado objetivo comunicativo. Um texto, porém, deve possuir um conjunto de propriedades para que, realmente, seja um texto. A esse conjunto de propriedades chamamos TEXTUALIDADE. As propriedades da textualidade, isto é, o que fazem com que um texto seja um texto, são: a) CONECTIVIDADE (SEQÜENCIAL = COESÃO E CONCEPTUAL = COERÊNCIA);b) INTENCIONALIDADE; c) ACEITABILIDADE; d) SITUACIONALIDADE; e) INTERTEXTUALIDADE; f) INFORMATIVIDADE. a) CONECTIVIDADE São as relações existentes entre as ocorrências textuais, o que significa dizer que só haverá conectividade entre duas ocorrências textuais se as interpretações entre ambas forem semanticamente interdependentes. Ex.: “Alinhei com a esperança de vencer, mas só se vence quando se corta a linha de chegada.” Observe que a ocorrência textual em negrito inclui uma relação semântica de contraste em relação à que não está em negrito. 1) Conectividade Sequencial (Coesão) Neste caso, a interdependência semântica das ocorrências textuais resulta de processos linguísticos de sequenciação, isto é, abrange todo e qualquer mecanismo em que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual. Tem-se, assim, uma forma referencial remissa (que aponta para outro termo) e um referente (termo para o qual a referência é feita). Algumas formas remissas remetem para trás (ANÁFORA), para termos anteriores e outras remetem para frente (CATÁFORA), sendo necessário dar continuidade para descobrir os referentes. Ex.: O João bateu em Antonio e este ficou ferido (anáfora); Ao pé dela, a moça loura viu o homem que a perseguia (catáfora). 2) Conectividade Conceptual (Coerência) É um fator que resulta da interação entre os elementos cognitivos apresentados pelas ocorrências textuais e nosso conhecimento de mundo. A coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto. Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é 4 local. É por isso que uma seqüência como “Maria tinha lavado a roupa quando chegamos, mas ainda estava lavando a roupa” é vista como incoerente, pois, apesar de cada uma de suas partes ter sentido, parece difícil ou impossível estabelecer um sentido unitário para o todo da seqüência. Portanto, para haver coerência, é preciso que haja possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos. Outro aspecto a ser observado quanto à coerência é que a relação a ser estabelecida entre os elementos lingüísticos não é apenas semântica, mas também pragmática, ou seja, a relação tem a ver com os nossos atos de fala. Ex.: A: É telefone. B: Estou no banho A: Tudo bem. Come é que interpretamos o texto acima? Por certo, que, nesse caso, devemos imaginar uma situação na qual a enunciação da primeira frase (o primeiro comentário de A) será interpretada como pedido, uma vez que é uma frase declarativa. Tomando o comentário de B como sendo uma resposta a A e como tendo a força comunicativa de desculpas por não poder o seu pedido. Da mesma forma, reconhecendo a segunda intervenção de A como aceitação das desculpas de B e como um oferecimento pessoal para fazer o que A havia solicitado que B fizesse, podemos considerar como discursos coerentemente constituídos, uma vez que podemos recuperar os laços proposicionais ausentes e produzir uma versão com coesão: A: É telefone. (Você pode atender pra mim, por favor?) B: (Não vou poder atender porque) Estou no banho A: Tudo bem. (Eu atendo). Portando, se há uma unidade de sentido no todo do texto quando este é coerente, então a base da coerência é a continuidade de sentidos entre os conhecimentos ativados pelas expressões do texto. Por outras palavras, quer-se dizer que é através da coerência que percebemos a continuidade de sentido e o encadeamento entre os componentes de um texto. b) INTENCIONALIDADE Refere-se ao modo como os emissores usam o texto para prosseguir e realizar suas intenções, produzindo, para tanto, textos adequados à obtenção dos efeitos desejados. É por esta razão que o emissor procura, de modo geral, construir seu texto de modo coerente e dar pistas ao receptor que lhe permitam construir o sentido desejado. (Koch, 1990: 79). Este fator de textualidade diz respeito também às informações implícitas e explícitas. Quase sempre somos muito diretos em nossa intenção de dizer, até por economia. Contudo, em alguns casos, preferimos não deixar clara a nossa intenção. Ex.: Fiz um curso de informática e aprendi algumas coisas interessantes. (informação cuja intenção está explícita), mas em Fiz um curso de informática, mas aprendi algumas coisas interessantes (informação cuja intenção está implícita). Se observarmos melhor, veremos que o uso da conjunção “mas” empresta ao texto o seguinte sentido: fiz um curso de informática e, apesar das deficiências do curso, aprendi algumas coisas interessantes. c) ACEITABILIDADE 5 Constitui a contraparte da intencionalidade. Um dos postulados básicos que regem a comunicação humana é o da cooperação, isto é, sempre que ouvimos ou lemos, procuramos compreender para interagir completamente com nossos interlocutores. Contudo, é bom ficarmos atentos ao aspecto da cooperação, pois não é algo que dependa apenas do leitor. Um texto precisa ser, antes de tudo, uma unidade de sentido, em que todas as suas partes sejam coesas e coerentes. Ex.: Digamos que a frase – “Fiz o curso de informática, mas aprendi algumas coisas interessantes” – tenha sido dirigida ao dono ou responsável pelo curso. O receptor da mensagem teria duas interpretações: de aceitabilidade (compreenderia que o curso por algum motivo não está tão bem) ou de não aceitabilidade (não perceberia na mensagem a intenção não declarada do falante). d) INFORMATIVIDADE Diz respeito ao grau em que as informações são esperadas/conhecidas ou não. Devemos perceber por este fator o quanto é importante apresentarmos nossas informações num grau satisfatório de aceitabilidade. Por outras palavras, queremos dizer da importância de sermos claros e objetivos em nossas mensagens, de não sermos repetitivos e redundantes. Ex.: “Este líquido é água. Quando pura é inodora, insípida e incolor”. Seria redundante continuar comentando, por exemplo, que, quando a água não é pura, ela pode apresentar características de cheiro, cor e sabor. Há casos em que a informatividade é aparentemente nula. Isto ocorre com freqüência em textos poéticos, jornalísticos e também em textos publicitários. Exemplo: Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem-querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder, É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? (CAMÕES, Luiz Vaz de. Sonetos. Lisboa: Publicações Europa-América, 1975. p.181) e) SITUACIONALIDADE Refere-se ao conjunto de fatores que tornam um texto relevante para dada situação de comunicação. Se a condição de situacionalidade não ocorre, o texto tende a parecer incoerente, porque o cálculo de seu sentido se torna difícil ou impossível. No texto oral, a coerência depende muito mais do contexto situacional do que do escrito, porque, no oral, os elementos da situação cooperam no estabelecimento das relações entre os elementos do texto em mais alto grau do que no escrito,sobretudo por haver muitas entidades evocadas situacionalmente e por ser decisiva a influência da 6 situação no cálculo do sentido. Uma evidência dessa dependência é a dificuldade que se encontra para interpretar a fala gravada. Todavia, há casos de textos escritos muito dependentes da situação, como placas indicativas de direção, de silencia em hospitais, indicativas de salas, seções em instituições diversas etc. Esses textos foram chamados pela teoria lingüística tradicional de frases de situação. f) INTERTEXTUALIDADE Além de o texto conter marcas da individualidade do falante/escritor, contém também marcas históricas deixadas no segmento textual, pois as ideias expressas não podem ser compreendidas, nem analisadas, sem que estabeleçamos uma relação com a sua época de produção. Para entendermos as relações sociais, históricas e culturais existentes no texto, é preciso entender as relações estabelecidas entre sociedade, época e cultura, é preciso compreender as relações de um texto com outros textos. É o fator de intertextualidade que permite ao falante/ouvinte recuperar as marcas textuais que assinalam as relações que um texto estabelece com outros. A intertextualidade pode ocorrer quanto à forma ou ao conteúdo. Quanto à forma, ocorre quando o produtor de um texto repete expressões, enunciados ou trechos de outros textos, ou então o estilo de determinado autor ou de determinados tipos de discurso. Exemplo: “Do que a terra mais garrida Teus risonhos lindos campos têm mais flores Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida em teu seio mais amores.” (Hino Nacional – Osório D. Estrada) “Nosso céu tem mais estrelas Nossas várzeas têm mais flores Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.” (Canção do Exílio – Gonçalves Dias) A intertextualidade de conteúdo diz respeito às relações determinadas, por exemplo, por fatores culturais, de época, de área de conhecimento etc. Ex.: Segundo Koch (1990), “um subtipo de intertextualidade formal é a intertextualidade tipológica...” Identifique nas ocorrências abaixo se são textos ou não. Justifique sua resposta. a) Som frio. Rio Sombrio. O longo som do rio frio. O frio bom do longo rio. Tão longe, tão bom b) José viajou para são Paulo, pois gostava do Paraná. Ele adora cidades pequenas, por isso escolheu São Paulo. c) Pedro: João, você me empresta seu carro amanhã? João: Se o homem foi à Lua há trinta anos atrás como vou te emprestar meu carro? 7 tão frio o claro som Do rio sombrio. 2. Identifique os fatores da textualidade predominantes em cada trecho abaixo: a) O rapaz correu até o final da rua. Lá ele parou e caiu. b) A praça era enorme. No meio havia uma coluna: à volta, árvores e canteiros com flores. c) Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de [ametista. Os sargentos do exército são monistas [cubistas, os filósofos são polacos vendendo a [prestações. (Murilo Mendes. Poesias: Canção do Exílio) Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores, (Gonçalves Dias. Poesias: Canção do Exílio) d) e) Em lugar dos homens, uma aranha é que vai escalar e vistoriar os tanques de armazenagem de gás espalhados pelo Japão. Essa aranha é um robô de oito pernas, desenvolvida pela Tokyo Gás & Hitachi para detectar falhas e rachaduras no metal dos tanques. Suas oito pernas, movidas a ar bombeado por um compressor no chão, grudam na superfície do tanque graças às ventosas nas patas. f) A: José vá à padaria comprar um pão. B: Logicamente, pois eu não poderia comprar um pão na farmácia. g) O Brasil, em pleno início do século XXI, ainda é vítima de doenças que deveriam estar banidas de seu cotidiano, como é o caso vergonhoso da dengue que assusta, novamente, o povo brasileiro. 8 3 MECANISMOS DE COESÃO2 E COERÊNCIA TEXTUAIS “O certo é saber que o certo é certo.” Caetano Veloso O texto não é simplesmente um conjunto de palavras; pois se o fosse, bastaria agrupá- las de qualquer forma e teríamos um. O ontem lanche menino comeu. Veja que neste caso não há um texto, há somente um grupo de palavras dispostos em uma ordem qualquer. Mesmo que colocássemos estas palavras em uma ordem gramatical correta: sujeito-verbo-complemento precisaríamos, ainda, organizar o nível semântico do texto, deixando-o inteligível. O lanche comeu o menino ontem O nível sintático está perfeito: sujeito = o lanche verbo = comeu complementos = o menino ontem Mas o nível semântico apresenta problemas, pois não é possível que o lanche coma o menino, pelo menos neste contexto. Caso a frase estivesse empregada num sentido figurado e em outro contexto, isto seria possível. Pedrinho saiu da lanchonete todo lambuzado de maionese, mostarda e catchup, o lanche era enorme, parecia que “o lanche tinha comido o menino”. A coesão e a coerência garantem ao texto uma unidade de significados encadeados. 2 VIANA, Antônio Carlos (coord.) et al. Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo: Scipione, 1998. p. 28-37. 9 10 11 12 13 14 15 16 17 A COERÊNCIA 18 19 20 21 22 23 24 4 DIRETRIZES PARA A LEITURA, ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTOS Texto adaptado de Adaptado de: SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 20. ed. ver. e ampl. São Paulo: Cortez, 1996. As maiores dificuldades do estudo e da aprendizagem, em ciência e em filosofia, estão diretamente relacionadas com a correspondente dificuldade que o estudante encontra na exata compreensão dos textos teóricos. Habituados à abordagem de textos literários, os estudantes ao abordarem textos científicos ou filosóficos, encontram dificuldades logo julgadas insuperáveis e que reforçam uma atitude de desânimo e de desencanto, geralmente acompanhada de um juízo de valor depreciativo em relação ao pensamento teórico. Em verdade, os textos de ciência e de filosofia apresentam dificuldades específicas, mas, nem por isso, insuperáveis. É claro que não se pode contar com os mesmos recursos disponíveis no estudo de textos literários. No caso da leitura de textos literários, a sequência do raciocínio, o enredo, é apresentado dentro de quadros referenciais fornecidos pela imaginação: através da imaginação é facílimo ter presente os quadros gerais em que se desenvolve a ação descrita e percebe-se logo o encadeamento da estória. Por isso, a leitura está sempre situada, tornando-se possível entender, sem maiores problemas a mensagem transmitida pelo autor. No caso de textos de pesquisa positiva, é possível acompanhar o raciocínio já mais rigoroso, seguindo a apresentação dos dados objetivos sobre os quais tais textos estão fundados. Os dados e fatos levantados pela pesquisa e organizados conforme técnicas específicasàs várias ciências permitem ao leitor, devidamente iniciado, acompanhar o encadeamento lógico destes fatos no raciocínio científico. Mas, diante de exposições teóricas, como em geral são as encontradas nos textos filosóficos e em textos científicos relativos a pesquisas teóricas, onde o raciocínio é quase sempre dedutivo, a imaginação e a experiência objetiva não são de muita valia. Nestes casos, conta-se tão somente com as possibilidades da razão reflexiva, o que exige muita disciplina intelectual para que a mensagem possa ser compreendida com o devido proveito e para que a leitura se torne menos insípida. Na realidade, mesmo em se tratando de assuntos abstratos, desde que o leitor esteja em condições de “seguir o fio da meada”, a leitura torna-se mais fácil, mais agradável e, sobretudo, mais proveitosa. Por isso é preciso criar condições de abordagem e de inteligibilidade do texto, aplicando alguns recursos que, apesar de não substituírem a capacidade de intuição do leitor na apreensão da forma lógica dos raciocínios em jogo, ajuda muito na análise e interpretação dos textos. 4.1 Delimitação da Unidade de Leitura A primeira medida a ser tomada pelo leitor é o estabelecimento de uma unidade de leitura. Unidade é um setor do texto que forma uma totalização de sentido. Assim, pode-se considerar um capítulo, uma seção ou qualquer outra subdivisão. Toma-se uma parte que forme certa unidade de sentido para que se possa trabalhar sobre ela. Desta maneira, determinam-se os limites no interior dos quais se processará a disciplina do trabalho de leitura e estudo em busca da compreensão da mensagem. De acordo com esta orientação, a leitura de um texto quando feita para fins de estudo, deverá ser feita por etapas, ou seja, apenas terminada a análise de uma unidade é que se passará à seguinte. Terminando o processo, o leitor se verá então em condições de refazer o raciocínio global do livro, reduzindo-o assim à sua forma sintética. 25 A extensão da unidade será determinada proporcionalmente à acessibilidade do texto a ser definida por sua natureza, assim como pela familiaridade do leitor com o assunto tratado. O estudo da unidade deve ser feito de maneira contínua, evitando-se intervalos de tempo muito grandes entre as várias etapas da análise. 4.2 A Análise Textual (preparação do texto) A análise textual: primeira abordagem do texto com vistas à preparação da leitura. Determinada a unidade de leitura, o estudante-leitor deve proceder então a uma série de atividades ainda preparatórias para a análise mais aprofundada do texto. Procede-se inicialmente a uma leitura seguida e completa da unidade do texto em estudo. Trata-se de uma leitura atenta mais ainda corrida, sem buscar esgotar toda a compreensão do texto. A finalidade desta primeira leitura é uma tomada de contato com toda a unidade, buscando- se uma visão panorâmica, uma visão de conjunto do raciocínio do autor. Além disso, este contato geral permitirá ao leitor sentir seu estilo e método. Durante este primeiro contato deverá ainda o leitor fazer o levantamento de todos aqueles elementos básicos para a devida compreensão do texto. Isto quer dizer que é preciso assinalar todos aqueles pontos passíveis de dúvida e que exijam esclarecimento que condicionam a compreensão da mensagem do autor. O primeiro esclarecimento a ser buscado são os dados a respeito do autor do texto. Uma pesquisa atenta sobre a vida, a obra e o pensamento do autor da unidade fornecerá elementos muito úteis para uma elucidação das ideias expostas na unidade. Observa-se porém que estes esclarecimentos devem ser assumidos com certa reserva, a fim de que as interpretações dos comentadores não venham prejudicar a compreensão das ideias expostas na unidade estudada. 4.3 A Análise Temática (compreensão do texto) De posse dos instrumentos de expressão usados pelo autor, do sentido unívoco de todos os conceitos e conhecedor de todas as referências e alusões utilizadas por ele, o leitor passará, nesta segunda abordagem, à etapa da compreensão da mensagem global veiculada na unidade. Trata-se, nesta análise temática, de ouvir o autor, de apreender, sem intervir nele, o conteúdo de sua mensagem. Praticamente, trata-se de trazer ao texto uma série de perguntas cujas respostas darão o conteúdo da mensagem. A primeira questão a se levantar é a de se saber do que fala o texto. A resposta a esta questão será o tema ou assunto da unidade. Questão aparentemente simples de ser resolvida, ilude muitas vezes. Nem sempre o título da unidade dá uma ideia fiel do tema. Às vezes, apenas o insinua por associação ou analogia; outras vezes não tem nada a ver com o tema. O mais das vezes, o tema tem uma determinada estrutura: o autor está falando não de um objeto, de um fato bem determinado, mas de relações as mais variadas entre os vários elementos; além desta possível estruturação, é preciso tentar captar a perspectiva de abordagem deste tema pelo autor: esta perspectiva define o âmbito dentro do qual o tema é tratado, restringindo-o a limites bem determinados. 4.4 A Análise Interpretativa (interpretação do texto) A análise interpretativa: terceira abordagem do texto com vistas à sua interpretação, mediante a situação das ideias do autor. A partir desta compreensão objetiva da mensagem comunicada pelo texto, o leitor passará a adotar uma atitude de interpretação sem a qual a compreensão profunda do texto não traria grandes benefícios. Interpretar, num sentido restrito, é tomar uma posição própria a respeito das ideias enunciadas, é superar a estrita mensagem do texto, é ler nas entrelinhas, é forçar o autor a um diálogo, é explorar toda a fecundidade das ideias expostas, é cotejá-las com outras, enfim, é 26 dialogar com o autor. Bem se vê que esta última etapa da leitura analítica é a mais difícil e delicada, já que os riscos da interferência da subjetividade do leitor são maiores, além de pressupor mais instrumentos culturais e mais formação específica. A primeira etapa de interpretação consiste na tentativa de situar o pensamento desenvolvido na unidade, na esfera mais ampla do pensamento geral do autor. Trata-se de ver se as ideias expostas nesta unidade se relacionam com as posições gerais do pensamento teórico do autor, tal como é conhecido por outras fontes. A seguir, o pensamento apresentado na unidade pode permitir a situação do autor no contexto mais amplo da cultura filosófica em geral. Trata-se de situar o autor, por suas posições aí assumidas, nas várias orientações filosóficas existentes, mostrando-se assim o sentido de sua própria perspectiva e destacando-se os pontos comuns como originais. 3.3.5 A Problematização (discussão do texto) A problematização: quarta abordagem da unidade com vistas ao levantamento dos problemas para a discussão. A próxima tarefa relativa ao estudo de um texto, sobretudo quando este estudo é feito em grupo, é a problematização. Trata-se de uma retomada geral de todo o texto, tendo em vista o levantamento dos problemas mais relevantes para uma reflexão pessoal e principalmente para uma discussão em grupo. Os problemas podem situar-se ao nível das três abordagens anteriores; desde problemas textuais, os mais objetivos e concretos, até os mais difíceis problemas de interpretação, todos constituem elementos válidos para a reflexão individual ou em grupo. Este debate e esta reflexão são essenciais à própria atividade filosófica e científica. 3.3.6 A Síntese Pessoal A discussão da problemática levantada pelo texto e a reflexão a que ele conduz devem levar o leitor a uma fase de elaboração pessoal ou de síntese. Trata-se,na realidade, de uma etapa ligada antes à construção lógica de uma redação do que à leitura como tal. Mas, de qualquer modo, a leitura bem feita deverá possibilitar ao estudioso progredir no desenvolvimento das ideias lidas, bem como daqueles elementos com elas relacionados. Ademais, este trabalho de reflexão pessoal de síntese, é sempre exigido no contexto das atividades didáticas, quer como tarefa específica, quer como parte de relatórios ou de roteiros de seminários. Significa também valioso exercício de raciocínio – garantia de amadurecimento intelectual. Como a problematização, esta etapa se apoia na retomada de pontos abordados em todas as etapas anteriores. Conclusão Assim, uma leitura analítica bem cuidada desenvolverá no estudante-leitor toda uma série de posturas lógicas que constituirão a via mais adequada para sua própria formação, tanto na sua área específica de estudo quanto na sua formação filosófica em geral. Pra fornecer uma representação global da leitura analítica, assim como para permitir uma recapitulação de todo o processo, são apresentados a seguir um fluxograma com suas principais etapas de um esquema detalhado com suas várias atividades. E S Q U E M A Recapitulando: a leitura analítica é um método de estudo que tem como objetivos: 1. Fornecer uma compreensão global do significado do texto; 2. Treinar para a compreensão e a interpretação crítica dos textos; 3. Treinar ao desenvolvimento do raciocínio lógico; 27 4. Fornecer instrumentos para o trabalho intelectual desenvolvido nos seminários, no estudo dirigido, no estudo pessoal e em grupos, na confecção de resumos, resenhas, relatórios, etc. Seus processos básicos são: 1. Análise textual: preparação do texto: Trabalhar sobre unidades bem delimitadas (um capítulo, uma seção, uma parte, etc., sempre um trecho com um pensamento completo); Fazer uma leitura rápida e atenta da unidade para se adquirir uma visão de conjunto da mesma; Levantar esclarecimentos relativos ao autor, ao vocabulários específico, aos fatos, doutrinas e autores citados, que sejam importantes para a compreensão da mensagem; Esquematizar o texto, evidenciando sua estrutura redacional. 2. Análise Temática: compreensão do texto: 2.1. Determinar o tema-problema, a ideia central e as ideias secundárias da unidade; 2.2. Refazer a linha de raciocínio do autor, ou seja, reconstruir o processo lógico do pensamento do autor; 2.3. Evidenciar a estrutura lógica do texto, esquematizando a sequência das ideias; 3. Análise Interpretativa: interpretação do texto: 3.1. Situar o texto no contexto da vida e da obra do autor, assim como no contexto da cultura de sua especialidade, tanto do ponto de vista histórico como do ponto de vista teórico; 3.2. Explicitar os pressupostos filosóficos do autor que justifiquem suas posturas teóricas; 3.3. Aproximar e associar ideias do autor expressas na unidade com outras ideias relacionadas à mesma temática; 3.4. Exercer uma atitude crítica frente às posições do autor em termos de: a) Coerência interna da argumentação; b) Validade dos argumentos empregados; c) Originalidade do tratamento dado ao problema; d) Profundidade de análise do tema; e) Alcance de suas conclusões e consequências; f) Apreciação e juízo pessoas das ideias defendidas. 4. Problematização: discussão do texto: 4.1. Levantar e debater questões explícitas ou implícitas no texto; 4.2. Debater questões afins surgidas no leitor; 5. Síntese Pessoal: reelaboração pessoal da mensagem: 5.1. Desenvolver a mensagem mediante uma retomada pessoal da mensagem e um raciocínio personalizado; 5.2. Elaborar um novo texto, com redação própria, com discussões e reflexão pessoais. 28 A ALEGORIA / O MITO DA CAVERNA (Do livro VII, capítulo VII da República, Platão) – Diálogo entre Glauco e Sócrates - E agora – disse eu – compara com a seguinte situação o estado de nossa alma com respeito à educação ou à falta desta. Imagina uma caverna subterrânea provida de uma vasta entrada aberta para a luz e que se estende ao longo de toda a caverna, e uns homens que lá dentro se acham desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço. Por essa razão eles têm de permanecer imóveis e olhar tão-só para a frente, pois as ligaduras não lhes permitem voltar a cabeça. Atrás deles, num plano superior, arde um fogo a certa distância, e entre o fogo e os acorrentados há um caminho elevado, ao longo do qual faz de conta que tenha sido construído um pequeno muro semelhante a esses tabiques que os titeriteiros colocam entre si e o público para exibir por cima deles as suas maravilhas. - Veja daqui a cena - disse Glauco. - Imagine, então, como ao longo desse pequeno muro passam homens carregando toda espécie de objetos, cuja altura ultrapassa a da parede, e estátuas de homens e figuras de animais feitas de pedra, de madeira e outros materiais variados. Alguns desses carregadores conversam entre si, outros se calam. - Que estranha situação descreves e que estranhos prisioneiros! - Eles se parecem conosco – disse eu. – Em primeiro lugar, crês que os que estão assim tenham visto outra coisa de si mesmos ou de seus companheiros senão sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da caverna que está à frente? - Como seria possível, se durante toda a sua vida foram obrigados a manter imóveis as cabeças? - E dos objetos transportados, não veriam igualmente apenas as sombras? - Sim. - E se pudessem falar uns com os outros, não julgariam estar se referindo ao que se passava diante deles? - Forçosamente. - Supõe ainda que a prisão tivesse um eco vindo da parte da frente. Cada vez que falasse um dos passantes, não creriam eles que quem falava era a sombra que viam passar? - É indubitável. - Eles, – disse eu – só tomariam por verdade as sombras dos objetos fabricados. - Examina, agora, o que naturalmente aconteceria se os prisioneiros fossem libertados de suas cadeias e curados de sua ignorância. Quando um deles fosse desatado obrigado a levantar-se, subitamente virasse o pescoço, caminhasse em direção à luz, e em virtude disto sentisse dores intensas e, com a vista ofuscada, não fosse capaz de perceber aqueles objetos cujas sombras via anteriormente: e se alguém lhe dissesse que antes não via mais do que sombras e agora quando se acha mais próximo da realidade e com os olhos voltados para os objetos mais reais, goza de uma visão mais verdadeira, que supõe que responderia? Imagina ainda que se lhe fosse mostrando os objetos à medida que passassem e obrigando-o a nomeá-los: não crês que ficaria perplexo, e o que antes havia contemplado lhe pareceria mais verdadeiro do que os objetos que agora se lhe mostram? - Muito mais – disse ele. - E se o obrigassem a fixar a vista na própria luz, não lhe doeriam os olhos e não se escaparia, voltando-se para os objetos, que pode contemplar, e que consideraria que eles são realmente mais claros, do que aqueles que lhe eram mostrados? - Assim é – respondeu. - E se o levassem dali à força, obrigando-o a galgar a áspera e escarpada subida, e não o largassem antes de tê-lo arrastado à luz do próprio sol, não crês que sofreria e se irritaria, e uma vez chegada à luz teria os olhos tão ofuscados por ela eu não conseguiria enxergar uma só das coisas que agora chamamos verdadeiras? - Não, não seria capaz – disse ele – ao menos no primeiro momento. - Precisaria acostumar-se, creio eu, para poder chegar a ver as coisas lá de cima. O que veria mais facilmente seriam, antes de tudo, as sombras; depois, as imagens de homens e outros objetos refletidos na água; e mais tarde os próprios objetos. E depois disto seriamais fácil contemplar a lua e as estrelas, e veria o céu noturno muito melhor que o sol ou a sua luz durante o dia. - Como não? - E por fim, creio eu, estaria em condições de ver o sol – não suas imagens refletidas na água nem em outro lugar estranho, mas o próprio sol em seu próprio domínio e tal qual é em si mesmo. - Necessariamente – disse ele. 29 - Mais tarde, passaria a tirar conclusões a respeito do sol, compreendendo que ele produz as estações e os anos, governa toda a região visível e é, de certo modo, o autor de tudo aquilo que eles (os prisioneiros) viam. - É evidente – disse – que veria primeiro o sol e depois pensaria sobre ele. - E quando se lembrasse de sua habitação anterior, da ciência da caverna e de seus antigos companheiros de cárcere, não crês que se consideraria feliz por haver mudado e teria compaixão deles? - E se entre os prisioneiros vigorasse o hábito de conferir honras, louvores e recompensas àqueles que por distinguirem com maior penetração as sombras que passavam e observassem melhor quais delas costumavam passar antes, depois ou junto com outras, fossem mais capazes de predizer, pensas que aquele sentiria saudades de tais honras e glórias e invejaria os que as possuíssem? Não diria ele, com Homero, que era preferível “lavrar a terra a serviço de um homem sem patrimônio” ou sofrer qualquer outro destino a viver no mundo das sombras? - Sim, creio que preferiria qualquer outro destino a ter uma existência tão miserável. - Atenta agora no seguinte: se esse homem voltasse lá para baixo e fosse colocado no seu lugar de antes, não crês que seus olhos se encheriam de travas como os de quem deixa subitamente a luz do sol? - Por certo que sim. - E se tivesse de competir de novo com os que ali permaneceram acorrentados, opinando a respeito de tais sombras, que, por não se lhe ter ainda acomodado a vista, enxergaria com dificuldade (e não seria curto o tempo necessário para acostumar-se), não te parece que esse homem faria papel de ridículo? Diriam os outros que ele voltara lá de cima sem olhos e que não valia à pena pensar sequer em semelhante escalada. E não matariam, a quem tentasse desatá-los para a luz, se pudessem deitar-lhe a mão? - Não há dúvida – disse ele. - Pois agora, meu caro Glauco, é só aplicarmos com toda exatidão essa imagem da caverna e tudo o que antes havíamos dito. A caverna subterrânea é o mundo visível. O fogo que ilumina é a luz do sol. O acorrentado que se eleva à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes já que o queres saber, é este pelo menos meu modo de pensar, que só a divindade pode saber se é verdadeiro. Quanto a mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nas últimas fronteiras do mundo inteligível está a ideia do bem, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da Inteligência e da Verdade no mundo invisível e, sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos levantados para agir com sabedoria nos negócios individuais e públicos. Leitura Analítica do Texto o Mito da Caverna 1. Análise Textual 1.1. O texto é um capítulo do livro República de Platão. Tratando-se de um diálogo entre Glauco e Sócrates. 1.2. Leitura rápida. 1.3. Esclarecimentos: a) O autor: O autor Platão era um filósofo grego conhecido que escreveu a obra República. b) Vocabulário específico: Cultura e incultura (educação e falta de educação) c) Os fatos A evolução do homem no contexto social. d) Doutrina Filosofia. 2. Análise Temática 2.1. Tema Problema: A ignorância e o saber 2.2. Ideia Central: A busca da verdade. O problema a ser solucionado é a ignorância (falta de educação) para saber agir com sabedoria. 2.3. Ideia Secundária: Os caminhos para se sair das trevas da ignorância para a sabedoria. 30 2.4. Reconstruir o Raciocínio Lógico do Autor: O autor faz uma analogia em relação à educação e a sua falta utilizando a alegoria do mito da caverna, passando a descrever a vida de alguns homens no interior de uma caverna subterrânea, reportando a libertação de um desses homens, que passa a observar a realidade das coisas e a lembrar dos companheiros que continuavam na escuridão, para, em seguida, concluir que: a caverna é o mundo visível; o fogo: a luz do sol; a libertação de um dos homens: a elevação da alma ao mundo inteligível e que só a divindade pode saber o que é realmente verdadeiro, pois, a essa divindade, cumpre-nos levantar os olhos para agir com sabedoria. 2.5. Esquema das Ideias do Autor: O Homem O Homem - Evolução cultural - Visão real dos acontecimentos - Sabedoria - Leigo - Ignorante aos acontecimentos - Medo da vida real 3. Análise Interpretativa 3.1. Justificar ou criticar: O texto é puramente filosófico, ele deu origem aos estudos filosóficos. 3.2. Interpretação: Alguns homens permaneceram no interior de uma caverna subterrânea desde a infância, sem saberem o que de real e concreto existia fora dessa caverna, vendo, apenas, através dos raios da luz, imagens (sombras) de objetos refletidos. Um desses homens é libertado e forçado ao contato com a vida real e passa a ver as imagens reais e, com isso, começa a adquirir noção de educação (cultura), saindo de uma falsa realidade e, quanto mais esse homem se aproxima da realidade, mais observa que a cultura traz o que há de real na vida. Depois de certo tempo, após observar e razoar em torno da realidade percebe que tudo de sua vida outrora era falso e que, agora, já detentor de conhecimento, se aproxima mais da verdade e passa a imaginar a vida de seus companheiros que continuavam presos na escuridão da ignorância, porém não havia como convencê-los a saírem daquela falsa realidade e conhecerem seu próprio mundo, assim como esse homem jamais aceitaria voltar a viver no interior daquela caverna, preferindo qualquer outro destino. Isto quer dizer que há um mundo visível, real, que remete ao caminho da saber, através da elevação da alma ao mundo inteligível e um mundo invisível, que é a fronteira do mundo visível, ou seja, há uma divindade que é a fronteira entre o mundo visível e o mundo invisível, criadora da inteligência e da Verdade, para a qual devemos nos guiar para agir com sabedoria na vida privada e na vida pública. 3.3. Atitude Crítica: O autor fundamenta bem a realidade dos acontecimentos. Apesar de o texto ter sido escrito há mais de 2.400 anos, ainda condiz, exatamente, com o que acontece hoje, ou seja, existem pessoas com alto grau de cultura e outras completamente leigas ou alienadas. ATIVIDADE Faça a leitura analítica dos textos a seguir. Siga o mesmo roteiro utilizado no texto o mito da caverna. 31 TEXTO 01 OS INSTRUMENTAIS TÉCNICO-OPERATIVOS NA PRÁTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL Texto capturado via Internet em: <http://www.webartigos.com/articles/36921/1/OS-INSTRUMENTAIS-TECNICO- OPERATIVOS-NA-PRATICA-PROFISSIONAL-DO-SERVICO-SOCIAL/pagina1.html> APRESENTAÇÃO A utilização dos instrumentais no cotidiano da prática profissional é um fator preponderante para o assistente social. Como todos os profissionais têm seus instrumentos de trabalho, e sendo o assistente social um trabalhador inserido na divisão social e técnica do trabalho, necessita de bases teóricas, metodológicas, técnicas e ético-políticas necessárias para o seu exercício profissional. Os instrumentais técnico-operativos são como um “conjunto articulado de instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da ação profissional” (MARTINELLI, 1994 p. 137). O uso dos instrumentaistécnico-operativos pode ser visto como uma estratégia para a realização de uma ação na prática profissional, como nos revela MARTINELLI (2000), onde o instrumental e a técnica estão relacionados em uma “unidade dialética”, refletindo o uso criativo do instrumental com o uso da habilidade técnica. O instrumental “abrange não só o campo das técnicas como também dos conhecimentos e habilidades” (p. 138). OS INSTRUMENTAIS TÉCNICO-OPERATIVOS NA PRÁTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL Como prática profissional, o Assistente Social deve coordenar e executar programas de enfretamento à pobreza, que assegurem a elevação da autoestima, o acesso a bens, serviços e renda para segmentos mais vulnerabilizados pela situação de pobreza e exclusão social, desenvolver programas voltados para o atendimento aos grupos de maior risco, realizar e disponibilizar estudos e pesquisas no âmbito das Políticas Sociais. Quanto às atribuições do assistente social enquanto prática profissional deve coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas e projetos na área de Serviço Social; prestar informações e elaborar pareceres na área de atuação do Serviço Social; planejar, coordenar, executar atividades socioeducativas; estabelecer parcerias e contatos institucionais; atuar como facilitadora de processos de formação de lideranças e organização comunitária; planejar, coordenar e realizar reuniões e palestras na área de atuação do Serviço Social; elaborar relatórios técnicos e analíticos; treinar, avaliar, supervisionar e orientar estagiários de Serviço Social. Os instrumentos técnico-operativos utilizados pelo assistente social do Programa Acesso à Cidadania são: folha de produção diária, conversas informais, documentação, Reunião, observação, entrevistas, fichas de cadastro, encaminhamentos, registros, acompanhamento social, relatórios e visitas domiciliares. ALGUMAS TÉCNICAS DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL A Folha de Produção Diária Conceito: É um instrumento no qual o assistente social anota as demandas diárias, é uma folha que especifica a data e a ocorrência dos atendimentos para controle do assistente social. Finalidade: Na folha de produção diária consta; a data do atendimento ou atividade, ao lado as atividades e as providências que foram tomadas e a assinatura do estagiário ou assistente social responsável no momento do atendimento. 32 A Observação Conceito: “A observação consiste na ação de perceber, tomar conhecimento de um fato ou conhecimento que ajude a explicar a compreensão da realidade objeto do trabalho e, como tal, encontrar os caminhos necessários aos objetivos a serem alcançados. É um processo mental e, ao mesmo tempo, técnico.” SOUZA (2000). Finalidade: A observação é um instrumento importante em momentos de decisão em que o assistente social precisa ter segurança, fixando-se nos objetivos no qual se pretende alcançar. As Visitas domiciliares Conceito: Segundo AMARO (2003), “é uma prática profissional, investigativa ou de atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto aos indivíduos em seu próprio meio social ou familiar”, a autora também nos revela que a entrevista possui pelo menos três técnicas embutidas como: a observação, a entrevista e a história ou relato oral. Finalidade: A finalidade da visita domiciliar é específica, guiada por um planejamento ou roteiro preliminar. As visitas domiciliares têm a finalidade de fazer acompanhamentos relacionados às condições de moradia, saúde, a fim de elaborar o relatório de visita domiciliar e emissão de parecer social. O Acompanhamento Social Conceito: É um procedimento técnico de caráter continuado, e por período de tempo determinado, no qual é necessário que haja vínculo entre o usuário e o profissional. Finalidade: O acompanhamento sociofamiliar é feito quando detectado na entrevista a necessidade de se fazer encaminhamentos diversificados. As Entrevistas Conceito: Técnica utilizada pelos profissionais do Serviço Social junto aos usuários para levantamento e registro de informações. Esta técnica visa compor a história de vida, definir procedimentos metodológicos, e colaborar no diagnóstico social. A entrevista é um instrumento de trabalho do assistente social, e através dela é possível produzir confrontos de conhecimentos e objetivos a serem alcançados. É na entrevista que uma ou mais pessoas podem estabelecer uma relação profissional, quanto quem entrevista e o que é entrevistado saem transformados através do intercâmbio de informações (LEWGOY, 2007). Finalidade: A entrevista tem objetivo em colher informações sobre o usuário. Os Relatórios Conceito: É um documento de registro de informações, observações, pesquisas, investigações, fatos, e que varia de acordo com o assunto e as finalidades. Finalidade: Os relatórios são bastante utilizados na prática profissional do assistente social por que serve como registro importante capaz de subsidiar decisões. Os Encaminhamentos Conceito: É um procedimento de articulação da necessidade do usuário com a oferta de serviços oferecidos, sendo que os encaminhamentos devem ser sempre formais, seja para a rede socioassistencial, seja para outras políticas. Quando necessário, deve ser procedido de contato com o serviço de destino para contribuir com a efetivação do encaminhamento e sucedido de contato para o retorno da informação. Finalidade: Os encaminhamentos são peça fundamental para que o trabalho do assistente social seja efetivado, por exemplo, se o programa está relacionado à inclusão no mercado de trabalho de pessoas com deficiência, é necessário articular vagas nas empresas privadas ou instituições 33 governamentais e não-governamentais. Além de incluir no mercado de trabalho, o assistente social deverá também proporcionar aos usuários do programa, cursos de capacitação profissional, neste caso a articulação através das redes se faz imprescindível. Fichas de Cadastro Conceito: É um instrumento de registro de informação destinado a receber informes, a fim de armazenar e transmitir informações sobre o usuário. As fichas de cadastro servem para transformar dados em informações. Finalidade: A ficha de Cadastro serve como fonte para agrupamento de dados e informações sobre o usuário do programa, por exemplo. A ficha de cadastro é composta de informações diversas desde dados pessoais, endereço, documentação, parecer técnico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os instrumentais técnico-operativos não são apenas as fichas de triagem, visitas domiciliares, encaminhamentos, entre outros. O Serviço Social atualmente está inserido dentro de uma perspectiva dialética, em que se acredita na dinâmica social, onde a sociedade está diversificada e entregue à transformação. É nesta perspectiva que o Serviço Social está procurando se adequar, sendo também dinâmico e criativo para atender as demandas que crescem na medida em que cresce as desigualdades sociais. REFERÊNCIAS AMARO, Sarita. Visita Domiciliar: Guia para uma abordagem complexa. Porto Alegre: AGE, 2003. LEWGOY, Alzira Maria Baptista, SILVEIRA, Esalba Carvalho. A entrevista no processo de trabalho do Assistente Social. Revista Virtual Textos & Contextos. N.º 8. Ano VI. Dezembro, 2007. MARTINELLI, Maria Lúcia, KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para a questão dos instrumentais técnico-operativos em Serviço Social. Revista Serviço Social & Sociedade. N.º 54. São Paulo: Cortez, 1994. Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte. Dicionário de Termos Técnicos da Assistência Social. 2007. SOUZA, Maria Luiza de. Desenvolvimento de Comunidade e Participação. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. TEXTO 02 ENVELHECIMENTO E AÇÃO PROFISSIONAL DOASSISTENTE SOCIAL Texto extraído de: GOLDMAN, Sara Nigri. Caderno Especial nº 8. O Serviço Social e a questão do envelhecimento. Edição 04 a 18 de fevereiro de 2005. Disponível em: http://:www.assistentesocial.com.br/novosite/cadernos/cadespecial8.pdf Sara Nigri Goldman* Os dados demográficos do IBGE mostram que o segmento de pessoas com sessenta anos e mais tem crescido de forma extraordinária no Brasil. Na medida em que tal população requer atenção nas inúmeras áreas de atuação profissional, destacamos, a seguir, algumas possibilidades no campo do Serviço Social, lembrando que as demandas são historicamente determinadas e requerem respostas de políticas sociais adequadas. O atendimento à população idosa teve relevância desde os primórdios do Serviço Social. O caráter caritativo e assistencialista, de proteção aos idosos fragilizados, quer seja por 34 questões socioeconômicas, quer seja por abandono dos familiares, foi se modificando, no decorrer de sua história. Os assistentes sociais comprometidos com as causas sociais, se assumem como agentes políticos de transformação social, ultrapassam a mera execução das políticas sociais e aliam-se aos movimentos sociais dos usuários na construção de um projeto que lhes garanta o usufruto da cidadania. A participação de assistentes sociais foi efetiva nos espaços de luta pela cidadania dos idosos e pela aprovação do Estatuto do Idoso, um avanço em termos legais, mas ainda distante de ser implementado. Cabe registrar que os assistentes sociais devem ser solidários na luta, sem serem os protagonistas das lutas dos idosos, evitando a tutela e a ocupação do espaço político dos sujeitos idosos. O assistente social deve atuar, sempre que possível, com os demais profissionais, numa ação interdisciplinar que congregue esforços no seu fazer cotidiano e na aliança de parceiros para a consolidação dos direitos dos idosos, principalmente os da seguridade social: saúde, previdência e assistência social. São importantes, também ações profissionais na esfera da educação, não só para os idosos, mas para todas as gerações, para que aprendam a conhecer e a respeitar os idosos, para que estabeleçam laços sociais de intercâmbio intergeracionais e para que se preparem para a velhice. O campo profissional de atendimento à população idosa é bastante amplo com tendências de ascensão a curto, médio e longo prazos, devido ao aumento demográfico e às demandas crescentes de produtos e de serviços. Sinalizaremos algumas, a título de exemplo, deixando claro que há áreas e sub-áreas que emergem de acordo com a realidade social e histórica. Na área da Saúde: em hospitais, da rede pública e privada, nos postos de saúde, em instituições asilares, nas campanhas comunitárias de vacinação, de prevenção de doenças, na prevenção de quedas, no acompanhamento domiciliar, na informação junto à família, na formulação de políticas de saúde, na orientação, assessoria e consultoria dos movimentos dos usuários de saúde, que contemplem as demandas dos idosos, não de forma exclusiva e outras atividades. Na área da Previdência Social: Nos postos da Previdência Social, orientando e viabilizando o usufruto dos direitos previdenciários; em todas os locais de atendimento aos idosos, esclarecendo direitos e informando aos usuários quanto aos benefícios da Previdência, nas campanhas comunitárias de esclarecimento, na formulação da política previdenciária, na orientação, assessoria e consultoria dos movimentos dos aposentados e pensionistas e outras atividades. Na área da Assistência Social: Nas repartições públicas de todos as esferas, nas instituições estatais, nas organizações sociais privadas, nas comunidades, em todos os espaços que congregam idosos e seus familiares para orientação, prestação de serviços e, especificamente sobre o Benefício da Prestação Continuada. Participar da formulação de políticas da área, da assessoria, consultoria e orientação aos movimentos dos usuários da Assistência Social, dos Conselhos da Assistência em todos os âmbitos, além de outras atividades. Na área da Educação: Atuar nos espaços educativos destinados aos idosos, como as Universidades para a Terceira Idade, as escolas para idosos, os grupos de convivência, os centros-dia, as entidades de cultura e lazer, as associações de moradores de bairros e das comunidades, as associações de aposentados e pensionistas, para compartilhar das equipes interprofissionais de experiências de educação social e política, que envolvam e preparem os idosos para o exercício pleno da cidadania enquanto sujeitos. Campanhas educativas em todas as áreas da seguridade social, além das voltadas para as barreiras arquitetônicas, para os transportes, para a inserção nos espaços sócio-políticos, como os fóruns, conselhos e associações de idosos, aposentados e pensionistas. Há que se pensar, também, em programas educativos intergeracionais que possibilitem a construção de uma sociedade pautada na solidariedade entre as gerações para diminuir o preconceito que os jovens têm dos idosos e vice-versa. A educação para a cidadania amplia a ação do Serviço Social em programas dirigidos aos idosos. Há que se atentar para as demandas que emergirão, certamente, no transcorrer da história. Mas certamente, o Serviço Social terá espaço de participação em todas elas e nossa expectativa é de que sua atuação seja comprometida com a cidadania dos idosos, seja 35 competente e crítica, rumo a um mundo em que a Justiça Social se faça presente não só para os idosos, mas para toda a sociedade brasileira. Nota - *Professora Adjunta da ESS/UFRJ, Doutora em Serviço Social e Políticas Sociais pela PUC/SP, Diretora Técnico-Cinentífica da ANG/RJ. TEXTO 03 O TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL COM MULHERES IDOSAS DA UnATI/UERJ Texto extraído de: LOBATO, Alzira Tereza Garcia. In: Caderno Especial nº 8. O Serviço Social e a questão do envelhecimento. Edição: 04 a 18 de fevereiro de 2005. Disponível em: http://:www.assistentesocial.com.br/novosite/cadernos/cadespecial8.pdf . Neste artigo discutiremos nossa experiência como professora extensionista, a partir de estudos que temos realizado, nesses dez últimos anos, junto aos idosos e, mais recentemente, com as mulheres idosas que frequentam as atividades oferecidas num programa de Universidade de Terceira Idade. A UnATI/UERJ está localizada no campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tradicionalmente frequentado por jovens adultos. Porém, é também neste espaço que podemos viabilizar o encontro de diferentes gerações, contribuindo para uma maior integração que ajude a reverter o quadro de desvalorização do idoso em nossa sociedade. Estudos de VERAS (1994) têm chamado atenção para o rápido processo de envelhecimento da população brasileira verificado desde a década de 1960. Na década de 1980 ocupávamos o décimo lugar dentre os países mais velhos do mundo. Além disso, temos a estimativa de ser, até o ano de 2025, o sexto país em população idosa, com aproximadamente 32 milhões de idosos. Esses dados nos levam a pensar na necessidade de garantir condições dignas de vida para os idosos que em nosso país vivenciam velhices diferenciadas. Estudos de SANT'ANNA (1997, p. 75) afirmam que a velhice é uma experiência que tem sido vivenciada "de forma não- homogênea, e diversificada, em função de gênero, classe, etnia, religião". Os idosos que chegam aos centros de convivência, clubes de terceira idade ou universidades de terceira idade, estando na condição de aposentados, pensionistas ou donas- de-casa, e gozando de boa saúde, querem uma velhice ativa, o que lhes confere o título de representantes da terceira idade no Brasil. O conceito de "terceira idade" surgiu na França nos anos de 1960 buscando dar significado mais positivo à velhice,que associada a um novo tempo de lazer e não mais associada à miséria, doença e decadência, é vivenciada após a aposentadoria. Percebemos que a expressão terceira idade vem dar um novo significado à velhice, uma outra imagem que simboliza um tempo de liberdade, ou mesmo de ser jovem, independentemente da idade. Estando os idosos libertos das responsabilidades profissionais e familiares, podem retomar projetos deixados ao longo da vida dando um novo sentido ao tempo livre. Portanto, são com esses idosos, que cada vez mais vem ocupando os espaços públicos e, com disponibilidade para desenvolver atividades que lhes permitam uma participação ativa, através da associação em grupos que lhes proporcionam não só o desenvolvimento da sociabilidade, como também o acesso a informações que lhes deixem sintonizados com as questões relevantes de seu tempo, que temos desenvolvido nosso trabalho de extensão. Explicitando o objetivo geral da UnATI/UERJ que é de "contribuir para a melhoria dos níveis de saúde física, mental e social das pessoas idosas, utilizando as possibilidades existentes na instituição universitária" (VERAS, 1994), e estando pautada no tripé: ensino, pesquisa e assistência, além do fato de ser a primeira iniciativa pública dessa natureza no estado do Rio de janeiro, é que podemos compreender o expressivo quantitativo de idosos que vêm frequentando o programa. O acesso desses idosos dá-se a partir de 60 anos, sem exigência de grau de escolaridade, o que lhes permite frequentar cursos livres, a cada semestre, que são apresentados: em atividades educativas para a saúde, arte, dança, aprendizado de 36 línguas estrangeiras, conhecimentos gerais e conhecimentos específicos sobre a questão do envelhecimento no Brasil, políticas sociais e direitos sociais dos idosos. As características das mulheres idosas da UnATI/UERJ indicam que elas estão na faixa etária de 60 a 69 anos, considerada como de "jovens idosas". Ocupam 86% das vagas do programa, em sua maioria são viúvas, residem em imóveis próprios e nos bairros da zona norte vizinhos à Universidade. O nível de escolaridade varia do primeiro grau incompleto ao nível superior. Há um grande número de aposentadas, embora a maioria seja ainda de pensionistas. Percebemos que os programas de universidade de terceira idade têm propiciado a redescoberta de potencialidades adormecidas ou têm criado novas possibilidades para essas mulheres que chegam desejosas de exercerem uma liberdade que parece ter sido cerceada, a princípio pelos pais e, após o casamento, pelos maridos e pelas funções de mãe e esposa, mesmo que tenham também tido uma participação no mercado de trabalho. Estudos de DEBERT (1994) e MOTTA (1996) sobre gênero e envelhecimento, têm demonstrado que os programas de terceira idade mobilizam mais o público feminino, contribuindo para uma redefinição de valores, atitudes e comportamentos dos grupos mobilizados. As mulheres estão menos resignadas à "velhice" definida no modelo tradicional, referida à inatividade e descarte social. Além disso, elas dispõem de um tempo pessoal/privado que pode ser transladado do doméstico para o comunitário ou cultural. As mulheres, neste momento de suas vidas, buscam uma "liberdade de gênero", que pode ser identificada com as ideias feministas e recentes mudanças sociais em nossa sociedade. Considerando essas questões que dizem respeito ao processo de envelhecimento das mulheres idosas que participam da UnATI/UERJ, organizamos atividades na área de ensino tendo como eixo principal a questão da participação social e dos direitos sociais na velhice. A partir dos estudos de AMANN (1980), que trata das condições de participação dos sujeitos na sociedade, encontramos os conceitos de associativismo, como forma de participação indireta, que tem sido mais adequado para o desenvolvimento de nosso trabalho com os idosos, dando ênfase à abordagem grupal. É através da associação "que as diversas camadas sociais podem partilhar seus problemas e seus interesses, adquirir poder reivindicatório e indiretamente ter acesso à gestão da sociedade" (AMANN, 1980, p.87). Em nosso trabalho enfatizamos as condições de participação a nível de conscientização. Para AMANN (1980) os principais requisitos deste nível estão na área psicossocial do indivíduo, que são: a informação, a motivação e a educação para participar. No âmbito da informação são discutidos e apresentados novos conteúdos que operacionalizem os idosos para o exercício de seus direitos sociais. Na área da motivação são trabalhadas questões relativas ao sentimento de autoestima e às novas possibilidades de ocupação do tempo livre e, no âmbito da educação para a participação temos dado ênfase ao exercício de pequenas ações que envolvam os alunos idosos como sujeitos multiplicadores dos conhecimentos adquiridos quanto às políticas sociais e direitos sociais deste segmento. Desde a criação da UnATI/UERJ, em agosto de 1993, temos oferecido aos alunos o "Curso de Participação Social nas Questões da Terceira Idade" que tem como objetivo possibilitar aos idosos informação e reflexão sobre as ações de participação social e cidadania no seu cotidiano a partir do conhecimento do processo de envelhecimento e das políticas sociais para idosos no Brasil. O curso tem duração de dois semestres com entradas semanais de duas horas de duração. São oferecidas vinte vagas. O conteúdo programático é dividido em módulos temáticos. Alguns temas discutidos dizem respeito: a estereótipos e preconceitos na velhice, à participação dos idosos em programas de terceira idade, à participação na família, à participação em outros grupos, à participação política, às políticas sociais para a velhice no Brasil, aos recursos sociais na área da terceira idade. As aulas acontecem enfatizando a discussão em pequenos grupos e o uso de técnicas de dinâmica grupal que facilitem a interação entre os participantes. Os coordenadores da atividade, alunos da graduação da FSS/UERJ, sob supervisão, organizam pequenos textos e material didático para o encaminhamento do curso. As visitas aos espaços culturais e de organização política dos idosos no âmbito da cidade do Rio de Janeiro complementam as atividades do curso. A abordagem de VASCONCELOS (1994, p.150) sobre a prática reflexiva, tem nos ajudado a trabalhar na abertura de espaços, possibilidades e condições para que o grupo de alunos idosos problematize as questões de seu cotidiano procurando desvendá-las, a partir dos 37 conhecimentos e informações acumulados em suas experiências de vida, em articulação com novas informações/conhecimentos que possam vir de seus iguais e/ou profissionais. Um dos temas de maior importância nesse grupo tem sido a participação das mulheres idosas na família. Algumas declaram dificuldades em adaptar-se ao ritmo da família de hoje, afirmando que essa família é mais reduzida, menos unida em decorrência da vida corrida de seus membros e também da inserção da mulher no mercado de trabalho. Muitas delas convivem com os filhos separados e netos e, muitas vezes, ainda ajudam no sustento da casa. Outras declaram o carinho pelos netos, mas não deixam de priorizar as atividades que desenvolvem na UnATI. Percebemos que, para as mulheres que frequentam nosso curso, a família ocupa um lugar de destaque, embora essas idosas estejam revendo o modo como participam desse grupo, considerando seus interesses nesta fase da vida. Outro tema relevante tem sido a participação política. Este ano problematizamos as eleições municipais. Discutimos a importância do voto como direito conquistado pelas mulheres e percebemos que as idosas estão desacreditadas de nossos governantes, mas todas fizeram questão de votar. Sabemos que a participação política para as mulheres, em nosso país, ainda é incipiente, mas percebemos que se interessam pelo tema.Nossa experiência de trabalho com as mulheres idosas nos permite perceber que essas mulheres declaram estarem mais motivadas a participarem ativamente de seu processo de envelhecimento, estando mais interessadas e informadas sobre seus direitos sociais. Adquiriram novas expectativas de mudanças quanto ao seu papel como mulheres idosas, demonstrando adesão ao signo da terceira idade, frequentando cursos que lhes garantam o desenvolvimento de novas habilidades, ajudando-as a reverter a representação negativa da velhice, reconstruindo seu espaço como cidadãs de terceira idade. Além disso, o contato intergeracional das mulheres idosas com os jovens alunos da universidade tem propiciado um novo olhar para este segmento jovem, que tem buscado dar novos contornos à velhice como tempo de realizações e aprendizado. Nota - *Professora Assistente do Departamento de Fundamentos Teórico-Práticos da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora na área do Envelhecimento. Ouvidora da UERJ. 38 5 PROCEDIMENTOS DE ESCRITA: FASES DA PRODUÇÃO TEXTUAL O ato de escrever exige operações elementares como: organizar e selecionar ideias, produzir e rever o texto para torná-lo cada vez mais inteligível. Neste sentido, o primeiro passo para aprender a produzir um texto é distinguir as várias fases de sua realização: planejamento (seleção e organização das ideias), feitura do texto, revisão e redação final. Portanto, ao escrever um texto, você, assim como qualquer escritor, deve seguir algumas fases no processo de produção: Primeira fase: PREPARAÇÃO - você pensa, anota, organiza os dados. Prepara-se, nessa fase, o projeto do texto. Segunda fase: ESCRITA - você escreve o texto com total liberdade, sem medo de errar. Nessa fase, executa-se o projeto do texto. Terceira fase: REVISÃO - você faz a leitura crítica do texto: lê, relê, risca, acrescenta, retira, altera, reescreve. Nessa fase, você se torna um leitor crítico do próprio texto. Quarta fase: PUBLICAÇÃO - você escreve o texto definitivo e apresenta-o a seus leitores (colegas, amigos, professor, etc.). EXEMPLOS PRÁTICOS DA APLICAÇÃO DAS FASES DO PROCESSO DE PRODUÇÃO TEXTUAL 1. Identificação das características da redação Assunto: Drogas Tema: Drogas: liberar ou não liberar Tipo: Argumentativo Gênero (formato): Artigo Destinatário: Público em geral Propósito: Argumentar a favor ou contra a liberação das drogas 2. Elenco desordenado e casual de ideias para o tema vulgarização e descontrole geral países com estados onde há liberação estão revendo a situação quem sairia ganhando? a posição do governo diante da paralisação da sociedade nenhum benefício poderia amenizar os males causados o governo seria o “traficante oficial” da nação sensação de poder X disposição para trabalhar liberar é desistir do combate e juntar-se ao inimigo a liberdade é o bem maior que possuímos, não devemos abrir mão desse bem o futuro das crianças decisão equivocada e pouco racional 3. Seleção e a organização das ideias configuram o seguinte roteiro: 1. Não liberar decisão equivocada e pouco racional 39 vulgarização e descontrole geral nenhum benefício aliviaria os males causados sensação de poder x disposição para trabalhar 2. Liberando 2.1. quem sairia ganhando? 2.2. a posição do governo 2.3. seria o “traficante oficial” 2.4. países onde há liberação estão revendo a situação 3. A liberdade 3.1. bem maior 3.2. jamais abrir mão dela Conclusão - Liberar é desistir do combate e juntar-se ao inimigo - O futuro das crianças Versão final do texto A liberação oficial das drogas é, sem dúvidas, uma decisão equivocada e pouco racional, uma vez que as tornariam vulgares e ocasionaria um descontrole geral no aumento do consumo. Além disso, os prejuízos causados por conta dessa liberação seriam incalculáveis, por conta da sensação de poder que as drogas proporcionaram e a consequente falta de disposição para o trabalho. Devemos questionar, no caso de uma provável liberação para essas substâncias, quem sairia ganhando com isto? A sociedade, certamente, nada ganharia. Ademais, qual seria a função do governo nesse caso? Seria o “traficante oficial” da nação? Países que as liberaram estão revendo suas posições, exatamente porque a situação estava ficando caótica. Além desses questionamentos, devemos refletir em torno da nossa liberdade. Que liberdade tem uma pessoa que vive presa à sensação de uma substância? Não abramos mão do nosso bem maior! Liberar as drogas é, portanto, desistir do combate e juntar-se ao inimigo. É tolher o futuro brilhante de uma criança. Sejamos mais racionais e não troquemos a beleza do nosso mundo pela obscura trilha que tem a morte como ponto final. I. Identificação das características da redação Assunto: Futebol Tema: O brasileiro em época de copa do mundo Tipo: Expositivo-argumentativo Gênero (formato): Artigo Destinatário: Público em geral Propósito: Expor opinião sobre o brasileiro em época de copa do mundo 40 ELENCO DAS IDEIAS E ORDENAÇÃO Versão final do texto Em época de copa do mundo, o brasileiro é incomparável. Ele é o único povo capaz de parar sua cidade, fechar o comércio e as instituições públicas e paralisar o trânsito, simplesmente para agregar-se em grupos e assistir, pela televisão, o jogo da Seleção Brasileira de Futebol. Por conta disso, o brasileiro é vista, mesmo que temporariamente, como um indivíduo extremamente patriota, pois coloca o jogo de sua seleção em primeiro lugar. É fácil comprovar isto nas suas ações: enfeita as ruas; esquece dos problemas; comemora; torna-se comentarista esportivo e, até mesmo, técnico. O brasileiro, por ser apaixonado por futebol, nessa época, impulsiona o comércio a colocar à sua disposição artefatos diverso nas cores da seleção e faz questão de comprar fogos de artifício e bombas para tornar o momento do em uma inesquecível explosão de alegria. Após o jogo, se tiver a felicidade de o Brasil vencer, cai na folia: faz carreata e extrapola a medida normal da comemoração. No entanto, se o Brasil perder, o brasileiro fica triste, lamenta e chora, pois não aceita que uma seleção com tantas conquistas, a única pentacampeã do mundo e que participou de todas as copas, venha a perder, sequer, uma partida. Em época de copa do mundo, o brasileiro, como nenhum outro povo, se reveste de esperança, vibra, grita, chora e traz sempre no coração a certeza da vitória. Vitória que começou com a conquista da primeira copa, passou para a segunda, a terceira, a quarta, a quinta e, agora, já ensaia o Brasil Hexacampeão do Mundo. Se o Brasil for campeão, já começará o sonho de vencer a próxima copa e, se não for, ficará triste, porém, aguardará, ansiosamente, mais quatro anos para, novamente, se encher de esperaça e repetir todas as ações que fizera anteriormente. Assim é o brasileiro. (1ª) IDENTIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO A SER CONSTRUÍDO Assunto: O caso Isabella Nardoni Tema: O caso Isabella: investigação, revelação e condenação Tipo: Descritivo Gênero: Artigo Destinatário: Público em geral Propósito: Descrever o desenrolar do caso Isabella Nardoni (2ª) ELENCO DESORDENADO E CASUAL DE IDEIAS PARA O TEMA Surpresa e perplexidade das pessoas Uma cena de terror se instala
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